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Volume 5 – Edição 1 - 2021

A URINÁLISE COMO UM DOS EXAMES LABORATORIAIS MAIS


RELEVANTES NA NEFROLOGIA E NA CLÍNICA MÉDICA

Victor Malafaia Laurindo da Silva1; Yasmim Lopes Silva2; Paulo Roberto Hernandes Júnior3;
Juliana de Souza Rosa4; Juliana de Almeida Silveira5; Patrick de Abreu Cunha Lopes6; Rossy
Moreira Bastos Junior7; Paula Pitta de Resende Côrtes8

1
Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina.
vmalafaials@gmail.com
2
Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmica de Medicina.
yasmim_ls99@outlook.com
3
Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina.
paulorh.med@gmail.com
4
Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmica de Medicina.
srjuliana1@gmail.com
5
Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmica de Medicina.
jusilveira20@gmail.com
6
Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina.
patrick.abreu33@gmail.com
7
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Macaé, Rio de Janeiro, Brasil. Docente/Preceptor
de Medicina. dr.rossymbastos@uol.com.br
8
Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Docente de Medicina.
paulapitta@yahoo.com.br

Seção: Saúde.

Formato: Revisão de Literatura.

ABSTRACT

The routine urinalysis consists of physical, chemical and microscopic evaluation of


urinary sediments, being one of the most common complementary exams performed
in everyday medical practice. This is due to the fact that it is a cheap, non-invasive
test, of an easily obtainable body liquid and that it reveals important information about
kidney function and the etiologies of several diseases. Therefore, a literature review
was carried out by searching reference text books and articles searched in the
databases of UpToDate, PEBMED, Google Scholar and SciELO, in Portuguese and
English, aiming to emphasize the importance of the correct interpretation of urinalysis
for ideal diagnoses and conducts in clinical practice.

KEYWORDS: Urinalysis. Internal Medicine. Nephrology.


Volume 5 – Edição 1 - 2021

RESUMO

O exame de urina de rotina consiste na avaliação física, química e microscópica dos


sedimentos urinários, sendo um dos exames complementares mais realizados no dia
a dia médico. Isso se deve ao fato de ser um teste barato, não invasivo, de um material
biológico de fácil obtenção e por revelar informações importantes sobre a função renal
e a etiologias de diversas enfermidades. Diante disso, realizou-se uma revisão de
literatura através da pesquisa em livros texto de referência e artigos buscados nos
bancos de dados do UpToDate, do PEBMED, do Google Acadêmico e da SciELO,
nos idiomas português e inglês, visando enfatizar a importância da correta
interpretação da urinálise para diagnósticos e condutas ideais na prática clínica.
PALAVRAS-CHAVE: Urinálise. Clínica Médica. Nefrologia.

1 INTRODUÇÃO

O exame de rotina de urina, também chamado de EAS (elementos anormais e


sedimentos), é um exame de triagem comumente associado com o diagnóstico de
infecção do trato urinário, mas que também pode oferecer informações importantes
sugestivas de outras enfermidades, como desequilíbrios ácido-base e distúrbios
metabólicos (CRAIG, J. C. et al., 2002). O exame consiste em análise física
(macroscopia e odor), química (pH, proteínas, glicose e outras substâncias) e
morfológica dos sedimentos ou elementos figurados, sendo esta última feita por
microscopia óptica, citometria de fluxo ou digitalização de imagem (KOCH, V. H.;
ANDRIOLO, A., 2010)

Para uma correta interpretação do EAS, é necessário que o fluido seja coletado
de forma adequada e que não haja erros pré-analíticos, assim como em qualquer outro
exame laboratorial. O material obtido, idealmente, deve ser uma fração do jato médio
da segunda micção do dia, pela manhã, e sua análise deve ser feita em até 3 horas
após a coleta. Caso o exame não seja realizado nesse prazo, deve-se refrigerar a
amostra, protegê-la da luz e analisá-la em não mais que 12 horas (DANTAS, M.;
SENS, Y. A. S.; LOPES, P. C., 2018; KOCH, V. H.; ANDRIOLO, A., 2010). Sendo
assim, o exame de rotina de urina, quando corretamente realizado, é capaz de revelar
informações extremamente valiosas a respeito de possíveis disfunções orgânicas do
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paciente, e a presente revisão de literatura visa destacar os principais aspectos


avaliados nesse teste, bem como suas principais alterações.

