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FILOSOFIA DO DIREITO
NO PENSAMENTO MODERNO
Livro Eletrônico
FILOSOFIA DO DIREITO
Filosofia do Direito no Pensamento Moderno
Odair José
Sumário
Filosofia do Direito no Pensamento Moderno.................................................................................................3
1. Noções Iniciais...............................................................................................................................................................3
2. Teorias Contratualistas...........................................................................................................................................3
2.1. Absolutismo Estatal – Thomas Hobbes (1588-1679).........................................................................5
2.2. Liberalismo Político – John Locke (1632-1704)...................................................................................13
2.3. O Espírito das Leis e a Divisão de Poderes – Montesquieu (1689-1755).............................19
2.4. Liberdade Democrática – Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)............................................... 24
3. Ética e Direito no Pensamento de Immanuel Kant (1724-1804)....................................................30
4. Considerações Finais.. ............................................................................................................................................39
Resumo.................................................................................................................................................................................41
Questões Comentadas em Aula.. ...........................................................................................................................42
Questões de Concurso................................................................................................................................................49
Gabarito...............................................................................................................................................................................54
Gabarito Comentado....................................................................................................................................................55
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FILOSOFIA DO DIREITO
Filosofia do Direito no Pensamento Moderno
Odair José
2. Teorias Contratualistas
As teorias contratualistas se referem a um conjunto de ideias lançadas por filósofos diver-
sos e que estabelecem uma concepção segundo a qual o surgimento do Estado e, de certo
modo, da própria sociedade, teria se dado por um pacto celebrado entre os indivíduos.
O detalhe da teoria contratualista está na noção de que sem a existência do Estado, os indiví-
duos estariam lançados à sua própria sorte e, nesse sentido, dependentes exclusivamente de suas
forças. Essa condição é o que a teoria denominou de estado de natureza, mas essa concepção tem
caráter meramente heurístico, ou seja, serve para uma melhor investigação dos fatos.
Vou te explicar melhor, não se assuste com palavras estranhas! O objetivo principal da teo-
ria contratualista é responder à questão: por que precisamos do Estado? Isso mesmo, essa é a
pergunta chave e é com ela que você tem que se preocupar se quiser entender a teoria.
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FILOSOFIA DO DIREITO
Filosofia do Direito no Pensamento Moderno
Odair José
Então, quando os contratualistas falam em estado de natureza, querem, no fim das contas
que você consiga visualizar o que seria da sociedade sem a existência do Estado, ou sem a
existência de uma ordem política equiparada ao Estado. Já deu para perceber que os contra-
tualistas não são anarquistas e não é somente por uma questão temporal, é porque todos eles
irão defender que o Estado tem papel imprescindível à ordem social.
E o que o estado de natureza tem a ver com isso? Trata-se do tal recurso heurístico, ou seja,
recorre-se a essa categoria para que você consiga visualizar uma situação hipotética, a partir
dessa visualização conseguirá perceber que o fato de o Estado político ser dotado de poder
soberano é importante para a tal ordem social.
O resultado de uma sociedade sem o Estado político seria o caos, para Hobbes; ou a pro-
priedade estaria em risco, diria Locke; até mesmo para se exercer a liberdade o Estado se faz
necessário, diriam Rousseau, Kant, Montesquieu e muitos outros.
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FILOSOFIA DO DIREITO
Filosofia do Direito no Pensamento Moderno
Odair José
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Filosofia do Direito no Pensamento Moderno
Odair José
A famosa frase de Hobbes, o homem é o lobo do homem, resume o que Hobbes pensa
acerca da natureza humana, ela é dotada do conteúdo causador da discórdia. Os homens, e as
mulheres também, competem entre si e esse impulso competitivo é natural.
Certamente você ficará muito feliz ao conquistar sua aprovação no exame da ordem, mas pro-
vavelmente ficará mais feliz ainda se sua nota for elevada e, de preferência, mais elevada do que a
daquele coleguinha... Pensou em alguém? Acredito que sim, trata-se do desejo de obter mais lucro,
e lucro aqui não tem sentindo monetário, mas sim o sentido de se obter maior vantagem.
No exame da ordem você não compete com ninguém além da banca, mas isso não poderia
se chamar de competição porque não há uma vaga para advogado reservada à FGV em caso
de desaprovação dos candidatos. Então, é você consigo mesmo, não há competição.
Hobbes diria que não é bem assim, porque mesmo nessas condições haveria internamente
a vontade de superar o outro. Você não precisa concordar com Hobbes, mas tente observar
outras situações e notará o quanto o ser humano é competitivo, a cultura pode estabelecer
maior controle sobre isso, ou pode incentivar a concorrência. Mas em qualquer dos casos, para
Hobbes, a origem dessa competividade está na natureza humana.
E há algum problema em ser competitivo? Para Hobbes, se não houver controle, ou seja, sem a
presença do Estado para estabelecer as regras, essa competitividade pode sim levar a uma situa-
ção de conflito. Em palavras mais simples, você, eu, todos nós precisamos do Estado para manter
o controle sobre o instinto competitivo, para que a competividade ocorra em condições reguladas.
E quando não estamos competindo? Estamos desconfiados dos outros, o que os outros
estão fazendo que possa colocar nossa segurança em risco? Esse raciocínio, segundo Hobbes,
seria comum numa condição de natureza, o que poderia levar um indivíduo a atacar o outro
pela simples sensação de insegurança. O conflito se mostraria aqui em estado latente, porque
se não estamos de fato competindo, estamos em estado de desconfiança sobre prováveis
ações que o outro eventualmente esteja manejando para nos atacar.
Precisamos do Estado para nos dá segurança, para evitar que a desconfiança nos leve a
atacar injustificadamente uns aos outros. Essa desconfiança está na natureza, carece de con-
trole. E se você se atentar um pouco, perceberá que a situação atual de violência e insegurança
nos grandes centros urbanos têm levado, não raro, pessoas a atacarem outras com receio de
que sua segurança esteja em risco.
É obvio que a insegurança não se resume tão somente ao ataque, pode também nos levar a bus-
car caminhos diferentes. Às vezes, retornando da faculdade a noite, preferimos uma rua mais bem
movimentada e com boa iluminação do que aquelas com pouco movimento e escuras.
E por que fazemos isso? Hobbes diria, desconfiança, temos receio de sermos atacados por
outros, temos receio de que nossa segurança seja ameaçada, logo usamos desses meios para
tentar nos livrar de ameaças potenciais.
E se não estamos competindo, não estamos desconfiados, então podemos ter paz no es-
tado de natureza e o Estado político não seria necessário, certo? Não! De modo algum, porque
ainda há outro impulso que nos leva ao conflito quando da ausência de controle externo, é a
busca pela glória.
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FILOSOFIA DO DIREITO
Filosofia do Direito no Pensamento Moderno
Odair José
A glória visa a honra, entre os animais há os próprios atributos naturais que são necessá-
rios para a disputa que travam entre si, por exemplo, entre os alces ter um chifre grande pode
ser importante para se conquistar uma fêmea (o reino animal tem cada loucura!).
Entre nós seres humanos são outros atributos, normalmente socioculturais ou econômicos,
embora atributos físicos possam nos ajudar em algumas circunstâncias. Mas como já estamos
totalmente inseridos na sociedade civil, é difícil identificar o que ainda há de natural em nós, porque
alteramos tudo, nem mesmo o nosso cheiro é natural. Assim, os atributos que usamos para nos
destacar dos demais são resultantes de intervenções sobre os nossos próprios corpos.
Vou explorar um exemplo para te ajudar melhor no entendimento do tema.
EXEMPLO
Lembra das suas aulas da faculdade, daquele coleguinha ou coleguinha que sempre tirava
notas altas? Você se sentia feliz quando o superava, não é verdade?! Ops, você é esse(a) cole-
guinha, por isso está aqui estudando para mais uma vez alcançar a vitória de uma nota excep-
cional e ser aprovado(a). Excelente!
Então, a aprovação é a glória que você busca neste momento, isso porque, mesmo estando
em sociedade e sob a égide do Estado, ainda assim continuamos a competir, continuamos a
desconfiar e continuamos a buscar a glória. Por que esses impulsos não são cessados em
estado civil? Simples, porque eles fazem parte da natureza e ela não desaparece simplesmen-
te porque agora estamos sob a ordem estatal.
Como os impulsos naturais não podem ser eliminados, eles carecem ser controlados. O
Estado é o responsável por isso, porque sem esse controle, o estado de natureza levaria os
indivíduos a atacar uns aos outros, levaria ao que Hobbes chamou de guerra de todos contra
todos, é nisso que se resumiria o estado de natureza.
Guerra de todos contra é expressão usada por Hobbes para caracterizar o estado de natureza,
seria uma situação caótica, na qual todos poderiam se atacar mutuamente a fim de tentar ga-
rantir a própria segurança.
O homem é o lobo do outro homem e o lobo dele próprio, porque quando ataca em razão
da competição, da desconfiança ou da busca pela glória, este homem estará colocando a vida
do outro em risco e a vida dele próprio também. Logo, o Estado civil se faz necessário para
controlar essa agitação.
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Odair José
002. (GRANOAB/3º SIMULADO DO EXAME XXXII/2021) “A natureza fez os homens tão iguais,
quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem
manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim,
quando se considera tudo isso em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é sufi-
cientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer bene-
fício a que o outro não possa também aspirar, tal como ele”.
HOBBES, Thomas. O Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
a) Errada. No estado de natureza todos são iguais e a ideia de uma “lei do mais forte” já impli-
caria domínio de um homem sobre outros homens, por isso não seria mais estado de natureza.
b) Errada. Mesmo argumento da a), o domínio dos mais sábios implicaria saída do estado de
natureza também, porque seria o domínico de um homem sobre outros homens.
c) Certa. No estado de natureza hobbesiano não há paz, porque todos são iguais e dispõem
da liberdade para fazer tudo o que seu corpo e o seu espírito se dispuserem. Essas liberdades
diversas se colidem e gera o conflito generalizado.
d) Errada. Porque afirma que haveria ausência de lei natural no estado de natureza, isso não
faz sentido, no estado de natureza tem-se exatamente a lei natural impulsionando a conduta.
Letra c.
O que você precisa ter em mente é que esse conceito de estado de natureza não significa
uma situação fática ou histórica, possivelmente não tenhamos vivido efetivamente nessas
condições. Então, por que se utilizar desse conceito? O objetivo de Hobbes é o de mostrar
como seria a realidade sem a existência do Estado, para ele, o Estado é o responsável por es-
tabelecer a ordem, por tornar a vida possível.
