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MÓDULO 5

Como estimular as Funções Executivas no TEA?

Professora: Renata Massalai


Neuropsicóloga e Mestre em Neurociências pela PUC-Rio (CRP 16º/3866)

2020

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Como estimular as Funções Executivas no TEA?

Como vimos ao longo do curso “A Neuropsicologia do TEA”, as habilidades que


compõem as funções executivas são essenciais para coordenar ações, pensamentos e emoções,
a fim de atingir objetivos, metas para resolver problemas, estando diretamente relacionadas ao
desempenho acadêmico e profissional (Fuentes et al., 2014).

Tais capacidades possibilitam o indivíduo gerenciar seu comportamento e suas ideias


de forma autônoma e independente. Sem um bom desenvolvimento do funcionamento
executivo, os indivíduos podem apresentar dificuldade para planejar, organizar tarefas,
dificuldade em inibir respostas insatisfatórias frente às exigências das tarefas do cotidiano,
dificuldade em armazenar o conteúdo aprendido e automonitorar os erros nas tarefas para
corrigi-los em seguida, dificuldade em alternar curso do pensamento, recrutando novas
estratégias cognitivas, além de dificuldade em mudar o foco da atenção quando necessário, ou
alterná-la diante de estímulos concorrentes, e até mesmo de manter a atenção por um período
maior de tempo, conforme a exigência e complexidade da tarefa (Diamond, 2013).

Para essa autora, ainda, a condição socioemocional da criança, marcada pela qualidade
das relações com pais e cuidadores, é fundamental para a formação de um bom
funcionamento executivo. Se a criança estiver estressada, triste, sem dormir direito, sem
receber atenção dos adultos, sem se exercitar adequadamente ou com problemas nutricionais,
ela não será capaz de desenvolver adequadamente seu funcionamento executivo.

Neste sentido, Cantiere e colaboradores (2012) selecionaram atividades de intervenção


neuropsicológica para estimular cognitivamente as funções executivas, no qual contemplam o
domínio de execução, conforme a Tabela 1.

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Tabela 1. Tabela de jogos lúdicos de estimulação de funções executivas

Jogos Lúdicos Funções cognitivas treinadas


Construção de blocos objetivo Atenção difusa e memória de trabalho
Atenção concentrada, difusa, memória de
Jogo dos Sete erros
trabalho, viso construção espacial
Dominó de contas matemáticas e de Atenção concentrada e difusa e memória
imagens de trabalho
Atenção concentrada, difusa, memória de
Jogo de ligar os pontos
trabalho e flexibilidade cognitiva.
Atenção difusa e concentrada, memória e
Quebra-Cabeças
viso construção espacial
Atenção concentrada e difusa e memória
Memória
de trabalho

No que se refere a atividades que exigem domínio da função verbal, Cantiere e


Colaboradores (2012) propõem, conforme a Tabela 2:

Tabela 2. Tabela de jogos de lúdicos para estimular funções executivas

Jogos Lúdicos Funções cognitivas treinadas


Atenção concentrada, memória
Contar e Recontar histórias
operacional e flexibilidade cognitiva.
Atenção concentrada e difusa, memória de
Caça-Palavras
trabalho
Atenção concentrada, memória
Organizar Figuras operacional, viso construção espacial e
flexibilidade cognitiva.

Dessa forma, programa de intervenção em função executiva tem sido elaborado para
intervenção clínica (Diamond & Ling, 2016). Neste cenário, no Brasil, Dias e Seabra (2013)
elaboraram o Programa de Intervenção em Autorregulação e Funções Executivas (PIAFEx)
para psicólogos, pedagogos, psicopedagogos, o qual tem contribuído para estimular o
desenvolvimento de funções executivas e autorregulação em crianças pré-escolares e
ingressantes no Ensino Fundamental.

No que tange ao processo de aprendizagem, Consenza (2011) nos aponta evidências


neurocientificas de como o cérebro aprende, abordando a importância de estimular os
sentidos, no qual favorece a memorização do que foi aprendido. Neste sentido, recursos
multissensoriais são importantes para ativação de múltiplas redes neurais que estabelecerão
associação entre si, proporcionando um pensamento mais complexo sobre o que se aprende,

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contribuindo com a memorização do que foi aprendido. Uma das estratégias para consolidar a
aprendizagem, segundo esses autores, são a retomada do conteúdo, que consiste em perguntar
ao aprendiz se ele entendeu sobre o que o professor acabou de explicar, rever e reescrever a
matéria, pois ajudará a consolidação da memória de trabalho para armazenar e manipular as
informações recentes para evocá-las, e também ser possível fazer associações e comparações
com outros conhecimentos armazenados na memória de longo prazo e relacionados ao que foi
apresentado. Da mesma forma, estes autores afirmam também que é importante apresentar
conteúdos e experiências aplicadas ao cotidiano e ao contexto de vida do aluno, pois isso
contribuirá para a consolidação das memórias, além de ter uma boa qualidade de sono quando
ocorre a fixação das memórias.

