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Assistência de enfermagem no pré e pós-procedimentos anestésicos

Sumário

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 3
OBJETIVOS E CRITÉRIOS DE ESCOLHA EM ANESTESIA................................................................ 4
TIPOS DE ANESTESIA ................................................................................................................. 10
ANESTESIA GERAL ..................................................................................................................... 10
ANESTESIA RAQUIDIANA, INTRADURAL, BLOQUEIO SUBARACNÓIDEO OU ............................ 12
ANESTESIA PERIDURAL, EPIDURAL OU EXTRADURAL .............................................................. 13
APARELHO DE ANESTESIA E MONITORAÇÃO DO PACIENTE .................................................... 15
PRINCIPAIS FÁRMACOS UTILIZADOS EM ANESTESIA ............................................................... 16
ANESTÉSICOS LOCAIS E REGIONAIS .......................................................................................... 23
VIAS AÉREAS DIFÍCEIS ............................................................................................................... 24
Manuseio da intubação traqueal difícil não antecipada em pacientes adultos ...................... 27
PRÁTICAS RECOMENDADAS ..................................................................................................... 35
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 41

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INTRODUÇÃO
A anestesia tem seus primeiros relatos de aplicação para alívio da dor no ano de
1800, quando o químico inglês Humphry Davy utilizou óxido nitroso (“gás hilariante”). Em
1846, o dentista William Thomas Green Morton utilizou vapores de éter sulfúrico para
promoção da analgesia durante a primeira cirurgia com anestesia geral, para remoção de um
tumor vascular.
A prática de anestesia caracterizou-se como a primeira especialidade de Enfermagem
nos Estados Unidos, com o início da atuação dos enfermeiros em meados do século XIX, o
que se fortaleceu pelo trabalho da enfermeira Agatha Hodgins em território americano e, na
sequência, pelo treinamento e capacitação de profissionais médicos e enfermeiros na
Europa durante a Primeira Guerra Mundial.
A anestesiologia desenvolveu papel pioneiro nas iniciativas relacionadas à promoção
da segurança do paciente, associada ao aprimoramento dos tipos de monitorização,
avanços tecnológicos, treinamento dos profissionais e desenvolvimento de novos fármacos.
Observou-se, ao longo dos anos, redução das taxas de mortalidade relacionadas ao
procedimento anestésico, mas ainda permanece a ocorrência de incidentes ocasionados por
práticas inseguras e fragilidades de protocolos assistenciais.
Dessa forma, a anestesia exige o planejamento de todas as fases que compõem a
assistência pelos profissionais envolvidos no procedimento. Assim, protocolos e diretrizes
precisam ser implementados e seguidos pelos profissionais, para a garantia da uniformidade
da assistência, da qualidade e da segurança dos serviços prestados.
O procedimento anestésico inclui a avaliação pré-anestésica, a anestesia
propriamente dita, o período de recuperação da anestesia, bem como a analgesia pós-
operatória.
No Brasil, de acordo com o artigo 4° da Lei nº 12.842, de 10 de julho de 2013, a
execução de sedação profunda, de bloqueios anestésicos e de anestesia geral é atividade
privativa do médico6. Entretanto, o enfermeiro tem papel relevante nesse processo,
atuando juntamente com o anestesiologista para garantir a segurança das intervenções em
todas as etapas do procedimento.

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OBJETIVOS E CRITÉRIOS DE ESCOLHA EM ANESTESIA

Os objetivos da anestesia, de acordo com o tipo de procedimento, englobam:


analgesia, supressão da consciência, redução da ansiedade e relaxamento muscular para a
execução do procedimento cirúrgico.
A escolha do tipo de anestesia é baseada no tipo, na duração e no posicionamento
necessário durante o procedimento cirúrgico, considerando as condições clínicas e
psicológicas do paciente. Nesse contexto, a elaboração do plano anestésico pelo
anestesiologista deve ser individualizada e com base na visita pré-anestésica.
A American Society of Anesthesiologists (ASA) definiu uma classificação para os
pacientes cirúrgicos de acordo com hábitos de vida e estado físico, categorizando em seis
classes:
• ASA I – paciente saudável;
• ASA II – paciente com doença sistêmica leve;
• ASA III – paciente com doença sistêmica grave;
• ASA IV – paciente com doença sistêmica grave, com ameaça constante à vida;
• ASA V – paciente moribundo, que não sobreviverá sem a cirurgia;
• ASA VI – paciente com morte cerebral, cujos órgãos estão sendo removidos para
doação;
• Classe E – paciente que requer cirurgia de emergência.

A tabela apresenta as especificações de cada classe.

Tabela - Sistema de classificação de estado físico de asa

Classif Nomenclatur Características


icação a
ASA I Paciente Saudável, não fumante, nenhum ou consumo
saudável mínimo de álcool.

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ASA II Paciente Doenças leves, sem limitações funcionais


com doença substanciais. Exemplos incluídos (mas não limitados):
sistêmica leve fumante diário, uso de álcool socialmente, gravidez,
obesidade (30 < IMC < 40 kgm2), diabetes mellitus
(DM) e hipertensão arterial sistêmica (HAS), bem
controlados, doença leve do
pulmão.
ASA III Paciente Substancial limitação funcional: uma ou mais
com doença doenças moderadas a graves. Exemplos incluídos (mas
sistêmica grave não limitados): DM e HAS mal
controlados, doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC), obesidade mórbida (IMC ≥ 40 kgm2),
hepatite ativa, dependência ou abuso de álcool, uso de
marcapasso, moderada redução da fração de ejeção,
insuficiência renal crônica (IRC) com sessões de diálise
regular, bebê prematuro, histórico de infarto agudo do
miocárdio (IAM) > 3 meses, acidente vascular cerebral
(AVC), ataque isquêmico transitório (AIT),
cateterismo/stents.
ASA IV Paciente Exemplos incluídos (mas não limitados): IAM
com doença recente (< 3 meses), AVC, AIT, cateterismo/stents,
sistêmica grave com isquemia cardíaca em curso ou disfunção valvar grave,
ameaça constante à redução severa da fração de ejeção, sepse, coagulação
vida intravascular disseminada, insuficiência renal aguda
(IRA) ou IRC com
sessões de diálise regular.
ASA V Paciente Exemplos incluídos (mas não limitados): ruptura
moribundo que não de aneurisma abdominal/torácico, trauma massivo,
sobreviverá sem a sangramento intracraniano com efeito de massa,

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cirurgia intestino isquêmico em face de patologia cardíaca


significativa ou disfunção de múltiplos
órgãos/sistemas.
ASA VI Paciente
com morte cerebral
cujos órgãos estão
sendo removidos
para doação
Classe Paciente que Agrega-se a letra E para qualquer uma das
E requer cirurgia de classes precedentes, no caso de haver necessidade de
emergência realização de uma intervenção cirúrgica de
emergência.

Além disso, é importante a avaliação do risco cirúrgico de cada paciente, que tem por
objetivo estabelecer um adequado planejamento do cuidado anestésico e cirúrgico, com
vistas à redução da morbimortalidade.
Os pacientes podem ser classificados como sendo de baixo risco, risco intermediário
e alto risco, definidos a partir do porte cirúrgico e de critérios clínicos, de acordo com a
tabela.

