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CONFIANÇA SETORIAL

INCERTEZA NOS
INVESTIMENTOS
AINDA PREVALECE
Entretanto, no final de 2016 crescia a intenção
das empresas de voltar a realizá-los

Ana Maria Castelo e Itaiguara Bezerra*

Depois de chegar a representar ção de redução dos investimentos.


quase 21% do PIB brasileiro em Nível de utilização A pesquisa mostrou que, entre os
2013, a Formação Bruta de Capital de capacidade da setores pesquisados, a construção é
Fixo (FBCF) iniciou uma trajetória construção em 2016 a atividade com maior percentual de
de declínio que mal deve ter atingi- incerteza em relação à realização dos
do 16% em 2016, segundo dados das
foi o mais baixo dos investimentos: o saldo de respostas –
Contas Nacionais do IBGE. últimos quatro anos diferença entre a certeza e a não cer-
A forte retração dos investimentos teza de investir – alcança 51,2 pon-
produtivos no país a partir de 2013 Parceiras Público-Privado (PPPs). tos percentuais (p.p.). Ou seja, a pes-
contribuiu para o aprofundamento Realizada pela FGV/Ibre no úl- quisa aponta que mesmo com a me-
da crise econômica brasileira e foi timo trimestre do ano passado, a lhora gradual do cenário, há poucas
posteriormente exacerbada pela pró- Sondagem de Investimento, pesquisa empresas com planos considerados
pria recessão. Segundo o Instituto feita nos principais setores da econo- definitivos de investimentos.
Brasileiro de Economia, da Fundação mia, mostrou que ainda há um longo A maior incerteza dos planos de
Getulio Vargas (FGV/Ibre), a FBCF caminho a percorrer para essa reto- investimento das empresas da cons-
deve recuar 10,6%, em 2016, a se- mada. No entanto, a pesquisa indi- trução decorre diretamente da crise
gunda maior variação negativa desde cou uma mudança relevante que re- que atinge o setor. Durante o ciclo de
1995 (a primeira, de -13,9%, ocorri- presenta uma sinalização de inflexão crescimento, as empresas investiram
da em 2015). O setor da construção, do ciclo de queda dos investimen- na aquisição de bens de capital e no
que representa mais da metade dos tos: houve crescimento na intenção treinamento de mão de obra. Com
investimentos produtivos, deverá ter de investir das empresas compara- a retração da atividade observada
uma retração superior a 5%. tivamente aos dois trimestres ante- a partir de 2014, os investimentos
A retração dos investimentos pelo riores. O indicador alcançou o maior deixaram de ser plenamente utiliza-
segundo ano consecutivo refletiu o patamar desde o final de 2015. dos. Os níveis de utilização da capa-
fim do ciclo de crescimento imobiliá- O cenário captado junto às em- cidade (Nuci) do setor refletem este
rio, ao qual veio se juntar a incerteza presas está longe de ser otimista, já quadro: em abril de 2013, quando a
política, combinada à deterioração que o grau de incerteza dos investi- escassez de mão de obra era assina-
das contas públicas e aos escândalos mentos planejados ainda é bastante lada por 35% das empresas como
levantados pela Operação Lava Jato. elevado. Ou seja, ainda pairam mais sua maior dificuldade nos negócios,
A retomada do crescimento pre- dúvidas do que certezas nos planos o Nuci do setor era de 80,3% e o de
cisa passar pelo aumento do inves- empresariais. No entanto, vale notar mão de obra, de 81,7%. O maior pa-
timento e, especialmente, pelo in- que houve uma diminuição signifi- tamar foi atingido em setembro da-
vestimento privado, por meio das cativa das manifestações de inten- quele ano, com 84,7%.

16 CONJUNTURA DA CONSTRUÇÃO – MARÇO 2017


FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO
Em 2016, o Nuci da construção al- (CRES. EM RELAÇÃO AO ANO ANTERIOR)
cançou o patamar mais baixo da série
20
histórica iniciada em abril de 2013, 17,9

um quadro observado nos dois prin- 15

cipais segmentos: edificações e in- 10


fraestrutura. Tanto o Nuci de mão de 5

Var. (em %)
obra quanto o de máquinas e equipa-
0
mentos registraram declínio expres-
sivos no ano de 2016. -5
No caso do Nuci da mão de obra, -10
nota-se uma disposição empresa- -10,6
-15
rial de manutenção de parte de seus -13,9

quadros mesmo com o nível de ati- -20


2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016*
vidade bastante enfraquecido, pos-
Fonte: IBGE (*) Projeção FGV/Ibre
sivelmente refletindo a tentativa de
se manter os trabalhadores mais
qualificados. Os empresários do lizada antes do anúncio das recentes
Desde o segundo trimestre do ano medidas
ÍNDICES DE CONFIANÇA que mudaram parâmetros
SETORIAIS
passado, a construção é o setor com
setor da construção DESSAZONALIZADOS
de renda, juros, valor dos imóveis
o mais baixo indicador de confiança respondiam
90
pelo mais e elevaram o orçamento do Minha
empresarial. Ao longo do ano, hou- baixo indicador de Casa, Minha Vida (MCMV). Em de-
ve melhora nas expectativas em to- 85
confiança do país zembro de 2016, as empresas atuan-
das as atividades, mas as empresas tes neste programa estavam mais
da construção mantiveram-se em As previsões
80 da sondagem apontam pessimistas, mostraram um Índice
patamares bem abaixo dos outros a continuidade do ciclo negativo de de Confiança ligeiramente inferior,
75
setores da economia, corroboran- contratações para 2017. 70,3 pontos, ao do setor, 70,7 pontos.
do o mau momento do investimen- É i m p o r t a n te n o t a r q u e a No caso de contratação de mão de
70
to no país. Sondagem de Investimentos foi rea- obra para os próximos três meses,
A péssima situação do setor tam- 65
bém se reflete nas assinalações em
dez/15

