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Docente: Micaela Bragadeste Lopes

Responsável da unidade curricular de Introdução ao Direito


Ano letivo 2020/2021

TEXTO DE APOIO N.º 7

INTRODUÇÃO AO DIREITO

PONTOS 6.3.1, 6.3.2, 6.3.2.2 DO PROGRAMA

(Nota: não inclui ponto 6.3.2.1 sobre a responsabilidade civil que será tratado à parte)

A PROTEÇÃO COATIVA

I - Introdução

Sendo o Direito um sistema de normas de comportamento social, de origem estadual, assistidas de


proteção coativa, importa agora atentarmos na proteção coativa, ou coercibilidade. A proteção coativa é o
elemento do conceito de Direito que o distingue das outras ordens normativas.

A coercibilidade ou proteção coativa consiste na possibilidade da utilização da força pública do


Estado, se necessário for, para obrigar as pessoas a cumprir a normas e reprimir, sancionar ou castigar quem
não as cumpre.

II - Objetivos da proteção coativa

A proteção coativa tem por objetivos:

a) Prevenir o incumprimento e violação das normas;


b) Reprimir, castigar, punir, sancionar a violação das normas.

A mera existência de sanções ou consequências para quem incumpre as normas é já, por si só, um meio
de prevenção do seu incumprimento. Quer isto dizer que, se uma pessoa sabe que se matar outrem é punida
com uma pena de prisão de 8 a 16 anos, é, por si só, um meio dissuasor do incumprimento das normas.
Para além deste carácter dissuasor, existem ainda meios preventivos específicos e que são os seguintes:
a necessidade pedir autorizações e licenças administrativas para praticar determinados atos ou exercer certas
atividades ou a existência de ações inspetivas por parte do Estado. Por exemplo, a Autoridade para as
Condições do Trabalho (ACT) é um serviço do Estado que visa a promoção da melhoria das condições de
trabalho em todo o território continental através do controlo do cumprimento do normativo laboral no
âmbito das relações laborais privadas e pela promoção da segurança e saúde no trabalho em todos os
sectores de atividade públicos e privados. Ou seja, através das sus atribuições inspetivas visa prevenir a
violação de normas laborais que coloquem em causa a segurança ou a saúde no trabalho.

Alguns dos meios preventivos da proteção coativa passam, também, pela existência das chamadas
providências cautelares jurisdicionais.

O procedimento cautelar é o processo judicial instaurado como preliminar a uma ação, ou na pendência
desta como seu incidente, destinado a prevenir ou a afastar o perigo resultante da demora a que está sujeito
o processo principal. Através de uma indagação rápida e sumária, o juiz assegura-se da plausibilidade da
existência do direito do requerente e emite uma decisão de caráter provisório, destinada a produzir efeitos
até ao momento em que se forma a decisão definitiva. As providências não decidem em definitivo um
determinado litígio, apenas salvaguardam as situações jurídicas que as partes tenham, nomeadamente os
seus direitos, impedindo que durante a pendência da ação, a situação de facto se altere. Por exemplo, a
título cautelar, pode pedir-se a restituição provisória da possa de um objeto.

A proteção coativa também tem por objetivo castigar e sancionar o não cumprimento das normas.

Aqui já não existe nada a prevenir, uma vez que a norma já foi violada, mas apenas a castigar ou
sancionar o violador da norma, responsabilizando-o.

A proteção coativa concretiza-se a através de sanções, que podem ser materiais (aquelas que são
socialmente visíveis) ou meramente jurídicas (aquelas que apenas se manifestam num plano jurídico)

III - As sanções materiais

As sanções materiais também têm carácter jurídico, porém, vão mais além do plano jurídico na
medida em que se traduzem em alterações visíveis na vida social.
Exemplificando: uma pena de prisão é uma sanção material na medida em que alguém que se
encontrava em liberdade, por ter sido condenado pela prática de um crime, deixa de estar em liberdade e
fazer a sua vida, passando a estar num estabelecimento prisional.

