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DIREITO TRABALHISTA

Boletim Trabalhista n° 18 - 2ª Quinzena. Publicado em: 18/09/2020

 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

FÉRIAS EM DOBRO
Período Aquisitivo e Concessivo, Licença Maternidade, Auxílio Doença, Rescisão

Roteiro 

1. Conceito
2. Período Aquisitivo
2.1. Exemplo de Período Aquisitivo
3. Período Concessivo
3.1. Exemplo
3.2. Pagamento em Dobro
3.2.1. Exemplos
3.3. Incidências de INSS e FGTS
4. Comunicação das Férias
4.1. Pagamento em Dobro em Caso de Não Comunicação das Férias Dentro do Prazo
5. Prazo para Pagamento das Férias
6. Penalidades
7. Licença Maternidade
8. Auxílio Doença
9. Dobra das Férias em Caso de Rescisão Contratual
10. Dobra das Férias Durante os Acordos de Suspensão e Redução da Lei n° 14.020/2020

1. Conceito
As férias são um direito constitucionalmente garantido pelo artigo 7°,
inciso XVII, da
CF/88, bem como previsto no artigo 129 e seguintes da
CLT.

As férias, nada mais são, do que um período de 30 dias de descanso que o empregado adquire após completar 12 meses de trabalho consecutivos, nos
termos do artigo 130 da
CLT, cujo gozo deve ocorrer no prazo máximo de 12 meses após a sua aquisição, conforme artigo 134 da
CLT.

Assim, as férias devem ser concedidas no prazo máximo de 12 meses a contar da aquisição do direito (período aquisitivo), do contrário, o empregador ficará
sujeito ao pagamento das férias em dobro.

Essa foi a forma que o legislador encontrou de forçar o empregador a sempre conceder as férias ao empregado, tendo em vista que o período de descanso é
indispensável para o bem-estar físico e mental dos trabalhadores.

Os 30 dias de férias, nos termos do artigo 134, § 1°, da CLT (alterado pela Reforma Trabalhista - Lei n° 13.467/2017), podem ser fracionados em até três
períodos, sendo um de, no mínimo, 14 dias e ou outros dois períodos nunca inferiores a cinco dias cada. Frisa-se, não há obrigatoriedade de que o primeiro
período de férias seja de 14 dias, mas um deles sempre deverá ser de no mínimo 14 dias.

2. Período Aquisitivo
Para que o empregado tenha direito aos 30 dias de férias, é necessário que este labore pelo tempo mínimo de 12 meses para o mesmo empregador, a contar
do primeiro dia da contratação, é chamado de período aquisitivo, previsto no artigo 130 da
CLT.

Assim, após cumprido o período aquisitivo, o empregado tem o direito a 30 dias de férias, salvo se ocorrer alguma das situações previstas na legislação
trabalhista que resultem na perda do período de férias, como por exemplos, faltas injustificadas durante o período aquisitivo, afastamento pela Previdência
Social por mais de 6 meses, gozo de licença remunerada por mais de 30 dias, entre outros motivos.

Sobre o tema, indica-se a leitura da seguinte matéria:

Perda do Período de Férias

Faltas, Recontratação, Licença Remunerada, Paralisação dos Serviços, Exemplos - Boletim n° 06/2019.

Ademais, convém salientar que as férias só poderão ser gozadas antes do término do período aquisitivo quando forem férias coletivas, conforme artigo 140
da
CLT.
DIREITO TRABALHISTA
Boletim Trabalhista n° 18 - 2ª Quinzena. Publicado em: 18/09/2020

 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

As férias coletivas, para serem concedidas, devem ser comunicadas com antecedência de 15 dias aos sindicatos dos empregados e à Secretaria do Trabalho
da sua região, conforme artigo 139, § 2° e § 3° da CLT. Caso a empresa seja optante do regime tributário do simples nacional, tem-se a dispensa da
comunicação da Secretaria do Trabalho, de acordo com o artigo 51,
inciso V, da
Lei Complementar n° 123/2006.

Ademais, convém salientar que, da mesma forma que o sindicato e Secretaria do Trabalho devem ser comunicadas acerca das férias coletivas, cabe ao
empregador comunicar seus empregados também com a antecedência mínima de 15 dias, nos termos do artigo 139, § 3° da
CLT.

