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LEGISLAÇÃO CIVIL

APLICADA II

Eduardo Zaffari
Revisão técnica:

Gustavo da Silva Santanna


Bacharel em Direito
Especialista em Direito Ambiental Nacional e Internacional
e em Direito Público
Mestre em Direito
Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito

Miguel do Nascimento Costa


Bacharel em Ciências Sociais
Especialista em Processo Civil
Mestre em Direito Público

L514 Legislação civil aplicada II / Fabiana Hundertmarck Leal... [et


al.] ; [revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna,
Miguel do Nascimento Costa]. – Porto Alegre: SAGAH,
2018.
380 p. : il. ; 22,5 cm

ISBN 978-85-9502-428-1

1. Direito civil. I. Leal, Fabiana Hundertmarck.

CDU 347

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB -10/2147


Direito de vizinhança
e condomínio
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Conceituar direito de vizinhança e condomínio.


 Analisar os dispositivos do Código Civil acerca da vizinhança, bem
como as suas diversas modalidades.
 Explicar a estrutura jurídica de condomínio.

Introdução
Conhecer as origens da propriedade e da copropriedade facilita o enten-
dimento do conceito de direito de vizinhança. As limitações impostas à
propriedade possibilitam o convívio harmônico entre lindeiros. Para que
se evitem eventuais riscos à saúde, à segurança ou ao sossego, o direito
de vizinhança regula as relações entre vizinhos, estabelecendo os limites
de cada condômino.
A vida condominial estabelece órgãos de administração e delibera-
ção para que todos os coproprietários possam participar do destino do
bem comum. As atribuições do síndico e da assembleia são complexas e
estão presentes no dia a dia daqueles que residem nos grandes centros
urbanos.
Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de condomínio e do
direito de vizinhança e vai conhecer a estrutura jurídica de condomínio.
Você vai também analisar dispositivos e modalidades previstos no Código
Civil acerca do direito de vizinhança.

Conceitos de vizinhança e condomínio


Ao longo do desenvolvimento da humanidade, o direito de propriedade foi
reconhecido e exercido de diferentes maneiras pelos povos da antiguidade.
306 Direito de vizinhança e condomínio

Em alguns momentos, a propriedade era compreendida e fruída pelo grupo


social; em outros, a propriedade foi considerada um direito absoluto e irrestrito.
Venosa (2005) recorda que, antes da época romana, apenas os objetos
pessoais eram considerados pertencentes aos integrantes do grupo; o solo e
as acessões eram de propriedade coletiva. Em Roma surgiu a propriedade e
os direitos de usar, fruir e gozar o bem de forma absoluta pelo proprietário.
Entretanto, não se pode esquecer que, desde o Velho Testamento, já se tem
notícia da propriedade imobiliária exclusiva, como na compra de terreno por
Abraão para o enterro de sua esposa, em Gênesis 4:23.
Fatores econômicos e sociais levaram ao desenvolvimento da propriedade
comum, exercida em condomínio. Conforme Gonçalves (2012), a propriedade
passou a ter como pressuposto a função social, que determina seu uso para o
crescimento da riqueza e da interdependência social. Isso se dá por expressa
determinação constitucional, conforme o art. 5º, XXIII, da Constituição
Federal de 1988.
Dois sistemas explicam a compreensão jurídica sobre a comunhão: o sistema
germânico e o sistema de tradição romana. No sistema germânico, todos os
condôminos são proprietários e exercem o domínio sobre o todo, ou seja, não
se compreende a divisão da propriedade comum em partes ideais. No sistema
de tradição romana, adotado no Brasil, cada proprietário exerce a propriedade
sobre uma parte ideal, também denominada fração ideal. Este sistema facilita
a distribuição de direitos e deveres entre os condôminos.
O Código Civil de 1916 não tratou da propriedade condominial, mas a Lei
4.591, de 16 de dezembro de 1964, tratou de forma detalhada a propriedade
em condomínio. O Código Civil de 2002 disciplinou a matéria nos arts.
1.331 a 1.358.

Condomínios têm personificação anômala duradoura, ao contrário de algumas


entidades, como o espólio hereditário ou a massa falida, que têm personificação
transitória. Esta personificação é uma personificação do patrimônio comum.