As sanções materiais podem consistir em:

a) Reintegração natural

A reintegração natural consiste na reposição da situação tal como ela existia antes da violação da norma.

Exemplificando: Se alguém me dá um empurrão e me descose um casaco, deve proceder à reparação,


cosendo o casaco, deixando-o tal como ele estava antes do empurrão.

Se alguém me causa um dano, deve reconstituir a situação tal como ela existia antes do dano, conforme
dispõe o artigo 562º do CC.

b) Reintegração por equivalente ou sucedâneo pecuniário

Quando a reintegração natural não é possível, repõe-se a situação através de um bem equivalente ou
através do equivalente ao seu valor em dinheiro.

Exemplificando: se o mesmo empurrão referido no exemplo anterior causar um rasgão no casaco, que
não permite a sua reparação e se já não existem no mercado casacos iguais àquele que ficou danificado,
então, deve ser resposto com um casaco equivalente ou com o seu valor em dinheiro.

A indemnização é fixada em dinheiro sempre que a reconstituição natural não seja possível, não repare
integralmente os danos ou seja excessivamente onerosa para o devedor, conforme dispõe o artigo 566º n.º
1 do CC.

c) Compensação

Apesar de a nossa lei dar prioridade à reintegração natural, seguindo-se a reintegração por equivalente
ou sucedâneo pecuniário, a verdade é que, por vezes, não é possível reintegrar, isto é, por vezes, não é
possível repor a situação tal como ela existia antes da violação da norma.

Exemplificando:
Se A mata B, a família de B deve ser compensada, não sendo possível a reintegração natural pois B não
volta a viver, nem a reposição por equivalente pecuniário, pois a vida humana não tem preço e não há um
equivalente em dinheiro que possa repor a situação.

Assim, a família de B será compensada através de um valor em dinheiro (indemnização), que não tem
por objetivo repor a situação (por tal não ser possível), mas apenas amenizar a dor e o sofrimento causados.

A compensação ocorre essencialmente quando existem danos não patrimoniais, isto é, bens que não
são avaliáveis em dinheiro, mas que, sendo graves, merecem a tutela do Direito, conforme previsto no n.º
1 do artigo 496º do C.C.

Note-se que, não se tratando de bens avaliáveis em dinheiro a indemnização é fixada equitativamente
(de acordo com critérios de justiça, razoabilidade e bom senso) pelo tribunal.

d) As penas

Uma pena é um sacrifício imposto a todo aquele que viola uma norma e que é fixada em função da sua
culpa.

As penas podem ser de natureza criminal, contraordenacional e disciplinar.

Para haver a aplicação de uma pena criminal tem de ter existido a prática de um crime.

O que é um crime?

Um crime é um comportamento contrário à lei, definido e tipificado como crime. Nem todos os
comportamentos contrários à lei são crime. Para um crime ser crime, tem de estar definido e tipificado como
tal pela própria lei, de onde se conclui que os crimes estão sujeitos a um princípio de legalidade.

Um crime tem de consistir num facto ou comportamento praticado por ação ou por omissão, com culpa,
que corresponde a um resultado criminoso e em que existe um nexo de causalidade entre o facto tipificado
e descrito como crime e o resultado criminoso.

Os crimes correspondem aos comportamentos sociais mais censuráveis e com maior desvalor social e
só os tribunais podem condenar e aplicar penas pela prática de um crime.
A maioria dos crimes vêm previstos e definidos como tal no Código Penal, embora existam
comportamentos definidos como crime também noutras leis.1

São exemplos de penas criminais a prisão (efetiva ou suspensa na sua execução) e a multa.

Para haver a aplicação de uma pena contraordenacional tem de ter existido a prática de uma
contraordenação.

O que é uma contraordenação?

A contraordenação também uma infração da lei, mas com menor gravidade que um crime. Muitas vezes,
as contraordenações também são designadas de crimes meramente administrativos, até porque a
condenação e a aplicação de uma sanção pela prática de uma contraordenação são efetuadas por entidades
meramente administrativas, ainda que a decisão administrativa de aplicação da sanção contraordenacional
possa posteriormente ser impugnada em tribunal.

