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Capítulo 3

Terapia comportamental e terapia


cognitiva: divergências encontradas sob
o enfoque das manifestações de
ansiedade

Alexandre Çomes Brito1


Consultório Particular
Felipe de Carvalho Pimentel
Fabrício de Souza
UFES
Carolina Oliveira de Brito
ThaísTebaldi Carvalho
FAESA

Ao longo do percurso acadêmico, em constante contato com as bibliografias e


outras fontes de informações que consolidam a formação do psicólogo, foi percebido
que algum as abordagens terapêuticas, tais com o a terapia cognitiva e a te ra p ia
c o m p o rta m e n ta l, aparecem un id as nos m ais d iv e rs o s m eios de p u b lic a ç ã o e
exposições. Porém, estudos mais específicos dessas abordagens e ob serva ções
relatadas da prática clínica, apontam para o fato de que ambas divergem na suas
formas e concepções de perceber o homem e de descrever o seu comportamento.
O bjetivando dem arcar as diferenças entre a terapia cognitiva e a terapia
comportamental, foi elaborada uma revisão bibliográfica para que fosse possível discutir
as divergências encontradas nessas abordagens. Definida a objetividade do trabalho
de conclusão de curso, percebeu-se a necessidade de abordar essas diferenciações
utilizando como palco para as devidas discussões o modelo da ansiedade.
O enfoque na ansiedade dá-sé pelo fato de que a prática aponta que as teorias
trabalhadas são fontes de referências no tratamento dos seus distúrbios. Para a terapia
cognitiva, segundo Guimarães e Rangé (1998, p. 158), “isso se deve ao fato de que tal
tratam ento foi o primeiro a surgir e o prim eiro que m ais estudos siste m á tico s e
com provações experim entais obteve ao longo dos anos". No contexto da terap ia
compòrtàmental, a ansiedade vem sendo paulatinam ente estudada tanto na clínica
quanto ho laboratório enquanto um fenômeno comportamental qué precisa ser explicado.

1Endereço para contato: Rua Misael Pedreira da Silva, n° 70. sala 905 - Ed. Medical Center - Praia do Suâ - Vilórla, ES. CEP: 29056-920

Sobre Comportamento e Cognição 29


O método utilizado para elaboração deste trabalho é embasado na realização
de uma pesquisa bibliográfica. Esta foi feita a través, de uma revisão, cujo conteúdo
fundamenta-se exclusivamente na terapia cognitiva, terapia comportamental e no modelo
de ansiedade encontrado em ambas as concepções.
Para a compreensão da terapia cognitiva foram seíecionados texíos de autores
que seguiram, seguem e complementam os pressupostos teóricos de Aaron T. Beck.
. Estes foram selecionados por se manterem fiéis à sua concepção de descrever o
comportamento humano. Na abordagem da terapia comportamental, os mesmo critérios
de seleção adotados anteriormente foram seguidos, diferenciando do pressuposto
teórico citado, visto que, esse modelo respalda-se na teoria de B. F. Skinner.

Ansiedade na Concepção da Terapia Cognitiva


O que é ansiedade? Do latim anxietate, ansiedade tem várias definições nos
dicionários não técnicos: aflição, angústia, perturbação do espírito causada pela Incerteza,
relação com qualquer contexto de perigo, etc. (AMBAN, 2001). Vale ressaltar que nosso
corpo possui um sistema fisiológico chamado de sistema autônomo que tem como
principal função, alertar e preparar o su je ito para determ inadas situações que
eventualmente acontecem no seu dia-a-dia, preparando o indivíduo para enfrentar ou
fugir em específicos momentos de sua vida, sendo esse sistema benéfico para a pessoa.
Segundo Bovi (2004, p .131), “a ansiedade implica na ocorrência de uma
condição aversiva ou penosa, algum grau de incerteza ou dúvida e alguma forma de
impotência do organismo em uma dada conjuntura", que vem acompanhada de uma
variedade de sintomas físicos que incluem: sudorese, dor ou desconforto no peito, falta
de ar, qalafrios, náusea, sensação de aperto na garganta, tremor, medo de ficar sozinho,
medo de morrer, medo de enlouquecer, aumento do ritmo cardíaco, formigamento das
mãos, tontura entre outros sintomas.
As pessoas ansiosas distorcem a realidade dando a ela outro significado
adotando uma postura de observação continua do seu comportamento, onde qualquer
alteração no organismo ou no ambiente é um sinalizador potencial de ansiedade.
Nesta auto-observação a pessoa ansiosa acaba criando uma armadilha para
ela mesma, pois qualquer alteração é entendida como eliciadora de ansiedade, assim,
os sujeitos vivenciam a ansiedade por que suas crenças sobre elas mesmas e sobre
o seu mundo tornam-se propensas para interpretar uma variedade de situações diárias
como am eaçadoras. As principais crenças dos ansiosos estão freqüentem ente
relacionadas com a vulnerabilidade, onde a pessoa acredita em um ponto vulnerável
pelo qual ela pode se ferir, ou pode ser atacada inesperadamente (Peres, 2001).
Entendido que as distorções cognitivas provocam ansiedade, percebe-se que a
ansiedade em si e seus diversos transtornos formam-se devido à aprendizagem inadequada
de esquemas cognitivos que o sujeito teve contato, somado com o estresse cotidiano.