2 OBJETIVOS

Este artigo visa organizar e revisar outras bases literárias com a finalidade de
destacar os aspectos avaliados no exame de rotina de urina, destacando a sua
relevância para o dia a dia do profissional da saúde.

3 MÉTODOS E MATERIAIS

Realizou-se uma revisão de literatura não sistemática com base em livros


textos de referência e em artigos pesquisados nos bancos de dados do UpToDate, do
PEBMED, do Google Acadêmico, da SciELO e do PubMed, nos idiomas português e
inglês, através dos termos: “EXAME LABORATORIAL”; “URINA”; “URINÁLISE”;
“EXAME DE ROTINA DE URINA”; “ELEMENTOS ANORMAIS E SEDIMENTO”.

4 DESENVOLVIMENTO

4.1 ANÁLISE FÍSICA

A análise física do exame corresponde ao estudo macroscópico do líquido,


como aspecto e coloração, e também do odor e da densidade e osmolalidade.

4.1.1. Cor

A cor da urina, em condições fisiológicas, varia do amarelo-claro ao âmbar, de


acordo com o volume de água e a concentração de urocromo. Diversas condições
patológicas podem cursar com alteração da cor da urina, é possível destacar como
variações mais comuns: a coloração avermelhada ou rósea sugerindo hematúria, e
tonalidades amarelo-escuras ou marrons indicando bilirrubinúria. Outras variações
menos comuns, como urina roxa e quilúria, decorrem principalmente de infecções,
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variando de acordo com o agente etiológico, ou uso de determinados medicamentos,


mas também podem ocorrer devido a outras causas (DANTAS, M.; SENS, Y. A. S.;
LOPES, P. C., 2018; FOGAZZI, G. B.; GARIGALI, G, 2016; KOCH, V. H.; ANDRIOLO,
A., 2010).

4.1.2 Aspecto

A urina deve estar com aspecto límpido e transparente, principalmente se for


recém emitida, porém se deixada em repouso por determinado tempo ou for resfriada,
pode ter formação de depósito e turvação. Anormalidades como alta concentração de
cristais, células ou bactérias, devido a situações em que a urina entra em contato com
secreções genitais ou infecções do trato urinário podem deixá-la mais turva (DANTAS,
M.; SENS, Y. A. S.; LOPES, P. C., 2018; FOGAZZI, G. B.; GARIGALI, G, 2016; KOCH,
V. H.; ANDRIOLO, A., 2010).

4.1.3 Odor

A presença de ácidos orgânicos voláteis na urina faz com que ela tenha o seu
odor característico. O odor amoniacal pode ocorrer devido a infecções bacterianas ou
após retenção urinária por um longo tempo em idosos em razão da fermentação
alcalina, enquanto a cetoacidose diabética confere à urina um odor mais adocicado
(DANTAS, M.; SENS, Y. A. S.; LOPES, P. C., 2018; FOGAZZI, G. B.; GARIGALI, G,
2016; KOCH, V. H.; ANDRIOLO, A., 2010; OLIVEIRA LIMA, A. et al., 2001).

4.1.4 Densidade e Osmolalidade

A osmolalidade de uma solução corresponde à quantidade em mOsm/kg de


partículas osmoticamente ativas ali dissolvidas. A osmolalidade urinária é um ótimo
marcador da concentração urinária, sendo um reflexo direto da osmolalidade
sanguínea, cuja pequena variação pode acarretar em grande mudança na
concentração urinária (RIELLA M. C., 2018). A osmolalidade pode ser estimada a
partir da densidade e vice-versa de acordo com a seguinte fórmula (KOCH, V. H.;
ANDRIOLO, A., 2010):

Osmolalidade = (densidade - 1,000) x 40


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Sendo assim, a avaliação da densidade e osmolalidade da urina pode fornecer


informações importantes de distúrbios hidroeletrolíticos ou situações que reduzem a
capacidade de concentração urinária, como doença renal crônica, uso de diuréticos
de alça, hiperidratação e outras circunstâncias. A densidade urinária é considerada
quando se encontra entre 1,015 e 1,030 g/mL (DANTAS, M.; SENS, Y. A. S.; LOPES,
P. C., 2018; FOGAZZI, G. B.; GARIGALI, G., 2016; KOCH, V. H.; ANDRIOLO, A.,
2010).

4.2 ANÁLISE QUÍMICA

No estudo químico da urina, é avaliado o pH e a presença de substâncias como


proteínas, glicose, hemepigmentos e outros.

