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JUSTIFICATIVA E CONTEXTUALIZAÇÃO
A capoeira foi criada na cultura corporal brasileira e a caracterizamos como símbolo de
resistência e luta contra o racismo. Segundo Neira (2019) práticas como a capoeira, o rap, o
skate, o hip hop, o carrinho de rolimã, o baralho, o maculelê, entre outras , devem receber a
mesma atenção que as consideradas hegemônicas, tendo em vista a realização de uma ação
educativa atenta à formação de identidades democráticas.
Nesse sentido, Macedo, Oliveira e Peçanha (2019) afirmam que o racismo no Brasil é
estrutural e estruturante das relações sociais e, em função disso, nem mesmo por parte
daqueles que discordam do racismo existe qualquer ação suficiente para combatê-lo. Isso
expressa que a sociedade naturalizou toda a violência anunciada contra os negros. Pensar o
racismo no Brasil é pensar na própria estrutura social, na respectiva constituição dos
campos e das regras de funcionamento.
Após a abolição da escravidão, os ex-escravizados foram colocados em postos mais baixos
da estratificação social, levando a um desequilíbrio econômico e social, concentrando a
população negra na base da sociedade. Os conflitos gerados pelo quadro sócio histórico e
econômico são fatores que apontam desigualdades sociais e superar esses desafios é um desafio
que se impõe em todos os âmbitos das práticas sociais, para as quais se deve ter como objetivo a
promoção do desenvolvimento, de forma a resgatar a capacidade dos sujeitos de projetarem um
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novo horizonte, como espaço de convivência social que supere as atuais condições sub-humanas
de existência e sobrevivência (MACEDO; OLIVEIRA; PEÇANHA, 2019).
Diante desse contexto e no intuito de contribuir para superação da desigualdade social
imposta aos negros, trazemos a capoeira como temática motivadora para fomentar a construção
de um pensamento crítico-superador por nosso estudante.
A capoeira compõe o quadro de objetivos para a Educação Física do 7º ano do Ensino
Fundamental descrito no Currículo em Movimento como “Compreender as características e
fundamentos da capoeira relacionando com a história e cultura do Brasil”(DISTRITO
FEDERAL, 2018, p.121).
O destaque dado à capoeira no Currículo em Movimento do DF ratifica nossa escolha
como tema desta aula, relacionando-a com a construção histórica brasileira da desigualdade
social e do racismo. Tratando-se não apenas da assimilação do conteúdo mas também do
processo do mesmo e suas possíveis transformações.
A proposição da capoeira como conteúdo a ser abordado se justifica no próprio Currículo
em Movimento pela pretensão de que o professor “deve buscar equilíbrio entre objetivos e
conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais” visando o desejado desenvolvimento
integral do estudante (DISTRITO FEDERAL, 2018, p.73). Sob essa perspectiva, a dinâmica do
currículo da Educação Física deve prover a possibilidade de que a aprendizagem a ser
proporcionada se associe à também desejada apreensão crítica dessa prática social, ainda que,
pela sua dinâmica, apresente formas variadas. Importante, portanto, compreender também a
aprendizagem e prática da capoeira sob a perspectiva de problematizar os preconceitos e
estereótipos associados às lutas como forma de superá-los.
Expresso na habilidade EF67EF17 da BNCC em que essa problematização não se esgota
em si, mas pretende propor alternativas para a superação desses estereótipos e preconceitos “com
base na solidariedade, na justiça, na equidade e no respeito” (BRASIL, 2018, p.235).
Neste sentido, pode-se utilizar a pedagogia histórico-crítica que oferece aos professores
condições de uma prática pedagógica de caráter contra-hegemônico sendo uma alternativa
teórica e metodológica.
“Entendemos que a Pedagogia Histórico-Crítica possui elementos
críticos e transformadores, desde suas perspectivas filosóficas,
psicológicas e pedagógicas até a materialização dos seus cinco
momentos didáticos. Por ser uma Pedagogia que busca compreender a
história, a partir do desenvolvimento material, da determinação das
condições materiais da existência humana, que enfatiza o diálogo
com a cultura acumulada historicamente, há uma possibilidade
instigante de pensar a aplicabilidade do método na práxis da
Capoeira, seja em ambientes formais ou não formais, por Mestres e
Mestras de Capoeira, professoras e professores de Capoeira ou de
Educação Física, enfim para todos aqueles que desejam ensinar Capoeira
de forma complexa em conjunto com sua totalidade.” (ALENCAR
FILHO; DO SOCORRO RODRIGUES, 2019).
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A aula deve se distanciar do ensino da capoeira que busca apenas contar sua história
superficialmente e propiciar vivências práticas simplórias, pois além do movimento puro e
simples há história e questões sociais da capoeira que devem ser aprofundadas, discutidas e
rediscutidas em todos os níveis para que realmente possa-se sensibilizar um aluno crítico que irá
contribuir com a sociedade em que vive e mudá-la.
2) Problematização:
- Apresentar a “ginga” da capoeira através de vídeos ou imagens.
https://www.youtube.com/watch?v=ymNG2pba19E
- Prática da capoeira usando uma sacola plástica - Os alunos não podem parar de se movimentar e
nem deixar cair a sacola cair no chão enquanto dançam a música e tentam realizar a ginga
(usando só membro superior, usando só membro inferior, diversos planos - alto, médio e baixo, e
realizando alguns movimentos como agachar, pular, etc).
- Vamos aprofundar?? Vídeo da história da capoeira e vídeo do jogo de apanhar o lenço no chão -
Começando a entendê-la como símbolo de luta e resistência negra.
https://www.youtube.com/watch?v=Glnb76LhHU0&t=189s
https://www.youtube.com/watch?v=zwjTwcE22c0&t=275s
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3) Instrumentalização:
- Debate: Qual a relação da capoeira com a escravidão? A capoeira surgiu por que? Como a
capoeira foi utilizada após a escravidão? Qual função os negros tinham após a escravidão? Como
os negros se sustentavam após a escravidão?
- Vídeo das crianças sobre o racismo para deixar de reflexão:
https://www.youtube.com/watch?v=qmYucZKoxQA
-Analisem o vídeo e escrevam nos comentários algo que lhe impressionou..
4) Catarse:
- "Jogo dos 7 erros" - Colocamos duas imagens uma de 1888 e uma atual de negros se
apresentando para sobreviver e lançar a reflexão - "o que mudou entre as duas imagens?"
“Ainda existe racismo no Brasil?”, “Qual espaço o negro tem na sociedade?”.
( caso necessário consulta ao dicionário)
5) Prática social final:
- Coreografia conjunta de capoeira.
Material:
- Computador para reunião online e para reprodução de mídias;
- Sacola plástica ou outro material que o aluno tenha em casa que possa adaptar.
-Boneco
Avaliação:
Observação da participação dos alunos durante a aula e os comentários durante os debates.
Recurso online denominado “Nuvem de palavras” com o questionamento: “Onde você encontra o
racismo na vida?”
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Referências da Unidade:
NEIRA, Garcia Marcos. Educação física cultural: inspiração e prática pedagógica. 2. ed. São
Paulo : Paco, 2019.