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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MESTRADO PROFISSIONAL


EM EDUCAÇÃO FÍSICA (EM REDE)

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO


SUBSECRETARIA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DOS
PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO

PLANEJAMENTO OFICINA PEDAGÓGICA

Professor: Beatriz, Elizuíta, Marcella, Osvaldo e Patrícia.


Disciplina: Educação Física
Turma: 7ºAno - Anos Finais - Ensino Fundamental

Tema da aula: Capoeira como símbolo de resistência e luta contra o racismo.


Sub-Tema: Capoeira como meio de subsistência de negros excluídos da sociedade.
Conteúdo: Capoeira.
Elemento articulador ou Tema Transversal: Luta contra o racismo.
Objetivo Geral: Conhecer e vivenciar a capoeira a partir de elementos que a compõem
visando a compreensão de valores anti-racistas de forma crítica.
Objetivo Específico:
- Conhecer a história da capoeira;
- Experimentar movimentos da capoeira, como a ginga;
- Identificar as formas de produção de racismo, reconhecendo as práticas racistas e
combatendo os atos discriminatórios.

JUSTIFICATIVA E CONTEXTUALIZAÇÃO
A capoeira foi criada na cultura corporal brasileira e a caracterizamos como símbolo de
resistência e luta contra o racismo. Segundo Neira (2019) práticas como a capoeira, o rap, o
skate, o hip hop, o carrinho de rolimã, o baralho, o maculelê, entre outras , devem receber a
mesma atenção que as consideradas hegemônicas, tendo em vista a realização de uma ação
educativa atenta à formação de identidades democráticas.
Nesse sentido, Macedo, Oliveira e Peçanha (2019) afirmam que o racismo no Brasil é
estrutural e estruturante das relações sociais e, em função disso, nem mesmo por parte
daqueles que discordam do racismo existe qualquer ação suficiente para combatê-lo. Isso
expressa que a sociedade naturalizou toda a violência anunciada contra os negros. Pensar o
racismo no Brasil é pensar na própria estrutura social, na respectiva constituição dos
campos e das regras de funcionamento.
Após a abolição da escravidão, os ex-escravizados foram colocados em postos mais baixos
da estratificação social, levando a um desequilíbrio econômico e social, concentrando a
população negra na base da sociedade. Os conflitos gerados pelo quadro sócio histórico e
econômico são fatores que apontam desigualdades sociais e superar esses desafios é um desafio
que se impõe em todos os âmbitos das práticas sociais, para as quais se deve ter como objetivo a
promoção do desenvolvimento, de forma a resgatar a capacidade dos sujeitos de projetarem um
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novo horizonte, como espaço de convivência social que supere as atuais condições sub-humanas
de existência e sobrevivência (MACEDO; OLIVEIRA; PEÇANHA, 2019).
Diante desse contexto e no intuito de contribuir para superação da desigualdade social
imposta aos negros, trazemos a capoeira como temática motivadora para fomentar a construção
de um pensamento crítico-superador por nosso estudante.
A capoeira compõe o quadro de objetivos para a Educação Física do 7º ano do Ensino
Fundamental descrito no Currículo em Movimento como “Compreender as características e
fundamentos da capoeira relacionando com a história e cultura do Brasil”(DISTRITO
FEDERAL, 2018, p.121).
O destaque dado à capoeira no Currículo em Movimento do DF ratifica nossa escolha
como tema desta aula, relacionando-a com a construção histórica brasileira da desigualdade
social e do racismo. Tratando-se não apenas da assimilação do conteúdo mas também do
processo do mesmo e suas possíveis transformações.
A proposição da capoeira como conteúdo a ser abordado se justifica no próprio Currículo
em Movimento pela pretensão de que o professor “deve buscar equilíbrio entre objetivos e
conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais” visando o desejado desenvolvimento
integral do estudante (DISTRITO FEDERAL, 2018, p.73). Sob essa perspectiva, a dinâmica do
currículo da Educação Física deve prover a possibilidade de que a aprendizagem a ser
proporcionada se associe à também desejada apreensão crítica dessa prática social, ainda que,
pela sua dinâmica, apresente formas variadas. Importante, portanto, compreender também a
aprendizagem e prática da capoeira sob a perspectiva de problematizar os preconceitos e
estereótipos associados às lutas como forma de superá-los.
Expresso na habilidade EF67EF17 da BNCC em que essa problematização não se esgota
em si, mas pretende propor alternativas para a superação desses estereótipos e preconceitos “com
base na solidariedade, na justiça, na equidade e no respeito” (BRASIL, 2018, p.235).
Neste sentido, pode-se utilizar a pedagogia histórico-crítica que oferece aos professores
condições de uma prática pedagógica de caráter contra-hegemônico sendo uma alternativa
teórica e metodológica.
“Entendemos que a Pedagogia Histórico-Crítica possui elementos
críticos e transformadores, desde suas perspectivas filosóficas,
psicológicas e pedagógicas até a materialização dos seus cinco
momentos didáticos. Por ser uma Pedagogia que busca compreender a
história, a partir do desenvolvimento material, da determinação das
condições materiais da existência humana, que enfatiza o diálogo
com a cultura acumulada historicamente, há uma possibilidade
instigante de pensar a aplicabilidade do método na práxis da
Capoeira, seja em ambientes formais ou não formais, por Mestres e
Mestras de Capoeira, professoras e professores de Capoeira ou de
Educação Física, enfim para todos aqueles que desejam ensinar Capoeira
de forma complexa em conjunto com sua totalidade.” (ALENCAR
FILHO; DO SOCORRO RODRIGUES, 2019).
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A aula deve se distanciar do ensino da capoeira que busca apenas contar sua história
superficialmente e propiciar vivências práticas simplórias, pois além do movimento puro e
simples há história e questões sociais da capoeira que devem ser aprofundadas, discutidas e
rediscutidas em todos os níveis para que realmente possa-se sensibilizar um aluno crítico que irá
contribuir com a sociedade em que vive e mudá-la.