4.2.1 pH

Determinar o potencial hidrogeniônico urinário pode ser muito útil no


diagnóstico de desequilíbrios hidroeletrolíticos ou distúrbios ácido-base metabólicos
ou respiratórios, de acordo com outros exames e a clínica do paciente, uma vez que
o rim é um importante regulador do equilíbrio ácido-básico do organismo (FOGAZZI,
G. B.; GARIGALI, G., 2016). O pH ideal da urina é levemente ácido, permanecendo
entre 5,5 e 6,5. Uma urina alcalina, portanto, pode ser decorrente de substâncias
alcalinas em grande quantidade no corpo, como excesso de amônia na infecção
urinária ou na litíase renal, alcaloses ou acidose tubular renal, em que há mais
dificuldade na acidificação da urina. Por outro lado, a urina excessivamente ácida
pode indicar situações como desidratação, acidose ou intoxicação (DANTAS, M.;
SENS, Y. A. S.; LOPES, P. C., 2018; GONÇALVES, L. F. S.; BARROS, E.; MANFRO,
R. C., 1999; KOCH, V. H.; ANDRIOLO, A., 2010).

4.2.2 Proteínas

O consenso atual é que a proteinúria normal tem como limite máximo 150
mg/24h, sendo um terço dessa quantidade de origem plasmática e dois terços
derivados de secreções do trato urogenital (KLIEGMAN, R. M. et al., 2017; KOCH, V.
H.; ANDRIOLO, A., 2010). Uma proteinúria anormalmente alta é consequência do
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aumento da permeabilidade à proteínas da parede capilar glomerular, permitindo sua


passagem, e da reabsorção prejudicada pelas células epiteliais dos túbulos proximais.
Pode ser de origem glomerular ou tubular: a proteinúria glomerular costuma ser uma
preocupação importante e ocorre nos mais diversos processos patológicos
glomerulares, enquanto a proteinúria tubular sugere doença renal túbulo intersticial ou
obstrutiva (D'AMICO, G.; BAZZI, C., 2003; KOCH, V. H.; ANDRIOLO, A., 2010;
WALLER, K. V. et al., 1989). É importante destacar que a proteinúria nefrótica é assim
denominada se for maior que 3g/24h, e pode acarretar em déficit de proteínas
sanguíneas, principalmente albumina. Esses níveis nefróticos de proteína na urina
podem ser encontradas em situações como nefropatia por IgA, glomerulonefrite
membranoproliferativa, nefrite lúpica, não necessariamente acompanhando síndrome
nefrótica (GUSUKUMA, L. W. et al., 2008; RODRIGUES, C. E.; TITAN, S.; WORONIK,
V., 2012).

4.2.3 Glicose

Glicosúria é sempre decorrente de alguma anormalidade no organismo, uma


vez que praticamente toda a glicose filtrada no glomérulo é reabsorvida no túbulo
proximal. A eliminação de glicose na urina em níveis detectáveis é geralmente
causado por uma glicemia elevada a ponto de superar o limiar de capacidade de
reabsorção tubular em pacientes com diabetes mellitus ou por cenários que diminuem
essa capacidade tubular, como doença renal grave, gravidez ou até lesão no sistema
nervoso central (GONÇALVES, L. F. S.; BARROS, E.; MANFRO, R. C., 1999; KOCH,
V. H.; ANDRIOLO, A., 2010).

4.2.4 Hemoglobina

O teste de hemepigmentos no EAS é positivo quando identifica a presença de


hemoglobina, mioglobina e até de hemácias íntegras, apesar de ser menos sensível
para detectar eritrócitos intactos. A positividade desse teste é causada mais
comumente pela hematúria, definida como excreção de eritrócitos na urina, o que
sugere lesão em alguma região originária do próprio rim, como síndromes nefríticas,
de outra região do trato urinário ou doença secundária a algum distúrbio sistêmico.
Por outro lado, o teste positivo sem hemácias na amostra denota desordens
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hemolíticas congênitas, como algumas anemias, ou adquiridas, tal qual rabdomiólise


(DANTAS, M.; SENS, Y. A. S.; LOPES, P. C., 2018; MASSRY, S. G.; GLASSOCK, R.
J., 1995).

