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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

ADRIANA MENEZES
SEGURO-DESEMPREGO
Seguro-Desemprego
Constituição Federal:

“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais,


além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
II – seguro-desemprego em caso de desemprego
involuntário.”
Seguro-Desemprego
Constituição Federal:

“Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma


de regime geral, de caráter contributivo e de filiação
obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
(...)
III – proteção ao trabalhador em situação de desemprego
involuntário.”
Seguro-Desemprego
O Constituinte de 1988 entendeu ser o desemprego
involuntário uma situação de risco social a ser coberto pelo
Regime Geral de Previdência Social (RGPS).

Todavia, apesar de sua natureza previdenciária, não se pode


dizer que o seguro-desemprego é um benefício
previdenciário. O legislador ordinário trilhou caminho
diverso do proposto pelo constituinte, ao excluir do rol dos
benefícios do RGPS a cobertura do desemprego
involuntário, como expresso no art. 9º, § 1º, da Lei nº
8.213/91:
Seguro-Desemprego
“Art. 9º, § 1º: O Regime Geral de Previdência Social – RGPS
garante a cobertura de todas as situações expressas no art.
1º desta Lei, exceto as de desemprego involuntário, objeto
de lei específica, e de aposentadoria por tempo de
contribuição para o trabalhador de que trata o § 2º do art. 21
da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991.”
Seguro-Desemprego
O seguro-desemprego vem sendo pago pelo Ministério da
Economia (ME), com recursos provenientes do Fundo de
Amparo ao Trabalhador (FAT).

Ressalta-se que o seguro-desemprego não veio assegurado,


pela primeira vez, pela Constituição Federal de 1988. Antes
mesmo desta data, o benefício estava previsto na
Constituição de 1946, porém a sua instituição ocorreu
somente com o Decreto-Lei nº 2.284/1986.
Seguro-Desemprego
Atualmente, é regulamentado pela Lei nº 7.998/1990,
havendo disposições específicas na Lei Complementar nº
150/2015, relativamente ao empregado doméstico e na Lei nº
10.779/2003 para o pescador artesanal.
O benefício tem a finalidade de prover assistência
financeira, por um período determinado, ao trabalhador que
é dispensado involuntariamente. Integra o Programa do
Seguro-Desemprego que, por meio de ações de orientação,
recolocação e qualificação profissional, tem a função de
auxiliar o trabalhador na manutenção e na busca do
emprego.
Condições para concessão do Seguro-Desemprego
Cabe destacar os trabalhadores que têm direito ao
recebimento do benefício:

• empregado dispensado sem justa causa;


• empregado que tenha requerido a rescisão indireta (art.
483 da CLT);
• empregado cujo contrato de trabalho foi suspenso em
virtude de participação em curso ou programa de
qualificação oferecido pelo empregador, conforme art. 476-A
da CLT;
Condições para concessão do Seguro-Desemprego
• pescador profissional durante o período em que a pesca é
proibida devido à procriação das espécies;
• trabalhador resgatado da condição análoga à de
escravidão.
• empregado doméstico que for demitido sem justa causa.
Empregados
Os requisitos para a concessão do seguro-desemprego ao
empregado dispensado sem justa causa estão previstos no
art. 3º da Lei nº 7.998/1990.

