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Universidade Católica de Moçambique

Centro de ensino á distância

Tema: O aborto vista no contexto da Igreja Católica em confrontação com a Lei do


Aborto que vigora em Moçambique e o aborto tradicional.

Sofia Zainate Inácio Código: 708214056

Curso: Geografia
Disciplina: Fundamento de Teologia
Ano de frequência: 2º ano

Nampula, Outubro, 2022


3.2. Folha de Feedback

Classificação
Pontuação Nota Subt
Categorias Indicadores Padrões máxima do otal
tutor
Capa 0,5
Índice 0,5
Aspectos Introdução 0,5
Estrutura organizacionais Discussão 0,5
Conclusão 0,5
Bibliografia 0,5
Contextualização 1,0
(Indicação clara do
problema)
Introdução Descrição dos 2,0
objectivos
Metodologia adequada 2,0
ao objecto do trabalho
Articulação e domínio
do discurso académico
(expressão escrita 2,0
Conteúdo cuidada, coerência /
coesão textual)
Análise e discussão
Revisão bibliográfica
nacional e
internacionais 2,0
relevantes na área de
estudo
Exploração dos dados 2,0
Conclusão Contributos teóricos 2,0
práticos
Paginação, tipo e
tamanho de letra,
Aspectos Formatação paragrafa, espaçamento 1,0
gerais entre linhas
Normas APA Rigor coerência das
Referências 6ª edição em citações/referências
Bibliográfica citações e bibliográficas 4,0
s bibliografia
Recomendações de melhoria:

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Índice
1.Introdução.......................................................................................................................4
1.1.conceito........................................................................................................................5
1.1.2.O aborto vista no contexto da Igreja Católica..........................................................5
2.Lei do aborto que vigora em Moçambique e o aborto tradicional.................................7
3.Conclusão.....................................................................................................................10
4.Bibliografia...................................................................................................................11

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1.Introdução
A reprovação social ao aborto viu-se consolidada definitivamente com o
Cristianismo, sendo o aborto criminoso assimilado ao homicídio, No início da Idade
Média, com fundamento em Aristóteles, pregava Santo Agostinho que o aborto somente
seria reputado crime se o feto já houvesse recebido alma, após 40 dias (se homem) ou
80 dias (se mulher) após a concepção. Inadmitido qualquer distinção, São Basílio, com
base na Vulgata, e preconizava ser sempre criminosa a prática abortiva. Os Penitenciais
tratavam com graus de severidade diferentes a expulsão do corpus formatum
(equiparado a homicídio) e o aborto do corpus informatum (menos grave).

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1.1.conceito
O aborto é o acto que interrompe uma gestação. O aborto pode ser espontâneo e
ocorrer em qualquer momento da gravidez. No entanto, também pode ser induzido por
mulheres que não desejam dar sequência à gravidez.
Benzecry (2001),refere que:
Abortamento é a interrupção da gravidez antes da viabilidade do produto da concepção.
Este limite superior estatuído pela Organização Mundial da Saúde é fixado em 20-22
semanas, que marca, por sua vez, os lindes iniciais da prematuridade. Tal idade
gestacional corresponde a feto de 500 gramas. Podemos notar que, do ponto de vista
médico, não é toda e qualquer interrupção da gravidez com morte do concepto
considerada abortamento. Este é entendido como a interrupção da gestação nos primeiros
6 meses de vida intrauterina, ante a sua inviabilidade. Após, ter-se-ia um parto prematuro,
podendo continuar vivo o produto da concepção (p.23).
1.1.2.O aborto vista no contexto da Igreja Católica
O Catolicismo desde o século IV condena o aborto em qualquer estágio e em
qualquer circunstância, permanecendo até hoje como opinião e posição oficial da igreja
católica.
Loyola, (2000),refere que:
Igreja católica considera que a alma é infundida no novo ser no momento da
fecundação; assim, proíbe o aborto em qualquer fase, já que a alma passa a pertencer ao
novo ser no preciso momento do encontro do óvulo com o espermatozóide. A punição
que a igreja católica dá a quem aborta, é a excomunhão. Em 1917 a Igreja declarou que
uma mulher e todos os que com ela se associasse deveriam receber a excomunhão pelo
pecado do aborto. Isso significava que lhe seriam negados todos os sacramentos e sua
comunicação com a igreja: uma punição eterna no inferno. Com a encíclica Matrimonio
cristão de Pio XI em 1930, ficou determinado que o direito à vida de um feto é igual ao
da mulher, e toda medida anticoncepcional foi considerada um ‘crime contra a natureza’
exceto os métodos que estabelecem a abstinência Sexual para os dias férteis. Em 1976 o
Papa Paulo VI disse que o feto tem ‘pleno direito à vida’ a partir do momento da
concepção; que a mulher não tem nenhum direito de abortar, mesmo para salvar sua
própria vida. Essa posição se baseia em quatro princípios:
 Deus é o autor da vida.
 A vida se inicia no momento da concepção.
 Ninguém tem o direito de tirar a vida humana inocente.
 O aborto, em qualquer estágio de desenvolvimento fetal, significa tirar
uma vida humana inocente (p.51).

