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DE PROPOSTAS
Pode ser obvio que ao planejar uma proposta, o professor vai organizar um contexto.
É fácil pensar que vamos preparar um ambiente composto por espaço, materiais e a dimensão
do tempo, considerando o momento do dia mais apropriado para desenvolver a proposta e a
quantidade de tempo suficiente para acolher com tranquilidade as vivências das crianças.
Imagine que um grupo de crianças chega no parque e encontra uma minhoca enorme.
Começam a observar, vai juntando gente e surgem os comentários e as perguntas:
– Mas a cobra do sítio do meu avô tem cabeça e esse bicho não tem.
Aí o professor ou uma criança – tanto faz! – dispara uma pergunta: ué, mas minhoca não tem
cabeça? Ela não tem olho, boca e nariz?
Quando uma das crianças ou o professor pergunta sobre a cabeça da minhoca, esta
provocação encontra uma estrutura significativa para o grupo, e, ao mesmo tempo, promove o
desconforto do não saber, um desejo de buscar a resposta, apoiado na curiosidade.
Mas isso não é característica exclusiva das crianças maiores e nem da capacidade de formular
questionamentos complexos! O mesmo pode acontecer com um bebezinho que encontra um
objeto que não conhece.
Um bebê de 5 ou 6 meses já sabe o que são objetos em geral. Conhece seus brinquedos, os
utensílios de cozinha que a mamãe oferece para brincar, o colar da vovó, as ferramentas do
papai, enfim, um mundo de coisas que chegam até ele todos os dias. Até que ele avista um
objeto vermelho e brilhoso, de forma cilíndrica, com um evidente furo no meio: ah, eu ainda
não coloquei as mãos nesse negócio! Essa sensação de incompletude – como nos ensina Paulo
Freire – provoca desconforto no bebê, porque ele quer conhecer melhor o objeto
desconhecido… conhecendo do jeitão que os bebês conhecem o mundo: tocando, levando à
boca, atirando no chão etc.
Então, esse desequilíbrio entre o que eu sei sobre as coisas e o que eu ainda não sei, põe em
dúvida o que eu acho que sei. Isso desperta a curiosidade e o interesse das crianças.
Partir dessa trilha de pensamentos pedagógicos, que percebe o que é significativo para as
crianças e o que as desafia, encaminha o professor a elaborar planejamentos estruturados em
contextos de aprendizagens significativas. Sem este caminho, caímos na tentação de propor
atividades só porque…
A escola de Educação Infantil educa pela brincadeira, que é a língua da criança, mas o
professor precisa ter uma INTENÇÃO pedagógica por trás.
Com isso, vamos transformar outro clichê pedagógico em conceito significativo (!) para o
professor: o que pensar daquela história de considerar a singularidade do grupo ao planejar? O
que isso quer dizer?
Que tal buscar um vídeo no YouTube que mostre diferentes espécies de minhoca e seus
movimentos?
E se, depois do vídeo, colocar uma música e propor criar a “dança da minhoca”?
Veja como um caminho reflexivo, que parte dos interesses das crianças, das suas necessidades
e do currículo, leva a um planejamento estruturado em processos significativos de
aprendizagem… ou contextos adequados ao grupo: respeita o “jeito” da turma, os temas e
desafios que interessam às crianças e também aquilo que elas precisam aprender. Tudo de
acordo com os ritmos particulares de desenvolvimento.
Para fechar, outro conceito vai ficando claro: o encadeamento de propostas, que elimina o
“espontaneísmo pedagógico” – assombração da Madalena Freire!
É isso! Agora é colocar a mão na massa e, antes de planejar uma nova proposta, buscar
elementos que favoreçam a ESCUTA dos pequenos por meio dos registros já realizados:
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