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1.1.

Definição

Para José Pereira Reis, é sistema de normas jurídicas que, tendo em vista as relações do
homem com o meio, prossegue os objectivos de conservação da natureza, manutenção dos
equilíbrios ecológicos, salvaguarda do património genético, protecção aos recursos naturais
e combate às diversas formas de poluição.

Edis Milaré, complexo de princípios e de normas coercivas reguladoras das actividades


humanas que, directa ou indirectamente, possam afectar a sanidade do ambiente em sal
dimensão global, visando à sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações.

1.2. Objecto do Direito do ambiente:

Em primeira instância o objeto do Direito ambiental é a garantia da vida humana e


subsidiariamente a garantia a todas as formas de vida.

Actualmente o Direito Ambiental evoluiu de tal modo a garantir proteção à vida em todas
as suas formas, como também, no intuito de efetivamente proteger outras formas de vida,
tornando o Direito Ambiental como instrumento de proteção à vida latu sensu; sendo,
portanto, seu objeto, a vida em toda sua extensão.

Logo, o objeto do Direito Ambiental se divide na fixação do bem a ser protegido (a vida) e
o estabelecimento de regimes de utilização saudável dos recursos.

1.3. Objectivos do Direito do ambiente:

Estabelecer um regime jurídico que assente na política de desenvolvimento sustentável,


tendo presente, por um lado, as necessidades de protecção e conservação do ambiente,
estabelecendo-se um quadro legal que previna e combata os danos ambientais sérios e
irreversíveis.

As necessidades de desenvolvimento económico nos inúmeros Estados e regiões.

Relação entre o Homem e a Natureza, baseada nos postulados da ética, da racionalidade,


do equilíbrio, da sustentabilidade e da equidade.

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1.4. Características do Direito do Ambiente:
 Globalidade ou universalidade: O D. ambiente é um direito global ou universalista,
isto porque, ultrapassa em larga medida, a visão local ou regional. Grande parte dos
problemas ambientais tem um impacto que transborda o local da sua ocorrência, não
podendo jamais ser encarados numa mera óptica casuística ou isolacionista.
 Autonomia: O D. ambiente é um direito autónomo, isto por que possui o seu
próprio regime jurídico, objectivos, princípios, sistema internacional do meio
ambiente. Contudo ele não é autónomo em relação aos demais ramos do direito,
mesmo porque eles também não são. Há sim uma constante simbiose e muitos
conceitos são extraídos dos diversos ramos do direito, adaptando-se ao Direito
Ambiental.
 Interdisciplinaridade: O D. ambiente apela aos conhecimentos das restantes
ciências sociais e das ciências naturais. Esta fortemente associado às mais diversas
áreas do saber, tais como: economia, sociologia, geografia, demografia, química,
biologia, ecologia, etc.
 Horizontalidade ou Transversalidade: Traduz-se na importância dos conceitos,
meios, institutos e instrumentos dos diferentes ramos clássicos do direito na
ordenação jurídica do ambiente. Dai que a doutrina tenha identificado e desenvolvido
diversos capítulos do direito do ambiente, tais como: o direito constitucional do
ambiente, o direito penal do ambiente, direito fiscal do ambiente, etc. portanto é um
direito que apela ao conhecimento de quase todos os ramos clássicos, exigindo do
interprete e aplicador a percepção de tal horizontalidade.

1.5. Subespécies/subdireitos do Direito do Ambiente:

Destacam-se alguns dos principais subespécies do Direito do Ambiente reconhecidas pela


Doutrina as seguintes:

O Direito da Protecção e Conservação da Natureza

É assim entendido como Direito Especial do Ambiente ou Direito Ambiental Especial,


segundo Fernando Condesso.

O Direito da Protecção e Conservação da Natureza é, portanto, um direito com princípios e


normas muito específicas, em virtude da essência peculiar do interesse geral de protecção e

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conservação dos componentes florestas e fauna bravia e ainda, note-se, os respectivos
ecossistemas e habitats.

Nele é possível encontrar diversas subdivisões, se assim lhes podemos chamar, em função
das necessidades específicas de protecção dos diferentes objectos: direito dos habitats;
direito das zonas húmidas; direito sobre espécies selvagens; direito sobre espécies não
indígenas; direito da protecção dos animais em vias de extinção; o direito de caça e de
pesca; as normas referentes aos jardins zoológicos; as normas referentes as experienciam
em animais.

O direito de Protecção e Conservação da Natureza visa essencialmente a protecção de dois


objectivos fundamentais:

 Estabelecimento de um regime de protecção dos componentes ambientais flora e


fauna bravia e respectivos ecossistemas e habitats, através da criação de zonas de
protecção, da fixação de limites totais ou absolutos ao uso e aproveitamento de
determinadas espécies de flora ou fauna, da criação de obrigações específicas de
promover o repovoamento de espécies em determinadas áreas, etc.
 Definição dos princípios, regras, procedimentos e requisitos para o uso e
aproveitamento dos componentes floresta e fauna bravia, segundo uma via
fundamentalmente conservacionista, isto é, que permita a utilização regrada ou
sustentada destes componentes, com vista a satisfazer as necessidades humanas
actuais e futuras.

O Direito das Águas

Ao aludirmos ao Direito das Águas, devemos, desde logo, referir a Lei no 16/91 de 3 de
Agosto, conhecida como Lei de Águas.

Para que o uso da água pelos múltiplos interessados não prejudique as necessidades de
alguns, torna-se indispensável criar mecanismos conducentes à sua distribuição ou
fornecimento na medida das necessidades de cada um. Esta é portanto, a finalidade central
da Lei de Aguas, a qual, desde já se assinala, não pretende regulamentar exaustivamente o
problema da planificação, gestão e utilização dos recursos hídricos, mas sim estabelecer as
bases fundamentais para uma abordagem correcta, bem como para a resolução da
problemática.

