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CURSO: DIREITO PERÍODO: 1º

DISCIPLINA: INTRODUÇÃO AO DIREITO


PROFESSOR: ME. RENATO DE SOUZA NUNES

UNIDADE XII: HERMENÊUTICA JURÍDICA

1) INTRODUÇÃO

- O Direito é indubitavelmente um fenômeno linguístico.


- A hermenêutica é a teoria da interpretação.
- Objeto de estudo da ciência do direito são também as normas jurídicas.
- As normas jurídicas consistem no instrumento de comunicação da vontade estatal.
- Conceito de direito (dimensão positivista): conjunto de normas jurídicas (regras e
princípios), passíveis de serem aplicadas às situações concretas com o propósito de
solucionar os eventuais conflitos de interesses que ali existam.
- A aplicação das normas jurídicas pressupõe a sua interpretação.
- É possível que surjam vários problemas na tarefa interpretativa, que, a propósito,
subsistirá em grande parte das vezes dentro de um processo.
▪ As expressões linguísticas podem assumir diversos significados diferentes (as
palavras não são unívocas, ao revés, elas são plurissignificativas);
▪ O Direito possui uma linguagem técnica (propriamente jurídica), cujos termos
possuem significados próprios;
▪ Da conjugação das palavras, sejam elas técnicas ou não, podem advir diversos
problemas interpretativos, equivocidades;

7.2 CONCEITO DE HERMENÊUTICA

- Hermenêutica não se confunde com interpretação.


- Hermenêutica é a teoria científica da interpretação. Por outras palavras, ela estabelece as
diretrizes da atividade interpretativa, ao passo em que a interpretação traduz a atividade de
fixar o sentido e o alcance das normas jurídicas.
- “Hermenêutica é a teoria científica da arte de interpretar.” (Carlos Maximiliano)

3) CONCEITO DE INTERPRETAÇÃO

- “Interpretar é explicar, esclarecer; dar o significado de vocábulo, atitude ou gesto;


reproduzir por outras palavras um pensamento exteriorizado; mostrar o sentido verdadeiro
de uma expressão; extrair, da frase, sentença ou norma, tudo o que na mesma se contém.”
(Carlos Maximiliano)

Art. 113, CC. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme


a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Art. 114, CC. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia
interpretam-se estritamente.

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- Interpretar significa revelar o sentido e fixar o alcance das normas jurídicas.

- Além do conhecimento técnico, é exigido do intérprete as condições pessoais:


a) probidade
b) serenidade
c) equilíbrio
d) diligência:
Também deve ter curiosidade científica.

4) ORIGEM DA HERMENÊUTICA

- Origem da hermenêutica: nos remete à mitologia grega; Hermes era um Deus sábio e
comunicativo e, por essa razão, foi constituído mensageiro dos deuses; a vontade dos
deuses era oculta, de sorte que cumpria a Hermes revelá-la.

5) SUBJETIVIDADE (bagagem histórica, cultural e subjetiva)

- No âmbito da hermenêutica, a subjetividade do intérprete é algo incontestável. O resultado


da interpretação é, em grande medida, moldado pela subjetividade do intérprete.
- A interpretação será diferente tantos quantos forem os intérpretes;

A melhor interpretação, afirmam os autores argentinos, será a que realize esses valores
(justiça e segurança), não pela via da originalidade ou do subjetivismo, que levariam à
arbitrariedade, mas seguindo-se o plano do próprio legislador.
- O texto de Luiz Fernando Veríssimo elucida bem o que se está a tratar, evidenciando
que a interpretação varia conforme as circunstâncias, conforme a região, conforme a
pessoa que está realizando-a.

“Nesta altura da vida, já não sei mais quem sou...


Vejam só que dilema!!!
Na ficha da loja, sou CLIENTE, no restaurante, FREGUÊS, quando
alugo uma casa, INQUILINO, na condução, PASSAGEIRO, nos
correios REMETENTE, no supermercado, CONSUMIDOR.
Para a Receita Federal, CONTRIBUINTE, se vendo algo importado,
CONTRABANDISTA. Se revendo algo, sou MUAMBEIRO, se o carnê
tá com o prazo vencido, INADIMPLENTE, se não pago imposto,
SONEGADOR. Para votar, ELEITOR, mas em comícios, MASSA. Em
viagens, TURISTA, na rua, caminhando, PEDESTRE. Se sou
atropelado, ACIDENTADO, no hospital, PACIENTE. Nos jornais, viro
VÍTIMA, se compro um livro, LEITOR, se ouço rádio, OUVINTE. Para
o Ibope, ESPECTADOR, para apresentador de televisão,
TELESPECTADOR, no campo de futebol, TORCEDOR. Se sou
atleticano, SOFREDOR.
Agora, já virei GALERA. Se trabalho na ANATEL, sou
COLABORADOR. E, quando morrer,... uns dirão... FINADO,
outros,... DEFUNTO, para outros,... EXTINTO, para o povão,...

