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A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E A DIVERSIDADE COMO FORMA DE

CRESCIMENTO

JULIANA MARIA DA SILVA ZANATTO1


RESUMO:

Este trabalho busca enfatizar a importância de trabalhar com a diversidade


reconhecendo que as diferenças devem ser levadas em conta no processo ensino
aprendizagem e o professor pode fazer com que o processo inclusivo sirva para o
crescimento de todos os alunos. Ressalta-se que o trabalho docente deve ser
alicerçado por um estudo permanente, e uma constante reflexão sobre a prática,
tendo como propósito levar o aluno ao crescimento e a construção de
aprendizagens. Faz-se importante que o docente diversifique seu planejamento e
metodologia de trabalho, reconhecendo que trabalhar com a inclusão exige
dedicação, e esforço extra. Ao incluir professor, aluno e sociedade aprendem e
ganham.

PALAVRAS-CHAVE: Inclusão; Diversidade; Docente; Escola; Desenvolvimento.

1 INTRODUÇÃO

2 A DIVERSIDADE: DA SOCIEDADE A ESCOLA

A sociedade é composta por uma diversidade, diversidade esta ética e


cultural que pode ser percebida no decorrer da construção histórica, cultural e social
dos sujeitos sociais. Por isso pensar a diversidade cultural é um pensar nas relações
dos diferentes sujeitos que integram a sociedade, é pensar no comportamento das
pessoas. A Unesco define a diversidade cultural como sendo a “multiplicidade de
formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram sua expressão”
(UNESCO, 2005, p.05).

1
Gradução em Matemática, especialização em Atendimento Escolar Especializado pela instituição
São Luis. E mail da autira: juliana77.zanatto@gmail.com. Orientador: Profº Me. Mario Marcos Lopes
A diversidade está também presente nos relacionamentos, uma vez que estes
são baseados na heterogeneidade, físicas, comportamentais, raciais, sociais,
profissionais, gênero, faixas etárias, culturais, ideológicas, entre outras. Gomes
(2003, p.73-74) cita:

[...] pensar a diversidade vai além do reconhecimento do outro. Significa


sobre tudo, pensar a relação entre eu e o outro, uma vez que a diversidade
em todas as suas manifestações é inerente à condição humana: somos
sujeitos sociais, históricos e culturais e, por isso diferente. Isso não significa
negar as semelhanças. Entretanto, a existência de pontos comuns entre os
diferentes grupos humanos não pode conduzir a uma interpretação da
experiência humana como algo invariável. “Cada construção cultural e social
possui uma dinâmica própria, escolhas diferentes e múltiplos caminhos a
serem trilhados”.

Partindo das ideias de Gomes, pode-se destacar que a diversidade está


presente em todos os lugares. O respeito à diversidade vai muito além de incluir
diferentes sujeitos a um mesmo grupo, mas sim compreender que os diferentes
motivos como: ideologias, medos, frustrações, não devem ser vistos como meio de
exclusão, mas sim como possibilidade de troca de experiências, as quais tornam o
processo de convívio enriquecedor.
Sendo assim, é preciso levar em conta a heterogeneidade, ou seja, pensar
nos hábitos, costumes e saberes diferenciados que cada um possui através de suas
vivências cotidianas. Portanto, deve-se trabalhar e respeitar a diferença sem torna-la
um elemento de desigualdade. Neste sentido, Sacristan (2002, p.14) ressalta:

Todas as desigualdades são diversidades, embora nem toda a diversidade


pressuponha desigualdade. Por isso, devemos estar muito atentos para
que, em nome da diversificação, não estejamos contribuindo para manter ou
provocar a desigualdade. As políticas e as práticas a favor da igualdade
podem anular a diversidade; as práticas que estimulam a diversidade talvez
consigam em certos casos manter, mascarar e fomentar algumas
desigualdades.