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O Direito das Águas possui, em termos doutrinais e legais, alguns princípios específicos
que passamos a referir:

 Principio dos usos múltiplos e do uso integrado: significa que se deve


racionalizar e optimizar ao máximo o aproveitamento dos recursos hídricos, tendo
presentes os vários usos possíveis, bem como as necessidades diferenciadas
existentes. Deve-se assim, prosseguir uma política de reutilização de cada recurso
hídrico, com preocupação especial pelos factores qualidade e quantidade das águas.
 O princípio da prioridade do uso e aproveitamento dos recursos hídricos para
consumo humano e satisfação das necessidades humanas sobre os demais usos,
substanciado no art. 26 da Lei de Águas. Este principio é reconhecido no
ordenamento jurídico moçambicano, tendo em conta que a maioria da população
moçambicana não tem acesso imediato a água potável.
 O princípio da unidade de coerência de gestão das bacias hidrográficas e dos
aquíferos subterrâneos. consagrado na alínea a) do numero 1 do artigo 7, que
determina essencialmente que toda a gestão dos recursos hídricos se faça de acordo
com as chamadas unidades básicas naturais o que pressupõe necessariamente
regular as fronteiras administrativas internas e internacionais para o segundo plano,
pois os problemas inerentes a gestão dos recursos hídricos são os mesmos dos
restantes países e que a mesma bacia hídrica pode ser partilhada por diversos
países.

Direito do Património Cultural

O direito do património cultural traduz-se na existência de uma dimensão cultural na


perspetiva ambiental bem como em uma dimensão ambiental na perspetiva cultural.

Nesta senda, José Casalta, citado por Carlos Cerra, define o direito de património cultural
como conjunto de normas de direito público que estabelecem o regime de proteção dos
bens culturais.

Em moçambique a inserção do direito do património cultural insere-se na noção ampla do


ambiente prevista no numero 2 do artigo 1 da lei do ambiente. Decorre igualmente do
preceituado no artigo 11 do mesmo dispositivo legal.

Para além da lei do ambiente o direito do património cultural é também é tutelado pela lei
número 10/88 de 22 de dezembro, Lei do património cultural.

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A luz do numero 1 do artigo 1 da lei supracitada, constitui património cultural o conjunto
de bens materiais e imateriais criadas ou integrados pelo povo moçambicano ao longo da
historia, com relevância para a definição da identidade cultural moçambicana. Cfr. Art. 4
da lei do património cultural.

Assim, o património cultural tem como objeto a definição de um regime jurídico,


composto por princípios e normas de natureza geral e especifica, visando a proteção,
preservação conservação, salvaguarda, valorização, revitalização e fruição dos bens
materiais e imateriais que se revelam essenciais à definição da identidade cultural
moçambicana.

Direito dos Resíduos

Este direito não assenta no uso e aproveitamento de um determinado componente


ambiental, que importa proteger e conservar, mas sim, e na problemática da gestão dos
resíduos decorrentes da multiplicidade e diversidade das actividades humanas.

No ordenamento jurídico moçambicano, há que atender ao Regulamento sobre a Gestão de


Resíduos, aprovado pelo Decreto, no 13/2006 de 15 de Junho, que embora esteja longe da
perfeição em termos técnico-jurídicos, consagra alguns aspectos importantes dignos de
para o estudo do Direito dos resíduos.

Este direito possui um quadro significativo de princípios ao nível da legislação


internacional de diversos Estados, bem como na doutrina, dos quais evidenciamos os
seguintes:

O princípio dos 3R (definição de um quadro jurídico dirigido à redução, reutilização e


reciclagem dos Resíduos sólidos urbanos (RSU), devendo para o efeito, ser gradualmente
adoptadas as medidas administrativas, fiscais e legais que se revelarem necessárias e
adequadas).

Princípio da responsabilidade do produtor (o produtor publico e privado de Resíduos


sólidos urbanos (RSU), é responsável pela respectiva recolha, transporte, tratamento e
destino final).

Define-se o Direito de Resíduos como conjunto de princípios e normas jurídicas visando a


definição e regulamentação de um sistema de gestão de resíduos, que integre todos os
procedimentos viáveis nom vista a assegurar um gestão ambientalmente segura,

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sustentável e racional dos resíduos, tendo em conta a necessidade da sua redução,
reciclagem e reutilização, incluindo a colocação, recolha, segregação, manuseamento,
transporte, armazenamento e/ ou eliminação, bem como a posterior protecção dos locais de
eliminação, por forma a proteger a saúde humana e o ambiente contra os efeitos nocivos
que deles podem advir.

Este Direito visa, em especial, a prossecução dos seguintes objectivos fundamentais:

 A melhoria progressiva das condições socias dos cidadãos, na sequência de um


maior e progressivo envolvimento destes no sistema de gestão dos resíduos, através
da facilitação do envolvimento e desenvolvimento local.
 A melhoria das condições ambientais, higiénicas, de saúde pública e de ordem
estética, com especial destaque para o desenvolvimento do sistema de saneamento
urbano e a redução do impacto ambiental causado pelos resíduos, através da
redução, reutilização e reciclagem.
 Uma maior e progressiva participação do sector privado na gestão de resíduos, não
apenas quanto às actividades de recolha, transporte e deposição, mas
fundamentalmente em relação às actividades de aproveitamento (reciclagem e
reutilização).

2. A problematica Ambiental/ O homem e o ambiente

Os principais problemas ambientais


Aquecimento global
O aquecimento global é o aumento da temperatura media terrestre, causado pelo acumular
de gases poluentes na atmosfera.

O aquecimento global acontece com o aumento na concentração dos gases de efeito de


estufa, provocando a alteração nas trocas de calor, ficando a maior parte retida na
atmosfera. Em consequência ocorre o aumento da temperatura que causa o aquecimento
global.

