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Psicologia da Educação
Coordenação: Profa. Ana Lucia Gomes
Aula 05 – Texto 01
Vida e contexto
Apesar da vida curta, Vigotski nos legou uma obra extensa, variada e rica em ideias
seminais, embora não cheguem a constituir um sistema acabado e totalmente articulado. Vigotski
é visto por vários autores contemporâneos (p.ex., Simão, 1999, Valsiner & Van der Veer, 2000)
como um dos patriarcas do construtivismo (uma perspectiva realista sobre a construção de
conhecimento), ao lado de autores como Baldwin, Piaget e Mead.
Aproximação da Psicologia
Curiosamente, seus primeiros estudos não foram em Psicologia, mas centraram-se nas
áreas do Direito, Artes e Letras. Seus primeiros trabalhos dividiram-se entre o magistério e a
Crítica Literária e Teatral. Para muitos estudiosos da obra de Vigotski, o fato de ele ser um
“outsider” da Psicologia, e a consciência de que sua vida seria curta devido à doença, explicariam
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a riqueza e profusão de textos e linhas de pesquisa deixadas pelo autor, e poderiam ser os maiores
responsáveis pela falta de sistematização (Doria & Simão, no prelo; Van der Veer & Valsiner,
1999).
É possível especular que a aproximação de Vigotski da Psicologia tenha se dado por vias
indiretas – por um lado, pelo seu interesse no aspecto psicológico das atividades de criação e
fruição artísticas, por outro, pelo seu papel como reformador do campo educacional. Nesta função,
ele entendia ser imprescindível conhecer a fundo a psicologia infantil para poder levar a cabo a
tarefa de construir uma nova sociedade (Doria e Simão, no prelo ; Newman & Holzman, 2002).
Referenciais teóricos
Vigotski deve muito de sua formação à herança hegeliana e marxista. Esta dívida estende-
se desde a ênfase ao estudo de sistemas em processo de mudança (desenvolvimento), até ao modo
polêmico de argumentação, em que procurava mostrar sua própria posição como uma síntese
superior de duas teorias rivais antitéticas (Doria, 2007; Newman & Holzman, 2002).
Vigotski também foi influenciado por muitos expoentes da Psicologia da sua época. Dentre
eles, podemos destacar os psicólogos do desenvolvimento, Baldwin, Piaget e Stern, psicólogos da
Gestalt, como Bühler (psicólogo do desenvolvimento) e Köhler (psicolinguista com importantes
trabalhos em Psicologia Comparada). Autores da Reflexologia Russa, como Sechenov, Bechterev
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e Kornilov, como também, Groos, estudioso da Psicologia dos Jogos foram importantes
influenciadores.
Conceitos básicos
Para Vigotski, os seres humanos nascem com certa “bagagem” psicológica, fruto da
evolução biológica e que poderia ser em grande medida explicada em termos darwinianos. Ou seja,
características psicológicas e de comportamento que foram selecionadas ao longo da história das
espécies, que permitiram ao homem uma maior adaptação ao seu meio. A esta bagagem inicial
Vigotski chama “funções naturais” ou “inferiores”, muitas delas compartilhadas pelos animais, em
especial os simiiformes (antropoides).
A principal marca distintiva das funções superiores é seu caráter mediado (Toomela, 2016;
Vigotski, 1998; Vygotsky & Luria, 1930/1996). Por mediação Vigotski entende a capacidade de
inserirmos mediadores entre nós e o mundo na relação que estabelecemos com ele e seus objetos.
Por exemplo, para Vigotski, o fato de usarmos o barbante amarrado ao dedo para nos ajudar a
lembrar de algo ou anotar em uma agenda é um ganho sobre a rememoração “natural” que nós
podemos expandir e tornar nossa memória mais confiável, através dos elementos mediadores.