Destacamos que, em virtude da calamidade pública, em razão da pandemia do Coronavírus, foi publicada a
Medida Provisória n° 927/2020, com vigência
entre 22.03.2020 a 19.07.2020, sendo que, nesse período, o artigo 6° do mesmo dispositivo legal possibilitava a antecipação das férias, mesmo em período
incompleto, desde que comunicado o empregado com antecedência de 48 horas.

Além disso, as partes poderiam, inclusive, por meio de acordo escrito entre as partes, antecipar o gozo das férias de períodos futuros, ou seja, de período
aquisitivo ainda não iniciado, nos termos do artigo 6°, § 2°, da MP n° 927/2020.

2.1. Exemplo de Período Aquisitivo


Para elucidar a questão, será demonstrado qual seria o período aquisitivo de férias no exemplo a seguir exposto

Exemplo 1

Data de Admissão: 02.01.2019

Período aquisitivo de férias: 02.01.2019 até 01.01.2020

 
Exemplo 2

Data de Admissão: 16.10.2019

Período aquisitivo de férias: 16.10.2019 até 15.10.2020

Assim, completado o período aquisitivo de férias, o empregado terá direito ao gozo das mesmas.

3. Período Concessivo
Adquirido o direito de férias, após o cumprimento do período aquisitivo, cabe ao empregador concedê-las no prazo máximo de 12 meses, chamado de
período concessivo, disciplinado pelo artigo 134 da
CLT.

Registra-se que a época da concessão das férias é determinada pelo interesse do empregador, nos termos do artigo 136 da
CLT, devendo sempre respeitar o
prazo máximo da duração do período concessivo.

O período concessivo de férias refere-se àquele período previsto pela Lei, para que o empregador conceda o gozo de férias de seu empregado, o qual, não
sendo observado, gera o pagamento em dobro das férias.

3.1. Exemplo
Para melhor compreensão do tema, se faz necessário trazer alguns exemplos quanto ao período concessivo de férias, sendo basicamente, todo o período de
12 meses subsequentes à data em que o empregado tiver adquirido o direito.

Exemplo 1

Data de Admissão: 02.01.2019

Período aquisitivo de férias: 02.01.2019 até 01.0.1.2020

Período concessivo das férias: 02.01.2020 até 01.01.2020

 
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Boletim Trabalhista n° 18 - 2ª Quinzena. Publicado em: 18/09/2020

 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

Exemplo 2

Data de Admissão: 16.10.2019

Período aquisitivo de férias: 16.10.2019 até 15.10.2020

Período concessivo das férias: 16.10.2020 até 15.10.2021

Utilizando os exemplos acima expostos, o empregador deve conceder as férias dentro do período concessivo de férias, ou seja, no prazo máximo de 12
meses após o cumprimento dos 12 meses de período aquisitivo.

3.2. Pagamento em Dobro


Na hipótese de as férias não serem concedidas dentro do período concessivo, o pagamento das mesmas será em dobro, incluindo o valor do terço
constitucional, como determina o artigo 137 da
CLT.

O pagamento em dobro das férias é uma penalidade ao empregador que não respeitar o prazo máximo para a concessão do direito do empregado.

Ressalta-se que, mesmo que haja o pagamento da dobra das férias, o empregador deverá, ainda assim, conceder o período integral a que o empregado tem
direito. Nesse sentido, convém destacar que é possível que somente parte das férias seja remunerada em dobro, caso o empregado já tenha gozado um
período anterior dentro do período concessivo, como dispõe a Súmula n° 081 do TST.

3.2.1. Exemplos

Data de Admissão: 02.01.2019

Período aquisitivo de férias: 02.01.2019 até 01.01.2020

Período concessivo das férias: 02.01.2020 até 01.01.2021

Concessão do gozo de férias: 01.04.2021 a

Nesse caso, cabe observar que os dias de férias foram integralmente gozados fora do período concessivo, o que gera o pagamento em dobro de todos os
dias de férias.

Data de Admissão: 16.10.2019

Período aquisitivo de férias: 16.10.2019 até 15.10.2020

Período concessivo das férias: 16.10.2020 até 15.10.2021

Concessão do gozo de férias: 04.10.2021 a 02.11.2021

Já no caso exposto acima, observa-se a concessão de 12 dias dentro do período máximo de concessão, os quais serão pagos de maneira simples, e os
outros 18 dias deverão ser remunerados de forma dobrada.

3.3. Incidências de INSS e FGTS


A penalidade da dobra das férias tem natureza indenizatória, motivo pelo qual não haverá incidência de INSS e FGTS, conforme artigos 28,
§ 9°,
alínea d da
Lei n° 8.212/91 e 15 da
Lei n° 8.036/90, respectivamente.

