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JtlsÉ elMENo sAcntsrÁn

flRGAN IZAllflR
penso

SABERES E
INCERTEZAS
SOBRE O
CURRíCULO

. MARIAN(] ¡¡NHÁHU¡Z ENGUITA.


JURIf) T()RRES'CARMEN NOORIEUTZ
. MIGUEL EONZNTTZ ARROYf].. IOSÉ RlTOHIO PÉNTZ TAPIAS'IUAN BAUTISTA NRRTílTZ
.
FRANCISC() g¡lTNÁN. JAVIER MARRER(). JAUME IVIRRTíHCZ gOHNTÉ
. JESúS nOORíeU¡2. MARíA CLEMENTE . MIGUEL ÁHett SANT0S. rÉtllt ANûUL0
. R0SA VÁZqUtZ. JUAN MANUEL ÁtVnR¡2. RAFAEL FElT0. JUSTA BEJARAN0
. JESÚS IIIvIÉI¡2. MIGUEL TÓPTZ MTTTRf]. J()SÉ C(1NTRERAS. NIEVES BLANC()
. FRANCISC() IMBERNÓN. JAUME CARBf)NELL. EUSTAOUIfl IURNTíH
Saberes e incertezas sobre o currículo 523

oRTENTAçõES E CARACTERíSTTCAS se pensava nas décadas de 1950 e 1960, os in-


DA AVAtnçÃo CURRTCUTAR EM vestimentos feitos no setor da educação não
30 Methorar o currícuro RELAçÃ0 ÀS OrR¡TRIZES DAS
PoríilcAs DA EDUCAçÃo
resultaram nos níveis de desenvolvimento
econômico e bem-estar social esperados. Isso
por meio de sua avaliação dará lugar, de um lado, a um restabelecimento
A situação atual da avaliaçäo do currícu- dos valores sociais e educativos, com fortes
lo está inseparavelmente associada à avalia- cortes orçamentários em tudo relacionado aos
çäo socioeducativa e às diretrizes das políti- programas sociais e à generalização de certo
cas educativas dos países desenvolvidos do ceticismo em relação às instituições de educa-
mundo ocidental durante a segunda metade çäo e aos professores. Por outro lado, fará com
do século passado. A identificação de deter- que diferentes iniciativas políticas e sociais
minados momentos-chave e de suas caracte- promovam medidas encaminhadas para que o
rísticas mais substanciais, ainda que apenas controle dos currículos escolares não fique
seja em termos gerais, é um passo necessário apenas nas máos dos professores e para que os
Eu st a qui o Mar tín Ro dríguez para entender como a avaliaçäo curricular centros de educaçáo divulguem seus êxitos e
Universidade de Educaçäo a Distância (UNED) vem assumindo cada vez mais um maior pro- resultados, segundo exigia, por exemplo, o
tagonismo, conforme vai se conseguindo o de- movimento da accountability q,ae as políticas
senvolvimento dos sistemas de educação e anglo-saxãs promoveram nos Estados Unidos
qualificaçäo profissional dos cidadäos. e, posteriormente, no Reino Unido.
Se tivéssemos de começar nossa análise O problema que forçou as instituiçoes
¡f\ avaliação educacional dos alunos foi, a qual abordar seu aperfeiçoamento, já que é
com datas significativas, sem dúvida seria educativas e os professores à prestação de
lì îx*:, J;H,::î'.";J ä:x j
na escola. A preocupação em conhecer e ava-
å:'#
com base no conhecimento e na valorízação
de seus processos e resultados que seräo de-
cididas as atuaçöes e os planos de interven-
preciso nos fixarmos nos primeiros anos da
década de 1970, quando se desencadeou uma
contas näo residia nas demandas de informa-
ção pública, que eram consideradas legíti-
das primeiras grandes crises econômicas do mas, mas nos formatos e nas abordagens de
liar que ocorria com outros elementos dos çäo sobre este. Isto näo significa, no entanto, sistema capitalista. Até o momento, no surgi- avaliaçäo utilizados para seu julgamento, já
sistemas de educaçäo, como é o caso do cur- que toda avaliaçäo sempre seja seguida de
mento da avaliação, sempre se faz referência que se centravam exclusivamente nos produ-
rículo, não surge até a década de 1930, quan- uma propostapara a abordagem dos proble_
aos anos de 1930 e às obras de Ralph Tyler tos ou resultados acadêmicos dos alunos. As
do começaram a ser realizados os primeiros mas que se tornaram evidentes com a reali_
como o momento de fundação da avaliação experiências de avaliação desenvolvidas nes-
estudos para avaliar os êxitos e as deficiên- dade estudada, seja porque o que se preten-
cias de certos programas curriculares através
educacional no campo curricular, bem como te contexto da accountqbility, cujo impulso
dia era somente conhecer ou ter uma visão mais decisivo se deu com a adoção das pri-
o impulso que foi dado aos estudos de avalia-
dos resultados obtidos pelos alunos. A emer- mais ampla dessa realidade, seja porque a na-
ção no frnal dos anos de 1950, como conse- meiras políticas neoliberais, resultaram, na
gência desse novo âmbito de avaliação de tureza ou a modalidade da avaliação realiza_
quência da aprovação de novas leis de educa- década de 1980, no surgimento daquilo que
programas, no qual se enquadra a avaliação da não facilite ou permita uma intervenção
ção nos Estados Unidos que contemplavam a Neave (1988) denominou Estado Avaliador
curricular, vai se constituir com o passar do para melhoria.
tempo em um frutífero campo de estudo e de obrigatoriedade de submeter à avaliaçäo os na educaçäo superior. Com essa expressão,
A presença, a importância e os forma- novos programas educacionais que seriam faz-se referência à alteração produzida nas
atividade profissional que, por um lado, faci- tos adotados pela avaliação curricular não
litará o surgimento de outras tipologias experimentados nas matérias ou disciplinas relações entre Estado, Sociedade e Educação
e podem ser compreendidos com justiça se
âmbitos que foram aparecendo na segunda principais do currículo (Matemática, Biolo- Superior em uma grande parte dos países da
não forem analisados, entre outros aspectos,
gia, Física, Língua Inglesa, Ciências Sociais). Europa Ocidental no final da década de1970
metade do século XX, como a avaliação ins- as diretrizes das políticas educativas e dos
titucional de docentes ou a dos próprios sis- A crise econômica da década de 1970, e início da década de 1980.