Para existir uma contraordenação também é necessário que um determinado comportamento esteja
tipificado, regulado e definido pela lei como contraordenação. Para que exista a prática de uma
contraordenação é necessário que estejam preenchidos os mesmos pressupostos dos crimes.

O exemplo máximo de pena contraordenacional (note-se que existem outras) é a coima.

Para haver a aplicação de uma pena disciplinar tem de ter existido a prática de uma infração disciplinar.

O que é uma infração disciplinar?

As infrações disciplinares são comportamento de uma pessoa, culposos, em função de uma posição que
ocupam ou estatuto que detêm e que são tipificados e punidos, por violarem normas legais ou contratuais
que regulam essa função ou esse estatuto que ocupam.

Exemplificando:

Todas as pessoas que são parte num contrato de trabalho podem praticar infrações disciplinares,
violando normas legais ou contratuais referentes ao exercício da sua atividade laboral, podendo ser
condenadas numa sanção disciplinar, que pode ir de uma mera advertência ao despedimento.

1
Por exemplo, no Regime Jurídico das Armas e Munições, Lei n.º 5/2006, de 23 de fevereiro.
Também os estudantes do Instituto Politécnico de Setúbal, em função do seu estatuto de estudante, têm
de cumprir o Regulamento Disciplinar dos Estudantes do Instituto Politécnico de Setúbal2, podem praticar
infrações disciplinares, por exemplo, se assinarem um trabalho de grupo sem que nele tenham participado
ou se tiverem feito cábulas, e ser-lhes aplicada uma sanção disciplinar que pode ir de uma mera advertência
à interdição de frequência do IPS até 5 anos.

IV - As sanções jurídicas

As sanções jurídicas são aquelas que ocorrem num plano essencialmente jurídico e têm a ver com
celebração de negócios jurídicos ou contratos em violação da lei.

Dito de outro modo, quando não são respeitadas todas as regras legais respeitantes à legitimidade e
capacidade dos sujeitos que celebram o contrato, referentes à forma de celebração do contrato, referentes à
vontade de contratar ou ao objeto contratual, o negócio vai padecer de uma invalidade.

Existem três tipo de invalidade: a nulidade, a anulabilidade e a ineficácia dos negócios jurídicos.

Sempre que não esteja previsto um regime específico, aplicam-se à nulidade e à anulabilidade dos
negócios jurídicos as regras dos artigos 286º a 289º do CC, conforme dispõe o artigo 285º.

1. A nulidade

A nulidade é a sanção jurídica mais grave, significando que o negócio é nulo e não produz quaisquer
efeitos.

Explicando melhor a ideia: sempre que celebramos um negócio jurídico ou contrato, pretendemos que
ocorram determinados efeitos. Por exemplo, se celebramos um contrato de compra e venda (definido no
artigo 874º do CC) pretendemos alguns efeitos, sendo de destacar um efeito essencial que é o da transmissão
do direito de propriedade sobre o objeto do vendedor para o comprador, tal como previsto no artigo 879º
do CC, que enuncia os efeitos essenciais deste tipo contratual.

https://www.ips.pt/ips_si/web_gessi_docs.download_file?p_name=F725820635/20161115_D_13714_Regulament
oDisciplinarEstudantesIPS.pdf
A nossa lei estabelece uma série de regras sobre a celebração dos contratos, se essas regras não forem
cumpridas, podem determinar a nulidade do contrato, isto é, podem determinar que o contrato não produza
quaisquer efeitos.

A nulidade é a sanção jurídica aplicável geralmente à violação de normas de interesse público.

Exemplificando uma situação em que um contrato é nulo:

O artigo 219º do CC estabelece o princípio da liberdade de forma, de acordo com o qual a validade da
declaração negocial não depende da observância de nenhuma forma especial (é este princípio que nos
permite, designadamente, celebrar contratos de forma verbal ou gestual, sem que tal afete a validade de
contrato). Porém, esta regra tem exceções. O artigo 875º do CC prevê que a compra e venda de bens imóveis
só é válida se for celebrada por escritura pública ou documento particular autenticado, sendo precisamente
uma das exceções ao princípio da liberdade de forma.