jan/16

fev/16

mar/16

abr/16

mai/16

jun/16

jul/16

ago/16

set/16

out/16

nov/16

dez/16
relação à contratação de mão de TENDÊNCIA NO VOLUME DE INVESTIR (EM %)
obra para o final de 2017. Esta per- Indústria
Aumentarão
Serviços
Ficarão Estáveis
Comércio Construção
Diminuirão
sistência de desmobilização foi cap-
tada na Sondagem de Investimento 4T2015 9,9 49,8 40,3
que mostra um saldo de respos- 2T2016 7,3 46,7 46,0
tas – intenção de contratar menos
demitir – de -25,4 pontos percen- 4T2016 13,4 51,8 34,8
tuais (p.p.), 21,1 pontos abaixo da
Indústria, que obteve um saldo de
-2,3 p.p. DECISÃO DE INVESTIMENTOS
PRODUTIVOS PARA O ANO SEGUINTE
Ao longo de 2016, assistiu-se a for- (SONDAGEM DE INVESTIMENTOS DE OUTUBRO-NOVEMBRO
te desmobilização do quadro de pes- DE 2016, PROPORÇÃO DE RESPOSTAS, EM %)
soal das empresas, registrado pelo
Setor Certa Quase Incerta
Caged. A construção, com queda de
Certa
14,3% no número de empregos com
carteira, foi a segunda atividade que Indústria 23,1 48,4 28,5
mais demitiu no passado. Embora
Serviços 18,0 39,4 42,6
responda por menos de 8% das ocu-
pações, o setor representou cerca de Comércio 26,1 32,9 41,0
27% da desmobilização da mão de
Construção 9,7 29,4 60,9
obra com carteira do país em 2016.

MARÇO 2017 - CONJUNTURA DA CONSTRUÇÃO 17


FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO
(CRES. EM RELAÇÃO AO ANO ANTERIOR)

20 17,9

15
XXXXXX
CONFIANÇA SETORIAL
10

Var. (em %)
0
NÍVEL DE UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE (EM %)
-5
2015 2016
-10
Setor NUCI NUCI - Mão NUCI - Máquinas NUCI NUCI - Mão NUCI - Máquinas-10,6
de -15
Obra e Equipamentos de Obra e Equipamentos
-13,9

Construção 70,3 72,1


-20 64,7 64,7 66,2 57,2
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016*
Edificações 69,6 70,2 63,5 61,4 62,5 54,1
Fonte: IBGE (*) Projeção FGV/Ibre
Infraestrutura 70,7 72,6 64,8 65,1 66,7 57,4

a diferença era maior: as empresas ÍNDICES DE CONFIANÇA SETORIAIS


DESSAZONALIZADOS
atuantes apresentaram um ímpeto
de contratação de 65,9 pontos, con- 90
tra 72,4 pontos do setor.
Na pesquisa de dezembro, apenas 85
22,5% das empresas indicaram atuar
no programa. No entanto, com as me- 80
didas, um maior número de empre-
sas pode voltar a atuar no mercado 75
de habitação de interesse social e o
início das obras pode melhorar os 70
indicadores setoriais.
No primeiro mês de 2017, as son- 65
dagens empresariais da FGV/Ibre
dez/15

jan/16

fev/16

mar/16

abr/16

mai/16

jun/16

jul/16

ago/16

set/16

out/16

nov/16

dez/16
mostraram melhora generalizada
da confiança empresarial, inclusive Indústria Serviços Comércio Construção
na construção.
As expectativas dos empresários
da construção continuaram impul- Em janeiro, os sim, as empresas da construção con-
sionadas especialmente por uma indicadores de tinuaram apresentando patamares
percepção mais favorável em re- de confiança menores em compara-
lação à demanda prevista para os
confiança registraram ção aos outros setores.
próximos meses. No entanto, hou- expressiva melhoria, O aumento da confiança setorial
ve também aumento do indicador inclusive na construção mostra-se amparado pela expecta-
de situação atual. A sondagem de ja- tiva em relação aos investimentos
neiro mostrou um ambiente de ne- de uma carteira de contratos ainda em infraestrutura e às novas metas
gócios menos pessimista a despeito muito abaixo do normal. Ainda as- do MCMV. De todo modo, a alta taxa
de desemprego no país e a queda na
renda das famílias devem ainda re-
PREVISÕES SOBRE O PESSOAL OCUPADO EM RELAÇÃO
tardar a melhora do mercado imo-
AO ANO SEGUINTE (PROPORÇÃO DE EMPRESAS, EM %)
biliário e as novas concessões e in-
2016 vestimentos em infraestrutura ain-
Setor Aumentarão Diminuirão Saldo
da levarão tempo para repercutir na
geração de emprego.
Indústria 13,2 15,5 -2,3 O fato de o setor ter uma caracterís-
Serviços 17,6 18,6 -1,0
tica de ciclos mais longos em compa-
ração a outros setores da economia
Comércio 24,1 14,2 9,9 torna sua recuperação mais lenta.
Construção 17,3 42,7 -25,4
* Economistas da FGV/Ibre.

18 CONJUNTURA DA CONSTRUÇÃO – MARÇO 2017

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