próprios currículos; os debates, as delibera- Neave e Van Vught (1994) argumentam
gerada, em grande parte, pela alta dos preços
temas educionais e que, por outro lado, será
ções e os avanços que têm configurado o dos insumos energéticos, levaria a um perío- que a passagem do Estado Facilitador, que
uma referência inevitável para continuar âmbito da avaliação de programas como
do de recessão, inflaçäo e aumento das taxas possibilitou a expansão da educaçäo superior
avançando no desenvohlimento da teoria e campo de estudo e pesquisa; e o papel e o
da prática da avaliação educacional. de desemprego, o que teria cònsequências no enfrentando os desafios da grande demanda
protagonismo adotado pelas escolas e pelos
terreno da educação. De certa maneira, gera- de estudos mediante a continuidade das rela-
Quanto à avaliação do currículo, não pa- atores da educação tanto nos projetos de
rece que existam muitas discrepâncias em -se um clima de desconfiança perante deter- ções entre as instituições de educação suPe-
avaliação curricular quanto nos de inovação
considerá-la como uma das ferramentas com minados setores públicos e, entre outros, o rior e os governos, ao Estado ,\valiador evi-
educacional.
da educação, visto que, ao contrário do que dencia um novo contexto de mudanças so-
524 losé Gimeno Sacristán (Org.) Saberes e incertezas sobre o currículo 525

ciais, econômicas e culturais de peso conside- Nessas circunstâncias, a avaliaçäo adqui- considerar a educação um bem de consumo e para a criação de uma cultura institucional na
rável. Dentre eles, é preciso destacar, ainda re uma relevância jamais imaginada. Não em a política da educação um meio pelo qual ele qual se prime pelas formas de participação e
que a influência de cada um dos fatores possa váo,jâ que, durante a década de 1980 nos Es- pode ser regulado e distribuído com eficiên- colaboração que, por meio de projetos pedago-
ser distinta conforme o país, os seguintes: os tados Unidos, como indica House (1992), a cia e eficácia. Sob sua perspectiva, há dois gicos concretos, conduzam ao desenvolvimento
cortes de orçamento nas dinâmicas de crises avaliaçäo foi considerada demasiado impor- elementos que explicam a natureza das refor- profissional e institucional. Todavia, isso sim,
do Estado de Bem-Estar Social; as reformas tante para ser deixada nas mãos dos avalia- mas curriculares que vão ser feitas nos siste- continua-se mantendo e reforçando os meca-
generalizadas no setor público em consequên- dores, e as grandes burocracias criaram suas mas educacionais, bem como a função da nismos de controle nos quais a avaliação ainda
cia do início das políticas neoliberais; o fenô- próprias agências de avaliação. O próprio avaliação nestes. Por um lado, observa-se a desempenha um papel fundamental.
meno da massificação da educação superior House (1998) identifica essas avaliações como onipresença do discurso econômico e sua Como se pode ver, essas novas formas de
que é desencadeado na maioria dos países na uma modalidade de avaliação interna, para mudança de relação com o discurso político conceber e instrumentalizar a avaliação pres-
década de 1960; e a busca por uma maior ade- diferenciá-las das realizadas por avaliadores no contexto da globalização. Por outro, há o supõem, em muitas ocasiöes, uma nova reedi-
quaçäo das relações com o mercado de traba- independentes, e ressalta os problemas de reforço das tendências neoconservadoras das ção corrigida e ampliada das primeiras po-
lho e o mundo da indústria. credibilidade e procedimentos que derivam políticas educativas. líticas neoliberais da accountability, das dé-
A modifrcação do sistema e do tipo de da falta de independência política dos avalia- A retomada do fortalecimento das polí- cadas de 1970 e 1980, que iriam adquirir, ao
relações se traduziria, entre outros aspectos, dores, bem como o fato de que grande parte ticas neoliberais nesses momentos introduz longo da década de 1990 e dos primeiros anos
na passagem de uma avaliação de manuten- da teoria da avaliação foi construída e funda- mudanças de grande porte no discurso da do novo século, uma grande projeção inter-
mentada com base nas relações contratuais educação, pois provoca o deslocamento dos nacional. Seu discurso passa a ser recorrente
ção a uma avaliação estratégica. Mediante esta,
põe-se em prática uma revisão permanente entre os avaliadores externos e as organiza- propósitos sociais e culturais. No jogo da desde os anos de 1970 até a atualidade, e,
dos objetivos das reformas educacionais, va- ções. Esses problemas foram gerados pela oferta e da demanda do mercado, a educa- mesmo quando seus argumentos assumem
lorizando seus resultados e identificando as adoçáo de postura dos avaliadores e acadê- ção passa a ser mais um bem de consumo tons específicos, em diferentes momentos ou
micos sobre a necessidade e importância de que irm direito, e os atores sociais, mais em fases, sua finalidade é inequívoca: valorizar a
dificuldades, os erros ou as deficiências des-
que continuassem existindo espaços para os seus papéis de consumidores do que de ci- produtividade e a rentabilidade das institui-
tas. As características mais relevantes da ava-
liaçåo estratégica säo que se trata de uma
estudos independentes, como propuseram, por dadãos, são convidados a julgar a "qualida- ções educacionais.
exemplo, na Espanha, Angulo Rasco, Con- de" desta mediante parâmetros e indicado-
avaliaçäo a posteriori, em vez de a priori, e
treras Domingo e Santos Guerra (1994), em res que ressaltam seu valor em termos eco-
que ela não dá importância ao processo, mas
seu artigo sobre avaliação da educação e par- nômicos. O selo da "qualidade" e a parafer- A AVALTAçÃ0 CURRICUTAR N0
aos resultados, ou seja, há uma mudança de
ticipaçáo democrática. nália dos modelos e das normas para sua ca- c0NTEXTO DAS CoNTRIBUIçõES
ênfase do processo ao produto, do estado ini-
Em relação também ao controle da ava- talogação não é nada mais do que uma ten- E DoS AVANç0S DA AVAtnçÃo
cial ao resultado. Essa mudança da função e
liação e à prática extinção da avaliação inde- tativa de levar até as últimas consequências DE PROGRAMAS
do próprio conceito de avaliaçäo implica, de
pendente, desde meados da década de 1980, a gestão dos processos de produção e con-
acordo com Neave (2001, p. 224), que o ren-
observa-se o surgimento de poderosos "in- trole dos produtos, adotados pelas organiza- O desenvolvimento da avaliação curricu-
dimento dos estudantes, o nível e a média lar, como um componente da avaliaçäo de
termediários especializados" que realizaram, çöes industriais, a uma grande parte das ins-
das qualificaçöes, a produtividade da insti- programas, surge vinculado aos debates, às
como agentes de avaliação, a coleta de dados tituiçöes do setor público.