Tabela classificação de risco de acordo com o porte cirúrgico e critérios clínicos


CLASSIFICAÇÃO DE RISCO CRITÉRIOS CLÍNICOS
Baixo Risco Alto risco Menores
risco(<1%) intermediário (1- (>5%)
5%)

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Não Dois Três ou mais História de doença


apresenta critérios maiores critérios maiores ou cardiovascular, cerebrovascular
critérios ou três critérios quatro ou mais ou respiratória grave
clínicos menores critérios menores compensada.
Pequ Médio Grande porte Insuficiência renal crônica
eno Porte porte dialítica compensada.
Mam Abdominal Cirurgia Diabetes mellitus,
a aórtica de insulinodependente. Síndrome
emergência da apneia obstrutiva do sono
Denta Carótida Intestino grave.
l grosso - urgência ou Obesidade em grau maior
emergência, grandes ou igual a II (IMC maior ou igual a
cirurgias do aparelho 35 kg.m-2).
digestivo
Endóc Reparo de Procedimento Maiores
rina aneurisma s gerais abdominais Idade superior a 70 anos,
endovascular ou de grande porte em com doença crônica
angioplastia pacientes com mais descompensada.
arterial periférica de 69 anos Doença cardiovascular,
Olftál Cirurgia de Cirurgia cerebrovascular ou respiratória
mica cabeça e vascular abdominal grave descompensada.
pescoço eletiva Doença vascular grave ou

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Ginec Neurocirúr Cirurgia doença neurológica crônica


ológicaw gicas principais arterial dos membros descompensada.
inferiores Abdome agudo
descompensado.
Previsão ou estimativa de
grandes perdas sanguíneas
(maior que 20% da
volemia ou
maior de 1000 mL no
adulto; e maior que 7 mL.kg-1 ou
maior que 10% da volemia na
criança).
Choque de qualquer
etiologia. Insuficiência
respiratória.
Insuficiência renal, aguda
ou crônica descompensada.
Cirurgia oncológica
extensa. Insuficiência hepática
descompensada. Cirurgia de
urgência ou emergência.

Tabela classificação de risco de acordo com o porte cirúrgico e critérios clínicos


CLASSIFICAÇÃO DE RISCO CRITÉRIOS CLÍNICOS
Recon Ortopédica Revisões
strutiva s principalmente complexas de quadril
(quadril e coluna ou joelho
vertebral)

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Ortop Transplant Fratura de


édica menor e Renal pescoço ou fêmur em
(cirurgia no pacientes com mais
joelho) de 69 anos ou com
condições
clínicas
descompensadas
Uroló Urológicas Esôfago,
gica menor de maior porte: procedimentos
cistectomias, complexos
grandes
ressecções
urológicas
Estômago,
duodeno,
procedimento
s complexos;
transplante de fígado

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TIPOS DE ANESTESIA

Os tipos de anestesia são classificados em:


• anestesia geral: inalatória, venosa e balanceada (inalatória e venosa);
• anestesia regional: anestesia neuroxial (peridural, subaracnóidea) e
bloqueio de plexos nervosos;
• anestesia combinada: geral e regional;
• anestesia local.

ANESTESIA GERAL

A anestesia geral caracteriza-se por inconsciência reversível (hipnose), imobilidade


(relaxamento muscular), analgesia (ausência de dor) e bloqueio dos reflexos autonômicos
por meio da administração de fármacos específicos.
A anestesia geral pode ser realizada pelas vias: inalatória (anestesia geral inalatória),
venosa total (anestesia geral intravenosa) ou ambas (anestesia geral balanceada).
Na anestesia geral inalatória, os fármacos anestésicos voláteis são administrados sob
pressão e o estado de anestesia é alcançado quando o agente inalado atinge a concentração
adequada no cérebro, provocando anestesia, inconsciência e amnésia. Na anestesia venosa
total, a infusão dos fármacos é executada por um acesso venoso e tem como meta atingir os
quatro componentes da anestesia (hipnose, analgesia, relaxamento muscular e bloqueio
neurovegetativo), proporcionando boas condições cirúrgicas. Na anestesia geral balanceada,
o anestesiologista administra uma combinação de anestésicos inalatórios e intravenosos. É
muito difundida e largamente utilizada, uma vez que não existe um único anestésico que
seja ideal e que proporcione uma anestesia adequada.
A anestesia geral ocorre em três períodos: indução, manutenção e reversão.
O período de indução consiste no preparo do paciente para o início do procedimento
anestésico, envolvendo monitoração, pré-oxigenação, administração do agente hipnótico,
analgésico e

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relaxante muscular, seguido da intubação orotraqueal (IOT).


O período de manutenção, que abrange o início até o término do procedimento
cirúrgico, é o momento de inalação e/ou infusão das doses contínuas ou tituladas dos
fármacos para garantir a execução da cirurgia, por meio da inibição da consciência
intraoperatória, da analgesia e do relaxamento muscular.
O período de reversão da anestesia geral envolve a supressão dos gases e/ou
fármacos administrados durante o procedimento anestésico por meio de antagonistas
específicos, favorecendo o despertar seguro do paciente e a subsequente extubação.
Para a realização de uma anestesia geral, os anestesiologistas utilizam os seguintes
tipos de fármacos combinados:
• Hipnóticos: geram inconsciência e amnésia;
• Opioides: promovem analgesia e proteção contra reflexos autonômicos;
• Bloqueadores neuromusculares: visam à imobilidade do paciente;
• Bloqueadores regionais associados: promovem analgesia e proteção
autonômica;
• Adjuvantes: visam minimizar efeitos diversos, como controle da pressão
arterial, frequência cardíaca e tratamento de intercorrências.

BLOQUEIOS REGIONAIS

A anestesia regional é definida como a perda reversível da sensibilidade, decorrente


da administração de um ou mais agentes anestésicos a fim de bloquear ou anestesiar a
condução nervosa a uma extremidade ou região do corpo.
A anestesia regional pode ser usada em conjunto com a anestesia geral, reduzindo a
quantidade de analgésicos administrados. Os bloqueios regionais podem ser realizados em
diferentes segmentos do corpo, envolvendo plexos e nervos (plexo cervical, interescalênico,
nervo inguinal, sacral, entre outros).
O início e a duração do bloqueio estão relacionados com o fármaco utilizado e
também com sua concentração e seu volume. Planejamento, habilidade e uso de
equipamentos adequados são fundamentais para evitar eventos adversos associados aos

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bloqueios.
Dentre as complicações relacionadas aos bloqueios periféricos, incluem-se:
toxicidade por anestésico local, lesão traumática de nervos, infecções e danos a estruturas
adjacentes. Nesse sentido, o uso do ultrassom caracteriza-se como uma prática de
relevância para maior precisão na execução de bloqueios periféricos, permitindo a
visualização de vasos de grande calibre e artérias, associado à utilização de estimulador
elétrico (neuroestimulador) para visualizar a contração muscular ao estímulo.
A toxicidade por anestésico é resultante de concentrações plasmáticas excessivas de
anestésico local, seja devido à injeção intravascular direta não intencional ou pela absorção
sistêmica de doses maiores de anestésicos locais realizada durante bloqueios de nervos
periféricos, anestesia peridural ou grande volume de anestesia por infiltração. Dentre os
principais sintomas de intoxicação, podem-se observar: queixa do paciente de zumbido ou
gosto metálico na boca, sonolência, dormência, parestesia facial, inquietação, zumbido ou
alucinações auditivas e arritmias súbitas.
Quanto às intervenções frente à intoxicação por anestésico local, destacam-se a
manutenção da via aérea, oxigenação e administração de solução lipídica 20%15.

