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A ESCUTA SENSÍVEL COMO PROPOSTA METODOLÓGICA NO PROCESSO DE

INCLUSÃO ESCOLAR

Introdução

O presente estudo se justifica, dentre outras razões, pela necessidade eminente de se


ressaltar que, para que a inclusão de pessoas com deficiência em todos os ambientes possa
acontecer, de fato, é preciso que uma nova maneira de se perceber o outro e a educação seja
fortalecida. Desse modo, acreditamos que a Escuta Sensível é uma das ações que podem
contribuir nesse processo pelo fato de poder realizar, com as instituições de ensino, uma
reflexão sobre suas práticas, evidenciando que não são os alunos com deficiência que
precisam se adaptar, mas sim a escola como um todo.
É nítida a necessidade de professores mais empáticos, que busquem constantemente
refletir e promover práticas inclusivas, aptos a escutar sensivelmente e a desenvolver ações
pedagógicas que vão além dos diagnósticos, das diferenças e das supostas limitações de
alunos com deficiência, para que sejam capazes de reconhecê-los como seres únicos na
diversidade e diversos em sua unidade. Dessa forma, apresentamos uma proposta de pesquisa
pautada em como a Escuta Sensível pode colaborar para que ocorra, efetivamente, a inclusão
escolar de alunos com deficiência.
Para tanto, utilizamos como suporte a revisão de literatura fundamentada em Barbier
(2002), Carvalho (2017), Cerqueira (2011), Reis (2006), entre outros autores. O intuito é o de
apresentar a Escuta Sensível, sua fundamentação teórica e sua importância para práticas que
envolvem a inclusão escolar de alunos com deficiência. A partir dessa reflexão será possível
repensar práticas, ressignificar comportamentos e compreender um caminho possível que
consiga favorecer, de maneira mais significativa, o processo de desenvolvimento e
aprendizagem do aluno com deficiência.
Consideramos que este estudo pode contribuir para que ocorra a construção do
conhecimento, bem como para incentivar pesquisas na área da Educação Inclusiva e, cada vez
mais, fazer com que esse tema seja discutido e difundido. Consideramos, ainda, que as
reflexões que ora apresentamos, podem ser uma possibilidade de promoção de práticas
inclusivas com alunos com deficiência em todas as etapas de ensino além de viabilizar novas
abordagens para a implementação de práticas cada vez mais humanizadoras.
Universidade Estadual de Goiás – Unidade Universitária de Anápolis - Ciências Socioeconômicas e Humanas
Av. Juscelino Kubitschek, 146 - Jundiaí - Anápolis-GO. CEP 75.110-390. Fone: (62) 3328-1128
Página do CELT: http://www.celt.ueg.br | Anais disponíveis em: https://www.anais.ueg.br/index.php/celt
Desenvolvimento

A inclusão traz consigo um novo paradigma da educação e a necessidade de uma


formação voltada a esta perspectiva se faz imediata. O professor precisa compreender e
praticar a diversidade, se apresentando sempre disposto a conhecer práticas inovadoras e, com
isto, buscar conhecimentos que ajudem seus alunos a se desenvolverem, evidenciando suas
individualidades. É imprescindível levar em consideração que cada ser é único por possuir
suas peculiaridades e singularidades, mas, ao mesmo tempo, é múltiplo em sua diversidade e
pluralidade. Segundo Morin (2000, p. 55), “[...] compreender o humano é compreender sua
unidade na diversidade, sua diversidade na unidade”.
Neste estudo destacamos a condição das pessoas com deficiência em relação à
educação inclusiva. Sendo assim, como seres humanos que são, é indispensável que estes
sejam respeitados e acolhidos não somente pela escola, mas por toda sociedade. Em
consonância com Reis (2009, p. 41) é necessária a “valorização do ser humano e aceitação das
diferenças individuais como um atributo e não como um obstáculo e todas as pessoas devem
ser incluídos sem exceção”.
Com isso, é essencial que os educadores, primeiramente, aprendam a planejar,
desenvolver e avaliar o processo educacional de alunos com deficiência, pensando práticas
que os inclua e, assim, permitam que estes participem do processo educativo comum a todos.
Para tanto, é preciso fugir do modelo médico de atendimento às necessidades específicas de
alunos com deficiências e se utilize o modelo social, pois “não é importante saber só qual
doença tem a pessoa, mas também que pessoa tem a doença” (VYGOTSKI, 1995, p. 104). Ou
seja, observar a pessoa além da deficiência e a partir daí ter uma ação transformadora capaz
de desenvolvê-la. De acordo com Moraes (2014, p. 32),

[...] esta nova maneira de pensar e compreender a realidade requer por sua
vez, estratégias metodológicas abertas ao imprevisto, ao inesperado, às
emergências, às superações das dicotomias e polaridades existentes. Exigem
estratégias flexíveis e multidimensionais para compreensão dos movimentos,
para o desenvolvimento de estratégias inovadoras e criativas.

