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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA

COMARCA DE LAJEADO – RS

RENATO BERGMANN brasileiro, casado, atendente


comercial, inscrito no CPF sob o nº 220.265.840-87 e portador da CI nº.
3006774628, residente e domiciliado na Mário Ernesto Mallmann, s/nº, Bairro
Moinhos na cidade de Lajeado/RS, por sua advogada ao final assinado 1, com
endereço profissional na Rua Júlio May, nº 237, centro, na cidade de Lajeado/RS,
onde recebem intimações, vem à presença de Vossa Excelência propor
AÇÃO DE APOSENTADORIA INTEGRAL POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
OU APOSENTADORIA PROPORCIONAL POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
em face de INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, Autarquia
Federal, estabelecida na Avenida Benjamim Constant, 973, Centro, Lajeado, RS,
que deverá ser citado na pessoa e seu representante legal, pelas seguintes
razões de fato e de direito:

I - DOS FATOS

O Autor nasceu em 10 de março de 1953, filho de Willibaldo


Bergmann e Annita Bergmann, com inscrição nº 10744426976, sendo que
trabalhou na agricultura em economia familiar desde a infância junto com sua
família, em terras próprias, no período de março de 1965 a março de 1974. O
Autor em 06 de março de 1974 passou a laborar a exercer atividade urbana,
quando teve seu primeiro vínculo de emprego.

A família sempre trabalhou em Regime de Economia Familiar,


desempenhando atividades como a criação e a ordenha do gado, o trabalho com
criação de porcos e galinhas, o cultivo do feijão, arroz, trigo, mandioca, batata,
soja, cana de açúcar e de pastagem.
1
Procuração anexa.

1
O Autor passou grande parte da sua vida na localidade de Linha
Cachoeira Baixa, pertencente à cidade de Venâncio Aires, freqüentando o colégio
da localidade até a 5º série. Em 04 de março de 1970 até 17 de dezembro de
1973, o Autor passou a freqüentar o colégio Instituto Estadual de Educação
Estrela da Manhã na cidade de Estrela/RS como aluno aprendiz, onde recebia
retribuição pecuniária na forma de alimentação, vestuário, hospedagem e ensino,
conforme certidão de tempo de serviço fornecida pela instituição em anexo.

Importa referir que, no que atine ao período em que foi aluno


aprendiz, além de receber retribuição pecuniária na forma de alimentos, vestuário,
hospedagem, o Autor, tanto nos finais de semana, bem como, nos períodos de
férias escolares, exercia atividade agrícola em regime de economia familiar na
propriedade de família, inclusive na época de colheita e/ou acúmulo de trabalho
agrícola o mesmo deixava de comparecer na escola por determinados períodos.

Consta em anexos aos autos farta documentação comprovando


o exercício da atividade rural, que fundamenta as pretensões do Autor em ver
comprovação o período de atividade rural desde seus 12 anos de idade
(10/março/1965) até 06 de março de 1974, quanto teve seu primeiro contrato de
trabalho urbano, vindo a laborar a exercer atividade urbana.

Conforme certidão de nascimento do Autor o mesmo nasceu em


domicilio no distrito de “Linha Cachoeira”, onde a família tinha a propriedade
Rural, sendo a profissão dos pais agricultores.

Ainda com o objetivo de comprovar o exercício da atividade rural,


o Demandante junta uma Declaração do Sindicato Rural de Venâncio Aires, no
qual está declarado o labor rural de Willibaldo Bergmann, genitor do Autor, no
período de 11 de janeiro de 1966 até 30 de junho de 1974, conforme documento
em anexo.

Segue ainda, nos autos, notas de talão do produtor do período


de 1966 até 1975, certidão da Prefeitura de Venâncio Aires/RS, referente a

2
pagamento de taxas de assistência às estradas e pontes dos anos de
1962,1963,1964,1965,1966,1970,1971,1972,1973, certidão registro de imóveis,
certidão de nascimento de uma das irmãs nascida em 1965.

Em 06 de março de 1974 o Autor passou a exercer atividades


urbanas, segundo cópias da CTPS juntada aos autos.