De acordo com o cognitivismo, os transtornos de ansiedade são estabelecidos a


partir da aprendizagem de esquema cognitivos inadequados, os quais, na presença
de eventos vitais estressantes, eiiciam pensamentos disfuncionais automáticos
(Wielenska, Araújo, Bemik, 1998, p. 109).
Nesta conjuntura, questiona-se qual é a função do psicoterapeuta cognitivo. Na
abordagem cognitiva o psicoterapeuta contribui para que seu cliente identifique seus
pensamentos automáticos e suas crenças disfuncionais. Identificando os pensamentos
autom áticos e as crenças disfuncionais, o psicoterapeuta propõe estratégias com
utilização de técnicas de reestruturação cognitiva, buscando a m odificação dos

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pensamentos e crenças disfuncionais dos seus clientes. O psicoterapeuta levanta
hipóteses de como surgiram as crenças centrais apontando para o cliente as suas
inferências, sugerindo a sua confirmação se as identificações específicas condizem
com a realidade vivenciada por ele. Comprovada à hipótese, inicia-se a modificação da
crença disfunçional junto com o cliente assessorando o mesmo a encontrar novas
crenças centrais que não lhe cause prejuízos na sua vida diária (Abreu, 2004).
Segundo Abreu (2004, p.282) “uma das principais características da terapia cognitiva
é seu caráter breve e focal", dessa forma o psicoterapeuta estipula a quantidade de sessões,
informa ao cliente o objetivo da terapia, relatando as possíveis práticas de potencializar
novos movimentos, identificando e diminuindo os seus sintomas ansiosos até que o mesmo
possa fazer por conta própria (Abreu, 2004). Apresentada essa informação, adverte-se para
o fato de que o tratamento implica em uma cuidadosa ponderação que contém dados
históricos importantes da vida do sujeito que serão recolhidos na entrevista estruturada. Os
dados históricos permitem ao psicoterapeuta conhecer o cliente, identificando suas
potencialidades e dificuldades começando sua intervenção.
Conhecida a história de vida do cliente, suas metas para sessão e identificando
o suposto problema que o trouxe à psicoterapia, o psicoterapeuta cognitivo direcionará
o foco do seu trabalho para o problema específico apresentado, não mais buscando
justificativas para o problema e nem fazendo questionamentos constantes sobre suas
causas, reduzindo com isso o tem po do tratam ento, tendo em vista que intervém
diretamente na queixa. Apesar do direcionamento da intervenção, o psicoterapeuta está
de prontidão para discutir outros problemas que eventualmente vierem a ocorrer na
sessão, não se restringindo apenas ao seu foco de atuação. É interessante destacar
que nas sessões são criadas agendas contendo metas com técnicas para o cliente
realizar em casa e/ou na própria sessão (Freeman & Dattilio, 1998).
Com o uso da agenda, o psicólogo deve estar atento para cumprir os objetivos
determ inados com seu cliente, pois cada meta realizada e discutid a perm itirá ao
psicoterapeuta identificar os pensamentos automáticos e os pensamentos disfuncionais,
possibilitando que o cliente tenha consciência de suas crenças para modificá-la. Pelo fato
de o psicoterapeuta apontar e discutir com o cliente suas crenças disfuncionais e os
pensamentos disfuncionais, no final de cada sessão é solicitado ao cliente que elabore
um resumo do assunto que foi abordado, pretendendo assim, que o mesmo sintetize,
reflita e reaprenda os aspectos primordiais relatados de sua vida (Abreu, 2004).
A terapia cognitiva enfatiza a importância da autonomia do cliente e desse
modo, o psicoterapeuta treina o sujeito para que o mesmo exerça novas habilidades
alterando suas crenças absolutistas. Outra função dessa abordagem é de treinar o
sujeito para possíveis recaídas que eventualmente vierem acontecer durante e após o
tratamento. Em geral, pode-se dizer que a terapia cognitiva auxilia o cliente a enfocar
seus pensamentos e crenças disfuncionais, identificando, avaliando e respondendo as
situações disfuncionais de sua vida (Abreu, 2004).
Tradicionalmente, a terapia cognitiva é reconhecida por utilizar várias técnicas
cognitivas "para mudar o pensamento, o humor e o comportamento daquele que busca
ajuda" (Abreu, 2004, p .283), tendo como alvo principal, alte rar os pensam entos
disfuncionais e as crenças disfuncionais que acompanham o sujeito no seu dia-a-dia.
Existem várias técnicas cognitivas e comportamentais para tratar o transtorno de
ansiedade, como: flecha descendente;*verificação das opções e alternativas; reatribuição;
acalma-se; descatastrofização; vantagens e desvantagem; treinamento da positivjdade;
exposição; lição de casa; relaxamento; e meditação entre outras (Freeman & Dattilio, 4998).

