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Como concluir a redação do ENEM?

Quando começamos um texto, nos perguntamos: e agora, por onde começar? Para
finalizar um texto, é a mesma coisa: como fazê-lo?
Existem várias maneiras de concluir uma argumentação: com uma síntese, com
remissão a textos, com uma pergunta retórica, com a solução de um problema. No caso
do ENEM, especificamente, exige-se do aluno a elaboração de uma proposta de
intervenção, isto é, a elaboração de uma solução que cubra cada um dos problemas
abordados, respeitando os direitos humanos. Essa proposição vai ao encontro da
Constituição de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases – LDB no que tange aos seguintes
objetivos da formação do estudante: o pleno desenvolvimento do educando e seu preparo
para o exercício da cidadania.
Da mesma forma, as Orientações Curriculares para o Ensino Médio – OCEM –
esclarecem que a atuação na sociedade “de forma ética e responsável” é uma das
capacidades a serem desenvolvidas nessa etapa. Já nas Orientações Educacionais
Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN+, afirma-se que o ensino
de Língua Portuguesa deve prover ao aluno “meios para ampliar e articular
conhecimentos e competências que possam ser mobilizadas nas inúmeras situações de
uso da língua”. Assim, busca-se, por meio da produção de um texto dissertativo-
argumentativo em que os estudantes intervêm no problema, o protagonismo do aluno, ao
elaborar propostas articuladas e pertinentes à sua visão da questão.
Quanto aos direitos humanos, faz-se importante esclarecer as modificações que o
exame sofreu, desde 2017, nesse aspecto. Sabendo que os direitos humanos são, de
maneira geral, direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça,
sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição; desde o início o
do exame, o desrespeito a qualquer desses direitos – como, por exemplo, o direito à vida
– era um fator decisivo para atribuição da nota zero na redação. No entanto, a partir de
2017, o desrespeito aos direitos humanos já não mais zera o texto dissertativo-
argumentativo; mas o impede de obter a nota máxima.
Se pensarmos no tema de 2017, por exemplo, foram considerados os seguintes
princípios norteadores dos direitos humanos, pautados no Artigo 3º da citada Resolução
nº 1, de 30 de maio de 2012, o qual estabelece as Diretrizes Nacionais para a Educação
em Direitos Humanos:
• Dignidade humana;
• Igualdade de direitos;
• Reconhecimento e valorização das diferenças e diversidades;
• Laicidade do Estado;
• Democracia na educação;
• Transversalidade, vivência e globalidade e
• Sustentabilidade socioambiental.
O desrespeito a qualquer um desses itens resultaria na atribuição da nota zero
somente na competência V, que é a competência referente a proposta de intervenção.

Tendo isso em mente, vamos aos detalhamentos dos critérios fundamentais para a
conquista da nossa máxima na competência V do ENEM:
Primeiramente, como prevê a Matriz de Referência do ENEM, 2018, a nota da
Competência V não deve ser atribuída em função da quantidade de propostas, mas
sim da sua qualidade, que será aferida em função da variedade dos elementos que
apresenta. Dessa forma, se o texto apresentar mais de uma proposta de intervenção,
deve ser avaliada somente a mais completa delas. Além disso, se uma mesma proposta
apresentar algum elemento repetido (dois agentes, ou dois efeitos, por exemplo), ele
deve ser contabilizado apenas uma vez.

 Elementos válidos: ação interventiva, agente, modo/meio, efeito e


detalhamento

1. Ação interventiva é o elemento que diz respeito à ação prática apontada pelo
participante como necessária para a solução do problema apresentado pelo
tema. É a partir da ação que reconhecemos a intenção de propor uma
intervenção para o problema abordado. A pergunta a ser respondida a fim de
identificar essa ação é “O que deve ser feito?”.

Ex.: “A mídia, junto com o governo, deve implantar propagandas mostrando


como pessoas com deficiência sofre preconceitos e são excluídas, conscientizando a
população.”

Na avaliação da proposta de intervenção, a ação interventiva equivale a 1


elemento válido, desde que tenha caráter interventivo. Ações que se distanciam desse
caráter serão consideradas “elemento nulo”.
Ações como elemento nulo: “Portanto, medidas são necessárias para resolver o
impasse.” (O aluno não explicita essas medidas, isto é, estas ações.)

2. Agente é o elemento que diz respeito ao ator social apontado para executar a
ação interventiva que se propõe. Para determinar o agente, o participante deve
considerar o problema abordado pelo tema, sobre o qual se deseja intervir, e a
ação interventiva apresentada. Apesar de os atores sociais variarem em função
do tema e do problema, eles se enquadram em determinados níveis de ação:
individual, familiar, comunitário, social, político, governamental e mundial. A
pergunta a ser respondida para identificar o agente da ação proposta é “Quem
executa?”.

Ex.: “É mister que as escolas capacitem os professores de forma eficiente, através de


cursos e palestras que orientem o profissional a lidar da melhor forma com o deficiente,
a fim de que este possa sentir-se confortável no ambiente escolar, reduzindo, por
conseguinte, a taxa de evasão.”

Na avaliação da proposta de intervenção, o agente equivale a 1 elemento válido.