No entanto, o requerente intentou o último pedido de


Aposentadoria Integral por Tempo de Contribuição junto ao INSS em 24/06/2010,
recebendo o Comunicado de Indeferimento, no qual consta que em virtude da
falta do tempo de contribuição foi INDEFERIDO o seu pedido de aposentadoria,
pois a Autarquia Demandada somente reconheceu 29 anos 02 meses e 03 dias
de tempo de contribuição, conforme cópia da decisão administrativa.

Importa aqui ressaltar que restou homologado pela Autarquia o


período de 01/03/1967 até 28/02/1970 como exercício da atividade rural em
regime de ecomonia familiar, restando incontroverso.

Dita apuração não considerou a sua atividade desenvolvida


na agricultura desde seus doze anos de idade, ou seja, desde 10/março/1965
até 28/fevereiro de 1967, 9dos 12 anos aos 14 anos do Autor), o período de
março de 1970 a 17 de dezembro de 1973, (período em que o Autor
freqüentou colégio agrícola como aluno aprendiz) e, ainda, o período de 18
de dezembro de 1973 até 05 de março de 1974 (período em que o Autor
exerceu atividade agrícola em economia familiar, antes de ter sua CTPS
anotada), PERÍODO QUE DESDE JÁ SE REQUER O RECONHECIMENTO
COMO EXERCICIO DA ATIVIDADE RURAL EM REGIME DE ECOMONIA
FAMILIAR.

A autarquia reconheceu apenas o período de 01/03/1967 até


28/02/1971 como exercício de atividade rural em regime de economia familiar e o
tempo comum em que o demandante laborou com CTPS assinada ou contribuiu
como individual.

3
Desta forma, deixou de computar 06 anos e 06 dias de atividade
rural. Cumpre esclarecer que o demandante continua laborando até os dias atuais
e, consoante cópia da CTPS juntada, o contrato de trabalho não foi rescindido.
Segue demonstrativo do tempo de contribuição:

* 06 anos 00 meses 06 dias (atividade rural não reconhecida)


* 29 anos 02 meses 03 dias (tempo reconhecido pelo INSS)
35 anos 2 meses 09 dias

O número do benefício do autor é 151.932.104-7 e o cálculo do


valor da causa está anexo aos autos.

Cabe referir que na justificativa administrativa foram ouvidas


testemunhas, conforme consta no processo administrativo, na qual as
testemunhas confirmaram de forma unânime o exercício da atividade rural do
Autor.

Para auferir sua Aposentadoria Integral por Tempo de


Contribuição a postulante necessita comprovar o tempo descrito acima, para
tanto, juntou a documentação que possui e, desde já requer a oitiva de
testemunhas.

DO DIREITO:

O Autor e sua família sempre fizeram parte dos trabalhadores da


Zona Rural, trabalhando em Regime de Economia Familiar, sem o auxílio de
empregados, ou seja, plantavam para o sustento da família e os excedentes
comercializavam. As provas materiais inclusas demonstram a realidade dos fatos
narrados, além de vários documentos serem revestidos de fé pública, como as
notas de talão de produtor em nome do genitor do Autor e a certidão de
nascimento do próprio Demandante, entre outros, gerando presunção de
legitimidade quanto á sua profissão de agricultor.

4
O STJ, em sua Súmula 149, editou o seguinte enunciado, a qual
não é contrariada pelo Autor:

“A prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da atividade


rurícola para efeito da obtenção de benefício previdenciário”.

É certo que as provas são descontínuas e que não comprovam


ano a ano a atividade rural, entretanto, só existe a necessidade de se demonstrar
que o Autor exerceu a agricultura como meio de vida, o que já traz a idéia de
continuidade, e não da eventualidade. Diante de tais provas materiais
apresentadas e não apenas testemunhais, visamos proporcionar segurança a
este juízo, demonstrando que o demandante sempre foi campesino.

O Tribunal Regional Federal se manifesta neste sentido ao


prolatar os seus julgados sobre a descontinuidade da prova material:

“PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO.