4.2.5 Bilirrubina e Urobilinogênio

A ruptura das hemácias libera hemoglobina, que é fagocitada pelas células de


Kupffer no fígado e outros macrófagos para ser metabolizada, e o produto final de sua
degradação é a bilirrubina. Em condições normais, parte desse produto entra na
composição da bile, enquanto outra é excretada pelos rins na forma de urobilinogênio
ou urobilina (GUYTON, A. C.; HALL, J. E., 2017; MARTELLI, A., 2010). Habitualmente,
as quantidades de bilirrubina na urina não são detectáveis, apenas quantidades
pequenas de urobilinogênio. A bilirrubina é identificada na urina em situações em que
há aumento dos seus níveis séricos, a exemplo do aumento da bilirrubina direta nas
lesões hepáticas parenquimatosas e na icterícia obstrutiva, e da indireta em doenças
hemolíticas (DANTAS, M.; SENS, Y. A. S.; LOPES, P. C., 2018; KOCH, V. H.;
ANDRIOLO, A., 2010).

4.2.6 Nitritos

Nitritos não são comumente encontrados na urina, sua presença indica a


infecção por determinadas bactérias gram negativas uropatogênicas, permitindo
descartar a presença de agentes etiológicos como Pseudomonas, Enterococcus spp,
Streptococcus albus e S. faecalis, Neisseria gonorrhoeae, e Mycobacterium
tuberculosis, que não capazes de produzir nitritos (DANTAS, M.; SENS, Y. A. S.;
LOPES, P. C., 2018; FOGAZZI, G. B.; GARIGALI, G, 2016; KOCH, V. H.; ANDRIOLO,
A., 2010).

4.2.7 Esterase Leucocitária

Quando há inflamação do epitélio da bexiga por bactérias presentes na urina,


macrófagos e neutrófilos lisados liberam a esterase leucocitária. A detecção dessa
enzima na urina é, portanto, importante para caracterizar leucocitúria na infecção
urinária (DANTAS, M.; SENS, Y. A. S.; LOPES, P. C., 2018; KOCH, V. H.; ANDRIOLO,
A., 2010).
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4.2.8 Cetonas

Corpos cetônicos são substâncias derivadas da quebra de gorduras, e não são


normalmente identificados no EAS. A presença desses corpos na urina, chama
cetonúria, está associada a cenários em que há metabolização de gordura para
obtenção de energia, como dieta pobre em carboidratos, jejum prolongado e
cetoacidose diabética (DANTAS, M.; SENS, Y. A. S.; LOPES, P. C., 2018; FOGAZZI,
G. B.; GARIGALI, G, 2016; KOCH, V. H.; ANDRIOLO, A., 2010).

4.2.9 Ácido Ascórbico

A dosagem urinária de vitamina C, também chamada de ácido ascórbico, é de


grande relevância porque sua presença pode interferir nos resultados de outras
dosagens, causando falso-negativos para glicosúria, nitritos, esterase leucocitária e
pigmentos heme e também induzindo falso-positivos para corpos cetônicos. A
pesquisa de ácido ascórbico no EAS, portanto, mostra-se imprescindível, uma vez que
é uma substância presente em grande parte dos alimentos e amplamente usada como
medicamento, não sendo incomum sua presença na urina (COSTA, J. M. F.;
MENDES, M. E.; SUMITA, N. M., 2012; DANTAS, M.; SENS, Y. A. S.; LOPES, P. C.,
2018; RODRIGUES, E. R. R. et al., 1997).

4.3 ANÁLISE MICROSCÓPICA

A análise morfológica no exame de urina é feita tradicionalmente pela


microscopia óptica, mas também pode ser realizada por citometria de fluxo ou análise
de imagem digitalizada. Essa etapa do exame detecta elementos figurados na urina:
células, cilindros, cristais, gotículas de gordura e microorganismos como bactérias e
fungos (FOGAZZI, G. B.; GARIGALI, G, 2016; KOCH, V. H.; ANDRIOLO, A., 2010).

4.3.1 Células Epiteliais

No exame de urina, é possível encontrar células do epitélio tubular renal,


células do epitélio de transição, que são derivadas do urotélio e células do epitélio
escamoso, vindas da uretra e genitália externa. Dificilmente esses achados significam
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algum processo patológico, mas ocasionalmente uma atenção maior a esta etapa do
exame é exigida, por exemplo quando há células com anomalias morfológicas,
indicando possível neoplasia (FOGAZZI, G. B.; GARIGALI, G, 2016; KOCH, V. H.;
ANDRIOLO, A., 2010).