Neste sentido, é preciso uma luta constante para que a diversidade e a


inclusão escolar sejam respeitadas, pois é preciso uma escola que integre as
diferenças, respeite o conhecimento intercultural para que se tenha uma sociedade
“pluralista, democrática e socializante” (RENDO; VEJA, 2009).
É importante que a diversidade seja vista como um processo que enriquece a
história dos seres humanos, pois é só desta forma é que será possível construir uma
escola onde exista o direito a educação e o direito as diferença, onde as práticas
pedagógicas superem as diferenças que existem e todos sejam vistos como seres
únicos mas em transformação.
Faz-se pertinente destacar o que estabelecem as Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Básica (2013, p.25):

A educação destina-se a múltiplos sujeitos e tem como objetivo a troca de


saberes, a socialização e o confronto do conhecimento, segundo diferentes
abordagens exercidas por pessoas de diferentes condições físicas,
sensoriais, intelectuais e emocionais, classes sociais, crenças, etnias,
gêneros, origens, contextos sócio culturais, e da cidade, do campo e de
aldeias. Por isso, é preciso fazer da escola a instituição acolhedora,
inclusiva, pois essa é uma opção transgressora porque rompe com a ilusão
da homogeneidade e provoca quase sempre uma espécie de crise de
identidade institucional.

Sendo assim, é preciso sempre refletir a respeito dos sujeitos da diversidade,


pois muitos ainda são os que ainda sofrem com preconceito e discriminação.
Portanto a escola deve discutir as pluralidades em todos os seus desdobramentos.
Desta forma é preciso que se modifiquem visões e estratégias, onde o
modelo escolar desejado seja aquele diferente do que se encontra atualmente. Pois
é comum perceber uma escola que classifica, expulsa e exclui, contribuindo assim
para a exclusão e o fracasso dos alunos.
Almeida (2012, p.151) em relação ao exposto, salienta:

Constatamos, assim, uma escola desenhada para promover a


homogeneidade e negar a diversidade inerente à pessoa humana. Uma
escola que, embora se expandindo por meio de um processo de
universalização do ensino, contribui ainda para a manutenção da exclusão
por dentro de seus muros, por meio de metodologias descontextualizadas e
descompassadas, programações lineares, temporalidade inflexível e
categorias como de sucesso e insucesso, normalidade e anormalidade,
atraso e fracasso escolar.

As diferenças são comprovadas em várias situações do dia a dia, nem os


filhos são iguais, em uma sala de aula com trinta alunos, ter-se trinta diferentes
conhecimentos, pensamentos, características, sentimentos; muitos podem ter
facilidades em exatas, mas nem todos serão engenheiros; terão afinidades em
humanas, mas nem todos vivenciarão as mesmas situações sociais. Todos poderão
chegar ao mesmo ponto, mas não quer dizer que tomem os mesmos caminhos e
nem que chegarão ao mesmo tempo, alguns demorarão segundos, outros horas,
dias, meses ou anos, outros só chegarão com auxílio de alguém.
Sendo assim, é preciso, que a escola ultrapasse o etnocentrismo cultural,
respeitando as diferenças e fazendo com que estas enriqueçam o processo de
ensino-aprendizagem. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p.96-97)
assinalam a necessidade de atender as necessidades singulares dos alunos

[...] a educação escolar, deve considerar a diversidade dos alunos como


elemento essencial a ser tratado para a melhoria da qualidade de ensino
aprendizagem. [...] a escola, ao considerar a diversidade, tem como valor
máximo o respeito as diferenças, não o elogio a desigualdade. As
diferenças não são obstáculos para o cumprimento da ação educativa;
podem e devem, portanto ser fator de enriquecimento.