O valor das férias concedidas dentro do período concessivo, vale lembrar, tem incidência de INSS e FGTS, conforme artigos 28,
inciso I, da
Lei n° 8.212/91 e
15 da
Lei n° 8.036/90.

4. Comunicação das Férias


O prazo para a comunicação das férias individuais é de no mínimo 30 dias de antecedência do seu início, como estabelece o artigo 135 da
CLT.

Nesse caso, destaca-se que, durante o estado de calamidade pública em virtude do Coronavírus, foi publicada a MP n° 927/2020, com vigência entre
22.03.2020 a 19.07.2020, que trazia a possibilidade de comunicação das férias individuais com antecedência mínima de 48 horas, conforme artigo 6°da
MP
n° 927/2020, e não os 30 dias, como previsto no artigo 135 da
CLT.
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Boletim Trabalhista n° 18 - 2ª Quinzena. Publicado em: 18/09/2020

 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

4.1. Pagamento em Dobro em Caso de Não Comunicação das Férias Dentro do Prazo
Não há previsão na legislação trabalhista vigente que prevê o pagamento em dobro quando as férias não são comunicadas dentro do período estipulado
pelo artigo 135 da
CLT, ou seja, com o mínimo de 30 dias de antecedência do início do gozo.

Contudo, ressalta-se que o descumprimento do prazo de comunicação das férias pode ser objeto de fiscalização pela autoridade competente, o que pode
resultar em multa em uma eventual fiscalização no valor de R$ 170,26 por empregado, nos termos do artigo 153 da
CLT e Anexo I, da
Portaria MTb n°
290/97.

5. Prazo para Pagamento das Férias


Além da comunicação do início do gozo de férias com, no mínimo, 30 dias de antecedência, o pagamento das férias deve ocorrer com dois dias de
antecedência do seu início, conforme artigo 145 da
CLT.

Destaca-se que não há na legislação trabalhista e doutrina se são dois dias úteis ou não, razão pela qual orienta-se, preventivamente, seja considerado dois
dias úteis.

Dessa forma, caso o empregador não efetue o pagamento com os dois dias de antecedência, haverá também o pagamento em dobro, mesmo que o gozo
tenha ocorrido dentro do período concessivo de férias, como determina a Súmula n° 450 do TST.

Além disso, convém destacar que, no período do estado de calamidade pública em virtude do Coronavírus, a MP n° 927/2020, que teve vigência entre
22.03.2020 a 19.07.2020, estabeleceu o prazo para pagamento das férias individuais até o dia quinto do mês seguintes, nos termos do artigo 9° da
MP n°
927/2020.

E, no que se refere ao terço constitucional, a MP n° 927/2020, no artigo 8°, autorizava o empregador a realizar o pagamento da verba até a data limite para a
segunda parcela do décimo terceiro, ou seja, até dia 20.12.2020, conforme artigo 1° do
Decreto n° 57.155/65.

6. Penalidades
Como visto anteriormente, o pagamento da dobra de férias é uma penalidade imposta ao empregador em virtude do descumprimento no prazo de
concessão ou pagamento das férias, pago diretamente ao empregado.

Contudo, além dessa penalidade, o descumprimento das regras de concessão das férias também poderá ser objeto de autuação do fiscal do trabalho, o que
pode resultar em uma multa administrativa imposta pela Secretaria do Trabalho no importe de R$ 170,26, como determinado na Portaria MTb n° 290/97.

Destaca-se, no caso de reincidência, embaraço ou resistência no momento da fiscalização da autoridade, o valor da multa poderá ser aplicado de forma
dobrada também.

7. Licença Maternidade
Inexiste previsão na legislação trabalhista sobre o tema, porém, o entendimento da doutrina e jurisprudência é de que, na ocorrência de afastamento da
empregada por licença maternidade, não haverá a suspensão do período concessivo de férias.

O entendimento se baseia no fato de que a licença maternidade é um evento futuro e certo, sendo possível o empregador administrar a concessão do
período de férias sem que ocorra a dobra do pagamento das férias.

Logo, se durante a licença-maternidade ocorrer o encerramento do período concessivo de férias, o que, por consequência, acarreta a dobra das férias,
entende-se que a empregada terá direito ao recebimento da remuneração de férias em dobro, nos termos do artigo 137 da CLT.

