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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

GRADUAÇÃO EM MEDICINA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

ARTHUR OLIVEIRA NOGUEIRA E LAGO


ESDRAS ALVES ABREU
FRANCIELE MACHADO
KYNNARA GABRIELLA FEITOSA DE OLIVEIRA
SOPHIA MITIE BELLO SUZUKI

DOENÇA DA VALVA MITRAL

TERESINA
2022
4

ARTHUR OLIVEIRA NOGUEIRA E LAGO


ESDRAS ALVES ABREU
FRANCIELE MACHADO
KYNNARA GABRIELLA FEITOSA DE OLIVEIRA
SOPHIA MITIE BELLO SUZUKI

DOENÇA DA VALVA MITRAL

Atividade apresentada à disciplina


Clínica Cirúrgica II do Curso de
Graduação em Medicina, da
Universidade Federal do Piauí (UFPI)
como requisito para avaliação da 1ª
Unidade.

TERESINA
2022
5

SUMÁRIO

1. ESTENOSE MITRAL 3
1.1 Introdução e Fisiopatologia 3
1.2 Quadro Clínico 4
1.3 Diagnóstico e Exames Complementares 5
1.4 Tratamento 7
1.4.1 Farmacológico 7
1.4.2 Cirúrgico 7
2. INSUFICIÊNCIA MITRAL 11
2.1 Introdução e Fisiopatologia 11
2.2 Quadro Clínico 13
2.3 Diagnóstico e Exames Complementares 13
2.4 Tratamento 15
2.4.1 Farmacológico 17
2.4.2 Cirúrgico 18
REFERÊNCIAS 20
3

1. ESTENOSE MITRAL
1.1 Introdução e Fisiopatologia
A estenose mitral é uma condição em que há resistência na passagem
de sangue pela valva mitral comprometendo o enchimento ventricular e
levando a diversas consequências no átrio esquerdo, na artéria pulmonar e nas
cavidades esquerdas do coração. Ocorre quando há diminuição da área valvar
ocasionando o surgimento de um gradiente de pressão entre átrio e ventrículo
esquerdo. Sendo assim, é possível classificar o grau de estenose pela área
valvar. Temos que a área valvar mitral normal varia de 4-6 cm², os sintomas se
desenvolvem quando o valor da área da válvula se encontra < que 2,5 cm².
Sendo classificada como leve quando a área valvar situa-se entre 1,5 cm² a 2,0
cm²; moderada entre 1,0 cm² e 1,5 cm² e grave abaixo de 1,0 cm² (KASPER,
DL, 2017).
Em países em desenvolvimento como no Brasil, observa-se como
principal etiologia da estenose mitral, a febre reumática. Enquanto países
desenvolvidos há aumento da incidência de estenose mitral degenerativa,
associada à calcificação do anel mitral e que está correlacionada com o
envelhecimento sendo mais comum em pacientes idosos (TARASOUTCHI et
al., 2020).
Na doença reumática, ocorre lesão da válvula devido a uma resposta
imunológica exacerbada a um epítopo bacteriano em um indivíduo suscetível.
Como consequência do processo inflamatório na válvula, ocorre o
espessamento das bordas dos folhetos bem como a fusão de comissuras e
encurtamento e fusão das cordoalhas tendíneas presentes no coração. Como
resultado a área valvar mitral reduz, levando a um aumento do tempo de
enchimento diastólico, aumento de pressão atrial esquerda e de pressões
pulmonares (MEDICINANET, 2008).
Além disso, outras causas menos comum de estenose mitral,
somam-se doenças reumatológicas, representadas pelo lúpus eritematoso
sistêmico, artrite reumatóide, doenças de Fabry, doença de Whipple, terapia
com metisergida ou anorexígenos, síndrome carcinóide ou alterações
4

anatômicas congênitas da valva mitral, como valva mitral em paraquedas ou


hipoplasia da valva mitral (TARASOUTCHI et al., 2020).