A conceituação de condomínio pode ser extraída da redação do art. 1.331


do Código Civil, em que se percebe tratar-se de um direito que envolverá “[...]
partes que são propriedade exclusiva, e partes que são propriedade comum
Direito de vizinhança e condomínio 307

dos condôminos” (BRASIL, 2002, documento on-line). Trata-se, então, de um


direito complexo que envolverá um direito exclusivo sobre a unidade autônoma
e um direito comum sobre a parte pertencente a todos os condôminos.
O convívio social determina que o exercício do direito de propriedade
não seja absoluto. Surgem restrições à propriedade consistentes no direito de
vizinhança que, conceituando-se como direitos de convivência decorrentes da
proximidade ou interferência entre prédios, não necessariamente contíguos,
coíbe o uso nocivo da propriedade.

O Capítulo IV — Dos Direitos de Vizinhança, do Código Civil, trata do uso nocivo da


propriedade, no art. 1.277:

Art. 1.277 O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de


fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à
saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade
vizinha.
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a na-
tureza da utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que
distribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância
dos moradores da vizinhança (BRASIL, 2002, documento on-line).

Pontes de Miranda (2012, p. 450) afirmava que “[...] os direitos de vi-


zinhança se produzem simetricamente às outras limitações ao direito de
propriedade em seu conteúdo, pela substantivação dos direitos que objeti-
vamente resultariam delas”.
O art. 1.277 do Código Civil estabelece o uso normal da propriedade e
proíbe o uso nocivo do bem que possa comprometer a segurança, o sossego
e a saúde dos demais vizinhos. Dependendo da natureza do distúrbio, que
poderá ser sonoro, gasoso, edilício, comportamental ou qualquer outra ordem
de perturbação, podem surgir três espécies de ações judiciais fundadas no
referido dispositivo de lei.

 Ação de perdas e danos: ação judicial em que se buscam os prejuízos


decorrentes de ato ou fato do vizinho, fundamentado na culpa aquiliana
e no art. 1.277, § 1º, do Código Civil.
308 Direito de vizinhança e condomínio

 Ação de obrigação de fazer ou não fazer: ação em que se busca sustar


ato ou fato realizado pelo vizinho que possa comprometer a segurança,
o sossego e a saúde dos lindeiros. Fundamenta-se no art. 1.277, § 1º,
do Código Civil.
 Ação de dano infecto: ação em que se busca impedir ou acautelar
obras em imóvel vizinho que possam trazer risco de ruína aos imóveis
lindeiros. Sua previsão legal vem contida nos arts. 1.280 e 1.281 do
Código Civil.

Importante observar que tanto os proprietários quanto os possuidores


de qualquer título poderão ser autores ou réus nestas ações, visto que o di-
reito de vizinhança se aplica àqueles que estiverem ocupando os imóveis,
indistintamente.

Recentemente uma indústria foi compelida pelo Ministério Público a sustar o excesso
de barulho e controlar a emissão de fuligem no seu processo de industrialização, em
razão da perturbação do sossego e risco à saúde dos imóveis vizinhos.

Dispositivos do Código Civil e modalidades


O Código Civil brasileiro prescreve, entre os arts. 1.282 e 1.284, regras sobre o
plantio de árvores entre imóveis. É necessário observar que, mesmo quando os
imóveis não forem lindeiros, as plantas que atinjam prédios próximos devem
obedecer aos mesmos dispositivos legais.
Árvores que estejam na linha divisória entre prédios presumidamente
serão de ambos os imóveis, importando que os custos de manutenção da
árvore, bem como seus frutos e sua madeira, pertençam aos dois proprietários
ou possuidores. Isso significa que, se essa árvore causar prejuízo para um
terceiro, ambos os proprietários deverão ressarcir o prejudicado, cada um na
proporção de sua quota-parte.
No entanto, se esta árvore se encontrar apenas no imóvel lindeiro, será
permitido ao proprietário vizinho cortar as raízes que adentrarem em seu
imóvel, no plano vertical divisório; o proprietário vizinho poderá também
colher os frutos que caírem naturalmente no solo de seu imóvel, conforme
previsão do art. 1.284 do Código Civil.
Direito de vizinhança e condomínio 309

O imóvel que não tenha passagem para via pública, porto ou nascente de
água perde seu valor e utilidade. Por essa razão, o Código Civil prescreve a
possibilidade do vizinho forçar aquele que pode permitir a passagem a tolerar
o direito de passagem do proprietário de imóvel encravado. Essa espécie de
servidão vem prevista no art. 1.285 do Código Civil. Esta passagem deverá
ser a menos onerosa possível ao imóvel gravado, preferencialmente pelo
caminho mais curto e pelo vizinho que possa conceder a passagem na forma
mais natural possível. Importante notar que essa passagem não será gratuita,
pois deverá o juiz fixar uma justa indenização, que deverá levar em conta a
diminuição do valor da propriedade serviente e o incômodo causado.