Instrumentos e Signos
Quadro 1: Comparação de dois algoritmos para multiplicação. À esquerda o algoritmo “tradicional” como ensinado
nas escolas ocidentais e à direita um algoritmo usando cruzamento de linhas, de origem incerta, mas utilizado em
escolas japonesas como um método alternativo para o ensino da operação aritmética. O método por linhas utiliza a
contagem das interseções do cruzamento das linhas que representam os números (linhas azuis e vermelhas),
respeitando as “unidades” e “dezenas” e os entrecruzamentos (linhas verdes auxiliares) entre elas. Assim, nas
intersecções delimitadas pela linha verde do canto inferior esquerdo, encontramos as centenas (duas intersecções
correspondem a 200), na linha verde superior à direita, delimitam-se as unidades (seis) e as restantes as dezenas
(sete). Como podemos ver, os resultados das contas, segundo os dois métodos, é o mesmo.
Os signos atuam também de maneira menos óbvia. A mediação semiótica, operada por
signos, pode modular nossas reações emocionais (Toassa, 2011; Wertsch, 1985). Um exemplo
clássico refere-se à nomeação de nossas emoções. Uma ilustração simples disso pode ser
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encontrada na palavra portuguesa “saudade” ou da palavra alemã “wanderlust”. Ambas têm
difíceis traduções para outras línguas e designam um sentimento igualmente difícil de traduzir.
Internalização
Os signos servem como base para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
Como exemplo, podemos citar o desenvolvimento da fala na criança, em que verificamos a
passagem de uma fala social, marcada por pura verbalização, a uma fala interna, em que a
linguagem atua como um “instrumento mental”, guiando o pensamento (Vigotski, 2005).
É por esta razão que Vigotski diz que toda função psicológica superior passa por duas
etapas de desenvolvimento (Vigotski, 1998, 2003):
A proposição destas duas etapas aponta para a importância que Vigotski concede à cultura
e à interação social para o desenvolvimento psicológico dos seres humanos. Na verdade, como as
funções psicológicas superiores são aquelas que tipificam o funcionamento psicológico humano e
o diferenciam do animal, o seu próprio processo de internalização pode ser entendido como um
processo de “humanização” do próprio homem. Assim, para Vigotski, o desenvolvimento se inicia
nas interações sociais e culturais para, no processo de sua internalização, serem transformados em
fatores “internos”, subjetivos dos seres humanos. Somos, assim, sujeitos de gênese social, não
apenas no conteúdo de nossas concepções e pensamentos, mas também na própria constituição do
processo de pensamento tipicamente humano.
Como dissemos acima, Vigotski acreditava que para ser possível entender o
desenvolvimento psicológico devemos levar em conta as seguintes dimensões temporais
(Vygotsky & Luria, 1930/1996):
Para ele, cada uma destas dimensões constitui uma linha de desenvolvimento regida por
leis próprias e com características peculiares.
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para que possamos entender como a própria cultura se constrói e se diferencia umas das outras, a
partir de um ponto de origem comum (Seidl de Moura, 2005).
Para que a importância do estudo da linha filogenética fique clara, basta lembrarmos uma
frase muito repetida pelo autor em seus escritos: a linha de desenvolvimento ontogenética se dá na
interseção da linha filogenética e histórico-cultural (Vygotsky & Luria, 1930/1996). Em outras
palavras, o desenvolvimento psicológico individual deriva da interação de nossas características
psicológicas de origem biológica, enquanto membros da espécie humana, com as modificações
que a cultura opera sobre elas através da mediação semiótica.
Pode parecer estranho, à primeira vista, dizer isto, que ao longo da história e dos grupos
culturais o próprio funcionamento psicológico se transforma. Este estranhamento deve dissipar-
se, entretanto, se focarmos em situações de grandes transformações nas formas de mediação.
Podemos imaginar como deve ter sido revolucionário para o psiquismo humano poder
contar com o auxílio externo da escrita para expandir a memória (Fisher, 2005; Vygotsky & Luria,
1930/1996). Podemos testemunhar a dificuldade que pessoas que foram criadas em gerações
passadas têm em lidar cotidianamente com a internet (Carr, 2010). Vivemos na pele as dificuldades
de nos adaptar ao ensino remoto mediado por computador.