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Ansiedade na Concepção da Terapia Comportamental
A ansiedade é, indubitavelmente, tema palco de inúmeras questões sobre
como este sentimento influencia o cotidiano das pessoas. Ela é, de fato, muito utilizada
como uma personagem que ora discrimina problemas e ora traz sensações agradáveis,
como aquele frio na barriga que o indivíduo sente ao saber que se aproxima o momento
de encontro com a namorada. Em todo caso, a ansiedade é vista pelo senso comum
como algo maléfico que possui, assim, o poder de impedir alguns sujeitos de executarem
tarefas que lhes são extremamente corriqueiras. (Sanfanna, 2003).
Na literatura behaviorista radical, encontram-se diferentes definições sobre o termo
ansiedade, porém, estas definições mais se complementam do que divergem. Assim, elas
têm em comum: analisar funcionalmente a ansiedade enquanto respostas de componentes
públicos e encobertos a um ambiente coercitivo. É importante ressaltar que, dentro de uma
abordagem comportamental, não é cabível um procedimento padronizado para o tratamento
dos transtornos de ansiedade. O que se pode fazer é entender que contingências mais
comumente atuam e então delinear um caminho a partir das singularidades de cada cliente.
Várias manifestações de ansiedade têm como característica a descrição do
estado como sensação prazerosa. O respondente que um sujeito emite momentos
antes da chegada de uma pessoa querida que estava longe, comumente, é tido como
um sentim ento de ansiedade bem -vinda. Nossa sociedade valoriza e reforça o
comportamento de pessoas que expressam publicamente seus sentimentos. Porém,
quando o sentimento está ligado a contingências basicamente aversivas, a ansiedade
é tida como uma manifestação ruim que deve ser tratada. Zamignani e Banaco (2005,
p.78) definem a ansiedade enquanto fenômeno clínico:
(1) quando implica em um comprometimento ocupadonal do indivíduo, impedindo o
andamento de suas atividades profissionais, sociais e acadêmicas, (2) quando envolve
um grau de sofrimento considerado pelo indivíduo como significativo e (3) quando as
respostas de evitação e eliminação ocuparem um tempo considerável do dia.
A análise do comportamento explica o fenômeno da ansiedade como uma
manifestação constituída pelo sentimento que a compõe, pelo papel operante que este
sentimento exerce no meio, e pela funcionalidade da emissão desta classe de respostas.
R esum idam ente, a ansiedade pode ser entendida pela ótica a n alítico -
comportamental, como:
... um conjunto de respostas reflexas, eliciadas por um estimulo aversivo, que
interferem sobre ações operantes: suprimem operantes positivamente reforçados [o
indivíduo para de fazer o que estava fazendo] e facilitam operantes negativamente
reforçadores [pela remoção de um aversivo] (Mitienson, apud Banaco, 2001, p. 204).
A emissão de operantes negativamente reforçados é, aparentemente, o padrão
básico de emissão de respostas nas manifestações de ansiedade. A esquiva funciona
amenizando e postergando possíveis estímulos aversivos sinalizados no ambiente. Ao
entrar em contato com um estímulo aversivo condicionado (estímulo pré-aversivo), o
sujeito emite respostas que visam eliminar, postergar ou diminuir a estimulação aversiva.
Em uma crise ansiosa, vários estím ulos podem adquirir funções aversivas
juntamente com a crise. Estímulos das mais variadas espécies são pareados no
momento de uma crise de ansiedade.
Se o comportamento de fuga-esquiva emitido pelo sujeito visa o afastamento
ou a interrupção do contato com pensamentos, memórias e sentimentos, ou seja, com
toda a forma de estimulação encoberta de ansiedade, ele é classificado como uma
evitação experiencial. Neste padrão de esquiva,

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... não apenas os eventos aversívos presentes no situação de estimulação aversiva
e as respostas emitidas na ocasião adquiriram propriedades aversivas, mas toda
a classe de estímulos privados adquiriu essa propriedade por meio de generalização
(Zamignani e Banaco, 2005, p.85)
Outra variável de riquíssima análise para entonder o processo de instalação de
com portam entos tidos como ansiosos, é a ve rifica çã o de qu ais esquem as de
reforçam ento vigentes mantém o comportamento problem a. Citando o transtorno
obsessivo compulsivo, involuntariamente a família pode exercer um papel importante
na manutenção das respostas ansiosas.
A família age de maneira inconsistente com o paciente portador do transtorno
obsessivo-compulsívo, em alguns momentos participando do ritual juntamente
com o paciente, em outros antecipando o ritual e cm outros ignorando ou mesmo
punindo o ritual. Este padrão de família tenderia a manter um quadro obsessivo-
compulsívo (Zamignai, 2001, p. 259).
Como o esquema de reforço é intermitente, o sujeito nunca sabe quando é que
suas atitudes vão contar com conseqüências de amparo e compreensão de sua família.