Causas do aquecimento global


A principal causa do aquecimento global é a emissão de gases de efeito de estufa. Existe
varias actividades que produzem esses gases as principais são:

 Uso de combustíveis: a queimada de combustíveis fosseis usadas em automóveis;


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 Produção de eletricidade a partir de combustíveis fosseis: este é um dos
principais factores que imitem dióxido de carbono para a atmosfera;
 Desflorestação: a desflorestação não só destrói grandes áreas de florestas como
também liberta gases de efeitos de estufa;
 Actividade industrial: as industrias que fazem uso de combustíveis fosseis
também são responsáveis pela emissão de gases poluentes.
Consequências
Os gases poluentes formam uma espécie de estufa a volta do planeta. Eles impedem que a
radiação solar se espalhe para o espaço. As principais consequências do aquecimento
global são:

 Alteração da fauna e da flora em todo o planeta;


 Derretimento de grandes massas de gelo das regiões polares, aumento de nível de
aguas do mar;
 Aumento de casos de desastres naturais como inundações, tempestades, furacões,
 Extinção de espécies;
 Secas mais frequentes;
 Desertificação das áreas naturais.

Degelo e subida do nível das águas do mar

O degelo é um fenómeno causado pelo aquecimento global, desencadeado pela


intensificação de efeito-estufa, onde ocorre o derretimento do gelo no Ártico e em varias
partes do mundo.

Causas
Para a subida das águas do mar ocorre com o derretimento de gelo proveniente dos
glaciares e não, como acontece com o oceano Ártico, isto é o gelo marinho. O maior
problema constitui antes o gelo continental existente na maior reserva de água doce do
mundo, a Antárctica, bem como nos glaciares localizamos nos diversos continentes, pois,
derretendo-se, contribui substancialmente para subida do nível das águas do mar.

Consequência

Como consequência do degelo, verifica-se o aumento do nível das águas do mar. Sobre
este problema, registou um aumento global do nível médio do mar de 10 a 20 centímetros
nos últimos, 100 anos, mais do que metade do que havia subido nos 2000 anos anteriores.

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Destruição de camada de ozono
Hoje sabe-se que à diminuição de camada de ozono, com efeito principalmente nos pólos,
constitui uma ameaça seria e preocupante para o Homem (destaca-se os riscos de cancro de
pele) e grande parte das de mais formas de vida.

Causa
Tal como o aquecimento global, este problema também tem como causa a poluição
atmosférica resultante de inúmeras actividades humanas. Neste caso, a principal causa
advém dos chamados CFC (clorofluorcarbonetos), descobertos a partir de 1930. A
libertação de CFC, na atmosfera produz, em combinação com os efeitos da radiação
acelerado a destruição do ozono, em algumas partes mais rápido do se forma.

Consequências
Aumento dos raios ultravioleta(UV) altamente energético. Estes raios ao atingirem a terra
vão promover a destruição das proteínas, e do ADN, provocando o cancro da pele,
cataratas, alterações no sistema imunitário, danos nas colheitas.

Destruição da biodiversidade
Focando a questão de desflorestamento, François Ramade afirmou: ao longo dos séculos
a madeira tem sido utilizada como fonte de energia, como material e como matéria-prima.
Pelo menos 80% da desflorestação do terceiro Mundo destina-se à produção de
combustível. A exploração de madeira como material de construção provoca um
desperdício enorme, porque 90% das árvores abatidas, sem valor comercial, são
abandonadas ou queimadas no próprio local do corte. Iniciada pelas potências europeias, a
exploração das florestas prosseguiu ate aumentou, após a independência dos países
tropicais.

Segundo Yves Bergeronat AL, explicam que: as consequências, de tal conduta


humana assumem um carácter irreversível, isto porque, em algumas zonas do mundo, as
florestas cortadas se regeneram bastante lentamente, tendo em conta principalmente o rigor
do clima. a floresta é uma aquisição de climas passados e a reflorestação pode ser
impossível sob o clima actual.

Para PierPfeffer, diz o seguinte: Independentemente da destruição global da


biodiversidade como consequência do desaparecimento das florestas temos ainda a acção
humana directa sobre inúmeras e necessárias espécies animais, motivada pelas mais
variadas razões.
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Já para Tim Flannery apresenta que: os cientistas apresentaram um quadro
demonstrando o impacto das mudanças climáticas na distribuição e dinâmica da
biodiversidade. As causas são diversas: sobre a exploração pesqueira, o despejo de águas
residuais e subida de temperaturas da água do mar em consequência do aquecimento
global.

A problemática da água
A água é o recurso mais abundante no planeta terra, pois ocupa 71% da água suficiente.
Porem, trata-se de uma abundância relativa, visto que 97% da água é salgada, encontrando-
se nos oceanos e mares interiores, e só os restantes 3% correspondem a água doce. Ora
deste total de água doce 70% corresponde a água em estado sólido que se encontra nos
pólos e glaciares, por conseguinte, apenas 0,65% constitui reserva de recursos hídricos
para uso Humano. A problemática das águas esta associada às alterações de suas
características físicas, químicas e biológicas, que prejudicam seu uso.

Principais fontes de poluição dos recursos hídricos


São as atividades econômicas (agropecuária, serviços e indústria) e os esgotos domésticos.
Aproximadamente 40% da poluição das águas é de origem das atividades agropecuárias.
Embora as indústrias e os esgotos domésticos provoquem alterações menores na qualidade
das águas, as indústrias geram efluentes com elevadas concentrações de matéria orgânica,
metais pesados, compostos tóxicos etc. podendo provocar grandes desastres ecológicos.

Os efeitos da poluição das águas


A poluição das águas tem efeitos negativos sobretudo à saúde humana. A contaminação
microbiológica das águas, pelo lançamento inadequado de esgoto sem tratamento, pode ser
responsável pela contração de diversas doenças parasitárias. Além da restrição do uso para
fins domésticos, a água poluída pode prejudicar sua utilização por determinados ramos
industriais, pela pesca, recreação, navegação, agricultura e pecuária.

Degradação do solo

Problemas relacionados à degradação do solo


Os principais problemas relacionados à degradação do solo são: a erosão, a desertificação,
a salinização ou saturação por excesso de água na superfície. A contaminação do solo por
agrotóxicos ou metais pesados representa um grande problema à sociedade.