Mas como os homens sairiam desse estado de natureza? Através do pacto social, ou seja,
um contrato firmado entre os indivíduos para estabelecer a ordem política e garantir a paz.
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E agora eu preciso que você se atente aos detalhes fundamentais da ideia de pacto social. Para
que haja pacto ou contrato, é necessário que as partes estejam em condições de liberdade e de
igualdade. Essas duas exigências são fundamentais para se definir a legitimidade do pacto.
Você conhece a expressão “contrato é expressão de vontades”? Então, quando aqui eu me
refiro a pacto ou contrato, estou me referindo a expressão de vontade manifestadas pelas par-
tes que estão celebrando o pacto entre si. E não faz sentido a expressão de vontade quando se
está sob o domínio de outrem, ou quando se está em condição de desigualdade que desequi-
libre as forças na celebração da vontade.
A vontade só é vontade quando manifesta livremente, é por isso também que você nunca
irá falar em “lei do mais forte” quando estiver se referindo ao estado de natureza. Neste estado,
prevalece, segundo Hobbes, uma condição de igualdade e de liberdade. Essa noção é funda-
mental para que se justifique a legitimidade do Estado soberano.
Agora podemos fechar o ciclo do raciocínio hobbesiano, acompanhe comigo. Numa even-
tual inexistência do Estado político, os homens viveriam em condições de igualdade e de liber-
dade, mas sem ordem, estariam sujeitos unicamente às suas forças.
Como cada indivíduo seria dotado de liberdade para fazer o que suas forças e vontades
permitiriam, os conflitos seriam uma realidade, sejam eles em condições reais resultantes da
competição, ou latentes em razão da desconfiança.
Mesmo no estado de natureza, os homens são dotados de razão, essa capacidade levaria
os indivíduos a perceberem que não seria possível permanecer naquelas condições. É a partir
dessa percepção que serão levados a realizar um pacto entre si.
003. (FGV/OAB/EXAME XXXIV/2022) Mas tal como os homens, tendo em vista conseguir a paz,
e através disso sua própria conservação, criaram um homem artificial, ao qual chamamos Estado,
assim também criaram cadeias artificiais, chamadas leis civis, as quais eles mesmos, mediante
pactos mútuos, prenderam numa das pontas à boca daquele homem ou assembleia a quem confia-
ram o poder soberano, e na outra ponta a seus próprios ouvidos. (Thomas Hobbes).
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Filosofia do Direito no Pensamento Moderno
Odair José
Em seu livro Leviatã, Hobbes fala de um direito natural à liberdade de preservar sua própria
vida. Porém, ele fala, também, da liberdade resultante do Pacto que institui o Estado Civil, isto
é, da liberdade dos súditos.
Assinale a opção que expressa essa ideia de liberdade dos súditos, segundo Hobbes no
livro em referência.
a) Agir conforme os princípios do direito internacional, das tradições e dos costumes que são
amplamente conhecidos pelos governos e pelos povos.
b) Ser livre para instaurar uma assembleia soberana que decida acerca das condutas que se-
rão permitidas, proibidas e obrigatórias no âmbito do Estado Civil.
c) O poder do mais forte de decidir sobre os mais fracos, tal qual fazem os Estados soberanos
após batalharem entre si e algum deles vencer a guerra.
d) A liberdade de fazer as coisas conforme elas foram reguladas pelo poder soberano, tais
como comprar, vender e realizar outros contratos mútuos.
a) Errada. Não se trata de liberdade condicionada por princípios do direito internacional, mas
da liberdade interna dos estados e condicionadas por suas próprias leis.
b) Errada. A assembleia é pensada sim por Hobbes, mas apenas no momento da celebração
do pacto, é a assembleia quem irá eleger o soberano (governante), depois que o governo foi
instalado, as liberdades agora passam a ser definidas por ele, a assembleia não terá mais ra-
zão para existir.
c) Errada. Porque insiste na noção de “lei do mais forte”, no contratualismo não há que se falar
em “lei do mais forte”, porque isso implicaria num poder ilegítimo e o que os contratualistas de-
sejam, em todas as vertentes, é a defesa de um Estado e de um Governo que sejam legítimos.
d) Certa. A liberdade consiste, segundo Hobbes, em fazer o que é permitido pelo soberano.
Letra d.
Mas em que consiste o pacto? Numa renúncia, a renúncia da liberdade. Aqui é o ponto crí-
tico da teoria hobbesiana, porque para que o homem tenha paz, é necessário que ele renuncie
a sua liberdade natural.
E como isso ocorreria? Vamos lá, vem aqui comigo, temos o direito natural a liberdade e
somos obrigados naturalmente a buscarmos os meios necessários à nossa sobrevivência,
nisso se resume o jusnaturalismo hobbesiano.
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Filosofia do Direito no Pensamento Moderno
Odair José
EXEMPLO
Pense o seguinte, se alguém te atacar, naturalmente você tentará se defender, essa autodefesa
não é um ato de vontade, mas uma resposta natural.
EXEMPLO
Peguemos o mesmo exemplo anterior, uma pessoa sendo atacada. Se a autodefesa não é uma
escolha, mas uma resposta natural, os meios usados para essa autodefesa o são. Ou seja, vou
usar os meios disponíveis e entre esses meios aqueles que eu aprouver como válido e neces-
sário à minha defesa.
No Jusnaturalismo hobbesiano, lei tem o sentido de obrigação, uma determinação que se im-
põe pela própria natureza; o direito é tido como liberdade, uma disposição natural para usar
dos meios disponíveis como o próprio indivíduo assim aprouver.
O que Hobbes entende é que essa liberdade, quando não submetida a controle algum,
coloca os seres humanos em risco, porque poderão usar qualquer meio sem qualquer freio.
Não raro, o homem poderá usar de meios violentos e desproporcionais, o que poderia levar a
uma situação caótica na medida em que todos os seus semelhantes teriam também a mesma
liberdade de usar os meios que bem entendessem para sua autodefesa.
O que fazer para se evitar esse caos? O pacto social. Cada indivíduo deve renunciar sua
própria liberdade em favor do soberano, leia-se Estado, e repassar a ele a responsabilidade de
cuidar da segurança a fim de que a vida seja efetivamente possível.
O interessante é que, na visão hobbesiana, é a própria natureza que leva o indivíduo a cons-
tituir o Estado soberano, porque há duas leis naturais que o impulsionariam para esse fim:
• 1ª Lei Natural: procurar a paz e segui-la;
• 2ª Lei Natural: que cada indivíduo renuncie a sua liberdade em favor da constituição de
um poder capaz de impor ordem.
No fim das contas, Hobbes não vê alternativa para a humanidade que não seja a constitui-
ção de um poder soberano que se imponha a todos. E você deve estar se perguntando, mas
tenho que renunciar a minha liberdade? Sim, para Hobbes não há alternativa.
Você pode até se contentar com a ideia de uma liberdade civil, mas Hobbes não dá muita
atenção para ela, porque entende que uma vez feito o contrato, não há mais volta, não há o direi-
to de se arrepender. Mesmo um Estado despótico ainda será melhor que o estado de natureza.
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Filosofia do Direito no Pensamento Moderno
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Para que os pactos sejam efetivos, é necessário que todos se comprometam a cumpri-lo,
caso contrário, o estado de natureza será retomado. Mas Hobbes não é ingênuo, sabe que al-
guns não cumprirão o pacto, por isso defende que é necessário a mão forte do Estado contra
aqueles que descumprem as leis, ou seja, pactos sem espadas são meras palavras.
Com essa afirmação, Hobbes reforça a importância do Estado no controle da conduta dos
indivíduos, sem ordem somos autodestrutivos. Mas Hobbes entende também que não é possí-
vel que o pacto social imponha a renúncia da lei natural, simplesmente porque é uma lei natural.
EXEMPLO
Impor tal condição seria o mesmo que dizer para um objeto ficar imóvel no ar sem nada que o
prenda, ou seja, isso violaria a lei da gravidade.
Com esse exemplo, imagino que você deva estar pensando, que loucura é essa? Esse pro-
fessor é louco? O seu espanto é compreensível, porque não é possível que algo assim aconte-
ça, estaria violando uma lei básica da física.
Então, para Hobbes, querer que os indivíduos renunciem a obrigação que as leis naturais
o impõem seria o mesmo que desconsiderar a gravidade. É esse raciocínio que justifica, por
exemplo, a legítima defesa lá do direito penal, ou a desobrigação de que os indivíduos produ-
zam provas contra si mesmo, simplesmente porque nesses casos seriam condições que aten-
tariam contra a própria natureza.
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Mas o Estado pode decidir se os indivíduos devem ou não ter a liberdade para usar armas
de fogo, e até mesmo qual tipo de arma um cidadão comum estará autorizado a usar em sua
residência a fim de garantir sua segurança. Neste caso estaríamos no campo da liberdade que
o Estado garante aos seus cidadãos.
Em palavras mais simples, o Estado não pode impedir você de se defender quando ataca-
do, mas pode criar limitações quanto aos meios que você poderá usar para sua autodefesa.
No primeiro caso, o Estado não poderá criar esses impedimentos porque violaria uma lei natural,
mas no segundo caso, reduzir a liberdade é possível porque não se trata de uma lei, mas de um direi-
to, de uma faculdade e que, por meio do contrato, os indivíduos abriram mão desse direito.
E é nisso que se constitui o Leviatã, um monstro político que deve controlar os indivíduos contra
outros indivíduos e contra eles mesmos. Somos, na condição humana, ameaça ao outro e ameaça a
nós mesmos, somente o Leviatã, impondo medo a cada um, será capaz de garantir a ordem e tornar
a paz possível e necessária à continuidade da vida. Perde-se a liberdade, ganha-se a segurança!
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Odair José
A quem pertence a sua vida? A você mesmo, ela é sua propriedade e por esse motivo
você tem o direito (natural) de protegê-la, ela se liga a você, é condição de sua própria
existência, óbvio!
A liberdade não é somente um direito, é uma propriedade e que a própria natureza o pre-
senteou. Logo, se a liberdade estiver em risco, é direito seu buscar os meios para protegê-la, a
liberdade é uma propriedade.
E finalmente os bens, aqueles resultantes do trabalho humano, esses também são pro-
priedades. Talvez aqui você tenha menos dificuldades de entender, porque faz mais sentido,
imediatamente pensará no seu carro, na sua casa, no seu aparelho celular e outros objetos que
pertencem a você, são propriedades suas.