CONTAGEM RECÍPROCA DO TEMPO DE SERVIÇO URBANO E RURAL.
COMPROVAÇÃO DA ATIVIDADE RURAL. DESCONTINUIDADE DA PROVA
MATERIAL. CONJUNTO PROBATÓRIO. QUALIFICAÇÃO DE AGRICULTOR
EM ATOS DE REGISTRO CIVIL.
1- A descontinuidade da prova documental não impede o reconhecimento de
todo o período de tempo rural postulado, uma vez que a declaração do tempo
de serviço rural envolve, mais do que o reconhecimento do exercício da
atividade agrícola, o reconhecimento da condição de lavrador, na qual está
intrínseca a idéia de continuidade, e não da eventualidade.
2- Não há necessidade da comprovação do trabalho rural mês a mês, ou ano
a ano, bastando que o conjunto probatório permita ao julgador formar
convicção acerca da efetiva prestação laboral rurícola. (...)” (Apelação Cível
nº. 172472/RS. In. www.Trf4.gov.br).

O Requerente desde muito jovem exerceu a profissão de


agricultor, a partir de seus 12 (doze) anos de idade. Esta profissão era exercida
em Regime de Economia Familiar, gerando uma situação de mútua dependência
entre os integrantes do grupo familiar. Os produtos retirados da lavoura eram
milho, feijão, batata, aipim, abóbora, trigo, fumo, soja, além da criação de animais.
É possível o reconhecimento do período anterior aos 14 anos de idade, ou seja,
desde os 12 anos, tendo em vista o posicionamento da jurisprudência pátria,
conforme decisão prolatada:

5
“PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO SE SERVIÇO.
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº20/98. DIREITO ADQUIRIDO À
APOSENTADORIA E AS REGRAS DE CÁLCULO. COMPROVAÇÃO DO
EXERCÍCIO DE ATIVIDADES AGRÍCOLAS. INÍCIO DE PROVA MATERIAL.
DOCUMENTOS EM NOME DOS PAIS. QUALIFICAÇÃO COMO
“AGRICULTOR” EM REGISTROS PÚBLICOS. RECONHECIMENTO DO
TRABALHO RURAL ANTERIOR AOS 14 ANOS. POSSIBILIDADE.
PREVIDENCIÁRIO.(...).grifei
10. A proibição do trabalho aos menores de catorze anos foi estabelecida pela
Constituição em benefício do menor e não em seu prejuízo.
11. Demonstrado efetivo trabalho - não mera colaboração ou auxílio, com os
caracteres efetivos dessa relação, terá o menor de qualquer idade direito aos
efeitos trabalhistas e previdenciários decorrentes. (...) (Apelação Cível nº.
484181/ SC.In: www. Trf4. Gov. br).”

Inclusive o Tribunal do Rio Grande possui o mesmo


entendimento quanto à matéria mencionada:

“MANDADO DE SEGURANÇA. PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO


RURAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL EM NOME DE TERCEIROS.
CONTAGEM DE TEMPO A PARTIR DOS 12 ANOS PARA FINS
PREVIDENCIÁRIOS. CONTRIBUIÇÕES.
1. Os documentos em nome de terceiros (pais/cônjuge) consubstanciam início
de prova material do trabalho rural desenvolvido em regime de economia
familiar.
2. É possível a contagem do tempo de serviço para fins previdenciários a
partir dos 12 anos de idade. Precedentes da Terceira Seção do TRF/4ª
Região e STJ.
3. O tempo de serviço do segurado trabalhador rural, anterior à data de início
de vigência da Lei nº. 8.213/91, será considerado para fins de aposentadoria,
independentemente do recolhimento de contribuições previdenciárias.
(Apelação em Mandado de Segurança nº. 96542/ RS. In. www. Trf4. Gov. br).”

No Julgamento do Recurso JEF Nº 2004.71.95.015959-0/RS o


Relator Juiz Daniel Machado da Rocha proferiu seu voto em conformidade com a
Súmula 05 da TNU e os julgados transcritos acima, a saber:

“Do cômputo do tempo de serviço prestado entre os 12 e 14 anos de idade”


Conforme visto anteriormente, é possível o cômputo do tempo de serviço rural
prestado a partir dos 12 anos de idade, nos termos da Súmula n. 5 da Turma
Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais
Federais, segundo a qual: "A prestação de serviço rural por menor de 12 a
14 anos, até o advento da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, devidamente
comprovada, pode ser reconhecida para fins previdenciários."
Portanto, corroboradas as provas materiais pelos depoimentos testemunhais e
tendo a autora nascido em 28.07.1962 (fl. 18), entendo que o pedido de
averbação de tempo rural laborado entre 28.07.1974 a 27.07.1976 é
realmente devido, de modo que merece reforma a sentença neste aspecto. O
reconhecimento deste período gera um acréscimo de exatamente 02 anos a
serem computados no tempo de serviço da parte autora para fins de cálculo
da renda mensal.”