Portanto, entende-se que um ensino coletivo envolve um saber partilhado,


planejado, adaptado as características e necessidades dos alunos. Pensar que
crianças estão ali só para receber informações, que não estão tirando suas próprias
conclusões de todo contexto inserido, isso sim é uma exclusão, é excluir o real, pois
como sujeito que é a criança pensa, age e sente.
Neste sentido, para que a escola seja voltada a diversidade e inclusiva deve
abraçaras diferenças, favorecer a aprendizagem de todos os alunos não importando
religião, sexo, cor, nível social, limitações, ou seja, trabalhando com este aluno
independente de qualquer diferença e/ou adversidade. Uma escola concreta, plena.
Em relação ao exposto Henriques (2012, p.09) contribui afirmando que:

Escola inclusiva é aquela que garante a qualidade de ensino a cada um de


seus alunos, reconhecendo e respeitando a diversidade e respondendo a
cada um de acordo com suas potencialidades e necessidades. Uma escola
somente poderá ser considerada inclusiva quando estiver organizada, para
favorecer a cada aluno, independentemente de etnia, sexo, idade,
deficiência, condição social ou qualquer outra situação. Um ensino
significativo é aquele que garante o acesso ao conjunto sistematizado de
conhecimentos como recursos a serem mobilizados.

Ressalta-se que uma escola para atender a diversidade e incluir a todos os


alunos, deve estar atenta a seu currículo, pois de nada adiante leis e lutas em prol
da inclusão educativa, se os currículos não favorecerem ao trabalho e
desenvolvimento de todos os alunos. Colaborando com o estudo, Jung (2012, p.05)
assinala que:

Um currículo estanque, aplicado de maneira rígida, sem a necessária


reflexão, resulta, obviamente num potente recurso de exclusão social, pois
não permite espaço para discussões que levem a adaptações curriculares,
necessárias para o atendimento à diversidade, presente na sala de aula.
Infelizmente, o currículo ainda tem sido entendido e aplicado de acordo com
a perspectiva de que o ensino regular possui um padrão de exigências de
aprendizagem, que todo aluno deve aprender, a fim de obter sucesso na
escola. Esta visão encontra-se arraigada no fato de que há áreas de
conhecimento ou conteúdos pré-determinados, que, se aprendidos com
eficácia, resultam em uma formação plena para a vida.

Faz-se urgente que sejam revistos currículos na busca de que todos os


alunos independente da situação em que se encontram sintam envolvidos e
protagonista de seu processo de construção de conhecimento.

3 TRABALHANDO COM INCLUSÃO

Ao iniciar a reflexão é importante refletir que a educação inclusiva vai além de


igualar o acesso, mas também é romper com práticas tradicionais, inovar, indo além
do simples cumprimento das leis, romper também o desejo da homogeneidade. Por
vezes a inclusão ocorre naturalmente, bastando um olhar mais atento, permeado de
afeto por parte do educador, algumas poucas modificações que melhorarão as
condições do aluno de aprender. No entanto, como enfatiza Fávero (2004, p.30), a
inclusão ainda é desafiadora, exige comprometimento e tempo:

A inclusão é um desafio, que ao ser devidamente enfrentado pela escola


comum, provoca a melhoria da qualidade da Educação Básica e Superior,
pois para que os alunos com e sem deficiência possam exercer o direito à
educação em sua plenitude, é indispensável que essa escola aprimore suas
práticas, a fim de atender às diferenças. Esse aprimoramento é necessário,
sob pena de os alunos passarem pela experiência educacional sem tirar
dela o proveito desejável, tendo comprometido um tempo que é valioso e
irreversível em suas vidas: o momento do desenvolvimento.