Além disso, o despertar da curiosidade e tornar o assunto interessante, por exemplo,


auxiliam na promoção de aprendizagem, pois a motivação é crucial para aprendizagem, ao
gerar curiosidades aumentando o interesse do aprendiz, favorecendo sua atenção, já que as
emoções influenciam funções importantes para a aprendizagem, como a atenção, percepção,
memória, funções executivas, conforme Ramos e Hamdan (2014).

Para Boruchovitch (2009), situações que favorecem a aprendizagem são aquelas


motivadoras, por exemplo, permitir que a sala de aula seja um ambiente acolhedor que
desperte no aluno o sentimento de pertença. Para esta autora, para promover a motivação, o
próprio professor deve ser um modelo de pessoa motivada, não sendo somente uma
característica do aluno em si, sendo esta mediada pelo professor, escola e ambiente de sala de
aula também. Assim, as emoções são consideradas cruciais para se compreender o processo
de aprendizagem dos indivíduos, além dos aspectos cognitivos e afetivos, embora sejam
diferentes, são também indissociáveis (Ferreira et al., 2009).

A atividade do núcleo accumbens está relacionada com a antecipação do reforço e a


intensidade do reforço parece ser mediada pela ação da amígdala, e, por sua vez, o valor
hedônico dos estímulos é avaliado pelo córtex órbito-frontal que, ao serem ativados os
neurônios dopaminérgicos, os quais exercem sua função para aquisição da recompensa no
aprendiz, permite o mesmo perceber que o que ele aprendeu dá bons resultados, motivando a
experimentar mais, a repetir o que aprendeu (Montiel, 2009).

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É importante que o professor motive os alunos, reconhecendo seu empenho,
fornecendo orientação, mostrando e corrigindo erros, dando feedbacks, buscando tornar o
aluno participante, ativo e sujeito responsável por sua aprendizagem, contribuindo também
para o desenvolvimento das funções executivas (Fonseca, 2008).

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Referências Bibliográficas

Boruchovitch, E. (2009). A. motivação do aluno (4. . ed. ). R. de J. E. V. (2009). A motivação


do aluno (4a). Vozes.

Cantiere, C. N., Ribeiro, A. de F., Khoury, L. P., Seraceni, M. F. F., Macedo, L. F. R., &
Carreiro, L. R. R. (2012). Treino cognitivo em crianças e adolescentes com sinais de
desatenção e hiperatividade: Proposta de protocolo de intervenção neurológica nos
domínios verbal e executivo. Cadernos de Pós-Graduação Em Distúrbios Do
Desenvolvimento, 12(1), 98–107.

Consenza, R. M. (2011). Neurociência e educação: Como o cérebro aprende. ARTMED.

Dias, M. N & Seabra, G. A (2013). Piafex – Programa de Intervenção em Autorregulação e


Funções Executivas. Mamon. https://memnon.com.br/produto/piafex-programa-de-
intervencao-em-autorregulacao-e-funcoes-executivas/

Diamond, A. (2013). Executive Functions. Annual Review of Psychology, 64(1), 135–168.


https://doi.org/10.1146/annurev-psych-113011-143750

Diamond, A., & Ling, D. S. (2016). Conclusions about interventions, programs, and
approaches for improving executive functions that appear justified and those that, despite
much hype, do not. Developmental Cognitive Neuroscience, 18, 34–48.
https://doi.org/10.1016/j.dcn.2015.11.005

Ferreira, F. de O., Penna, F. J., & Haase, V. G. (2009). Aspectos Biopsicossociais - Da Saúde
na Infância e Adolescência. Coopmed.

Fuentes, D., Malloy-Diniz, L. F., Camargo, C. H. P. de, & Consenza, R. M. (2014).


Neuropsicologia: Teoria e prática (2a). ARTMED.

Fonseca, V. (2008). Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: abordagem


neuropsicológica e psicopedagógica. Vozes.

Montiel, J. M. (2009). Atualização em transtornos de aprendizagem. Artes Médicas.

Ramos, A. A., & Hamdan, A. C. (2014). Neurociência e educação: mitos e desafios ao


diálogo. In Baccon, A. L., Souza, A. C., Gabriel, F. A., & Silva, J. C. (Eds.). Diálogos
interdisciplinares entre filosofia e ciências humanas.187-202. Rio de Janeiro: Editora
Multifoco.R.

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