Essa nova concepção de educação fundamentada no esforço de revigorar o


paradigma emergente – em que não mais há o respaldo em “verdades absolutas”, nem em
valores únicos – constrói uma vivência fundamentada na não anulação do outro e no
relacionar-se de forma acolhedora no âmbito da convivência. Nessa dinâmica, a Escuta
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Sensível se inclui, apresentando uma prática que é arraigada de acolhimento, aceitação e
respeito. De uma forma mais detalhada, ela se caracteriza como

[...] a arte de ouvir com atenção (...) que orienta as práticas e ações, e revela
a diversidade de contextos e a necessidade do outro em sua totalidade. A
escuta sensível é a possibilidade de abertura ao outro, e sendo assim, essa
escuta permite a expressão do outro, mesmo que haja discordância. Quem
escuta acolhe (CARVALHO, 2017, p. 55).

Cerqueira (2011, p. 17), complementa essa ideia, ao dizer que praticar a Escuta
Sensível é ter a postura de “[...] estar atento ao que é dito, ao que é expresso através de gestos
e palavras, ações e emoções”. Nesse sentido, ao desenvolver essa atitude “o professor precisa
perceber o universo afetivo e cognitivo do outro para melhor compreender suas atitudes, seus
comportamentos e seus sistemas de ideias” (SUANNO, 2009, p. 7). Assim, em seu papel de
educador, escutar o outro implica em despojar-se da condição hierarquicamente superior ao
outro, e de proprietário do saber e da “verdade”.
Os discentes precisam vivenciar essa percepção mais sensível e transcender aquelas
sustentadas na unilateralidade e monoculturalidade do pensamento, de forma que sejam
derrubadas as muralhas que foram erguidas entre os saberes e assim se desperte uma educação
voltada para a interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e inclusão. Dessa forma, a Escuta
Sensível se apresenta como um caminho que a educação pode e deve percorrer, juntamente,
aos/às alunos/as com deficiência, pois como Barbier (2002, p. 2 - grifos do autor) destaca:

[...] a escuta sensível se recusa a ser uma obsessão sociológica fixando cada
um em lugar e lhe negando uma abertura a outros modos de existência além
daqueles impostos pelos papéis e pelo status. Ainda mais, a escuta sensível
pressupõe uma inversão da atenção. Antes de situar uma pessoa em “seu
lugar” começa-se por reconhecê-la em “seu ser”, dentro da qualidade de
pessoa complexa dotada de uma liberdade e de uma imaginação criadora.

Portanto, é nítida a necessidade de professores mais empáticos que busquem


constantemente refletir e promover práticas inclusivas, aptos a escutar sensivelmente e a
desenvolver ações pedagógicas que vão além dos diagnósticos, das diferenças e das supostas
limitações de alunos com deficiência, para que sejam capazes de reconhecê-los como seres
únicos na diversidade e diversos em sua unidade. Desta maneira, surgiria a possibilidade de
provocar com as metodologias de ensino que apenas servem para segregar, excluir e rotular, e
que estimulam o preconceito.

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Considerações Finais

Essa reflexão tem como principal fundamento pensar em perspectivas de atuação


inclusivas nas quais os professores sejam indivíduos transformadores em sua prática e capazes
de desenvolver ações fundamentadas na Escuta Sensível com os alunos com deficiência.
Estima-se que esse estudo possa colaborar com a temática e levar a problematizações
em relação às práticas pedagógicas inclusivas para e com pessoas com deficiência, assim
como é o caso da Escuta Sensível. Acreditamos que esta que se mostra como uma
possibilidade necessária para que os professores a utilizem em sua metodologia.
Sendo assim, consideramos que quanto mais se conhece e vivencia essa prática, mais
se consegue compreender o aluno em suas particularidades e, assim, levá-lo a se desenvolver
em sua totalidade.

Referências

BARBIER, R. Escuta Sensível na Formação de Profissionais de Saúde. Conferência na


Escola Superior de Ciências da Saúde – FEPECS – SES-GDF. 17f. Brasília, jul. 2002.

CARVALHO, M. O. G. de. Escuta Sensível: protagonismo na educação. Sorocaba, SP, 2017.


183 f.: il.

CERQUEIRA, T. C. S. (Con)texto em Escuta Sensível. Brasília: Thesaurus, 2011.

MORAES, M. C. Educação e Sustentabilidade: um olhar complexo e transdisciplinar. In:


MORAES, M. C.; SUANNO, J. H. (Orgs.). O Pensar Complexo na Educação. Rio de
Janeiro: Walk, 2014. p. 21-42.

MORIN, E. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez.


Brasília, DF: UNESCO, 2000.

REIS, M. B. de F. Educação Inclusiva: limites e perspectivas. Goiânia: Deescubra, 2006.

SUANNO, M. V. R. Docência Universitária: considerações sobre práticas pedagógicas


inovadoras. III EDIPE – Encontro Estadual de Didática e Prática de Ensino, 2009.

VYGOTSKI, L. S. Obras Escogidas – Tomo III. Madrid: Visor, 1995.

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