ANESTESIA RAQUIDIANA, INTRADURAL, BLOQUEIO SUBARACNÓIDEO OU


RAQUIANESTESIA

Na raquianestesia, um anestésico local é injetado no espaço subaracnóideo e se


mistura ao líquido cefalorraquidiano (LCR ou líquor). Ocorre então bloqueio nervoso
reversível das raízes nervosas anteriores e posteriores, dos gânglios das raízes nervosas
posteriores e de parte da medula, levando o indivíduo à perda das atividades autonômica,
sensitiva e motora.
Para tanto, uma agulha espinhal é introduzida em um espaço lombar inferior, com o
paciente em decúbito lateral ou sentado. O anestésico local pode ser uma solução
hiperbárica, ou seja, mais pesada que o LCR, que, pela ação da gravidade, deposita-se no
líquor após a injeção. Alterando-se a posição do indivíduo, o bloqueio pode ser direcionado
para cima, para baixo ou para um lado do cordão espinhal.
A anestesia subaracnóidea é indicada em procedimentos cirúrgicos de membros

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inferiores, pelve e abdome inferior.


Durante a anestesia subaracnóidea, complicações associadas ao procedimento
podem ocorrer, como hemorragias, hipotensão, infecções e parada cardiorrespiratória,
exigindo intervenção rápida e segura.
A hipotensão é um exemplo frequente de complicação, que ocorre rapidamente após
a injeção de uma solução anestésica no espaço subaracnóideo. É causada pela vasodilatação,
associada ao bloqueio dos nervos simpáticos, que controlam o tônus vasomotor. Desta
forma, ocorre acúmulo sanguíneo periférico, que resulta em menor retorno venoso e menor
débito cardíaco. Para a prevenção da resposta hipotensiva fisiológica, uma intervenção
consiste na hidratação prévia do paciente. Quando essa medida não for eficiente, deve ser
administrada efedrina por
via intravenosa.
Além disso, podem ocorrer punções inadvertidas da dura-máter durante a realização
de uma anestesia subaracnóidea ou da aplicação de grandes quantidades de anestésico local
em região lombar ou torácica. Tanto a anestesia espinhal total, quanto um bloqueio
acidentalmente alto, são capazes de causar paralisia dos músculos respiratórios, razão pela
qual o paciente pode necessitar de IOT e ventilação.
Juntamente com os efeitos fisiológicos, são descritas outras complicações, como a
cefaleia pós-punção espinhal. A dor é resultante do extravasamento de LCR pelo orifício da
punção, o que provoca, na posição ortostática, uma tensão intracraniana nos vasos e nervos
meníngeos na dura-máter, que pode prolongar-se por até duas semanas. Como tratamento
clínico, recomenda-se que o paciente faça repouso e, se a dor persistir, realiza-se o
procedimento blood patch, tamponamento feito na dura-máter, com aplicação de 10 a 15
mL de sangue autólogo no espaço epidural.

ANESTESIA PERIDURAL, EPIDURAL OU EXTRADURAL

Baseia-se na aplicação de um anestésico em um espaço virtual, entre o ligamento


amarelo e a dura-máter. As principais vantagens são: menor incidência de cefaleia, quando
comparada à raquianestesia; possibilidade de executar bloqueios mais restritos às faixas de
dermátomos; doses intermitentes ou contínuas podem ser administradas por meio da

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instalação de um cateter e prolongar a analgesia pós-operatória.


Como desvantagens, pode-se considerar maior tempo de latência, menor
intensidade de bloqueio e maior possibilidade de toxicidade pelo anestésico local, já que são
utilizados volumes maiores que os usados na raquianestesia. Tecnicamente, a anestesia
peridural é mais complexa do que a raquianestesia, requerendo maior habilidade do
anestesiologista.
Ressalta-se que a mudança de decúbito do paciente, logo após a infusão da
medicação, não causa deslocamento gravitacional do fármaco, diferentemente do que
ocorre na anestesia subaracnóidea.
O início da anestesia peridural é lento. Tal como na raquianestesia, há possibilidade
de hipotensão, mas não abruptamente, de modo que ela pode ser controlada com rápida
infusão intravenosa de solução salina (soro fisiológico a 0,9%) ou com a mudança de posição
do paciente para decúbito dorsal horizontal.
As complicações e os problemas relacionados com esse tipo de anestesia incluem:
bloqueios insuficientes e falhas, dor ou reflexos viscerais, dificuldade para passar o cateter
epidural, punção inadvertida da dura-máter, com bloqueio espinhal total, canulações de
veias epidurais, parada cardíaca, convulsões, hipotensão, hematoma e abscesso peridural.

BLOQUEIO CAUDAL

Fisiologicamente semelhante à anestesia peridural, o bloqueio caudal é realizado por


punção do hiato sacral. Pode ser uma alternativa ao bloqueio epidural para procedimentos
cirúrgicos e obstétricos das regiões perineal e anorretal. É comumente utilizado para
analgesia infantil, combinado com anestesia geral.

ANESTESIA LOCAL

A anestesia local bloqueia a condução de impulsos ao longo dos axônios do sistema


nervoso periférico, pela obstrução dos canais de sódio da membrana, impedindo a
despolarização. A anestesia local pode ser tópica ou infiltrativa.
A tópica consiste na aplicação de anestésicos locais em mucosas (oral, nasal, esôfago,

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trato geniturinário). A infiltrativa é a aplicação dos fármacos no meio intra e/ou


extravascular, atingindo seu objetivo ao chegar às terminações nervosas específicas.
Apesar da simplicidade do procedimento, o paciente deve ser adequadamente
monitorado. Recomenda-se o uso de cardioscópio, manguito para medida de pressão
arterial não invasiva e oxímetro de pulso, além de um acesso venoso que possibilite a
infusão de medicamentos e soluções em situações de emergência.
Após o término do procedimento, as condições clínicas do paciente devem ser
avaliadas a fim de determinar seu encaminhamento para a unidade de origem ou para o
domicílio.

APARELHO DE ANESTESIA E MONITORAÇÃO DO PACIENTE

O aparelho de anestesia é um equipamento destinado à administração de gases e/ou


vapores anestésicos ao paciente por meio de respiração espontânea ou controlada manual
ou mecanicamente. As funções básicas do aparelho de anestesia são: prover oxigênio (O2) ao
paciente, remover gás carbônico/dióxido de carbono (CO2), fornecer e quantificar o volume
de gases (O2, óxido nitroso, ar comprimido), fornecer vapor anestésico e facilitar/promover a
ventilação adequada do paciente.
No mercado, há disponibilidade de diversos modelos de equipamentos de anestesia,
mas basicamente todos são compostos por:
• secção de fluxo contínuo: sua função é misturar gases e/ou vapores
anestésicos para serem administrados ao paciente por meio do sistema respiratório;
• sistema respiratório: conjunto de dispositivos conectados às vias aéreas
do paciente, através do qual passa um fluxo intermitente e bidirecional de gases e pelo qual
podem ser introduzidas misturas de composição controlada;
• respirador/ventilador: aparelho automático, ligado às vias aéreas do
paciente, com a finalidade de promover ou complementar a ventilação pulmonar.