005. (FGV/OAB/EXAME XXXIV/2022) John Locke, em seu livro Segundo Tratado sobre o
Governo, afirma que no estado de natureza as pessoas são livres, porém não possuem as
condições de fruição da liberdade. Assim, é necessário instituir uma sociedade política
com um governo civil.
Assinale a opção que, segundo o autor no livro em referência, expressa os fins da sociedade
política e do governo.
a) Estabelecer um processo de dominação de classe.
b) Promover a autocontenção da animalidade humana.
c) Garantir a mútua conservação da vida, da liberdade e da propriedade.
d) Assegurar o governo de um soberano forte e limitado apenas pela própria vontade.
Mas como é possível que exista propriedade nessa dimensão material no estado de natu-
reza? Vida e liberdade são direitos naturais, posso até chamá-los de propriedade, mas isso não
muda o fato de estarem ligados à natureza. Mas os bens que eu disponho, como os frutos de
uma árvore que eu colhi, por que seriam propriedade?
Para Locke é o trabalho humano investido para obtenção de um dado bem que o torna
agora sua propriedade. Portanto, quando alguém colheu os frutos da árvore, lavou e armaze-
nou com cuidado para evitar que perecesse rapidamente, essa pessoa adquiriu propriedade
daqueles frutos, eles agora se ligam ao indivíduo.
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E você dirá, Locke deveria estudar um pouco de Direito Civil, o que ele está chamando de
propriedade poderia ser tido como detenção ou talvez posse, mas não é propriedade. Na ver-
dade, Locke tinha noção de tudo isso.
Locke sabia que a propriedade pensada em condições de natureza não representava algo
seguro porque o homem dependeria sempre das suas próprias forças para garantir a seguran-
ça dos seus bens, seria um estado de fato.
Opa, essa concepção aproxima propriedade de posse. É isso mesmo, ele tinha consciên-
cia que, em se tratando dos bens conquistados por meio do trabalho no estado de natureza, a
propriedade sempre estaria em situação precária, porque não dispunha de meios mais gerais
garantidores da sua existência e manutenção.
Então vamos resumir aqui para facilitar o entendimento: no estado de natureza os indivíduos
são dotados de liberdade e vivem em relativa paz e harmonia. Estão dependentes de suas forças e
são guiados pelo direito natural. Não são aqueles sujeitos que possuem em sua natureza os elemen-
tos da discórdia, como pensava Hobbes. Ao contrário disso, são capazes de viver em paz.
Esses indivíduos têm a liberdade e a vida dadas pela própria natureza como um direito de
propriedade. Tem ainda as forças necessárias para realizar atividades laborais e, na medida
que o fazem, incorporam bens, tornando-os propriedade. Ora, se está tudo perfeito, por que
fazer um contrato? Qual o sentido de renunciar à liberdade natural para criar o Estado?
Infelizmente nem todos os indivíduos estão dispostos a respeitar a propriedade do outro. O
direito natural, por seu turno, não dispõe de mecanismos coercitivos capazes de se impor so-
bre os indivíduos, depende tão somente da razão que deverá guiar a todos. Mas os indivíduos
podem não respeitar a razão, podem se deixar guiar por paixões mesquinhas e, nesse momen-
to, causar prejuízos aos seus semelhantes, atacar a propriedade do outro.
Então, em razão dos inconvenientes existentes no estado de natureza, Locke defende a
necessidade de se realizar um pacto social a fim de se criar o Estado. O Estado terá, como
principal atributo, proteger a propriedade.
As bases da teoria política lockeana estão fincadas na defesa do liberalismo político, ou
seja, na defesa da propriedade. O Estado não deve suplantar a liberdade do indivíduo, essa
é a principal rejeição ao pensamento de Hobbes. O contrato, ao contrário do que defendeu
Hobbes, é para criar um Estado que seja capaz de garantir a liberdade.
Então, o que o homem deve renunciar é a liberdade natural, porque ela é impossível após o
contrato, mas é perfeitamente possível sua manutenção e existência enquanto liberdade civil,
protegida pelo direito e pelo próprio Estado.
Sem o Estado político caberá ao próprio indivíduo a defesa da propriedade, esse é o risco
e o maior inconveniente do estado de natureza, porque os indivíduos podem acabar usando de
meios desproporcionais para fazer justiça quando se sente ameaçado.
Nessas condições, o outro poderá também se defender, ainda que se saiba que ele é originaria-
mente responsável pela injustiça, afinal foi esse primeiro indivíduo que atentou contra a propriedade,
mas em razão da ameaça que agora sofre porque o legítimo proprietário está se defendendo, o
agressor original poderá se tornar vítima e sua reação poderá também causar conflito.
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Odair José
Confuso? Vou te ajudar, eu roubei o seu aparelho de telefone celular, você foi vítima de uma injus-
tiça. Não tem Estado, cabe a você fazer justiça, neste caso, justiça será reaver o bem e que eu arque
com mais algum eventual dano que você sofreu em razão da violência que eu dirigi a você. Ocorre
que, em razão do seu estado emocional do momento, não será de se surpreender que você reaja de
forma desproporcional ao dano que eu causei a você. Resultado, confronto entre nós.
Esse confronto entre os indivíduos é a guerra que o estado de natureza provoca, mas não
porque em nossa natureza encontram os elementos da conflitualidade, mas simplesmente
porque não há um terceiro ator (Estado) para pôr termo ao conflito.
Então fazemos o pacto social, trata-se de um ato que consiste no consentimento de cada um
em renunciar sua própria liberdade natural em nome da liberdade civil, cria-se aqui o Estado e a so-
ciedade civil. O Estado agora, por meio dos governantes, tem a missão de proteger a propriedade. E
se não o fizer? Então os indivíduos poderão retirar do poder aquele governante, impeachment.
É de Locke a defesa de que o povo deve ter os meios legais para se proteger dos governan-
tes que atentam contra o pacto, é o que ele chama de direito de resistência. Hobbes não via
possibilidade de o pacto social ser revisto, Locke não entende desse modo.
Direito de resistência é um direito do povo, uma garantia contra governos que se tornam ilegí-
timos a partir do momento que descumprem com o pacto social, ou seja, quando deixam de
proteger a propriedade.
Governantes estão sujeitos ao pacto social e devem obedecer às leis, se não o fazem, tor-
nam-se mais perigosos do que os particulares, porque detém em suas mãos o poder estatal,
logo poderão usá-lo para retirar do povo a sua liberdade. É por esse motivo que Locke defende
que o direito de resistência se mantenha como garantia do povo contra governos ilegítimos e
eles se tornam ilegítimos quando atentam contra a ordem legal, contra o pacto social.
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Assinale a opção que melhor expressa tal conceito, conforme desenvolvido por Locke na sua
obra Segundo Tratado sobre o Governo Civil.
a) A natureza humana é capaz de resistir às mais poderosas investidas morais e humilhações,
desde que os homens se apoiem mutuamente.
b) Sempre que os governantes agirem de forma a tentar tirar e destruir a propriedade do povo
ou deixando-o miserável e exposto aos seus maus tratos, ele poderá resistir.
c) Apenas o contrato social, que tira o homem do estado de natureza e o coloca na sociedade
política, é capaz de resistir às ameaças externas e às ameaças internas, de tal forma que insti-
tui o direito de os governantes resistirem a toda forma de guerra e rebelião.
d) O direito positivo deve estar isento de toda forma de influência da moral e da política. Uma
vez que o povo soberano produza as leis, diretamente ou por meio de seus representantes, elas
devem resistir a qualquer forma de interpretação ou aplicação de caráter moral e político.
Trata-se do direito que o povo tem de resistir contra governantes que atentam contra o pacto
social, temos aí o germe para o que hoje chamamos de impeachment.
a) Errada. Em nada corresponde ao conceito de direito de resistência.
c) Errada. Coloca o direito de resistência como um direito do governante, está errado, porque
se trata de um direito do povo contra o governante.
d) Errada. Trata de um tema do positivismo jurídico e em nada se relaciona com a teoria de
Locke.
Letra b.
Em Locke temos a justificativa filosófica para a defesa do Estado de Direito, porque todos
devem se submeter à lei, tanto os governantes, quanto os governados. A inobservância dessa
regra fundamental, torna o governante ilegítimo, devendo o povo destituí-lo.
Um outro tema presente na obra de Jonh Locke e que merece atenção diz respeito à sua
doutrina da divisão dos poderes. Quando tratamos dessa temática, normalmente nos vem à
mente a obra de Montesquieu (1689-1775).
A referência a Montesquieu é justa, afinal de contas, os Estados que se formaram após as revo-
luções burguesas buscaram no seu pensamento as bases para formatação da divisão dos poderes.
Como é bem sabido por você lá das matérias de Direito Constitucional, quando se fala em
divisão dos poderes, estamos, na verdade, nos referindo às principais funções do Estado: Le-
gislar, Executar e Julgar.
John Locke, antes de Montesquieu, já havia pensado também numa divisão tripartite dos pode-
res estatais, mas em sua arquitetura não há lugar para o Judiciário como um poder autônomo, ele o
coloca como parte da função executiva. Qual seria então o terceiro poder? Poder Federativo.
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Essa estrutura pensada por Locke não foi a que prosperou nas democracias contempo-
râneas, as atribuições do Poder Federativo são competências do Poder Executivo, não há um
poder autônomo nesse campo.
Mas há algo nessa concepção de Locke que vale a pena você se atentar, diz respeito ao
Poder Legislativo, ele o define como Poder Supremo, isso porque será de sua responsabilidade
a produção do que há de mais relevante num Estado, as leis.
As leis definem o alcance da liberdade dos indivíduos, os limites do poder do Estado sobre o
povo. Daí resulta sua importância, uma vez que aos outros poderes caberia tão somente a execu-
ção do que foi posto pela lei. E neste momento você já deve ter pensado nas suas aulas de Direito
Constitucional, nas tais funções atípicas trazidas por José Afonso da Silva, bem como a atuação do
Judiciário na atualidade e a acusação que recai sobre esse Poder de ser ativista.
Então, podemos resumir da seguinte forma: para Jonh Locke, o Legislativo dispõe de supre-
macia em relação aos outros poderes porque é produtor das leis, a supremacia não é em termos
administrativos e relação hierárquica, neste aspecto cada poder tem autonomia e independência; a
supremacia é em razão de ser ele o produtor das leis e, como todos os outros poderes devem obe-
diência às leis, assim, aquele poder responsável por sua produção tem supremacia.