Comportamentos Adaptivos
A disposição das contingências de reforço raramente é colocada de maneira tão
simples quanto no modelo da supressão condicionada vivendada em laboratório, onde não
há nada que o sujeito possa fazer para evitar que o choque seja-lhe apresentado. A pessoa
geralmente tem outras saídas para evitar um aversivo; a psicoterapia é exemplo disso, “cabe
ao terapeuta demonstrar a ação dos eventos aversívos na vida do cliente e levá-lo a discriminar
como tais eventos adquiriram as funções aversivas" (Britto e Duarte, 2004, p. 166), para que
este possa então, planejar suas ações e emitir comportamentos mais adaptativos.
Comportamentos mais adaptativos são comportamentos que têm uma maior
probabilidade de obter reforços positivos. Sob esta perspectiva, não é seguro o terapeuta
simplesmente trabalhar diretamente com as respostas de fuga-esquiva características
das variadas topografias da ansiedade emitidas pelo cliente. O trabalho será constituído
de uma análise do desenvolvimento de determinados padrões de respostas, verificando
sua função atual e as contingências que o mantêm.
É devido verificar se há padrões alternativos que possam ser reforçados. Por
exemplo, se a emissão de comportamentos estereotipados da fobia social for a única
classe de respostas que recebe alguma forma de amparo social e familiar, extingui-la
de imediato poderá ser um passo arriscado no encaminhamento clínico de uma pessoa.
Pode-se então partir do pressuposto de que uma das melhores variáveis a scr
identificada estaria pairando sobre como fora desenvolvido o repertório comportamental
do sujeito, e que arranjo de contingências de reforço positivo estão mais presentes.
Os transtornos afetivos e ansiosos envolvem, em geral, dificuldades interpessoais e
de repertórios não sociais, tais como atividades na resolução de problemas, no
manejo de situações de estresse e/ou frustração (Vermes e Zamignani, 2002, p. 138).
Pode-se esperar então que, um sujeito, ao apresentar qualquer tipo de
transtorno ansioso, por responder ao ambiente de forma peculiar, receberá mais atenção
(reforço) dô familiares e amigos do que outrora. Esta situação só é reforçadora para a
pessoa, devido a uma baixa variabilidade de comportamentos que dificulta o contato do
sujeito com contingências outras, naturalmente mais reforçadoras.
A forma e intensidade que o sujeito com algum transtorno de ansiedade executará
comportamentos com função de receber afeto ou atenção dependerá diretamente das

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operações estabelecedoras atuantes nas contingências presentes. O padrão de respostas
ligado a uma carência ou privação de reforços positivos pode inviabilizar toda uma cadeia
de comportamentos mais complexos, limitando o sujeito a efetuar basicamente uma
determinada classe de respostas, seja esta de esquiva ou até mesmo de fuga. É preciso
fazer com que o cliente saía do padrão ansioso ao se desenvolver outras classes de
respostas para que o cliente possa produzir seus próprios reforçadores positivos.
A ampliação do contato do cliente com eventos reforçadores é f .] um objetivo
importante para que as respostas alternativas às respostas ansiosas sejam
instaladas. Para isso, é necessário um levantamento cuidadoso das habilidades e
deficits pré-existentes em habilidades sociais ou no repertório do cliente no manejo
e enfrentamento de problemas (Zamignani e Banaco, 2005, p. 89).
É consenso que a instalação de novos repertórios é fundamental, mas, para que
seja possível esse tipo de procedimento na relação entre cliente-terapeuta, o terapeuta deve
tentar se auto-estabelecer como uma audiência não punitiva para o cliente, tendo todo o
cuidado com a forma ética e gradual com a qual devem-se conduzir as sessões. Delitti e
Thomaz (2004, p. 57) afirmam que “em geral, não é a relação com o terapeuta (a interação) a
variável aversiva [...], mas o assunto no qual a terapia chegou". Reavaliando o que foi proposto,
isto quer dizer que o assunto por si só já pode transform ar a terapia em um evento aversivo.

Manejo de Comportamentos Clinicamente Relevantes


A Psicoterapia Analítica Funcional (FAP), técnica terapêutica alicerçada nos
fundamentos do behaviorismo radical, tem como um de seus pressupostos básicos o
estabelecimento de relações mais íntimas entre cliente e terapeuta, pois, acredita-se
que a forma como o cliente se comporta na terapia é uma boa amostra de como se
comporta no mundo.
A FAP é defendida enquanto procedimento básico no manejo com os transtornos
de ansiedade devido ao fato de que seu trabalho parte do pressuposto da análise
funcional do comportamento, ou seja, a FAP é uma sistematização clínica da realização
de uma análise funcional. Segundo Banaco (1999, p.79):
Quando a aplicação de uma técnica deriva de uma análise funcional, exercida por
um analista do comportamento ou terapeuta comportamental, provavelmente ela
será bem aplicada e os resultados serão benéficos para quem sofreu sua aplicação.
Segundo Brandão e Silveira (2004, p.195), a vantagem do manejo clínico de
comportamentos está estabelecida da seguinte forma:
O contexto clínico apresenta muitas, senão todas, as características requeridas
para a modelagem direta de comportamentos do cliente. Isso porque o reforçamento
é mais efetivo quanto mais próximas forem as conseqüências no tempo e no
espaço sobre as respostas apresentadas peto cliente.
É na relação clínica que observa-se o palco onde o terapeuta terá acesso aos
comportamentos que devem ser manejados no sentido de serem extintos ou reforçados
e generalizados. Os comportamentos que recebem uma maior atenção enquanto base
para o d e se n ro la r do atendim ento, podem ser cham ados de C om portam entos
Clinicamente Relevantes (CRB).
O manejo dos CRB’s pode ser o ponto-chave no trabalho realizado com sucesso
nos transtornos de ansiedade. Pessoas ansiosas geralmente apresentam déficits em
habilidades sociais (Banaco, 2005; Guilhardi, 2004; Madi, 2004; Vermes e Zamignani, 2002),
sendo comum o desenvolvimento de comportamentos estereotipados como ansiosos
nessas pessoas. Uma possível abordagem clinica da FAP no transtorno obsessivo-