Durante a anestesia, é necessário um sistema de monitoração do paciente que


depende do risco cirúrgico, do tempo e do tipo de anestesia e cirurgia, além da perda

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sanguínea. A monitoração intraoperatória deve incluir oximetria de pulso, eletrocardiografia,


pressão arterial não invasiva, frequência cardíaca e frequência respiratória e capnografia
(CO2 expirado) para os pacientes submetidos à intubação.
O sistema integrado de anestesia permite a monitoração constante e simultânea dos
seguintes parâmetros: taxa de fluxo de gases, concentração do agente volátil liberada,
fração de O2 inspirada e expirada, pressão parcial de CO2 inspirado e expirado, volume
corrente, volumeminuto, frequência respiratória do ventilador, pressões inspiratória e
expiratória, pressão nas vias aéreas, pressão das fontes de gases, entre outros.
O controle e a verificação do funcionamento dos equipamentos de monitorização e
anestesia devem ser feitos, obrigatoriamente, antes da administração da anestesia. Essa
verificação deve ser feita diariamente, entre uma cirurgia e outra, portanto, várias vezes ao
dia, dependendo do rodízio de cada sala operatória (SO). Esse controle do funcionamento
deve ser efetuado por todos os profissionais envolvidos no procedimento anestésico, tanto o
médico anestesiologista, quanto a equipe de Enfermagem e o serviço de engenharia clínica.

PRINCIPAIS FÁRMACOS UTILIZADOS EM ANESTESIA


A maioria dos procedimentos cirúrgicos requer inconsciência (hipnose), analgesia
(ausência de dor), amnésia (perda temporária da memória), relaxamento neuromuscular,
boa exposição visceral, controle respiratório, controle dos reflexos autonômicos e bloqueio
da condução dos impulsos em tecidos nervosos.
Diante da necessidade de satisfazer esses efeitos desejados, não existe um único
fármaco capaz de produzir todos eles. Por isso, o anestesiologista utiliza uma associação de
diversos medicamentos, que podem ser administrados desde o período pré-operatório,
como pré-anestésicos, até o pós-operatório, como analgésicos.

ANESTÉSICOS INALATÓRIOS

Os anestésicos voláteis estão disponíveis em forma de líquidos claros e não


inflamáveis em temperatura ambiente, sendo liberados ao paciente em forma de vapor.
A concentração e a absorção do anestésico inalatório dependem da concentração

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alveolar mínima (CAM). A CAM é definida pela concentração alveolar do anestésico, à


pressão de 1 atmosfera, que previna a resposta motora a estímulos nociceptivos (incisão
cirúrgica) em 50% dos pacientes. Quanto menor a CAM, maior a potência do fármaco.
O transporte do anestésico depende do fluxo sanguíneo; do coeficiente sangue/gás,
caracterizado pela velocidade de indução do anestésico; e do coeficiente óleo/gás, definido
como a potência do anestésico.
Os agentes inalatórios de uso mais frequente no mundo e no Brasil, atualmente,
estão classificados em dois grandes grupos: os gases, representados exclusivamente pelo
óxido nitroso, histórica e popularmente conhecido como “gás hilariante” ou “gás do riso”; e
os vapores, dentre os quais há predominância dos éteres halogenados, como halotano,
enflurano, isoflurano, sevoflurano, desflurano e metoxiflurano.
Os éteres se encontram no estado líquido em temperatura ambiente e devem ser
vaporizados para serem utilizados pela via inalatória.
A tabela apresenta as principais características dos anestésicos inalatórios e seus
principais efeitos.

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TABELA cARACTERÍSTICAS DOS ANESTÉSICOS INALATÓRIOS: VELOCIDADE DE INDUÇÃO


E POTÊNCIA22
Coe Co
Fár ficiente eficiente Efeitos
maco sangue/gá óleo/gás
s (indução) (potência)
Óxi Mo Bai Anestésico gasoso. Não produz anestesia; é
do nitroso derada xa utilizado sozinho, sendo associado com os
halogenados para reduzir a depressão respiratória e
circulatória.
Hal Mui Mu Eliminação hepática. Ação depressora central.
otano to rápida ito alta Broncodilatador, indicado para asmáticos: redução
da pressão arterial (PA) e da bradicardia sinusal.
Diminuição do fluxo sanguíneo renal e da filtração
glomerular. Elevação da pressão intracraniana (PIC).
Se Mo Alt Rápida indução, recuperação e mudança de
voflurano derada a planos de anestésicos.
Depressão da contratilidade cardíaca,
reduzindo o consumo de O2. Depressão respiratória.
De Len M Rápida indução e recuperação. Irritante para
sflurano ta oderada via aérea. Potente vasodilatador.

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Os anestésicos inalatórios são os mais utilizados na manutenção da anestesia em


razão da precisão no controle do nível de profundidade anestésica, da possibilidade de seu
uso como agentes anestésicos únicos, do baixo custo operacional, quando utilizados em
fluxo reduzido, da potencialização do bloqueio neuromuscular, reduzindo a necessidade de
relaxantes musculares, e, enfim, do rápido despertar.

ANESTÉSICOS INTRAVENOSOS

Os anestésicos intravenosos são fármacos utilizados para anestesia, administrados


pela via intravenosa (IV). Podem ser divididos de acordo com seus grupos farmacológicos
em: barbitúricos, opioides e outros, além dos fármacos coadjuvantes da anestesia geral IV.
• Barbitúricos: fármacos que deprimem o sistema nervoso central (SNC),
com atuação direta e proporcionalmente à dose; podem variar desde sedação leve até a
inconsciência e a apneia;
• Opioides: fármacos analgésicos que aliviam
a dor, sem provocar perda da consciência;
• Outros: nesta categoria, podem-se incluir o propofol, a cetamina e o
etomidato, que são medicações de diferentes grupos farmacológicos utilizados na anestesia
geral IV.

Na categoria dos coadjuvantes, destacam-se os benzodiazepínicos, os relaxantes


musculares e os antagonistas dos opioides, como descritos a seguir.
• Benzodiazepínicos: caracterizados como ansiolíticos, são potentes
redutores da ansiedade e, por isso, são administrados como pré-anestésicos. Também
podem ser usados para a sedação perioperatória e para induzir a anestesia, de modo a
auxiliar no aprofundamento da depressão no SNC; porém, cabe destacar que ainda não
foram descobertas relações desses fármacos diretamente como responsáveis pelo bloqueio
da dor. Dessa forma, procedimentos dolorosos não devem ser realizados somente sob efeito
de benzodiazepínicos. Em geral, possuem efeitos residuais por extensos períodos, como
depressão respiratória, lipotimia, tempo de reação aumentada, falta de coordenação
motora, confusão e amnésia, fraqueza, cefaleia, turvação visual, vertigem, náuseas, vômitos

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e desconforto epigástrico. Os maiores representantes desse grupo são o diazepam e o


midazolam;
• Relaxantes musculares: bloqueiam a transmissão neuromuscular, inibindo a
condução nervosa e a contração. São definidos como não despolarizantes e despolarizantes.
Os bloqueadores não despolarizantes, como atracúrio, cisatracúrio e rocurônio, atuam como
antagonistas competitivos nos receptores de acetilcolina, inibindo a captação e consequente
relaxamento muscular, mas com possibilidade de reversão. O bloqueador despolarizante,
definido como succinilcolina, realiza bloqueio não reversível, por meio da despolarização na
junção neuromuscular
• Antagonista dos opioides: fármaco que tende a anular a ação de outro, revertendo
rapidamente a analgesia e a depressão respiratória, induzidas pelos opioides.

A tabela apresenta os principais anestésicos intravenosos, segundo sua classificação,


vantagens e desvantagens de uso.

Tabela classificação dos anestésicos intravenosos, vantagens e desvantagens de uso22

Fármaco Classificação Vantagens Desvantagens

Tiopenta Barbitúrico: Redução da Depressão


l lipossolubilidade que pressão intracraniana respiratória. Sonolência.
favorece a rápida (PIC). Rápida absorção Redução da pressão
captação e a absorção cerebral. arterial (PA). Acúmulo
hepática. em gordura corporal.
Etomida Hipnótico: Menor Diminuição da
to rápida absorção, alteração PIC e da resistência
despertar precoce. cardiovascular. vascular periférica.
Indicado em idosos e Mioclonias (movimentos
politraumatizados. musculares
involuntários). Náuseas e
vômitos.

