Ex vi do disposto no art. 129 consolidado, “todo empregado terá direito
anualmente ao gozo de um período de férias, sem prejuízo da remuneração”. Tal direito foi ratificado pela atual Carta Magna, extensivo aos trabalhadores urbanos, rurais, domésticos e avulso, nos termos do seu art. 7º, XVII, XXXIV e parágrafo único. Férias corresponde a um intervalo de descanso anual, com duração de 30 dias corridos, podendo ser reduzido proporcionalmente às faltas injustificadas ao serviço, verificadas no curso do respectivo período aquisitivo. Tal perspectiva pode ser depreendida da intelecção do art. 130 da CLT, infratranscrito: Art. 130 - Após cada período de 12 (doze) meses de vigência do contrato de trabalho, o empregado terá direito a férias, na seguinte proporção: I - 30 (trinta) dias corridos, quando não houver faltado ao serviço mais de 5 (cinco) vezes; II - 24 (vinte e quatro) dias corridos, quando houver tido de 6 (seis) a 14 (quatorze) faltas; III - 18 (dezoito) dias corridos, quando houver tido de 15 (quinze) a 23 (vinte e três) faltas; IV - 12 (doze) dias corridos, quando houver tido de 24 (vinte e quatro) a 32 (trinta e duas) faltas. § 1º - É vedado descontar, do período de férias, as faltas do empregado ao serviço.
A Carta Magna de 1934 foi a primeira Constituição Brasileira a encartar o
direito a férias remuneradas em seu texto. Contudo, foi a partir da promulgação da atual Constituição Federal que a remuneração das férias passou a ser acrescida de um terço (o denominado terço constitucional). Até então, as gratificações de férias decorriam de negociações coletivas das categorias mais fortes. A correta compreensão dessa matéria tem como ponto de partida a apreensão de dois institutos fundamentais: período aquisitivo (art. 130 da CLT) e período concessivo (art. 134). O período aquisitivo corresponde a cada período de 12 meses de vigência do contrato de trabalho e começa a fluir desde o primeiro dia de trabalho, independentemente de assinatura da CTPS ou existência de contrato escrito. Porquanto, o contrato individual de trabalho poderá ser pactuado de forma tácita ou expressa, verbalmente ou por escrito (art. 443 da CLT). Conforme disposto no art. 131 da CLT, na contagem do período aquisitivo serão computados, dentre outros, os seguintes períodos não laborados, legalmente previstos: o período em que o empregado estiver em gozo de férias, licença maternidade, licença paternidade, feriados, faltas justificadas, licença médica (os primeiros 15 dias) ou em virtude de percepção de auxílio-acidente, etc. O período concessivo, por sua vez, corresponde aos 12 meses subsequentes ao vencimento do período aquisitivo. Assim, uma vez adquirido o direito a férias, em razão do vencimento do período aquisitivo, passa a fluir o prazo de 12 meses para o empregador concedê-las (inteligência do art. 134 da CLT). Sem prejuízo da observância do período concessivo, a época da concessão das férias constitui prerrogativa do empregador que, a princípio, deverá concedê-las em um único período. Não obstante tal imperativo legal, havendo aquiescência do empregado, as férias poderão ser usufruídas em até três períodos, com a seguinte duração: um dos períodos não poderá ser inferior a 14 dias corridos e cada um dos demais períodos não poderá ser inferior a 5 dias corridos; sendo certo que todos os períodos deverão ser usufruídos dentro do limite temporal do período concessivo. A concessão das férias, no todo ou em parte, fora do período concessivo, implica o pagamento em dobro da remuneração referente aos dias que extrapolarem a data limite do período concessivo. A violação do termo final do período concessivo também autoriza o empregado a ajuizar reclamação trabalhista, requerendo a fixação da época da concessão das férias, por sentença, que cominará pena diária de 5% do salário mínimo, até a data da efetiva concessão, além de representação junto aos órgãos de fiscalização para aplicação de multa administrativa. O empregador deverá comunicar o início das férias ao empregado, com antecedência mínima de 30 dias, sendo vedado estabelecer o início das férias, no período de 2 dias que antecedem feriados e repouso semanal remunerado. Quanto à época da concessão das férias, não obstante à faculdade do empregador de defini-la de acordo com seus interesses, a CLT excepciona tal prerrogativa, outorgando aos membros da mesma família, que trabalham no mesmo estabelecimento ou mesma empresa, o direito gozar férias no mesmo período, desde que, do exercício de tal direito, não resulte prejuízo para o serviço. Inclui-se, também, na referida exceção, o empregado estudante, menor de 18 anos, que poderá fazer coincidir o período de férias com o período de recesso letivo. As férias poderão ser concedidas individualmente ou de forma coletiva. Em se tratando de férias coletivas, será concedida por ato do empregador, a todos os empregados da empresa ou de um determinado estabelecimento ou setor e os empregados abrangidos não poderão recusar-se a gozar as férias na época determinada pelo empregador. As férias coletivas poderão ser usufruídas em até 2 períodos, sendo que um deles não poderá ter duração inferior a 10 dias corridos. Considerando que o gozo de férias coletivas é compulsório para todos os empregados da empresa, estabelecimento ou setor, aqueles que foram contratados a menos de 12 meses, em virtude de não terem completado o primeiro período aquisitivo, gozarão férias proporcionais e, neste caso, inicia-se um novo período aquisitivo. A partir de então, o início do período aquisitivo deixa de considerar a data de vigência do contrato de trabalho, passando considerar como marco inicial, a concessão das férias coletivas. A remuneração das férias deverá ser paga até 2 dias antes do início de sua fruição e corresponderá ao salário devido na data de sua concessão. A remuneração das férias compreende: o salário contratual, parcelas in natura, adicionais diversos pagos habitualmente, adicional de férias ou terço constitucional e abono pecuniário, se houver. A apuração do salário a ser pago depende da forma de sua fixação, segundo os critérios estabelecidos no artigo 142 da CLT, a saber: a) Salário pago por dia, semana, quinzena ou mês: aplica-se o valor do salário, na data da concessão das férias; b) Salário pago por hora, com jornadas variáveis: a média de carga horária do período aquisitivo, aplicando-se o valor da hora na data da concessão; c) Salário pago por produtividade, tarefa ou peça: a média da produção verificada no período aquisitivo, aplicando-se o valor da tarefa na data da concessão das férias; d) Salário pago por percentagem, comissão ou viagem: a média salarial percebida pelo empregado no período aquisitivo; Além do salário e terço constitucional, é facultado ao empregado converter, até um terço de suas férias, em dinheiro (abono pecuniário). Trata-se de faculdade do empregado, não podendo ser imposta pelo empregador. Para ter direito ao abono pecuniário, o empregado deverá requerê-lo até 15 dias antes do vencimento do período aquisitivo. A inobservância de tal lapso temporal condiciona o direito ao abono pecuniário à anuência do empregador. Com pouca hipótese de dúvida, o abono pecuniário quando requerido dentro do prazo legal, constitui direito potestativo do empregado, não podendo, o empregador, opor-se ao exercício de tal direito. Há, entretanto, vozes, igualmente autorizadas, contrárias a tal posicionamento, por entender que a faculdade atribuída ao empregado apenas impede a iniciativa unilateral do empregador. Mas, este não estaria sujeito à vontade do empregado, caso não haja proveito laborativo do período convertido em pecúnia, a exemplo de professores, cujas férias coincidem com o período de recesso letivo.