Se António vender verbalmente a Bento a sua casa, sem que tenham celebrado escritura pública ou
documento particular autenticado), mesmo que o António tenha entregado as chaves a Bento e que este lhe
tenha pago o preço, esta venda é nula e não produz quaisquer efeitos. Sabemos que a consequência é
nulidade em virtude do disposto no artigo 220º do CC que estipula que a inobservância da forma que a lei
exige para a celebração de um negócio determina a sua nulidade.

Assim, uma vez que o contrato celebrado entre António e Bento é nulo, apesar da entrega das chaves e
do preço, o efeito de transmissão do direito de propriedade sobre a casa não se verifica e a casa continua a
ser propriedade do A.

A nulidade de um negócio pode ser arguida em tribunal a todo o tempo, isto é, sem limite de
prazo, por qualquer interessado (que pode não ser a pessoa que celebrou o contrato) e a nulidade
pode ser conhecida oficiosamente pelo tribunal (artigo 286º do CC).

Casos em que os negócios são nulos

a) Vício de forma

Conforme supra indicado, o artigo 219º do CC estabelece o princípio da liberdade de forma, de acordo
com o qual a validade da declaração negocial não depende da observância de nenhuma forma especial (é
este princípio que nos permite, designadamente, celebrar contratos de forma verbal ou gestual, sem que tal
afete a validade de contrato). Porém, esta regra tem exceções. São exemplos de exceções a esta regra os
artigos 875º e 947º do CC, respeitantes respetivamente, à compra e venda e doação de bens imóveis (em
que se impõe a celebração do contrato através de escritura pública ou documento particular autenticado) e
o artigo 1143º do CC que estabelece que os contratos de mútuo (empréstimos) de valor superior a €
25.000,00 só são válidos se celebrados através de escritura pública ou documento particular autenticado.

Dispõe o artigo 220º do CC que a inobservância da forma que a lei exige para a celebração de um
negócio determina a sua nulidade.

Assim, sempre que não sejam cumpridas as normas que impõem uma forma específica de celebração
de um contrato como condição para a sua validade, o contrato é nulo, não produzindo quaisquer efeitos.

b) Vício de objeto

Todas as relações jurídicas incidem sobre um objeto, como veremos no texto seguinte (ponto 7 do
programa).

O objeto dos negócios jurídicos deve cumprir certos requisitos: deve ser lícito, fisicamente possível e
determinável, não ofensivos da ordem pública e dos bons costumes. Um negócio jurídico que não cumpra
estes requisitos é nulo, não produzindo nenhum efeito, conforme decorre do artigo 280º do CC.

Exemplificando:

F contratou J para apanhar toda as nuvens que há no céu e toda a água do oceano. Será que esta negócio
é válido? Não, porque o objeto do negócio (a atividade de apanhar as nuvens do céu e a água do oceano é
fisicamente impossível).

Outro exemplo:

N acordou com Z que este venderia droga aos alunos do IPS recebendo uma comissão de 10% sobre o
valor as vendas. Será que este negócio é válido? Não, porque o seu objeto é ilegal. Note-se que (ainda que
por absurdo) se N não cumprir o acordo e não pagar a comissão acordada a Z, caso Z ponha uma ação em
tribunal para cobrar o seu crédito, o juiz vai declarar oficiosamente que o contrato é nulo por vício de objeto
e absolver o N do pedido que foi formulado.

c) Falta de vontade

Como sabemos um contrato é um acordo de vontades manifestadas ou declaradas entre duas ou mais
pessoas com vista à produção de um resultado ou efeito.
Por vezes, aquilo que se declara no momento da celebração do contrato não é aquilo que se pretende
contratar, mas outra coisa diferente.