Os romanos desenvolveram a teoria sobre as servidões e o direito de vizinhança.


Aprofunde seus conhecimentos na obra do romanista Eugéne Petit, denominada
Tratado Elemental de Derecho Romano (2007).

A tecnologia tem avançado, e o atual estágio tecnológico obriga a tolerância


de uma espécie de servidão típica da sociedade moderna, que é aquela consis-
tente na passagem de cabos e tubulações, conforme os arts. 1.286 e 1.287 do
Código Civil. O proprietário deverá permitir a instalação em seu imóvel de
dutos e encanamentos que permitam a passagem de cabos ou outras instalações
aos demais imóveis vizinhos. Dois direitos assistirão ao proprietário do imóvel
onerado: o ressarcimento pela desvalorização da área remanescente, o que
deverá ser judicialmente demonstrado, e a realização de toda e qualquer obra
de segurança para que as pessoas e bens do imóvel onerado fiquem indenes.
Destina-se uma longa Seção do Código Civil para tratar das águas no direito
de vizinhança, como se constata entre os arts. 1.288 e 1.296. A extensão demons-
tra a importância desse recurso, não apenas como possibilidade de desarmonia
entre vizinhos, mas como necessidade de se evitar desastres ecológicos.
O prédio inferior deverá receber as águas que venham do prédio superior,
desde que estas fluam naturalmente. Vedam-se obras realizadas pelo dono do
prédio inferior que obstruam a descida da água (o que acarretaria alagamento
no imóvel superior), assim como não poderá o dono do imóvel superior realizar
obras que aumentem ou direcionem o fluxo de água e que poderão causar
prejuízos ao imóvel inferior.
310 Direito de vizinhança e condomínio

O art. 1.289 do Código Civil estabelece que as águas artificialmente le-


vadas ao imóvel superior que causem prejuízos ao imóvel inferior deverão
ser desviadas, e os prejuízos, ressarcidos. Esse é o fundamento usado para a
discussão entre vizinhos quando, em prédios de apartamentos, o apartamento
superior causa infiltração no apartamento inferior.
Pontes de Miranda (2012) recorda a Resolução Régia de 1775, que já dis-
punha que as águas nascidas em imóvel, ou por ele atravessadas, poderiam
ser usadas pelo proprietário até a satisfação de suas necessidades. Entretanto,
como comenta Venosa (2005), os arts. 1.290 e 1.291 do Código Civil de 2002
estabelecem que as águas remanescentes deverão fluir para os prédios inferiores
e não poderão ser poluídas.
O proprietário de imóvel superior poderá construir barragens ou açudes
de represamento, indenizando os lindeiros caso o transbordamento de água
cause prejuízo aos lindeiros inferiores, conforme art. 1.292 do Código Civil.
Igualmente será lícita a construção de canais ou aquedutos em imóveis lindei-
ros, preferencialmente subterrâneos, para o recebimento de águas necessárias
às primeiras necessidades humanas. A possibilidade de construção exige a
prévia indenização dos prejuízos ocasionados. A possibilidade prevista nos
arts. 1.293 e 1.294 do Código Civil permite àqueles que necessitem usar as
águas supérfluas do aqueduto construído captarem a água para si, conforme
se verifica nos arts. 1.295 e 1.296 do Código Civil.
A demarcação entre prédios é necessária não somente para o estabeleci-
mento do exercício de propriedade de cada unidade autônoma, mas também
para o exercício correto do poder de polícia pelas autoridades públicas e a
cobrança de tributos incidentes sobre os imóveis.
O proprietário poderá obrigar o vizinho a demarcar e instalar cercas,
muros, tapumes divisórios, ou outras formas de demarcação na divisa entre os
imóveis. Ambos deverão arcar com as despesas de instalação e manutenção da
divisa, salvo se houver a necessidade de algum cercamento especial em razão
de animais de pequeno porte. Nessa hipótese, conforme o parágrafo terceiro
do art. 1.297 do Código Civil, apenas o proprietário dos animais arcará com
o custo do cercamento.
Havendo dúvida quanto aos limites dos imóveis, a fração de área con-
testada será dividida por igual ou, não sendo possível, um dos vizinhos
indenizará o outro e ficará com a parte contestada, nos termos do art. 1.297
do Código Civil.
O proprietário tem o direito de construir em seu imóvel, desde que respei-
tadas as prescrições administrativas, que visam à proteção do bem comum,
e as regras do direito de vizinhança, que buscam a proteção dos lindeiros.
Direito de vizinhança e condomínio 311