Chamo a tua atenção ainda para um outro detalhe, saiba que aqui estamos trabalhando
com a abordagem teórica, que daria fundamento para construção dos Estados constitucionais
que se formariam a seguir. Nesse momento, enquanto teoria, é possível se “colocar à mesa” as
mais diversas reflexões, mas a realização do Estado se dará efetivamente por meio da ativida-
de política, na definição e consecução de direitos instituídos em suas legislações.
Mas voltemos ao tema, outro dado relevante é que o Legislativo não precisaria ser um po-
der permanente, uma vez que, na visão de Locke, não há necessidade de que se façam novas
leis o tempo todo. Essa afirmação de Locke me lembra muito as câmaras municipais, sobretu-
do de cidades pequenas.
Normalmente cabe ao Legislativo municipal a votação das leis orçamentárias do muni-
cípio e a apreciação das contas do Executivo. Logo, não haveria necessidade de se reunirem
sempre. E de fato não se reúnem, o problema é que acabam sendo um custo adicional para os
cofres do município.
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Quanto à divisão dos poderes, esse tema, quando aparece nas provas, está normalmente
ligado ao pensamento de Montesquieu. Aqui vale à pena observar a concepção de lei que esse
autor possui e o real papel da divisão dos poderes. Em muitos pontos se assemelha ao que já
foi tratado acima por Locke.
Você ficou incomodado com o terceiro balãozinho que afirma ser o Judiciário um poder
nulo? Pois é, na verdade, como eu já havia salientado acima, para Montesquieu o Judiciário
não seria poder em seu sentido estrito, porque não cria, não elabora normas, apenas seria res-
ponsável por julgar os casos que chegam até ele e em conformidade aos ditames da lei.
Mas você sabe muito bem que essa concepção não se mostra verdadeira no mundo real,
uma vez que o Judiciário, sobretudo no Brasil, tem ganhado protagonismo entre os poderes e
não se limita a reproduzir apenas o que a lei determina.
De qualquer modo, a ideia essencial da divisão dos poderes e o seu papel de garantir pro-
teção do povo contra os eventuais abusos do Estado e dos seus agentes que se encontram à
frente dos poderes, parece se manter muito próxima do que Montesquieu pensou.
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A questão é antiga, de Direito Constitucional e do tempo em que o exame não era unificado.
Mas não mudou o conteúdo, continua válido. Aqui explora o artigo 49, inciso VIII da CF/1988.
Mostra a importância da divisão dos poderes para se manter o equilíbrio.
Letra a.
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a) Assegurar o devido processo legal, de modo que todos aqueles que sejam acusados de
terem cometido um ilícito contra um particular ou contra o Poder Público possam se valer de
todos os instrumentos de defesa técnica adequada, tendo em vista impedir que o magistrado
da causa julgue com base em suas convicções morais, filosóficas ou religiosas.
b) Assegurar um sistema de representação eleitoral em que a população manifeste sua
vontade, mas escolhendo apenas representantes que tenham passado por um devido pro-
cesso de formação política oferecido pela Escola de Governo da República. Essa Escola
deve ser mantida pela União e as vagas devem ser repartidas proporcionalmente entre os
partidos políticos.
c) Assegurar a ampla defesa e o contraditório, de forma que no desenrolar de uma ação judicial
os argumentos de acusação e defesa se coloquem em equilíbio e, dessa forma, não haja um
peso excessivo apenas para um dos lados da causa, o que geraria uma inevitável injustiça.
d) Assegurar a vontade própria de cada Poder do Estado, de modo que aqueles que o exercitam
tenham a menor influência na escolha dos representantes dos demais poderes. Além disso,
deve-se organizar o poder legislativo em duas casas legislativas com eleições independentes,
e deve-se, também, impedir que uma facção política destrua a outra.
A questão explora o tema dos “freios e contrapesos”, abordagem presente tanto na perspecti-
va da divisão dos poderes, como também no federalismo norte-americano. Dada às diferenças
entre os federalistas norte-americanos e o pensamento de Montesquieu, a temática dos freios
e contrapesos está associada diretamente a divisão dos poderes, única alternativa que trata do
tema é a alternativa “d”, nosso gabarito.
Letra d.
Nosso Judiciário exprime bem mais do que o legislador produziu, não só pelas funções
tidas como atípicas de cada poder, mas também porque é competente para interpretar a lei e,
não raro, preenche as lacunas deixadas pelo legislador.
É importante destacar que Montesquieu era monarquista, viveu o período de decadência
dessa forma de governo. Foi defensor dos governos mistos, que se traduziam por meio das
Monarquias Parlamentaristas, elas permitiriam a estabilidade em razão da representação dos
diversos interesses das classes que compõem a sociedade.
Mas independentemente de qual governo se adote, a divisão de poderes é instrumento
necessário à garantia do equilíbrio de forças na relação que se estabelece entre o governo e a
sociedade. Assim, a divisão dos poderes se presta a proteção dos interesses dos súditos, evita
que sejam submetidos às arbitrariedades.
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Desse modo, as leis positivas deverão observar as leis da natureza e se adequar ao prin-
cípio da forma de governo, bem como ao ambiente físico onde o país se encontra. Observe
que não se trata tão somente de o legislador produzir leis conforme sua vontade, mas deverá
atentar-se a esse conjunto de variáveis.
De toda sorte, é fundamental salientar que as leis proporcionam o exercício da liberdade na
vida coletiva. Ser livre, mesmo nos regimes democráticos, não é fazer o que bem se entende,
mas manter a conduta na quadratura da lei.
Liberdade é fazer o que a lei permite, são vários filósofos que defendem essa concepção,
Montesquieu é um deles. As leis proporcionam uma convivência coletiva mais segura e
harmoniosa, ao mesmo tempo que possibilita que os objetivos individuais sejam busca-
dos em condições seguras.
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Levando em consideração o trecho acima, assinale a afirmativa que apresenta a perspectiva de Rou-
sseau sobre as vantagens para o homem em sair do estado de natureza para entrar no estado civil.
a) O estado de natureza se caracteriza por uma guerra de todos contra todos, razão pela qual se
justifica a renúncia da liberdade natural para se garantir a segurança proporcionada pelo estado civil.
b) No estado de natureza o homem possui liberdade natural e sem freios, limitada somente por
sua força, por isso essa liberdade é superior à liberdade natural.
c) À aquisição do estado civil acrescenta-se à liberdade moral, única a tornar o homem verda-
deiramente senhor de si mesmo, porque o impulso do puro apetite é escravidão, e a obediência
da lei que se prescreveu é liberdade.
d) O bom selvagem corresponde à vivência da liberdade natural, que é superior à liberdade civil,
uma vez que sua criação é oriunda da vontade geral.
Uma vez que, dado o atual estágio de desenvolvimento da sociedade, um retorno ao estado
de natureza é impraticável, faz-se necessária a constituição de um pacto com o objetivo de
refundar o Estado e a sociedade.
E como já fez presente nos pensamentos de Hobbes e de Locke, Rousseau parte do pres-
suposto de que no estado de natureza os homens são livres e iguais.
As noções de liberdade e de igualdade, como condições da própria natureza, são funda-
mentais para ideia de pacto social, porque essa passagem da condição natural para condição
civil somente será legítima se resultante de um ato de vontade. Somente há vontade quando os
indivíduos são livres e iguais para expressá-la, este é o raciocínio de Rousseau, e neste quesito
não se diferencia do pensamento de Hobbes, tampouco do pensamento de Locke.
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No estado de natureza os homens são livres e iguais, o pacto social deve garantir essa mesma con-
dição em termos civis, somente assim o novo Estado que se formar será verdadeiramente legítimo.
Nesses termos, entende Rousseau, a ordem política vigente à sua época era ilegítima, por-
que resultante da imposição da força do Estado e da manutenção das desigualdades. O que
Rousseau defende? Um novo pacto social que possa resgatar direitos naturais perdidos e, as-
sim, romper com a farsa da atual conjuntura política e social.
011. (GRANOAB/2º SIMULADO DO EXAME XXXIV/2022) “O mais forte não é nunca forte o bastante
para ser sempre o senhor, se não transforma sua força em direito e a obediência em dever”.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores).
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a) e c) Erradas. A força não torna legítima a ordem política e social, essa ordem só é legítima
quando resultante da vontade coletiva, nunca por imposição arbitrária.
b) Certa. Ceder não é ato de vontade, porque que cede o faz em razão da pressão ou coação
a que está sendo submetido, portanto, um Estado baseado no mais forte não é legítimo, os
súditos cedem a esse Estado por necessidade ou prudência, mas não como ato de vontade.
d) Errada. Contradiz a si mesmo, se a ordem um direito natural, então não poderia ser fundada
nas convenções humanas, letra “d” errada.
Letra b.
Depois dessa breve abordagem, você já deve percebido os motivos pelos quais Rousseau
teve o seu pensamento absorvido pelos revolucionários de 1789. A França do século XVIII era
dominada por uma monarquia absolutista e que impunha sobre o povo altas taxas de impostos
para manter os privilégios da nobreza e do clero.
A opressão operada por aquele Estado era visível e as palavras de Rousseau respondiam
perfeitamente ao sentimento de revolta dos revolucionários.
As desigualdades somente poderiam ser toleradas quando resultantes da própria nature-
za. Aqui eu faço uma atualização do seu pensamento, vem comigo. O que Rousseau define
como desigualdades naturais é o que hoje definiríamos como “diferenças”.
Um idoso é desigual em relação a um jovem, porque um idoso, em razão da própria idade, en-
contra-se mais debilitado do que um jovem. Indivíduos nascem com definições corpóreas distintas
uns dos outros, alguns são mais fortes, outros mais fracos, alguns mais altos, outros mais baixos.
Essas diferenças são tratadas por Rousseau como “desigualdades naturais”, e ele comen-
ta, sobre elas nada se pode fazer. Mas há uma outra espécie de desigualdades, são aquelas
políticas ou morais, são aquelas criadas pelas convenções humanas ou resultantes da domi-
nação em razão da propriedade.
Rousseau, então, defende que é contra as desigualdades convencionais (morais ou polí-
ticas) que devemos lutar, é contra elas que se pode reagir, porque se são convencionais, são
também passíveis de mudança.
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Rousseau concebe a existência de duas desigualdades, uma natural, outra moral. As desigual-
dades naturais seriam, na verdade, diferenças entre os indivíduos resultantes da própria com-
posição físico-biológica, essas desigualdades (diferenças) não são produtoras de hierarquias,
mas as desigualdades morais, resultantes das relações que se constituem socialmente, hierar-
quizam as relações e produzem as injustiças. Essas desigualdades precisam ser combatidas.
a) Errada. Porque as desigualdades naturais não provocam as desigualdades morais.
b) Errada. Peca ao afirmar que as desigualdades naturais são inaceitáveis, na verdade contra
elas não há o que fazer.
d) Errada. Afirma que todas as desigualdades devem ser toleradas, Rousseau defende exata-
mente o contrário, as desigualdades morais devem ser combatidas, não podem ser toleradas.