Se houver uma divergência entre a vontade real das pessoas que celebram um contrato e a vontade
declarada, com o objetivo de enganar um terceiro, esse contrato diz-se simulado.

Dispõe o artigo 240º CC que o negócio simulado é nulo, não produzindo quaisquer efeitos.

d) Negócios contrários à lei

Para além dos casos supra indicados, dispõe o artigo 294º do CC que os negócios celebrados contra
uma disposição legal de carácter imperativo são nulos, salvo nos casos que outra solução resulte da lei.

2. A anulabilidade

A anulabilidade, tal como a nulidade, também é um a sanção jurídica e traduz-se numa situação em que
um negócio jurídico não é válido.

Diferentemente da nulidade, na anulabilidade o negócio jurídico ou contrato produz efeitos jurídicos,


mas esses efeitos podem ser destruídos retroativamente por uma das partes que celebrou o negócio ou por
pessoas específicas a quem a lei atribui legitimidade para anular certos negócios.

Exemplificando com uma situação em que um contrato é anulável:

A é pai de M e F, que são irmãs. Se A vender a M um terreno sem que tenha obtido o consentimento de
F, esse contrato é anulável, conforme o disposto no artigo 877º do CC e que impõe a necessidade de
consentimento na venda de pais a filhos e de avós a netos.

O que significa? Significa que o direito de propriedade sobre o terreno se transmitiu de A para M, ou
seja, o contrato de venda produziu os seus efeitos, porém, F tem o direito de destruir os efeitos que esse
contrato produziu requerendo a sua anulação em tribunal no prazo de um ano a contar da data em que tenha
conhecimento da celebração do contrato entre o pai e a irmã, conforme dispõe o n.º 2 do artigo 877º do CC.

Caso o artigo 877º do CC não contivesse o regime específico de arguição de anulabilidade deste
contrato, teríamos de aplicar a regra geral sobre anulabilidade que consta no artigo 287º do CC e de acordo
com a qual a anulabilidade só pode ser arguida pelas pessoas no interesse das quais a lei estabelece a
anulabilidade de certos contratos e dentro do prazo de um ano a contra da data de cessação do vício
que lhe serve de fundamento. A anulabilidade não é de conhecimento oficioso.
Casos em que os negócios são anuláveis:

a) Incapacidade do agente

Tendo em conta que os contratos são celebrados entre pessoas, para verificarmos a validade de um
contrato temos de verificar se as pessoas que celebram aquele contrato têm capacidade jurídica para o fazer.

Existem dois tipos de incapazes: os menores e os maiores acompanhados, conforme veremos adiante
(texto de apoio sobre o ponto 7 o programa).

Os contratos celebrados por quem não tenha capacidade jurídica plena são anuláveis.

Exemplificando com o caso dos menores:

D tem 14 anos de idade e vendeu um quadro que lhe foi oferecido aquando do seu nascimento, sem ter
sido representado pelos pais na celebração desse contrato. Esse contrato é válido? Não.

São menores todos os que não tiverem completado 18 anos de idade (artigo 122º CC) e os menores
carecem de capacidade para o exercício dos seus direitos (artigo 123º CC) devendo ser representados pelos
progenitores ou tutores (artigo 124º CC). Quando tal não sucede, o contrato é anulável, isto é, produz
efeitos, mas esses efeitos podem ser destruídos nos termos (pelas pessoas e dentro dos prazos) previstos no
artigo 125º do CC.

b) Falta de consentimento

Existem negócios que, para serem válidos, exigem o consentimento ou autorização de outras pessoas
sob pena de anulabilidade, como é o caso do exemplo supra indicado da venda de pais a filhos e de avós a
netos (artigo 877º do C.C.).

Caso falte esse consentimento e o mesmo não tenha sido suprido, o negócio é inválido, anulável, nos
termos previstos nessa mesma norma e nos termos acima explicados.

c) Vícios da vontade
Sabemos que um contrato é um acordo e vontades manifestadas ou declaradas entre duas ou mais
pessoas (…).

