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1 Introdução
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políticas e diferentes propostas curriculares voltadas à formação e qualificação docente
para melhorar a prática educativa com a criança pequena.
Nesse cenário, referenciamos a Constituição Federal (BRASIL, 1988) que, desde
sua promulgação, mantém assegurado o direito dos cidadãos à educação, de forma ampla
e irrestrita. Na sequência, as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL,
1996) determinam que a formação do professor deve ser realizada em nível superior,
visando garantir a qualidade ao trabalho docente.
Nossas reflexões sobre a formação e a docência no âmbito da Educação Infantil
estão amparadas nos estudos de Luria (1988), Leontiev (2004), Libâneo (2004), Saviani
(2009) e Mello (2012), bem como em outros fundamentos da Teoria Histórico-Cultural
(THC), como contribuições para discutirmos a formação humana em suas máximas
possibilidades.
Com o intuito de verificar as percepções de professores de Educação Infantil de
quatro escolas da rede pública do município de Medianeira, PR. acerca de sua formação
inicial e continuada, compartilhamos os resultados obtidos em uma pesquisa de Mestrado
junto ao Programa de Pós-Graduação da Unesp Campus Marília, SP. Os dados produzidos
e analisados no trabalho de investigação vêm ao encontro da urgência de investimento e
de atenção vitais à formação docente, tanto inicial e continuada.
Compreendemos que, para assegurar à criança o direito de receber uma educação
de qualidade e, ao mesmo tempo, cumprir os objetivos legais que regem a Educação
Infantil, torna-se fundamental repensar a formação do professor e o modo como esta
formação impacta a prática pedagógica realizada com a criança pequena.
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Nesse contexto histórico e político, é somente no ano 1996, com a publicação das
Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (BRASIL, 1996), que a
Educação Infantil é reconhecida como a primeira etapa da Educação Básica, oferecida em
creches e em pré-escolas para crianças de zero a cinco anos de idade. Com a conquista
desse direito, a formação do professor de criança pequena passa a ser um tópico de
destaque em estudos, políticas e projetos na área da educação.
Logo em seguida, com vistas a cumprir à disposição legal, o Plano Nacional de
Educação – PNE (BRASIL, 2001) aponta aspectos a serem contemplados pelos currículos
dos cursos de formação, visando superar a dicotomia entre a teoria e a prática. Dentre
eles, destaque para a sólida formação teórica nos conteúdos específicos a serem
ensinados, ampla formação cultural e foco na atividade docente.
A verdade é que houve uma sucessão de leis e documentos esparsos que tratavam
sobre a formação docente, cujo objetivo compreendia a regulamentação da formação
docente, de modo a privilegiar os requisitos considerados essenciais à atuação
profissional no contexto escolar. No âmbito da Educação Infantil, defendemos que a
formação do professor exige conhecimentos científicos capazes de orientar ações
educativas mediadora de um desenvolvimento integral da criança pequena.
Do ponto de vista epistemológico, localizamos estudiosos e pesquisadores
comungam acerca do valor da formação teórica e prática do professor para uma atuação
plena e exitosa. Dentre eles, Campos (2008) afirma que é preciso pensar em currículos e
práticas de formação profissional visando garantir condições adequadas à promoção do
desenvolvimento infantil. A autora aponta os momentos de formação em serviço como
instrumentos necessários ao aperfeiçoamento e atualização profissional.
Fundamentos da Teoria Histórico-Cultural, por meio dos escritos de Luria (1988),
um de seus representantes notáveis, assinalam que as crianças aprendem e se
desenvolvem a partir de situações educativas intencionais e mediadoras do acesso à
cultura mais elaborada. Segundo Luria (1988), quando bem orientada, a criança pode
conquistar estágios superiores de desenvolvimento, razão pela qual se justifica a
preocupação com a formação do professor que trabalha com crianças pequenas.
Na concepção de Libâneo (2004), o professor precisar estar preparado para
desenvolver ações específicas promotoras de atividades motivadoras de aprendizagens e,
consequentemente, de desenvolvimento. Segundo o autor, ao professor compete
[...] organizar e estruturar corretamente a atividade de assimilação do
estudante, formulando objetivos e parti das ações que deve realizar no
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marco das matérias de estudo e das funções que estas desempenham no
perfil profissional e no currículo, selecionando os conteúdos que
assegurem a formação dos conhecimentos e características da
personalidade necessárias para a realização dos diferentes tipos de
atividade, organização do processo de aprendizagem com base nos
componentes funcionais da atividade: orientação, execução e controle.
(LIBÂNEO, 2004, p. 121).
Para alcançar os objetivos propostos por uma atividade bem organizada, elaborada
e significativa para a criança, novamente voltamos à formação do professor. Promover o
crescimento e estimular a conquista de estágios superiores de desenvolvimento da criança
pequena é tarefa atribuída aos professores capacitados e conhecedores do processo de
desenvolvimento infantil, dentre outras especificidades que a docência na Educação
Infantil requer.