Letra c.
Outro ponto relevante da teoria rousseauniana diz respeito às relações entre Governo e
Sociedade. Para ele, o governo é um funcionário do povo, desse modo, se formos estabelecer
uma hierarquia nessa relação, o povo deve estar acima do governo e não o contrário.
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FILOSOFIA DO DIREITO
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Rousseau teve papel importante na formatação das democracias modernas, porque inspi-
rou o modelo a ser implementado em diversos países. Ele defendia que a democracia deveria
ser direta porque a vontade não pode ser alienada, mas tinha consciência das dificuldades prá-
ticas da democracia direta dada a configuração da sociedade da sua época e da própria am-
pliação quanto aos direitos políticos que viriam a alterar por completo o significado de povo.
O que se tem de mais relevante aqui, além das suas influências nas constituições moder-
nas, diz respeito às relações entre povo e governo. Pregando contra o absolutismo estatal,
Rousseau entende que o povo é o verdadeiro detentor do poder político, por isso atribuiu a ele
a titularidade da soberania.
O povo é o soberano, extrai-se do povo a vontade geral que deverá guiar a atuação dos
governos. Para facilitar o seu entendimento sobre o conceito de vontade geral, pense no signi-
ficado de interesse público. Lembra das aulas de Direito Administrativo? Lembra que os atos
da administração devem se submeter sempre ao interesse público? Pois é, o interesse público
é o que mais se aproxima da concepção rousseauniana de vontade geral, ou de bem comum.
A vontade geral não é a soma das vontades individuais, tampouco é a vontade de todos, ela
é o substrato da vontade do povo, é o que há de comum entre os partícipes da comunidade
política, por isso se fala em bem comum.
Um detalhe importante, democracia não é fazer o que uma parte da sociedade quer. Em cada
indivíduo há uma parcela do poder soberano, somadas elas expressam o poder coletivo, mas a von-
tade geral é um pouco mais sublime, porque não pode ser quantificada, ela tem que ser pensada em
termos qualitativos, ou seja, o conteúdo essencial que atende aos interesses do povo.
É difícil pensar nesse conceito, não é verdade? Por isso estou pedindo a você para imaginar
a noção de interesse público, é o que temos de mais próximo da ideia e que melhor se aproxi-
ma da concepção rousseauniana de vontade geral.
As dificuldades em relação ao conceito se encontram no fato de haver mais negação, ou
seja, Rousseau se preocupa mais em afirmar o que não é vontade geral, do que em conceituá-
-la. É “uma força real, superior à ação de qualquer vontade particular” (Rousseau), é a vontade
do corpo político que atua no interesse comum.
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FILOSOFIA DO DIREITO
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A ideia de vontade geral, apresentada por Rousseau em seu livro Do Contrato Social, foi funda-
mental para o amadurecimento do conceito moderno de lei e de democracia.
Assinale a opção que melhor expressa essa ideia conforme concebida por Rousseau no livro citado.
a) A soma das vontades particulares.
b) A vontade de todos.
c) O interesse particular do soberano, após o contrato social.
d) O interesse em comum ou o substrato em comum das diferenças.
Vontade geral é o interesse comum, o substrato em comum das diferenças. Ou seja, tem-se
consciência das diferenças que há em sociedade, mas a vontade geral não pode se prender às
diferenças, deve atentar-se para o que há de comum entre as diferenças.
a) e b) Erradas. Porque associam vontade geral à soma. Não é soma porque as vontades indi-
viduais são diferentes umas das outras, se somarmos essas vontades ou se a considerarmos
em seu conjunto, teremos outro produto e não o conteúdo comum das diferenças.
c) Errada. Associa vontade geral à vontade particular do soberano, não é vontade particular,
mas o conteúdo comum das diferenças.
Letra d.
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FILOSOFIA DO DIREITO
Filosofia do Direito no Pensamento Moderno
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Racionalismo e empirismo, a filosofia já esteve dividida entre essas duas grandes concep-
ções acerca do conhecimento. Falamos sobre isso na primeira aula, lembra? Vou rapidamente
retomar aqui os conceitos.
Olhando o desenho acima, você conseguiu entender? Se não conseguiu, acompanhe co-
migo o raciocínio. Primeiro, juízos são formas de conhecimento, que podem ser empíricos
(resultantes da experiência) ou racionais (resultantes da razão).
1
Referência: HRYNIEWICZ, S. Para Filosofar. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2010 (p. 400).
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FILOSOFIA DO DIREITO
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Segundo, juízos analíticos são conhecimentos que advém da própria razão, que não carecem
da experiência, por isso são chamados de a priori. Quando se afirma que o triângulo tem três lados,
a informação adicional “três lados” não acrescenta nada ao sujeito triângulo, simplesmente porque
triângulo já pressupõe a existência de três lados. Você consegue deduzir isso racionalmente. E é por
esse motivo que Kant afirma que esses juízos não geram conhecimento novo.
Terceiro, juízos sintéticos são conhecimentos que advém da experiência, por isso são chama-
dos de a posteriori. Esses tipos de juízos não são seguros, em termos de conhecimento, porque de-
pendem das percepções sensíveis e essas podem nos pregar uma peça, podem falsear a realidade.
Quando afirmo, a casa é amarela, de fato acrescentei uma característica nova ao sujeito
“casa”, a qualidade de amarelo. Não estou me referindo a qualquer casa, é uma em específico
e que apresenta uma qualidade, sua cor é amarela.
O problema é que se trata de um conhecimento parcial e limitado ao tempo, em nada con-
tribui para a ciência, está sujeito a erros, não raro confundimos as cores, faça uma brincadeira
aí com alguém mostrando um objeto e perguntando as cores, a depender da tonalidade, muitos
terão dúvidas, seria amarelo ou verde? (risos...).
Quarto, em razão das limitações do conhecimento advindo meramente da razão (juízos
analíticos) e dos erros possíveis do conhecimento advindo da experiência (juízos sintéticos),
Kant identificou uma terceira categoria de conhecimento, os juízos sintéticos a priori.
Esses juízos são oriundos da razão, por isso à priori, capazes de produzir conhecimento
novo acerca do objeto em análise, portanto há uma inserção na empiria, e são seguros porque
capazes de serem universalizados em função de serem construtos da razão. Esses juízos são
típicos da física e da matemática.
Acho que agora você irá desistir do meu curso, estou fazendo com que você se lem-
bre de matérias que te fizeram migrar para o Direito (risos...). Calma, vamos vencer esse
raciocínio, já estou acabando.
EXEMPLO
Quando se afirma, por exemplo, a água aquecida a 100º graus evapora, tem se aí um conheci-
mento advindo da razão e da empiria, ou seja, do conhecimento do estado dos corpos e que é
universal. Independentemente de onde estejamos, sempre que a água chegar a essa tempera-
tura, ela irá evaporar. Então, temos aqui a junção do racionalismo e do empirismo, no exemplo
da água há conhecimento lógico-dedutivo e há experiência.
Mas vamos voltar para o Direito, nos sentiremos mais confortáveis. A questão colocada
por Kant é quanto aos juízos sintéticos à priori serem também extensíveis às reflexões metafí-
sicas, por exemplo na abordagem acerca da moral.
A resposta é sim e agora vamos lá para a nossa relação entre direito e moral, vamos ex-
plorar o conteúdo a partir dos conceitos de imperativo categórico e imperativo hipotético. Vou
adiantar a você que o imperativo categórico é sim um juízo sintético à priori.
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A moral não é um imperativo hipotético, uma vez que se guia pela razão e tem a humanidade
como fim; não se utiliza da humanidade como meio instrumental para fins individuais; a moral
kantiana é ação boa em si mesma, segue uma lei universal. Logo, as alternativas “a”, “b” e “d”
estão erradas. Gabarito, letra “c”.
Letra c.
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Kant entende que a dignidade não pode ser precificada, é algo dotada de um valor que se liga
à própria condição de humano e que, por esse motivo, não é possível precificá-la uma vez que
não há equivalentes que se comparem à dignidade.
a) Errada. Porque atribui dignidade a todo ser vivo, quando o conceito se refere a humanos.
b) Errada. Comete dois erros, por considerar a noção de equivalentes, o que fere o próprio sentido do
conceito, e por vinculá-lo a membros de uma comunidade, o conceito tem caráter universal.
c) Errada. Pois vincula dignidade a valor jurídico, o direito pode e deve garantir meios para que
a dignidade humana seja respeitada e efetivada, mas trata-se de um conceito que vai além da
condição jurídica, porque se liga à própria condição humana. Entre o jurídico e o humano, sob
essa ótica, deve prevalecer o humano. Por exemplo, apenados com covid-19 devem ser soltos?
Letra d.
Para Kant o imperativo categórico se refere a ação que seja capaz de se transformar numa
lei universal. Para você entender, pense numa conduta simples que você poderia manifestar
num espaço público, como jogar o lixo pela janela do seu carro. Outras pessoas poderiam fazer
o mesmo? O que aconteceria se todas as pessoas jogassem o lixo pela janela do carro? Essa
atitude seria admissível, poderíamos universalizá-la?
Você provavelmente vai dizer que não, talvez até se irrite muito quando vê uma cena como essa.
Logo, sob essa ótica, não jogar lixo pela janela do carro pode ser tido como um imperativo categórico.
O exemplo é bobinho, mas o que interessa é a compreensão do conceito. Para o nosso
filósofo, a razão é capaz de nos levar a tomar decisões corretas, por isso, a conduta moral
kantiana não é tida como um ato qualquer, desprovido de consequências, uma vez que a ação
moral é, na verdade, resultante da razão, passa antes pelo crivo da ética.
A ética é um campo do saber filosófico que nos fornece os elementos necessários a ava-
liação de nossas condutas, por meio da ética somos capazes de avaliar se uma dada conduta
é ou não correta. Sob a lógica kantiana, para sabermos se nossa conduta é correta, ou seja,
moralmente adequada, ela não pode prejudicar o semelhante nem real, nem potencialmente,
nem no momento da ação, tampouco em um momento futuro. A ação para ser racional e mo-
ralmente boa, deve ser capaz de se transformar numa lei universal.