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PRESUNTO... Em certos círculos espiritualistas serei...
DESENCARNADO. Evangélicos dirão que fui... ARREBATADO. E o
pior de tudo é que para todo governante sou apenas um IMBECIL!!!
E pensar que, um dia, já fui mais EU.” Luiz Fernando Veríssimo.

6) DISTINÇÃO ENTRE NORMA JURÍDICA E TEXTO / ENUNCIADO NORMATIVO

▪ As normas resultam da interpretação. O significado da norma é produzido pelo


intérprete.
▪ “Os enunciados normativos nada dizem; eles dizem o que os intérpretes dizem que
eles dizem.” Eros Roberto Grau
▪ Interpretam-se textos; não se interpretam as normas, ao revés, elas são o produto
da interpretação.
▪ “A ciência do direito tem, precipuamente, uma função hermenêutica, isto é, de
revelação do direito. Através dessa função, o jurista descobre a norma, no sentido
de que a norma está escondida dentro de expressões gramaticais, confeccionadas
em tinta e papel.” (Anderson Vaz)
▪ A interpretação do direito como atividade criativa: todos os juristas/intérpretes podem
extrair sentidos, significados diversos das expressões jurídicas, dos textos jurídicos.
Vejam! De um único enunciado normativo, qual seja, o art. 5º da CF, é possível
vislumbrar várias normas jurídicas.
 Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

7) RELATIVIDADE DA INTERPRETAÇÃO – INTERPRETAÇÃO SOCIOLÓGICA

- No Direito, vigora o primado da relatividade, o primado das diversas interpretações. O


Direito é um mundo da relatividade. Por vezes, um mesmo fato pode ser verdade ou
mentira, na ótica de diferentes intérpretes.
- Modificação do conteúdo da lei (seu sentido; mutação de sentido), sem modificação do
texto.

8) O PROBLEMA DAS LACUNAS NORMATIVAS E ANTINOMIAS JURÍDICAS

- É por meio da hermenêutica que o jurista percebe as falhas, as contradições, as


antinomias no ordenamento jurídico, devendo indicar os critérios para selecioná-las.

9) MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO:

- Métodos que conduzem a atividade interpretativa do jurista quando da verificação do


sentido e alcance das expressões jurídicas.
- Ao interpretar o jurista deve revelar o sentido da norma jurídica. Os métodos direcionarão
esse procedimento.

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a) Gramatical
- “As palavras constituem-se em ponto de partida inarredável àquele que se dispõe à tarefa
interpretativa.”
- “A disposição legal apresenta-se ao jurista como um enunciado linguístico, como um
conjunto de palavras que constituem um texto. Interpretar consiste evidentemente em retirar
desse texto um determinado sentido ou conteúdo de pensamento.” João Baptista Machado
- As normas jurídicas são veiculadas em enunciados linguísticos, demandando, pois, que o
intérprete realize uma interpretação gramatical desses enunciados.
- Como as normas jurídicas assumem uma forma linguística, de comunicação da vontade
estatal, faz-se necessário que nós as interpretemos.

- Orientação subjetivista – mens legislatoris: propugna que, dentre os diversos sentidos


que se pode extrair dos enunciados normativos, deve-se observar aquele que corresponde
à vontade do legislador que criou a norma.
- Orientação objetivista – mens legis: dispõe que o intérprete não está vinculado à vontade
do legislador, haja vista que o enunciado normativo, uma vez criado, se desprende do seu
criador, passando a ter vida própria. Assim, o sentido extraído do texto não deve
corresponder necessariamente à vontade do legislador.

- Não se deve, contudo, contentar com o método gramatical de interpretação, sob pena de
os gramáticos se tornarem os maiores intérpretes.
- Por outro lado, é necessário considerar que as expressões gramaticais são, no mais das
vezes, ambíguas, reforçando a insuficiência do método gramatical.

