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Tribunal de Justiça
12ª Câmara Cível
Agravo de Instrumento nº 0001971-20.2020.8.19.0000
Agravante: UNIMED RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO DO RIO DE
JANEIRO LTDA
Agravado: EVA DE FÁTIMA DA SILVA
Relator: DESEMBARGADOR CHERUBIN SCHWARTZ

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PLANO DE SAÚDE.


NEGATIVA DE AUTORIZAÇÃO DE CIRURGIAS
PRESCRITAS EM COMPLEMENTO DE GASTROPLASTIA
(CIRURGIA BARIÁTRICA). RECONSTRUÇÃO DE MAMAS
COM PRÓTESES (MAMOPLASTIA COM PRÓTESES) E
DERMOLIPECTOMIA ABDOMINAL. Intervenções
cirúrgicas negadas que são complemento da cirurgia
bariátrica a que a recorrente se submeteu, prescritas após
a perda de mais de 40 (quarenta) quilos de peso. Caráter
reparador e não meramente estético das cirurgias. Laudo
médico atestando a necessidade dos procedimentos com
utilização de prótese por não haver tecido mamário
suficiente, tratando-se a dermolipectomia e mastopexia
com prótese. Súmulas TJRJ nº 210 e 258. Realização das
cirurgias que se impõe. Ausência de perigo de
irreversibilidade, pois eventual prejuízo poderá ser
cobrado da ora agravante. Recurso conhecido e
improvido, nos termos do voto do Desembargador Relator.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de


Instrumento n. 0001971-20.2020.8.19.0000em que é Agravante
UNIMED RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO DO RIO DE
JANEIRO LTDA e Agravado EVA DE FÁTIMA DA SILVA,

(AA) Apelação Cível nº 0001971-20.2020.8.19.0000

CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ JUNIOR:13776 Assinado em 15/05/2020 19:56:26


Local: GAB. DES CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ JUNIOR
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ACORDAM os Desembargadores que compõem a


egrégia Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio
de Janeiro, por unanimidade de votos em conhecer do recurso e negar
provimento, nos termos do voto do Desembargador Relator.

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto


UNIMED RESENDE COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO em face
da decisão do Juízo da Vara Única de Itatiaia que deferiu a tutela
de urgência pretendida por EVA DE FÁTIMA DA SILVA, para
determinar que a ré autorize, no prazo de 48 horas, a cirurgia
indicada na inicial necessária ao complemento do
tratamento da obesidade mórbida, com todas as indicações
especificadas no laudo médico que acompanha a inicial, sob pena
de multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais), limitada, a princípio, a
R$40.000,00 (quarenta mil reais). Sustenta a Agravante que o
procedimento de Mamoplastia (reconstrução mamária), posterior à
cirurgia bariátrica, não consta do rol de procedimentos
obrigatórios listados pela ANS. A Resolução Normativa de n. 428
(última editada pela ANS) prevê que a reconstrução mamária é coberta
apenas para os casos de lesões traumáticas e tumores.

Logo, pelo fato de não constar do rol de


procedimentos listados pela ANS, o plano de saúde não possui a

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obrigação de autorizar a cobertura do procedimento Mamoplastia


para pacientes pós-cirurgia bariátrica.
Requer a atribuição de efeito suspensivo e no mérito
a revogação da decisão que deferiu a tutela antecipada.
Indeferimento do efeito suspensivo às fls.16/18.
Contrarrazões às fls.24/29.
É o relatório. Passo a decidir.
De início, cumpre mencionar que se encontram
presentes os requisitos de admissibilidade do recurso, que deve ser, por
conseguinte, conhecido.
Em que pesem as razões recursais, a decisão deve ser
mantida.
A pretensão do autor encontra fundamento no contrato
celebrado entre as partes, firmado justamente com o intuito de lhe
garantir a melhor e mais completa assistência médica possível,
expectativa que, ademais, não é exagerada, na medida em que
corresponde exatamente à contrapartida assumida pela operadora
do plano de saúde ao vendê-lo ao consumidor.
A autora fez cirurgia bariátrica há três anos. As cirurgias
reparadoras revelam-se como etapa indispensável ao tratamento da
obesidade mórbida, não se tratando de simples procedimento estético.
O laudo médico afirma que a cirurgia é não estética.
As cirurgias pleiteadas são desdobramento da cirurgia
bariátrica, mostrando-se suficientes as prescrições médicas, por

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prevalecer o juízo técnico do médico assistente quanto ao tratamento


adequado, não justificada para comprovação da necessidade dos
procedimentos a pretendida juntada de fotografias do excesso de pele.
Nesse contexto, resta evidenciada a probabilidade do
direito invocado. A teor do que dispõem as Súmulas 210 e 258 do TJRJ:
Nº. 210 “Para o deferimento da antecipação da tutela contra
seguro saúde, com vistas a autorizar internação, procedimento
cirúrgico ou tratamento, permitidos pelo contrato, basta
indicação médica, por escrito, de sua necessidade.”