Alexandrc Q. Brilu, Felipe de C. Pimentel, Fabrído de Sou7a, Carolina O. de Brito e Thais T. Carvalho
compulsivo, poderia ser o desenvolvimento de uma relação terapêutica íntima, visando o
desenvolvimento das habilidades sociais, para que o cliente sinta os efeitos do reforço
positivo de uma relação social profunda e passe a generalizar isso no ambiente fora da
clínica. Como nos mostra Cabalfo (2003), não existem evidências de uma inibição fisiológica
da ansiedade a partir de um comportamento socialmente habilidoso. Entretanto, é notável
que os clientes ajam menos nervosos, ou ansiosos, quando socialmente habilidosos.
Outra proposta de terapia que se encontra radicalmente embutida na ciência da
análise comportamento é chamada de a Terapia por Contingências de Reforço (TCR). A TCR
é mais bem classificada enquanto postura clínica, pois divergindo da FAP, não fornece ao leitor
técnicas ou métodos padronizados a serem seguidos. Para esta abordagem, ao desenvolver
novos repertórios, um sujeito ansioso pode ser positivamente consequênciado em suas
respostas, essas conseqüências, então, passarão a controlar novos comportamentos, pois
exercerão o papel de seus antecedentes. Para Skinner (1989/1995, p. 13):
A posição hehaviorista ê: volte aos eventos antecedentes para explicar o que
alguém faz e, ao mesmo tempo, o que a pessoa sente enquanto fa7 alguma coisa.
Para cada estado sentido é designado pelo nome de um sentim ento,
presumivelmente existe um evento ambiental anterior do qual cstc c produto A
terapia comportamental se interessa mais pelo evento antecedente do que pelo
sentimento.
Por fim, aparentem ente na bibliog rafia pesquisada, não foi encontrado
evidencias de que existam regras ou conjunto de procedimentos exclusivos para o
encaminhamento de transtornos de ansiedade. Na verdade, como fora discutido até o
momento, qualquer procedimento psicoterápico embasado unicam ente na filosofia
behaviorista radical, desconsidera procedimentos e técnicas prontas que incidem apenas
sobre sintomas, pelo simples fato de que a seleção pelas conseqüências que acometem
as respostas de um sujeito se restringfem tão somente a ele.
Finalizando, a terapia comportamental deve, para Skinner (1989/1995, p.114) construir:
Comportamentos fortes, removendo reforçadores negativos desnecessários e
multiplicando os positivos. Independentemente de as pessoas que tiveram seus
comportamentos fortalecidos dessa maneira viverem, ou não, mais que as outras,
ao menos pode-se dizer que elas viveram bem.

Divergências encontradas
Após a realização do levantamento bibliográfico acerca das bases teórico-
conceituais que permeiam as práticas embasadas na terapia comportamental e na terapia
cognitiva, pôde-se verificar uma falta notável no que diz respeito às incongruências
encontradas entre as duas teorias. Todavia, tais divergências incidem radicalmente sobre
a forma de entendimento humano, na construção de novos conhecimentos e nos modelos
práticos que instruem os profissionais influenciados por seus devidos pressupostos.
Obviamente, essas diferentes propostas de entendimento do comportamento
humano irão acarretar em diferentes práticas quando levadas para a aplicação de
conhecimento (Banaco, 2001, p. 199).
Eventuais confusões feitas pela comunidade acadêmica sobre as diferenças
entre as duas abordagens, em geral, parecem ocorrer devido à similaridade dos nomes
empregados para descrevê-las e pela proximidade do uso dos termos explicativos. Apesar
da naturalidade como este equívoco é dado atualmente, faz-se pertinente uma demarcação
de diferenças básicas entre as bases filosóficas que atravessam cada modelo.

