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Público e privado

Flavia Biroli

Esfera pública versus esfera privada


Pública - razão, impessoalidade e noções universais
Privada - relações de caráter pessoal e íntimo

“Se na primeira (esfera pública) os indivíduos são definidos como manifestações da


humanidade ou da cidadania comuns a todos, na segunda (esfera privada) é
incontornável que se apresentem em suas individualidades concretas e particulares."
p. 32

É possível perceber que a distinção entre as duas esferas busca delimitar as zonas de
influência de cada uma delas. Para a autora, preservar a separação do público e do privado
possibilita a perpetuação das relações autoritárias que subjugam indivíduos.
Essa radical separação permite “a preservação de relações de autoridade que limitam a
autonomia das mulheres”. Pois a noção de que apenas aos indivíduos que fazem parte da
esfera doméstica competem questões dessa área, serviu para bloquear a proteção daqueles
mais vulneráveis nas relações de poder corrente, além de criar um limite para a construção da
democracia.

“O feminismo mostra, assim, que é impossível descolar a esfera política da vida


social, a vida pública da vida privada, quando se tem como objetivo a construção de
uma sociedade democrática. Faz sentido, assim, abandonar a visão de que esfera
privada e esfera pública correspondem a "lugares" e "tempos" distintos na vida dos
indivíduos, passando a discuti-las como um complexo diferenciado de relações, de
práticas e de direitos ". p. 34

Tendo tais concepções em mente, fica claro a necessidade de retificar a relação entre
as duas esferas a fim de que “exista justiça na esfera privada e que o acesso a posições, em
qualquer uma delas, não seja hierarquizado segundo o sexo dos individuos” (p. 36), sua
nacionalidade ou orientação sexual.
Porém é preciso destacar “que as atividades das mulheres na esfera privada
engendram uma ética distinta, baseada na experiência do cuidado e na gestão dos afetos, que
teria impacto positivo se levada para a esfera da política” (p. 36), nesse sentido a crítica se
acentua no “isolamento da mulher na esfera privada”.
A autora tambem comenta como pautas importantes, como “o direito ao aborto ou o
controle da sua sexualidade” acabam sendo “determinadas não por agendas feministas
favoráveis à reconstrução das relações afetivas e sexuais, mas por agendas morais de grupos
religiosos ou tradicionalistas, que tendem a operar contrariamente a relações de gênero mais
igualitárias e à autonomia das mulheres.” (p. 44)
Entretanto, a esfera privada também pode ser um local de afeto e proteção para a
mulheres negras, como argumenta bell hooks, assim como para pessoas não- heterosexoais
em uma sociedade heteronormativa. Porém cabe questionamentos, pois privacidade pode ser
um aliado em alguns casos, mas essa seria a solução? Como a privacidade pode ser
considerada?

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