Lembra daquele velho ditado, não faça aos outros o que não gostaria que fizessem contigo,
pois é, Kant concordaria com ele. A ação moral é aquela que passou pelo crivo da avaliação
ética e que demonstra ser capaz de manter intacta a dignidade do meu semelhante, mais que
isso, é positiva para dignidade humana.
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FILOSOFIA DO DIREITO
Filosofia do Direito no Pensamento Moderno
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A questão explora a velha relação entre direito e moral, no pensamento de Kant, moral e direito
não são absolutamente distintos, porque ambos são imperativos categóricos. Mas a diferença
fundamental está no que define, para o indivíduo, o indicador da ação correta. No plano moral
é a própria razão, portanto uma ordem interna; no universo do direito temos a coercitividade
estatal, portanto, externa ao indivíduo.
a) e d) Erradas. A alternativa “a” está errada porque afirma que direito e moral são idênticos, se
não são absolutos, como erra a alternativa “d”, mas também nãos idênticos. O ponto de encon-
tro entre ambos está no fato de se serem imperativos categóricos.
c) Errada. Pois considera que a coerção é elemento fundamental na ação moral.
Letra b.
Direito e moral são diferentes, mas é possível perceber a intersecção entre ambos na pró-
pria conduta do indivíduo. Kant nos informa que as razões, que levam o indivíduo a uma deter-
minada conduta, podem ser morais, ainda que a determinação seja jurídica.
Para facilitar, acompanhe comigo. Eu fui condenado a pagar alimentos para o meu filho,
trata-se de uma determinação jurídica, uma ordem externa que se impõe sobre mim. Para
garantia do cumprimento, o Estado-Juiz poderá usar de alguns, como a decretação da minha
prisão em caso de inadimplemento.
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Filosofia do Direito no Pensamento Moderno
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Contudo, eu sou um pai cuidadoso e comprometido com meu dever paterno. Para mim, o cum-
primento do dever de alimentos é em razão da minha condição de pai, trata-se de um dever moral,
portanto, ainda que não houvesse uma sentença judicial, ainda assim eu cumpriria com meu dever.
Nessas condições, Kant diria que a obrigação que recaiu sobre mim, embora jurídica, é sen-
tida como dever moral. É aqui que se observa a proximidade entre direito e moral, ambos têm
o condão de ordenar a conduta, mas enquanto o direito atua externamente por meio das suas
instituições, a moral atua internamente, no plano da consciência do agente.
CRITÉRIOS
DIREITO MORAL
DISTINTIVOS
Algumas rápidas considerações, direito e moral são frutos da razão; o caráter universal da
moral está na possibilidade de a conduta ser estendida para além daquele que originalmente
a realizou, já para o direito, essa universalidade se refere ao território onde a ordem jurídica
soberana do Estado se estende; em ambos, direito e moral, o seu cumprimento não carece de
qualquer justificativa, porque implicam em condutas corretas e o que está em conformidade
com a razão, ou em conformidade com as leis, não carecem de qualquer justificativa.
E o direito, o que é? “O direito é a soma das condições sob as quais a escolha de alguém pode
ser unida à escolha de outrem de acordo com uma lei universal” (Kant). Perceba que o direito pres-
supõe as condições para que a vida coletiva seja possível em condições harmoniosas, porque nele
se encontram os meios necessários para se coadunar os diversos interesses dos indivíduos.
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FILOSOFIA DO DIREITO
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a) Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qual-
quer outro, sempre e simultaneamente como fim, e nunca como meio.
b) Age exteriormente, de modo que o livre uso de teu arbítrio possa se conciliar com a liberda-
de de todos, segundo uma lei universal.
c) Age como se a máxima de tua ação se devesse tornar, pela tua vontade, lei universal da natureza.
d) Age de forma que conserves sempre a tua liberdade, ainda que tenhas de resistir à liber-
dade alheia.
Para concluir essa apresentação do pensamento de Kant, vale a pena comentar aqui rapi-
damente sobre a sua filosofia política, uma vez que o tema já foi objeto de questão.
Kant desenvolveu algumas reflexões que o colocam também como um contratualista. Par-
te de suas reflexões encontra guarida no pensamento de Thomas Hobbes e outra parte na
doutrina de J. Locke.
O que há de novidade aqui é o fato de incluir uma nova modalidade de contrato, o que ele
chamou de contrato entre os Estados. Assim, tem-se o contrato originário, que retira os indiví-
duos do estado de natureza, e o contrato entre os Estados que cria uma Federação dos Esta-
dos, cujo principal objetivo é a paz internacional.
Então, temos em Kant a primeira ideia de constituição de uma organização internacional
que deve ter por objetivo a paz internacional, isso te soa familiar? Se pensou na ONU, então
você compreendeu bem o que queria Kant.
A sua preocupação é simples, internamente os indivíduos resolvem o problema da guerra de to-
dos contra todos (Hobbes) através do contrato que cria o Estado. Mas no âmbito internacional, cada
Estado tem sua própria soberania e não havia uma ordem internacional capaz de pôr freios aos im-
pulsos expansionistas e bélicos de algumas nações, daí a importância de se criar uma organização
com o propósito de buscar a paz, a fim de se evitar a guerra entre os Estados.
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a) Certa. Explora aqui a concepção contratualista de Kant, que entende a vontade legislativa é
capaz de produzir no homem a percepção de que fora da lei não há segurança.
b) Errada. O indivíduo não é dotado de soberania.
c) Errada. A liberdade não está associada à vontade do governante.
d) Errada. É semelhante a anterior, associa liberdade à vontade do soberano.
Letra a.
Uma última nota acerca do contratualismo kantiano, ele concorda com a ideia de Locke quanto
ao direito de resistência, mas entende que tal direito não poderia estar elencado como uma norma
legal, uma vez que poderia criar instabilidade ou insegurança para manutenção do governo.
4. Considerações Finais
Chegamos ao fim da nossa jornada nessa viagem sobre o pensamento filosófico moderno.
Explorei aqui as principais correntes de pensamento que tem sido objeto de questões por parte da
banca FGV. Há muitos outros filósofos e seus sistemas que desse período, mas como não tem sido
objeto da prova de Filosofia, não faria sentido explorar essas correntes de pensamento aqui.
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RESUMO
As principais correntes da filosofia do direito no pensamento modernos podem se resumir no
contratualismo e liberalismo e nas doutrinas que tratam das relações entre Estado, direito e ética.
O contratualismo tem como principais referências os filósofos T. Hobbes, J. Locke e JJ. Rousse-
au. A unidade temática está na concepção segundo a qual a origem do Estado estaria ligada a um
pacto entre os indivíduos, esse pacto teria retirado esses indivíduos do estado de natureza.
O estado de natureza, na teoria contratualista, é um recurso heurístico, o verdadeiro objeti-
vo da teoria é mostrar a importância e necessidade do Estado.
Para Hobbes, o contrato se faz necessário para criar um Estado forte e controlar os impul-
sos conflitivos humanos, assim, o principal objetivo do pacto é garantir a segurança dos indi-
víduos. Para isso o Estado tem que ser forte, detentor de um poder absoluto capaz de impor
medo sobre os indivíduos.
Para Locke, a natureza humana não é conflituosa, mas o estado de natureza não possui
um ator neutro e isento capaz de dirimir eventuais conflitos que possam colocar a propriedade
em risco. Daí, o objetivo do contrato é proteger a propriedade e esta já existe num estado de
natureza, porque é compreendida em três perspectivas distintas: a vida, a liberdade e os bens
resultantes do trabalho.
Como o objetivo do contrato é proteger a propriedade, Locke se filia ao liberalismo político,
ou seja, o Estado deve garantir o máximo de liberdade para os indivíduos, reduzindo seu alcan-
ce sobre a vida privada.
Rousseau é defensor da liberdade democrática, para ele o Estado atual teria subvertido
a natureza humana ao aprisioná-la numa condição desigual e injusta. O contrato seria uma
forma de refundar o Estado e a sociedade em novas bases, permitir que as potencialidades
naturais fossem resgatadas.
É de Rousseau a defesa de que o principal objetivo do contrato deve ser a liberdade, uma
vez que renunciar à liberdade seria o mesmo que renunciar a condição de homem.
Finalmente nas teorias éticas, temos o pensamento de Kant, defende que as ações huma-
nas devem se submeter ao crivo da ética a fim de que se mantenham dentro de um quadro
moral, ou seja, de uma consciência racional capaz de fazer com que a conduta individual se
torne uma lei universal, é o que o autor definiu como imperativo categórico.
Diferentemente do imperativo categórico é a ação voltada para fins egoísticos, que tem a
humanidade não como um fim, mas como meio, trata-se do imperativo hipotético.
Ainda no pensamento de Kant, devemos levar em consideração as relações possíveis entre
direito e moral, esse autor não vê esses dois elementos como totalmente separados, embora
distintos. Há algo de comum entre os dois, ambos são fruto da razão e capazes de fornecer as
condições para uma convivência coletiva harmoniosa.
E onde estaria a diferença? Está no comando. No direito o comando encerra uma ordem
externa, pautada na coercitividade; já a moral encerra um comando interno, dependente da
consciência do próprio indivíduo.
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002. (GRANOAB/3º SIMULADO DO EXAME XXXII/2021) “A natureza fez os homens tão iguais,
quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem
manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim,
quando se considera tudo isso em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é sufi-
cientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer bene-
fício a que o outro não possa também aspirar, tal como ele”.
HOBBES, Thomas. O Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
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003. (FGV/OAB/EXAME XXXIV/2022) Mas tal como os homens, tendo em vista conseguir a paz,
e através disso sua própria conservação, criaram um homem artificial, ao qual chamamos Estado,
assim também criaram cadeias artificiais, chamadas leis civis, as quais eles mesmos, mediante
pactos mútuos, prenderam numa das pontas à boca daquele homem ou assembleia a quem confia-
ram o poder soberano, e na outra ponta a seus próprios ouvidos. (Thomas Hobbes).
Em seu livro Leviatã, Hobbes fala de um direito natural à liberdade de preservar sua própria
vida. Porém, ele fala, também, da liberdade resultante do Pacto que institui o Estado Civil, isto
é, da liberdade dos súditos.
Assinale a opção que expressa essa ideia de liberdade dos súditos, segundo Hobbes no
livro em referência.
a) Agir conforme os princípios do direito internacional, das tradições e dos costumes que são
amplamente conhecidos pelos governos e pelos povos.
b) Ser livre para instaurar uma assembleia soberana que decida acerca das condutas que se-
rão permitidas, proibidas e obrigatórias no âmbito do Estado Civil.
c) O poder do mais forte de decidir sobre os mais fracos, tal qual fazem os Estados soberanos
após batalharem entre si e algum deles vencer a guerra.
d) A liberdade de fazer as coisas conforme elas foram reguladas pelo poder soberano, tais
como comprar, vender e realizar outros contratos mútuos.