tuição e dos departamentos, que antes eram e informaçöes da educação superior. Outro deliberações e às contribuiçöes que são dadas
No novo rumo desse discurso da educa-
revisados de uma maneira apenas ocasional tanto ocorre na educação não universitária neste como campo de estudo e prática profis-
ção, não podemos perder de vista as políticas
e analisados em momentos de crise, passam, em finais dos anos de 1980 e durante toda a sional. Nesse sentido, é preciso reconhecer
de descentralizaçâo que delegam responsabi-
a partir de então, que os primeiros estudos sobre os currículos
dé.cada de 1990, com a criação de instituições lidades às instituições e aos docentes. A auto-
ad hoc para a avaliaçäo da qualidade, Institu- nomia das escolas e dos professores, com re- são feitos quando a tradição psicométrica e o
a ser objeto de mecanismos extremamente tos ou Centros de Avaliação e/ou Qualidade movimento testológico (a construção de tes-
lativa frequência, não deixa de ser também
complexos e críticos, regularmente aplicados e
em geral subordinados aos Ministérios da uma maneira limitada de determinar o Pro- tes para medir capacidades intelectuais e tra-
revisados e intimamente relacionados ao pro-
pósito estratégico não somente de orientar a
Educação. tagonismo de uns ou outros, já que sua mar- ços de personalidade) demonstraram que é

política da educação naci-onal, mas também, e O conceito de Estado Avaliador, segun- gem de manobra é mínima quanto à capaci- possível medir a aprendizagem humana.
ao mesmo tempo, de que a instituição fizesse do Whitty, Power e Halpin (1999, p. 55), dade de decisão de suas trajetórias. Suas in- A esse respeito, entende-se que o surgi-
sua própria autoavaliação, a fim de poder dis- pode ser aplicado também às etapas obriga- cumbências habituais são de caráter metodo- mento da figura de Ralph Tyler' a quem se

cernir que lugar ocupava no cenário nacional tórias dos sistemas educacionais. Eles o asso- lógico-instrumental, mas não incluem a deli- deve a denominação de avaliação educacio-
e de planejar as maneiras de melhorar ou con- ciam, dentro do sistema da reestruturação, beração dos objetivos ou propósitos e, pelo nal, pressupôs um avanço nas propostas que
siderar tal propósito estratégico. ao "racionalismo econômicol no sentido de contrário, não säo facilitadas as condiçöes passarão a definir o campo da avaliação du-
526 José Gimeno Sacristán (ors.)
Saberes e incertezas sobre o currículo 527
rante as décadas de 1g30 e 1940, a chamada meir, vez, observou_se que de fato ocorreu lores na hora de julgar os distintos elementos rumo que tais estudos haviam tomado. Nela,
época tyleriana, ainda que sua influência tenha
de um programa são de transcendência igual os avaliadores e pesquisadores assistentes -
se projerado muito além da década de 1960 e
ou superior. entre outros, MacDonald, Parlett, Hamilton,
continue presente em nossos dias, como tere_
Ainda que sejam muito importantes os Stake, Smith e Helen Simons - expressaram
mos a oportunidade de ver. Um primeiro as_
passos dados em todas essas novas propostas especialmente sua insatisfação com as avalia-
pecto que é preciso assinalar é que suas contri_
buições jamais perdem de visia a dimensão de avaliação, a única coisa que havia sido mo- ções das práticas educativas que vinham sendo
dificada desde a emergência do modelo tyle- feitas, porque não ofereciam provas dos efeitos
rículo e avaliaçâo.
riano era a excessiva dependência que ainda destas, devido à insuflciente atenção prestada
objetivos que de_ aos processos educionais, por se centrarem ex-
tinha o paradigma positivista. Este é um dos
de considerar o clusivamente nas mudanças mensuráveis e de-
pontos expressamente assinalados por Gusa e
programas experimentais e utilizar Lincoln (1989) quando fazem uma revisão das vido ao predomínio de um tipo de pesquisa
estraté_
gias de avaliação aplicada ao término três primeiras geraçöes de avaliação. Em sua educacional que priorizava a precisão da me-
dos
programas, porque, neste momento, análise, continuam insistindo na ausência do dida e a generalidade da teoria.
se a ava_
liação mostrar deficiências, será tarde contexto nos estudos, na utilização de medidas A reunião de Cambrigde foi, sobretudo,
d.mui,
quantitativas na apresentaçäo dos dados e na um lugar de encontro para repensar a avalia-
legitimaçäo da avaliação através do emprego ção por meio da apresentaçäo das experiên-
de "métodos científicos'l O próprio Stake reco- cias compartilhadas por um conjunto cada
nhecia, muitos anos depois, segundo Abma e vez mais importante de estudiosos da teoria e
experimentar e difundir suas concepçöes
da Stake (2004, p. 8), em relação à sua proposta da prática da avaliação. Tinha-se interesse es-
avaliação educacional. Nesse estudo,
áo .orr_ de avaliação respondente ou de réplica, que: pecialmente em buscar outras referências dis-
ciplinares, além da Psicometria e da Psicolo-
Na época, eu pensava que não era preciso gia Experimental, buscando comprovar que
não somente dos patrocinadores e que,
na in_ mudar os métodos de avaliação; que bastaria era possível aprender com outras pesquisas -
formação sobre seus êxitos e ,r'ru, observar alguns dados adicionais necessários. feitas por historiadores, economistas, soció-
d.fi.iêrr_
E que, portanto, era possível continuar com a logos e antropólogos - e valorizando as im-
maneira, o srau de êxito é medido direta- abordagem semiexperimental ou utilizar es-
;'åï:.t1""î':-'ï;'.î, ïJLïr*'Íîä: tudos correlacionais que garantissem a incor-
plicações, possibilidades e dificuldades dos
pessoas envolvidas. novos estilos de avaliaçäo.