Sendo assim, a compreensão da inclusão envolve também um estudo


minucioso, pois, por muito tempo pessoas com deficiência tinham seus direitos
negligenciados. Muitas são as mudanças ocorridas a fim de que a inclusão fosse
implantada e continue sendo até os dias de hoje.
Um marco para educação inclusiva tem seu início com a Constituição Federal
(1988) onde tem como um de seus objetivos “promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação” (BRASIL, 1988).
Ainda na Constituição, o Art 205 cita a educação como direito de todos,
garantindo pleno desenvolvimento da pessoa e o exercício da cidadania, e, no Art.
206 estabelece também “a igualdade de condições de acesso e permanência na
escola” (BRASIL, 1988).
Outro aspecto legal a ser evidenciado é o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), o qual faz referência em seu Art. 54, inciso III que: “É dever do
estado assegurar à criança e ao adolescente: atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino” (BRASIL, 1990).
Em âmbito internacional a inclusão tem como documento magno a
Declaração da Salamanca (1994), na qual diversos países debateram o tema e
concluíram que deve-se oportunizar acesso igualitário a qualquer pessoa no sistema
educativo, não havendo discriminação, preconceitos ou atitudes que constranjam os
alunos com necessidades educacionais especiais. Tal Declaração afirma que todas
as crianças tem direito de aprender juntas, e, a escola deve trabalhar com tal
diversidade, possibilitando o desenvolvimento de todos.
Brasil (1994, p.15):
As escolas devem ajustar-se a todas as crianças, independentemente das
suas condições físicas, sociais, linguísticas ou outras. Neste conceito devem
incluir-se crianças com deficiência ou superdotadas, crianças de rua ou
crianças que trabalham, crianças de populações imigradas ou nômades,
crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou
grupos desfavorecidos ou marginais.

Estando em consonância com a Declaração o Ministério da Educação (MEC,


1994) estabeleceu a Política Nacional de Educação Especial na busca de apoiar o
ensino regular no processo inclusivo. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (9394/96) especifica como a educação especial “a modalidade de
educação escolar, oferecida, preferencialmente na rede regular de ensino, para
educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação” (BRASIL, 1996).
Ressalta-se também que em 2001, através do Decreto nº3.956, o Brasil adere
à convenção de Guatemala, a qual objetiva prevenir e eliminar todas as formas
discriminatórias contra as pessoas com deficiência, na busca de integrá-las à
sociedade, trazendo com isso também o direito à escolarização em turmas comuns
do ensino regular.
Pensando na inclusão no ensino regular, pensa-se em uma escola que
atenda a todos, sendo assim, o Conselho Nacional de Educação (2001, p.05), em
sua resolução de nº 2, deixa claro que:

Em consonância com os princípios da educação inclusiva, as escolas das


redes regulares de educação profissional, públicas e privadas, devem
atender alunos que apresentem necessidades educacionais especiais,
mediante a promoção das condições de acessibilidade, a capacitação de
recursos humanos, a flexibilização e adaptação o currículo e o
encaminhamento para o trabalho, contando, para tal, com a colaboração do
setor responsável pela educação especial do respectivo sistema de ensino.

Faz-se importante destacar também que em 2008, criou-se o Decreto nº


6.571, o qual versa sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE),
salientando que a União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos
de ensino na busca de ampliar a “oferta do atendimento especializado aos alunos
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular” (BRASIL, 2008).
Importante também falar do professor de AEE, o qual deve elaborar recursos
pedagógicos para que os alunos rompam barreiras que o impedem de aprender e
possam participar de forma ativa das aulas, salientando que as atividades do AEE
devem estar em consonância com as necessidades na sala regular, sendo um apoio
maior ao aluno.
O trabalho conjunto do professor da escola regular e o professor do AEE
auxilia até mesmo para que algumas adaptações sejam realizadas, tais como:
adaptações de mesas, mais altas para que a criança não se debruce e cause
problemas de coluna; lápis com grafite mais escuro, para que possa enxergar
melhor; caderno com linhas mais escuras e largas, lupas, impressões maiores,
computadores com teclados maiores, bolas com guizo, as adaptações devem ser
feitas de acordo com cada disciplina, para conseguir encontrar competências e
desenvolver habilidades.
Glat (2007, p.16) afirma que a tarefa escolar em relação a inclusão,