Agentes como elementos nulos:


- Alguém, ninguém, alguns, uns, uns e outros, você;
- Nós, nós (oculto), alguns de nós, todos nós, a gente – desde que não especificados;
- Verbo no modo imperativo – desde que não haja vocativo.

3. Modo/meio é o elemento que diz respeito à maneira e/ou aos recursos pelos
quais a ação interventiva é realizada. Esse elemento dialoga com a
exequibilidade da ação e revela o quanto esta é concreta e interventiva,
características indispensáveis à proposta de intervenção. A pergunta a ser
respondida para identificar o modo/meio apontado é “Como se executa/Por
meio do quê?”.

Ex.: “Logo, o Ministério da Educação poderia capacitar os educadores para ensinar os


deficientes auditivos, a fim de que estes tenham a oportunidade de acessar uma
educação de qualidade. Isso se daria por meio do aumento da carga horária da disciplina
de Libras na grade curricular da graduação dos educadores.”

Na avaliação da proposta de intervenção, o meio/modo equivale a 1 elemento


válido.

4. Efeito é o elemento que corresponde aos resultados pretendidos ou alcançados


pela ação interventiva proposta. Ele pode vir expresso por meio de uma
estrutura indicativa de finalidade, consequência ou conclusão. A pergunta a
ser respondida para identificar esse elemento é “Para quê?”.

Ex.: “Portanto, para que haja uma solução emergente o Ministério da Educação precisa
criar núcleos especializados dentro das escolas já existentes, com profissionais
qualificados, acompanhado de uma política voltada para essa classe, com o intuito de
fiscalizar e fazer cumprir as regras assim estabelecidas.”

Na avaliação da proposta de intervenção, o efeito equivale a 1 elemento válido.

5. Detalhamento é o elemento que acrescenta informações à ação interventiva,


ao agente, ao modo/meio ou ao efeito. Ele tem papel fundamental para uma
formulação mais concreta e mais elaborada da proposta de intervenção. Por
esse motivo, damos ao detalhamento a mesma relevância dada aos demais
elementos, pois todos cumprem o papel de completar a ação da proposta de
intervenção. A pergunta a ser respondida para identificar o detalhamento é:
“Que outra informação sobre esses elementos foi acrescentada pelo
participante?”

O detalhamento da ação interventiva, do agente e do modo/meio é variado, podendo se


apresentar na forma de uma exemplificação, explicação, justificativa ou contextualização.

Detalhamento da ação: “Ademais, as Prefeituras poderiam disponibilizar materiais


tecnológicos, como computadores e tablets a fim de otimizar o aprendizado visual dos
surdos.”
Detalhamento do agente: “Para solucionar tal entrave, as ONGs, como órgão que visa
suprir as deficiências do Estado, devem disponibilizar, aos jovens surdos, aulas com
professores voluntários e capacitados, em ambientes com total acessibilidade, como
igrejas, a fim de dar possibilidades para essa parcela.”

Detalhamento modo/meio: “Além disso, cabe ao Ministério da Educação, através a


associação com empresas privadas, que receberiam incentivos fiscais, desenvolver um
aplicativo gratuito para celulares que possa ser utilizado por surdos como um recurso de
tecnologia assistiva e proporcionaria tradução instantânea de português para Libras”.

Detalhamento efeito: “Em virtudes dos fatos apresentados, é necessário que o Ministério
da Educação faça uma lei que obrigue as instituições de ensino terem salas de aula para
surdos com o objetivo de oferecer educação para deficientes e assim, essas pessoas
tenham condições e capacidade de terem um bom trabalho e mostrar para a população
que os surdos têm o mesmo direito que um cidadão sem deficiência. ”

Na avaliação da proposta de intervenção, o detalhamento equivale a 1 elemento


válido.

Lembrando, temos 5 elementos = ação, agente, meio/modo, efeito e detalhamento.


Cada elemento válido = 40 pontos. 5 elementos válidos = 200 (pontuação máxima na
competência V).

Exercício:
Identifique na proposta de intervenção abaixo, referente ao tema "Desafios para
a formação educacional de surdos no Brasil", os elementos presentes.
Diante dos fatos supracitados, faz-se necessário que a Escola promova a formação de
cidadãos que respeitem às diferenças e valorizem a inclusão, por intermédio de palestras,
debates e trabalhos em grupo, que envolvam a família, a respeito desse tema, visando a ampliar
o contato entre a comunidade escolar e as várias formas de deficiência. Além disso, é
imprescindível que o Poder Público destine maiores investimentos à capacitação de profissionais
da educação especializados no ensino inclusivo e às melhorias estruturais nas escolas, com o
objetivo de oferecer aos surdos uma formação mais eficaz. Ademais, cabe também ao Estado
incentivar a contratação de deficientes por empresas privadas, por meio de subsídios e Parcerias
Público-Privadas, objetivando a ampliar a participação desse grupo social no mercado de
trabalho. Dessa forma, será possível reverter um passado de preconceito e exclusão, narrado
por Machado de Assis e ofertar condições de educação mais justas a esses cidadãos.
Isabella Barros Castelo Branco, retirada do G1.

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