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TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E
FUNDAMENTOS DA GESTÃO PÚBLICA
CAPÍTULO 1 - QUAIS OS FUNDAMENTOS E
PRINCÍPIOS DA GESTÃO PÚBLICA?
Gustavo Persichini de Souza/Anderson Rafael do Nascimento
INICIAR
Introdução
Você já se perguntou alguma vez sobre o porquê da existência da Administração Pública? Para
muitas pessoas, esse é um questionamento recorrente. Atualmente, o cidadão demanda, além de ter
seu direito garantido, que a administração pública seja de qualidade para atendê-lo da melhor
maneira. Independente das críticas que são feitas a ela, uma coisa é certa: ela sempre nos
acompanhará.
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Você conhece sobre os fundamentos e princípios da gestão pública? Conhecer um pouco mais a
respeito dos fundamentos e princípios da gestão pública nos dará melhores condições de buscar
melhores formas de serviço público. Isso se dará a partir do entendimento dos principais
mecanismos que orientam o funcionamento da administração pública no país.
Porém, antes de analisarmos mais detidamente como se estrutura a gestão pública, é necessário
conhecer um pouco sobre os fundamentos da administração. Por mais que hoje o maior destaque da
administração esteja associado ao mundo empresarial e privado, você sabia que nem sempre foi
assim? Os exércitos e o modelo de engenharia que era muitas vezes implementado no Estado foram
as verdadeiras fontes de formulação de um modelo administrativo.
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A partir de Mintzberg (1983), podemos compreender que organização é toda atividade organizada
que exige a divisão do trabalho em várias tarefas e a coordenação dessas. Importante destacar que
na concepção do autor existem atividades não organizadas. Ainda segundo o autor, na medida em
que uma organização cresce para além de seu estado mais simples ocorre também a necessidade de
gerar supervisão direta sobre as atividades. E daqui surge a relação entre administração e
organização que trabalharemos a partir de agora.
VOCÊ SABIA?
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Essa divisão funcional perdeu espaço nos desenhos das organizações com a
necessidade de modelos organizacionais mais aptos a atuar com o conhecimento e a
informação. Contudo, ainda vemos, atualmente, modelos funcionais nos serviços
públicos. Veja, por exemplo, o caso dos programas governamentais de
desburocratização e atendimento rápido para retirada de documentos e outros
serviços. Esse é um típico programa que teve influência da forma organizacional
funcional.
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encontrado: <https://www.youtube.com/watch?
v=HAPilyrEzC4&ab_channel=Dom%C3%ADnioP%C3%BAblico (https://www.youtube.com/watch?
v=HAPilyrEzC4&ab_channel=Dom%C3%ADnioP%C3%BAblico)>.
A partir dos subsídios iniciais em relação à divisão do trabalho elaborados por Taylor, Ford projeta
um modelo de organização que tem uma visão interna sobre a organização do trabalho, e externa,
pois pensava um modelo mais equilibrado de sociedade fundamentada no trabalho. Com isso,
conseguiu pensar uma linha de produção em maior escala e mais produtiva, bem como funcionários
remunerados ao ponto deles mesmos serem os compradores dos veículos que produziram. Esse
aspecto rompia completamente como a forma que Taylor entendia o elemento humano. Taylor
entendia que os funcionários deveriam ser iguais a um búfalo, ou seja, fortes para o trabalho e fracos
em suas capacidades cerebrais e cognitivas.
Fayol, já citado nesse material algumas vezes, encerra o trio da escola da administração clássica. Ele
tinha uma visão da planta produtiva (linha de produção), mas buscava compreendê-la em um todo
organizacional associado a outros sistemas e geridos por pessoas. Assim, Fayol já começava a
pensar o processo administrativo de maneira cíclica e a partir daquelas etapas já mencionadas:
prever, organizar, comandar, coordenar e controlar.