poração desses dados extras. Pouco a pouco,
Essas colocações e, de modo especial, as
fui me dando conta de que havia outras gran-
des diferenças que devíamos enfrentar; ques-
críticas que Mac Donald (1976) lez às avalia-
tões políticas diferentes e novas questöes de ções que então eram feitas nos Estados Uni-
validade e legitimidade. dos, chamando-as de burocráticas, ou seja, de
res indiretos, como o equipamento e os mate_
estarem a serviço dos patrocinadores e de
Com efeito, ainda foi preciso transcorrer adotar uma perspectiva gerencialista, ou au-
começam a questionar a prímazia dos algum tempo para que se começasse a getar tocráticas, ao serviço incondicional do patro-
objeti_
vos na hora de avaliar. Além disso, uma metodologia diferente de avaliação. Foi cinador, mas sendo legitimizadas pelos círcu-
certos au_
tores, como, por exemplo, Scriven, somente nos primeiros anos da década de los acadêmicos e de pesquisa, farão com que
expressa_
mente assumem em sua proposta ou 1970 que parece ter surgido o momento de os aspectos responsivos e as audiências da
aborda_
retomada desses temas,que, ainda hoje, estão avaliação sejam outros dois elementos-chave
pendentes, entre os quais o de buscar uma al- no foco do debate entäo iniciado. Nessa mes-
ternativa para a metodologia que vinha sen- ma linha, a proposta da avaliação como ilu-
do utilizada desde os primórdios da avaliação minação de Parlett e Hamilton (1976), na qual
de programas: a avaliação quantitativa expe- expressamente se opta por um paradigma so-
rimental. Na reunião ocorrida no Churchill cioantropológico com o qual se busca conhe-
College de Cambridge em 20 de dezembro de cer a tradução e a interpretaçäo que os pro-
1972, um grupo de avaliadores e pesquisado- fessores e alunos fazem do programa na rea-
da necessidade e legitimidade das res britânicos e norte-americanos comparti- lidade da aula, em vez de se fixar se foram
as de avaliação e o pluralismo de va_ lhou as preocupações e inquietudes sobre o atingidos ou não os objetivos através da medi-
528 losé Gimeno Sacristán (ore.)
Saberes e ¡ncertezas sobre o currículo 529
ção dos resultados dos alunos, como era habi_ cenários naturais nos quais são desenvolvidos
tual com a abordagem tecnológica ou o para_ objetivos do programa ou do currículo trata- ou resultados, ou seja, na mediaçäo das apren-
os programas; suas metodologias utilizam sis_
do, bem como no estudo por meio de méto- dizagens ou conhecimentos dos alunos em de-
digma positivista,traz um importante refoiço à temas flexíveis e abertos que permitem
nova direçäo adotada.
ir in_ dos não paramétricos da estrutura dimensio- terminadas matérias ou iireas do currículo. Nes-
corporando as manifestações e os fenômenos nal das provas empregadas parc a medição sa abordagem de avaliação é possível identificar
House (1992, 1998), por exemplo, agrupa as não previstos inicialmente; as técnicas e os ins_ dos resultados dos alunos. ao menos três tipos de estudq a saber: os que
abordagens ou os modelos de avaliação efsten_ trumentos de avaliação como a observação, a tratam da avaliação geral do currículo das dife-
tes até então utilizando como critérios de classi_ entrevista, os gmpos de discussão, os registros rentes etapas e ciclos do sistema educacional, os
ficação: as opções epistemológicas, nas quais
distingue uma epistemologia objetivista (conhe_
de imagem e os sons são empregado, p*" r"_ ESTUDoS E REAL¡ZAçõES de avaliação diagnóstica normalmente realizados
NA AVArnçÃo GURRTCU[AR: nos anos de determinados ciclos de cada etapa
cimento explícito), que, por sua vez, subdivide
P0ss¡BTLtDADES E LTMTTAçõES da educaçãq e as avaliações do sistema de me-
em objetividade quantitativa e objetividade qua_
diçäo de valor agregado.
litativa; de uma epistemologia subjetivista
ico_ Em apenas pouco rhais de meio século, Quanto aos primeiros, é preciso dizer que
nhecimento tácito), no qual também faz a dife_ conta os interesses e as necessidades das audi_ desde o surgimento dos primeiros estudos de estão plenamente institucionalizados no con-
rença entre o domínio mediante a experiência e
ências envolvidas; a emissão de juízos de valor avaliação curricular, é inegável a presença e a texto internacional como um dos encargos
o conhecimento mediante a negociação; as con_
considera o pluralismo axiológico das pessoas importância adquiridas por ela no campo da periódicos dos Institutos de Avaliação, Insti-
siderações éticas, considera¡rdo uma ética subje_
e dos grupos que participam na avaliação, etc. educação. É, verdade que os ritmos e progres- tutos de Qualidade ou de determinados orga-
tivista, seja de caráter utilitário ou intuicionista_
O desenvolvimento dessas novas aborda_ sos em sua implantação não foram os mesmos nismos nacionais criados ød hoc pelos res-
pluralista e uma ética objetivista cujo funda_ gens de avaliação se deu de uma maneira nos diferentes países do mundo ocidental até pectivos Ministérios da Educação. Na Espa-
progressiva durante as décadas de l9g0 e 1990 boa parte da década de 1990, mas também é nha, por exemplo, desde o ano 1995, vêm
e, Pouco a pouco, contaram com a aceitação certo que, desde então, vem ocorrendo com sendo realizados estudos de avaliação da edu-
de uma parte considerável da comunidade inusitada rapidez a generalizaçáo e internacio- cação primária, com periodicidade quadrie-
caráter gerencialista (elite), de usuários (massas), nalizaçâo das diferentes propostas, abordagens nal, nas áreas curriculares de Conhecimentos
acadêmica e do mundo profissional dos ava_
profissional (elite) e participativa (massas). Se_ liadores. Em determinado momento, surgi_ e sistemas de avaliação educacional. do Meio Ambiente, Língua e Literatura Espa-
gundo afirma os elementos princþais para ram propostas para combinar ambas as me_ Perante esse panorama, seria convenien- nhola e Matemática, incluindo-se também, a
compreender as abordagens são sua ética, sua todologias a partir de posições com certo ecle_ te analisar as propostas de avaliação curricu- partir de 2007, a Língua Inglesa. Costumam
