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1.

Conceitos fundamentais
da História
História II
Segundo Ano do Ensino Técnico Integrado
Prof. Gabriel Abílio
1.1 Introdução: História, ciência e método
1.1.1 Uma questão fundamental

• O que é uma ciência?


1.1.2 O que não é uma ciência!

• Crenças inquestionáveis
• Argumentos de autoridade
• Senso comum
1.1.3 Definição objetiva de ciência

• A ciência pode ser definida como “uma explicação possível de ser testada,
racionalmente válida e justificável, que possa ser replicada, e obtida por meio de
estudos, observações e experimentações feitas sobre a afirmação ou o objeto
estudado” (FIGUEIREDO, 2019).
1.1.4 Ciência e método
• Para o desenvolvimento de uma investigação científica rigorosa é preciso,
portanto, seguir um método, uma série de procedimentos relativos à construção do
conhecimento científico – observar, experimentar, testar hipóteses...
• Neste ponto, também é importante definir o que é um conceito, isto é, um
conjunto de percepções abstratas sobre a realidade, formulado a partir da relação
complexa que se estabelece entre o sujeito que observa, o objeto que é observado e
a linguagem que registra;
• A ciência precisa de métodos e conceitos para consolidar um conhecimento válido
sobre a realidade.
1.1.5 E a História? É uma ciência?

Antes de mais nada, é preciso pensar sobre a origem da


palavra “história”. E a filósofa Hannah Arendt (1906-1975)
tem essa resposta:

Heródoto, o primeiro historiador, não dispunha ainda de uma


palavra para designar a história. Ele utilizou o termo istoreín, mas
não no sentido de narrativa histórica. Assim como eldenai,
conhecer, o vocábulo istoría deriva de id-, ver, e istor significa
originalmente testemunha ocular, e posteriormente aquele que
examina testemunhas e obtém a verdade através da indagação.
Portanto, istoreín possui um duplo significado: testemunhar e
indagar. (AREDNT, 2009:69, nota de rodapé).
1.1.6 Registro e investigação
• O historiador, e os estudantes de História, devem indagar registros e
testemunhos que embasam sua investigação científica;
• Esses registros, testemunhos, são chamados de fontes primárias;
• As fontes primárias podem ser de natureza variada: pinturas, desenhos, revistas,
atas de parlamentos, artefatos arqueológicos, construções, roupas, receitas de
culinária, livros de contabilidade, discursos políticos e muitos outros registros
passíveis de investigação;
• É importante notar que essas fontes não são construídas para que o Historiador
escreva a História. É o Historiador que faz perguntas às fontes a partir de um
problema histórico-científico determinado.
1.2 O jornal como fonte primária
1.2.1 A prensa de Gutemberg e a imprensa

Desde que Johannes Gutemberg (1400-1468) desenvolveu o método de impressão


tipográfica, ainda no século XV, a velocidade de produção e reprodução de
materiais escritos aumentou consideravelmente. Com a ajuda de caracteres de
metal e tinta à base de óleo, Gutemberg passou a reproduzir rapidamente os
textos, conforme pode-se observar ao lado. A partir de então, era possível
imprimir os mais variados materiais, de maneira prática e a um custo menor, o
que contribuiu para a popularização da leitura. Estava aí a base da imprensa tal
qual é conhecida hoje. Além de bíblias, Gutemberg imprimiu também muitas
gramáticas, em um momento no qual os idiomas nacionais superavam a
hegemonia do latim. Assim, o inventor da prensa mecânica contribuiu também
para a popularização dos idiomas euro-ocidentais.

Detalhe da bíblia impressa por Gutemberg em 1455.


1.2.1 Análise de um jornal do
século XIX
No Brasil, a impressão mecânica foi proibida até 1808,
quando a Corte portuguesa aqui chegou e fundou a
Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal, ou
periódico, impresso no Brasil. A Gazeta era uma
publicação oficial do governo de d. João, e em suas
páginas havia muitos atos oficiais e informes
internacionais. A capa ao lado é do edição 05, de 14 de
outubro de 1809. Na ocasião, o jornal anunciou a abertura
de uma chamada para arrecadar recursos que
financiassem a guerra contra Napoleão em que Portugal
se envolveu. Na sequência da explicação sobre a
necessidade de recursos, vinha a justificativa e os nomes
dos doadores de recursos, que eram comerciantes no Rio
de Janeiro. Assim, ao ler a notícia, é importante elaborar
algumas perguntas:
• Quem publicava este periódico?
• Quais os temas mais recorrentes?
• Qual era a intenção desta publicação?
1.3 A História e seu objeto de estudo
1.3.1 March Bloch e a Apologia da História
No início do século XX, surgiria na França uma importante escola de
historiadores, ou escola historiográfica, chamada Escola dos Annales, que
buscou exatamente uma História que não se limitasse à narração, muito
comum aos positivistas, que tendiam a exaltar os feitos heroicos dos
personagens. Em seu livro Apologia da História, March Bloch (1866-
1944) resumiria:

(...) o objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os


homens. Mais que o singular, favorável à abstração, o plural, que é o modo
gramatical da relatividade, convém a uma ciência da diversidade (...)
‘Ciência dos homens’, dissemos. É ainda vago demais. É preciso
acrescentar: ‘dos homens, no tempo’. O historiador não apenas pensa
‘humano’. A atmosfera em que seu pensamento respira naturalmente é a
categoria da duração (BLOCH, 2001:54-55).

A História trata, portanto, da realidade humana inscrita no tempo, que é


relativo e pode ser concebido sob as mais diversas perspectivas. Muito
além do tempo do relógio, da natureza e da religião, a História busca as
conexões entre a memória do passado, a experiência do presente e a
expectativa do futuro. Para estudar as sociedades no tempo é preciso
analisar de que modo o passado, o presente e o futuro se relacionam na
consciência humana.
1.4 Fato, conjuntura e estrutura
1.4.1 Fernand Braudel e as temporalidades
Diante do que foi exposto até aqui, faz-se necessária uma breve consideração sobre as
três durações do tempo definidas pelo historiador Fernand Braudel (1902-1985), também
da Escola dos Annales. Para Braudel, no estudo da História, deve-se trabalhar com três
padrões de duração, o curto prazo, o médio prazo e o longo prazo:

• Curto prazo: é um padrão temporal relacionado aos fatos, aos acontecimentos mais
imediatos, nos quais se destacam, muitas vezes, as ações individuais, dos agentes, e
as datas;

• Médio prazo: experiências políticas, econômicas, sociais e culturais que ocorrem ao


longo de anos, ou até mesmo décadas. É o domínio das conjunturas;

• Longo prazo: pressões estruturais e sistêmicas que persistem ao longo de séculos, é o


domínio das estruturas.

Portanto, mais do que falar em tempo, de modo limitado às medições mais quantitativas, é
preciso pensar em temporalidades, na dimensão qualitativa do tempo. É preciso decifrar quais as
regularidades e quais as rupturas caracterizam a sobreposição entre a dimensão dos fatos, das
conjunturas e das estruturas.
1.5 Questão de ENEM?
(ENEM 2020) A reabilitação da biografia histórica integrou as aquisições da história social e cultural, oferecendo aos
diferentes atores históricos uma importância diferenciada, distinta, individual. Mas não se tratava mais de fazer,
simplesmente, a história dos grandes nomes, em formato hagiográfico — quase uma vida de santo —, sem problemas,
nem máculas. Mas de examinar os atores (ou o ator) célebres ou não, como testemunhas, como reflexos, como
reveladores de uma época. (DEL PRIORE, M. Biografia: quando o indivíduo encontra a história. Topoi, n. 19, jul.-
dez. 2009.). Grifos nossos.

De acordo com o texto, novos estudos têm valorizado a história do indivíduo por se constituir como possibilidade de

A) adesão ao método positivista.

B) expressão do papel das elites.

C) resgate das narrativas heroicas.

D) acesso ao cotidiano das comunidades.

E) interpretação das manifestações do divino.


1.6 Referências bibliográficas
•AGUIRRE ROJAS, Carlos Antonio. Fernand Braudel e as ciências humanas [livro eletrônico].
Londrina: Eduel, 2013.

•ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 6.ed. São Paulo: Perspectiva 2009.

•BLOCH, Marc. Apologia da História, ou, O ofício de historiador. Rio de Janeiro: ZAHAR,
2001.

• FIGUEIREDO, Danniel. O que é ciência: tudo o que você precisa saber! Politize. Disponível
em: https://www.politize.com.br/o-que-e-ciencia/ Acesso em 22/03/2021.

• HARFORD, Tim. Por que a invenção da imprensa por Gutemberg o levou à ruína. BBC News
Brasil. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-54800478 Acesso em 22/03/2021.
1.7 Fontes primárias
• Gazeta do Rio de Janeiro, nº 5, 14/10/1809.

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