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ser um processo contínuo de novas apropriações e conhecimentos, para subsidiar e
melhorar a prática educativa.
Durante o trabalho, fizemos duas observações de práticas pedagógicas de cada
professora envolvida na pesquisa, em diversos ambientes do cotidiano escolar, como sala
de referência de turma, parquinhos, passeios de rua, recreio e outros, totalizando sessenta
e quatro horas. Também realizamos entrevistas semiestruturadas com cada professora,
compostas por vinte e quatro questões que abordaram aspectos sobre formação, tempo de
trabalho na Educação Infantil e especificidades para trabalhar com a criança pequena.
Após a realização das entrevistas, fizemos a transcrição das mesmas. Utilizamos alguns
dados coletados durante a pesquisa para enriquecer e fundamentar a importância do tema,
objeto desse artigo.
Participaram da pesquisa, oito professoras, sendo duas de cada escola. Visando
preservar o anonimato das participantes da investigação, usamos a denominação P1
(professora 1) a P8 (professora 8) na análise dos resultados. Ressaltamos que a
participação das professoras deu-se mediante consentimento livre e esclarecido conforme
normativa do Comitê de Ética em Pesquisa da Unesp Campus de Marília, São Paulo.
Para dar início à análise dos dados produzidos, apresentamos aspectos sobre a
formação inicial das professoras pesquisadas. Das oito professoras participantes da
pesquisa, cinco são formadas no Curso Superior de Pedagogia na modalidade presencial
ou à distância. As outras três professoras têm graduação em História, Letras e Turismo e
todas possuem formação em nível de especialização em áreas da Educação Infantil.
De acordo com as informações obtidas, verificamos que a formação das
professoras participantes da pesquisa, atende aos requisitos da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional – LDB (BRASIL, 1996), que exige a formação do professor em
nível superior, determinada na letra da lei, em seu artigo 62.
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em
universidades e institutos superiores de educação, admitida, como
formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e
nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em
nível médio na modalidade normal. (BRASIL, 1996, artigo 62).
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relação entre atividade de ensino, atividade de aprendizagem e desenvolvimento
humano.” (LIBÂNEO, 2004, p. 7).
Nessa mesma linha de pensamento, Saviani (2009), ressalta que, uma formação
inadequada reflete, diretamente, na prática educativa que o professor realiza. Conforme
o autor,
[...] a formação de professores só se completa com o efetivo preparo
pedagógico-didático. Em consequência, além da cultura geral e da
formação específica na área de conhecimento correspondente, a
instituição formadora deve assegurar, de forma deliberada e sistemática
por meio da organização curricular, a preparação pedagógico-didática,
sem a qual não estará, em sentido próprio, formando professores.
(SAVIANI, 2009, p. 149).
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Tanto a atividade profissional quanto a atividade cognitiva implicam o
desenvolvimento de ações muito específicas, obrigando-nos a não tratar
a atividade docente como algo abstrato, mas como atividade que requer
instrumentalidades. (LIBÂNEO, 2004, p. 138).
Sobre essa questão, Duarte (1999) salienta a importância da prática nos cursos
de graduação. O autor comenta que a prática pedagógica realizada é responsável pela
formação do aluno, ao exercer o papel de mediador entre a vivência do aluno e o processo
histórico de objetivação universal, pelo qual o aluno faz novas apropriações.
As informações obtidas por meio das entrevistas realizadas nos permitem fazer
algumas inferências acerca da formação inicial das professoras de Educação Infantil
participantes dessa pesquisa. A partir das respostas docentes, entendemos que a falta de
prática e de estágio durante a formação em nível de graduação, pode dificultar a prática
educativa realizada em sala de aula. A ligação entre os dois aspectos, teóricos e práticos,
deveria prover o suporte necessário para a realização de um trabalho voltado à
humanização e ao pleno desenvolvido da criança pequena.
A seguir, analisamos as percepções docentes quanto à formação continuada. À
pergunta: “Em sua escola/município, há momentos em que os professores se encontram
para estudar? Sobre qual temática vocês debatem?” destacamos as seguintes respostas:
P3: Na verdade a gente pontua, assim ,..((pensa)) É sobre a dificuldade
do momento, sobre o que a gente está tendo dificuldade [...].
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P8: Se surge alguma coisa.:::...digamos assim, algum documento,
alguma coisa que você tem que decidir, tem que mandar pra secretaria,
uma exigência, a gente se reúne fora de hora pra debater sobre o
assunto pra daí ver o que podemos fazer.
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revelam que o homem se desenvolve e se humaniza pelas relações sociais e culturais no
ambiente em que vive. As apropriações de conhecimentos construídos e transmitidos
historicamente estimulam a constituição da natureza social dos homens.