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Como já fora explicitado, o behaviorismo radical é considerado uma teoria
monista e funcíonalista, onde ioda manifestação do sujeito em resposta ao seu ambiente
é tida como comportamento, e, portanto, este deve ser entendido de acordo com a
função que exerce no ambiente. Por outro íado, a terapia cognitiva mantém a posição
dualista de homem ao defender a idéia de que existem estruturas internas que governam
comportamento humano. É interessante ressaltar que, devido à utilização de termos
parecidos, o behaviorismo mediacional ou cognitivo é confundido muitas vezes com o
behaviorismo radical, porém, eles se mantêm visivelmente distintos quando se analisa
o enfoque que cada teoria respalda e a atribuição de causas ao comportamento. Por
exemplo, observa-se que, na terapia cognitiva,
... a explicação [para o comportamento] surge na forma de um mimetismo monista,
já que tudo o que se fala é comportamento, cria-se a impressão de tratar-se de um
monismo comportamental, no qual comportamento [geralmente privado] causa
comportamento [geralmente público]. Supor que o pensamento é a causa dos
comportamentos, ou seja, que "as pessoas não sofrem pelos fatos da vida, mas
peto que elas pensam sobre [...] á um enunciado típico de posições cognitivas e
envolvem um equívoco conceituai fundamental" (Guílhardi, 2004, p. 22)
Este falso monismo, como todo tipo de mentalismo, fornece explicações que além
de malograr por desconsiderar a interação do sujeito-ambiente em toda sua importância,
produz jargões e conceitos que acabam tendo o risco de estigmatizar os sujeitos.
teoria cognitiva "baseia-se no pressuposto racional teórico de que o afeto e
comportamento do indivíduo são amplamente determinados pela maneira como
ele estrutura o mundo. Suas cognições (“eventos” verbais ou pictóricos em seu
fluxo de consciência) estão baseadas em atitudes ou suposições (esquemas),
desenvolvidas a partir de experiências anteriores" (Beck e Freeman, 1993, p. 241).
Ao longo da descrição da terapia cognitiva, percebemos que sua base teórica
compreende termos como, cognição, pensamentos, crenças, esquemas entre outros. Deste
modo, supostamente a somatória dessas definições forma uma estrutura intrapsíquica que
rege e governa o comportamento humano, retomando os princípios do mentalismo. Essas
diferenças de base produzem explicações totalmente antagonistas sobre as causas do
comportamento humano quando comparadas com os princípios da terapia comportamental.
Para o behaviorismo radical, se o comportamento problema é explicado através
de uma perspectiva adaptativa, pode-se afirmar que ele é necessário para o sujeito no
sentido de ter sido selecionado. Se as manifestações de fobia social foram importantes
na evitação de alguma forma de estimulação aversiva, diz-se que este comportamento
foi funcionalmente instalado. Como a proposta é basicamente funcionalista, toma-se
incompatível um delineamento diagnóstico puramente psiquiátrico, ou seja, nega-se a
noção de que a ansiedade seja basicamente uma psicopatologia. A afirmativa de que
todo comportamento é selecionado por suas conseqüências,
... leva a no mínimo, pensar que todo e qualquer comportamento seja adaptativo,
dentro das contingências que o mantém. E se for possível proceder a uma análise
funcional da situação na qual o comportamento dito *patológico’ se insere, chegar-
se-á à conclusão de que aquele seria o único comportamento que poderia acontecer,
dadas aquelas contingências. No entanto [...] apesar de serem adaptativos no sentido
de terem sido selecionados, alguns comportamentos causam sofrimentos às pessoas
que os emitem ou àquelas que estão ás suas voltas (Banaco, 2001, p.85).
O objetivo desta argumentação não é desconsiderar a importância da utilização
de diagnósticos como uma forma facilitadora de comunicação entre os profissionais da

36 Alexandre Q. Brito, Felipe tie C. Pimentel, Fabricio de Souza, Carolina O. de Brito e Thais T. Carvalho
área da saúde. 0 que encontra-se sob ressalva é o cuidado que se deve ter para não
esquecer que estas divisões de conceitos são especificações didáticas para ilustrar,
genericamente, formas comuns de arranjos de contingências coercitivas,
... esses sistemas dassificatóríos são no máximo uma descrição de topografias
de respostas e de freqüências com as quais elas se apresentam na vida da pessoa
(Banaco, 2001, p. 76).
Em sentido oposto ao que foi dito, na terapia cognitiva é encontrada grande
ênfase sobre o “tratam ento” dos sintomas gerados pelos pensam entos e crenças
disfuricionais, ou seja, objetiva-se a eliminação destas respostas, como se fossem
simples patologias que precisam ser erradicadas. Exclui-se a análise funcional das
condições ambientais que resultaram em tais pensam entos. O com portam ento é
explicado por uma abordagem determinista, intemalista e não contextuai. Traba!ha-se
exclusivamente com suas manifestações, logo, o trabalho limita-se a realização de
uma modificação cognitiva, Há uma busca por:
... critérios de normaüdade para definir doenças, transtornos ou stndromes
com portam entais bem como ocasiões e d escrições to p og rá fica s do
comportamento sobre os quais se deve aplicar a técnica (Banaco, 2001, p. 201).
Dentro do arcabouço teórico da terapia cognitiva fora possível verificar este tipo
de especificação metodológica. O processo psicoterápico é previamente delimitado de
acordo com o diagnóstico que fora realizado. Por exemplo, se for diagnosticado um
determinado transtorno de ansiedade, o terapeuta cognitivista irá procurar dentro de
seu arcabouço teórico, técnicas que melhor atuem na eliminação dos sintomas.
Essa limitação não só está referida às técnicas utilizadas como também à
duração do processo terapêutico; para esta abordagem, tentar limitar a terapia a um
número determinado de sessões tem o efeito de manter o terapeuta honesto. Com
isso, diz-se que o terapeuta deve estar ativamente envolvido em apressar o passo da
terapia, em vez de ficar sentado, permitindo que a terapia se desenvolva em alguma
direção vaga (Freeman & Dattilio, 1998).
Esta postura é completamente incompatível com a realização de uma análise
funcional. Para a terapia comporta mental, cada cliente é único em todos os aspectos devido
ao fato de que a complexidade encontrada na ontogênese nunca se repete. O papel do
terapeuta refere-se a aumentar o autoconhecimento do cliente no sentido de ensiná-lo a
discriminar as contingências que governam seu comportamento, desenvolver repertório
comportamental para o enfrentamento da situação apresentada e tomá-lo terapeuta de si
mesmo. O tempo necessário para a realização deste trabalho e as técnicas utilizadas não
podem ser previamente especificadas nesta abordagem, pois isso dependerá diretamente
de vários fatores como; a relação terapêutica, o papel da família, a limitação do repertório
apresentado inicialmente e etc. O que existe neste modelo é o estudo e o planejamento do
que será abordado na relação com o cliente. Neste enfoque os sintomas só recebem
atenção enquanto hipóteses para entendimento das contingências que estão operando.
Entretanto, na terapia cognitiva, o enfoque dos sintom as resulta em um
afastamento do estudo da história de vida da pessoa. Todavia, terapeuta e pesquisadores
cognitivistas se dão por satisfeitos com as explicações vernaculares e mentalistas.
Para Skinner (1990), o modelo cognitivista só tem tido tamanha aceitação na atualidade
devido a sua similaridade com a linguagem cotidiana. Por mais que seja observado na
descrição da filosofia cognitiva o enfoque inicial do terapeuta na história de vida do
sujeito, essas informações parecem ser descritas sim plesm ente para preencher o
prontuário do cliente. Segundo o material consultado, após a coleta de dados, o

