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Sistemas de Transportes em Portugal

Introdução
Enquadramento
Em Portugal, o sistema de transporte é um tema de grande importância, uma vez que tem um
impacto significativo na economia e na qualidade de vida dos cidadãos. O país possui uma rede
de transportes relativamente desenvolvida, que inclui transportes rodoviários, ferroviários,
aéreos e marítimos.

No entanto, existem desafios significativos que precisam ser enfrentados para melhorar a
eficiência do sistema de transporte em Portugal. O país enfrenta problemas como
congestionamentos de tráfego em áreas urbanas, falta de infraestrutura adequada em
algumas regiões, e falta de investimento em transportes públicos e sustentáveis.

A introdução de tecnologias avançadas e a implementação de medidas de sustentabilidade são


áreas em que Portugal tem feito progressos significativos nos últimos anos. Alguns exemplos
disso incluem a expansão da rede de ciclovias e a introdução de sistemas de transporte
inteligentes em algumas cidades.

No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito para melhorar a eficiência do sistema de
transporte em Portugal, especialmente no que diz respeito à redução dos custos logísticos e de
deslocação. Para isso, é necessário que haja uma maior cooperação entre o setor público e
privado, além de um investimento contínuo em infraestrutura e tecnologia.

1. Breve caracterização do sistema


Contexto histórico
O sistema de transportes nacional experimentou alterações profundas nas últimas décadas.
A rede rodoviária foi expandida através de investimentos significativos, quer diretamente
através do Orçamento do Estado.

O sistema aeroportuário foi sujeito a um crescimento sem precedentes nas últimas duas
décadas, fruto da liberalização do transporte aéreo, do aparecimento e crescimento das
companhias de baixo custo e da evolução registada pela TAP.

O sistema portuário atravessou uma revolução silenciosa desde os anos ‘80, crescendo,
adaptando-se a uma alteração na composição de carga em favor de uma maior
contentorização e acompanhando a evolução tecnológica (maiores navios) com uma maior
intervenção direta do sector privado, pioneiro no desenvolvimento de concessões.

Simultaneamente, a um nível mais urbano, as redes dos sistemas de Metropolitano de Lisboa e


Porto foram expandidas.

A pandemia do COVID-19 atingiu o sector dos transportes de forma particularmente gravosa,


em particular no que diz respeito ao transporte aéreo, mas também ao rodoviário e
ferroviário.

Para além disso, assiste-se a uma alteração estruturalna forma como se planeiam os futuros
investimentos.
No caso português, há uma evidência clara da degradação do sistema ao nível da
acessibilidade proporcionada aos territórios. Importa, por isso, analisar e avaliar como evoluiu
a principal dimensão do serviço prestado ao território pelos sistemas de transporte — a
acessibilidade.

Análise da acessibilidade
Uma das primeiras etapas deste estudo passou pela criação e análise de uma base de dados
geográfica que permitisse caracterizar a evolução do sistema. Procurou-se criar um conjunto
de indicadores que capturassem várias dimensões:

1. Tempos de deslocação, tendo-se procurado analisar os tempos de ligação das várias regiões
às principais portas de entrada e saída do país no sector dos passageiros e das mercadorias,
tais como portos e aeroportos;

2. Distâncias físicas aos portos e aeroportos, seja em rodovia seja em ferrovia, uma vez que
ambas as redes possuem níveis de cobertura e serviço muito distintos;

3. Stock de infraestruturas, isto é, a quantidade de infraestruturas existentes numa


determinada região;

4. Indicadores compósitos de acessibilidade, ou seja, indicadores que procuram medir a maior


ou menor ligação às restantes regiões, usando diferentes métricas de qualidade de
acessibilidade. Como se discutirá no Capítulo 4, nem todas as medidas de acessibilidade
importam no estudo da produtividade.

Variação da acessibilidade
A acessibilidade no sistema de transportes em Portugal varia significativamente, dependendo
da região e do modo de transporte utilizado. Algumas áreas urbanas, como Lisboa e Porto, têm
uma rede de transporte público relativamente bem desenvolvida, com metrôs, ônibus e trens
que conectam as diferentes áreas da da

No entanto, em algumas áreas rurais e remotas, a acessibilidade pode ser um problema, com
poucas opções de transporte público disponíveis e longas distâncias a serem percorridas para
chegar a serviços básicos, como hospitais e escolas.

Além disso, o acesso a serviços de transporte mais eficientes, como o trem de alta velocidade
(TGV), varia significativamente em Portugal. Embora existam planos para expandir a rede de
trem de alta velocidade em Portugal, atualmente, a única linha TGV em operação no país é a
ligação entre Lisboa e Madri, na Espanha.