6
Não computar o tempo que o Autor laborou desde seus 12 anos
de idade, lhe acarreta sérios prejuízos, já que a Constituição e a Lei Ordinária
estabeleceram regras previdenciárias em benefício do menor, e não com o intuito
de causar-lhe dano. A contagem do tempo de serviço rural é devida desde seus
12 anos de idade, pois o mesmo comprovou documentalmente que seu pai era
agricultor e que estudava na localidade. Este entendimento já está consolidado na
jurisprudência, uma vez que a TNU editou a Súmula nº. 05.

“Prestação de Serviço Rural. A prestação de serviço rural


por menor de 12 a 14 anos, até o advento da Lei n. 8.213, de
24 de julho de 1991, devidamente comprovada, pode ser
reconhecida para fins previdenciários.”

No que refere ao período em que o Autor estudou como aluno


aprendiz, importa referir que o mesmo, além de estudar, laborava como aluno
aprendiz, recebendo remuneração, e, ainda, laborava na propriedade da família
em atividade rural nos finais de semana e no período de férias.

Vale ressaltar que conforme certidões fornecidas pelo


educandário, o período de aprendizado em escola técnica era considerado
exercício profissional por parte do aluno, já que o Autor, mesmo que sem a devida
formalização, prestava serviços à escola ou à sua mantenedora recebendo
retribuição pecuniária de forma indireta, na forma de contraprestação, através do
fornecimento de alimentação, uniforme, hospedagem e material escolar.

Segue jurisprudência sobre o tema acima referido:

PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO EXERCIDO COMO ALUNO-


APRENDIZ. COMPROVAÇÃO. REQUISITOS. SÚMULA 96 DO TRIBUNAL
DE CONTAS DA UNIÃO.
1. Para fins de reconhecimento do tempo de serviço exercido na condição de
aluno-aprendiz, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça tem, reiteradamente,
aplicado a Súmula 96 do Tribunal de Contas da União (Conta-se, para todos
os efeitos, como tempo de serviço público, o período de trabalho prestado, na
qualidade de aluno-aprendiz, em Escola Pública Profissional, desde que
comprovada a retribuição pecuniária à conta do orçamento, admitindo-se,
como tal, o recebimento de alimentação, fardamento, material escolar e
parcela de renda auferida com a execução de encomenda para terceiros).
2. É necessária, portanto, a comprovação dos seguintes requisitos: (1)
prestação de trabalho na qualidade de aluno-aprendiz e (2) retribuição
pecuniária à conta do Orçamento, admitindo-se, como tal, o recebimento de

7
(a) alimentação, (b) fardamento, (c) material escolar e (d) parcela de renda
auferida com a execução de encomendas por terceiros.
3. Atento ao pedido formulado pela parte autora, não há falar em períodos
anotados na CTPS de forma concomitante com o postulado na condição de
aluno-aprendiz, e, por outro lado, depreende-se que o acórdão da Turma, no
ponto, foi ultra petita, devendo ser adequado aos limites do pedido.
4. Comprovados, no caso concreto, os requisitos necessários à qualificação
do autor como aluno-aprendiz no período postulado, tem o autor direito ao
cômputo, para fins de aposentadoria, do tempo de labor respectivo (18-03-
1972 a 15-05-1972; 01-07-1972 a 20-12-1972; 20-02-1973 a 27-05-1973; 13-
11-1973 a 20-12-1973 e 20-02-1974 a 14-04-1974, correspondente a 01 ano,
02 meses e 29 dias). Acórdão Classe: EINF - EMBARGOS INFRINGENTES
Processo: 2002.71.00.005857-0 UF: RS Data da Decisão: 04/03/2010 Orgão
Julgador: TERCEIRA SEÇÃO Fonte D.E. 12/03/2010 Relator CELSO KIPPER.

