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Alta Tensão

Mestrado em Engenharia Eletrotécnica e de


Computadores (MEEC / MIEEC)

Nuno Amaro
nuno.amaro@fct.unl.pt
Gab. 1.06 - UNINOVA
3. Linhas aéreas –
cálculo de parâmetros.
Transposição de fases e
feixes de condutores

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.2


3.0 – Potencial elétrico e
fluxo ligado de
condutores

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 3.3


Potencial elétrico e fluxo externo ligado com
condutores
Os condutores das linhas têm normalmente dimensões transversais. Os mais
simples são cilíndricos, de raio 𝑅𝑐 .
As expressões de campos potencial elétrico e fluxo de indução vistas
anteriormente continuam válidas para
• 𝑟0 > 𝑅𝑐 e 𝑥 > 𝑅𝑐

Para distâncias menores que 𝑅𝑐 (interior do condutor)


• Campo elétrico nulo
• Potencial constante e igual ao potencial à superfície do condutor
𝑖 1
• Campo de indução cresce desde zero (no eixo) até 𝐵 = 𝜇. . na superfície
2𝜋 𝑅𝑐
• Fluxo interno detalhado mais à frente

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 3.4


Potencial elétrico e fluxo externo ligado com
condutores
Importa assim calcular:
• Potencial na superfície do condutor – potencial do condutor
• Fluxo sobre a superfície do condutor – fluxo externo ligado com condutor

Admitindo que:
• Funções do condutor cilíndrico são iguais às de um fio de carga no seu eixo
• Condutor infinitamente afastado de outras fontes (na realidade a uma
distância muito maior que o seu raio 𝑅𝑐 - dezenas de vezes )
• Pode desprezar-se efeito de outros condutores, tendo-se o fio de carga como
aproximação aceitável.

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 3.5


Potencial elétrico e fluxo externo ligado com
condutores
Nestas condições, tem-se então

𝑞𝑙 𝑟0 𝑖 𝑟0
𝑉𝑐𝑜𝑛𝑑 = . ln 𝜓 = 𝜇. . ln
2𝜋𝜀 𝑅𝑐 2𝜋 𝑅𝑐

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 3.6


Potencial elétrico e fluxo externo com vários
condutores
Para verificar o efeito da distância entre condutores no calculo do
potencial e do fluxo, considere-se o seguinte exemplo:
• Dois condutores cilíndricos paralelos de raios 𝑅𝑐1 e 𝑅𝑐2
• À distância (entre eixos) 𝑑12 tal que 𝑑12 ≫ 𝑅𝑐1 e 𝑑12 ≫ 𝑅𝑐2
• Condutor 1 com 𝑞𝑙1 (𝐶Τ𝑚) e corrente 𝑖1

Admitindo então que estes condutores continuam a ser representados


como fontes filiformes, virá
• Potencial e fluxo ligado do condutor 1 face a si próprio
𝑞𝑙1 𝑟0 𝑖1 𝑟0
𝑉1 = . ln 𝜓1 = 𝜇. . ln
2𝜋𝜀 𝑅𝑐1 2𝜋 𝑅𝑐1

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 3.7


Potencial elétrico e fluxo externo com vários
condutores
• Potencial e fluxo ligado do condutor 2 face ao condutor 1 (uma vez que o condutor 2
não tem carga, não representa uma fonte)
• Considerando que 𝑑12 ≫ 𝑅𝑐2 , tem-se portanto que 𝑑12 ±𝑅𝑐2 ≈ 𝑑12
Ou seja, o potencial e o fluxo ligado à superfície do condutor 2 é
aproximadamente igual ao que seria criado no espaço livre na posição do
seu eixo (devido ao condutor 1).
Assim
𝑞𝑙1 𝑟0 𝑖1 𝑟0
𝑉2−1 = . ln 𝜓2−1 = 𝜇. . ln
2𝜋𝜀 𝑑12 2𝜋 𝑑12

O erro será apenas um pequeno erro das distâncias, minorado pela aplicação
do logaritmo
Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 3.8
Potencial e fluxo de condutores face à terra
Dois fios de carga simétricos criam um campo com estrutura tal que o
plano paralelo aos fios a meia distância entre eles é um plano
equipotencial
Inversamente, se se verificar que há um fio de carga e na sua vizinhança
um plano paralelo a ele que é equipotencial, então é porque há um
outro fio de carga simétrica do outro lado do plano, à mesma distância.

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.9


Potencial e fluxo de condutores face à terra
Esta aproximação pode assumir-se com o que acontecer entre um
condutor e a terra.
• A terra é condutora e portanto um plano equipotencial face ao condutor
Assim, pode dizer-se que o campo do condutor face à terra, acima da
terra, é o mesmo que seria criado pelo condutor verdadeiro e por um
outro de carga simétrica (condutor imagem), situado abaixo da terra à
mesma distância da superfície.

Método das imagens

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.10


Potencial e fluxo de condutores face à terra
Esta consideração é também válida para o campo magnético.
• O campo magnético de um condutor com corrente 𝑖 face à terra é calculado
como se houvesse um outro condutor fictício simétrico em relação à terra e
com corrente −𝑖.