Com o conceito de vivência, Vigotski aponta para a importância do meio em uma relação
dialética na constituição da personalidade e do próprio desenvolvimento humano. A vivência se
apresenta como a síntese das relações indivíduo-meio passadas, que produzem configurações da
personalidade que circunscrevem as formas do indivíduo através de sua personalidade interagir,
significar e dar sentido ao meio que o circunda. Assim, para o autor, o desenvolvimento da criança
está, ainda, diretamente vinculado aos espaços, relações que se materializam em vivências. Assim,
finaliza:
Se tivéssemos que formular uma tese formal, um tanto generalizada, seria correto dizer
que o meio determina o desenvolvimento da criança através da vivência desse meio.
Assim pois, o mais essencial é renunciar aos índices absolutos do meio. A criança é uma
parte da situação social, sua relação com o entorno e a relação deste com ele se realiza
através da vivência e a atividade da própria criança; as forças do meio adquirem
significado orientador graças às vivências da criança. Esta circunstância impõe aos
investigadores uma profunda análise interna das vivências da criança, é dizer, o estudo
do meio que se transporta em significante medida o interior da própria criança e não se
reduz ao estudo das condições externas de sua vida (VIGOTSKI, 2012, p. 383-384).
Mas isso é uma aproximação que ainda muito teórica, um exemplo dado com o auxílio de
outros dois conceitos de Vigotski podem ajudar na compreensão.
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Ao teorizar sobre a linguagem humana, Vigotski faz uma distinção entre duas propriedades
das palavras: o significado das mesmas e seus sentidos. Por significado o autor entende algo
parecido com o que encontramos quando consultamos um dicionário, é aquilo ao qual a palavra se
refere dentro da convenção estabelecida na língua falada ou escrita, que nos permite usar palavras
para nos comunicar. Ou seja, através do significado podemos chegar a algum acordo sobre o que
alguém quis dizer quando usou uma palavra e aquilo que faz com que alguém nos compreenda
quando empregamos uma. Por exemplo, quando alguém nos diz “que pessoa simpática!” somos
capazes de reconhecer o animal para qual a pessoa aponta como um cachorro e podemos concordar
ou não com ela que se trata de um bicho simpático.
O significado é uma característica mais ou menos fixa da palavra. Embora podendo variar,
essa variação costuma levar tempo - o tempo que leva para a comunidade linguística estabelecer
uma nova convenção sobre o uso daquela palavra.
O sentido, por sua vez, é estritamente pessoal e vinculado aos contextos de enunciação, é
o que emerge na nossa mente quando usamos uma palavra. Ele não está escrito em nenhum
dicionário. É algo fluido e que pode variar de pessoa para pessoa e mesmo em uma mesma pessoa
a depender da circunstância. Por exemplo, se alguém nos perguntar “qual o nome da sua mãe?”,
todos nós entendermos perfeitamente o significado da pergunta e poderemos dar uma resposta a
ela baseada simplesmente no significado dicionarizado das palavras em questão. Mas cada um
dará um sentido diferente à pergunta: para alguns ela evocará a imagem de alguém muito presente
em sua vida; para outros a lembrança de alguém de que se gostava muito, carregada de saudade;
para um outro grupo, uma nova interrogação, etc.
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Estágios de desenvolvimento, nível de desenvolvimento real e potencial
Crises e desenvolvimento
As etapas e crises propostas pelo autor são: crise pós-natal; primeiro ano (dois meses – um
ano); crise de um ano; primeira infância (um ano – três anos); crise de três anos; idade pré-escolar
(três anos – sete anos); crise dos sete anos; idade escolar (oito anos – 12 anos); puberdade (14 anos
– 18 anos); crise dos 17 anos.
Para além das crises típicas, Vigotski propunha um modelo geral de desenvolvimento para
as funções psicológicas superiores. Este modelo seria composto de três estágios diferentes, com
início na forma “natural” ou “inferior” da função em questão (Doria & Simão, 2018):
a função psicológica em seu estado natural, ou inferior, sem grande influência das
formas culturais ou superiores;
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a função psicológica no início de sua transformação pela influência da cultura, o
estágio interpsicológico das funções superiores;
a função psicológica superior em seu estágio intrapsicológico, quando ela já foi
internalizada pelo sujeito.
Estes três grandes estágios são comuns para todas as funções psicológicas superiores, mas
cada uma delas pode se encontrar em momentos diferentes do processo em um dado instante. Por
exemplo, uma criança pode já ter internalizado os algoritmos de soma desenvolvidos e
transmitidos em sua cultura, mas pode ainda estar no estágio interpsicológico de desenvolvimento
quando se trata de multiplicação ou divisão.