1.2 Quadro Clínico


A estenose mitral pode se apresentar em quadros leves a moderados,
nesses a pressão do átrio esquerdo (AE) se encontra minimamente elevada em
repouso, contudo podem aumentar e produzir sintomas com esforços físicos,
estresse emocional e outras circunstâncias que elevem a frequência cardíaca
do paciente. Enquanto nas apresentações mais graves da doença da Estenose
Mitral, as pressões do AE vão se manter elevadas mesmo com o paciente em
repouso (MSD, 2021).
Paciente com quadro de estenose mitral apresentam como queixa
principal a dispneia ocasionada pelas pressões elevadas no átrio esquerdo e
nas veias e capilares pulmonares. Os episódios de dispnéia vão ser
provocados por atividade que predisponham à taquicardia, como atividade
física e outras condições fisiológicas, como a gravidez, ou patológicas como
em casos de infecções, taquiarritmias ou tireotoxicose (BRANDÃO, DIAMANT,
ALBANESI, 2017).
Paciente com doença mais cronificada podem experimentar episódios
de hemoptise causada pelo ingurgitamento e ruptura das veias brônquicas,
podem evoluir para sangramentos importantes com raias de sangue
observadas no escarro. Somado a isso pode haver desconforto torácico,
palpitação e rouquidão devido a compressão do nervo laríngeo pela dilatação
do átrio esquerdo. O desenvolvimento de fibrilação atrial também pode ocorrer
como consequência do aumento do átrio esquerdo (TEODORO, 2022).
Nos pacientes com Estenose mitral, as pressões sistólica e diastólica do
ventrículo esquerdo vão se apresentar inalteradas, na estenose mitral isolada.
Contudo, quadros graves de estenose, podem levar a uma redução no
enchimento ventricular esquerdo e no volume diastólico final,
consequentemente há redução no volume sistólico e no débito cardíaco.
Ademais, a elevação crônica da pressão nos átrios causa uma remodelação
acentuada na câmara atrial e uma elevação da pressão venosa e arterial dos
5

pulmões (BAUMGARTNER; et al, 2017).


Na estenose mitral é possível observar na ausculta: hiperfonese de B1,
devido ao fechamento abrupto das cúspides da valva mitral estenosada, sendo
auscultada melhor no ápice do coração. Em alguns casos, pode haver
ausência de B1 quando a valva está fortemente calcificada e imóvel. Em caso
de hipertensão pulmonar é possível auscultar B2 hiperfonética e desdobrada
(FREDERICO; POMPEU, 2012).
Na manobra de Valsalva a aumento do sopro diastólico, além de
também aumentar em resposta a manobras que aumentam a pós-carga em
esforço. O sopro pode estar atenuado ou ausente quando o ventrículo direito
dilatado desloca o VE posteriormente e quando outras enfermidades
(hipertensão pulmonar, alterações valvares do lado direito e fibrilação atrial com
alta resposta ventricular) diminuem o fluxo sanguíneo através da valva mitral
(MSD, 2021).

1.3 Diagnóstico e Exames Complementares


O diagnóstico da estenose mitral envolve a identificação do quadro
clínico e sua correlação com os achados dos exames físico e complementares.
Uma vez que o exame físico é a primeira ferramenta na avaliação anatômica
da estenose mitral, cabe destacar quais as principais alterações encontradas.
Em quadros de estenose mitral classificada em discreta a moderada, a
ausculta do paciente pode identificar estalido de abertura da valva mitral e
sopro diastólico em ruflar mitral, em decrescendo, de início após o estalido. Em
ritmo sinusal, o sopro apresenta reforço pré-sistólico no final da diástole.
Ademais, ainda no exame físico, outras características configuram-se como
importantes na identificação da estenose mitral, como facies mitralis, primeira
e/ou segunda bulha hiperfonética, presença de insuficiência tricúspide e sinais
de congestão pulmonar e insuficiência cardíaca direita (TARASOUTCHI et al.,
2020).
Diante do arsenal de exames complementares, a ecocardiografia é
considerada o exame padrão-ouro para estabelecer a gravidade da valvopatia,
das repercussões hemodinâmicas e dos parâmetros que relacionam-se com a
6