Nº. 258 “A cirurgia plástica, para retirada do excesso de tecido


epitelial, posterior ao procedimento bariátrico, constitui etapa do
tratamento da obesidade mórbida e tem caráter reparador.”

Há perigo de dano, tendo em vista que o procedimento é


uma continuidade do tratamento anterior, com vistas a minimizar os
efeitos da perda de peso (excesso de pele e flacidez). Aguardar a
instrução processual poderá acarretar dano maior à consumidora, posto
que o aludido procedimento é terapêutico e indispensável ao completo
restabelecimento de sua saúde.
Nesse sentido, a jurisprudência do STJ:
“REsp 1442236 / RJ RECURSO ESPECIAL 2013/0274933-
2 Relator(a) Ministro MARCO BUZZI (1149) Órgão Julgador
T4 - QUARTA TURMA Data do Julgamento 17/11/2016
Data da Publicação/Fonte DJe 28/11/2016 Ementa
RECURSOS ESPECIAIS - AÇÃO INDENIZATÓRIA -
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PRETENSÃO DE CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE


DANOS MATERIAIS E MORAIS EM VIRTUDE DA
NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE CIRURGIA
PLÁSTICA REPARADORA DE MAMOPLASTIA, COM A
COLOCAÇÃO DE PRÓTESES DE SILICONE, NÃO
AUTORIZADA PELO PLANO DE SAÚDE, SOB A
ALEGAÇÃO DE TRATAR-SE DE PROCEDIMENTO
MERAMENTE ESTÉTICO - BENEFICIÁRIA PORTADORA
DE OBESIDADE MÓRBIDA – INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS
QUE JULGARAM PARCIALMENTE PROCEDENTE O
PEDIDO VEICULADO NA DEMANDA, A FIM DE
DETERMINAR O REEMBOLSO DAS DESPESAS
EFETUADAS NOS LIMITES DO CONTRATO
ENTABULADO ENTRE A USUÁRIA E A OPERADORA DO
PLANO. INSURGÊNCIA DE AMBAS AS PARTES.
Hipótese: Possibilidade de determinação jurisdicional de
ressarcimento, nos limites do contrato, da quantia
despendida com a realização de cirurgia plástica reparadora
de mamoplastia, com a colocação de próteses de silicone,
diante da recusa do plano de saúde em autorizar o referido
procedimento, sob a alegação de ser meramente estético,
mesmo tendo este sido expressamente indicado por
médicos especialistas, após cirurgia bariátrica (redução de
estômago), por ser a paciente portadora de obesidade
mórbida. 1. Recurso Especial da ré. Violação aos artigos
104, 421, 425 e 884 do Código Civil de 2002. 1.1 A
existência de cobertura contratual para a doença
apresentada pelo usuário conduz, necessariamente, ao
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custeio do tratamento proposto pelos médicos especialistas,


revelando-se abusiva qualquer cláusula limitativa do meio
adequado ao restabelecimento da saúde e do bemestar do
consumidor. Precedentes. 1.2 Havendo expressa indicação
médica, alusiva à necessidade da cirurgia reparadora,
decorrente do quadro de obesidade mórbida da
consumidora, não pode prevalecer a negativa de custeio da
intervenção cirúrgica indicada - mamoplastia, inclusive com
a colocação de próteses de silicone -, sob a alegação de
estar abarcada por previsão contratual excludente ("de
cobertura de tratamentos clínicos ou cirúrgicos, e próteses,
meramente para fins estéticos"); pois, na hipótese, o
referido procedimento deixa de ser meramente estético para
constituir-se como terapêutico e indispensável.
Precedentes. 1.3 Nesse contexto, o instrumento pactuado
em questão não exclui a cobertura da doença, muito menos
o tratamento, motivo pelo qual a recusa em a utorizar a
realização da cirurgia, com o consequente reembolso das
despesas, consubstancia-se em nítido descumprimento
contratual. 2. Recursos Especial da autora. [...] 3. Recursos
especiais DESPROVIDOS, mantendo-se na íntegra o
acórdão recorrido
Desta forma, em cognição sumária, não se afigura
legítima a negativa de autorização para os procedimentos indicados, eis
que implica em violação à norma inserta no artigo 51, inciso IV, do
Código de Defesa do Consumidor, porquanto, além de ferir a função
social do contrato, coloca o consumidor em desvantagem exagerada.
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Por fim, salienta-se que não há perigo da irreversibilidade


dos efeitos da decisão, haja vista que, em caso de eventual
improcedência do pedido, poderá a agravante proceder à cobrança das
verbas que reputar não cobertas.
Portanto, a decisão que concede a tutela deve ser
mantida, consoante ao entendimento jurisprudencial desta Corte,
contemplado no verbete da súmula nº 59, a seguir transcrito:
“Somente se reforma a decisão concessiva ou não, da
tutela de urgência, cautelar ou antecipatória, se teratológica, contrária à
lei, notadamente no que diz respeito à probabilidade do direito
invocado, ou à prova dos autos”.

Diante do exposto, voto no sentido de conhecer do


recurso e negar provimento.

Rio de Janeiro, data da assinatura eletrônica.

Desembargador CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ JÚNIOR


Relator

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