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Sobre Comportamento e Cognição 37
psicoterapeuta busca apenas novas formas de o sujeito reinterpretar seus pensamentos,
crenças e valores, não se importando com sua história de reforça mento, punição, fuga
e esquiva que selecionou os padrões de respostas ansiosas.
Um exemplo do cuidado que deve-se ter ao assumir uma postura terapêutica que
trabalha prioritariamente com sintomas pode ser dado no contexto da técnica de prevenção
de respostas. Esta técnica é utilizada tanto por terapeutas comportamentais como por
terapeutas cognitivistas. Ela tem em sua constituição a aversividade do estímulo que o
sujeito evita. O que diferencia a forma como cada abordagem trabalha este procedimento
repousa sobre sua influência filosófica. Se o terapeuta aplica a técnica pura e simplesmente
para eliminar sintomas (terapia cognitiva), sem reforçar outros comportamentos mais
adaptativos, ele estará desconsiderando o fato de que estes comportamentos ansiosos se
mantêm por estarem evitando as aversividades que a pessoa está em contato; neste
contexto, a técnica será mais uma forma de coerção a qua! o sujeito será submetido.
Não seria útil, portanto, agir unicamente sobre a resposta de esquiva se não for
desenvolvido um repertório eficaz que permita ao indivíduo eliminar ou esquivar-
se com sucesso da(s) fonte(s) de ansiedade, pois o comportamento problema,
neste caso, tenderá a ocorrer novamente, talvez em outra topografía (Zamignani e
Banaco, 2005, P.87).
Ao atuar com qualquer tipo de sintom as, o terapeuta coerente com os
pressupostos do behaviorismo radical deve ter discriminado quais contingências de
reforço mantém as respostas ansiosas. Se a utilização de um procedimento que visa à
exposição do sujeito aos estímulos aversivos for necessária, o psicólogo 7deve fazê-la
da forma mais funcional possível. Pode ser interessante que se faça este procedimento
com o intuito de fortalecer outras respostas que produzam reforçadores positivos, Vermes
e Zamignani (2002, p. 140) exemplificam da seguinte maneira:
Um adolescente que goste de futebol e que apresente obsessões de contaminação,
provavelmente seria mais motivado a se envolver [na técnica] usando bola em um
campo de futebol - inevitavelmente sujo - do que a passar a mão na sola dos
sapatos e não lavá-la depois.
Nesse contexto, é oferecida a este sujeito a oportunidade de entrar em contato
com contingências naturalmente reforçadoras, fortalecendo as respostas que este
produziu e enfraquecendo as respostas de fuga e esquiva.
Outro ponto de intensa contraste entre as duas teorias pode ser descrito no
quesito da variabilidade comportamental. O terapeuta behaviorista radical, por acordar
com a seleção por conseqüências, encara a amplitude de variação de comportamentos
como um dado fundamental para o desenrolar do processo psicoterápico. Segundo
este modelo, quanto mais variado for o repertório comportamental de uma pessoa,
maior a probabilidade dela exercer comportamentos funcionalmente mais adaptativos.
Deve-se trabalhar juntamente com o cliente o planejamento de instalação de um repertório
mais variado e que produza um maior número de reforçadores positivos. Uma pessoa
“vivida” tem mais chances de suportar as transformações do ambiente do que uma
pessoa extremamente protegida. Como ela foi reforçada em contingências variadas,
tenderá a se adaptar melhor do que a segunda.
Este ponto de divergência deve ser cuidadosamente trabalhado. Como, nos
artigos consultados, não fora possível encontrar na terapia cognitivista ênfase aos
aspectos da história de vida do sujeito, ela não parece ser capaz de planejar e alterar a
forma como este sujeito se relaciona com o mundo ao produzir seus reforços negativos
(padrão da ansiedade). Alterar a forma com que Luciana encara a sua ansiedade (por