[...] significa um novo modelo de escola em que é possível o acesso e a


permanência de todos os alunos, e onde os mecanismos de seleção e
discriminação, até então utilizados, são substituídos por procedimentos de
identificação e remoção das barreiras para a aprendizagem. Para tornar-se
inclusiva a escola precisa formar seus professores e equipe de gestão, e
rever formas de interação vigentes entre todos os segmentos que compõem
e que nela interferem, precisa realimentar sua estrutura, organização, seu
projeto político pedagógico, seus recursos didáticos, metodologias e
estratégias de ensino, bem como suas práticas avaliativas. A proposta de
educação inclusiva implica, portanto, um processo de reestruturação de
todos os aspectos constitutivos da escola, envolvendo a gestão de cada
unidade e os próprios sistemas educacionais.

A inclusão escolar, para ser um processo exitoso deve mais que apenas
centrar-se em reorganização física, mas sim, preocupar-se também com a qualidade
do trabalho docente realizado, na busca de que todos os educandos possam ser
desenvolvidos de forma plena, respeitando suas limitações.
Portanto, questões que se relacionam a inclusão e a diversidade cultural
devem ser repensadas e analisadas por todos os profissionais da escola, pois, deve-
se debater e analisar a maneira como todos os profissionais lidam com a
discriminação e percebem as políticas existentes, afim de que promovam mudanças
significativas.
A escola necessita estar preparada para a reflexão, sendo um espaço
privilegiado para a promoção da igualdade, onde sejam eliminadas todas as formas
discriminatórias. Sendo assim, é preciso conhecer todos os alunos para poder
respeitá-los e trabalhar com as diversidades existentes pois estas ao contrário de
que muitos pensam enriquecem o cotidiano escolar.

4 O PAPEL DO DOCENTE NA INCLUSÃO

A inclusão é um processo que está presente no cenário educativo atual. Os


docentes muitas vezes sentem-se desafiados com este cenário, sentindo-se por
vezes despreparados para realizarem o processo educativo.
A formação continuada muitas vezes se torna ferramenta de auxílio a tais
profissionais para atuarem com a inclusão. Um importante documento a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (1996, p.17) versa que:

Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração,


planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para
educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em
nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta
formação, a base comum nacional.

Para isso é preciso uma busca constante do novo, é preciso estudo,


planejamento, trocas, objetivos, vontade, paciência e resignação. A formação
continuada não deve somente um momento colocado pela equipe diretiva, visto
como uma forma de ficar fora da sala de aula. Esta formação é uma busca
permanente e diária de fazer o seu melhor, é um momento de troca, de dar e
receber contribuições. Inep (2014, p.18):

[...] A deficiência na formação inicial de docentes brasileiros é um dos


grandes entraves na melhoria da qualidade da educação. Nesse sentido a
formação continuada representa um grande aliado, na medida em que
possibilita que o professor supra as lacunas, na sua formação inicial ao
mesmo tempo que se mantem em constante aperfeiçoamento em sua
atividade profissional.

Outra ferramenta importante quando se remete a inclusão é a utilização das


novas tecnologias, estas servem como ferramenta motivadora, que auxilia na
diversidade curricular no planejamento de cada aula, de forma teórica, prática,
lúdica, contemplando todos os alunos.
Conforme o Comitê de Ajudas Técnicas (2007, p.37), as tecnologias
assistivas englobam metodologias, processos e serviços que vem auxiliar a inclusão
dos alunos com necessidades educacionais especiais, e recebem a seguinte
definição:

Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica


interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologia, estratégias,
práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada a
atividade e participação de pessoas com deficiência, e capacidades ou
mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de
vida e inclusão social.

