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Currículo multiculturalista no ambiente escolar.

O currículo escolar é um norteador do trabalho docente nas escolas, no sentido de apresentar o que
se pretende ensinar, e como esse ensinamento vai ser aplicado. Não é um documento fixo: embora
deva conter elementos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), uma vez que a Base define
alguns conteúdos essenciais para o ensino, ele muda de acordo com cada instituição, tendo em vista
que nele deve conter as metodologias e abordagens pedagógicas adotadas por cada escola. É um
instrumento de muita importância para o processo de construção da identidade de cada entidade. Um
currículo adequado funciona como um orientador para o trabalho nas instituições, e deve ser usado
como base para o planejamento escolar e para a prática docente.

Os conhecimentos sugeridos no currículo devem representar e incluir todos os indivíduos que


integram o ambiente escolar, de modo que os interesses de todos sejam atendidos. Dessa maneira, o
currículo deve ser elaborado em conjunto com a comunidade escolar, de forma que atenda a todas as
culturas. De acordo com GONÇALVES (2010, p.4), “o saber é cultural, e se constitui pela interação
com outras pessoas pertencentes a nossa cultura, assim, ele se transforma a partir da troca de
experiências e da reflexão coletiva”. Sendo o currículo um norteador para o trabalho do professor, é
necessário que se faça presente nele conteúdos e metodologias que abracem a todos. Assim, quando
o docente for trabalhar dentro das salas de aula, os alunos se sentirão notados e representados dentre
da cultura a que pertencem.

A formação do professor deve se adequar à contemporaneidade, reforçando a inclusão das classes


sociais marginalizadas. A população de baixa renda sempre foi inferiorizada, em todos os âmbitos.
No que se trata da educação, não é diferente, visto que o currículo de escolas tradicionalistas é
formulado para um grupo de pessoas mais privilegiadas. Por isso, os docentes devem reformular o
currículo de acordo com a individualidade de cada aluno, como raça, classe social, crença e cultura,
evitando o isolamento dos grupos subalternos.

O professor reflexivo é aquele capaz de entender a realidade social, política e cultural


dos alunos e se identificar com ela. Por isso, ele cria possibilidades para que as
condições emergentes passem por transformações necessárias para uma relação mais
igualitária entre os sujeitos (Neto, 2013, p.22)

Ainda de acordo com Neto (2013), o Brasil é marcado por sua diversidade, como as diferenças
regionais, organização social, os modos de relação com a natureza, as crenças, a orientação sexual,
gênero. A vivência das pessoas que moram no campo e das pessoas que moram na cidade é marcada
por muitas diferenças devido o ritmo de vida. Outro exemplo da diversidade cultural no país é a
miscigenação, que se deve aos processos migratórios, marcado por diferenças linguísticas, de
costumes, de valores, de projeto de vida. A diversidade se expressa de diferentes formas de acordo
com o contexto social em diferentes sociedades.

Neira (2014) expõe que em um currículo multicultural não apenas valoriza e reconhece as
diferenças, mas expõe a resistência e a construção da identidade cultural, garantindo a diversidade,
superando a discriminação, a opressão e as injustiças sociais. O autor reitera que “toda decisão
curricular é uma decisão política” (2014, p.127), portanto, promovendo o currículo multiculturalista,
com texto e atividades culturais, influencia na forma de interpretar o mundo, de interagir, de
comunicar suas ideias e até mesmo os seus sentimentos, também deveria conter os saberes do local
que a escola está locada.

O que se nota é que o currículo escolar em vez de evidenciar essa diversidade natural do país, muitas
vezes ignora, e por ignorar a realidade cultural em que o aluno está inserido, acaba por ignorar
também o próprio aluno, que se sente excluído em um espaço que deveria ser um ambiente inclusivo
e acolhedor.
Entretanto, a educação multicultural é uma realidade complexa, com diversos matizes
e não pode ser entendida como um modismo, um elenco de “coisas” que devem ser
acrescentados à educação, mas que deve ser realizada numa perspectiva de buscar a
implementação do pluralismo e da diversidade em todas as propostas através das
profundas raízes culturais da sociedade. Por isso, é necessário partir de um conceito
mais aberto e amplo de cultura onde a diversidade e a multiplicidade sejam a base de
apoio. A perspectiva multicultural não busca reinventar as práticas pedagógicas, mas
acima de tudo, reorientar o currículo de forma que possa ser revisto o papel da escola
e suas relações com a comunidade (Neto, 2013, p.28)

De acordo com Neira (2014), se quisermos romper esse currículo que ignora a diversidade, teríamos
que aderir a diferença, a equidade, inclusão, justiça, o diálogo e o reconhecimento nos currículos
escolares. Assim, impedindo a reprodução consciente e inconsciente da ideologia dominante,
valorizando as vozes de todos os indivíduos, que frequentemente são silenciados. O autor reitera
(2014, p.129) que:

O currículo multicultural prestigia, desde seu planejamento, procedimentos


democráticos para a decisão dos temas que serão estudados e das atividades de ensino.
Valoriza a reflexão crítica sobre práticas sociais do universo vivencial dos alunos
para, em seguida, aprofundá-las e ampliá-las mediante o diálogo com outras vozes e
outras manifestações. No currículo multicultural, a experiência escolar é um terreno
aberto ao debate, ao encontro de culturas e à confluência da diversidade de expressão
dos variados grupos sociais. É um campo de disseminação de sentidos, de polissemia,
de produção de identidades voltadas para a análise, interpretação, questionamento e
diálogo entre e a partir das culturas.

Portanto, essa forma de currículo promove um diálogo com troca de ideias, de culturas, com
reflexões críticas, desse modo, diálogos que respeitem a diversidade cultural, superando processos
discriminatórios.

O currículo multicultural coloca os estudantes como transformadores sociais, contribuindo


consequentemente, para uma sociedade mais justa e democrática, que pense em todos. Sendo assim,
a escola deve pensar em práticas pedagógicas ligadas a diversidade e a identidade dos discentes, que
eles sejam chamados a refletir sobre as suas culturas e hábitos, assim como refletir sobre a cultura e
hábitos dos outros grupos, ligando ao contexto da vida comunitária. Segundo Neira (2014, p.129-
130), “o currículo multicultural deve comprometer constantemente os alunos com a problemática de
suas situações existenciais”.

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