38 Alexandre Q. Brito, Felipe de C. Pimentel, Fabrício de Souza, Carolina O. de Brito e Thais T. Carvalho
exemplo, aplicando-se técnica ACALME-SE) não é condizente ao dizer que se planejou
alterar a relação que ela tem com seu chefe extremamente coercitivo, ou seja, a ênfase
está na resposta, e não na contingência que a produziu. Logo, se a relação aversiva que
ela tem com seu chefe não for alterada, não deixará de ser sensível às punições advindas
do mesmo, por mais que ela exerça o “controle" de sua ansiedade. Neste ponto forma-
se um problem a fundam ental: se Luciana passa a controlar sim plesm ente suas
respostas topográficas de ansiedade, ela terá de apresentar outras formas de lidar com
a relação de trabalho para minimizar as fontes de aversivos provindas deste ambiente;
como não fora trabalhado um padrão de respostas alternativo, é possível que Luciana
continue mantendo a função de suas respostas, ou seja, ela não pode mais ficar ansiosa
no trabalho (topografia), mas pode passar a apresentar obsessão por organização.
Neste aspecto, não foi encontrado na literatura pesquisada referente à terapia
cognitiva, indicação, tópico ou suposição da importância de trabalhar com o cliente os
aspectos de sua variabilidade comporta mental. Além de negligenciar a importância do
trabalho relacionado com o aumento da variabilidade comportamental, não foi encontrado
na terapia cognitiva um enfoque significativo sobre a influência das contingências de
reforçamento positivo na modelagem de novos com portam entos com o intuito de
possibilitar ao sujeito, adquirir repertórios alternativos que visem a extinção dos
com portam entos que lhe causam ansiedade. Para esta concepção, o modelo da
ansiedade é formado pela interpretação errônea que o sujeito faz dos acontecimentos
habituais, logo, a modificação do comportamento dar-se-á por novas interpretações
dos estímulos e não na busca de novos reforçadores.
...ter uma habilidade adequada para prevenir uma ocorrência desagradável não
traz uma possibilidade de sucesso pois essa habilidade pode flutuar de acordo
com o grau de perigo antecipado (e imaginado) das situações, como: “Eu não
posso fazer nada errado, sfe o fizer será uma catástrofe" (Savoia, 2004, p.336).
Para a terapia comportamental, devem-se alterar não as respostas operantes e
respondentes que caracterizam a ansiedade, mas sim a relação de coerção à qual o sujeito
está embutido na atualidade. Se Joaquina tem sofrido devido aos seus estados de ansiedade,
procurar-se-á alterar as relações que produzem este tipo de padrão, reforçando inicialmente
padrões de fuga-esquiva alternativos e posteriormente padrões de reforçamento positivo.
Fica evidente outra diferenciação encontrada na terapia cognitiva em relação à
terapia comportamental, pois essa concepção enfatiza que a ansiedade é evocada
quando a pessoa ansiosa distorce seu pensamento atribuindo significados do seu
contexto não condizente com a sua realidade.
Por exemplo, se um paciente começar a sentir uma pequena pontada em seu
estômago justo antes de começar um discurso e imediatamente pensar "não posso
sentir nenhuma ansiedade", então este pensamento sozinho è suficientemente
capaz de aumentar sua ansiedade (Range e Bernik, 2004, p. 175).
Percebe-se então que, para a terapia cognitiva, as variáveis ambientais que
eliciam respondentes e discriminam operantes não recebem uma atenção especial.

Conclusão
A partir do que foi discutido, fica evidente o fato de que existem diferenças significativas
no tangente à concepção de homem sobre as duas práticas psicoterápicas apresentadas.
Trata-se de abordagens nitidamente divergentes desde suas raízes filosóficas até a extensão
de sua aplicação clínica. A ansiedade foi incluída a esta análise propositalmente enquanto
personagem que está em voga no cotidiano, ou seja, pôde-se ilustrar através deste modelo

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as formas de entendimento do comportamento humano exercida pelos diferentes paradigmas.
O levantamento das divergências encontradas no encaminhamento dado as
m anifestações de ansiedade, mostrou que o entendim ento destas duas terapias
enquanto compatíveis e complementares em suas formas de atuação demonstra uma
notável "incoerência teórica que só pode ser explicada pela ausência de familiaridade
com os pressupostos de uma ou outra orientação” (Costa, 2002, p. 44). Quando existem
pontos em comum nas duas abordagens (especialmente no caso de aplicação de
algumas técnicas), estes não se mostram suficientemente próxim os para justificar
uma igualação con ceitu ai. Enquanto o terapeuta com p o rta m e n ta l embasa sua
intervenção sobre os comportamentos do cliente e suas devidas funções (intervenção
externalista), o terapeuta cognitivista atua deforma consideravelmente diferente, focando
atenção sobre os conteúdos cognitivos ( intervenção in te rn a lis ta ) e as variáveis
encobertas. É importante demarcar a cautela que se deve ter ao atuar de acordo com
uma abordagem internalista, pois, segundo Zamignani e Banaco (2005, p.80),
... a atenção privilegiada que este tipo de estratégia dispensa às variáveis de
natureza encoberta (ansiedade, obsessões) pode ocultar o papel de outras variáveis
ambientais relevantes.
Contudo, apesar destas diferenças teórico-conceituais, viu-se também que
existe grande integração entre as duas abordagens tanto no cenário acadêmico quanto
no contexto clínico. Pode-se dizer que compreender o motivo de tamanha aproximação
entre elas é um fato um tanto quanto curioso, visto que o behaviorismo radical adota
uma postura enfática contra as explicações mentalistas.
A título de conclusão, vale ressaltar que de maneira alguma é objetivo deste
artig o d e sco n sid e ra r a re levâ ncia de nenhum a das p ro p o s ta s p sicoterá pica s
apresentadas, apenas propiciar novos debates que promovam um solo mais consistente
e coerente para ambas as teorias.

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