Se a altura do condutor for muito maior que o seu raio (ex. linhas aéreas)
então podemos utilizar a aproximação de fontes filiformes – fios de carga

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.11


Potencial e fluxo de condutores face à terra
Considere-se então a existência de um condutor, para o qual se pretende
calcular o potencial e fluxo ligado, face à terra.
Ter-se-ão então duas fontes
• O condutor verdadeiro
• O condutor imagem

O potencial do condutor será então a soma dos


potenciais criados pelas duas fontes, assumindo-se
cada um deles como uma fonte filiforme

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.12


Potencial e fluxo de condutores face à terra
Considere-se então o condutor de raio 𝑅𝐶1 , instalado
a uma altura ℎ1 e a uma distância 𝑑10+ da origem dos
potenciais.
O condutor imagem terá uma distância 𝑑10− da
origem dos potenciais e uma carga com sinal
contrário

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.13


Potencial e fluxo de condutores face à terra
O potencial criado no condutor 1 pela sua própria carga será dado por
+
𝑞1 𝑑10+
𝑉1 = . ln
2𝜋𝜀 𝑅𝑐1

O potencial criado no condutor 1 pela sua própria carga será dado por

−𝑞1 𝑑10−
𝑉1 = . ln
2𝜋𝜀 2ℎ1

O potencial total no condutor 1 será a soma de todas as contribuições


+ −
𝑞1 𝑑10+ −𝑞1 𝑑10−
𝑉1 = 𝑉1 + 𝑉1 = . ln + . ln ֞
2𝜋𝜀 𝑅𝑐1 2𝜋𝜀 2ℎ1
𝑞1 𝑑10+ 2ℎ1
𝑉1 = . ln .
2𝜋𝜀 𝑅𝑐1 𝑑10−

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.14


Potencial e fluxo de condutores face à terra
Da mesma forma, consegue provar-se que:
𝑖1 𝑑10+ 2ℎ1
𝜓1 = 𝜇 . ln .
2𝜋 𝑅𝑐1 𝑑10−

Estas duas expressões permitem portanto calcular o potencial e fluxo


de um condutor face à terra

𝑞1 𝑑10+ 2ℎ1 𝑖1 𝑑10+ 2ℎ1


𝑉1 = . ln . 𝜓1 = 𝜇 . ln .
2𝜋𝜀 𝑅𝑐1 𝑑10− 2𝜋 𝑅𝑐1 𝑑10−

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.15


Potencial e fluxo de condutores face à terra –
terra como origem das funções
𝑑10+ 2ℎ1
As duas expressões anteriores têm ambas o termo ln . −
𝑅𝑐1 𝑑10
Se se conseguir que 𝑑10+ = 𝑑10− então a expressão para ambas as
funções pode ser simplificada de forma a que fica a depender apenas
das características dos condutores

𝑑10+ 2ℎ1 2ℎ1


ln . = ln
𝑅𝑐1 𝑑10− 𝑅𝑐1

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.16


Potencial e fluxo de condutores face à terra –
terra como origem das funções
Tal é possível se tomarmos como origem um qualquer ponto na
superfície da terra.
• Assim os potenciais passam a ser vistos com a tensão em relação à terra
• Fluxos que atravessam superfícies que se estendem do condutor até à terra
Tem-se portanto, num condutor face à terra e considerando a terra
como a origem dos potenciais
𝑞1 2ℎ1
𝑉1 = . ln
2𝜋𝜀 𝑅𝑐1

𝑖1 2ℎ1
𝜓1 = 𝜇 . ln
2𝜋 𝑅𝑐1

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.17


Potencial e fluxo de condutores face à terra –
vários condutores (1 fonte)
Considere-se agora a existência de dois condutores cilíndricos, 1 e 2,
paralelos entre si e em relação à terra.
Tem-se
𝐶
• Condutor 1: raio 𝑅𝑐1 , altura ℎ1 , carga 𝑞𝑙1 ( ) e corrente 𝑖1 (𝐴)
𝑚
• Condutor 2: raio 𝑅𝑐2 , altura ℎ2 , sem carga e sem corrente (por agora)
• 𝑅𝑐1 e 𝑅𝑐2 são muito menores que a distância entre os condutores e à terra

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.18


Potencial e fluxo de condutores face à terra –
vários condutores (1 fonte)
Aplicando o método das imagens, temos então a seguinte situação:

É necessário calcular então o potencial que a


carga 𝑞𝑙1 cria no seu próprio condutor 𝑉11 e o
potencial que a mesma carga 𝑞𝑙1 cria no
condutor 2, 𝑉21

𝑉11 já foi anteriormente calculado, tendo-se


𝑞𝑙1 2ℎ1
𝑉11 = . ln
2𝜋𝜀 𝑅𝑐1

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.19


Potencial e fluxo de condutores face à terra –
vários condutores (1 fonte)
𝑉21 pode ser calculada tendo em conta a aproximação a fontes filiformes, como
também vimos anteriormente.
É necessário considerar duas componentes
+
• 𝑉21 - potencial criado pela carga verdadeira (+𝑞𝑙1 )