Maximiano (2000), ao explicar a teoria clássica da administração, inclui Weber. Vamos usar essa
tipologia de forma didática, mesmo que não seja a mais adequada teoricamente. A “Teoria da
Burocracia” é uma tentativa de uma explicação de uma lógica que organiza toda a estrutura social e
não somente uma empresa. Em outras palavras, os mesmos mecanismos de funcionamento de uma
empresa podem ser reproduzidos na sociedade. A forma de romper com isso seria possibilitar que
as leis, desde que fossem a maior representante dos interesses da nação, tivessem um modelo de
funcionamento. Para isso, teriam um modelo ideal, na concepção de Weber, que detalhasse como o
sistema funcionaria para que a racionalidade legal fosse a predominante.
VOCÊ SABIA?
Quando uma pessoa se refere à administração pública como sendo burocrática, ela
está coberta de razão, mas não pelo que se conhece enquanto senso comum, que é a
morosidade. Embora o termo burocracia seja visto como algo pejorativo, ele denota,
originalmente, organização, racionalidade, eficiência, eficácia.
Portanto, Max Weber (1966) desenvolveu a ideia de um modelo ideal de funcionamento de qualquer
organização e o nomeou como burocracia. Para ele, a administração burocrática deveria idealmente
seguir alguns princípios (destacamos os mais importantes):
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Essas mesmas regras podem ser replicadas na empresa, na igreja, em uma organização não
governamental, em uma repartição pública e até mesmo no funcionamento do Estado como um
todo.
Na teoria clássica, exceto na visão da Teoria da Burocracia, a visão ontológica que pautava suas
ideias era o homo economicus. Nessa concepção, os homens são guiados por maximizar desejos e,
portanto, priorizar a satisfação econômica.
Figura 1 - As
teorias das organizações se dedicaram ao estudo de características relacionadas à produtividade,
como o estudo de tempos e movimentos proposto por Taylor. Fonte: Aleksandar Mijatovic,
Shutterstock, 2018.
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Nesse sentido, surgem teorias que abordam as relações humanas e sociais existentes nas
organizações por outros enfoques. É nesse contexto que surgem teorias que buscam explicar e
apontar caminhos a serem seguidos pela administração que têm foco no ambiente e nas pessoas.
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VOCÊ SABIA?
Existem 5 princípios expressos da administração pública, que são aqueles que estão
listados no Artigo 37 da Constituição Federal de 1988: Legalidade, Impessoalidade,
Moralidade, Publicidade e Eficiência. No entanto, existem inúmeros princípios
decorrentes desses, que são os chamados princípios tácitos. Tanto os princípios
expressos quanto os tácitos devem ser observados pela administração pública e seus
agentes.
Toda a orientação normativa e funcional da administração pública tem como base os princípios
constitucionais. São eles que dão a exata noção dos limites, do alcance e das responsabilidades que
os gestores públicos e a própria administração devem seguir. Sem eles, as ações dos governantes
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perdem referência frente aos administrados e isso representa um grande risco tanto do ponto de
vista dos objetivos da administração quanto da própria democracia, em razão dos excessos que
podem ser cometidos.
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VOCÊ O CONHECE?
A conduta dos agentes públicos deve ser pautada pelos princípios, mas, sobretudo, pela sua própria
forma de encarar a coisa pública como sendo de todos e não para atender a interesses particulares.
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Figura 2 - O
princípio da legalidade serve como regra para a sociedade e a administração pública e como
limite ao poder dos governantes. Fonte: BCFC, Shutterstock, 2018.
A própria Constituição Federal, em seu Artigo 5º, traz elementos que justificam a existência do
princípio da legalidade: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei” (BRASIL, 1988). Em razão da sua importância para a Administração, o princípio da
legalidade já foi tido como “a regra de ouro” da administração pública, isso porque é a lei que define
o que deve e o que não deve ser feito pela administração pública.