epistemologia e suas derivaçöes políticas. Iar que estäo sendo feitas em diferentes con- ser realizadas ao ûnal de cada etapa (equiva-
tismo metodológico, tratando de unir a utili_
No que se refere aos novos enfoques da zação das técnicas e dos instrumentos de co_ textos culturais para ver quais são suas ca- lente ao 6q ano no Brasil, alunos com 12
avaliação, cabe afirmar que, no transcurso de leta de informação de caráter quantitativo e racterísticas em relaçáo às abordagens e me- anos), e seu propósito é, como afirmava o
apenas alguns anos encontramo-nos com um qualitativo. Há tempo - e com uma frequên_ todologias utilizadas, que modalidades de Instituto de Evaluación, averiguar o que os
conjunto de denominações, tais como ava_ cia cada vez maior -, defende-se um pluralis_ avaliação são as que predominam e se o co- alunos de cada etapa aprenderam. Este modo
liação nhecimento que é oferecido pelos estudos de proceder, como sistema de avaliação, está
mo metodológico quando o objeto de avalia_
estudos permite a elaboraçäo de atuaçöes e planos de bastante difundido em vários países. No caso
ção o exige e as contribuições combinadas de
litativa cada um dos métodos contribuem para o su_ aperfeiçoamento. da América Latina, o Instituto Nacional para
ção naturalista ( cesso de um conhecimento mais amplo e rico Para efeitos de nossa análise, preferimos la Evaluación de la Educación (do México), a
liaçño construtiv
da realidade estudada. apresentar em separado as avaliações feitas pe- Dirección Nacional de Información y Evalua-
avaliaçõo demo
De qualquer maneira, é preciso assinalar
los agentes externos aos programas ou às insti- ción de la Calidad Educativa (da Argentina),
HOVE, 1999), que se constituem, bàseadas tuiçöes nas quais é desenvolvido ou experi- o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
nas diferentes culturas acadêmicas e referências mentado o currículo daquelas outras desem- Educacionais (do Brasil) e o Sistema de Me-
disciplinares - Antropologia, Educação, Socio_ penhadas pelos atore_s que estão diretamente dición de la Calidad de la Ecucación (do Chi-
logia -
em outras tantas propostas de avalia_ envolvidos na implementação do currículo. le) são alguns exemplos das instituições que
logia quantitativa experimental, devemos res_
ção. Em geral, todas elas, ao enfrentar as abor_ se ocupam dessas atividades.
saltar que ela continuou avançando rumo à
dagens positivistas da relação entre objetivos As avaliações diagnósticas são mais re-
e melhoria dos projetos de pesquisa, no desen_
resultados, contrapõem a relevância da avalia_ Avafiação tealizada por agentes extefnos centes no contexto espanhol, já que foi a Lei
volvimento de técnicas estatísticas de mode_
ção de processos e a formativa; concebem a Orgânica da Educação de 2006 que incluiu a
na elaboração de Sem dúvida, a tendência predominante na obrigatoriedade de sua realização ao final do
avaliação como um processo de compreensão,
itérios, que impli- atualidade na avaliação externa do currículo segundo ciclo da educação primária (equi-
descriçäo e interpretação do que oJorr..ro,
de acordo com os continua centrada na avaliação dos produtos valente ao 4o ano, alunos com 10 anos) e do
530 .losé Gimeno Sacristán (Org.)
Saberes e incertezas sobre o currículo 531

2e ano da educação secundária obrigatória diferentes exames nacionais, como, por exem- ensino das áreas sobre as quais säo feitas as
sobre o que sabem os alunos de primária e
(equivalente ao 8q ano, alunos com 14 anos). plo, no Certificado Geral de Educação Secun- secundária em determinadas áreas ou maté- provas; os resultados obtidos com as provas
Distinguem-se duas modalidades: as Avalia- dária (CGSE). A partir da década de 1990 e são considerados uma perfeita manifestação
rias do currículo, segundo as pontuaçöes ob-
ções Diagnósticas Gerais, que como tal abar- em função das críticas que esse tipo de dados
tidas por eles em um conjunto de provas ela- ou um critério de qualidade do sistema edu-
cam todo o sistema, nos âmbitos dos estados e brutos recebiam por desconsiderar as carac- boradas de acordo com a avaliação sujeita a cacional; näo são utilizados os resultados das
das Comunidades Autônomas, e que são feitas terísticas de cada escola, vem sendo imposto
critérios, ou seja, contemplando e incluindo avaliações para a definiçäo de novas políticas
mediante avaliações externas de amostras de o sistema de "medidas de valor agregado da itens ou perguntas relativas aos objetivos educativas nem são feitas propostas de melho-
alunos selecionadas com o objetivo de fazer efrcâcia da escola' (MVA). Thomas (1993, p. riaparaa escola, as aulas ou a formação perma-
educacionais que devem ser atingidos em tais
um diagnóstico do sistema educacional; e as 104) entende como valor agregado 'ã medida nente dos professores; a interpretação dos resul-
áreas ou matérias. Em relação a suas possibi-
Avaliaçoes Diagnósticas Censitárias, que ava- do progresso médio dos alunos ao longo de Iidades, portanto, é preciso observar que eles tados das escolas é limitada ou parcial quando
liam todo o universo de alunos através de ava- um período de tempo dado (que, nas escolas nos oferecem uma informação geral, sistemá- estes sáo publicados nos meios de comunica-
liações internas, e cujo propósito é elaborar de educaçáo secundária, vai, como regra ge-
tica e periódica de diferentes cursos e etapas çäo, são comparadas entre si as escolas e, de
atuações e planos de melhoria dirigidos aos ral, do momento de ingresso no centro do- do sistema educacional com base nos resulta- uma ou outra maneira, são feitas avaliaçöes de
alunos, às aulas e às escolas. Essa avaliação cente até os exames oficiais, e, nas escolas pri- dos obtidos em provas que são iguais para to- sua qualidade e da qualidade dos professores
vem sendo feita desde o final do ano letivo márias, inclui alguns anos específicos) em dos os alunos que fazem parte das amostras apenas empregando tais resultados, etc.