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A degradação do solo, portanto, além de resultar em elevados custos para as gerações
presentes, tira a oportunidade de as gerações futuras obterem a mesma produtividade na
produção agrícola. O solo também é afetado por atividades não-agrícolas, como a
mineração, as obras de infraestrutura, os assentamentos urbanos e industriais, entre outras.
Os metais pesados utilizados pela indústria representam um risco à saúde e ao meio
ambiente, quando descartados de maneira inadequada.

A busca pelo desenvolvimento sustentável


No final da década de 1970, foi iniciada a busca por um modelo alternativo de
desenvolvimento que estimulasse o crescimento econômico e ao mesmo tempo
promovesse a manutenção e melhoria da qualidade de vida. Dessa maneira, foi traçado o
caminho rumo ao desenvolvimento sustentável, definido como um caminho de progresso
social e econômico que objetiva satisfazer as necessidades das gerações presentes sem
comprometer a disponibilidade de recursos naturais às gerações futuras (Relatório
Brundtlan)

De acordo com Watanabe (2002) a Agenda 21 Global indica as estratégias para se atingir o
desenvolvimento sustentável. Está estruturada em quatro seções:

 Dimensões sociais e econômicas - nessa secção são discutidas as políticas


internacionais que podem auxiliar os países pobres a alcançarem o
desenvolvimento sustentável; as estratégias para combater a pobreza e a miséria; a
necessidade de introduzir mudanças nos padrões de produção e consumo; as inter-
relações entre sustentabilidade e dinâmica demográfica; e as propostas para a
melhoria da saúde pública e da qualidade de vida dos assentamentos humanos;
 Conservação e gestão dos recursos para o desenvolvimento - refere-se ao
manejo dos recursos naturais e dos resíduos e substâncias tóxicas de maneira a
garantir o desenvolvimento sustentável;
 Fortalecimento do papel dos principais grupos sociais - destaca as ações
indispensáveis para promover a participação dos diferentes segmentos sociais nos
processos decisórios. Indicam-se medidas para a garantia da participação dos
jovens, dos indígenas, das ONGs, dos trabalhadores e sindicatos, da comunidade
científica e tecnológica, dos agricultores e dos empresários do comércio e da
indústria;

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 Meio de implementação - aborda os mecanismos financeiros e instrumentos
jurídicos nacionais e internacionais existentes e a serem criados, objetivando a
implementação de programas e projetos orientados para a sustentabilidade.

3. Consciencialização da questão ambiental

A questão ambiental é um tema importantíssimo, e deve ser amparado pela tutela


jurisdicional de todos os países do globo terrestre, já que é património humano e, é deste
bem único que depende a sobrevivência de todas as espécies vivas. Além disso, por ser o
meio ambiente um direito fundamental, é responsabilidade não apenas do Poder Público a
sua conservação e protecção, antes disso, é dever da sociedade em geral.

Nesse aspecto, com a implantação de Políticas Públicas destinadas a educação ambiental,


há grandes possibilidades de reduzir as agressões que afectam o meio ambiente e apontar a
melhor forma de usufruir deste património, sem o temor de que esta preciosidade única,
que é o ecossistema ambiental, possa esgotar-se caso as atitudes humanas não mudem, de
modo a contribuir para a percepção dos seres humanos em relação a importância de zelar
pela esfera ambiental.

4. Resenha histórica e jurídica ambiental

A nível de legislação internacional ambiental importa referir que foi precisamente no


domínio da conservação da Natureza que foram dados passos significativos e bastante
importantes. Data de 1882 a celebração da primeira convenção destinada à protecção das
baleias.
Alexandre Kiss referiu a Convenção de Paris de 19 de Março de 1902, destinada a proteger
determinadas espécies de aves uteis à agricultura, como a primeira convenção internacional
de caracter multilateral.
Temos também a Convenção de Londres, de 8 de Novembro de 1933, referente a
conservação da flora e da fauna em estado natural em Africa.
Temos ainda a Convenção de Washington de 12 de Outubro de 1940, que tinha como
objecto a protecção da flora, fauna e belezas panorâmicas da América, prevendo também a
criação de áreas de conservação.

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5. Conferência de Estocolmo

A ONU tomou a decisão de convocar entre os dias 5 e 16 de Junho de 1972, em


Estocolmo, capital da Suécia, as Nações Unidas realizaram a conferência internacional
sobre o meio ambiente Humano (conhecida como conferencia de Estocolmo), subordinada
ao tema “ o Homem e o seu meio ambiente: as bases de uma vida melhor”, que contou
com a presença de mais de 400 instituições governamentais e não-governamentais e teve
participação de 113 países. Foram aprovados dois documentos-chave: uma declaração de
princípios e o plano de Acção para o Ambiente, composto por 109 recomendações,
dirigidas aos Estados e às Organizações Internacionais.

Na declaração adoptada, que comporta vinte e seis princípios, proclamou-se que “ a


protecção e a melhoria do ambiente são questões de grande importância que afectam
o bem-estar dos povos e o desenvolvimento económico do globo; correspondem aos
votos ardentes dos povos do mundo inteiro e constituem o dever de todos os Governos”.

Já quanto aos princípios fixados pela declaração, institui-se que “ a pessoa humana tem
direito fundamental a liberdade, a igualdade e a condições de vida satisfatórias, num
ambiente cuja qualidade lhe permita viver com dignidade e bem-estar. Cabe-lhe porem o
dever solene de proteger e melhorar o ambiente para as gerações actuais e vindouras”. E
neste princípio que encontra-se o fundamento para o processo de constitucionalização do
direito fundamental ao ambiente, iniciado em muitos Estados apos a realização de
conferência citada.

Importância

Essa conferência foi de extrema importância para controlar o uso dos recursos naturais
pelo homem, e lembrar que grande parte destes recursos além de não serem renováveis,
quando removidos da natureza em grandes quantidades, deixam uma lacuna, ás vezes
irreversível, cujas consequências virão e serão sentidas nas gerações futuras.

