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O poema abre com perguntas nos cinco versos iniciais.

A pergunta do
primeiro verso, aparentemente, mostra a
necessiaade de saber onde esta o misterio aas coisas. o segunao e o terceiro
pedem ao mistério que apareça, e que se revele. Contudo, se o mistério se
revelar, deixa de o ser, pelo que o «eu» poético afirma que o mistério das
coisas não existe, As duas perguntas seguintes põe o sujeito poético em
comparacao a elementos da Natureza (o rio e a árvore), para fortalecer o seu
argumento de que não há mistério nas coisas. A Natureza existe sem
conhecer o seu mistério, pelo que ele, que não é mais do que ela, também
não o pode conhecer. No fundo, as interrogações estão ao serviço do
processo de negação do pensamento e da metafísica por parte do «eu».
No verso 7, o sujeito poético exprime a sua reação àquilo
que os homens pensam das coisas: o riso. Ao contrário de si, que acredita
que a realidade é apenas o que é e, por isso, não contém qualquer mistério,
os "homens" pensam sobre as coisas, logo acreditam que elas são
portadoras de algo mais do que aquilo que é visível e que os sentidos
captam. Por um lado, o sujeito exclui-se da condição de homem comum,
pois, enquanto os homens pensam sobre o mundo, aquele pensa sobre o
que eles pensam sobre as coisas e sobre o mundo, Observe-se, porém,
como por vezes entra em contradição. De facto, se é certo que Caeiro
privilegia as sensações, fundamentalmente as visuais, e que afirma que as
coisas não têm significado, apenas existência, algo que aprendeu através
dos sentidos, no verso 6 afirma que pensa (no que os homens pensam das
coisas). Este dado parece, afinal, anunciar a impossibilidade de uma rejeição
total de pensar. E o «eu» compara o riso a "um regato que soa fresco numa
pedra", comparação que sugere o seu caráter simples, puro e espontâneo.
Por outro lado, pode sugerir o som constante da corrente, que se assemelha
ao som do riso ininterrupto numa qualquer situação cómica.

A segunda estrofe inicia-se com a conjunção subordinativa causal «porque»,


o articulador que estabelece a relação de causa entre a primeira e a segunda
estrofe. Nos dois versos iniciais, existe um paradoxo, onde é visível também
a ironia, que reafirma a inexistência de mistério nas coisas. E fá-lo com
absoluta certeza e de modo inequívoco (atente-se no uso da forma verbal
"é"). Para ele, as coisas não têm sentidos ocultos, nelas não há nada que
compreender. Descolando-se da própria condição de poeta e diminuindo
a importância dos filósofos, o «eu» poético afirma que os sonhos dos poetas
e os pensamentos dos filósofos estão aquém das coisas, que são piro
"parecer", isto é, o modo como as coisas são em si, como se revelam, antes
da consciência humana interferir. Dito de outra forma, à pedra é irrelevante a
existência do homem, no sentido de que continuará a ser pedra, tenha o ser
humano ou não consciência dela. Afinal, as coisas são realmente o que
parecem ser, logo não há nada que compreender, sublinhando-se assim a
distinção entre dois mundos: o da existência das coisas, independente da
consciência humana (verso 13) e o da consciência humana, voltada à
compreensão das coisas (v. 14).
Na última estrofe, na conclusão o sujeito poético
reafirma a sua tese, centrada numa aprendizagem resultante da experiência
de vida conduzida pelos sentidos, a fonte do verdadeiro conhecimento. Deste
modo, no verso 15 declara que os seus sentidos "aprenderam sozinhos",
uma afirmação que traduz a defesa da intuição, sobre o pensar. O verso
16 confirma a tese de que as coisas não têm mistério, apenas existência. Os
seus sentidos ensinaram-lhe que as coisas existem, não têm significado, têm
existência e não precisam de ter significado. Atente-se, porém, no seguinte:
se, por um lado, é possivel os sentidos aprenderem sozinhos, isto é,
intuitivamente, por outro, a comunicação desse facto pelo poeta não pode ser
feita intuitivamente, mas através da linguagem, algo bastante racional. Ou
seja, se Caeiro pode dispensar, ainda que retoricamente, o ato de
compreender, para o comunicar, em forma de poema, necessita da
linguagem e, logo, de fazer uso da razão.

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