005. (FGV/OAB/EXAME XXXIV/2022) John Locke, em seu livro Segundo Tratado sobre o Governo,
afirma que no estado de natureza as pessoas são livres, porém não possuem as condições de frui-
ção da liberdade. Assim, é necessário instituir uma sociedade política com um governo civil.
Assinale a opção que, segundo o autor no livro em referência, expressa os fins da sociedade
política e do governo.
a) Estabelecer um processo de dominação de classe.
b) Promover a autocontenção da animalidade humana.
c) Garantir a mútua conservação da vida, da liberdade e da propriedade.
d) Assegurar o governo de um soberano forte e limitado apenas pela própria vontade.
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O Art. 1º, parágrafo único, da Constituição Federal de 1988 afirma que “todo o poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. Muitos autores asso-
ciam tal disposição ao conceito de direito de resistência, um dos mais importantes da Filosofia
do Direito, de John Locke.
Assinale a opção que melhor expressa tal conceito, conforme desenvolvido por Locke na sua
obra Segundo Tratado sobre o Governo Civil.
a) A natureza humana é capaz de resistir às mais poderosas investidas morais e humilhações,
desde que os homens se apoiem mutuamente.
b) Sempre que os governantes agirem de forma a tentar tirar e destruir a propriedade do povo
ou deixando-o miserável e exposto aos seus maus tratos, ele poderá resistir.
c) Apenas o contrato social, que tira o homem do estado de natureza e o coloca na sociedade
política, é capaz de resistir às ameaças externas e às ameaças internas, de tal forma que insti-
tui o direito de os governantes resistirem a toda forma de guerra e rebelião.
d) O direito positivo deve estar isento de toda forma de influência da moral e da política. Uma
vez que o povo soberano produza as leis, diretamente ou por meio de seus representantes, elas
devem resistir a qualquer forma de interpretação ou aplicação de caráter moral e político.
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c) Assegurar a ampla defesa e o contraditório, de forma que no desenrolar de uma ação judicial
os argumentos de acusação e defesa se coloquem em equilíbio e, dessa forma, não haja um
peso excessivo apenas para um dos lados da causa, o que geraria uma inevitável injustiça.
d) Assegurar a vontade própria de cada Poder do Estado, de modo que aqueles que o exercitam
tenham a menor influência na escolha dos representantes dos demais poderes. Além disso,
deve-se organizar o poder legislativo em duas casas legislativas com eleições independentes,
e deve-se, também, impedir que uma facção política destrua a outra.
Levando em consideração o trecho acima, assinale a afirmativa que apresenta a perspectiva de Rou-
sseau sobre as vantagens para o homem em sair do estado de natureza para entrar no estado civil.
a) O estado de natureza se caracteriza por uma guerra de todos contra todos, razão pela qual se
justifica a renúncia da liberdade natural para se garantir a segurança proporcionada pelo estado civil.
b) No estado de natureza o homem possui liberdade natural e sem freios, limitada somente por
sua força, por isso essa liberdade é superior à liberdade natural.
c) À aquisição do estado civil acrescenta-se à liberdade moral, única a tornar o homem verda-
deiramente senhor de si mesmo, porque o impulso do puro apetite é escravidão, e a obediência
da lei que se prescreveu é liberdade.
d) O bom selvagem corresponde à vivência da liberdade natural, que é superior à liberdade civil,
uma vez que sua criação é oriunda da vontade geral.
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011. (GRANOAB/2º SIMULADO DO EXAME XXXIV/2022) “O mais forte não é nunca forte o bastante
para ser sempre o senhor, se não transforma sua força em direito e a obediência em dever”.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores).
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QUESTÕES DE CONCURSO
019. (FCC/CÂMARA DE FORTALEZA-CE/2019/ADAPTADA) Para Hobbes, a mais alta ex-
pressão da justiça está no cumprimento das determinações do soberano, na medida em que
os homens alienaram seus interesses pessoais àquele que lhe dá em troca a segurança e a
paz. Mas ao mesmo tempo essa submissão ao poder estatal não nega o fato de que haja uma
lei da natureza, que se expressa pela razão, e que, justamente pelas insuficiências dos homens
em concretizá-la em estado de natureza, é suplantada pela lei civil do soberano. [...] O direi-
to do homem à sua preservação resulta da razão mas, além disso, é uma condição humana
concreta. Por direito natural, os homens podem se defender, mas, mesmo que não lhes fosse
permitido, fariam-no do mesmo modo. [...] Por isso, a lei fundamental da natureza, que manda
buscar e seguir a paz, é imediatamente acompanhada por um direito natural fundamental, pro-
curar todos os meios de defesa própria em caso de ausência de paz.
(MASCARO, Alysson Leandro. Filosofia do Direito. São Paulo: Atlas, 2018, p. 167 e 169)
De acordo com as ideias expostas acima e em consonância com o pensamento de Thomas Hobbes,
a) o estado de natureza representa o governo do soberano e a organização jurídica da sociedade civil.
b) estado de natureza e poder soberano são exatamente iguais.
c) o estado fundamenta-se na razão e no poder soberano.
d) estado de natureza, direito natural e sociedade civil são conceitos idênticos.
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a) consiste em estar livre de qualquer poder superior na Terra, tendo somente a lei da natureza
como regra para ordenar suas ações, sem precisar pedir permissão ou depender da vontade
de qualquer outro homem.
b) é a liberdade para qualquer um fazer o que lhe apraz, viver como lhe convém, sem ser refre-
ado por qualquer lei.
c) importa em ter regra permanente pela qual viva, comum a todos os membros de uma sociedade.
d) é o estado de guerra de todos contra todos.
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Acerca das considerações de Kant, é correto afirmar que uma ação justa é aquela que
a) possa permitir a coexistência da liberdade do arbítrio de um com a liberdade de outro segun-
do uma lei universal.
b) garanta o máximo exercício da individualidade segundo uma lei universal de natureza, ainda
que em detrimento da coletividade.
c) supere a dicotomia entre estado de natureza e lei natural, na medida em que, por meio da lei
universal, garanta o máximo de liberdade individual.
d) submete-se a lei civil apenas quando esta é absorvida moralmente pelo indivíduo.
Do que se extrai do pensamento de Kant acerca da sua concepção de direito, pode-se afirmar que
a) A liberdade do arbítrio implica na faculdade de escolher ou não agir a favor ou contra a lei.
b) É correta toda ação que permite, ou cuja máxima permite, liberdade do arbítrio de cada um
coexistir com a liberdade de todos segundo uma lei universal.
c) As normas de direito se constituem como resultantes da vontade externa do legislador, por
esse motivo sempre carecem de coação para serem efetivas.
d) O direito estrito é representado pela observância moral das normas, o que torna desneces-
sária a coerção para garantia do exercício dos arbítrios individuais.
029. (GRANOAB/2º SIMULADO DO EXAME XXXV/2022) “Na definição do direito [de Kant] po-
dem ser revelados os três requisitos dos quais falamos anteriormente: 1. o direito pertence ao
mundo das relações externas; 2. ele se constitui na relação de dois ou mais arbítrios; 3. a sua
função não é de prescrever este ou aquele dever substancial com relação aos sujeitos dos vá-
rios arbítrios, mas de prescrever-lhes a maneira de coexistir com o arbítrio de todos os outros”.
(BOBBIO, Norberto. Direito e estado no pensamento de Emmanuel Kant. Brasília, EdUnB, 1995).
Na concepção de direito kantiana, a liberdade é central e se mostra por meio da busca pela
conciliação entre os diversos livres-arbítrios.
Sobre esse tema, assinale a alternativa que corresponde a interpretação feita por Bobbio acer-
ca da concepção de direito em Kant.
a) O direito independe do Estado para sua realização, porque está no âmbito interno na medida
em que corresponde ao livre-arbítrio de cada um.
b) O direito é liberdade, mas é liberdade limitada pela presença da liberdade dos outros.
c) Ao associar o direito à relação entre dois ou mais livres-arbítrios, há uma simetria entre direi-
to e moral, porque desloca o direito para o mundo interno.
d) A limitação da liberdade, operada pelo direito estatal, torna impossível a sua realização enquanto li-
berdade efetiva, trata-se tão somente de condicionamento da conduta pela coercitividade do Estado.
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FILOSOFIA DO DIREITO
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Norberto Bobbio, em sua obra Teoria do Ordenamento Jurídico, afirma que no uso histórico da
filosofia do direito e da jurisprudência, emergem três significados diferentes do termo sistema,
quais sejam: sistema dedutivo; sistema indutivo e sistema como validade do princípio que ex-
clui a incompatibilidade de normas.
Nos termos da obra em referência, é correto afirmar que no enxerto acima, do filósofo G. W.
Leibniz, a teoria do direito se enquadra no significado de
a) sistema indutivo, porque a definição de direito é resultante da experiência das normas reali-
zadas pelo Judiciário.
b) sistema como validade que exclui a incompatibilidade de normas, porque se vincula a exis-
tência fática de normas que não podem ser postas de forma antinômica.
c) sistema dedutivo, porque todas as normas derivam de princípios gerais e não são fundadas
na experiência dos fatos, ainda que sirvam para regulá-los por antecipação.
d) direito natural oriundo da razão prática operada pelo legislativo, por isso suas normas são
deduzidas logicamente da norma fundamental.
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GABARITO
1. c
2. c
3. d
4. c
5. c
6. b
7. a
8. d
9. c
10. c
11. b
12. c
13. d
14. c
15. d
16. b
17. b
18. a
19. c
20. b
21. a
22. b
23. b
24. a
25. d
26. a
27. a
28. b
29. b
30. c
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GABARITO COMENTADO
019. (FCC/CÂMARA DE FORTALEZA-CE/2019/ADAPTADA) Para Hobbes, a mais alta ex-
pressão da justiça está no cumprimento das determinações do soberano, na medida em que
os homens alienaram seus interesses pessoais àquele que lhe dá em troca a segurança e a
paz. Mas ao mesmo tempo essa submissão ao poder estatal não nega o fato de que haja uma
lei da natureza, que se expressa pela razão, e que, justamente pelas insuficiências dos homens
em concretizá-la em estado de natureza, é suplantada pela lei civil do soberano. [...] O direi-
to do homem à sua preservação resulta da razão mas, além disso, é uma condição humana
concreta. Por direito natural, os homens podem se defender, mas, mesmo que não lhes fosse
permitido, fariam-no do mesmo modo. [...] Por isso, a lei fundamental da natureza, que manda
buscar e seguir a paz, é imediatamente acompanhada por um direito natural fundamental, pro-
curar todos os meios de defesa própria em caso de ausência de paz.