De acordo com Vigotskii (1988), tanto a sociedade quanto a história social
moldam a estrutura das formas de atividades que diferem os homens dos animais.
Acrescenta que, pelas interações sociais que acontecem no ambiente escolar, as pessoas
podem se apropriar de novos conhecimentos, construções e significados. Desse ponto de
vista, verificamos pelas respostas docentes, que nos encontros de formação continuada,
existe a possibilidade de seu desenvolvimento profissional, intelectual e emocional. Ao
compartilhar experiências, elas aprendem, ensinam e se renovam.
Em outra questão, perguntamos: “O que as crianças mais gostam de fazer na
Educação Infantil?” Em unanimidade, as professoras responderam que “brincar” é o que
as crianças mais gostam de fazer. Abaixo, apresentamos as respostas docentes:
P1: Brincar ((risos))
P3:Brincar.
P7: Brincar. É o que elas mais gostam de fazer. Se você não tiver a
parte lúdica todos os dias, eles pedem.
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coloca no lugar do outro, a criança compreende melhor as relações sociais que presencia
em sociedade. O autor esclarece que, mediante a brincadeira, a criança
[...] toma posse do mundo concreto enquanto mundo dos objetos
humanos com o qual reproduz as ações humanas. Conduz um
“automóvel” dispara a “espingarda”, se bem que seu carro não possa
ainda rolar nem a espingarda disparar. Mas a criança não tem
necessidade disso neste estágio do seu desenvolvimento, pois suas
necessidades vitais são satisfeitas pelos adultos, independentemente da
produtividade objetiva de sua atividade. (LEONTIEV, 2004, p. 305).
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P1: Atividades rotineiras tipo assim :::... chamadinha, leitura do
alfabeto. Isso eles não gostam mesmo.
P7: [...] mas o que elas menos gostam é ficar sentadas, ouvindo.
P8: Olha, até agora assim, que eu me lembre, não existe nada que elas
não gostam de fazer... elas adoram fazer tudo.
Considerações Finais
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vida, sua história, cultura e relações sociais. Entender e respeitar as diferenças e histórias
de cada criança, determinantes para os processos de ensino e de aprendizagem e
apropriações de novos conhecimentos, é outra importante capacidade docente.
A partir da pesquisa realizada com as professoras de Educação Infantil da rede
pública da pequena cidade de Medianeira, Paraná, formos aprendendo e apreendendo
novos conhecimentos e realidades. A análise dos dados produzidos na pesquisa ora
discutida, mostra uma realidade distinta daquela apresentada em documentos legais que
estabelecem os objetivos e fundamentos da Educação Infantil.
As vozes docentes revelam professoras cientes das carências em sua formação
inicial que resultam na falta de conhecimentos específicos para trabalhar com crianças
pequenas que se materializam na dificuldade para enfrentar e resolver situações
corriqueiras do dia-a-dia do universo escolar.
No âmbito da formação continuada, não é muito diferente. A investigação
realizada mostrou que no município de Medianeira, a formação voltada para a educação
humanizada ainda caminha a passos lentos, com parcos investimentos, planejamento e
continuidade.
A formação continuada oferecida às professoras da rede pública de Educação
Infantil não proporciona atualização, aperfeiçoamento e crescimento profissional.
Tampouco responde às interrogações deixadas nos cursos de graduação frequentados
pelas professoras ou preenche as carências intelectuais, cognitivas e pedagógicas,
necessárias à prática educativa que objetiva à humanização da criança.
Segundo Kramer (2006), pensar em formação para professores que atuam na
Educação Infantil requer um atendimento que contemple as especificidades de cada faixa
etária, cujo objetivo é a qualidade da educação. Segundo a autora, este é um dos mais
importantes desafios para as políticas educacionais, pois trabalhar com crianças pequenas
é ainda uma tarefa nova e recente na história da escola brasileira. Os processos de
formação esporádicos e emergenciais atualmente existentes não provocam mudanças
substanciais quanto aos aspectos educativos e profissionais, necessários a uma educação
mais humanizada, cujo objetivo é o pleno desenvolvimento da criança, sua inserção social
e sua autonomia, como sujeito de vontades e de direitos.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Constituição Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
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MELLO, G. N. Formação inicial de professores para a educação básica: uma (re)visão
radical. São Paulo Perspectiva [online]. 2000, vol.14, n.1, pp. 98-110. ISSN 0102-8839.
http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n1/9807.pdf
MELLO, S. A. Uma teoria para orientar o pensar e o agir docentes: o enfoque histórico-
cultural na prática de educação infantil. In: CHAVES, M. (Org.). Intervenções
pedagógicas e educação infantil. Maringá: Eduem, 2012. p. 19-35.
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