Para auxiliar a acessibilidade, além do auxílio de profissionais, meios em que


a escola dispõe, sempre estão sendo criando tecnologias, ou seja, aplicativos como
Hand Talk, propícios para celulares que buscam auxiliar o acesso à escola de
crianças, jovens e adultos com deficiência auditiva e na fala.
O Hand Talk é feito para tablets e celulares que traduzem palavras ou frases,
em português, para Libras (Língua Brasileira de Sinais). Com esta tecnologia
implantada nas escolas, além de estimular o aluno com deficiência incentivará os
outros alunos a manifestarem a necessidade de aprenderem Libras e unir laços de
afetividade mútua.
Nas escolas e na vida são necessárias adaptações para que a pessoa
consiga manter sua autonomia, tenha qualidade de vida e inclusão social. Durante
sua vida o homem sempre se adaptou as suas necessidades, através destas
adaptações a ciência com suas tecnologias criou produtos assistivos e adaptou
materiais. O que o homem fazia de algum jeito, muitas vezes precário, a ciência
melhorou e disseminou no mercado. Neste sentido, o Ministério de Educação e
Cultura (2006, p.19)

No desenvolvimento de sistemas educacionais inclusivos, as ajudas


técnicas e a tecnologia assistiva estão inseridas no contexto da educação
brasileira, dirigidas à promoção da inclusão de alunos nas escolas. Portanto,
o espaço escolar deve ser estruturado como aquele que oferece também os
serviços de tecnologia assistiva.

Desta forma, as tecnologias se tornam instrumentos a favor da prática


pedagógica e sua utilização propicia a interação e a inclusão social como destacam
Filho e Damasceno (2003, p.31):

[...] é sumamente relevante, para o desenvolvimento humano, o processo de


apropriação por parte do indivíduo, das experiências presentes em sua
cultura. O autor enfatiza a importância da ação, da linguagem, e dos
processos interativos, na construção das estruturas mentais superiores. O
acesso aos recursos oferecidos pela sociedade, pela cultura, escola,
tecnologias, etc. Influenciam determinantemente nos processo de
aprendizagem e desenvolvimento da pessoa. Entretanto as limitações do
indivíduo com deficiência, tendem a tornar-se uma barreira a estes
processos. Desenvolver recursos de acessibilidade, a chamada tecnologia
assistivas, seria uma maneira concreta de neutralizar, as barreiras causadas
pela deficiência e inserir esses indivíduos nos ambientes ricos para
aprendizagem e desenvolvimento, proporcionados pela cultura.

As tecnologias surgem para auxiliar os profissionais da escola, os alunos e a


família a melhor trabalhar com as crianças que possuem algum tipo de deficiência,
cita-se também as órteses, próteses, cadeira de rodas motorizadas, instrumentos
necessários para dar mais autonomia e qualidade de vida ao portador de deficiência,
por vezes o deixando mais independente.
Filho (2010) também ressalta que a tecnologia assistiva vem contribuindo
cada vez mais para uma abertura de novos horizontes nos processos de
aprendizagem e desenvolvimento de alunos com deficiências até as bem severas.
Em relação ao exposto, Bersch e Tonolli (2010, p.92) acrescenta-se:

A aplicação da tecnologia assistiva na educação vai além de simplesmente


auxiliar o aluno a fazer tarefas pretendidas. Nela, encontramos meios do
aluno ser e atura de forma construtiva no seu processo de desenvolvimento.
Porém, apesar das tecnologias representarem um recurso a mais para o
trabalho escolar a inclusão continua sendo um desafio permanente, pois assegurar
oportunidades iguais para todos exige que o docente esteja em constante
aperfeiçoamento profissional reflita sobre sua prática, esteja disposto também a
aprender.
Ressalta-se que o processo de inclusão não ocorre somente com o educando
que possui necessidades educacionais especiais, mas com todos os sujeitos que
compõem a instituição escolar, uma vez incluir também remete-se a aceitar o outro e
fazer com que as limitações e diferenças sejam vistos como possibilidades de
desenvolvimento por meio de uma igualdade de oportunidades.
Saviani (2001) aponta que o papel do professor na inclusão é fundamental
pois ele será o sujeito mediador entre o aluno e o conhecimento. Desta forma
Mantoan (2006) também enfatiza a necessidade de recuperar a confiança dos
docentes em lidar com a inclusão e desenvolver os alunos sem exceções.
Desenvolver práticas docentes realmente inclusivas é necessário.]
Cabe enfatizar que para que a inclusão ocorra de forma efetiva, havendo
resgate da cidadania, só existência de leis não basta, a capacitação dos professores
é medida essencial, pois ensinar vai além de transmitir conteúdos, é dominar
conhecimento, ter competência pedagógica, planejamento adequado.
Desta forma, pode-se dizer que incluir as pessoas com necessidades
educacionais especiais implica em flexibilizar o currículo, adequá-lo rever
metodologias de ensino, adequar físico e pedagogicamente as escolas, pois deve-se
buscar o desenvolvimento integral dos educandos.
No entanto, faz-se importante destacar que muitos docentes não estão
preparados para trabalhar com a inclusão e devem encarar tal desafio contribuindo
para que avanços e transformações ocorram mesmo que de forma lenta e gradativa.
Ressalta-se que o docente deve atuar como mediador, propiciando a todos os
educandos um ensino igualitário, sem distinções, visto que, a inclusão é um
processo em que a diversidade deve ser respeitada e valorizada, e a partir disto
trabalhar para formar um cidadão integral.
Sendo assim, os professores podem explorar diferentes formas de trabalho,
as quais, farão com que todos construam o conhecimento. Ao trabalhar matemática
com material concreto, poderá não ser uma alternativa só para o aluno com
deficiência intelectual, mas auxiliará outros que precisam do lúdico para aprender,
colocará todos no mesmo ponto de partida, onde alguns rapidamente encontrarão o
resultado, enquanto outros demorarão mais e até haverão casos de necessitarão do
auxílio do docente, ou do apoio educacional, ou se possível, o mais agradável, de
um colega de sala.
Essas atitudes trazem a possibilidade de sentir e ver através da inclusão o
crescimento de todos. Um olhar lançado para um único lugar é desperdício de tempo
e falta de habilidade, mas um olhar amplo, conhecedor do ambiente, este sim,
organiza, reestrutura, compreende e conecta os saberes.
Uma brincadeira, um jogo, uma apresentação musical, imitações, não devem
ser vistas como perda de tempo. Através de uma simples mímica, pode ser
trabalhado várias partes do cérebro, corpo, sentimento, relacionamento, expressão,
comunicação, com o envolvimento de todos, pois são tantas as múltiplas
inteligências envolvidas que, será impossível não ter um resultado amplo, ao ser
visto o contexto num todo; desta forma, poderá ser trabalhado toda perspectiva de
uma pessoa com deficiência auditiva, qual seu sentimento: ao não ser
compreendido, deixado de lado, não fazer parte das lideranças, não ser criador e
nem personagem do mundo, as frustrações, impaciências, ansiedades e até mesmo
a felicidade em estar inserido em um grupo que consegue: entender, motivar,
auxiliar, solucionar, formar parceria; não fazer das diferenças uma barreira, mas a
chave das transformações e melhoramento social.
De outro lado, com certeza a percepção da pessoa com surdez, será bem
mais rápida e logo saberá solucionar o enigma, dar a resposta. A comunicação facial
e corporal é bem conhecida deles, de alguma forma quando somos desprovidos de
um sentido, aprimoramos os outros na mesma proporção.
Em uma aula prática de ciências sobre sentidos, ao vendar os olhos, ao ter
percepção de paladar: degustando alimentos, identificando sabores, definindo a
importância da língua e sua relação com o cérebro; através do tato: identificando as
sensações de frio, calor, líquido, sólido, vapor, formas, tamanhos, textura, prudência,
sutileza, aspereza, cuidados que envolvem o manuseio de objetos; pela audição:
identificar sons, instrumentos musicais, a voz de um colega, o barulho de objetos,
passos, movimentos; pelo olfato: o cheiro de alimentos, frutas, produtos de beleza,
bebidas, lugares, parece uma simples prática, mas também é uma forma de
entender como é a rotina diária de quem tem baixa visão ou cegueira.
Já nessa experiência, quem tem deficiência visual, tem olfato e audição
apurados, pois com o passar do tempo foi aprimorando essa habilidade para seu
próprio proveito, a necessidade obriga a encontrar novas possiblidades.
No intervalo, ao pular amarelinha, não está sendo disponibilizado só um
divertimento, uma integração, mas o controle do corpo, equilíbrio, ritmo, força,
coordenação, senso de direção, cautela, paciência, motricidade, ordem, disciplina;
está presente as dificuldades vividas por quem tem deficiência física e psicomotora,
como manter o equilíbrio, sustentar o corpo, mover seus membros, pegar objetos,
organizar estratégias para atingir um objetivo, que para muitos pode ser tão simples,
mas para outros um duelo consigo mesmo.
Em época de competições, como é difícil o carrinho de mão, ter que se
equilibrar e movimentar só com as mãos e braços, é um trabalho de força muscular,
agilidade, rapidez, persistência, momentâneo, pois para uma pessoa com
paraplegia, os braços são a única forma de ir e vir sozinho, eles darão as regras
para uma cadeira de rodas manual ou elétrica, sem levar em consideração
acessibilidade, cidade sem rampas, calçadas e buracos.
Nas festas com a família, na hora do presente, o jogo do quente e frio,
trabalha as variações de temperatura, ótimo para dar percepção da variação de
temperatura, mas até encontrar aquilo que tanto se quer, tudo é muito confuso,
complicado, a pessoa se sente perdida, sem direção, encontra sente um grande
alívio; tal qual a situação de uma pessoa com deficiência intelectual, que não
consegue entender o que se fala, mas tem o objetivo de conseguir, assim como os
outros também conseguem.
É importante evidenciar que trabalhar de forma inclusa não é somente trazer
o educando para a escola e deixá-lo em uma “sala de recursos”, mas sim trazê-lo
para a escola e propiciá-lo meios para que interaja com outros alunos, e por meio
desta troca inicie o seu processo de desenvolvimento.
Neste sentido, novamente evidenciam-se as ideias de Gasparelo e Coelho
(2015, p.10):