É vetada qualquer obra que invada a área lindeira e a instalação de aber-


turas de janelas, terraços ou varandas a menos de um metro e meio do terreno
vizinho. Tampouco é permitido abrir janelas perpendiculares ou sem incidência
direta sobre a linha divisória a menos de setenta e cinco centímetros desta.
O legislador, no art. 1.301 do Código Civil, intenciona proteger a intimidade
alheia. A exceção é a possibilidade de aberturas para luz ou ventilação não
maiores de dez centímetros de largura sobre vinte de comprimento e construídas
a mais de dois metros de altura de cada piso.
Em razão da aeração e da maior possibilidade de espaço, nas zonas rurais
a distância da edificação aumenta para três metros do terreno vizinho.
Não será lícito encostar em parede divisória chaminés, fogões, fornos ou
qualquer aparelho ou depósitos que possam prejudicar o vizinho ou causar
infiltrações. Tampouco se poderão construir benfeitorias que possam poluir
ou inutilizar nascentes ou poços d’água, ou mesmo colocar em risco de
desmoronamento o imóvel vizinho. As prescrições dos arts. 1.308 a 1.311
do Código Civil usualmente encontram respaldo no Código de Construção
de cada cidade.
Recorde-se, porém, que o ingresso no terreno vizinho deverá ser to-
lerado pelo proprietário quando necessário para apanhar algum animal
extraviado ou outros bens, assim como para a realização de limpezas,
consertos ou reformas, cujo acesso apenas se poderá fazer pelo vizinho.
A regra constante no art. 1.313 do Código Civil observa a realidade dos
grandes centros urbanos.

Estrutura jurídica condominial


O condomínio poderá ter origem voluntária quando duas ou mais pessoas
adquirem o mesmo bem, ou poderá ter origem forçada em decorrência de
imposição legal. Ao contrário daquele decorrente da vontade dos condôminos,
existirá o condomínio quando um bem herdado por vários herdeiros não
comportar a cômoda divisão. Neste caso, será necessário condomínio em
decorrência do direito sucessório.
A demarcação e a divisão interna de bem condominial constitui o con-
domínio pro diviso, mesmo que remanesçam áreas comuns, com cercas e
limites determinados. Existem casos, porém, em que não há possibilidade,
ao menos momentaneamente, de determinar os limites de propriedade ou
de posse de cada um dos coproprietários, como nos imóveis adquiridos pela
aquisição originária da usucapião.
312 Direito de vizinhança e condomínio

Os condôminos de edifícios de apartamentos exercem a propriedade pro diviso sobre


a área de cada unidade autônoma, e a propriedade pro indiviso sobre as áreas comuns.
Há, nessas situações, o exercício simultâneo das propriedades pro diviso e pro indiviso.

Necessariamente haverá um dos condôminos que exercerá a administra-


ção do bem pertencente a todos. O sistema não admite que todos exerçam
a administração ao mesmo tempo. Nesse sentido, o Código Civil prescreve
que o condômino que exercer a administração de fato, mesmo que não tenha
sido eleito pelos demais, será considerado representante condominial para
todos os efeitos, conforme o art. 1.324. Evidentemente, esse administrador
poderá cobrar dos demais as despesas e custos havidos nessa administração,
arcando com sua quota-parte.
A atual legislação admite a possibilidade de contratação de terceiros,
estranhos ao condomínio, para o exercício da administração, conforme o art.
1.323 do Código Civil. Nesse caso, a administração poderá ser exercida pelos
chamados síndicos profissionais.
Para a escolha da administração, a decisão deverá ser por maioria absoluta
dos condôminos, entendendo-se esta como mais da metade dos proprietá-
rios votando favoravelmente pela escolha de determinado administrador,
conforme art. 1.325, § 1º, do Código Civil. Embora a lei prescreva que a
maioria será calculada pelo quinhão de cada proprietário, os condomínios
edilícios optam por dispor na convenção de condomínio que cada unidade
autônoma representará um voto. Discussões judiciais sobre o tema foram
pacificadas nos tribunais, entendendo-se que não há qualquer ilegalidade
nessa disposição, mesmo que apartamentos com mais de um pavimento
(quinhões maiores) sejam equiparados a apartamentos menores.
A forma de extinção do condomínio é a divisão, prevista no art. 1.320
do Código Civil. Considerando que a copropriedade se estende no tempo,
não há prescrição ou decadência do direito de requerer a ação de divisão de
condomínio. Serão aplicados os mesmos dispositivos legais da partilha de
herança, prevista nos arts. 2.013 e seguintes do Código Civil.
Observe, porém, que os condôminos poderão dividir a propriedade co-
mum de forma amigável por meio de escritura pública em cartório, desde
que todos sejam maiores. Se não for possível a cômoda divisão, deverá a
Direito de vizinhança e condomínio 313