Exige-se do trabalhador demitido sem justa causa, para fins


de recebimento do seguro-desemprego:
Empregados
I – ter recebido salários de pessoa jurídica ou de pessoa
física a ela equiparada, relativos a:
a) pelo menos 12 (doze) meses nos últimos 18 (dezoito)
meses imediatamente anteriores à data de dispensa, quando
da primeira solicitação;
b) pelo menos 9 (nove) meses nos últimos 12 (doze) meses
imediatamente anteriores à data de dispensa, quando da
segunda solicitação; e
c) cada um dos 6 (seis) meses imediatamente anteriores à
data de dispensa, quando das demais solicitações;
Empregados
II – não estar em gozo de qualquer benefício previdenciário
de prestação continuada, previsto no Regulamento dos
Benefícios da Previdência Social, excetuado o auxílio-
acidente e o auxílio suplementar previstos na Lei nº 6.367,
de 19 de outubro de 1976, bem como o abono de
permanência em serviço previsto na Lei nº 5.890, de 8 de
junho de 1973;
III – não estar em gozo do auxílio-desemprego;
IV – não possuir renda própria de qualquer natureza
suficiente à sua manutenção e de sua família.
Empregados
V – matrícula e frequência, quando aplicável, nos termos do
regulamento, em curso de formação inicial e continuada ou
de qualificação profissional habilitado pelo Ministério da
Educação, nos termos do art. 18 da Lei no 12.513, de 26 de
outubro de 2011, ofertado por meio da Bolsa-Formação
Trabalhador concedida no âmbito do Programa Nacional de
Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), instituído
pela Lei no 12.513, de 26 de outubro de 2011, ou de vagas
gratuitas na rede de educação profissional e tecnológica.
Empregados
Com as novas regras trazidas pela Lei nº 13.134/2015, o
seguro-desemprego será pago por um período máximo
variável de três a cinco meses, de forma contínua ou
alternada, a cada período aquisitivo, contados da data de
dispensa que deu origem à última habilitação, cuja duração
será definida pelo Conselho Deliberativo do Fundo de
Amparo ao Trabalhador (Codefat).
Empregados
A determinação do período máximo de recebimento do
seguro-desemprego observará a seguinte relação entre o
número de parcelas mensais do benefício do seguro-
desemprego e o tempo de serviço do trabalhador nos 36
(trinta e seis) meses que antecederem a data de dispensa
que originou o requerimento do benefício, vedado o
cômputo de vínculos empregatícios utilizados em períodos
aquisitivos anteriores:
Empregados
04 parcelas, se o empregado tiver tido vínculo empregatício de no
QUANDO DA mínimo 12 e no máximo 23 meses no período de referência;
1ª SOLICITAÇÃO
DO BENEFÍCIO, 05 parcelas, se o empregado tiver tido vínculo empregatício de no
SERÃO PAGAS: mínimo 24 meses no período de referência.

03 parcelas, se o empregado tiver tido vínculo empregatício de no


mínimo 09 e no máximo 11 meses no período de referência;
QUANDO DA
2ª SOLICITAÇÃO 04 parcelas, se o empregado tiver tido vínculo empregatício de no
DO BENEFÍCIO, mínimo 12 e no máximo 23 meses no período de referência.
SERÃO PAGAS:
05 parcelas, se o empregado tiver tido vínculo empregatício de no
mínimo 24 meses no período de referência.
Empregados
03 parcelas, se o empregado tiver tido vínculo
empregatício de no mínimo 06 e no máximo 11
meses no período de referência;
QUANDO DA
04 parcelas, se o empregado tiver tido vínculo
3ª SOLICITAÇÃO,
empregatício de no mínimo 12 e no máximo 23
EM DIANTE,
meses no período de referência;
SERÃO PAGAS:
05 parcelas, se o empregado tiver tido vínculo
empregatício de no mínimo 24 meses no período
de referência.
Trabalhador resgatado
Há, ainda, a possibilidade de recebimento do seguro-
desemprego no caso de empregado resgatado de regime de
trabalho forçado ou da condição análoga à escravidão.

Ressalta-se que essa hipótese de benefício, prevista no art.


2º-C, da Lei nº 7.998/1990, foi criada pela Lei nº 10.608/2002,
e, portanto, somente após esse período, os trabalhadores
resgatados puderam ter direito ao seguro-desemprego.
Trabalhador resgatado
O trabalhador que vier a ser identificado como submetido a
regime de trabalho forçado ou reduzido a condição análoga
à de escravo, em decorrência de ação de fiscalização do
Ministério da Economia será dessa situação resgatado e terá
direito à percepção de três parcelas de seguro-desemprego
no valor de um salário mínimo cada.
Trabalhador resgatado
São requisitos para o recebimento do benefício para os
empregados resgatados do regime de trabalho escravo:
• comprovar o resgate do regime de trabalho escravo ou da
condição análoga à escravidão;
• não receber nenhum benefício da Previdência Social,
exceto auxílio-acidente e pensão por morte;
• não possuir renda própria para seu sustento e de sua
família;
• pedido realizado até 90 dias após o resgate.
Trabalhador resgatado
Será vedado o recebimento do mesmo benefício, em
situação similar, nos 12 (doze) meses seguintes à percepção
da última parcela.
Empregado doméstico
Inicialmente, há que se registrar que, após a promulgação
da EC nº 72/2013, o direito ao seguro-desemprego passou a
ser garantido aos empregados domésticos nos termos do
art. 7º, parágrafo único, CF/88.