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Propofol Anestésico: Permite infusão Alergia. Dor


rápida metabolização. contínua. Ausência de durante a infusão.
efeito cumulativo. Depressão respiratória.
Despertar breve. Redução da PA e do
débito cardíaco (DC).
Midazol Benzodiazepíni Redução da Sonolência.
am co: início e término de ansiedade. Sedação. Confusão mental.
ação lenta. Amnésia. Alteração da
*Antídoto: coordenação motora.
flumazenil.
Morfina Opioide Alívio rápido da Depressão
dor aguda. Sedação. respiratória. Náuseas e
*Antídoto: vômitos. Constipação.
naloxona. Hipotensão.
Fentanil Opioide Maior potencial Bradicardia.
anestésico. Rigidez torácica.
Tramad Age nos Atuação na dor Sudorese.
ol receptores de aguda. Prurido. Náuseas e
opioides. vômitos.
Nalbufin Agonista- Menor Urgência
a antagonista de depressão respiratória miccional. Sedação ou
opioide. com doses mais agitação. Prurido.
elevadas.
Cisatrac Bloqueadores Possibilidade Hipotensão.
úrio, doxacúrio, neuromusculares não de reversão: uso de Broncoconstrição.
pancurônio, despolarizantes. neostigmina ou Taquicardia.
rocurônio, sugamadex.
atracúrio
Succinilc Bloqueador Ação rápida. Arritmia.
olina neuromuscular Hiperpotassemia.
despolarizante. Aumento da pressão

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ocular. Redução da
frequência cardíaca
(FC) e da PA.

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ANESTÉSICOS LOCAIS E REGIONAIS

Fármacos que bloqueiam a geração do potencial de ação nas fibras nervosas por
bloqueio dos canais de Na+, deprimindo a condução do impulso elétrico.
Dentre os fármacos mais utilizados na anestesia subaracnóidea, destacam-se:
bupivacaína, lidocaína, procaína, mepivacaína e prilocaína. Em associação a esses
anestésicos, a epinefrina e a fenilefrina podem ser administradas pela via intratecal,
aumentando a duração do bloqueio. A associação de opioides, como o fentanil, aumenta a
duração da analgesia espinhal.
Os anestésicos mais frequentemente utilizados no espaço epidural são: lidocaína,
bupivacaína, ropivacaína e cloroprocaína, os quais, se associados à adrenalina, que possui
efeito vasoconstritor, têm seu tempo de ação indiretamente aumentado, o que influencia na
absorção dessa combinação. Dependendo da concentração do agente anestésico, o
resultado pode variar desde a perda da capacidade sensitiva até um completo bloqueio
motor.
Nas anestesias subaracnóidea e peridural são utilizados os mesmos anestésicos,
porém com variação de doses administradas. Uma vez que na raquianestesia o fármaco se
mistura com o LCR e se difunde mais rapidamente, as doses aplicadas são
consideravelmente menores do que na anestesia peridural, cujos medicamentos são
aplicados em um espaço virtual.
O nível de bloqueio dos anestésicos locais depende dos seguintes fatores:
• baricidade: densidade da solução, dividida pela densidade do LCR, podendo ser
hipobárica (ascende em relação ao canal medular, menos densa que o LCR), isobárica e
hiperbárica (tende a descer no sentido do canal medular);
• volume, concentração e dose do anestésico;
• local e velocidade de infusão;
• posição do paciente;
• adição de vasoconstritores.

A tabela apresenta os principais anestésicos locais utilizados e suas propriedades.

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Tabela propriedades dos anestésicos locais

Fármaco Potência e Duração Ação


toxicidade da ação (ligação (grau de
(lipossolubilidade proteica) ionização)
)
Lidocaína 1 e 2% Baixa Baixa Alta
Ropivacaína Moderada Moderad Moder
a ada
Bupivacaína isobárica, Alta Alta Baixa
hiperbárica

A capacidade de lipossolubilidade, ou seja, de penetrar na membrana plasmática,


define a potência do anestésico: quanto maior a lipossolubilidade, maior a potência. A ação
do anestésico local depende do seu grau de ionização, definido pela capacidade de se
dissociar em ambiente aquoso e, consequentemente, gerando o efeito desejado. Quanto
maior o grau de ionização do anestésico local, mais rapidamente inicia-se a ação.

VIAS AÉREAS DIFÍCEIS

A via aérea difícil (VAD) é definida como situação clínica na qual um anestesiologista
treinado encontra dificuldades para a ventilação das vias aéreas superiores com máscara
facial, dificuldade para intubação traqueal, ou ambos.
A VAD pode ser prevista ou não prevista. Será prevista, quando as condições desfavo-
ráveis do paciente para ventilação e intubação forem identificadas na avaliação pré-
operatória. Será não prevista, quando ocorre na indução anestésica, comumente designada
pelos médicos anestesistas como “ventilo, mas não intubo” e “não ventilo e não intubo”. No
primeiro caso, há dificuldades na técnica de intubação, porém o paciente está sendo
ventilado e a equipe tem um tempo maior para preparar sua estratégia de ação. Já no
segundo caso, a dificuldade inicia-se no momento da ventilação, antes mesmo das tentativas
de intubação, o que requer que a equipe atue em situação de emergência. Em ambos os

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casos, a equipe que presta assistência em SO deve ter conhecimentos sobre VAD, de modo
que possa atuar com competência, tranquilidade e rapidez. A instituição deve manter
material específico para atender esses casos a fim de evitar possíveis complicações, as quais
podem levar o paciente a apresentar graves sequelas e até oca-
sionar a morte.
Os sinais de ventilação inadequada são definidos por ausência de movimentação
torácica, som respiratório inadequado, ausculta pulmonar com sinais de obstrução, cianose,
queda de saturação de O2, ausência ou alteração de curva de capnografia, hipertensão,
taquicardia e arritmia.
A avaliação do paciente quanto à possível dificuldade de ventilação e de intubação
deve ser
feita pelo anestesiologista durante a avaliação pré-operatória, considerando as
variações anatômicas do pescoço e a visualização da cavidade oral.
Alguns antecedentes clínicos e alterações anatômicas são preditores para VAD, entre
os quais:
• apneia do sono, obesidade e roncos;
• abertura da boca < 3 cm;
• comprimento dos incisivos superiores longos;
• arcada superior protrusa (retrognatismo
mandibular);
• mandíbula projetada para fora (prognatismo mandibular);
• conformação do palato estreita ou oval;
• limitação para protrusão da mandíbula;
• distância tireomentoniana menor ou igual a 6 cm;
• flexão e extensão do pescoço limitadas;
• pescoço curto e grosso.

Para a avaliação da cavidade oral, o anestesiologista utiliza a escala ou índice de


Mallampati, que classifica o grau de visualização de suas estruturas orofaríngeas.
Posicionando-se sentado em frente ao operador, o paciente fica com a cabeça em posição
neutra, com a boca em abertura máxima e a língua em protrusão máxima. A classificação é

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então realizada segundo a possibilidade de visualização das estruturas:


• Classe I – visualizam-se pilares amigdalianos, palato duro, palato mole e úvula;
• Classe II – visualizam-se palato duro, palato
mole e úvula;
• Classe III – visualizam-se palato duro e palato mole;
• Classe IV – visualiza-se somente o palato duro.

ClasseI ClasseII ClasseIII ClasseIV

Figura escala de Mallampati, segundo grau de visualização das estruturas da


orofaringe. Fonte: adaptada de Manica.