2008109 sobre as seguintes competências bási- uma escola determinada, em comparação com
ou do censo das Comunidades Autônomas
cas do currículo: comunicaçäo linguística, ma- outras escolas da mesma amostra'l
do Estado espanhol.
temática, conhecimento e interação com o O procedimento que se segue para estabe- Em função das características dos estudos, A avaliação real¡zada pelos
mundo físico, competência social e cidadã, lecer essas medidas consiste em determinar o membros da instituição de educação
o que o avaliador trata de conhecer, parafrase-
dentre de um sistema de colaboração entre o nível de conhecimento inicial e final dos alunos,
ando Stenhouse (1984), é se realmente o currí-
Instituto de Evaluación espanhol, o Ministério através de uma série de provas normalizadas
culo funciona, comprovando o alcance dos A melhoria do currículo e da qualidade
da Educação e os serviços das Comunidades (pretest-protesú) e comparar o grau de conheci-
objetivos pretendidos, enquanto as preocupa- do ensino exige o comprometimento dos ato-
Autônomas. mentos adquiridos tanto no interior de cada es-
çöes que um professor teria seriam mais no res da educação em geral e dos professores
As qualificações escolares dos alunos nos cola como em relação com os alunos de carac-
sentido de saber o que o currículo selecionado em particular. É, provável que a avaliação do
exames nacionais também são contempladas terísticas similares de outras escolas. Para isso,
agrega de valioso e como ele poderia aprovei- currículo por meio da medição das aprendi-
em países como a França, a Inglaterra, os Paí- são utilizadas técnicas estatísticas de modelação
tar os benefícios oferecidos por ele. Enfim, o zagens dos alunos, como de uma maneira re-
ses Baixos, etc., e, em menor grau, na Espa- de multiplos níveis com as quais se controlam
que essas formas tão distintas de entender a gular vêm lazendo as administraçöes da edu-
nha, como medidas da qualidade do ensino as variáveis contínuas e discretas dos alunos
avaliaçäo curricular evidenciam é o contraste cação, ofereça uma imagem panorâmica do
oferecido pelas escolas e pelos docentes. Na (capacidades, idade, sexo, etnia, etc.) e se conse-
entre as concepções do currículo por objetivos sistema educacional em relação a seus conhe-
França, por exemplo, anualmente sáo publi- gue medir os efeitos da escolarrzaçâo.
e do currículo como processo. cimentos em determinadas matérias ou áreas
cados os resultados oferecidos por cada esta- Saundres (1999, p. 22), pesquisadora da Por outro lado, as limitaçöes que ficam curriculares. Contudo, o foco quase exclusivo
belecimento de educação secundária nos exa- National Foundation for Educational Research
evidentes nesses estudos, que vêm sendo fei- nos produtos ou resultados faz com que se
mes do Baccalauréat (BAC). Na edição anual (NFER), instituiçäo promotora desse tipo de es-
tos há 10 ou.15 anos, não são nenhum segre- deixem à margem os processos, o que real-
de Le Monde de l'Education ò.edícada a di- tudos no Reino Unido, alerta sobre as precau-
do, se nos atemos às coincidências produzi- mente ocorre no interior das instituiçöes e
fundir os resultados, é apresentada uma in- ções que devem ser tomadas quanto às medidas das na identificação dos mesmos no contexto que se deixe de questionar a influência dos
formaçäo que contextualíza as taxas brutas de valor agregado, assinalando, entre outros as-
internacional. Se vemos, por exemplo, as limi- demais elementos que intervêm no desenvol-
de cada liceu com as médias da academia e pectos, que elas são apenas um instrumento de
tações mencionadas nos diferentes textos da vimento curricular, tais como os conteúdos,
do país, e com quatro tipos de indicadores avaliação, que as relações entre as medidas são
publicação da Organización de las Naciones os meios, os recursos e materiais didáticos, as
(DEMAILLY et al., 1998, p. 83-84): resulta- de associaçáo e náo de causalidade, que as me-
Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultu- metodologias docentes envolvidas nos pro-
dos dos alunos, características da população didas dependem em qualidade dos dados nos
ra (2008) para a América Latina e o Caribe, cessos de ensino e aprendizagem, etc.
de alunos, recursos e meios e funcionamento quais se basearem e que não proporcionam so-
constatamos semelhanças na maior parte de- Como foi exposto anteriormente, as ava-
e ambiente, de modo que a informação ofe- luçoes rápidas ou respostas corretas aos proble-
las. Entre as limitações mais evidentes, é pre- liações externas não se empenham em estu-
recida possa ser avaliada em relação às de- mas de melhoria das escolas.
ciso destacar, entre outras, as seguintes: os es- dar os processos e sua relaçäo com os resulta-
mais características de cada escola. Quando observamos as características tudos se limitam a poucas áreas ou matérias dos ou, quando o fazem, isto ocorre através
No Reino Unido também, desde 1980, o dos três tipos de estudo, o que eles conse-
do currículo, assim os resultados não podem da seleção de determinadas variáveis que são
Departamento da Educação e Emprego (DEE) guem ou conseguirão fazer no caso da avalia-
ser estendidos à totalidade do currículo esco- trabalhadas estatisticamente para se obter,
vem publicando os resultados dos alunos nos
çäo diagnóstica é oferecer uma série de dados lar; o currículo é manipulado para enfatizar o em certos casos, medidas de associação entre
532 losé Gimeno Sacristán (ors.) Saberes e ¡ncertezas sobre o currículo 533

tais variáveis e as pontuações obtidas nas pro- ria, estes são estudos que abordam o desen- tituições ou os professores deviam responder, prestação de contas contratual, também não
vas e, em outros, para determinar se existem volvimento profissional e a melhoria do cur- oferecendo as informações e os dados solicita- se trata de um modelo de autoavaliação, já,
ou não diferenças significativas entre grupos rículo, e seu conhecimento não ultrapassa os dos. Esses dois tipos de autoavaliação têm per- que as escolas e os atores não têm a capacida-
formados parutal. A alternativa ou o comple- limites da comunidade escolar nos quais fo- durado até a atualidade, ainda que com modifi- de de decisão sobre os elementos fundamen-
mento desse tipo de estudo é fundamental- ram conduzidos. Não obstante, eles apresen- cações em seus fundamentos, suas temáticas e tais do estudo e, em troca, säo chamados a
mente as propostas de autoavaliação, promo- tam um conjunto de experiências que podem seus propósitos, se é que se pode continuar de- completar um questionário como em qual-
vidas pelos atores e pelas instituições educa- ser catalogadas como avaliações realizadas nominando da mesma maneira os estudos que quer outra avaliação externa, através do qual
cionais para saberem por si sós o que ocorre pelos professores nas escolas e cuja docu- dispöem de autonomia tanto na elaboração são obtidas informaçöes que permitem ava-
com o currículo de acordo com uma visão mentação puderam ter acesso depois de ter como na sua implementação e aqueles outros liar se está sendo implantado um modelo de
mais holística e integradora de seus diferentes realizado um apelo na imprensa da educação que precisam se limitar ao cumprimento dos gestão institucional e até que ponto isso está
elementos. Sua aceitação, ao contrário do que para que as escolas e os professores que tives- protocolos enviados à escola. ocorrendo. Na Espanha, a difusão e experi-
ocorre com as avaliaçoes externas, é muito sem participado de alguma experiência dessa Em determinado mo¡nento, as propostas mentaçäo desse modelo se deu no final da
maior por parte dos professores e tem a vanta- natureza fizessem contato com eles. Das res- de autoavaliaçäo da década de 1990 foram fei- década de 1990, com a administração do Par-
gem de que as tarefas de avaliação recaem nos postas recebidas, cerca de 200 consistiam na tas em um contexto mais amplo, como o da es- tido Popular. Posteriormente, com a transfe-
mesmos atores, que têm de elaborar e executar contribuição de documentos normativos e cola, e não foi rara a afirmação de que tais ex- rência das competências de educação às Co-
a seguir as atuações e os planos de melhoria. bibliografia em geral, e um grupo menor, periências se harmonizaram e foram compatí- munidades Autônomas, as comunidades de
Além disso, como assinala de modo inequívo- com cerca com 50 respostas, proporcionava veis com as avaliações externas realizadas pelos Castela e Leon, Madri e Valência têm adota-
co Kemmis (1986, p. 131), ao valorizar os es- informações e dados de açoes desenvolvidas serviços de supervisão ou inspeção escolar. do esse sistema nos últimos anos.