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Coelho (2007) refere que:

A Doutrina da Igreja Católica e realidade do aborto pode acontecer de duas formas: o


espontâneo e o provocado. No aborto espontâneo, acontece a interrupção da gravidez por
causas naturais, sem a livre intervenção humana. No aborto provocado, acontece uma
livre intervenção da pessoa humana. Quando se vai tomar a decisão da morte da criança
não nascida, além da mãe, surgem normalmente outras pessoas, que também são
moralmente responsabilizadas (p.19).
A Doutrina da Igreja esclarece que quanto ao aborto espontâneo, isto é, aquele por
causas naturais, não existe aí problemas morais, pois não há ato positivo e livre da
pessoa. Contudo, quando há aborto provocado, a Igreja faz alguns apontamentos com
base numa antropologia-teológica, que são (Coelho, 2007, p. 21).

Os argumentos acima a defesa da vida e a concepção da existência de uma


pessoa humana a ser respeitada como uma individualidade ainda no zigoto e no embrião
– são propostos como parte imutável da doutrina eclesial. As referências nesse sentido
são inúmeras e reiteradas. Invoca-se a tradição mais antiga, dos primórdios da Igreja,
assim como os ensinamentos mais recentes de papas anteriores e do Concílio Vaticano
II. A ideia repetida é a de que o aborto foi sempre condenado. Em 1973, diz Paulo VI:
"Bem sabeis que a Igreja sempre condenou o aborto, o que os ensinamentos do nosso
Predecessor de venerável memória Pio XII (...) e os do II Concílio Vaticano (...) não
deixaram de confirmar, com a sua imutada e imutável doutrina moral.

Em contraposição às proposições condenatórias do aborto encontra-se um outro


discurso católico, mais nuançado, que vai da explicitação da dúvida sobre o
posicionamento da Igreja até a justificativa da decisão pela interrupção da gravidez
como um comportamento moral e religiosamente defensável. Por analogia com o que
em sociologia política se chama contrapoder (10), denominamo-lo contradiscurso, uma
vez que ele se constitui em contraposição a um discurso primeiro: o discurso oficial da
Igreja Católica em relação ao aborto e, mais amplamente, à contracepção. Caracteriza-se
por contestar os argumentos evocados pelo discurso oficial, mas também por produzir
um novo corpo argumentativo. Nesse sentido, é um discurso mais diversificado do que
o primeiro. Além disso, tal contradiscurso não emana de um grupo organizado no
quadro institucional, como um corpo episcopal ou uma congregação romana, por
exemplo.

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Contrariamente ao discurso oficial que, como vimos, apresenta-se coeso como um
bloco, propondo uma palavra final sobre o assunto e tentando estabelecê-la em dogma,
o contradiscurso tem um carácter dialógico, pois não se apresenta como definitivo e
evita o tom dogmatizante.

Diante do exposto, é possível identificar bases éticas, morais e até religiosas para se
defender o direito de se optar pelo aborto, tanto quanto para condená-lo. Dessa forma, a
legislação Moçambicana, que ainda autoriza o aborto, promove uma coerção
inadmissível e injustificável tanto do ponto de vista filosófico, quanto social. E coloca
em sofrimento milhares de mulheres e homens que deveriam ter a liberdade de decidir,
segundo sua própria consciência, segundo seu livre arbítrio, por meio de reflexão
informada e coerente, e não sob a ameaça de prisão ou inferno. A interrupção voluntária
da gravidez amparada na legislação é uma questão de justiça social, de democracia, de
respeito aos direitos humanos das mulheres e também, fundamentalmente, uma questão
ética. (Ministério da Saúde, 2017.p.35).

2.Lei do aborto que vigora em Moçambique e o aborto tradicional


Havendo necessidade de assegurar o cumprimento dos Direitos da Mulher, consagrados
no Direito Interno e no Direito Internacional de que Moçambique é parte, legislando
sobre os dispositivos do Código Penal aprovado pela Lei n.º 34/2014, de 31 de
Dezembro, nos termos do previsto no diploma legal em referência, conjugado com o
Decreto Presidencial n.º 34/2015, de 23 de Novembro, determino:

Artigo 1. São aprovadas as normas clínicas sobre Aborto Seguro, Cuidados Pós-
Aborto e define as condições em que a interrupção voluntária da gravidez deve ser
efectuada nas Unidades Sanitárias do Serviço Nacional, em anexo que é parte integrante
do presente diploma ministerial.