chance de sucesso das intervenções, sendo ainda capaz de avaliar


individualmente cada componente valvar (anel valvar, cúspides valvares,
aparato subvalvar) (NISHIMURA et al., 2016).
Em pacientes com a forma primária desta doença, a morfologia da
valva mitral e suas anormalidades fisiopatológicas (por exemplo, presença e
localização de prolapso e segmentos não suportados da válvula mitral) irão
estabelecer a viabilidade do reparo da válvula. Outras anomalias anatômicas
devem ser avaliadas do anel mitral, bem como calcificação, espessamento, e
retração dos folhetos da válvula mitral, pois podem impedir um reparo
bem-sucedido e duradouro. Além disso, a gravidade da regurgitação mitral
deve ser determinada, pois uma intervenção deve ser ponderada para casos
de insuficiência mitral grave, mesmo em pacientes assintomáticos
(TARASOUTCHI et al., 2020).
Segundo Tarasoutchi (2020), os parâmetros ecocardiográficos que
relacionam-se com o diagnóstico da estenose mitral importante incluem a Área
Valvar Mitral (AVM), o gradiente diastólico médio entre o Átrio Esquerdo (AE) e
o Ventrículo Esquerdo (VE) e a Pressão Sistólica da Artéria Pulmonar (PSAP) e
estão descritos nos tópicos abaixo:
● AVM < 1,5 cm²;
● Gradiente diastólico médio AE/VE ≥ 10 mmHg;
● PSAP ≥ 50 mmHg em repouso;
● PSAP ≥ 60 mmHg com esforço.
A radiografia de tórax apresenta índice cardiotorácico normal, sinais de
congestão pulmonar e sinais de aumento de átrio esquerdo, dentre eles o sinal
da bailarina (elevação do brônquio fonte esquerdo), duplo contorno atrial à
direita e 4º arco na silhueta cardíaca à esquerda. Outrossim, a interpretação do
eletrocardiograma do paciente com estenose mitral pode identificar ainda
sobrecarga de átrio esquerdo, sobrecarga das câmaras direitas e fibrilação
atrial (TARASOUTCHI et al., 2020).
Avançando na propedêutica de exames complementares, o estudo
hemodinâmico tem indicação quando há discordância entre a clínica do
paciente e seus achados eletrocardiográficos. Nesses casos, a estenose mitral
7

apresenta-se na forma de gradiente diastólico AE/VE ≥ 10 mmHg (espontâneo


ou após prova com atropina e volume) e/ou PSAP ≥ 50 mmHg (NISHIMURA et
al., 2016).

1.4 Tratamento
1.4.1 Farmacológico
Nenhum tratamento farmacológico conhecido alterou a história natural
de pacientes com regurgitação mitral primária grave. Para pacientes
sintomáticos com grave regurgitação mitral, diuréticos e redução da pós-carga
podem aliviar os sinais e sintomas de insuficiência cardíaca, mas o tratamento
final é a intervenção cirúrgica (NISHIMURA et al., 2016).

1.4.2 Cirúrgico
O tratamento cirúrgico da estenose mitral relaciona-se a casos graves
(área < 1,52 cm²), a partir desse ponto, é necessário pesquisar a presença de
sintomas. Caso o paciente seja sintomático, avalia-se posteriormente a
anatomia da valva mitral. Se o escore Wilkins/Block (escore ecocardiográfico
demonstrado no Quadro 1) é baixo (≤ 8) e o paciente não apresenta
contraindicações, procede-se a valvotomia mitral percutânea com balão
(VMCB) (TARASOUTCHI, et al., 2020).
8

Quadro 1 - Escore de Wilkins/Block

Fonte: Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias (TARASOUTCHI, et al., 2020).

Caso a anatomia seja desfavorável ou existe contraindicação,


encaminhe-se o paciente para abordagem cirúrgica convencional. Considerar,
aqui, que mesmo com a tal quadro, pode-se tentar a valvotomia mitral
percutânea após uma avaliação adequada (BIGNOTTO, 2021).
Na ausência de sintomas, pesquisa-se a presença de complicadores,
como pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 50 mmHg em repouso; pressão
sistólica da artéria pulmonar ≥ 60 mmHg ao esforço (teste ergométrico ou
ecocardiografia com estresse farmacológico); fibrilação atrial de início recente
ou desejo de engravidar, caso o paciente apresente algum desses
complicadores, segue-se para a avaliação de anatomia valvar e
encaminhamento para valvotomia mitral percutânea ou abordagem cirúrgica
convencional (TARASOUTCHI, et al., 2020).
De modo geral, pacientes jovens com doença de etiologia reumática,
sem comissuras intensamente calcificadas (aparelho subvalvar e calcificação ≤
9