Ademais, caso o parto ocorra dentro do período de férias, a licença maternidade interrompe o gozo das férias, devendo a empregada, após o encerramento
da licença, gozar os dias restantes de férias.

No entanto, por se tratar de um entendimento, cabe confirmá-lo junto à Secretaria do Trabalho da região.

8. Auxílio Doença
Ao contrário do que ocorre com a licença maternidade, o afastamento do empregado por auxílio-doença é um evento futuro e incerto, não tendo o
empregador condições de administrar a concessão das férias sem que haja a dobra.

Nesse contexto, convém destacar que o afastamento do empregado por auxílio-doença ou auxílio-doença acidentário suspende o contrato de trabalho para
todos os fins, inclusive a contagem do período concessivo de férias a partir do 16° dia do atestado médico, conforme artigo 476 da
CLT.

Quando do retorno do empregado do afastamento previdenciário, o empregador terá o mesmo prazo que tinha para conceder o gozo das férias quando o
empregado se afastou pela Previdência Social, ou seja, a partir do 16° dia do atestado médico, quando de fato ocorre a suspensão do contrato de trabalho.

Todavia, frisa-se que é um entendimento, o que poderá ser confirmado pela Secretaria do Trabalho.
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Boletim Trabalhista n° 18 - 2ª Quinzena. Publicado em: 18/09/2020

 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

9. Dobra das Férias em Caso de Rescisão Contratual


Questão que traz muita dúvida se ocorre ou não a dobra das férias é quando a rescisão do contrato de trabalho ocorre próximo ao encerramento do período
concessivo.

Nesse sentido, em razão da omissão na legislação, surgem dois entendimentos sobre o tema, vejamos:

1ª corrente: na hipótese da rescisão contratual ocorrer no período em que não haveria tempo hábil para o empregador comunicar com 30 dias de
antecedência o início das férias e, ainda, o gozo ocorrer dentro do período concessivo, como penalidade, haveria o pagamento da dobra das férias na
rescisão;

2ª corrente: em sentido contrário, surge também o entendimento de que dado o aviso prévio no decorrer do período concessivo de férias, sem que este
estivesse encerrado, não haveria o que se falar em dobra das férias.

Verifica-se, dessa forma, que a adoção da 1ª corrente exposta é a mais preventiva, e ainda evitaria dispensas próximas do fim do período concessivo de
férias.

Contudo, por se tratar de entendimentos diversos sobre a mesma situação e, ainda, pela omissão na legislação trabalhista, orienta-se a consulta a Secretaria
do Trabalho da região.

10. Dobra das Férias Durante os Acordos de Suspensão e Redução da Lei n° 14.020/2020
No ano de 2020, em virtude da pandemia do Covid-19, foi declarado o estado de calamidade em território nacional até 31.12.2020, conforme Decreto
Legislativo n° 006/2020. E, em decorrência do estado de calamidade pública, foi criado o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda.

O programa visou a conservação dos empregos ativos, trazendo a possibilidade do empregador e empregado acordarem acerca da suspensão do contrato
de trabalho e redução da jornada de trabalho, pelo prazo máximo de 120 dias (artigo 4° do
Decreto n° 10.422/2020), no qual há o pagamento do benefício
emergencial por parte do Governo Federal.

Ocorre que, nem na Medida Provisória n° 936/2020, tampouco a Lei n° 14.020/2020, esclarecem os efeitos dos acordos de suspensão e redução no período
concessivo de férias em curso desses empregados.

Assim, surge o questionamento sobre a ocorrência da dobra das férias quando o período concessivo vence no decorrer da vigência dos acordos de
suspensão e redução de jornada.

Nesse sentido, de maneira preventiva, caberia ao empregador verificar, antes da realização dos acordos, a data de vencimento do período concessivo, para
que seja observado o prazo máximo para a concessão de férias, sem a ocorrência da dobra, por se tratar de um evento futuro e certo.

No entanto, há quem entenda que nesse caso aplica-se o artigo 476 da


CLT, que regulamenta a suspensão do contrato de trabalho em virtude de
afastamento por incapacidade laborativa, que estabelece que, nesse caso, o período concessivo de férias estaria suspenso também, não havendo que se
falar em dobra das férias.

Por fim, como não há previsão acerca do tema e a possibilidade de aplicação de mais de um entendimento, orienta-se a consulta a Secretaria do Trabalho da
região.

Autor: Equipe Técnica Econet Editora

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