Artigo. 2. Nos termos do presente Diploma Ministerial, a gravidez só pode ser


interrompida numa Unidade Sanitária acreditada e certificada por um médico ou
profissional de Saúde capacitado para o efeito, nos casos em que:

 Ponha em risco a vida da mulher;


 Coloque em risco a saúde física da mulher;
 Constitua um risco para a saúde mental da mulher;
 Resulte de violência sexual, incluindo violação ou in-cesto;
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 Resulte de falência de método contraceptivo moderno;
 A mulher esteja infectada pelo vírus do HIV/SIDA;

Artigo 3. Constituem requisitos para a realização do Aborto, os seguintes:

 Idade gestacional máxima de 12 semanas;


 Em caso de doença crónica degenerativa ou malformação congénita, clinicamente
comprovada, ou por doença infecto-contagiosa no período referido no n.º 1,
estendido até 16 a 24 semanas

Moçambique é signatário dos documentos das conferências acima citados e de


tratados internacionais de Direitos Humanos. Por todo o país, as estatísticas intra-
hospitalares, mostram que o aborto inseguro é uma das 10 causas principais de
admissões de mulheres nos hospitais. Em Moçambique a taxa de mortalidade materna
devida ao aborto é cerca de 11%. Contudo, devido a natureza dos serviços clandestinos
do aborto, esta percentagem representa só a “ponta do iceberg” escondendo de certo
modo a magnitude do problema. (Ministério da Saúde, 2017.p.35).

Alguns estudos mostraram que os custos hospitalares com o tratamento das


complicações do aborto são enormes. No relatório da “Avaliação das necessidades em
saúde materna e neonatal”, publicado pelo MISAU em 2013, a taxa de letalidade por
complicações do aborto é de 2.8%, estando na quarta posição em relação as causas de
morte materna. Nenhuma morte é aceitável, mas as taxas de letalidade acima de 1%
consideram--se um sinal de alarme. Também, nesta avaliação ao analisar a distribuição
numérica e percentual de causas de todas as mortes maternas, por tipo de Unidade
Sanitária (US), as mortes devidas às complicações do aborto estão concentradas nos
Hospitais Gerais, Rurais e Distritais com 3% e Hospitais Centrais com 2%. Isto sugere
que a capacidade de diagnóstico e resposta atempada nos centros de saúde ainda é
deficiente, embora que tenha sido referido que existe pelo menos um profissional

A Legislação Moçambicana incorpora os Direitos Humanos e prevê princípios e


normas éticas e jurídicas relacionadas à prevenção da gravidez indesejada e ao aborto. O
novo Código Penal foi aprovado pelo Parlamento de Moçambique em Julho de 2014
tendo sido promulgado em Dezembro de 2014 (Lei n.º 35/2014). O Código Penal o
aborto não punível no artigo 168 como se segue: “É o aborto efectuado por médico ou
outro profissional de saúde habilitado, em um estabelecimento de saúde oficial e com
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consentimento da mulher grávida, quando for praticado nas primeiras doze semanas de
gravidez. Em casos particulares o aborto não é punível até as 16 semanas de gravidez
(violação sexual, incesto) ou até as 24 semanas (em caso de malformação congénita
grave).” Além disso a lei específica as circunstâncias que tornam não punível o aborto.

No que respeita à ética profissional, o sigilo perante o/ /um aborto quer seja
espontâneo ou provocado, não permite o médico ou qualquer profissional de saúde de
comunicar o facto à autoridade policial, judicial, nem ao Ministério Público, pois o
sigilo na prática profissional da assistência à saúde é um dever legal e ético, salvo para
protecção da paciente e com o seu consentimento. (Ministério da Saúde, 2017.p.35).

Diante de um caso de aborto inseguro, o profissional de saúde deve adotar uma


conduta ético-profissional adequada. “Não fazer juízo de valor e não julgar”, pois o
dever de todos os profissionais de saúde é acolher condignamente e envidar esforços
para garantir a sobrevivência da mulher e não causar quaisquer transtornos e
constrangimentos. (Ministério da Saúde, 2017.p.35).

Em consonância com a ética médica, o médico/profissional de saúde:

▪ Deve exercer a profissão com ampla autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços
profissionais que o coloquem em conflito com suas crenças religiosas. (Ministério da
Saúde, 2017.p.35).

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3.Conclusão
Como desfecho do presente trabalho, conclui- se que abortamento (ou aborto) consiste
na anormal interrupção do processo de gravidez. Trata-se, pois, de evento em que ocorre
a morte do fruto da concepção (ovo, feto ou embrião) com ou sem sua expulsão do
organismo materno. Pode esse anormal ou precoce desfecho da gestação, com o
necessário óbito do nascituro, vir, basicamente, determinado por causas naturais (aborto
espontâneo) ou, ainda, por condutas humanas involuntárias (aborto acidental).

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4.Bibliografia
Benzecry, roberto (2001), tratado de Obstetrícia da febrasgo. rio de janeiro: revinter, p
Coelho, Mário (2007),o que a igreja ensina sobre. São paulo: canção nova,
Papa paulo vi. (1973). in: sedoc. petrópolis, vozes,
Ministério da saúde, (2017), em Maputo, aos 7 de julho de— a Ministra da saúde,

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