2), distorção subvalvar, trombos no átrio esquerdo, gestantes, pacientes de alto


risco cirúrgico e escore de Wilkins/Block ≤ 8, opta-se por valvoplastia por
cateter-balão. O procedimento consiste em uma abordagem guiada por
ecocardiografia e fluoroscopia, onde um cateter transvenoso com balão inflável
na ponta distal é inserido por via transeptal do átrio direito para o átrio
esquerdo, e é inflado para separar as comissuras fundidas da valva danificada.
Considera-se como contraindicações para esse procedimento: trombo dentro
do átrio esquerdo, insuficiência mitral moderada a importante junto a fenômeno
embólico recente e paciente que já fará outro procedimento cardíaco (MSD,
2021).
Pacientes com escore de Wilkins/Block entre 9 ou 10 necessitam ter
caso individualizado, portanto, cabe reavaliação clínica e ecocardiográfica. A
intervenção cirúrgica quase sempre será a opção terapêutica de escolha, seja
com a comissurotomia mitral ou, nos casos em que há comprometimento valvar
muito significativo, sem possibilidade de manutenção da valva nativa, na troca
valvar, contudo em alguns casos, pode ser avaliada a opção de VMPB
(BIGNOTTO, 2021).
Já pacientes com escore de Wilkins/Block ≥ 11 ou contraindicação ao
balão opta-se pela troca valvar mitral, recomendada para estenose mitral
Classe Funcional III-IV com contraindicações à VMCB, estenose mitral de
origem reumática com a presença de algum complicador não elegíveis para
VMCB e em estenose mitral degenerativa refratária ao tratamento clínico.
Nesses casos no pós-cirúrgico, a anticoagulação com varfarina ad aeternum é
necessária em pacientes com valva mecânica como forma de prevenção de
tromboembolismo; para pacientes com valva bioprotética mitral, a utilização
restringe-se a 3 a 6 meses após a cirurgia (TARASOUTCHI, et al., 2020).
Assim, conforme a recomendação da Atualização das Diretrizes
Brasileiras de Valvulopatias (2020) segue o algoritmo básico estipulado pela
Diretriz Brasileira de Valvopatias para a tomada de decisão na Estenose Mitral
em 5 passos essenciais.
10

Figura 1. Algoritmo para tomada de decisão na estenose mitral.


Legenda: FA (fibrilação atrial); VMCB (valvoplastia mitral por cateter-balão).

Fonte: Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias (TARASOUTCHI, et al., 2020).


11

2. INSUFICIÊNCIA MITRAL
2.1 Introdução e Fisiopatologia
A Insuficiência Mitral (IM) é uma doença cardíaca com prevalência
bastante expressiva na população geral, principalmente nos países
desenvolvidos. É considerada uma doença grave e de difícil manuseio
(KASSAB; KASSAB, 2002).
Dados recentes do colégio americano, revelam que são cerca de 400 mil
novos casos identificados e diagnosticados por ano. Sendo que a sobrevida
desses pacientes, principalmente em classes funcionais mais debilitadas,
mesmo com uso correto da medicação é de 50% em 5 anos (BRANCO,
BUFFOLO, AGUIAR, 2002).
A insuficiência mitral tem muitas etiologias, podendo ser divididas em
primárias, quando ocorre defeitos na própria estrutura valvar, como por
exemplo casos de febre reumática, degeneração mixomatosa, prolapso da
valva mitral e endocardites; ou como secundária, relacionada a outras doenças
cardíacas, como cardiomiopatias dilatadas ou isquêmicas; ou, ainda, por
calcificação do anel (MSD, 2021).
Ambas etiologias primárias, secundárias ou por calcificação do anel são
classificadas como insuficiência mitral crônica, caracterizadas por um curso
mais insidioso. Contudo, há também a classificação de insuficiência mitral
aguda, que normalmente está relacionada a casos de estenose mitral; ruptura
do músculo papilar (pós-Infarto Agudo do Miocárdio); ruptura das cordas
tendíneas / instabilidade das cúspides e traumatismo torácico (LAMFeC, 2020).
A condição é caracterizada por uma falha completa ou não da coaptação
das cúspides fazendo com que ocorra regurgitação de sangue do ventrículo
para o átrio esquerdo durante a sístole ventricular. Dessa maneira, tanto átrio
quanto ventrículo esquerdos são prejudicados já que ambos trabalham
sobrecarregados pois recebem o volume advindo das veias pulmonares e
suportam, ainda, o volume regurgitante (SANAR, 2019).
O sangue extra recebido durante o ciclo cardíaco acaba por gerar
sobrecarga volumétrica, mas também pressórica que juntamente podem levar,
primeiramente, a dilatação (para acomodar o volume) e, posteriormente,
12