A acessibilidade também pode ser um desafio para pessoas com mobilidade reduzida, já que
muitos dos veículos de transporte público em Portugal não são adaptados para acomodar
cadeiras de rodas e outras necessidades especiais.

Em geral, a acessibilidade no sistema de transporte em Portugal tem melhorado nos últimos


anos, com investimentos em infraestrutura e tecnologia. No entanto, ainda há muito a ser
feito para garantir que todos os cidadãos portugueses tenham acesso a um sistema de
transporte seguro, eficiente e acessível.

2. Análise de eficiência

Impacto dos choques externos na eficiência

Os choques externos podem ter um impacto significativo na eficiência do sistema de


transportes em Portugal. Por exemplo, a crise econômica e financeira de 2008 afetou
fortemente o setor de transportes em todo o país, levando a uma queda na demanda por
transporte e a uma redução nos investimentos em infraestrutura e tecnologia.

Além disso, eventos imprevisíveis, como desastres naturais e pandemias, também podem ter
um impacto significativo na eficiência do sistema de transporte. Por exemplo, durante a
pandemia de COVID-19, o setor de transporte em Portugal foi significativamente afetado, com
a redução da demanda por transporte público e a necessidade de implementar medidas de
distanciamento social e higiene em veículos e estações.

Outros fatores externos, como as flutuações no preço do petróleo e as mudanças nas políticas
governamentais, também podem ter um impacto significativo na eficiência do sistema de
transporte em Portugal. Por exemplo, o aumento no preço do petróleo pode levar a um
aumento no custo dos combustíveis utilizados pelos veículos de transporte, o que pode afetar
os preços das passagens e reduzir a demanda por transporte.

Em resumo, os choques externos podem ter um impacto significativo na eficiência do sistema


de transporte em Portugal, afetando a demanda, os investimentos em infraestrutura e
tecnologia, e os custos de operação do setor. É importante que o país esteja preparado para
lidar com esses choques externos e tomar medidas para minimizar seu impacto no sistema de
transporte e na economia em geral.

Impacto da privatização na eficiência da TAP


A privatização da TAP (Transportes Aéreos Portugueses) em 2015 teve um impacto
significativo na eficiência da companhia aérea e no sistema de transportes em Portugal. A
venda da TAP para o consórcio Atlantic Gateway, liderado pelo empresário norte-americano
David Neeleman, foi acompanhada de uma série de mudanças no funcionamento da empresa.

Uma das principais mudanças foi a introdução de uma nova estratégia de negócios, que se
concentrava na expansão da rede de destinos da TAP e na melhoria da eficiência operacional
da companhia. Isso incluiu a compra de novos aviões, a renovação da frota existente, a
melhoria da experiência do passageiro e a redução dos custos de operação.
A privatização da TAP também levou a mudanças significativas na estrutura organizacional da
empresa, incluindo a redução de pessoal e a revisão dos contratos de trabalho dos
funcionários. Essas mudanças permitiram que a TAP reduzisse seus custos operacionais e
aumentasse sua eficiência.

Desde a privatização, a TAP tem registrado um aumento na demanda por seus serviços, além
de uma melhoria na pontualidade e na qualidade do serviço oferecido aos passageiros. A
companhia aérea também expandiu sua rede de destinos, adicionando novas rotas na Europa,
América do Norte, África e Brasil.

Em resumo, a privatização da TAP teve um impacto positivo na eficiência da companhia aérea


e no sistema de transportes em Portugal, permitindo que a empresa expandisse sua rede de
destinos, melhorasse a qualidade do serviço e reduzisse seus custos operacionais. No entanto,
a privatização da TAP continua sendo um assunto controverso, com alguns críticos
argumentando que a venda da empresa deveria ter sido adiada até que a companhia aérea
estivesse em uma posição financeira mais sólida.

Efeitos dos modelos de gestão pública e privada na eficiência

Os modelos de gestão pública e privada podem ter efeitos significativos na eficiência do


sistema de transportes em Portugal.

No modelo de gestão pública, o Estado é o principal responsável pela operação e gestão do


sistema de transportes. O governo é responsável por definir as políticas de transporte, fazer
investimentos em infraestrutura e equipamentos, além de regular e controlar as empresas de
transporte.

Este modelo pode ter vantagens, como a possibilidade de uma maior coordenação entre as
diferentes modalidades de transporte e a garantia de que o sistema de transporte esteja
disponível para atender a todas as regiões, independentemente da sua rentabilidade. No
entanto, pode haver desvantagens, como a falta de flexibilidade e inovação, devido à
burocracia e ao excesso de regulamentação.

No modelo de gestão privada, a responsabilidade pela operação e gestão do sistema de


transportes é transferida para empresas privadas. Essas empresas podem trazer inovação e
flexibilidade para o sistema de transporte, uma vez que estão mais focadas na eficiência e na
maximização dos lucros.