6. A Conferencia do Rio de Janeiro


Assim, vinte anos depois da Conferência de Estocolmo, As Nações Unidas voltam a
reunir-se, entre os dias 3 e 14 de Junho de 1992, para abordar a problemática ambiental,
realizando a Conferência sobre o Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida para a
posteridade como Conferência do Rio de Janeiro, por ter tido lugar na cidade do Rio de
Janeiro, no Brasil. Foi, até esse momento, a maior reunião internacional jamais realizada,
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tendo participado 172 Estados, 116 deles na pessoa do respectivo chefe de Estado ou de
Governo.

Em termos de produtividade, o registo foi bastante positivo: foram adoptados cinco


instrumentos, a saber: a Convenção sobre a Diversidade Biológica, a Convenção sobre
as Alterações Climáticas, uma declaração de princípios gerais (conhecida como
Declaração do Rio, a qual agrega vinte e sete princípios), uma Declaração sobre a
Gestão, Conservação e Exploração Ecologicamente Viável das Florestas e a Agenda
21, que se traduziu num grandioso plano de accao, incorporando 115 accoes a realizar em
concreto e respectivo financiamento.

Foi na Declaração do Rio de Janeiro que o conceito de desenvolvimento sustentável


ganhou definitivamente expressão ao nível internacional. Surgindo, com especial destaque,
nos principios III, IV, V, VII e IX desse documento.

Aos Estados cabem responsabilidades no dominio da sua jurisdicao no sentido de


assegurarem que as actividades desenvolvidas não causem danos ao ambiente alem dos
limites da jurisdicao nacional.

Constituíram novidades importantes da Declaração do Rio de Janeiro as questões da


participação dos cidadãos no processo de tomada de decisões, por um lado, e do acesso às
fontes de informação, por outro.

Este documento integra ainda uma recomendação aos Estados para que enveredem
seriamente pelo processo de elaboração de legislação ambiental, com particular enfase para
a matéria de responsabilidade civil por danos ao ambiente.

Foi também na Declaração do Rio de Janeiro que os princípios da precaução, do poluidor


pagador (PPP) e da avaliação do impacto ambiental foram definitivamente consagrados no
Direito Internacional do Ambiente, e, em consequência, começaram a ser recebidos nos
ordenamentos jurídicos estaduais.

Finalmente, acordada, na Conferencia do Rio de Janeiro, a criação de uma nova instituição


das Nações Unidas – a Comissão de Desenvolvimento Sustentável (conhecida pela sigla
CDS10). É formada por representantes de 53 países, eleitos entre os Estados membros das
Nações Unidas, segundo uma base geográfica. Tem como finalidades essenciais: a
monitorização da implementação da Agenda 21, o desenvolvimento de parcerias entre
ONU e organizações não-governamentais, o incentivo à criação de comissões nacionais de
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desenvolvimento sustentável e a definição de políticas e estratégias de desenvolvimento
sustentável.

Do Rio de Janeiro a Johannesburg


Não obstante todos os esforços que a Comunidade Internacional tem vindo a realizar para
assegurar uma maior qualidade de vida aos povos da Terra, por um lado, e a melhoria do
próprio Planeta, por outro, os problemas identificados no início da década de 90,
continuam a colocar em causa a defesa e o equilíbrio do ambiente, e, consequentemente, o
próprio desenvolvimento das próximas gerações de seres humanos. Agravou-se o problema
do aquecimento global, registou-se uma diminuição da camada de ozono, agudizou-se a
questão da insegurança alimentar, intensificou-se o ritmo de destruição da biodiversidade,
bem como o aceleramento do número e envergadura das catástrofes naturais. Estes
senários justificaram as inúmeras dificuldades para a implantação da Agenda 21, que
resultou da C. Rio de Janeiro.

Alguns Estados, pertencendo principalmente ao bloco dos países industrializados, não dão
sinais de pretender uma verdadeira mudança, evitando assumir a causa ambiental em
termos verdadeiramente sérios e honrar os compromissos assumidos internacionalmente.

Em 1997, realizou-se, na cidade do Rio de Janeiro, uma sessão especial da Assembleia-


geral das Nações Unidas, conhecida por Rio+5, com a finalidade de avaliar e acelerar a
implementação da Agenda 21, e que contou com a presença de 53 chefes de Estado.
“O encontro identificou lacunas importantes, em especial no que se refere à busca de
equidade social e à redução da pobreza. Identificou, ainda, a necessidade de tornar mais
eficiente a implementação da Agenda 21 e convenções relativas ao ambiente e
desenvolvimento”.

Em 1997, foi celebrado o Protocolo de Quioto, em referência à cidade japonesa onde se


realizou o evento, como mecanismo de implementação da Convenção das Nações
Unidas sobre as Mudanças Climáticas. O Protocolo visou-se essencialmente prosseguir
uma redução das emissões de diversos gases prejudiciais ao ambiente (sobretudo o dióxido
de carbono), por parte dos países industrializados. Segundo este instrumento, os países
desenvolvidos comprometeram-se a reduzir, até 2008 - 2012, as emissões de gases com
efeito de estufa em 5,2% em relação aos níveis de 1990. Para que este Protocolo entrasse

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em vigor, era necessário que 55 países o ratificassem, incluindo os países desenvolvidos,
de modo a perfazerem 55% das emissões de 1990.

Contudo, os Estados Unidos, que são responsáveis por 25% das emissões de dióxido de
carbono a nível global e, de longe, os maiores poluidores do Planeta, decidiram abandonar
o Protocolo de Quioto, em Março de 2001, por o considerarem, na voz do seu presidente,
George W. Bush, prejudicial aos interesses da economia americana. A Austrália enveredou
pelo mesmo caminho. Até meados do mês de Julho de 2001, apenas 34 países tinham
ratificado este Protocolo, sendo que, com excepção da Roménia, todos pertenciam ao
grupo dos países em vias de desenvolvimento. Tal situação só veio a ser superada depois
de muitos esforços realizados fundamentalmente pela União Europeia.

Os anos 90 foram marcados por uma série de inundações. Foi assim que, chegado o ano de
2000, a CDS 10 sugeriu a realização de uma nova conferência mundial, desta vez
subordinada ao Desenvolvimento Sustentável. Em Dezembro de 2000, a Assembleia-geral
das Nações Unidas deliberou, por resolução, a realização da Cimeira das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável (conhecida por Rio+10), na cidade de Joanesburgo, na
África do Sul, cabendo à CDS10 a sua organização.

