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Introdução

O consumo de substâncias é um fenômeno complexo e permeado por aspectos


biológicos, psicológicos e sociais. Diferentes padrões de gravidade requerem diferentes
abordagens, uma vez que suas consequências variam de acordo com o contexto de uso. Desta
forma, diferentes níveis de atenção em termos de atendimentos fornecidos em serviços
específicos são necessários a fim de adequar o cuidado oferecido às características do local de
atendimento.

Esta cartilha tem o objetivo de apontar direcionamentos gerais para o atendimento de


pessoas que vivem com transtornos por uso de substâncias, porém, não pretende compreender
todas as complexidades do tratamento desta condição de saúde, considerando os aspectos
descritos no parágrafo acima.

Nosso objetivo é fornecer um direcionamento considerando aspectos cognitivos,


emocionais, comportamentais e sociais de forma que profissionais possam guiar a condução de
seus atendimentos.

Conforme abordamos durante o treinamento, o trabalho no campo de álcool e outras


drogas deve ser realizado de forma interligada entre diferentes categorias profissionais, níveis de
atenção e serviços, portanto, contamos com sua contribuição no fórum de discussão deste último
módulo para que possamos aprimorar constantemente esta cartilha.

A seguir elencamos intervenções que compõem uma das alternativas para o atendimento
de pessoas que vivem com transtornos relacionados ao uso de substâncias sob uma perspectiva
de cuidado centrado no paciente oferecido através de tratamento contínuo.
Acolhimento

Apresentação do profissional e de sua disponibilidade em ajudar


Indicação que o espaço de atendimento é local seguro e sigiloso para compartilhamento
de dificuldades
Postura atenta e explicitamente empática, conforme diretrizes da Entrevista Motivacional

Avaliação

Avaliação de histórico de vida do paciente


Contexto de vida atual, por exemplo, atividades remuneradas e recreativas
Fontes de suporte social
Atividades realizadas, Rotina diária

Avaliação do padrão de consumo de substâncias


Utilização de instrumentos padronizados para levantamento de informações quanto às
substâncias consumidas, sua quantidade e frequência, último consumo, histórico de uso e de
sintomas de abstinência, assim como as consequências biológicas, psicológicas e sociais
associadas ao consumo
Exemplos de instrumentos podem ser encontrados nos links indicados abaixo
http://www.aberta.senad.gov.br/medias/original/201704/20170424-095653-001.pdf
https://www.who.int/substance_abuse/activities/assist_portuguese.pdf

Avaliação de tratamentos anteriores, caso existam


Quais abordagens foram utilizadas, por exemplo, em que locais foram feitos os
tratamentos e como estes eram caracterizados, incluindo medicações utilizadas
Quais barreiras foram encontradas, por exemplo, baixa adesão, lapsos e recaídas,
dificuldades em comparecer aos atendimentos nos horários agendados, etc.
Contextos de abandono de tratamento
Avaliação de comorbidades psiquiátricas e de caráter clínico

Avaliação sobre a perspectiva do paciente quanto ao transtorno relacionado ao uso de


substâncias
Explorar possíveis relações entre uso de substâncias e outros aspectos de vida: a relação
entre qualidade de vida e uso de substâncias

Planejamento conjunto de ações

Criação de um plano de cuidado que seja aplicável ao contexto e características do


paciente em atendimento
Atenção integrada entre diversas categorias profissionais para definição de medicações,
caso sejam necessárias, assim como planejamento de atividades que tenham como objetivo
primário o manejo das situações de consumo, assim como estratégias voltadas à promoção de
maior bem estar
Definição de estratégias a serem utilizadas em termos de ações complementares ao
atendimento principal: utilização de recursos comunitários e participação em atividades de grupo
Planejamento no que se refere ao suporte quanto questões sociais relacionadas a local de
moradia, programas de geração de emprego e renda, caso necessário

Finalização do atendimento

Avaliação da compreensão do paciente quanto às informações discutidas, por exemplo,


medicações prescritas, solicitação de exames ou procedimentos, estratégias cognitivas e
comportamentais
Avaliação quanto à aplicabilidade das ações ao contexto de vida
Acolhimento de dúvidas e levantamento de possíveis barreiras à proposta acordada
Agendamento de futuros atendimentos, informando número de telefone do serviço ou
outro canal de atendimento caso seja necessário remarcar (e expor qual a regra do local para
ausências e remarcações)

Ressalta-se que tal divisão tem propósitos didáticos e que acolhimento e avaliação da
compreensão do paciente quanto às informações discutidas devem ser feitas de forma contínua
durante todo o processo de atendimento.

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