A vontade negocial tem de preencher certos requisitos para que o contrato seja válido: a vontade tem
de ser firme, livre e esclarecida/informada.

Por vezes, quando são celebrados certos contratos, a vontade de uma das partes está viciada, isto é,
sofre de um vício ou defeito. Esse vício da vontade vai determinar a invalidade do negócio. Na nossa
unidade curricular estudaremos 4 vícios da vontade: o erro, o dolo, a coação moral e a incapacidade
acodental.

O erro é um dos vícios da vontade e que pode incidir sobre a pessoa, sobre o objeto ou sobre os motivos
do negócio e, se não fosse esse erro, a pessoa não teria realizado o negócio ou, pelo menos, não o teria
realizado nos termos em que o realizou.

Vem previsto nos artigos 251º e 252º do CC.

Exemplo: pode ser anulado um contrato de trabalho se uma pessoa contratar outra para prestação e
serviço doméstico na convicção errónea de que aquela pessoa sabe cozinhar.

O dolo é um dos vícios da vontade e está previsto no artigo 253º do CC. O artigo 254º do CC diz-nos
quais os efeitos do dolo e vem estipular que os contratos celebrados com dolo são anuláveis.

Exemplo:

A comprou um relógio a C, pelo preço de € 500,00, porque este lhe referiu que o relógio era original da
marca X e que, novo, valia € 2.000,00. Meses depois, A vem a descobrir que, afinal, o relógio é uma
falsificação comprada num bazar da PatPong, em Bangkok.

O negócio é válido? Não. O negócio é anulável, pois a vontade de contratar do A foi viciada pelo dolo
(má fé/má intenção) do C. A pode requerer a anulação do contrato no prazo de um ano a contar do momento
da cessação do vício que lhe serve de fundamento, ou seja, A tem o prazo de um ano a contar da data em
que descobriu que tinha sido enganado para dar entrada da ação em tribunal a pedir a anulação do contrato
de compra e venda (artigos 253º, 254º, 287º e 289º CC).

A coação moral é outro vício da vontade que vai determinar a invalidade do negócio jurídico.

Dispõe o artigo 255º do CC

1.Diz-se feita sob coação moral a declaração negocial determinada pelo receio de um mal de que o
declarante foi ilicitamente ameaçado com o fim de obter dele a declaração.
2. A ameaça tanto pode respeitar a pessoa como a honra ou fazenda do declarante ou de terceiro.
3. Não constitui coação a ameaça do exercício normal de um direito nem o simples temor reverencial.

Dispõe depois o artigo 256º do CC que a declaração negocial feita sob coação é anulável.

Exemplificando:

M ameaça contar ao marido de T que esta tem um amante se esta não lhe doar um colar em ouro que
vale € 5.000,00. T, assustada com a possibilidade de ver o seu casamento terminar, doa a M o colar em
ouro.

A doação é válida? Não, porque foi feita sob coação moral. Concretamente é anulável, no prazo de um
ano a contar da data da cessação do vício que lhe serve de fundamento.

A incapacidade acidental é também um vício da vontade que ocorre caso, no momento em que é
celebrado o contrato e em que uma das partes declara a sua vontade de contratar, essa parte se encontrava
acidentalmente incapacitada de entender o sentido e o alcance da sua declaração negocial e não tinha o livre
exercício da sua vontade.

É o que sucede, por exemplo, se uma pessoa celebra um contrato sob o efeito de álcool ou
estupefacientes e esse facto é notório para a outra parte. O contrato será anulável, nos termos previstos no
artigo 257º, com o regime e as consequências dos artigo 287º e 289º do C.C..

3. A ineficácia

São situações em que o ato ou contrato não produz os efeitos que deviam corresponder-lhe.

É o que sucede se uma declaração negocial for efetuada sob coação física ou com falta de consciência
da declaração, conforme o disposto no artigo 246º do CC ou no caso de declarações não sérias, previstas
no artigo 245º do CC.

Setúbal, 10 de dezembro de 2020

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