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Universidade Federal do Espírito Santo

Motor de Indução de Enrolamento Bobinado: Aspectos


construtivos e ensaios

Relatório Experimento 1

Laboratório de Máquinas I - ELE08528 Turma 06.3 - Bancada 3

David Fiorillo e Gabriel Ferreira

Vitória

2023
Este relatório descreve as atividades de preparação, execução e análise referente à
experiência nº 1 para realização de ensaios de corrente a vazio e tensão rotórica.

1. Introdução
Praticamente todas as cadeias produtivas, industriais ou comerciais, utilizam motores
elétricos. Essas máquinas são responsáveis pela refrigeração, bombeamento de fluxos,
ventilação, entre outros benefícios. Há diversos tipos de máquinas, mas sem dúvida, a
máquina de indução é a mais utilizada.
O presente relatório aborda dois ensaios no motor de indução: o ensaio a vazio que é
equivalente ao ensaio de circuito aberto do transformador, evidenciando a corrente de
magnetização; e o ensaio de rotor aberto capaz de evidenciar a tensão de indução, relação
de transformação nos enrolamentos do estator e rotor (magnitude e frequência) de
escorregamento.
Foi possível verificar que no ensaio a vazio o escorregamento do motor é baixo (próximo de
zero) e que no ensaio rotor aberto o sistema se comporta como um conversor de frequência
onde as tensões induzidas no rotor resultam da interação das rotações impostas e o campo
girante do estator.

2. Preparação
Para o ensaio foi utilizado a bancada LabVolt 3. A bancada fornece tensão ajustável,
medições e excitações mecânicas através de eletrodinamômetro.
Quanto aos aspectos construtivos, foi observado que o motor possui 3 anéis coletores.
Estes anéis permitem o contato elétrico entre partes girantes (rotor) e parte paradas
(estator). Portanto, através dos anéis coletores é possível configurar rotores bobinados com
diferentes ligações (como delta ou estrela).
Além dos anéis coletores que giram com o rotor, são necessárias escovas que permanecem
paradas, mantendo contato galvânico entre eles (atrito entre escova e anel).
A primeira parte do ensaio, considera o rotor sem carga, também chamado de ensaio a
vazio. Além disso, o motor de indução do rotor bobinado (MIRB) deve operar com as
bobinas do estator ligadas em Y, enquanto as bobinas do rotor devem ser ligadas em
curto-circuito, conforme a Figura 1.
Figura 1: Esquema elétrico de ligação do MIRB referente à primeira parte do ensaio.

Quando o motor é acionado na tensão nominal de 208 V, desenvolve sua máxima rotação e
a medição de velocidade é realizada através de luz estroboscópica. A partir do
conhecimento da velocidade síncrona (campo girante do estator) e da velocidade do rotor é
possível estimar o escorregamento. Para condição a vazio é esperado um valor baixo de
escorregamento visto que o pequeno conjugado gerado deve ser suficiente para compensar
apenas as perdas rotacionais (no ferro, nos mancais de atrito e na ventilação).
Na segunda parte do ensaio, o estator do MIRB permanece com as mesmas ligações
descritas na primeira parte, contudo as ligações do rotor devem ser abertas, conforme a
Figura 2.

Figura 2: Esquema elétrico de ligação do MIRB referente à segunda parte do ensaio.

O eixo do rotor aberto é acoplado mecanicamente através de uma correia dentada ao


eletrodinamômetro que pode impor diversas velocidades controladas ao acoplamento. Um
voltímetro (vide Figura 2) é inserido entre duas bobinas do rotor para medir a tensão
induzida pelos efeitos do campo girante e de rotações impostas ao rotor (pelo
eletrodinamômetro). Quando o rotor aberto está parado e a alimentação nominal do estator
é acionada, se produz um campo girante no estator onde o escorregamento é máximo
(s=1). A sequência trifásica da alimentação que chega no motor impõe um sentido de giro
ao campo girante do estator. Dependendo do sentido de giro do rotor e de sua rotação, em
relação ao campo girante do estator, haverão diferentes magnitudes de tensões induzidas
no rotor A velocidade relativa entre o campo girante do estator e a do rotor provocam
diferentes escorregamentos e frequências no campo girante do rotor que podem ser
estimadas.

3. Execução
No ensaio a vazio, é esperado que a velocidade do campo girante do estator seja próxima a
velocidade do campo girante do rotor. Para este cenário (vide Tabela 1) é esperado um
escorregamento próximo zero.

Tabela 1 - Medições do MIRB a vazio.


Tensão (V) Corrente (A) Rotação n (RPM)
208,0 0,783 1770

A partir dos dados da Tabela 1 e sabendo que o MIRB ensaiado possui 4 pólos (p), é
possível calcular a velocidade síncrona e o escorregamento através das equações:

120.𝑓𝐻𝑧 120 𝑥 60
𝑛𝑠 (𝑅𝑃𝑀) = 𝑝
= 4
= 1800 𝑅𝑃𝑀

𝑛𝑆−𝑛 1800−1770
𝑠= 𝑛𝑆
= 1800
= 1, 67%

No ensaio com o rotor em aberto, foram executados 5 testes medindo a tensão induzida no
rotor. Conforme a Tabela 2, em cada teste o havia um sentido de giro e rotações
𝑛𝑆−𝑛
provocaram diferentes escorregamentos (𝑠 = 𝑛𝑆
) entre o estator e o rotor e diferentes

frequências induzidas no rotor (𝑓𝑟 = 𝑠. 𝑓𝑒).