7. A Conferência de Joanesburgo
Realizou-se, assim, entre os dias 26 de Agosto a 5 de Setembro de 2002, na cidade de
Johannesburg, na África do Sul, a Cimeira das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável. Contou com a presença de 105 chefes de Estado e de Governo, de delegações
provenientes de 195 países do Mundo, num total de aproximadamente 50 000 delegados.
Estiveram ainda representadas 58 organizações internacionais.

Esta Cimeira teve como primeiro grande objectivo: o fortalecimento do compromisso


político de desenvolvimento sustentável, fazer o balanço dos resultados decorrentes
da Conferência do Rio de Janeiro e procurar a busca de consensos para se conseguir
uma maior justiça na distribuição dos recursos naturais e financeiros entre países
desenvolvidos e países em vias de desenvolvimento.

Foram produzidos dois documentos, a saber: (1) Uma Declaração Política; (2) Plano de
Implementação.

A Declaração de Johannesburg sobre Desenvolvimento Sustentável encontra-se estruturada


em seis capítulos fundamentais, designadamente:
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(1) Das Origens ao Futuro; (2) De Estocolmo ao Rio de Janeiro e do Rio a
Johannesburg; (3) Os Desafios que Enfrentamos; (4) Nosso Compromisso com o
Desenvolvimento Sustentável; (5) O Multilateralismo é o Futuro; (6) Fazendo
Acontecer!

Por outro lado, reconheceram, como desafio, que a erradicação da pobreza, a mudança dos
padrões de consumo e produção, e a protecção e gestão da base de recursos naturais para o
desenvolvimento económico e social constituem objectivos fundamentais e requisitos
essenciais do desenvolvimento sustentável. Aceitaram o compromisso de, por um lado,
realizar esforços para garantir o acesso a requisitos básicos, como água potável,
saneamento, habitação adequada, energia, assistência médica, segurança alimentar e
protecção da biodiversidade; e, por outro, de trabalhar em conjunto para ter acesso aos
recursos financeiros, à tecnologia, aos benefícios da abertura dos mercados e à educação e
desenvolvimento dos recursos humanos.

Depois de Joanesburgo

É realmente muito difícil prever o que vai ser o futuro do nosso planeta nos próximos
tempos. A grande maioria dos estudos aponta para uma deterioração das condições
ambientais à escala global, não obstante os inúmeros esforços que estão a ser feitos em
alguns países e por algumas organizações internacionais. Apesar de todas as conferências
internacionais realizadas nas últimas décadas, de todas as convenções e tratados elaborados
nas mais diversas áreas ambientais, de todas as instituições internacionais e nacionais
criadas com competências ambientais, muito está ainda por fazer para que cessem os
atentados responsáveis pela situação de desequilíbrio ecológico à escala mundial.

O DIREITO DO AMBIENTE EM MOÇAMBIQUE

8. A Politica Nacional do Ambiente

As políticas ambientais dizem respeito a todos: ao Governo, que as dita, à comunidade, que
deve participar da tomada de decisões e ao empresariado cujas actividades ao ou deveriam
ser, disciplinadas e fiscalizadas por elas.

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A Politica Nacional do Ambiente, indica mecanismo adequado para a execução, no Pais,
das opções de desenvolvimento socio e macroeconómico ambientalmente aceitáveis,
visando promover e impulsionar um crescimento económico que se baseie nos preceitos
universais do desenvolvimento sustentável.

Foram grandes objectivos da Politica Nacional do Ambiente:

 Assegurar uma qualidade de vida adequada aos cidadãos;


 assegurar a gestão dos recursos naturais e do ambiente em geral, de modo que
mantenham a sua capacidade funcional e produtiva para as gerações presentes e
futuras;
 desenvolver uma consciência ambiental da população, para a possibilitar a
participação pública na gestão ambiental;
 proteger os ecossistemas e os processos ecológicos essenciais, etc.

Quanto aos princípios destacamos:

Princípio da valorização do Homem: o homem é um componente importante do


ambiente e é o beneficiário principal da sua gestão adequada.

Princípio da optimização: a utilização dos recursos naturais deve ser optimizada.

Princípio da Inclusão: As comunidades locais devem beneficiar da distribuição dos


rendimentos provenientes do uso racional dos recursos naturais.

Princípio do Reconhecimento e Valorização: Deve-se reconhecer e valorizar o


conhecimento tradicional das comunidades locais na gestão ambiental.

9. A Constituição Ambiental

É conjunto de normas constitucionais alusivas, directa ou indirectamente, ao ambiente,


consubstanciando a consagração do ambiente como bem jurídico com dignidade
constitucional.

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A Constituição de 1990

O primeiro texto constitucional que Moçambique conheceu apos a Independência, foi a


Constituição da República Popular de Moçambique, de 1975 que não fazia qualquer alusão
directa ao ambiente.

Esta incorporação do ambiente no texto constitucional dá-se somente em1990,quando


entrou em vigor o segundo texto constitucional da história de Moçambique Independente: a
Constituição da República de Moçambique de 1990. Este instrumento significou um marco
muito importante na construção da ordem jurídico-ambiental moçambicana, ao ponto que
se pode falar numa autêntica Constituição Ambiental, que assenta fundamentalmente nos
seguintes dispositivos legais: art. 72, art. 37, art. 36, art. 35.

A Constituição de 2004

Esta Constituição que é a terceira na história de Moçambique Independente, contem


importantes aspectos em matéria ambiental em relação à antecedente. Para começar,
importa referir que houve lugar a um reforço do modelo hibrido representado pelos artigos
90, que consagra o direito ao ambiente e 117 o qual sob a epígrafe ”ambiente e qualidade
de vida”, atribui ao Estado a obrigação de levar a cabo um conjunto bastante significativo
de acções de protecção e valorização do ambiente.