Particularmente, defendemos o ponto de vista de que o princípio da legalidade, por mais importante
que seja, não pode ser alçado a uma condição que o diferencie, para mais ou para menos, dos
demais princípios. Aquilo que seja legal, mas que não seja eficiente, por exemplo, embora seja
justificado por um princípio, contraria outro. Diante disso, me posiciono no sentido de que os
princípios da Administração são igualmente importantes e que devem ser observados pela
administração pública no exercício de suas funções.
Isso não diminui em nada a importância do princípio da legalidade. Pelo contrário, justifica a sua
existência. A lei pauta as ações da administração e de seus agentes e deve ser sempre observada. O
princípio da legalidade, inclusive, serve de elemento de separação entre os conceitos de
administração pública e de administração privada. A administração pública só pode fazer o que a lei
manda ou autorize que se faça. Já a administração privada pode fazer tudo, desde que não seja
vedado por lei. A diferença é sutil, mas fundamental.
Segundo o princípio da legalidade, o administrador não pode fazer o que bem entender na busca do
interesse público, ou seja, tem que agir segundo a lei, só podendo fazer aquilo que a lei
expressamente autoriza e, no silêncio da lei, está proibido de agir. Já o administrado pode fazer tudo
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aquilo que a lei não proíbe e o que está silencia a respeito. Portanto, tem uma maior liberdade do que
o administrador.
Assim, se diz que no campo do direito público a atividade administrativa deve estar baseada numa
relação de subordinação com a lei, ou seja, administrar é a arte de aplicar a lei de ofício, é aplicar a lei
sempre, e no campo do direito privado, a atividade desenvolvida pelos particulares deve estar
baseada na não contradição com a lei.
Por isso, entre outras razões, é que as principais inovações costumam aparecer com maior
frequência no campo da administração privada. Não sendo vedado por lei, é permitido. Para que haja
alguma inovação na administração pública, por mais benéfica que seja, é necessário que ela esteja
prevista em lei ou que seja autorizado por ela. Ao passo que, na administração privada, quando não
é vedado, é permitido, na administração pública, ainda que não seja vedado, se não for autorizado
por lei, é proibido.
Desse modo, o princípio da legalidade aparece simultaneamente como um limite, mas também como
uma garantia, pois ao mesmo tempo em que é um limite à atuação do Poder Público, visto que este
só poderá atuar com base na lei, também é uma garantia aos administrados, ou seja, à sociedade. Só
deveremos cumprir enquanto cidadãos as exigências do Estado se estas estiverem previstas na lei.
Se as exigências não estiverem de acordo com a lei, serão inválidas e, portanto, estarão sujeitas ao
controle do Poder Judiciário.
Mas se há um princípio da legalidade que, por consequência, estabelece que os atos da
administração devem decorrer da lei, qual o conceito que define o que é a lei para fins de
interpretação de um princípio?
Quando o princípio da legalidade menciona a palavra “lei” ele quer referir-se a todos os atos
normativos primários que tenham o mesmo nível de eficácia da lei ordinária. Como exemplos,
podemos citar as medidas provisórias, resoluções, decretos legislativos. Não se refere apenas aos
atos decorrentes de lei, mas também os infralegais, ainda que estes não possam limitar os atos das
pessoas, isto é, não podem restringir a liberdade das pessoas.
A Administração, ao impor unilateralmente obrigações aos administrados por meio de atos
infralegais, deverá fazê-lo dentro dos limites estabelecidos por aquela lei à qual pretendem dar
execução. Segundo o Art. 84, IV da Constituição, “compete privativamente ao Presidente da
República sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos
para sua fiel execução” (BRASIL, 1988). E segundo o Art. 49, V, da Constituição, “cabe ao
Congresso Nacional sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem o poder
regulamentar ou dos limites da delegação legislativa” (BRASIL, 1988). Veremos a seguir como é
abordado o princípio da legalidade em outros ramos do direito.
No Direito Penal (Princípio da estrita legalidade) – também aparece como limite à atuação do Estado
e como garantia dos administrados contra os abusos do direito de punir, visto que uma conduta só
poderá ser considerada como crime e punida, se estiver prevista previamente em lei. Diz o Art. 5,
XXIX: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal” (BRASIL,
1988).