hipertrofia excêntrica das câmaras (pelo aumento da contratilidade),


principalmente à esquerda. Todo esse mecanismo garante uma doença da
valva mitral compensada, mas que com o passar dos anos e esforços, tende a
descompensação e torna-se insuficiente (MAGALHÃES, 2015).
Quando essa falência está instalada, devido ao aumento da pressão
diastólica final do ventrículo esquerdo, ocorre aumento da pressão média final
do átrio esquerdo, hipertensão venocapilar pulmonar e falência das câmaras à
direita, trazendo repercussões, portanto, à circulação sistêmica (MANSUR,
1982).
Além disso, pacientes com insuficiência mitral geralmente culminam com
quadros de fibrilação atrial, que pode ainda ser complicada por tromboembolia
e endocardite infecciosa (MSD, 2021).
Quanto à graduação da insuficiência mitral tem-se que é necessário a
avaliação de diversos aspectos, sejam eles, clínicos ou ecocardiográficos,
principalmente. Quanto aos últimos, considera-se o aspecto da valva; padrão
de ondas E e A; fluxo em veias pulmonares; área do refluxo; tamanho do
ventrículo e átrio esquerdos; vena contracta (porção mais estreita do refluxo em
sua origem) e PISA (ou método da convergência de fluxo considera que o
sangue ao se aproximar do orifício regurgitante se acelera formando
hemisférios concêntricos) (LAPA, 2021).
Considera-se que a insuficiência mitral é importante e merece cuidados
mais intensivos quando apresenta: Valva com falha de coaptação; Onda E >
1,2 cm/s; Fluxo sistólico reverso em veias pulmonares; Ventrículos e Átrio
Esquerdo aumentados; Área do Refluxo ≥ 40% do átrio esquerdo; Vena
contracta ≥ 7 mm e Pisa - ERO ≥ 0,4cm² e/ou volume regurgitante ≥ 60mL.
Esses casos estão associados, ordinariamente, a disfunção ou ruptura
muscular papilar isquêmica; endocardite infecciosa com ruptura das cordoalhas
tendíneas; febre reumática aguda e ruptura mixomatosa das cordoalhas
tendíneas (MSD, 2021).
13

2.2 Quadro Clínico


No geral, insuficiência mitral leve a moderada pode cursar assintomática
no paciente por anos ou mesmo por toda uma vida. Contudo, quando há o
aparecimento de sintomas, a ortopnéia e a dispnéia aos esforços costumam
ser as queixas mais recorrentes na clínica, ainda associadas a sintomas
decorrentes de baixo débito cardíaco- tonturas, fraqueza, sensação de síncope
ou a própria síncope (SANAR, 2019) (TARASOUTCHI et al., 2020).
Com a evolução do quadro, isto é, com insuficiência de anos que
sobrecarrega cada vez mais o coração direito, o aparecimento de edemas-
especialmente de membros inferiores-, ascite e hepatomegalia podem
acontecer (TARASOUTCHI et al., 2020).
Ao exame físico do paciente, o médico consegue auscultar sopro
sistólico em foco mitral. Tal sopro é passível de irradiação para bordas
esternais, axila e pescoço do paciente. Não há correlação entre gravidade do
sopro e gravidade da insuficiência mitral. Ainda, o ictus cordis é passível de
estar mais desviado para a esquerda, devido à sobrecarga ventricular e sua
consequente dilatação (SANAR, 2019) (TARASOUTCHI et al., 2020).

2.3 Diagnóstico e Exames Complementares


O diagnóstico é feito por meio de associação clínica + exames
complementares. Dentre os exames disponíveis para auxílio do diagnóstico de
insuficiência mitral, seja primária ou secundária, tem-se:
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Quadro 2. Passo 1: Diagnóstico da Insuficiência Mitral

Fonte: Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias (TARASOUTCHI, et al., 2020).