Cabe ao professor iniciar a prática da inclusão dentro de sua própria sala de


aula, e para que isto aconteça de forma correta sem prejuízos aos alunos, o
docente precisa estar preparado, motivado e buscar formação e capacitação
adequada, pois é de fundamental importância que o professor consiga
desempenhar e desenvolver um trabalho diversificado que atenda a todos
os seus alunos de forma igualitária, independente se seu aluno apresenta
algum tipo de inclusão ou não, pois a qualidade de ensino deve ser
oferecida a todas as crianças ou adolescentes.

Para que a inclusão realmente se efetive é indispensável que a escola seja


um espaço democrático, respeitando as diferenças e valorizando a diversidade
existente. Local no qual as diferenças são completadas e as singularidades
melhoradas. Ou seja, o sucesso do processo de inclusão inicia-se no processo de
socialização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cotidiano escolar atualmente é formado por diferentes sujeitos, estes com


suas próprias peculiaridades, estas que não resumem somente a sua condição
socioeconômica, raça, credo, mas também diversificadas maneiras de assimilar
novas informações.
Neste cenário o docente é cada vez mais desafiado a rever suas práticas, na
busca de fazer com esta diversidade torne-se ferramenta rica de aprendizagem e
não uma forma de exclusão.
Sabe-se que em inúmeras vezes o docente sente-se despreparado,
principalmente quando trabalha com alunos que necessitam de apoio e atendimento
educacional especializado. O docente deve adequar suas estratégias bem como
buscar novos meios para que aprendizagem realmente se efetive.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M da C. Ciências da complexidade e educação razão e politização do


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