coisa ser vendida, e os condôminos deverão ser indenizados conforme as


respectivas quotas-partes. Isso não impede que um dos condôminos indenize
os demais, extinguindo o condomínio.
Nos condomínios edilícios, é a convenção de condomínio que constituirá
e prescreverá as principais estipulações da convivência comum, conforme
art. 1.333 do Código Civil. Para ser oponível a terceiros, a convenção de
condomínio necessariamente deverá ser registrada no cartório de registro
de imóveis. Ainda que não registrada, porém, ela terá igual validade para
os condôminos.

A Lei nº. 4.591/1964 traz disposições legais detalhadas sobre o condomínio em edifi-
cações, as quais complementam as disposições constantes no Código Civil.

Na convenção, que é uma espécie de constituição da copropriedade, deverão


constar a discriminação e a individualização das unidades autônomas e áreas
comuns, isto é, a fração ideal das partes comuns atribuíveis a cada unidade
exclusiva e os fins destas unidades.
Constarão também na convenção: as quotas proporcionais e a forma de
pagamento das contribuições ordinárias e extraordinárias para a manuten-
ção da coisa comum; a forma de administração, a competência, a forma de
convocação e os quoruns das assembleias condominiais; as sanções a que
estão sujeitos os condôminos pela desobediência às regras condominiais; e o
regimento interno, que disciplinará o dia-a-dia da convivência.
Observe que, para a aprovação da convenção de condomínio, são neces-
sários os votos de dois terços das frações ideais do bem condominial, em
assembleia especialmente convocada para esse fim. Inexistindo previsão
específica na Convenção, o regimento interno poderá ser aprovado por
maioria simples dos presentes em assembleia igualmente convocada para
o fim de sua aprovação.
O órgão deliberativo máximo do condomínio é a assembleia geral de
condôminos, equivalente ao Poder Legislativo. Todos os condôminos deverão
ser previamente convidados a participar das assembleias e cientificados
314 Direito de vizinhança e condomínio

das matérias que serão discutidas e deliberadas, sob pena de nulidade.


Anualmente a Assembleia deverá se reunir por convocação do síndico, para
deliberar assuntos gerais, aprovar as contas e dispor sobre a manutenção e
a conservação do bem comum.
Caso o síndico não convoque a assembleia, esta poderá ser convocada por
um quarto das frações ideais ou, inexistindo o quorum mínimo para a con-
vocação, por decisão judicial requerida por qualquer condômino, nos termos
dos parágrafos primeiro e segundo do art. 1.350 do Código Civil.
O síndico representa o Poder Executivo do condomínio. Além de admi-
nistrar o condomínio em nome dos demais coproprietários e por deliberação
da assembleia geral, representará ativa e passivamente em juízo. A sua
representação poderá ser por até dois anos, conforme art. 1.347 do Código
Civil, embora recomendável e mais usual seja a eleição anual do síndico. É
possível a reeleição.
O síndico, não obstante a possibilidade de delegar algumas de suas
tarefas, exerce uma série de funções, responsabilizando-se pessoalmente
por sua culpa ou dolo, competindo-lhe as seguintes tarefas: convocar a
assembleia dos condôminos; representar, ativa e passivamente, o condo-
mínio, praticando, em juízo ou fora dele, os atos necessários à defesa dos
interesses comuns; dar imediato conhecimento à assembleia da existência
de procedimento judicial ou administrativo, de interesse do condomínio;
cumprir e fazer cumprir a convenção, o regimento interno e as determi-
nações da assembleia; diligenciar a conservação e a guarda das partes
comuns e zelar pela prestação dos serviços que interessem aos possuidores;
elaborar o orçamento da receita e da despesa relativa a cada ano; cobrar
dos condôminos as suas contribuições, bem como impor e cobrar as mul-
tas devidas; prestar contas à assembleia, anualmente e quando exigidas;
realizar o seguro da edificação.
Por se tratar de cargo de confiança e delegação dos demais condôminos,
poderá ser destituído de suas funções por maioria absoluta de votos em as-
sembleia especialmente convocada para o fim, assegurados o princípio do
contraditório e a ampla defesa ao síndico antes de sua eventual destituição.
Direito de vizinhança e condomínio 315