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No Direito Tributário – também se apresenta como limite à atuação do Estado, visto que a União, os
Estado, o Distrito Federal e os Municípios não poderão exigir, nem majorar tributos, senão em
virtude de lei, segundo o Art. 150 (BRASIL, 1988). Há exceções que serão estudadas em direito
tributário.
Figura 3 - Pelo
princípio da impessoalidade, todos são iguais perante a lei, na medida de suas desigualdades.
Fonte: INAMEL, Shutterstock, 2018.
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À exceção dos créditos de natureza alimentar, os pagamentos devidos pela Fazenda Federal, Estadual
ou Municipal, em virtude de sentença judiciária far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de
apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou
pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim (BRASIL, 1988).
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Figura 4 - O
princípio da moralidade explicita a necessidade do agente público mostrar-se verdadeiramente
alinhado com os padrões éticos de comportamento. Fonte: Microba Gtandioza, Shutterstock,
2018.
Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má fé, isento de custas judiciais e
ônus de sucumbência (BRASIL, 1988).
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A principal lei que regulamenta a condução das medidas contra a imoralidade administrativa é a Lei
8.429 de 1992. O seu principal fundamento são os atos de improbidade administrativa. De acordo
com essa lei, em seu Art. 23, I, o prazo prescricional para propositura da ação de improbidade
administrativa é de 5 anos a contar do término do exercício do mandato, cargo em comissão ou
função de confiança (BRASIL, 1992). Ela elenca ainda algumas hipóteses de imoralidade
administrativa, como vemos a seguir.
Figura 5 -
Nenhum agente público está imune à exposição aos desvios de conduta. Resistir a eles é uma
forma de identificar quem é quem. Fonte: Doppelganger 4, Shutterstock, 2018.
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Estas sanções podem ser aplicadas simultaneamente, precedendo de instrumentos que apurem as
irregularidades praticadas pelo servidor, ou seja, de processo administrativo disciplinar ou
sindicância, garantindo o contraditório e a ampla defesa.
A partir de então, a Lei n. 8.429 (BRASIL, 1992) elenca uma série de sanções, em virtude dos
desdobramentos do ato: se gerou enriquecimento ilícito do agente, se causou prejuízo ao erário ou
se atentou contra os princípios da administração.
Na hipótese dos atos de improbidade administrativa que importem em enriquecimento ilícito, em seu
Art. 12, I, da Lei n. 8.429/92 estabelece:
Na hipótese dos atos de improbidade administrativa que causem prejuízo ao erário, em seu Art. 12.
II, a Lei 8.429/92 estabelece:
5. Proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,
pelo prazo de 3 anos (BRASIL, 1992).
CASO
Embora exista a obrigatoriedade de dar publicidade aos atos da administração,
ela não pode servir a fins particulares, como por exemplo, a promoção pessoal
do agente público. Há inúmeros casos em que a publicidade dos atos extrapola
a essa condição e, em especial nos casos relacionados aos candidatos em
disputa eleitoral ou em exercício de mandato, isso é controlado e punido pela
justiça eleitoral, muitas vezes com a perda do cargo.
Casos práticos ocorridos nos últimos tempos reportam a cassação de
mandatos de prefeitos municipais que, sob a alegação de dar publicidade aos
atos da administração, fazem irregularmente a promoção pessoal através da
divulgação de programas e ações implementadas durante a gestão.
Isso porque age em nome e em razão da sociedade. Em virtude disso, tanto é uma obrigação para a
Administração quanto um direito do administrado. A publicidade não se exaure com a simples
publicação de atos de maneira formal, como a que é feita nos veículos oficiais da administração
pública, como o Diário Oficial da União, ou dos Estados e Municípios, por exemplo.
De acordo com a Constituição Federal (Art. 5), “todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado” (BRASIL, 1988).