Por outro lado, as empresas privadas podem ser menos propensas a fornecer serviços em
regiões menos rentáveis, o que pode levar à exclusão de algumas áreas do sistema de
transporte. Além disso, as empresas privadas podem ser mais suscetíveis a flutuações de
mercado, o que pode afetar negativamente a qualidade do serviço prestado.

Em resumo, tanto o modelo de gestão pública quanto o modelo de gestão privada podem ter
impactos positivos e negativos na eficiência do sistema de transportes em Portugal. É
importante que o governo encontre um equilíbrio entre esses dois modelos, garantindo que
haja uma coordenação eficiente entre as diferentes modalidades de transporte e que o
sistema esteja disponível para atender a todas as regiões do país, independentemente da sua
rentabilidade.
Impacto dos modelos alternativos de concessão rodoviária na eficiência

Os modelos alternativos de concessão rodoviária têm sido implementados em Portugal com o


objetivo de melhorar a eficiência do sistema de transportes do país. Esses modelos incluem
parcerias público-privadas (PPPs), concessões de longo prazo e modelos de portagem
eletrônica.

As PPPs permitem que o setor privado seja responsável pela construção, operação e
manutenção de uma rodovia ou infraestrutura de transporte em troca de pagamentos do
governo. Esse modelo pode trazer inovação e eficiência para o sistema de transporte, uma vez
que o setor privado está mais focado na redução de custos e no aumento da qualidade do
serviço. No entanto, as PPPs também podem ser controversas, uma vez que os custos
associados à construção e manutenção da infraestrutura podem ser mais altos do que os
custos do setor público.

As concessões de longo prazo permitem que uma empresa privada opere uma rodovia ou
infraestrutura de transporte por um período de tempo mais longo, geralmente 30 anos ou
mais. Esse modelo pode trazer benefícios, como a melhoria da qualidade do serviço e a
redução dos custos operacionais a longo prazo. No entanto, também pode haver
preocupações com a exclusão de áreas menos rentáveis do sistema de transporte.

Os modelos de portagem eletrônica permitem que os usuários paguem pelo uso das estradas
usando sistemas eletrônicos, como etiquetas de pedágio ou sistemas de cobrança automática.
Esse modelo pode reduzir os custos administrativos e aumentar a eficiência do sistema de
transporte, uma vez que os usuários podem pagar diretamente pelo uso das rodovias. No
entanto, pode haver preocupações com a exclusão de usuários que não possuem ou não
querem usar esses sistemas eletrônicos.

Em resumo, os modelos alternativos de concessão rodoviária podem ter impactos positivos e


negativos na eficiência do sistema de transportes em Portugal. É importante que o governo
avalie cuidadosamente esses modelos e encontre um equilíbrio entre a eficiência e a equidade,
garantindo que todas as áreas do país sejam atendidas pelo sistema de transporte e que os
usuários possam acessá-lo de forma acessível e justa.
Impacto da fusão de empresas públicas na eficiência (Infraestruturas de
Portugal)
A fusão de empresas públicas pode ter um impacto significativo na eficiência do
sistema de transportes de Portugal. No caso específico da fusão que criou a
Infraestruturas de Portugal, em 2015, o objetivo principal era consolidar em uma única
entidade todas as empresas responsáveis pela gestão da infraestrutura ferroviária e
rodoviária do país, com o objetivo de aumentar a eficiência, reduzir custos e melhorar
a coordenação entre os diferentes setores.

Uma das principais vantagens da fusão foi a criação de uma estrutura mais simples e
eficiente, que permitiu a integração de processos, a redução de custos administrativos
e a otimização de recursos. Além disso, a Infraestruturas de Portugal pode agora
concentrar seus esforços em investimentos mais estratégicos em infraestrutura, bem
como melhorar a coordenação entre diferentes modos de transporte, como ferroviário
e rodoviário, para aumentar a eficiência global do sistema de transportes do país.
Outra vantagem da fusão foi a maior capacidade da empresa em captar recursos para
investimentos em infraestrutura, uma vez que a Infraestruturas de Portugal tem agora
uma estrutura mais robusta e uma maior capacidade de planejamento e gestão de
projetos de grande escala.
No entanto, a fusão também teve alguns desafios, como a necessidade de ajustar
processos e procedimentos para acomodar as diferentes culturas e práticas das
empresas envolvidas na fusão, bem como garantir que a transição fosse feita de forma
suave e eficiente, sem interrupções significativas nos serviços de transporte.
Em resumo, a fusão de empresas públicas, como no caso da criação da Infraestruturas
de Portugal, pode ter um impacto positivo na eficiência do sistema de transportes de
Portugal, desde que seja bem planejada e gerenciada, com uma abordagem
estratégica e integrada para a gestão de infraestrutura e investimentos
3. Acessibilidade e Produtividade

Relação entre acessibilidade e produtividade


A acessibilidade é um fator crucial para a produtividade no sistema de transportes de Portugal,
uma vez que uma boa acessibilidade permite que as empresas e os indivíduos possam se
deslocar de forma mais rápida e eficiente, aumentando a eficiência do sistema produtivo como
um todo.