• 𝑉21 - potencial criado pela imagem da carga (−𝑞𝑙1 )
Cada uma destas componentes pode ser calculada pela expressão
que vimos para o caso da existência de vários condutores.
+ 𝑞𝑙1 𝑟0+ − −𝑞𝑙1 𝑟0−
𝑉21 = . ln + e 𝑉21 = . ln −
2𝜋𝜀 𝑑12 2𝜋𝜀 𝑑12
onde:
• 𝑟0+ é a distância da carga 𝑞𝑙1 à origem dos potenciais
• 𝑟0− é a distância da carga −𝑞𝑙1 à origem dos potenciais
+
• 𝑑12 é a distância da carga 𝑞𝑙1 ao eixo do condutor 2

• 𝑑12 é a distância da carga −𝑞𝑙1 ao eixo do condutor 2

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.20


Potencial e fluxo de condutores face à terra –
vários condutores (1 fonte)
Se utilizarmos a terra como origem dos potenciais, temos
𝑟0+ = 𝑟0− = ℎ1
e
+
𝑑12 = 𝑑12 : distância entre os condutores 1 e 2
− ′
𝑑12 = 𝑑12 : distância entre o condutor 2 e a imagem do condutor 1
Resultando então
+
𝑞𝑙1 ℎ1 −
−𝑞𝑙1 ℎ1
𝑉21 = . ln 𝑉21 = . ln ′
2𝜋𝜀 𝑑12 2𝜋𝜀 𝑑12

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.21


Potencial e fluxo de condutores face à terra –
vários condutores (1 fonte)
Tendo em conta que
+ −
𝑉21 = 𝑉21 + 𝑉21
Tem-se

𝑞𝑙1 𝑑12
𝑉21 = . ln
2𝜋𝜀 𝑑12

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.22


Potencial e fluxo de condutores face à terra –
vários condutores (1 fonte)
Em suma, o potencial dos dois condutores face à terra (com apenas o
condutor 1 como fonte) é dado por:

𝑞𝑙1 2ℎ1 𝑞𝑙1 𝑑12
𝑉11 = . ln 𝑒 𝑉21 = . ln
2𝜋𝜀 𝑅𝑐1 2𝜋𝜀 𝑑12
O mesmo raciocício pode ser aplicado para os fluxos, obtendo-se:

𝑖1 2ℎ1 𝑖1 𝑑12
𝜓11 =𝜇 . ln 𝑒 𝜓21 =𝜇 . ln
2𝜋 𝑅𝑐1 2𝜋 𝑑12

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.23


Potencial e fluxo de condutores face à terra –
vários condutores (1 fonte)

As distâncias 𝑑12 e 𝑑12 nas equações anteriores variam
conforme o problema concreto.
Num caso geral, sendo ℎ1 a altura do condutor 1,
ℎ2 a altura do condutor 2 e 𝑎12 a distância em planta
entre os condutores, tem-se
2 2
𝑑12 = 𝑎12 + ℎ1 − ℎ2
′ 2 2
𝑑12 = 𝑎12 + ℎ1 + ℎ2

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.24


Potencial e fluxo de condutores face à terra –
vários condutores (várias fontes)
Considere-se agora que os dois condutores, 1 e 2, referidos
anteriormente têm carga 𝑞𝑙1 e 𝑞𝑙2 respetivamente.
Os potenciais serão então:

+ − + −
𝑉1 = 𝑉11 + 𝑉11 + 𝑉12 + 𝑉12

+ − + −
𝑉2 = 𝑉22 + 𝑉22 + 𝑉21 + 𝑉21

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.25


Potencial e fluxo de condutores face à terra –
vários condutores (várias fontes)
Considerando a terra como origem dos potenciais, e aplicando as expressões
anteriores, prova-se que
𝑞𝑙1 2ℎ1 𝑞𝑙2 ′
𝑑12
𝑉1 = . ln + . ln
2𝜋𝜀 𝑅𝑐1 2𝜋𝜀 𝑑12
𝑞𝑙2 2ℎ2 𝑞𝑙1 ′
𝑑12
𝑉2 = . ln + . ln
2𝜋𝜀 𝑅𝑐2 2𝜋𝜀 𝑑12

O mesmo raciocício pode ser aplicado para os fluxos, obtendo-se:


𝑖 2ℎ1 𝑖2 ′
𝑑12
𝜓1 = 𝜇 1 . ln + 𝜇 . ln
2𝜋 𝑅𝑐1 2𝜋 𝑑12
𝑖 2ℎ2 𝑖1 ′
𝑑12
𝜓2 = 𝜇 2 . ln + 𝜇 . ln
2𝜋 𝑅𝑐2 2𝜋 𝑑12

Ano letivo: 22/23 Alta Tensão - Nuno Amaro 2.26

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