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Existe estreita relação entre maior classe e dificuldade de exposição na laringoscopia,


havendo, portanto, maior dificuldade de intubação nas classes III e IV.
Outra escala empregada é a de Cormack e Lehane, relacionada à dificuldade em
visualizar a laringe, que caracteriza a visualização da via aérea por meio dos seguintes graus:

Grau I – toda a glote é visível;


Grau II – apenas a parte posterior da glote é visível;
Grau III – apenas a epiglote é visível, mas não a glote;
• Grau IV – apenas o palato mole é visível, mas não a epiglote.

Figura escala de Cormack e Lehane, segundo o grau de visualização da glote à


laringoscopia. Fonte: Manica.

Os graus III e IV preveem intubação difícil. Desse modo, um fluxograma de


atendimento deve ser seguido pelo anestesiologista para o manejo da via aérea.

Manuseio da intubação traqueal difícil não antecipada em pacientes adultos

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Legenda: LD = laringoscopia direta; DSG = dispositivo supraglótico; VMF = ventilação


sob máscara facial; NINO = não intubo/não oxigeno; VA = via aérea
Figura - Manuseio da intubação traqueal difícil não antecipada em pacientes adultos.
Adaptado de Slullitel e Oliveira.

Diante de uma condição de VAD, é necessária uma quantidade mínima de materiais


nos serviços de saúde, incluindo:

• cabo curto de laringoscópio;


• pelo menos uma lâmina alternativa (reta);
• máscara laríngea para intubação 3, 4 e 5, com tubos dedicados à
sequência rápida e barra de estabilização ou C-track;
• tubos traqueais especializados, reforçados 5 e 6, com balão (cuff);
microlaringoscópio 5 e 6 mm;
• cateter de intubação (sonda trocadora de tubo);
• broncoscópio flexível para a intubação com fonte de luz à bateria
portátil;

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• equipamento de fibra ótica com bateria extra ou fonte de luz,


anestésico local (aerossol, geleia, pulverizador);
• easy-tube: pequeno e adulto ou Combitube (tubo esôfago-traqueal);
• máscara laríngea suprema 3, 4 e 5 ou equivalente;
• kit para cricotireoidotomia cirúrgica (bisturi com lâmina 20, gancho
traqueal, dilatador traqueal de Trousseau, 6 ou 7 mm e cânulas de traqueostomia);
• cânula de cricotireoidotomia com sistema de ventilação a jato de alta
pressão e modulador do fluxo de O2;
• cânula de cricotireoidotomia calibrosa;
• capnógrafo;
• oxímetro de pulso.

O manejo adequado da VAD tem um grande impacto no desfecho pós-operatório.


Nesse sentido, a educação permanente dos profissionais é fundamental para a tomada de
conduta e auxílio ao anestesiologista, prevenindo eventos adversos aos pacientes, como
lesão de dentes, trauma da via aérea, cirurgia da via aérea desnecessária, parada
cardiorrespiratória, lesão cerebral ou morte.

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM DURANTE O PROCEDIMENTO ANESTÉSICO

No Brasil, o procedimento anestésico é privativo do médico anestesiologista,


diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, como
França e Croácia, nos quais o enfermeiro tem a possibilidade de realizar um curso de
especialização e obter a certificação para o exercício da anestesia, como profissional
independente ou supervisionado por um médico anestesiologista.
Uma revisão da literatura indicou diferentes atuações do enfermeiro em anestesia,
tanto em países com legislação e protocolos definidos, quanto em regiões com auxílio e
exercício da anestesia sem processos que definam a competência do enfermeiro e os limites
do seu trabalho. Nesse sentido, a literatura apresenta uma variação de estudos que
descrevem a atuação do enfermeiro em anestesia, como níveis de evidência A, B e C, de
acordo com o local de publicação e legislação vigente.

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Diante do cenário internacional e considerando a legislação brasileira, um protocolo


assistencial de planejamento de cuidados de Enfermagem durante a anestesia foi publicado
em território nacional, definida como “Checklist de segurança do paciente: Enfermagem no
procedimento anestésico”. O instrumento visa definir a atuação da equipe de Enfermagem
nos três períodos da anestesia geral: antes da indução anestésica, por meio da organização
de materiais e equipamentos; na indução anestésica, com a assistência direta durante o
procedimento; na reversão da anestesia, por meio do controle e do acompanhamento do
paciente ao término do procedimento anestésico-cirúrgico.

CHECKLIST DE SEGURANÇA DO PACIENTE: ENFERMAGEM NO PROCEDIMENTO ANESTÉSICO


1. Introdução
A anestesia é um procedimento essencial para realização do ato cirúrgico, que exige planejamento da equipe
cirúrgica para qualidade e segurança dos cuidados prestados ao paciente
2. Objetivos
Direcionar as ações de enfermagem realizadas durante a anestesia geral (antes da indução anestésica, durante
a indução anestésica e na reversão da anestesia), permitindo a execução da assistência de forma planejada e
uniforme nos diversos serviços de saúde
Favorecer o trabalho conjunto entre o médico anestesiologista e enfermeiro(a), para sincronismo nas ações e
melhor qualidade da assistência perioperatória
3. Orientação
Os itens verificados devem ser assinalados com: (X) para o item que foi realizado; (NA) quando o item não se
aplica para o procedimento; (NE) para o item não executado (justifique o motivo)
Antes da indução (organizar)

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A) Funcionamento do D) Materiais para via aérea G) Organizar materiais para punção


equipamento de anestesia → separar tubo endotraqueal, venosa periférica
→ executar o teste do de acordo com as → equipo de infusão
equipamento de anestesia, de características físicas do → garrote
acordo com orientações do paciente (idade, sexo) e tipo → solução antisséptica
fabricante, verificando também: de cirurgia, considerar a → solução de infusão
conexão do equipamento na fonte disponibilidade de três → dispositivo para acesso venoso
de energia e bateria, fonte de tamanhos diferentes → fixação para acesso venoso Justifique:
gases (oxigênio, óxido nitroso, → avaliar o funcionamento do H) Confirmar disponibilidade de
ar comprimido e vácuo) sistema de aspiração e vácuo materiais para punção de acesso
disponíveis, conectadas ao → testar o funcionamento do venoso central e arterial
equipamento e com pressão ≥50 laringoscópio → kit de monitorização de pressão
Psi* ou 3,2 kgf/cm2†, vaporizadores Justifique: → gaze
cheios e fechados, ausência de E) Organizar materiais para → solução antisséptica
oscilação de gases com os intubação → solução de infusão
fluxômetros fechados → cânula de Guedel → dispositivo para acesso venoso central
→ disponibilizar um conjunto de → pinça Magill → compressa
traqueias reservas, de acordo com → estetoscópio → dispositivo para acesso arterial
a faixa etária do paciente → cateter de oxigênio → pressurizador
→ avaliar a saturação (cor) da cal → luva estéril → fio de nylon para fixação do cateter
sodada e considerar a troca se → seringa → transdutor de pressão arterial invasiva
mais de 50% estiver com cor → fixação para tubo (domus)
violeta endotraqueal Justifique:
→ avaliar a quantidade da cal → guia de intubação I) Organizar materiais de sondagem
sodada → filtro de barreira para o vesical de demora
circuito de anestesia → agulha 40x12
Justifique: → lubrificante para tubo → água destilada
endotraqueal → cuba rim, cúpula e pinça Cheron
B) Verificar funcionamento e → lâmina de laringoscópio, de → seringa
disponibilidade dos equipamentos acordo com a faixa etária do → fixação para sonda vesical
necessários, de acordo com a paciente → sistema coletor de urina
cirurgia → máscara facial, de acordo → xilocaína gel e seringa
→ manguito de pressão arterial, de com as características físicas → solução antisséptica degermante
acordo com as características do paciente (peso, idade) → solução antisséptica tópica
físicas do paciente (peso, idade) → máscara laríngea, de → sonda vesical, de acordo com a faixa
→ eletrocardioscópio acordo com o peso do etária do paciente
→ oxímetro de pulso paciente Justifique:

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→ ajustar alarmes do monitor → dispositivo bolsa valvúla- J) Registrar falhas de equipamentos


multiparamétrico, de acordo com máscara (tipo de equipamento e descrição da
a faixa etária do paciente → sonda de aspiração falha)
→ capnógrafo → sonda gástrica: crianças de Justifique:

→ mesa cirúrgica 4 a 10 Fr /adultos de 14 a 18 K) Registrar indisponibilidade de
→ termômetro Fr‡ Justifique: materiais solicitados (material ou
→ eletrodos F) Via aérea difícil e materiais equipamento indisponível e motivo da
→ bomba de infusão de → verificar com o indisponibilidade)
medicamentos anestesiologista a Justifique:
→ desfibrilador possibilidade de via aérea
→ monitor de profundidade difícil
anestésica (BIS) disponibilidade de materiais
→ aparelho de manta térmica → fibroscópio
→ fonte de luz
Justifique: → lâmina de laringoscópio
flexível
C) Avaliar disponibilidade de → cânula de traqueostomia,
medicamentos de acordo com as
→ anestésicos, de acordo com o características físicas do
tipo de anestesia proposta paciente (peso, idade)
→ utilizados em emergências → lâmina de laringoscópio
cardiorrespiratórias, como reta
epinefrina, atropina, amiodarona → agulha de
Justifique: cricotireoidostomia
→ guia Bougie
→ tubo esôfago-traqueal
(combitube), de acordo com
as características físicas do
paciente (altura)
Justifique:

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Indução anestésica (assistir)


A) Conferir no prontuário os documentos do D) Preparo anestésico
paciente → comunicar ao anestesiologista a contraindicação para
→ nome punção de membro do paciente
→ número do prontuário → auxiliar o anestesiologista na punção de acesso venoso
→ data de nascimento → posicionar o paciente em decúbito dorsal horizontal,
→ ficha de visita pré-anestésica posição olfativa
→ termo de consentimento da anestesia → colocar coxim occipital, de acordo com a solicitação do
→ histórico de saúde anestesiologista
→ termo de consentimento da cirurgia → auxiliar o anestesiologista na ventilação do paciente,
→ verificar a presença de alergias posicionando máscara facial para oferta de oxigênio
→ exames disponíveis → verificar integridade do cuff da cânula de intubação
→ medicamentos em uso solicitada pelo anestesiologista
→ confirmar a administração de medicamento → realizar manobra de Sellick no paciente, quando solicitado
pré-anestésico pelo anestesiologista
Justifique: → realizar manobra de BURP§ no paciente, quando solicitado
pelo anestesiologista
B) Orientações ao paciente → fornecer ao anestesiologista cânula e seringa, durante a
→ transferir o paciente para mesa cirúrgica laringoscopia
→ explicar os procedimentos que serão → auxiliar o anestesiologista na fixação do tubo endotraqueal
realizados (monitorização, punção de acesso após a intubação
venoso, administração de medicamentos para → avaliar junto com o anestesiologista a ventilação
anestesia) adequada: expansibilidade torácica bilateral, ausculta
Justifique: pulmonar e curva de capnografia presentes
→ realizar fechamento ocular utilizando fixação, de acordo
C) Monitorizar o paciente com com protocolo institucional (micropore, colírio, pomada)
→ eletrocardioscópio → realizar a sondagem vesical de demora, conforme
→ pressão arterial não invasiva solicitação da equipe cirúrgica
→ oxímetro de pulso → posicionar paciente, de acordo com o procedimento
→ termômetro cirúrgico, dispondo coxins em regiões de proeminências
ósseas e proteção de face
Justifique: → colocar manta térmica, de acordo com a solicitação da
equipe cirúrgica
Justifique:
E) Registrar no prontuário do paciente
→ sinais vitais antes e após indução anestésica
→ número do tubo endotraqueal

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→ tipo de anestesia
→ material utilizado no fechamento ocular
→ intercorrências ocorridas na indução anestésica
Justifique:

Reversão (controlar)
A) Controle pós-anestésico B) Ao término da anestesia anotar no prontuário do
→ auxiliar o anestesiologista na aspiração paciente
traqueal do paciente → sinais vitais
→ transferir sistema de monitorização para o → característica e volume do débito de sondas
monitor de transporte → característica e volume do débito de drenos
→ transferir o paciente para maca de transporte → evolução de enfermagem
→ ofertar oxigênio ao paciente, de acordo com
saturação de oxigênio Justifique:
→ realizar passagem de plantão para o
enfermeiro da unidade de destino do paciente
→ realizar transporte do paciente para unidade
crítica junto com o anestesiologista

Justifique:

*Psi: pound force per square inch; †kgf/cm2: quilograma força por centímetro
quadrado; ‡Fr: french; §BURP: backward, upward, right, pressure.
Figura - Protocolo assistencial de Enfermagem no procedimento anestésico. São
Paulo; 2016.

A literatura científica disponível sobre a temática, com seus diferentes níveis de


evidência, indica a relevância de atuação do enfermeiro em anestesia e os fatores que
influenciam a assistência, tanto do enfermeiro perioperatório, quanto do anestesiologista.
Ademais, os estudos indicam diversos aspectos que envolvem a prática de Enfermagem em
anestesia, seja na atuação do enfermeiro perioperatório, na formação educacional, na
atuação e na orientação da especialidade, nos padrões de competência e na diversidade de
práticas de anestesia no mundo e nos métodos de avaliação.

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Contudo a grande variação da atuação dos enfermeiros brasileiros em anestesia e a


ausência de regulamentação para a prática de Enfermagem em anestesia no nosso país
dificultam a realização de estudos experimentais, como ensaios clínicos randomizados
controlados ou bem delineados, revisões sistemáticas ou metanálises sobre o assunto,
voltadas à realidade nacional.

PRÁTICAS RECOMENDADAS

1. A avaliação pré-anestésica deve ser executada pelo anestesiologista,


definindo o plano anestésico e as estratégias para a redução de riscos perioperatórios
adicionais.
→ Força da recomendação: I-forte; qualidade da evidência: A

Justificativa: a avaliação pré-anestésica completa é fundamental para a prevenção de


danos durante a indução anestésica, permitindo: avaliação das condições clínicas do
paciente, histórico de saúde, avaliação da via aérea, parâmetros hemodinâmicos,
monitorização intraoperatória necessária, uso de medicamentos, avaliação de risco
cirúrgico, definição dos cuidados intraoperatórios e manejo pós-operatório.

2. O enfermeiro de Centro Cirúrgico (CC) deve realizar a visita pré-operatória e aplicar


a Sistematização da Assistência de Enfermagem Perioperatória (SAEP).
→ Força da recomendação: I-forte; qualidade da evidência: C-LD
Justificativa: a avaliação de Enfermagem permite definir as necessidades e o
planejamento dos cuidados no procedimento anestésico-cirúrgico, definindo o cuidado
individualizado para cada paciente. O enfermeiro, durante a visita pré-operatória, pode
esclarecer as dúvidas do paciente e de seus familiares/acompanhantes, de modo a diminuir
a ansiedade associada ao procedimento.