Por exemplo, a melhoria da acessibilidade pode permitir que as empresas tenham acesso mais
fácil a matérias-primas, equipamentos e mercados, reduzindo os custos logísticos e
aumentando a competitividade. Além disso, a acessibilidade pode melhorar a qualidade de
vida dos cidadãos, permitindo que eles cheguem ao trabalho, escola e outras atividades de
forma mais rápida e eficiente.

Por outro lado, a falta de acessibilidade pode levar a custos adicionais, tais como atrasos nas
entregas, perda de oportunidades de negócios e redução da qualidade de vida dos cidadãos.
Além disso, a falta de acessibilidade pode levar a uma maior exclusão social e econômica,
afetando desproporcionalmente as pessoas em áreas rurais ou de baixa renda.

Portanto, é importante que o sistema de transportes de Portugal seja projetado e gerenciado


de forma a garantir uma boa acessibilidade para todos os cidadãos e empresas,
independentemente da localização geográfica ou da renda. Isso pode ser feito por meio de
investimentos em infraestrutura de transporte, melhorias nos serviços de transporte público e
a implementação de políticas que incentivem o uso de transportes mais sustentáveis e
eficientes.

Conclusão

Apesar do papel central do sistema de transporte como facilitador do desenvolvimento


económico, social e ambiental de qualquer país, em Portugal existe uma falha fundamental na
disponibilização de dados e na conceção de uma estratégia de monitorização e avaliação capaz
de fornecer informação e análises que permitam uma política mais esclarecida.

Tranparência
A transparência prepararia o caminho para processos de tomada de decisão
verdadeiramente informados, baseados em análises quantitativas. Abordagens
semelhantes têm sido utilizadas, por exemplo, no sector de água pelo respetivo
regulador.
Avaliação da eficiência global
De uma forma geral, os níveis de eficiência do sistema de transportes têm vindo a melhorar.
Paradoxalmente, uma das principais alavancas para essa melhoria foi a crise financeira de
2008, que teve impactos positivos de curto e médio prazo sobre a eficiência económica.

Concessões e Privatizações

O impacto dos modelos de gestão nos sistemas de transporte tem sido um tema recorrente na
literatura académica, embora não existam dados empíricos para o contexto português.
Embora as concessões e as privatizações sejam estruturalmente diferentes, para o propósito
de nossa pesquisa ambas representam uma perspetiva de gestão privada da empresa de
transporte.

Fusões e aquisições
Relativamente às fusões e aquisições, o estudo analisou dois casos: a aquisição da Portugália
pela TAP e a fusão da Estradas de Portugal com a REFER numa nova empresa - a
Infraestruturas de Portugal. Os resultados mostram que ambas as estratégias induziram
maiores níveis de eficiência nas empresas, ou seja, é caso para dizer que quanto maior,
melhor.

Na verdade, a eficiência da Infraestruturas de Portugal parece melhorar com o crescimento do


PIB. Em sentido contrário, no passado, num contexto idêntico, a eficiência das empresas que
lhe deram origem, Estradas de Portugal e REFER, diminuiu.

Produtividade e acessibilidade
Relativamente ao impacto que o sistema de transportes tem nas regiões, em particular na
produtividade aparente,os resultados demostram que a acessibilidade é importante, mas que
nem todos os tipos de acessibilidade são essenciais.

Em média, os tempos de viagem diminuíram globalmente no sistema rodoviário como


resultado de um investimento substancial na rede desde os anos 1990. O oposto aconteceu
com a acessibilidade ferroviária. Devido ao desinvestimento na rede, treze das vinte e três
regiões apresentaram uma variação negativa neste indicador. Como tal, os resultados
evidenciaram que, historicamente, a ferrovia teve pouco ou nenhum contributo para a
melhoria da produtividade.
Principais limitações e desenvolvimentos futuros
Este tipo de estudos tem limitações importantes que devem ser identificadas. A primeira diz
respeito ao uso de informações retiradas dos relatórios anuais das empresas analisadas.

A segunda limitação está relacionada com a crítica recorrente ao uso de DEA para empresas
distintas, pelo facto de cada empresa operar num contexto específico que não pode ser
contabilizado com precisão. A terceira limitação decorre do período de análise relativamente
curto, especialmente levando-se em consideração operações como fusões e privatizações.

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