- Crítica ao dogma “In claris cessat interpretatio?”

b) Lógico
- Uma vez superada a fase gramatical – que é o ponto de partida da interpretação –, o
intérprete deve se dedicar a uma interpretação mais aprofundada, com o propósito de
esclarecer o sentido do texto interpretado.
- A lógica é, em grande medida, utilizada por ocasião da interpretação. Vários preceitos
lógicos auxiliam a atividade interpretativa.
- O método lógico se desmembra em três técnicas de interpretação:
- O método representa o caminho percorrido para se interpretar um texto legal e se obter
um resultado da atividade interpretativa, ao tempo em que as técnicas estão relacionadas
aos instrumentos utilizados pelo jurista nessa empreitada.

b.1) Técnica Sistemática: a interpretação de um determinado texto normativo somente


tem sentido se se considerá-lo parte de um todo organizado, coerente.
- Um enunciado normativo tem sentido apenas se for levado em consideração todo o
ordenamento jurídico quando da sua interpretação.
- “Não se interpreta o direito em tiras, aos pedaços.” (Eros Grau)
- Basta lembrar que toda interpretação e aplicação do direito deve observar as prescrições
contidas na Constituição Federal.
- Interpretação do texto considerando-se todo o artigo.

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- Interpretação do texto de lei considerando-se o capítulo ou a sessão em que ele se
encontra.
- Interpretação dos ramos do Direito à luz da Constituição Federal.

B) Técnica Histórica: por essa técnica, utiliza-se de eventos históricos que auxiliam na
elucidação do sentido na norma. Essa técnica impõe que seja analisada a legislação
anterior à norma interpretada, bem assim as circunstâncias sociais que orientaram a
elaboração da norma.
- Ex.: Constituição Federal de 1988.
- Ex.: Lei Maria da Penha.
- Ex.: Código Civil de 2002 (personalista – valoriza a pessoa humana), que sucedeu o
Código Civil de 1916 (patrimonialista).
- Essa técnica dispõe que os elementos históricos podem contribuir para clarificar o sentido
de determinado enunciado normativo.

C) Técnica Teleológica: o direito não é um fim em si mesmo. O direito se traduz em um


instrumento de pacificação social, isto é, ele é composto de normas jurídicas que orientam
as condutas humanas, com vistas a harmonizar as relações sociais, produzindo a menor
perturbação social possível.
- “A interpretação é teleológica quando considera os fins aos quais a norma jurídica se dirige
(telos = fim).” Rizzatto Nunes
- “Na verdade, qualquer interpretação deve levar em conta a finalidade para a qual a norma
foi criada.” Rizzatto Nunes
- Teleologia está relacionada aos fins do direito.
Essa norma não é direcionada apenas aos juízes,
mas a todos os juristas no ato de interpretação e
aplicação das normas jurídicas.

- Art. 5º, LINDB. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais do direito e às
exigências do bem comum.

As diversas técnicas interpretativas não operam isoladamente, elas se completam. Não há


uma hierarquização segura das múltiplas técnicas de interpretação.

10) INTERPRETAÇÃO QUANTO AOS RESULTADOS

- A pergunta que se pretende responder nesse tópico é a seguinte: quais os resultados que
o ato de interpretação pode produzir?

a) Interpretação declarativa
- Tem-se interpretação declarativa quando o sentido da norma coincide com o sentido
gramatical dela. A interpretação, nesse caso, é clara.

b) Interpretação extensiva

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- Situação em que o legislador diz menos do que deveria dizer, competindo ao intérprete
estender o sentido da norma jurídica. Na interpretação extensiva, o sentido da norma
jurídica extrapola o enunciado normativo (não se limita aos contornos do texto normativo).
- Art. 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

c) Interpretação restritiva
- Nessa hipótese, o legislador disse mais do que deveria, cabendo ao intérprete restringir o
sentido da expressão normativa.
- Ex.: casamento é indissolúvel (previsão da CF de 1967).
- Ex.: “proibida a entrada de rinoceronte!”

O Direito Probatório é recurso importante para o convencimento judicial, permitindo a


compreensão das alegações e dos depoimentos das partes. Ex.: inspeção judicial do banco
da motocicleta.

11) INTERPRETAÇÃO QUANTO À FONTE

A) Autêntica: também denominada legislativa, a interpretação autêntica é a que emana


do próprio órgão competente para a edição do ato interpretado.

B) Doutrinária: Quando localizada em obras científicas, quase sempre tratados


especializados, encontrando-se também em pareceres de jurisconsultos e lições de
mestres em direito.

C) Judicial ou Jurisprudencial: a de autoria de juízes e tribunais.

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