1. Haverá a comunhão de direitos b) Chama-se de árvore-meia.


quando várias pessoas possuírem c) Os frutos caídos no terreno de
direitos idênticos sobre a mesma Renato não poderão ser colhidos
coisa ou conjunto de bens. Qual e comidos sem a autorização
dessas alternativas se refere ao de Carmela, que também
condomínio do direito das coisas? é proprietária da árvore.
a) A solidariedade é típica do d) A possibilidade de colheita
direito das coisas, pois serão dos frutos caídos contraria
os condôminos solidários a regra em que o acessório
no pagamento dos tributos segue o principal.
incidentes sobre o imóvel. e) O proprietário lindeiro poderá
b) No Direito Romano se cortar as raízes e ramos da
compreendia o condomínio árvore do vizinho que ingressar
como a propriedade exercida em sua propriedade.
por cada condômino sobre o 3. O vizinho do apartamento superior
todo, não em forma de quotas. contratou plano de internet,
c) A parte ideal de um bem cujos cabos deverão passar pelo
em condomínio representa apartamento de baixo. Qual
uma abstração jurídica. das alternativas é a correta?
d) O condomínio é sempre a) O vizinho de baixo poderá se
uma opção, não se podendo opor à instalação e o vizinho
obrigar o proprietário a ter de cima deverá achar outro
bem em condomínio. meio de contratar a internet.
e) No condomínio pro diviso existe b) Essa restrição ao direito de
mera aparência de condomínio, propriedade assemelha-se
porque os comunheiros têm suas à servidão administrativa.
partes definidas; no pro indiviso c) O proprietário de cima, por
a indivisibilidade não é apenas sua conveniência, escolherá o
de direito, mas também de fato. local de passagem dos cabos
2. Carmela plantou uma macieira que melhor lhe aprouver.
exatamente sobre a divisa com d) Mesmo sendo a administração
o terreno de Renato. Qual das pública quem instalará os cabos,
respostas está incorreta? aplicam-se exclusivamente
a) Mesmo considerando que as regras do Código Civil.
foi Carmela quem plantou a e) Quem determina o uso de regras
árvore, ambos deverão custear o e equipamentos de segurança
tratamento e poda da macieira. na instalação é o dono da obra.
316 Direito de vizinhança e condomínio

4. Num condomínio pro diviso, e) O lindeiro construiu uma


um condômino construiu sua abertura para ventilação a
casa desconsiderando uma um metro da divisa, com
regra básica em relação aos uma pequena janela de 12
seus vizinhos lindeiros. Qual centímetros de largura e 22
regra foi desconsiderada?  centímetros de comprimento.
a) O vizinho construiu a sua 5. É permitida a seguinte ação
varanda a apenas um metro pelo proprietário lindeiro:
e meio da divisa do lindeiro. a) utilizar-se de toda a espessura
b) A construção das calhas da parede comum, desde que
despeja as águas diretamente não atrapalhe o vizinho. 
no esgoto pluvial. b) construir lareira na parede
c) O condômino levantou comum, independentemente
contramuro em sua do tamanho desta.
propriedade, impedindo c) a construção de sumidouro
a claridade no lindeiro. próximo a nascentes de água.
d) Sendo a hipótese de um d) ingressar no imóvel do vizinho
condomínio rural, estaria correto para a limpeza e manutenção de
o vizinho construtor se sua pontos específicos de sua casa.
edificação estivesse a mais de e) construir janelas e muros
três metros do imóvel lindeiro. a qualquer distância
do imóvel lindeiro.

BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 9 maio 2018.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: Direito das Coisas. São Paulo: 2012. v. 5.
MIRANDA, P. Direito das Coisas: direitos de vizinhança. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2012. (Coleção Tratado de Direito Privado: Parte Especial; 13).
PETIT, E. Tratado elemental de Derecho romano. México: Porrúa, 2007.
VENOSA, S. S. Direito Civil: direitos reais. São Paulo: Atlas, 2005.

Leitura recomendada
WOLKMER, A. C. (Org). Fundamentos de história do Direito. 8. ed. Belo Horizonte: Del
Rey, 2014.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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