As provas documentais em nome dos pais consubstanciam início


material de prova, já que era normal a documentação estar no nome do chefe ou
arrimo da família, e não dos filhos e da esposa. Não aceitar provas em nome de
terceiro, dos pais e do marido, confronta o entendimento da jurisprudência que é
pacífica no assunto, já que a Turma Nacional de Uniformização editou a Súmula
nº. 06 com o seguinte enunciado:

“Comprovação de Condição Rurícula: A certidão de casamento ou outro


documento idôneo que evidencie a condição de trabalhador rural do cônjuge
constitui início razoável de prova material da atividade rurícula.”

O Autor não contraria esta súmula, pois a sua Certidão de


Nascimento demonstram a profissão rurícola. Este fato era comum nas famílias,
como a do Autor, que viviam em Regime de Economia Familiar, pois a
documentação estava inteiramente no nome do chefe da família, o patriarca. Este
fato, por si só, não impede que o tempo seja computado, consoante os seguintes
julgados:

“PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO.


EMENDA CONSTITUCIONAL Nº. 20/98. DIREITO ADQUIRIDO À
APOSENTADORIA E ÀS REGRAS DE CÁLCULO. COMPROVAÇÃO DO
EXERCÍCIO DE ATIVIDADES AGRÍCOLAS. INÍCIO DE PROVA MATERIAL.
DOCUMENTOS EM NOME DOS PAIS. QUALIFICAÇÃO COMO
“AGRICULTOR” EM REGISTROS PÚBLICOS. RECONHECIMENTO DO
TRABALHO RURAL ANTERIOR AOS 14 ANOS. POSSIBILIDADE.
(...) 8- É firme o entendimento jurisprudencial de que os documentos
apresentados em nome de terceiros (pai, filho, marido, esposa) são hábeis à
comprovação do trabalho rural desenvolvido pelos outros membros do grupo
que labora em regime de economia familiar. (grifei)
9- Documentos públicos onde conste a qualificação do segurado como
“agricultor” constitui início de prova material do exercício de atividades rurais

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para fins previdenciários. Precedentes do STJ.(AC nº.
1999.72.05.007909-0/SC, Des. Federal Néfi Cordeiro, DJU 07/07/2004).

“PREVIDENCIÁRIO. RECONHECIMENTO DO TEMPO DE SERVIÇO NA


ATIVIDADE RURAL. INEXISTÊNCIA DE PRÉVIA POSTULAÇÃO
ADMINISTRATIVA. PROVA MATERIAL INDIRETA. REGIME DE ECONOMIA
FAMILIAR. DOCUMENTOS EM NOME DO PAI, DO MARIDO E DO SOGRO
DA AUTORA.
1- A inexistência de prévia postulação administrativa não constitui óbice ao
ingresso em juízo desde que configurada na própria ação a resistência da
pretensão deduzida.
2- Os documentos em nome do pai da autora, bem como, aqueles em nome
em nome do marido ou do sogro, no período, posterior ao casamento, podem
ser aproveitados em seu favor, como prova material indireta, tendo em vista a
própria definição do regime de economia familiar, contida no Art.- 11, Par. §
1º. da Lei 8213/91, e levando-se em conta o costume , no meio rural, de
serem expedidos os documentos em nome de quem está á frente dos
negócios da família, normalmente o cônjuge varão.
3- Apelação improvida.” (AC nº. 940445258-0/ RS, TRF 4º Região, 6ª.
Turma, Rel. Juiz Carlos Sobrinho, DJU 13/05/1998, pág. 770).

Igualmente é o entendimento da eminente Relatora Juíza


Federal Salise Monteiro Sanchotene, que proferiu o seguinte julgado no processo
nº. 20027101000499-4:

"É consabido que no meio rural, de regra, os negócios são feitos em nome do
marido, do companheiro, ou mesmo do filho mais velho, até como forma de
homenagem e reconhecimento à autoridade que tais figuras emprestam aos
núcleos familiares, especialmente naqueles mais conservadores, como o
rural."

Quanto ao período que o demandante laborou na agricultura,


possui o seu direito assegurado no artigo 195, § 8º, da Carta Magna, de contá-lo
como tempo de contribuição para fins previdenciários, já que este determina o
seguinte:

Art. 195, §8º- CF - “O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o


pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, em regime de
economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a
seguridade social mediante uma alíquota sobre o resultado da
comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei”.