tudos de autoavaliação: por várias outras escolas de educação primá- Esse é o caso, por exemplo, do primeiro plano O outro tipo corresponde a propostas pró-
ria e secundária. de avaliação de escolas - o Plano EVA - Espa- prias, que têm como referência as contribuições
enfatizar o valor da autocrítica não significa Em relação à secundária, são descritos nha (1992), que foi feito na Espanha entre os que estäo sendo feitas desde os primeiros tem-
defender o isolamento de um programa. Ao com base na documentação oferecida os ca- anos de 1992 e L996 e no qual as escolas foram pos do surgimento da autoavaliação, tanto dos
contrário, é buscar o desenvolvimento do sos de quatro escolas nas quais a maior parte convidadap a úilizar alguns dos instrumentos círculos e movimentos acadêmicos, como, por
programa com base em um debate onde os
dos professores abordou de maneira conjunta de coleta de informação de tal plano para efe- exemplo, os da Teoria da Mudança, Melhoria
participantes possam adotar pontos de vista
e coordenada as atuações em temas como o tuar avaliações internas. Essa mesma orienta- da Escola e Pesquisa-Ação, quanto através das
mais amplos que os pessoais, chegando à vi-
são global do programa, dentro de um amplo
planejamento cooperativo de turmas para o ção de combinar as avaliações externa e interna experiências realizadas em diferentes projetos
contexto histórico. No entanto, também é re- ensino de grupos de diferentes capacidades, também ocorreu na França, (Guibert e Rever- europeus, ou seja, o Programa Sócrates, o
cordar que uma vez que um programa deixa a em uma escola típica mista; a revisão das ati- chon, 1996), e na Inglaterra, (Great Britain, Consórcio de Instituições para a Pesquisa e o
autocrítica para dar lugar à autoridade exter- vidades dos professores e do currículo em 1997). A inspetoria inglesa, Office for Standards Desenvolyimento da Educação na Europa (CI-
na, está perdendo sua autonomia como co- uma escola de educação secundária; o estudo in Education, Children's Services and Spills (1998) DREE), etc. Na experiência espanhola, desde o
munidade intelectual. do ensino e aprendizagem da linguagem em chegou inclusive a defender que, uma vez que a final da década de 1990, as Comunidades Au-
uma escola; e o plano de formação perma- autoavaliaçäo complementa a avaliaçáo externa tônomas da Catalunha e das Ilhas Canárias
Dentre os diferentes tipos de autoavaliação nente baseado na escola dos professores de realizada pela inspeçäo, a necessidade de que optaram por esse tipo de autoavaliação, que
que surgem no contexto das políticas anglo-sa- alunos com necessidades educacionais espe- as avaliações das escolas, com vistas a incre- conferia às escolas e aos professores a liberda-
xãs da accountability, o relacionado aos movi- ciais moderadas. Nos quatro casos, há o en- mentar sua eficácia e complementaridade, uti- de para apresentar seus projetos, oferecendo-
mentos da pesquisa-ação e da avaliação demo- volvimento da diretoria e dos professores na lizem os mesmos critérios e indicadores e até lhes apoio na forma de assessoramento, mate-
cráúica é o que assume os estudos do processo a realização dos projetos e, para algumas tare- mesmo técnicas similares às empregadas pela riais, instrumentos, etc. Além disso, a partir do
partir do questionamento do currículo por ob- fas, se dispôs da ajuda de assessores, embora inspeção. Essa proposta sempre tem gerado a ano 2003, na Andaluzia, e de 2005, em Astú-
jetivos e pela mediação das aprendizagens dos nem sempre tenha sido aceita a presença de recusa dos movimentos e autores partidários rias, são convocados, respectivamente, pelos
alunos por meio de testes e provas objetivas. participantes externos. da autoavaliação entenilida como proposta vin- Conselhos de Educação de ambos os governos
Sobre esse tipo de autoavaliação, há pou- O contrrírio desse modo de proceder, ou culada à melhoria do currículo e ao desenvol- autônomos, projetos de autoavaliação e me-
ca informação disponível nos estudos rcaliza- seja, a promoção da capacidade de decisão dos vimento profissional e institucional. lhoria, no primeiro caso, e projetos experimen-
dos entre meados da década de L970 e o iní- centros e dos professores para determinar os as- Atualmente, perduram os dois tipos de tais de autoavaliação, e melhoria das escolas,
cio da década de 1980, ou pelo menos são ra- pectos principais de seus estudos, a prestação autoavaliação assinalados. Um deles se en- no segundo. O propósito de ambos é envolver
ros os relatórios que foram divulgados, por de contas contratual, ou seja, a exigida pelos ad- quadra dentro do modelo de Gestão da Qua- os atores e as instituições no trabalho de revi-
exemplo, no Reino Unido. MacCormick e fa- ministradores, foi feito no Reino Unido através lidade, embora seja preciso assinalar que, são continuada de suas atividades docentes e
mes atribuem isso ao fato de que em sua maio- de protocolos ou listas de perguntas que as ins- como ocorria com os formatos utilizados na contribuir para a geraçâo de conhecimentos
Saberes e ¡ncertezas sobre o currículo 535
534 losé Gimeno Sacristán

cas, na década de 1990, de Institutos de Ava- GUSA, E. G.; LINCOLN, Y. S. Fourth generation NEAVE, G. Educación superior: historia y política:
institucionais com os quais se possa fundamen-
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tar seus desenvolvimentos curricular, institu- liação e/ou Qualidade ou de serviços ou or-
GUIBERT, N.; REVERCHON, A. A chacun de se poránea. Barcelona: Gedisa, 2001.
cional e profissional. Nessa ocasião, também se ganismos do mesmo tipo que têm se encarre-
saisir des outils de l'évaluation: un entretien ave C NEAVE, G.; VAN VUGHT F. A. Prometeo enca-
ofereceu a liberdade para a apresentação de pla- gado de implantar as diferentes avaliaçöes denado: estado y educación superior en Europa.