4.3.2 Células Sanguíneas

O normal é que as células do sangue estejam em pouca quantidade na urina,


e as que mais comumente estão presentes são os leucócitos polimorfonucleares
(principalmente os neutrófilos) e os eritrócitos. Os leucócitos, quando presentes na
amostra, se excederem o número de 5 a 10 células por campo, sugerem inflamação
ou infecção ou presença de corpo estranho do trato urinário. Se o exame for feito por
sedimento quantitativo, a leucocitúria é considerada importante quando a contagem
for maior que 10.000 leucócitos/mL. Essa quantidade pode ser encontrada, além de
em ITU, em inflamações pélvicas, glomerulonefrites e nefrites túbulo-intersticiais de
outras causas (FOGAZZI, G. B.; GARIGALI, G, 2016; KOCH, V. H.; ANDRIOLO, A.,
2010; MASSON, L. C., 2020; OLIVEIRA LIMA, A. et al., 2001).

As hemácias, por sua vez, aparecem em 2 a 5 unidades por campo, sendo


considerado hematúria pela Sociedade Americana de Hematologia quando houver 3
ou mais eritrócitos por campo em pelo menos duas de três amostras de urina
(GROSSFELD, G. D. et al., 2001). Para o exame quantitativo por microscopia, o valor
máximo de referência aceito pela maioria dos laboratórios é de 5.000 hemácias/mL,
sendo valores maiores definidos como hematúria, que pode ser glomerular ou não-
glomerular, de acordo com a quantidade de células dismórficas (DANTAS, M.; SENS,
Y. A. S.; LOPES, P. C., 2018; FOGAZZI, G. B.; GARIGALI, G, 2016; KOCH, V. H.;
ANDRIOLO, A., 2010).

4.3.3 Cilindros

Cilindros são proteínas que coagulam e se moldam nos túbulos contornados


distais e coletores a partir da precipitação da glicoproteína de Tamm-Horsfall, também
denominada uromodulina (FOGAZZI, G. B.; GARIGALI, G, 2016; KOCH, V. H.;
ANDRIOLO, A., 2010). Os cilindros compostos apenas pela própria uromodulina são
chamados hialinos e são os mais comumente encontrados em indivíduos sadios,
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estando também associados à síndrome nefrótica. No entanto, essas macromoléculas


podem se agregar a outras elementos como leucócitos, hemácias e gorduras,
originando os cilindros hemáticos nas glomerulonefrites agudas, cilindros leucocitários
em diversas inflamações do trato urinário, cilindros granulares (compostos por células
epiteliais e tubulares renais) associados à NTA, dentre muitos outros (DANTAS, M.;
SENS, Y. A. S.; LOPES, P. C., 2018; FOGAZZI, G. B.; GARIGALI, G, 2016).

4.3.4 Cristais

A presença de cristais no sedimento urinário, embora muito associada à litíase,


também é frequentemente encontrada em pacientes saudáveis, e em sua maioria são
compostos de oxalato de cálcio, fosfato de cálcio, ácido úrico e outros fosfatos. Em
quadros menos comuns, determinados tipos de cristais fornecem informações
etiopatogênicas a respeito de outras enfermidades, a exemplo da nefropatia aguda
por ácido úrico e de cristais em consequência do uso de drogas (DAUDON, M.;
JUNGERS, P., 2004; FOGAZZI, G. B.; GARIGALI, G, 2016).

5.3.5 Organismos

Quanto maior o tempo entre a coleta do material e o exame, maior é a chance


de falso diagnóstico de infecção urinária, pois há colonização de microorganismos na
amostra. Em mulheres, a chance de ocorrer falha na interpretação do exame é ainda
maior, devido à frequente contaminação da urina pela flora vaginal, e nesses casos a
confirmação é feita com a urocultura. Por isso, a avaliação adequada dos demais
aspectos do EAS se faz imprescindível a fim de que não haja erro no diagnóstico e na
conduta médica (DANTAS, M.; SENS, Y. A. S.; LOPES, P. C., 2018).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É perceptível, portanto, que o exame de rotina de urina, além de muito


acessível, mostra-se também extremamente útil para a rotina do profissional da saúde
por ser capaz de fornecer informações importantes para a realização de diversos
diagnósticos. Isto posto, a sua correta interpretação é indispensável para médicos de
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várias especialidades, a fim de que seja fornecido ao paciente o melhor atendimento


e tratamento possível.

6 REFERÊNCIAS

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ascórbico na detecção da glicosúria. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina
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