É importante frisarmos ainda que este esquema geral de estágios de desenvolvimento foi
refinado e detalhado no estudo de algumas funções específicas (como a formação de conceitos, a
memória mediada, etc.) nas quais vários estágios intermediários foram identificados, e
entrecruzamentos entre funções que potencializam o desenvolvimento de cada uma (os exemplos
mais clássicos seriam o do entrecruzamento da linguagem e do pensamento, e o da formação de
conceitos naturais e científicos – Vigotski, 2005).
Vivência e desenvolvimento
O desenvolvimento humano, seja tomado em termos das crises típicas ocorridas ao longo
da ontogênese, ou em termos do desenvolvimento das funções superiores específicas, é marcado
pela interação entre fatores individuais da criança na relação com o meio. Para Vigotski (2012),
nesse processo de desenvolvimento humano, a síntese entre o meio e a criança se dá através da
situação social do desenvolvimento, considerado como fator gerador e definido como a
configuração específica que a personalidade assume em sua relação com o meio, em cada momento
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da vida da criança ou adolescente. Para a compreensão da relação sujeito-meio, Vigotski recorre
ao conceito de vivência, o qual é apontando como a “unidade para o estudo da personalidade e o
meio” e aponta:
Em outras palavras, o nível de desenvolvimento real não era um preditor tão bom quanto o
nível de desenvolvimento potencial em relação ao progresso futuro das crianças no que tangia o
domínio de uma dada função superior. Estes resultados atestavam:
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a importância da interação social para um entendimento mais completo do
desenvolvimento humano;
a maior relevância, para o campo educacional, do investimento nos processos de
desenvolvimento (nível potencial) que nos produtos do desenvolvimento (nível
real).
A partir destes resultados, Vigotski desenvolve a noção de Zona de Desenvolvimento
Potencial (ou Imediato), que aproximadamente equivaleria entre a distância representada entre os
desempenhos dos sujeitos em tarefas individuais ou assistidas (Vigotski, 1998; 2003). Com esta
medida era possível avaliar o potencial de desenvolvimento do sujeito em termos da sua
capacidade de ir além do seu desenvolvimento atual e dominar funções psicológicas ainda em
construção.
Linguagem e Pensamento
“Uma palavra que não representa uma ideia é uma coisa morta, da mesma forma que uma ideia
não incorporada em palavras não passa de uma sombra”
– Lev Vigotski
Para Vigotski, a “fala não pode ser descoberta sem o pensamento” (2005, p. 54). Tal
afirmativa ratifica a relação mutuamente influente existente, desde cedo, entre linguagem e
pensamento. As ações da criança pequena são dotadas de uma intencionalidade pragmática e
sinalizam a existência de uma fala pré-intelectual e de um pensamento pré-verbal.
A criança atua no mundo de acordo com seus movimentos e sensações, não havendo
referência ao uso do sistema simbólico. Nesse contexto, a fala possui traços demonstrativos, cujo
objetivo é resolver problemas práticos direcionando o comportamento do outro ou usando
instrumentos para atingir determinada finalidade, como, por exemplo, a criança chorar quando
quer colo, recorrer à ajuda de um adulto quando não consegue pegar um brinquedo ou subir na
cadeira para pegar o pote de biscoito.
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Conforme as relações da criança com o mundo se estreitam, sua inteligência sofre
alterações qualitativas, que refletem a existência de uma nova dinâmica entre pensamento e
linguagem. Surge o momento denominado por Vigotski como “psicologia ingênua”, em que as
crianças vão atribuindo sentido às suas experiências e as empregam como recursos em suas futuras
interações.
Uma nova fase surge quando a criança tem a oportunidade de usar a experiência externa
como recurso auxiliar para a solução de problemas de natureza psicológica, ou seja, ela passa a
usar elementos externos para resolver um problema interno. Por exemplo: usar os dedos para
contar ou usar signos para auxiliar a memorização de algo.