Ainda segundo a Constituição, em seu Art. 37, “a lei disciplinará as formas de participação do
usuário na Administração direta e indireta, regulando especialmente o acesso dos usuários a
registros administrativos e a informações sobre atos de governo, observado o disposto no Art. 5º, X
e XXXIII” (BRASIL, 1988).
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Figura 6 - O
princípio da publicidade garante o acesso da sociedade a informações sobre a performance das
instituições e auxilia no controle dos resultados. Fonte: Matej Kastelic, Shutterstock, 2018.
No entanto, embora seja a regra, há exceções ao princípio da publicidade. Tendo em vista que
algumas informações deverão permanecer sob sigilo, podemos concluir que o princípio da
publicidade não é absoluto.
Aquelas informações que comprometam o direito à intimidade das pessoas são exemplos disso,
conforme disposto no Art. 5: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”
(BRASIL, 1988).
Também informações de interesse particular ou coletivo quando imprescindíveis para a segurança
da sociedade ou do Estado são sigilosas e, portanto, resguardadas pela Constituição. Isso não
significa, no entanto, que a administração pública possa negar o fornecimento de informações sem a
devida justificativa plausível. Há garantias contra a negativa injustificada de oferecimento por parte
do Poder Público.
Nesse caso podem ser utilizados os chamados “remédios constitucionais”, como é o caso do Habeas
data, cabível quando a informação negada injustificadamente é personalíssima. Há também o
“Mandado de segurança”, aplicável quando a informação negada injustificadamente é de meu
interesse privado ou coletivo ou geral.
Cabe mandado de segurança sempre que esteja em jogo um direito líquido e certo, pois a pessoa
tem direito a obter informações de seu interesse privado ou coletivo e geral. Por exemplo,
informação sobre o número em que está o pagamento de precatório; sobre um parente que
desapareceu; sobre plano de desapropriação em determinado imóvel; sobre transferência de um
preso para outra penitenciária etc.
A negativa de publicidade aos atos oficiais caracteriza improbidade administrativa. Como já vimos
anteriormente, em relação ao princípio da moralidade, a improbidade administrativa atenta contra os
princípios da Administração Pública, conforme estabelece o Art. 11 da Lei 8.429/92 (BRASIL, 1992).
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Há inúmeros outros casos, como o não oferecimento de certidões de atos ou contratos municipais,
dentro do prazo estabelecido em lei, o que gera como consequência a caracterização de crime de
responsabilidade do prefeito (BRASIL, 1967).
A reestruturação da administração pública no Brasil, da forma como hoje é concebida, passa por
diferentes vertentes, mas, sem dúvida, uma de suas maiores influências vem das diretrizes
estabelecidas pelo “Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado” (BRASIL, 1995), desenvolvido
quando Luiz Carlos Bresser Pereira era então Ministro da Administração Federal e Reforma do
Estado. O documento pode ser acessado em: <https://goo.gl/ByWTtW (https://goo.gl/ByWTtW)>.
É relevante lembrar que mesmo antes da inclusão deste princípio na Constituição com a Emenda
Constitucional 19/98 (BRASIL, 1998), a Administração já tinha a obrigação de ser eficiente na
prestação de serviços, por exemplo, com a Lei n. 8.078/90 e a Lei 8.987/95.
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Figura 7 - O
princípio da eficiência valoriza práticas colaborativas, uma vez que os resultados dependem de
um conjunto de esforços coordenados. Fonte: Africa Studio, Shutterstock, 2018.
A União, os Estados, e o Distrito Federal manterão escolas de governo para formação e aperfeiçoamento
dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos cursos como um dos requisitos para a
promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre os entes
federados (BRASIL, 1988).