Radiografia de tórax: Em casos agudos, mais recorrentemente é


visualizado congestão pulmonar. Já nos casos crônicos, cardiomegalia com
dilatação ventricular e atrial podem estar presentes (TARASOUTCHI et al.,
2020).
Eletrocardiograma: No geral, é um exame inespecífico para insuficiência
mitral. Em casos agudos com curso de IAM, pode apresentar alterações no
segmento ST. Enquanto isso, casos crônicos podem apresentar sinais de
hipertrofia ventricular e/ou atrial. A fibrilação atrial e arritmias cardíacas também
podem ser exibidas (SANAR, 2019).
Ecocardiograma transtorácico: Exame de escolha para a confirmação de
valvopatia, é o melhor para avaliar as valvas cardíacas e classificar a gravidade
15

anatômica da insuficiência mitral. Sua avaliação permite visualizar os folhetos,


as cordas, os músculos papilares, se há ou não alguma dilatação de câmaras
cardíacas. Complementando com o uso do Doppler, calcula-se a fração
regurgitante, o direcionamento, a duração, a velocidade e a origem. O
ecocardiograma é o exame padrão-ouro para acompanhamento do paciente
crônico (TARASOUTCHI et al., 2020).

2.4 Tratamento
Seguindo a divisão entre insuficiência mitral primária crônica e
secundária, estabeleceram-se dois padrões de seguimento distintos para cada
um desses casos. Assim, conforme a recomendação da Atualização das
Diretrizes Brasileiras de Valvulopatias (2020), espera-se que sejam seguidos os
5 passos do algoritmo detalhado na Figura 2 para a insuficiência mitral crônica
primária.

Figura 2. Algoritmo para tomada de decisão na insuficiência mitral crônica primária.

Legenda: DSVE (diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo); FEVE (fração de ejeção do VE);
PSAP (pressão sistólica da artéria pulmonar)
Fonte: Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias (TARASOUTCHI, et al, 2020).
16

A partir disso, compreende-se que pacientes classificados


anatomicamente com insuficiência mitral discreta ou moderada deverão ser
mantidos apenas em acompanhamento clínico e ecocardiográfico, sem
intervenção. Enquanto que pacientes com insuficiência mitral importante devem
ser avaliados especificamente e seguir conforme o Quadro 3.

Quadro 3 - Tipo de intervenção na insuficiência mitral primária importante

Fonte: Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias (TARASOUTCHI, et al, 2020).

Ademais, a evolução clínica do paciente e o aparecimento de


complicações, tais como queda progressiva da FEVE ou dilatação progressiva
do VE, devem ser considerados na tomada de decisão. Por conseguinte, na
ausência de contraindicações, o tratamento de escolha para essa classificação
é a cirurgia de plástica mitral, embora ela dependa da capacidade técnica do
cirurgião e qualidade do hospital para ser realizada.
Em contrapartida, caso as condições não sejam ideais para a conduta
supracitada ou a etiologia e anatomia não sejam favoráveis, está indicada a
cirurgia de troca valvar mitral. Vale ressaltar que intervenções transcateter têm
indicação restrita para pacientes com insuficiência mitral primária, a patologia
discutida até o presente parágrafo, e devem ser discutidas pela equipe antes
de serem decididas.
17

Por outro lado, a sequência de algoritmo da insuficiência mitral


secundária é estabelecida pela Figura 3. Assim, realizando uma avaliação,
percebe-se que o tratamento da condição é muito atrelado à etiologia, tal como
as intervenções necessárias para esta causa base, conforme será discutido
mais adiante.

Figura 3. Algoritmo para tomada de decisão na insuficiência mitral secundária.

Legenda: CF (classe funcional)


Fonte: Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias (TARASOUTCHI, et al, 2020).

2.4.1 Farmacológico
O tratamento clínico da regurgitação mitral é sintomático, contando com
o uso de diuréticos e vasodilatadores principalmente, com fito em reduzir os
sintomas de dispneia e congestão. Ademais, não há evidências científicas
robustas que betabloqueadores e inibidores do sistema renina tragam os
mesmos benefícios que na insuficiência cardíaca com fração de ejeção
reduzida, sendo utilizadas quando há hipertensão e/ou disfunção sistólica do
ventrículo esquerdo associada (GISMONDI, 2017).
18

2.4.2 Cirúrgico
Em relação ao tratamento cirúrgico da insuficiência mitral crônica
primária, a avaliação deve seguir o Quadro 4.