O referido dispositivo, no entanto, apresenta eficácia


limitada, e somente poderá ser exigido após a promulgação
de lei regulamentadora do tema.
Empregado doméstico
A regulamentação do direito do empregado doméstico ao
seguro-desemprego veio, então, com a publicação da Lei
Complementar nº 150/2015, que revogou a Lei nº 5859/72,
tornando obrigatória a inscrição do empregado doméstico
no FGTS.
Empregado doméstico
Para se habilitar ao benefício do seguro-desemprego, o
empregado doméstico deverá apresentar ao órgão
competente do Ministério da Economia:
I) Carteira de Trabalho e Previdência Social, na qual
deverão constar a anotação do contrato de trabalho
doméstico e a data de dispensa, de modo a comprovar o
vínculo empregatício, como empregado doméstico, durante
pelo menos 15 (quinze) meses nos últimos 24 (vinte e
quatro) meses;
II) termo de rescisão do contrato de trabalho;
Empregado doméstico
III) declaração de que não está em gozo de benefício de
prestação continuada da Previdência Social, exceto auxílio-
acidente e pensão por morte; e

IV) declaração de que não possui renda própria de


qualquer natureza suficiente à sua manutenção e de sua
família.
Empregado doméstico
O empregado doméstico receberá, no máximo, 03 (três)
parcelas de seguro-desemprego no valor de 01 (um) salário
mínimo cada uma.

O seguro-desemprego deverá ser requerido de 7 (sete) a 90


(noventa) dias contados da data de dispensa.

Novo seguro-desemprego só poderá ser requerido após o


cumprimento de novo período aquisitivo, cuja duração será
definida pelo Codefat.
Pescador artesanal: seguro-defeso
A Lei nº 10.779/2003 veio garantir ao pescador artesanal
receber o recebimento do seguro-desemprego, no valor de
01 (um) salário mínimo, durante o período de defeso de
atividade pesqueira para a preservação da espécie. Esse
benefício é, também, chamado de seguro-defeso.

Trata-se de assistência temporária ao pescador profissional


que realiza as atividades de forma artesanal,
individualmente ou em economia familiar, durante o período
de defeso de atividade pesqueira.
Pescador artesanal: seguro-defeso
O período de defeso é aquele em que ocorre a reprodução
dos peixes. Esse interstício é fixado pelo Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA), em relação à espécie marinha, fluvial ou lacustre a
cuja captura o pescador se dedique. O pescador fica
impossibilitado de exercer a atividade.
Pescador artesanal: seguro-defeso
O antigo Ministério do Trabalho deixou de ser o responsável
pelos requerimentos do seguro-defeso a partir de abril de
2015. Com a nova regra trazida pela Medida Provisória nº
665/2014, convertida na Lei nº 13.134/2015, o INSS passou a
receber e processar os requerimentos e habilitar os
beneficiários para o seguro-defeso, nos termos do
regulamento. Mas, o pagamento deste benefício continua
sendo pago à conta do Fundo do Amparo ao Trabalhador
(FAT).
Pescador artesanal: seguro-defeso
Para se habilitar ao benefício, o pescador deverá apresentar
ao INSS os seguintes documentos:

I) registro como pescador profissional, categoria


artesanal, devidamente atualizado no Registro Geral da
Atividade Pesqueira (RGP), pela Secretaria Especial da
Aquicultura e da Pesca com antecedência mínima de 1 (um)
ano, contado da data de requerimento do benefício;
Pescador artesanal: seguro-defeso
II) cópia do documento fiscal de venda do pescado a
empresa adquirente, consumidora ou consignatária da
produção, em que conste, além do registro da operação
realizada, o valor da respectiva contribuição previdenciária
de que trata o § 7º do art. 30 da Lei nº 8.212, de 24 de julho
de 1991, ou comprovante de recolhimento da contribuição
previdenciária, caso tenha comercializado sua produção a
pessoa física; e
Pescador artesanal: seguro-defeso
III) outros estabelecidos em ato do Ministério da
Economia que comprovem:
a) o exercício da profissão de pescador artesanal;
b) que se dedicou à pesca durante no período
compreendido entre o defeso anterior e o em curso, ou nos
12 (doze) meses imediatamente anteriores ao do defeso em
curso, o que for menor;
c) que não dispõe de outra fonte de renda diversa da
decorrente da atividade pesqueira.
Pescador artesanal: seguro-defeso
O INSS, no ato de habilitação ao benefício, deverá verificar a
condição de segurado pescador artesanal e o pagamento da
contribuição previdenciária, nos termos da Lei nº 8.212, de
24 de julho de 1991, nos últimos 12 (doze) meses
imediatamente anteriores ao requerimento do benefício ou
desde o último período de defeso até o requerimento do
benefício, o que for menor.
O INSS deverá divulgar mensalmente lista com todos os
beneficiários que estão em gozo do seguro-desemprego no
período de defeso, detalhados por localidade, nome,
endereço e número e data de inscrição no RGP.
Pescador artesanal: seguro-defeso
Desde que atendidos os requisitos para a obtenção do
seguro-defeso, o benefício será concedido ao pescador
profissional artesanal cuja família seja beneficiária de
programa de transferência de renda com condicionalidades,
e caberá ao órgão ou à entidade da administração pública
federal responsável pela manutenção do programa a
suspensão do pagamento pelo mesmo período da
percepção do benefício de seguro-desemprego.
Pescador artesanal: seguro-defeso
O pescador não poderá estar em gozo de nenhum benefício
decorrente de benefício previdenciário ou assistencial de
natureza continuada, exceto pensão por morte e auxílio-
acidente.
Pescador artesanal: seguro-defeso
Sem prejuízo das sanções civis e penais cabíveis, todo
aquele que fornecer ou beneficiar-se de atestado falso para
o fim de obtenção do benefício do seguro-defeso estará
sujeito:

I) a demissão do cargo que ocupa, se servidor público;


II) a suspensão de sua atividade, com cancelamento do
seu registro, por dois anos, se pescador profissional.
Pescador artesanal: seguro-defeso
O pescador profissional artesanal não fará jus a mais de um
benefício de seguro-desemprego no mesmo ano decorrente
de defesos relativos a espécies distintas.

A concessão do benefício não será extensível às atividades


de apoio à pesca e nem aos familiares do pescador
profissional que não satisfaçam os requisitos e as
condições estabelecidos na Lei.
O benefício do seguro-desemprego é pessoal e
intransferível.
Suspensão e cancelamento do seguro-desemprego
O benefício do seguro-desemprego será suspenso nas
seguintes hipóteses:

I) admissão do trabalhador em novo emprego;


II) início de percepção de benefício de prestação
continuada da Previdência Social, exceto o auxílio-acidente,
o auxílio suplementar e o abono de permanência em serviço;
III) início de percepção de auxílio-desemprego.
Suspensão e cancelamento do seguro-desemprego
A Lei nº 13.134/2015 acrescentou mais uma hipótese de
suspensão do seguro-desemprego: – a recusa injustificada
por parte do trabalhador desempregado em participar de
ações de recolocação de emprego, conforme
regulamentação do Codefat.
Suspensão e cancelamento do seguro-desemprego
O benefício do seguro-desemprego será cancelado:

I) pela recusa por parte do trabalhador desempregado de


outro emprego condizente com sua qualificação registrada
ou declarada e com sua remuneração anterior;
II) por comprovação de falsidade na prestação das
informações necessárias à habilitação;
Suspensão e cancelamento do seguro-desemprego

III) por comprovação de fraude visando à percepção


indevida do benefício do seguro-desemprego; ou

IV) por morte do segurado.


Suspensão e cancelamento do seguro-desemprego
No que diz respeito ao seguro-defeso, poderá ser cancelado
o benefício nas seguintes hipóteses:

I) início de atividade remunerada;


II) início de percepção de outra renda;
III) morte do beneficiário;
IV) desrespeito ao período de defeso; ou
V) comprovação de falsidade nas informações prestadas
para a obtenção do benefício.
Suspensão e cancelamento do seguro-desemprego
Em relação ao seguro-desemprego do empregado
doméstico, o benefício será cancelado:
I) pela recusa, por parte do trabalhador desempregado,
de outro emprego condizente com sua qualificação
registrada ou declarada e com sua remuneração anterior;
II) por comprovação de falsidade na prestação das
informações necessárias à habilitação;
III) por comprovação de fraude visando à percepção
indevida do benefício do seguro-desemprego; ou
IV) por morte do segurado.
Outras questões
Por fim, é dever do empregador conceder as guias para o
recebimento do seguro-desemprego. A recusa injustificada
em fornecer essa documentação dará ensejo à indenização.
Nesse sentido, prevê a jurisprudência do TST:
Outras questões
Súmula nº 389 do TST. Seguro-desemprego. Competência da
justiça do trabalho. Direito à indenização por não liberação
de guias
I – Inscreve-se na competência material da Justiça do
Trabalho a lide entre empregado e empregador tendo por
objeto indenização pelo não fornecimento das guias do
seguro-desemprego.
II – O não fornecimento pelo empregador da guia necessária
para o recebimento do seguro-desemprego dá origem ao
direito à indenização.
Outras questões
A Súmula nº 389, item I, do TST versa sobre o pedido dessa
indenização, por ausência das guias do seguro-desemprego.
Ademais, o reconhecimento judicial da ilegalidade da
dispensa por justa causa retroage no tempo, de modo a
ensejar o pagamento da indenização substitutiva pela não
liberação das guias do seguro-desemprego de que trata a
Súmula nº 389, II, do TST. Assim, não importa o fato de o
empregador não estar obrigado a fornecer as mencionadas
guias no momento da rescisão contratual, pois o pagamento
da indenização visa minimizar o prejuízo sofrido pelo
empregado.

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