Nesse momento, surge a fala egocêntrica (falar sozinho) indicando o início de uma função
pessoal voltada para auxiliar a solução de problemas, pois permite a organização das ideias para
melhor planejar a ação. A fala egocêntrica consiste em um estágio de transição entre a fala exterior
(social) e a fala interna.
Desde o nascimento, as crianças estão em constante interação com os adultos, que ativamente
procuram incorporá-las à sua cultura e à reserva de significados e de modos de fazer as coisas que
se acumulam historicamente. No começo, as respostas que as crianças dão ao mundo são dominadas
pelos processos naturais, especialmente aqueles proporcionados por sua herança biológica. Mas
através da constante mediação dos adultos, processos psicológicos instrumentais mais complexos
começam a tomar forma. (VIGOTSKI, LURIA &LEONTIEV, 2010, p. 27)
A relação entre pensamento e linguagem torna-se ainda mais funcional tendo o significado das
palavras como interface. A relação se estreita de tal forma que torna difícil apontar aquilo que é
referente ao fenômeno da fala ou do pensamento e essa evolução somente é possível através das
relações estabelecidas entre o indivíduo e o outro.
Expressão da fala
Externa Interna
Orientação da regulação
Próprio comportamento Fala egocêntrica Fala interna
Comportamento alheio Fala Social Pensamento mágico
Quadro 2: As diferentes formas assumidas pela linguagem na sua função reguladora na teoria vigotskiana, de
acordo com o seu meio de expressão e da orientação da regulação (Doria, 2007, p. 106).
Desenvolvimentos contemporâneos
No Brasil, a teoria ganhou força, inicialmente, nos anos 1980, por meio dos campos da
Psicologia Social, mais especificamente na perspectiva da Psicologia Social Crítica (a figura
central nesse processo é a da professora Silvia Lane, da PUC-SP), e da Psicologia Escolar, que
também recebe a alcunha de Crítica (e se desenvolveu fortemente no seio do Instituto de Psicologia
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da USP, de São Paulo a partir de trabalhos como os de Maria Helena Souza Patto). Em ambas as
perspectivas, que ainda têm grande inserção no campo da psicologia brasileira, a busca é por
compreender os determinantes sociais dos processos de desenvolvimento, educação e inserção
social, em uma leitura que vai para além do indivíduo. Contribuições de Vigotski e de outros
autores de viés marxista são centrais para a perspectiva.
A partir dos anos 2000, ocorre um aumento nas obras de Vigotski traduzidas diretamente
do russo para o português e um avanço nas proposições de compreensão da teoria e de
aplicabilidade nos diferentes campos de atuação da Psicologia e da Educação.
Atualmente, a teoria é bastante difundida no Brasil, sendo esse fato reconhecido, por
exemplo, por autores responsáveis por sua atualização e aplicação na Rússia (Janna Glozmann
coloca o Brasil, ao lado da Rússia, como principal país para o desenvolvimento da teoria hoje). A
gama de aplicação da teoria, ainda bastante forte dentro da Psicologia Escolar, se expande,
incorporando, com foco no desenvolvimento humano, práticas como: psicoterapia, individual e
em grupos (González Rey e Clarindo); psicologia social e relações grupais (Sawaia); discussões
sobre desenvolvimento e sexualidade (Kahhahle); neuropsicologia e avaliação psicológica (Hazin,
Marangoni, Anauate, Morais, Chastenet); psicologia ambiental (Bomfim); relação de crianças com
o espaço (GRUPEGI).
Referências bibliográficas
CARR, N. The Shallows: What the Internet is Doing to Our Brains. New York: W.W. Norton
& Company, 2010.
DORIA, N. G., & SIMÃO, L. M. Differing times and differing measures: Dimensions of
historical time in Vygotsky’s work. Theory & Psychology, 28(6), 757–779, 2018.
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NEWMAN, F., & HOLZMAN, L. Lev Vygotsky: Cientista Revolucionário. São Paulo:
Loyola, 2002.
VALSINER, J., & Van der Veer, R. The Social Mind: Construction of the Idea. New York:
Cambrige University Press, 2000.
VAN DER VEER, R., & VALSINER, J. Vygotsky: uma Síntese. São Paulo: Loyola, 1999.
VIGOTSKI, L.S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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