Quadro 4 - Recomendação de intervenção na insuficiência mitral crônica primária

Fonte: Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias (TARASOUTCHI, et al, 2020).

Já no tocante à insuficiência mitral secundária, a intervenção é muito


contraditória e restritiva. Assim, caso a etiologia seja decorrente de
insuficiência mitral isquêmica, a cirurgia deve ser considerada conjuntamente à
revascularização miocárdica. Isso haja vista que a abordagem cirúrgica isolada
da insuficiência mitral está associada à elevada mortalidade e recorrência,
19

além de não haver evidência de melhora da sobrevida do paciente (ASGAR,


MACK, STONE, 2015).
Nesse viés, a terapêutica isolada em casos de cardiomiopatia dilatada
segue a mesma linha. Todavia, novas evidências mostraram benefício da
intervenção transcateter especificamente em pacientes com insuficiência mitral
secundária em estágio não avançado, FEVE ≥ 20% e sintomáticos em relação
ao tratamento clínico (OBADIA et. al., 2015). Ademais, as indicações para
insuficiência mitral secundária importantes podem ser observadas no Quadro 5.

Quadro 5 - Recomendação de intervenção na insuficiência mitral secundária importante

Fonte: Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias (TARASOUTCHI, et al., 2020).


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REFERÊNCIAS
1. ASGAR, A. W., MACK, M. J., STONE, G. W. Secondary mitral regurgitation
in heart failure: pathophysiology, prognosis, and therapeutic considerations. J
Am Coll Cardiol, 2015. doi:10.1016/j.jacc.2015.02.009.

2. BAUMGARTNER H, FALK V, BAX JJ, DE BONIS M, HAMM C, HOLM PJ, et


al. 2017 ESC/EACTS Guidelines for the management of valvular heart disease.
ESC Scientific Document Group. Eur Heart J. 2017 Set 2017;
38(36):2739-2791. doi: 10.1093/eurheartj/ehx391.

3. BIGNOTTO, Tiago. Tratamento da estenose mitral: como fazer?


CardioPapers. Disponível em:
<https://cardiopapers.com.br/tratamento-da-estenose-mitral-como-fazer/>.
Acesso em 17 de dezembro de 2022.

4. BRANCO, João Nelson R; BUFFOLO, Enio; AGUIAR, Luciano F.


Insuficiência mitral secundária: entendimento de sua fisiopatologia e bases
para indicação cirúrgica. Rev Soc Cardiol 2002; Vol 12, Nº 3 Maio/Junho de
2002.

5. BRANDÃO, Ayrton Pires; DIAMANT, José David Aaron; ALBANESI,


Francisco Manes. Estenose Mitral Reumática. Arq Bras Cardiol 2017; 34/5
375-385.

6. FREDERICO, Ingrid Kellen Sousa; POMPEU, Clara Mota Randal. Estenose


Mitral. PETdocs: Universidade Federal do Ceará, nov, 2012. Disponível em:
<http://petdocs.ufc.br/index_artigo_id_162_desc_Cl%C3%ADnica_pagina__sub
topico_3_busca_>. Acesso em 19 de dezembro de 2022.

7. GISMONDI, R. Insuficiência mitral: o que você precisa saber sobre a nova


diretriz. PebMed, 2017. Disponível em:
<https://pebmed.com.br/insuficiencia-mitral-o-que-voce-precisa-saber-sobre-a-n
ova-diretriz/>. Acesso em: 23 de dezembro de 2022.

8. KASPER, Dennis L.. Medicina interna de Harrison. 19 1 v. Porto Alegre:


AMGH Editora, 2017. ISBN: 978-85-8055-582-0

9. KASSAB, Kanim Kalil; KASSAB, Amer Kalil. Insuficiência mitral: comparação


entre o tratamento clínico e cirúrgico a médio prazo de acordo com a classe
funcional. Rev Bras Cir Cardiovasc 2002; 17(2): 20-23.

10. KILICGEDIK, Alev; KAHVECI, Gokhan; GURBUZ, Ahmet Seyfeddin;


KARABAY, Can Yucel; GULER, Ahmet; EFE, Suleyman Cagan; et al. Free
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11. LAMFeC - Liga Acadêmica de Medicina de Família e Comunidade Prof.


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