Claude Thelot, directeur de lëvaluation. Le Monde
nos e projetos, os quais, por sua vez, contam externas, que são realizadas nos contextos de I'Education, n. 240, p.34-38, sep. 1 996. Barcelona: Gedisa, 1994.
com apoios, no que se refere à difusão de seções nacionais. Por outro lado, quanto a seus pro- HOUSE, E. R. Tendencias en evaluación. Revista de OFFICE FOR STANDARDS IN EDUCATION,
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incorporem as tarefas habituais dos docentes. foques e outras propostas que, centrando-se KEMMIS, S. Seven principles for Program evalua- PARA LA EDUCACION, LA CIENCIA Y LA
Para isso, a modalidade de autoavaliação que nos processos e adotando uma dimensão for- tion in curriculum-development and innovation. CULTURA. ReJlexiones en torno a lø evaluación de
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surgiu com o comprometimento das institui- mativa, vêm deixando de lado a tradiçäo psi-
tionøI evaluation. Lewes: The Palmer Press, 1986. p. Santiago: UNESCO, 2008.
ções e dos atores pode ser o veículo pelo qual cométrica para aproveitar as experiências e
ll7 -140. PARLETT, M.; HAMILTON, D. Evaluation as ilu-
se compartilhariam os problemas e as inquie- contribuiçoes da sociologia, da história, da mination. In: TAWNEY, D. Curriculum evaluation
LECOMPTE, M. D. Un matrimonio conveniente:
tudes profrssionais, seriam trocadas as experi- antropologia, entre outras áreas, razâo pela diseño de investigación cualitativa y estándares today : trends and implications. London: MacMillan,
ências inovadoras que estão sendo realizadas e qual tem se chegado a uma situação caracte- para la evaluación de programas. RettistaElectrónica 1976.
se identificariam todos aqueles componentes e rizada por certo pluralismo metodológico. de Investigación y Evaluación Educativa, v. 1, n. 1, SAI-INDERS, L. Work in 'value-added' analysis of
atribuições curriculares e institucionais que No panorama atual da avaliação curricu- t982. schools'pertormance at the National Foundation for
podem ser objeto de aperfeiçoamento. Näo lar, observa-se toda uma série de desafios re- MACDONALD, B. Evaluation and the control of Educational Research (NFER). Infancia y Aprendiza-
obstante, para assegurar a viabilidade e conti- lacionados, entre outros pontos, à necessida- education. In: TAWNEY, D. Curriculum evaluation je, n. 85, p. 19 -32, 1999.
nuidade desse tipo de estudos e indagações, é de de que as avaliaçöes externas realizadas today: trends and implications. London: Mac Mil- STAKE, R. E. Responsive evaluation. New Trends
lan,1976. in Ev aluation, n. 35, 197 4.
necessário que eles não sejam desvinculados pelos Institutos de Avaliação sejam comple-
ESPANHA. Ministerio da Educação. PIan de eva- STAKE, R. E. Standards-based and responsive e'va-
do desenvolvimento profissional e da forma- mentadas por avaliações independentes que
Iuøción de centros docentes; niveles no universi- Iuation. London: Sage, 2004.
ção dos professores, que a geração de conheci- ofereçam informações e dados além das me-
tários: programa piloto para el curso 199l-1992. STENHOUSE, L. Investigación y desarollo del cur-
mentos seja incorporada aos projetos institu- dições dos conhecimentos dos alunos; e à rículum. Madrid: Morata, 1984.
Madrid: MEC,1992.
cionais, ficando registrados e formalizados em adoção de medidas que apoiem propostas de
NEAVE, G. On the cultivation of quality and THOMAS, S. Medir el valor añadido de la eflcacia
diferentes documentos para sua difusão e que autoavaliação nas quais se respeite e promova enterprise: an overview of recent trends in higher de las escuelas en el Reino Unido. Perspectivas, v.
se avance na criação de propostas interinstitu- a capacidade de decisão das instituições e dos education in Western Europe, 1986-1988. European 28, n. 1, p.l0l-122, mar. 1998.
cionais e de redes de escolas. atores da educação para indagar sobre o co- Journal of Education: research, development and WHITTY, G.; POWER, S.; HALPIN, D. La escuela,
nhecimento dos processos que contribuem policies, v. 23, n. I -2, p. 7 -23, 1988. eI estado y el mercado. Madrid: Morata, 1999.
para a melhoria e a renovação do ensino.
uM BArANç0 Ambas as atuações são imprescindíveis para
a melhoria de nossos sistemas de educação.
A avaliação do currículo, que começou
sua história por volta da década de 1930, tem
estado vinculada, em sua confrguraçãb como REFERÊNCIAS
campo de estudo e prática profissional, tanto
pela definiçäo das políticas educacionais dos ANGULO RASCO, J. F.; CONTRERAS DOMIN-
GO, J.; SANTOS GUERRA, M. A. Evaluación edu-
países do mundo ocidental quanto pelo de-
cativa y participación democ¡ática. In: ANGULO,
senvolvimento e pela consolidação da avalia-
J. F.;BLANCO, N. (Comp.). Teoría y desarrollo del
çäo de programas. Com 9 passar do tempo, a currículum. MâIaga: Aljibe, 1994. p.343-354.
avaliaçáo curricular, por um lado, tem adqui- DEMAILLY, L. et al. Evaluer les établissements sco-
rido uma crescente importância no surgi- laires enjeux, expériences, débats. Paris: L'Harmat-
mento dos sistemas educacionais, até chegar tan, 1998.
a assumir um protagonismo central com a GREAT BRITAIN. House of commons: Excellence
criação, por parte das administraçoes públi- in Schools. London: The Stationery Office, 1997.

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