Outro requisito que traz o dispositivo constitucional acima, é a


contribuição que ocorre mediante o desconto de uma alíquota quando da venda
dos produtos agrícolas, realizadas através das notas fiscais do talão de produtor
rural. Os pais do autor sempre realizavam a venda da produção agrícola através
das referidas notas fiscais, tendo contribuído para a Previdência Social, então,

9
conforme exige a legislação, fazendo jus ao computo do trabalho rurícola, desde
seus 12 anos, no cálculo do tempo de contribuição.

Entre outros dispositivos legais, aplicáveis à espécie, merece ser


transcrito o artigo 201, parágrafo 7º da Constituição Federal.

Art. 201,§ 7º CF - : “É assegurada aposentadoria no regime geral de


previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições:
I- 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem, e 30 (trinta) anos de
contribuição, se mulher;
(...) § 9º Para efeito de aposentadoria é assegurada a contagem recíproca de
tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e
urbana, hipótese em que os diversos regimes de previdência social se
compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei.”

No mesmo sentido é o dispositivo legal que disciplinou a matéria


dos benefícios previdenciários, através da Lei 8.213/91, em seu artigo 94, diz:

Art. 94-“ Para efeito dos benefícios previstos no Regime Geral da Previdência
Social, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição ou de
serviço na administração pública e na atividade privada rural e urbana,
hipótese em que os diferentes sistemas de previdência social se compensarão
financeiramente.”

No que atine ao cálculo da renda mensal do benefício, salienta o


artigo 53 da Lei 8.213/91, que comenta:

Art. 53- A aposentadoria por tempo de serviço, observado o disposto na


Seção III deste Capítulo, especialmente no Art. 33, consistirá numa renda
mensal de: 
I - para a mulher: 70% (setenta por cento) do salário-de-benefício aos 25
(vinte e cinco) anos de serviço, mais 6% (seis por cento) deste, para cada
novo ano completo de atividade, até o máximo de 100% (cem por cento) do
salário-de-benefício aos 30 (trinta) anos de serviço.

Destarte, o coeficiente do cálculo da renda inicial, deve


corresponder ao máximo de 100% do salário-de-benefício, pois o Autor conta com
mais de 35 anos de serviço. O que também não é considerado pela jurisprudência
é o pedágio de 20% exigido pelo INSS para aposentação e nem a idade mínima,
uma vez que o demandante conta com mais de 35 anos de tempo de serviço,
tendo o seu direito a aposentadoria integral assegurado. É o que ratifica a
jurisprudência pátria citada abaixo:

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“PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO.
ATIVIDADE URBANA. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. ATIVIDADE
EXERCIDA EM IDADEINFERIOR A DOZE ANOS. EC N. 20/98. JUROS DE
MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CUSTAS PROCESSUAIS.
5. A Emenda Constitucional n. 20/98 fixou, para os segurados que já se
encontravam filiados ao sistema previdenciário na época da promulgação da
emenda, em 15-12-1998, normas de transição. Entretanto, o estabelecimento
de uma idade mínima para a obtenção de aposentadoria integral no âmbito do
regime geral, que constava no projeto submetido ao Congresso Nacional, não
restou aprovado por aquela Casa, de forma que não se pode cogitar de
aplicação de pedágio e idade mínima se já satisfeitos todos os requisitos para
a aposentação integral. As regras de transição, assim, só encontram
aplicação se o segurado optar pela aposentadoria proporcional, figura essa
extinta pelo novo regramento previdenciário. (AC- APELAÇÃO CIVEL –
628276/RS. In . www. Trf4. Gov. br).”

Neste sentido, mencionamos o acórdão citado no item 2.5 acima:

Apelação Cível nº 484181.


(...)1. O direito adquirido à aposentadoria proporcional é verificado no dia
15/12/98, antes de publicada a EC 20/98. Após, incidem as regras de
transição: limite etário e pedágio.
2. A aposentadoria integral por tempo de serviço, antes e após a EC 20/98,
exige tão somente o tempo de serviço - após tempo de contribuição, ausente
qualquer requisito etário.

