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Liberdade de Expressão – Voto ADI nº 1969

João Victor Vasconcelos de Sousa

AÇÃO DIREITA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 1969 – DISTRITO


FEDERAL (DF)

VOTO:

Sr. Presidente, peço vênia ao ilustre Relator. Contudo, alinho-


me mais ao caminho proposto pelo Ilustríssimo Ministro Nelson Jobim. Não há direito
absoluto dentro da lógica sistêmica da Constituição Federal de 1988.

Parece-me simplório e, em certa medida, presunçoso afirmar


que o direito de reunião, previsto no art. 5º, XVI, CF é absoluto.

Gostaria de pintar um cenário, semelhante a uma casa, no qual,


para seguirem minha memória de raciocínio, precisamos enxergar por meio das janelas
dessa casa.

Em primeiro lugar, parece-me pacífica a ideia de que uma


norma jurídica – no caso concreto, uma norma constitucional – possua duas estruturas
que a componham: texto em sentido estrito (o quê) e a justificação subjacente da norma
(por quê). Existem, então, dois fundamentos que sustentam uma norma constitucional.
O que o texto diz (forma) e porque o texto diz o que diz (“espírito da lei”).

Para concretizar um ideal democrático de direito de reunião, é


preciso dar-lhe concretude e trazê-lo à vida dentro do ordenamento jurídico. Com isso,
conclui-se que o espírito precisa de forma. Porém, o contrário também se sustenta: a
forma precisa do espírito. Precisamos de formas: guias, pontos de referências,
linguagens, tradições, regras. Elas nos ajudam a acessar e concretizar um ideal o qual
chamei de espírito.

O direito de reunião tem como espírito, o ideal democrático de


livre circulação e reunião em locais públicos. Porém, a realidade nos demonstra que um
ambiente sem qualquer tipo de regramento ou imposição de algum grau mínimo de
limites, não existe. Um dos primeiros princípios da Economia reside no fato de que os
recursos são finitos. Os recursos não são absolutos e sem qualquer limitação.

Portanto, é preciso reconhecer que as formas e limitações são


necessárias. A questão que se apresenta é: até que ponto? É o que fazemos nos casos
concretos e que utilizamos a regra de ponderação e proporcionalidade. Veja-se:

Não obstante os dois critérios de realização fática, pode ocorrer que os dois
princípios se mantenham aplicáveis ao caso, o que leva à situação de um
deles vir a limitar o âmbito de atuação do outro. Esse é o limite jurídico,
que, de acordo com o modelo teórico da ponderação, deve ser resolvido pelo
chamado princípio da proporcionalidade em sentido estrito. É a técnica de
aplicação deste terceiro subprincípio que demanda a ponderação de valores.
Apesar da denominação, diante de tudo o que foi dito acima sobre regras e
princípios, estes devem ser concebidos com regras de otimização de
condutas para a máxima realização dos valores que os sustentam. Assim,
diante de uma concorrência de princípios, o esforço hermenêutico deve se
voltar para a realização máxima de um para justificar que o outro não seja
aplicado. Ou seja, o peso das razões para a aplicação de um princípio deve
ser maior do que o do outro no caso concreto

(ADPF 54, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em


12/04/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 29-04-2013
PUBLIC 30-04-2013 RTJ VOL-00226-01 PP-00011).

Entendo que o direito contido no art. 5º, XVI, CF não é


absoluto, como também necessita de limites. É preciso forma até que ela se torne uma
armadilha.

Surge a problemática: como definir este limite? Sugiro dois


caminhos a este Plenário: (i) selecionarmos critérios para ordenação de consequências e
a justificar sua preferência por certa alternativa em casos em que critérios diferentes
possam ser aplicáveis; (ii) impor ônus de determinação do sentido dos critérios de
valoração utilizados.

Tem-se, portanto, uma metodologia da forma para o direito


constitucional de reunião.

Com isso, sugiro que este Plenário vote no sentido de direito não
absoluto e nos debrucemos quanto aos critérios a ser aplicados a fim de que o direito de
reunião seja plenamente exercido e garantido.
Diante do exposto, VOTO no sentido de acompanhar o Ministro
Nelson Jobim e, caso os iminentes pares estejam de acordo, proponho que os critérios
da segurança nacional, interesse público e o princípio democrático sejam os critérios-
balizadores do direito de reunião. Todos, necessariamente, a serem justificados no caso
concreto.

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