3. Para a execução do procedimento anestésico, é recomendada a utilização de


checklists e protocolos que orientem a prática dos profissionais envolvidos na anestesia.
→ Força da recomendação: I-forte; qualidade da evidência: B-NR

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Justificativa: o uso de checklists e protocolos específicos em anestesia favorece a


organização e o planejamento da assistência durante todo o procedimento anestésico,
facilita a troca de informações, promove a melhoria da comunicação, o trabalho em equipe e
estabelece um clima de segurança entre os profissionais, contribuindo para a redução de
eventos adversos em anestesia.

4. A equipe de Enfermagem deve utilizar protocolo assistencial durante a assistência


em anestesia para direcionar sua prática.
→ Força da recomendação: I-forte; qualidade da evidência: B-NR

Justificativa: o uso de instrumentos e checklists que definam um protocolo


assistencial de Enfermagem em anestesia no cenário brasileiro consolida a atuação do
enfermeiro durante o procedimento anestésico, padronização e uniformidade de condutas,
definição de responsabilidades da equipe. Dessa forma, obtêm-se subsídios que fortalecem a
melhoria do dimensionamento da equipe e garantem o cuidado adequado durante a
anestesia30,34,35.

5. Realizar a verificação completa dos documentos presentes no prontuário do


paciente (termos de consentimento, visita pré-anestésica, exames disponíveis) e a
identificação do paciente.
→ Força da recomendação: I-forte; qualidade da evidência: C-LD

Justificativa: a prevenção de danos ao paciente e as intervenções seguras durante o


ato anestésicocirúrgico estão diretamente relacionadas ao controle e ao registro dos
documentos do paciente, garantindo que sejam corretos o paciente, a SO, a anestesia, o
procedimento e a lateralidade.

6. Em todos os procedimentos anestésicos, devem ser utilizados checklists de


verificação do funcionamento e disponibilidade de materiais e equipamentos necessários
para a anestesia.

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→ Força da recomendação: I-forte; qualidade da evidência: B-R

Justificativa: a avaliação prévia de equipamentos e materiais permite o adequado


gerenciamento dos cuidados necessários durante a anestesia e da cirurgia, evitando atrasos
no início dos procedimentos, prevenindo eventos adversos associados a alterações
hemodinâmicas do paciente e o direcionamento das ações desenvolvidas pelos profissionais.

7. Efetuar a monitorização adequada dos parâmetros hemodinâmicos no


intraoperatório diminui os riscos de eventos adversos relacionados à anestesia48.
→ Força da recomendação: I-forte; qualidade da evidência: B-R

Justificativa: a estratificação dos níveis de monitoramento e os alvos para terapia


dependem da situação clínica e do risco cirúrgico definido na avaliação pré-anestésica. Em
todos os procedimentos anestésicos, a monitorização básica inclui eletrocardiograma,
pressão arterial não invasiva, frequência cardíaca, frequência respiratória, saturação de
oxigênio e temperatura. O enfermeiro deve executar a monitoração do paciente na
admissão em SO e registrar os parâmetros no prontuário, os quais orientarão os cuidados na
sala de recuperação anestésica.

8. Auxiliar na intubação anestésica.


→ Força da recomendação: I-forte; qualidade da evidência: B-NR

Justificativa: durante a intubação anestésica, o médico anestesiologista deve


administrar medicamentos e ventilar o paciente para a intubação. O enfermeiro pode
ofertar O2 ao paciente, fornecer tubo endotraqueal e laringoscópio ao anestesiologista,
realizar a manobra de Sellick ou a manobra para a prevenção de aspiração ou mudanças na
visualização da glote.

9. O enfermeiro de CC deve aplicar a Escala de Avaliação de Risco para o


Desenvolvimento de Lesões decorrentes do Posicionamento Cirúrgico (ELPO)57 e auxiliar no
posicionamento do paciente para a cirurgia.

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→ Força da recomendação: I-forte; qualidade da evidência: B-R

Justificativa: a aplicacã̧ o da ELPO em pacientes adultos pelo enfermeiro


perioperatório pode trazer subsídios para o planejamento da assistência de Enfermagem e o
direcionamento de ações na anestesia e antes da intervenção cirúrgica. Nesse sentido, o
enfermeiro deve participar do posicionamento do paciente junto à equipe médica, visando à
manutenção da via aérea, a proteção ocular e à prevenção de lesões da pele e de estruturas
articulares com o uso de posicionadores adequados, baseando-se na avaliação de risco.

10. A monitorização da profundidade anestésica deve ser feita em anestesias gerais


para a prevenção do despertar intraoperatório e de lembranças pós-operatórias.
→ Força da recomendação: I-forte; qualidade da evidência: A e B-R

Justificativa: o uso de monitores da atividade elétrica cerebral está associado à


redução do consumo de anestésicos, tanto inalatórios, quanto venosos, assim como ao
menor tempo de recuperação da anestesia, quando comparado com o método de
monitoração por sinais e sintomas clínicos (taquicardia, hipertensão, lacrimejamento,
atividade motora).
11. O acompanhamento da reversão da anestesia pelo enfermeiro fornece subsídios
para a avaliação da assistência intraoperatória e planejamento dos cuidados pós-
operatórios.
→ Força da recomendação: I-forte; qualidade da evidência: B-NR

Justificativa: ao término da anestesia, o enfermeiro deve acompanhar a extubação


do paciente e auxiliar na oferta de suporte ventilatório, na monitorização, na verificação dos
registros de cuidados intraoperatórios e nas intercorrências. Assim, é possível a passagem de
plantão para a unidade de destino de maneira adequada, fazendo-se a orientação sobre as
necessidades de cuidados no pós-operatório imediato.

12. Registrar por completo a assistência e as intercorrências durante o procedimento


anestésico.

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→ Força da recomendação: I-forte; qualidade da evidência: B-R

Justificativa: o registro adequado da assistência prestada possibilita melhor troca de


informações sobre o paciente, o que favorece a continuidade da assistência pelos
profissionais envolvidos no cuidado em anestesia.

Acerca da atuação de Enfermagem perioperatória na anestesia, existem semelhanças


de atuação entre o enfermeiro perioperatório no Brasil e o enfermeiro anestesista
estadunidense nos aspectos que envolvem a monitoração do paciente em SO, o
posicionamento cirúrgico, a verificação de equipamentos e de materiais, o auxílio na
intubação anestésica e o controle dos parâmetros hemodinâmicos.

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Alguns estudos brasileiros discutem as possibilidades de atuação do enfermeiro em


anestesia, com a organização de um serviço e a criação de uma especialização de
Enfermagem, para que o enfermeiro possa atuar diretamente nos cuidados antes e durante
a cirurgia. Todavia seria necessária a modificação da estrutura curricular dos cursos de
graduação e de especialização em Enfermagem, além da reformulação da legislação entre os
conselhos de Enfermagem e anestesia. Nesse sentido, busca-se um aprimoramento da
atuação do enfermeiro em anestesia a fim de delimitar sua atuação durante o
procedimento, em consonância com a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem.
O suporte oferecido pela equipe de Enfermagem não pode depender apenas da
interação entre enfermeiro e anestesiologista. É de grande relevância a aplicação de
protocolos de assistência em Enfermagem durante a anestesia para a promoção de cuidados
com melhor qualidade, uniformidade de condutas e fundamentação científica, aspectos que
favorecem a comunicação, o trabalho em equipe e o aumento da percepção dos
profissionais em relação ao clima de segurança.

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