Tabela 2. Medições do MIRB com diferentes velocidades do eletrodinamômetro

Ponto de Velocidade do Tensão Escorregamento Frequência


Operação ED (RPM) Induzida (Vr) (s) induzida (Hz)

1 0 107,9 V 1 60 Hz

2 902 161,8 V 0,498 29,88 Hz

3 1804 216,1 V 0 0 Hz

4 -902 53,93 V 1,501 90,06 Hz


5 -1804 2,9 V 2,002 120,12 Hz

4. Análise
1. No procedimento 1, a corrente a vazio pode ser usada como uma estimativa para a
corrente de excitação. Justifique esta afirmação.
Sim. Porque o ensaio a vazio do motor de indução é equivalente ao ensaio de circuito
aberto de um transformador.

Figura 3 - Esquema de ensaio de circuito aberto de transformador

Figura 4 - Esquema de ensaio a vazio de motor de indução

Na condição a vazio, o escorregamento é próximo de zero e a resistência R2 tende ao


infinito (corrente I2 tende a zero). Portanto, o fluxo de potência tende ao ramo de
magnetização Xm.

2. Calcule a frequência da tensão rotórica na primeira parte da experiência (Tabela1).

𝑓𝑅 = 𝑠. 𝑓𝐸
𝑓𝑅 = 0, 0167. 60
𝑓𝑅 =1,002 Hz

3. Faça uma análise sobre o comportamento observado na Tabela 2.


A Tabela 2 mostra como o sentido de giro e a velocidade de rotação do rotor mudam a
tensão induzida quando comparada ao campo girante do estator. Através da relação
𝑛𝑆−𝑛
𝑠= 𝑛𝑆
, pode-se verificar que quando as velocidades entre o campo girante e do rotor
estão no mesmo sentido, a velocidade relativa é a subtração entre elas e o escorregamento
varia entre 0 e 1. Enquanto as velocidades forem de sentidos contrários, as velocidades
relativas se somam e o escorregamento pode ser maior do que 1.
O ensaio de rotor aberto é também conhecido como conversor de frequência, pois pode
criar tensões induzidas de baixa magnitude e com frequências maiores do que a alimentada
no estator (rotor contrário ao campo girante) ou menores tensões induzidas de magnitudes
maiores (mas sempre mais baixas do que o estator) e com frequências menores.

4. Calcule a relação de espiras Ns/Nr do MIRB. Sendo Ns e Nr o número de espiras


estator e do rotor do MIRB, respectivamente.

𝑁𝑠 𝑉𝑠 216,1
𝑁𝑟
= 𝑉𝑟
= 107,9
= 2, 0

5. Se no item 2.2 o eletrodinamômetro fosse ajustado para 450 RPM (ao invés dos 900
RPM), qual seria a tensão e frequência induzida no rotor? E se duas fases do estator
do MIRB fossem trocadas, qual seria a tensão e frequência induzida no rotor?
Justifique a sua resposta.

Para 450 RPM,temos:

120.60
𝑁𝑠 = 4
= 1800 𝑅𝑃𝑀

1800−450
𝑠= 1800
= 0, 75 = 75 %
𝑓𝑅 = 𝑠. 𝑓𝐸 = 0, 75. 60 = 45 𝐻𝑧
Aplicando a proporcionalidade entre segmentos de grandezas para estimar a tensão
induzida, tem-se
902−0 161,8−107,9
450−0
= 𝑉450−107,9
⇒ 𝑉450 = 134, 8 𝑉

Para duas fases trocadas,temos -450 RPM

120.60
𝑁𝑠 = 4
= 1800 𝑅𝑃𝑀

1800+450
𝑠= 1800
= 1, 25 = 125 %

𝑓𝑅 = 𝑠. 𝑓𝐸 = 1, 25. 60 = 75 𝐻𝑧
902−(−450) 161,8−𝑉−450
0−450
= 107,9−𝑉−450
⇒ 𝑉−450 = 121, 3 𝑉
5. Conclusão
No ensaio a vazio, foi possível verificar o baixo escorregamento, conforme previsto na
literatura.
No ensaio com rotor aberto, foi possível observar a conversão de magnitude e frequência
resultante do campo girante do estator e o movimento de rotação forçada no rotor.
Por fim, foi possível observar a equivalência entre os ensaios de motor a vazio e o ensaio
de circuito aberto do transformador, onde a corrente de magnetização é evidenciada nos
dois ensaios.

6. Referências

1. Sen, P. C.. Principles of Electric Machines and Power Eletronics. John Wiley & Sons,
2nd edition, 1997.
2. Del Toro, Vicent. Fundamentos de Máquinas Elétricas. Editora LTC, 1999.
3. Chapman, S. J..Fundamentos de Máquinas Elétricas. McGraw-Hill 5a ed. 2013.
4. Kosow, I. Máquinas Elétricas e Transformadores. Editora Globo. 1979.

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