A carência de 150 contribuições mensais, exigida pelo artigo 142


da Lei 8.213/91, já foi extrapolada pelo Autor. Neste sentido são os Acórdãos da
Quinta Turma do Tribunal Regional Federal:

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO


INTEGRAL.TEMPO DE SERVIÇO RURAL. RECONHECIMENTO. TEMPO
URBANO RECONHECIDO PELO INSS.
1. Para a concessão de aposentadoria por tempo de serviço, segundo as
regras anteriores à EC 20/98 (até 16.12.98), o segurado tem que comprovar
no mínimo 25 anos de tempo de serviço, se mulher, e 30, se homem, o que
lhe dá direito à aposentadoria no valor de 70% do salário-de-benefício,
acrescido de 6% por ano adicional de tempo de serviço, até o limite de 100%,
que se dá aos 30 anos de serviço para as mulheres e aos 35 para os homens.
2. A carência exigida no caso de aposentadoria por tempo de serviço é de 180
contribuições. Contudo, para os segurados inscritos na Previdência Social
Urbana até 25/07/91, data da publicação da Lei nº 8213/91, bem como para
os trabalhadores e empregadores rurais cobertos pela Previdência Social
Rural, a carência para as aposentadorias por idade, por tempo de serviço e
especial obedecerá a tabela de acordo com o ano em que o segurado
implementou as condições necessárias à obtenção do benefício (art. 142 da
LB). (APELAÇÃO CIVEL-573929/RS. grifei In:www. Trf4.Gov.br).”

Referente ao marco inicial do benefício, este deve ser concedido


desde o seu pedido administrativo, ou seja, desde 24/06/2010, pois o Autor já

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havia adquirido o seu direito nesta data, restando apenas, o exercício dele, como
menciona à jurisprudência citada:

“Já, o termo inicial do benefício, este, deve ser compatível com a DER (data
da entrada do requerimento administrativo), pois não se pode confundir direito
com a prova do direito. (RECURSO JEF Nº 2004.71.95.012192-5/RS. In:
www.jfrs.gov.br)”.

Portanto, possui o Autor direito ao reconhecimento da


aposentadoria integral por tempo de contribuição, pois já atingiu tempo superior
aos 35 anos exigidos.

Assim, como não foi concedida a Aposentadoria Integral por


Tempo de Contribuição administrativamente, o Autor não teve alternativa senão
acionar o Poder Judiciário que busca a proteção dos direitos sociais através da
Justiça.

DO PEDIDO:

Diante do exposto requer a Vossa Excelência que:

1) Determine a citação da Autarquia Demandada na pessoa de seu


representante legal, na Avenida Benjamin Constant, 973, na cidade de Lajeado,
RS, para que, querendo, conteste a presente ação, sob pena de revelia e
confissão.

2) Julgue procedente a presente ação, reconhecendo o direito á


Aposentadoria Integral por Tempo de Contribuição, condenando a Autarquia
Demandada no pagamento definitivo do benefício, e também as parcelas
vincendas, e as vencidas desde a DER em 24/06/2010.

3) Caso, Vossa Excelência, decidir pelo indeferimento do item acima requerido,


que seja deferida a Aposentadoria Proporcional por Tempo de Contribuição.

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4) Reconheça e determine a averbação do tempo laborado como agricultor desde
seus 12 anos de idade - desde março/1965 até fevereiro de 1967, tempo que o
Autor freqüentou colégio agrícola como aluno aprendiz e, ainda, o período de 18
de dezembro de 1973 até 05 de março de 1974, antes de ter sua CTPS anotada.

5) Condene a Autarquia no pagamento das parcelas vencidas e vincendas,


monetariamente corrigidas, desde o respectivo vencimento e acrescidas de juros
legais moratórios, incidentes até a data do efetivo pagamento.

6) Conceda o beneficio de Assistência Judiciária Gratuita ao Autor, eis que o


mesmo não dispõe de valores para arcar com as custas processuais e verba
honorária advocatícia, sem prejuízo do próprio sustento e de sua família.

7) Condene a Demandada ao pagamento dos ônus de sucumbência, como custas


e honorários advocatícios, esses fixados em 20% do valor da condenação.

8) Acate todos os meios de prova, especialmente a prova testemunhal, pericial,


documental e de qualquer outra em direito admitida. As testemunhas deverão ser
intimadas para a audiência de instrução.

Dá - se a causa o valor de R$ 6.999,38

Nestes termos, pede deferimento.

Lajeado, 08 de julho de 2011.

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Alicia Carla Zambiasi Caero
OAB/RS 60.817

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