(MASCARO, Alysson Leandro. Filosofia do Direito. São Paulo: Atlas, 2018, p. 167 e 169)
a) Errada. O estado de natureza é caracterizado pela guerra de todos contra todos, não há ordem.
b) Errada. Porque o poder soberano somente existe no estado civil, logo não é igual ao estado
de natureza.
c) Certa. O estado civil somente é possível porque somos dotados de razão e a utilizamos para
sairmos do estado de natureza e eleger o soberano.
d) Errada. Estado de natureza é ausência de ordem social e civil, logo não é o mesmo que estado
civil, este sim constituído por ordem estatal, o direito natural, por sua vez, é constituído por um con-
junto de preceitos presentes na própria razão. Então, como se observa, são conceitos distintos.
Letra c.
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a) Errada. Estado de natureza e estado civil não são semelhantes, ao contrário, enquanto o pri-
meiro prevalece tão somente o direito natural, no segundo há constituição do direito civil que
determina as relações humanas.
b) Certa. É o gabarito, Hobbes caracteriza o estado de natureza como guerra de todos contra todos.
c) Errada. Porque Locke defende exatamente o contrário, a propriedade é direito inviolável em
sua doutrina.
d) Errada. Para Rousseau, o objetivo do pacto é a liberdade e não a segurança.
Letra b.
a) Certa. O estado de natureza para Locke implica o direcionamento pelo direito natural.
b) Errada. O direito natural, por mais frágil que seja em razão de não ter um poder externo para
garantir o seu cumprimento, faz-se presente no estado de natureza e, tendo a razão como guia,
é capaz de criar algum freio aos atos humanos.
c) Errada. As regras do estado de natureza são aquelas advindas do direito natural.
d) Errada. Porque se refere a concepção hobbesiana.
Letra a.
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a) O poder judiciário aplica as leis; o poder legislativo cria e aprova as leis; o poder executivo
executa normatizações e deliberações referentes à administração do Estado.
b) O poder judiciário tem força para administrar o executivo; o poder executivo tem força para
conduzir o judiciário; o poder legislativo tem força para tutelar o judiciário.
c) O poder legislativo aplica as leis; o poder executivo gerencia as normatizações e delibera-
ções relacionadas à administração do Estado; o poder judiciário aprova as leis.
d) O poder executivo cria as leis; o poder judiciário sanciona as leis; o poder legislativo efetiva
as leis na administração do Estado.
Montesquieu estabelece uma ponte com as ciências empíricas, e particularmente com a física
newtoniana, que ele parafraseia, desse modo, a ideia de lei se traduz como relações necessá-
rias que derivam da natureza das coisas. Nosso gabarito, letra “d”.
Letra d.
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Tomando como referência a teoria da tripartição dos poderes de Montesquieu, é correto concluir que
a) A tripartição dos poderes é essencial para que os cidadãos usufruam de liberdade e segu-
rança entre si e perante o Estado.
b) Embora presente em Repúblicas e em Monarquias, a tripartição dos poderes foi pensada exclu-
sivamente para as monarquias como meio de contenção de eventuais arbitrariedades do monarca.
c) Diferentemente da teoria dos freios e contrapesos, a tripartição dos poderes assenta-se na ideia do
equilíbrio entre os poderes proporcionado pela supremacia do legislativo sobre os demais poderes.
d) Embora politicamente útil, a acumulação das funções do executivo e do legislativo sob o co-
mando do monarca se torna perniciosa ao próprio governo, diferentemente da função judiciá-
ria, essa sim poderá ser cumulada com o executivo sem consequências negativas ao governo.
a) Certa. A tripartição dos poderes se presta à liberdade do cidadão, porque garante que os
poderes do Estado estejam constantemente sob fiscalização um do outro e, ao mesmo tempo,
contrariando-se mutuamente, evita que arbitrariedades aconteçam.
b) Errada. Por associar a tripartição dos poderes a uma exclusividade das monarquias, ainda
que Montesquieu tenha preferência por aquele regime de governo, não é verdade que a tripar-
tição por ele pensada deva ser exclusiva das monarquias.
c) Errada. Por contrapor tripartição dos poderes com a teoria dos freios e contrapesos, não há
essa oposição, a teoria dos freios e contrapesos tem na tripartição dos poderes o meio para se
garantir o equilíbrio entre os poderes, ainda, a mesma alternativa faz referência a supôs supre-
macia de um poder sobre o outro, o que seria um contrassenso, já que o objetivo é o equilíbrio
entre os poderes.
d) Errada. Porque Montesquieu entende que nenhum dos poderes poderia cumular numa única
pessoa, ainda que estivéssemos numa monarquia, ele ainda considera que essa acumulação
não é boa nem para o Estado e nem para o próprio governo.
Letra a.
Acerca das considerações de Kant, é correto afirmar que uma ação justa é aquela que
a) possa permitir a coexistência da liberdade do arbítrio de um com a liberdade de outro segun-
do uma lei universal.
b) garanta o máximo exercício da individualidade segundo uma lei universal de natureza, ainda
que em detrimento da coletividade.
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c) supere a dicotomia entre estado de natureza e lei natural, na medida em que, por meio da lei
universal, garanta o máximo de liberdade individual.
d) submete-se a lei civil apenas quando esta é absorvida moralmente pelo indivíduo.
a) Certa. Trata-se do conceito de ação justa que se coaduna com a própria concepção de
direito de Kant.
b) Errada. A individualidade é possível, mas não poderá se manifestar em detrimento da coletividade.
c) Errada. Não faz sentido;
d) Errada. Porque a lei não carece de absorção moral para que os atos sob ela condicionados
sejam tidos como justos;
Letra a.
Do que se extrai do pensamento de Kant acerca da sua concepção de direito, pode-se afirmar que
a) A liberdade do arbítrio implica na faculdade de escolher ou não agir a favor ou contra a lei.
b) É correta toda ação que permite, ou cuja máxima permite, liberdade do arbítrio de cada um
coexistir com a liberdade de todos segundo uma lei universal.
c) As normas de direito se constituem como resultantes da vontade externa do legislador, por
esse motivo sempre carecem de coação para serem efetivas.
d) O direito estrito é representado pela observância moral das normas, o que torna desneces-
sária a coerção para garantia do exercício dos arbítrios individuais.
Kant compreende o direito como meio que proporciona a convivência recíproca dos indivíduos
que formam uma coletividade. Reconhece que cada um possui seu livre arbítrio o que poderia
tornar impossível a ideia de sociedade, mas aqui o direito assume papel primordial, porque
proporciona os meios necessários para que a liberdade de cada um possa existir.
Letra b.
029. (GRANOAB/2º SIMULADO DO EXAME XXXV/2022) “Na definição do direito [de Kant] po-
dem ser revelados os três requisitos dos quais falamos anteriormente: 1. o direito pertence ao
mundo das relações externas; 2. ele se constitui na relação de dois ou mais arbítrios; 3. a sua
função não é de prescrever este ou aquele dever substancial com relação aos sujeitos dos vá-
rios arbítrios, mas de prescrever-lhes a maneira de coexistir com o arbítrio de todos os outros”.
(BOBBIO, Norberto. Direito e estado no pensamento de Emmanuel Kant. Brasília, EdUnB, 1995).
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Na concepção de direito kantiana, a liberdade é central e se mostra por meio da busca pela
conciliação entre os diversos livres-arbítrios.
Sobre esse tema, assinale a alternativa que corresponde a interpretação feita por Bobbio acer-
ca da concepção de direito em Kant.
a) O direito independe do Estado para sua realização, porque está no âmbito interno na medida
em que corresponde ao livre-arbítrio de cada um.
b) O direito é liberdade, mas é liberdade limitada pela presença da liberdade dos outros.
c) Ao associar o direito à relação entre dois ou mais livres-arbítrios, há uma simetria entre direi-
to e moral, porque desloca o direito para o mundo interno.
d) A limitação da liberdade, operada pelo direito estatal, torna impossível a sua realização
enquanto liberdade efetiva, trata-se tão somente de condicionamento da conduta pela coerci-
tividade do Estado.
Norberto Bobbio, em sua obra Teoria do Ordenamento Jurídico, afirma que no uso histórico da
filosofia do direito e da jurisprudência, emergem três significados diferentes do termo sistema,
quais sejam: sistema dedutivo; sistema indutivo e sistema como validade do princípio que ex-
clui a incompatibilidade de normas.
Nos termos da obra em referência, é correto afirmar que no enxerto acima, do filósofo G. W.
Leibniz, a teoria do direito se enquadra no significado de
a) sistema indutivo, porque a definição de direito é resultante da experiência das normas reali-
zadas pelo Judiciário.
b) sistema como validade que exclui a incompatibilidade de normas, porque se vincula a exis-
tência fática de normas que não podem ser postas de forma antinômica.
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c) sistema dedutivo, porque todas as normas derivam de princípios gerais e não são fundadas
na experiência dos fatos, ainda que sirvam para regulá-los por antecipação.
d) direito natural oriundo da razão prática operada pelo legislativo, por isso suas normas são
deduzidas logicamente da norma fundamental.
Por meio da interpretação do texto é possível eliminar as alternativas “a”, “b” e “d”, isso porque
Leibniz se refere a teoria do direito constituída por meio da razão e não da experimentação.
Acontece que as três alternativas fazem referência a experiência:
a) Errada. Refere-se ao direito “resultante da experiência”.
b) Errada. Refere-se a “existência fática”.
d) Errada. Refere-se ao direito natural “oriundo da razão prática”.
Como se vê, todas essas alternativas contrariam o que está presente no enxerto, logo estão erradas.
Letra c.
Odair José
Mestre em Sociologia pela Universidade de Brasília (2002), bacharelado em Ciências Sociais pela
Universidade Federal de Goiás (1999) e, atualmente, está cursando Direito pelo Centro Universitário de
Brasília. É professor da Faculdade Processus-DF. Tem experiência nas áreas de Sociologia, Filosofia do
Direito, História do Direito e em Ciência Política com ênfase em Sociologia Jurídica e Teoria do Estado,
atuando, principalmente, nos seguintes temas: Estado, Direito e Sociedade.
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