O Art. 41 estabelece que o servidor nomeado para cargo de provimento efetivo em virtude de
concurso público submete-se a um estágio probatório de 3 anos, em que o administrador irá apurar
a eficiência na prática (BRASIL, 1988). Por exemplo, o administrador verificará a frequência, o
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Importantes textos sobre gestão pública estão disponíveis no site da Escola Nacional de
Administração Pública – ENAP. Ela é uma das principais escolas de governo do país com grande
influência nas inovações na administração pública. Você pode acessar a biblioteca da ENAP em:
<http://biblioteca.enap.gov.br/ (http://biblioteca.enap.gov.br/)>.
Além disso, “como condição à aquisição de estabilidade, o servidor está submetido à avaliação de
desempenho por uma comissão constituída para essa finalidade” (BRASIL, 1988), trata- se de uma
norma de eficácia limitada, pois está na inteira dependência de uma lei que dirá quem vai integrar a
comissão, quais serão os critérios, quais matéria serão avaliadas etc.
Em seu parágrafo III, o Art. 41 diz que “o servidor público estável poderá perder o cargo em razão de
insuficiência de desempenho, mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na
forma da lei complementar, assegurada a ampla defesa e contraditório” (BRASIL, 1988), ou seja,
trata-se de uma norma de eficácia limitada, pois está na inteira dependência da lei.
A Lei Complementar n. 101/00 (BRASIL, 2000) estabeleceu que a União não pode gastar com seu
pessoal mais de 50% do que arrecada. Já os Municípios e os Estados não podem gastar mais de
60% do que arrecadam. Para cumprimento destes limites acima, o Poder Público pode tomar
algumas medidas, segundo o Art. 169 (BRASIL, 1988):
– Redução de pelo menos 20% as despesas com servidores que titularizem cargo em comissão e função
de confiança (§3º, I);
– Exoneração dos servidores não estáveis (§3º, II).
– Se as medidas acima não forem suficientes, dispensarão servidores estáveis, desde que o ato
normativo especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto de redução de
pessoal (§4º).
O Poder Público deve demonstrar porque a escolha recaiu em determinado servidor, tendo em vista
que os critérios não são livres, isto é, que deve considerar o tempo de serviço, a remuneração
percebida o número de dependentes, a idade do servidor e etc. Assim, o servidor público pode
perder o cargo por excesso de quadro ou despesa, quando o Poder Público estiver gastando mais do
que lhe for permitido, sendo assegurado o contraditório e ampla defesa.
De acordo com o Art. 37, parágrafo 8º, I, II e III):
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A Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios disciplinará a aplicação de recursos
orçamentários provenientes da economia com despesas decorrentes de cada órgão, autarquia e
fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de qualidade e produtividade,
treinamento e desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público,
inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade (BRASIL, 1988).
A eficiência é, antes que um princípio constitucional, uma forma de conduta dos agentes públicos.
Exercer suas atividades de maneira eficiente é compreender que não se trata apenas de um
mandamento mas, sobretudo, de uma condição essencial do servidor público.
Síntese
Nesse capítulo vimos os fundamentos e as principais teorias que orientam a administração. Tivemos
a oportunidade de confrontar diferentes pontos de vista dos teóricos que buscavam, a partir de suas
análises, não só compreender mas também identificar oportunidades de evolução nos diferentes
contextos em que as organizações se inserem. Vimos ainda o impacto que as relações existentes
entre as pessoas e as organizações têm no contexto da administração.
Após compreendermos os fundamentos e pensamentos sobre a administração, passamos a analisar
o cenário da administração pública, com especial destaque para os princípios que a orientam. Vimos
que existem princípios expressos que devem ser observados na conduta dos agentes públicos e que
a sua não observância tem implicações graves tanto para as organizações quanto para os agentes.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
conhecer as principais teorias que regem a Administração;
identificar o impacto dessas teorias no cotidiano das organizações;
verificar os fundamentos da gestão pública;
conhecer os princípios que regem a administração pública;
compreender as consequências do não atendimento aos princípios constitucionais;
aprender sobre a conduta esperada para os agentes públicos.
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12/02/2021 Teorias da Administração e Fundamentos da Gestão Pública
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