METODOLOGIA (AULA REMOTA SÍNCRONA)


Duração: 1 hora
Metodologia:
1) Prática social inicial
Conversa informal
- Música de Capoeira - Colocar uma música e pedir para os alunos dançarem como quiserem.
Observar na dança o conhecimento inicial sobre a capoeira.
https://www.youtube.com/watch?v=jl4bZnmtCcs
- Questionamentos - Vocês conhecem essa música? Faz referência ao quê? O que é capoeira?

2) Problematização:
- Apresentar a “ginga” da capoeira através de vídeos ou imagens.

https://www.youtube.com/watch?v=ymNG2pba19E
- Prática da capoeira usando uma sacola plástica - Os alunos não podem parar de se movimentar e
nem deixar cair a sacola cair no chão enquanto dançam a música e tentam realizar a ginga
(usando só membro superior, usando só membro inferior, diversos planos - alto, médio e baixo, e
realizando alguns movimentos como agachar, pular, etc).
- Vamos aprofundar?? Vídeo da história da capoeira e vídeo do jogo de apanhar o lenço no chão -
Começando a entendê-la como símbolo de luta e resistência negra.
https://www.youtube.com/watch?v=Glnb76LhHU0&t=189s
https://www.youtube.com/watch?v=zwjTwcE22c0&t=275s
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Apanha a laranja no chão

Apanha a laranja no chão Tico-tico


Apanha com a mão ou com pé ou com bico
Coro : Apanha a laranja no chão Tico-tico
Se meu amor vai se embora eu não fico
Meu amor foi embora eu não fico

3) Instrumentalização:
- Debate: Qual a relação da capoeira com a escravidão? A capoeira surgiu por que? Como a
capoeira foi utilizada após a escravidão? Qual função os negros tinham após a escravidão? Como
os negros se sustentavam após a escravidão?
- Vídeo das crianças sobre o racismo para deixar de reflexão:
https://www.youtube.com/watch?v=qmYucZKoxQA
-Analisem o vídeo e escrevam nos comentários algo que lhe impressionou..

4) Catarse:
- "Jogo dos 7 erros" - Colocamos duas imagens uma de 1888 e uma atual de negros se
apresentando para sobreviver e lançar a reflexão - "o que mudou entre as duas imagens?"
“Ainda existe racismo no Brasil?”, “Qual espaço o negro tem na sociedade?”.
( caso necessário consulta ao dicionário)
5) Prática social final:
- Coreografia conjunta de capoeira.