10. Órgãos com competência ambiental


 O Governo
 O Conselho Nacional de desenvolvimento Sustentável
 Os Órgãos Locais

Consequentemente, nos termos do Decreto Presidencial n.º 2/94, de 21 de Dezembro, foi


criado o Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA), órgão central do
aparelho do Estado que, de acordo com os princípios, objectivos e tarefas definidos pelo
Conselho de Ministros, dirige a execução da política do ambiente, coordena, assessora,
controla e incentiva uma correcta planificação e utilização dos recursos naturais do país.

Para aconselhar o Governo, e como forma de garantir o comprometimento de Moçambique


com a Agenda 2118, o art.º 6.º da Lei do Ambiente, criou o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Sustentável (CONDES), tendo como objectivo garantir uma efectiva e
correcta coordenação e integração dos princípios e das actividades de gestão ambiental no
processo de desenvolvimento do país, cabendo-lhe para além da tarefa de aconselhar o
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Governo sobre as questões ligadas ao ambiente, também, servir de fórum de auscultação da
opinião pública sobre as questões ambientais.

PRINCÍPIOS AMBIENTAIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO

Princípio da prevenção

O primado não recai sobre a reparação do dano, depois de este ocorrer, mas sim no evitar
que este venha a suceder, até porque o custo das medidas a aplicar na reparação é sempre
superior aquelas que são necessárias para evitar que o dano ocorra, isto sem falarmos o
quão difícil é a reconstituição natural da situação anterior. Logo, as medidas devem ser
tomadas antes da ocorrência de um dano concreto com finalidade de o evitar ou seja,
economicamente é mais dispendioso remediar que prevenir.

O princípio assenta no lema “mais vale prevenir que remediar”, exalta a prioridade na
forma prevenida de actuação, com finalidade de reduzir ou eliminar as causas do dano, e
não na correcção dos efeitos provocados pela actuação errada, ou pelas actividades capazes
de alterarem o ambiente.

Princípio da igualdade

Este princípio visa garantir oportunidades iguais de acesso e uso de recursos naturais a
homens e mulheres. Contudo, não nos parece acertado entender este princípio de forma
restritiva, apenas no que respeita ao acesso aos recursos naturais pelos diferentes géneros,
mas sim de forma a respeitar o princípio da igualdade previsto no art.º 35.º da Constituição
da República de Moçambique (2004), nos termos do qual “todos os cidadãos são iguais
perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres…”. Ou seja,
também em matéria ambiental os cidadãos são todos iguais, estão sujeitos aos mesmos
deveres e têm os mesmos direitos, nomeadamente no que respeita a acesso aos recursos
naturais.

Princípio da precaução

Princípio da precaução tem sido por vezes confundido com princípio da prevenção, o facto
é que tanto, como a prevenção, operam num momento anterior a própria ocorrência de
danos no ambiente, contudo, consubstanciam duas realidades diferentes.

O princípio da prevenção lida com os chamados perigos, ou seja aqueles riscos certos e
conhecidos, em relação aos quais existe, portanto, certeza científica do seu impacto. O
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princípio da precaução vem reforçar de forma qualitativa o princípio da prevenção, pois
este visa a prevenção de riscos cuja intensidade não representa, ainda um perigo afectivo e
concreto para o ambiente.

Principio do poluidor pagador

O princípio do poluidor pagador (PPP) constitui um importante instrumento de prevenção


ambiental, na medida em que esta visa essencialmente a prevenção e precaução dos danos
ambientais, por um lado, e a justiça na redistribuição dos custos das medidas públicas de
luta contra a degradação do ambiente por outro. Importa clarificar que este princípio
diferencia-se do princípio da responsabilização, pelo facto de ele operar antes e
independentemente da verificação de um dano. Impõe-se ao poluidor o dever de arcar com
os custos decorrentes de acções de prevenção, reparação e repressão da poluição que
resulte da actividade por ele exercida.

O fim da prevenção-precaução do PPP segundo Maria Aragão significa que os poluidores


devem suportar os custos de todas as medidas, adoptados por si próprios ou pelos poderes
públicos, necessárias para precaver e prevenir a poluição normal e acidental, e ainda os
custos da actualização dessas medidas.

A AVALIAÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL (AIA)


11. Surgimento, essência, princípios
A avaliação do Impacto Ambiental aparece como uma técnica privilegiada para precaver
agressões ambientais, por parte dos agentes do desenvolvimento económico e territorial e,
portanto, para promover o desenvolvimento sustentável, através da gestão equilibrada dos
recursos naturais, assegurando a defesa adequada da qualidade de vida do homem”.

A avaliação do Impacto Ambiental (A.I.A) foi oficialmente consagrada pela primeira vez
nos Estados Unidos da América, através da elaboração do “National Environmental
Protection Act” (NEPA), que entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 1970, tendo sido,
progressivamente, adoptada um pouco por todo o mundo, inicialmente, como nova técnica
jurídica, e, actualmente, como autêntico princípio jurídico-ambiental.

Trata-se, portanto, de um dos instrumentos verdadeiramente genuíno do Direito do


Ambiente, isto é, que não foi “copiado” ou transportado de nenhum dos ramos clássicos do
direito, mas sim criado na génese deste novo direito, contribuindo para tese da autonomia
deste novo Direito.

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A Declaração do rio sobre o Ambiente e Desenvolvimento consagrou-a definitivamente no
plano do Direito Internacional do Ambiente ao determinar que “a avaliação do impacto
ambiental, como instrumento nacional, deve ser efectuada em relação a determinadas
actividades que possam vir a ter um impacto adverso significativo sobre o ambiente e
estejam dependentes de uma decisão de uma autoridade nacional competente”.

Em Moçambique, a sua introdução dá-se com a Lei de Águas. Este diploma, ao versar
sobre os princípios de gestão de águas, determinou que “as obras hidráulicas não poderão
ser aprovadas sem previa análise dos seus efeitos e impactos sociais, económicos e
ambientais”, sendo que “os estudos sobre os efeitos referidos no número anterior
constituirão encargos dos donos das obras de grande envergadura”.