Material:
- Computador para reunião online e para reprodução de mídias;
- Sacola plástica ou outro material que o aluno tenha em casa que possa adaptar.
-Boneco
Avaliação:
Observação da participação dos alunos durante a aula e os comentários durante os debates.
Recurso online denominado “Nuvem de palavras” com o questionamento: “Onde você encontra o
racismo na vida?”
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Referências da Unidade:

ALENCAR FILHO, Antonio; DO SOCORRO RODRIGUES, Doriedson. A pedagogia


histórico-crítica e a questão do método na práxis da capoeira. Revista Espaço Acadêmico, v. 18, n.
212, p. 78-91, 2019.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

NEIRA, Garcia Marcos. Educação física cultural: inspiração e prática pedagógica. 2. ed. São
Paulo : Paco, 2019.

MACEDO, Y. M.; OLIVEIRA, E. D.; PEÇANHA, C.F. A capoeira como referencial


metodológico para enfrentamento do racismo. Revista da ABPN - v. 11, Ed. Especial - Caderno
Temático: Cultura popular em cena: artes afro diaspóricas julho de 2019, p. 202-214.

DISTRITO FEDERAL. Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Currículo em


Movimento do Distrito Federal: Ensino Fundamental, Anos Iniciais – Anos Finais. 2. ed. Brasília,
2018. Disponível em :
https://www.educacao.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2018/02/Curri%CC%81culo-em-Movimento-
Ens-fundamental_19dez18.pdf. Acesso em: 23 nov. 2021.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO (Reflexões para além da unidade com novas referências)


Acreditamos que a capoeira seja um tema para ampla discussão, podendo ser trabalhada sobre
diferentes abordagens, como, por exemplo a influência dos floreios de capoeira nos movimentos do
frevo, a discrimação religiosa que recrimina a prática da capoeira, ritmo e musicalidade da capoeira,
histórias cantadas com as músicas de capoeira, etc.
Dessa forma, a partir da identificação da prática social iniciada nesta unidade, o professor de
Educação Física poderá definir uma abordagem que mais se encaixa na necessidade dos estudantes,
na intenção de instrumentalizá-lo para a criticidade e para construção de novas práticas sociais.
Essa versatilidade de abordagem igualmente ocorre com a discrimação que não é só racial,
mas também regional, social, cultural, etc. E também poderá ser direcionada de acordo com o que os
alunos irão trazer como conhecimento inicial.
Dentro da discrimação racial, ainda é possível destrinchar o racismo ainda mais, conceituando
o racismo estrutural, o racismo institucional, racismo individual, racismo no esporte, na cultura, etc;
avançando na instrumentalização dos estudantes.
No receio dessas aulas servirem de gatilho para expressão de alguma discrimanação vivenciada,
inclusive na escola, sugerimos que esta unidade seja tratada como trabalho pedagógico da escola e
não só da Educação Física, para envolver a atuação da psicóloga escolar, psicopedagoga e
professores regentes.
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https://www.youtube.com/watch?v=pEsLRcR7zFA (Racismo estrutural)


https://www.youtube.com/watch?v=WSMfKRpacRQ (Racismo no esporte)
https://www.instagram.com/p/COLEDx0Azfo/?igshid=1x1dae5z8f1xa (Desafio de Capoeira Solo 🤸)
TOMAZ, Adriane Silva et al. Pedagogia histórico-crítica e educação física no ensino fundamental:
um trabalho educativo com a capoeira. Nuances: estudos sobre Educação, v. 27, n. 1, p. 87-107,
2016.

FALHA NOSSA! CONTRADIÇÕES! PROBLEMAS


Durante a execução da aula, foi nos orientado explicitar os objetivos da unidade aos alunos.
Expor os objetivos, mesmo que ao final da aula, também serve de avaliação para verificar se foram
atingidos.
Também foi mencionado a necessidade de uma preparação prévia dos professores para
atividades de sensibilização que podem provocar gatilhos emocionais nos estudantes. Diante disso,
nós sugerimos que essa unidade de ensino possa ser desenvolvida com o apoio de todo corpo escolar,
inclusive a(o) psicóloga(o), todos preparados para acolher os alunos.

SALTOS DE QUALIDADE NA FORMAÇÃO CONTINUADA - DAS POSSIBILIDADES E


DESAFIOS / REFLEXÕES ACERCA DA PRÓPRIA PRÁTICA PEDAGÓGICA
Os pontos positivos da prática de nossa oficina pedagógica foram a utilização de atividades que
possibilitaram o movimento dos alunos, a utilização de vídeos para sensibilização e as imagens que
permitiram melhor visualização da comparação feita entre o uso da capoeira como símbolo de luta e
resistência no tempo da escravidão e nos tempos atuais.

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