Mais tarde, com a publicação da Lei no 3/93, de 24 de Junho (Lei dos Investimentos), o
legislador nacional volta a referir-se à obrigação de submeter, em termos condicionais,
determinados empreendimentos a um prévio processo de avaliação de impacto ambiental.

Sendo assim, “os investidores, e subsequentemente, as empresas, deverão, no processo de


elaboração, implementação e exploração dos respectivos projectos, providenciar o estudo e
avaliação do impacto ambiental e dos problemas de poluição e sanidade susceptíveis de
resultar das actividades, desperdícios e/ ou resíduos dos seus empreendimentos, incluindo
os efeitos potenciais e outras eventuais implicações sobre os recursos florestais e
faunísticos, geológicos e hídricos, tanto nas suas áreas de concessão como na periferia das
áreas de implementação e exploração desses empreendimentos”.

Com a entrada em vigor da Lei do Ambiente, o processo de avaliação do impacto


ambiental foi definitivamente consagrado no ordenamento jurídico moçambicano e, como
prova da preocupação do legislador nacional em assumir a necessidade de submeter as
actividades humanas potencialmente lesivas do meio ambiente a um processo prévio de
controlo do respectivo impacto ambiental, foi aprovado, através do Decreto no 76/98 de 29
de Dezembro, o Regulamento de Avaliação do impacto Ambiental.

A avaliação do impacto ambiental consiste fundamentalmente, na submissão preventiva


dos projectos de actividades susceptíveis de causar efeitos mais ou menos nocivos no
ambiente a um processo de averiguação e analise, de caracter técnico-científico, daqueles
mesmos efeitos.

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Assim, “concebida como procedimento prévio e de apoio à decisão de autorização ou
licenciamento de projectos susceptíveis de ter impactos ambientais significativos, a AIA
tem por objectivo primordial fornecer à entidade competente para proferir aquela decisão
as informações e os elementos necessários ao conhecimento e a ponderação dos efeitos
ambientais do projecto.”

Em um expediente no qual se visa, em termos de fundo, a ponderação entre dois direitos


aparentemente antagónicos ou tendencialmente coludentes- o direito ao desenvolvimento e
o direito ao ambiente. Por isso se fala em “colisão de direitos”. A finalidade essencial da
AIA é procurar a comparatilização óptima entre tais direitos, sem perder de vista a noção
de desenvolvimento sustentável. No momento da tomada de decisão sobre o licenciamento
de determinado empreendimento, no âmbito de um processo de AIA, deve o órgão decisor
ter em conta não somente as condições ambientais hoje, mas, fundamentalmente, no
futuro; por outras palavras, deve atender não somente às necessidades em matéria
ambiental das gerações presentes como das futuras.

E, se se chegar à conclusão de que o empreendimento acarreta uma sobrecarga excessiva e


insustentável das condições ambientais, a solução passa por não emitir a necessária licença
ambiental. O desenvolvimento prosseguido à custa da degradação das condições
ambientais, pode, é certo, traduzir-se em benefícios económicos a curto prazo, teremos, em
vez de benefícios económicos, um ambiente mais poluído, menos qualidade de vida, mais
riscos para a saúde humana, e assistiremos, consequentemente, a uma degradação das
condições socioeconómicas dos cidadãos.

Dai que defenda-se não constituir a AIA um mero procedimento formal ou burocrático,
com vista a apoiar a decisão final de se levar a cabo determinado empreendimento, como
entende um certo sector da nossa sociedade, mas, antes, um instrumento fundamental de
protecção do ambiente, de caracter essencialmente preventivo e democrático, e susceptível
de condicionar actividades ou projectos que não se encontrem ao serviço do
desenvolvimento sustentável, isto é, que não realizem integralmente os três pilares deste
conceito: protecção do ambiente, desenvolvimento social e desenvolvimento económico,
não apenas para as gerações presentes como também, para as gerações futuras.

De modo algum podemos aceitar que haja lugar ao esvaziamento do conteúdo útil da AIA,
quando este instrumento é perspectivado como mera formalidade burocrática legalmente
instituída e, para muitos, como um verdadeiro entrave ao desenvolvimento económico do

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País, bem pelo contrario, há que assumir como motor de desenvolvimento sustentável, uma
vez que acresce às necessidades económicas as igualmente importantes necessidades
sociais e ambientais.

A AIA apresenta uma serie de vantagens tais como:

 Identificam-se os problemas numa fase precoce do processo decisório, permitindo a


correcção atempada, com custos mínimos, das actividades propostas;
 Garante-se o adequado estudo de problemas controversos, permitindo tomar
decisões com conhecimento de causa;
 Contribui-se decisivamente para uma maior equidade social e económica e uma
melhor gestão recursos naturais;
 Evitam-se problemas graves e reduzem-se os custos de protecção ambiental,
através de medidas preventivas, muito menos dispendiosas do que as medidas
correctivas;
 Assegura-se um processo transitório transparente e participado pelos interessados.

Constitui, assim, não só corolário do princípio da prevenção, como também do princípio da


precaução, na medida em que, se surgirem dúvidas, no decurso de um processo de
avaliação de impacto ambiental, em relação à viabilidade ambiental de determinada
actividade, decide-se a favor do ambiente.

O processo de Avaliação do Impacto Ambiental


Importa frisar que o processo de avaliação do impacto ambiental começou por ser regulado
através do Decreto no 76/98, de 29 de Dezembro, o qual veio a ser submetido a alterações
significativas, materializadas através do Decreto no 45/2005, de 29 de Setembro, na
sequência das ilações extraídas dos seus cinco anos de vigência.

No novo regime do processo de avaliação do impacto ambiental, não obstante as alterações


das designações de algumas das fases, foi mantida a estrutura de seis fases fundamentais:

1. A instrução do processo junto do MICOA, actualmente designada MITADR;


2. A pré-avaliação da actividade;
3. A elaboração do estudo de impacto ambiental;
4. A participação pública;
5. A revisão técnica do estudo de impacto ambiental;
6. O licenciamento ambiental

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