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Fundamentos das preparações em Prostodontia Fixa

Temos 3 princípios fundamentais para a realização dos preparos: biológicos, mecânicos e


estéticos.

Princípios biológicos > Princípios mecânicos > Princípios estéticos

Princípios Biológicos
É muito importante que durante o preparo, existe uma preservação do órgão pulpar e do
periodonto.

Preservação do órgão pulpar


Durante a preparação do dente, é gerado calor pelo trabalho mecânico dos instrumentos
rotatórios que pode levar a necrose pulpar.
Qualquer variação da temperatura pulpar acima dos 15 graus, há necrose total ou parcial
da coroa.
No maxilar inferior devemos ter atenção ao IC e IL pois pode ocorrer uma exposição pulpar
durante o desgaste que conduza a uma necrose pulpar.
Nos dentes ICI, ILI, ILS e 1º PMS temos margens de erro mais pequenas, com risco de
necrose pulpar.
Aquecimento de 20ºC a 1 mm da polpa e aquecimento de 30ºC a 0,5 mm da polpa.

Também os produtos químicos utilizados para a refrigeração poderão constituir uma


agressão ao órgão pulpar.

Preservação do Periodonto
O Espaço biológico básico de tem de ser respeitado, principalmente quando os preparos
apresentam margens abaixo do limite gengival (subgengivais)

Sulco gengival -> 1,34 mm


Epitélio juncional -> 0,97 mm
Inserção conjuntiva supra-alveolar (fibras que se encontram sobre o osso) -> 1,07 mm

Isto significa que o espaço biológico básico apresenta cerca de 2mm. Se ultrapassarmos
este espaço, provocamos lesões a nível periodontal podendo resultar em migração para apical
do epitélio juncional, remodelação da crista óssea e consequente recessão gengival, que em
última instância se traduz numa revelação do limite da peça protética.

Na realidade clínica, utilizamos as margens subgengivais (intrasuculares) devido a fatores


estéticos, para que não se note a margem do preparo. Queremos que esta invada o sulco e não
o epitélio juncional ou a inserção conjuntiva.
Em termos de saúde periodontal não existem diferenças entre uma margem sub e supra-
gengival, contudo existem outras diferenças.

Há autores que defendem a utilização das margens supra-gengivais, devido às suas


vantagens:
 Observação direta da margem (principal vantagem)
 Avaliação futura de deterioração da margem
 Remoção fácil do cemente
 Higienização mais facilitada
(os resultados dos 4 autores apresentados não estão corretos porque no estudo há invasão do
espaço biológico, acabando isso por influenciar os resultados)

O ideal é trabalharmos com preparos em que a linha de terminação subgengival dista no


mínimo 3 mm da crista alveolar, para evitar que se gere inflamação gengival, reabsorção óssea
e formação de bolsas periodontais.
Princípios Mecânicos
Existem requisitos que tem de ser respeitados relativamente aos tecidos moles de suporte
(garante o suporte dentário), aos dentes e o seu aspecto (depende da vitalidade radicular e
morfologia coronária; importante para a capacidade de suporte do dente) e oclusão
(prematuridades e interferências vão afetar a ATM). São estes:
 Relação coroa-raiz
 Configuração da raiz
 Área do ligamento periodontal

Relação coroa-raiz
Define-se pela relação entre o comprimento do dente oclusalmente à crista alveolar e o
comprimento da raiz com suporte ósseo. O ideal é que esta relação seja de 2:3, sendo o
mínimo aceitável de 1:1.

À medida que o nível do osso diminui apicalmente, aumenta a força de alavanca que é aplicada
na porção que fica para fora do osso, aumentando a probabilidade de danos. Por outro lado,
quanto menor a área periodontal, menor o suporte logo menores as condições de manutenção
do dente.

Configuração da raiz
Comprimento

Raízes com largura VL>MD são preferíveis às arredondadas em corte transversal

Ancoragem

Raízes divergentes são melhores do que raízes fusionadas pois constituem uma splitagem
periodontal muito melhor do que dentes com raízes convergentes, fundidas ou com uma forma
cónica geral.

Dentes só com uma raiz e configuração irregular óbvia ou com alguma curvatura no terço
apical são preferíveis a um dente que tenha uma conicidade quase perfeita.

Área do ligamento periodontal


Corresponde à área de contacto do dente com o osso.

Dentes maiores tem área maior e são mais aptos a suportar tensões

Quando os fulcros estão muito longe uns dos outros, no caso de pônticos extensos, pode haver
uma sobrecarga do LP.
Avaliação do Pilar
As restaurações devem suportar forças oclusais -> forças que normalmente seriam
absorvidas pelos dentes ausentes, são transmitidas através do pôntico, retentor e conectores.

LEI DE ANTE

A área da raiz dos pilares que dão suporte tem de ser igual ou superior aos elementos que se
substituem.

As próteses com pônticos mais curtos tem melhor prognóstico do que as com pônticos
demasiado longos. Quando a área que vamos substituir é idêntica à área dos dentes pilares
temos um bom prognóstico. Abaixo disso, temos um mau prognóstico
Se a prótese parcial fixa for muito extensa:
 Ter menor rigidez
 Fazer sobrecarga sobre o ligamento periodontal
 Flexão vai ser diretamente proporcional ao cubo do seu comprimento
 Flexão vai ser inversamente proporcional ao cubo da espessura ocluso-gengival
 Sulcos

Para minimizar a flexão devemos:


- Ter uma dimensão ocluso-gengival o maior possível
- Utilizar um material resistente como a liga níquel-titânio

As forças de deslocamento que incidem sobre um retentor de PPF tendem a atuar com
direção MD, enquanto as que incidem numa única restauração têm direção VL. O preparo deve
ser modificado de maneira a obter maior resistência e durabilidade.

Por vezes usam-se pilares duplos para superar problemas criados por relações coroa:raiz
desfavoráveis e pelo longo comprimento da PPF. O pilar secundário deve:
- Ter uma área radicular semelhante à do pilar primário
- Ter uma relação coroa:raiz tão ou mais favorável

O retentor colocado sobre o segundo pilar deve ter pelo menos tanta capacidade de
retenção como o do primário pois quando o pôntico sofrer flexão as forças de tração
vão incidir sobre nos retentores dos pilares secundários.

O comprimento das coroas e o espaço entre pilares adjacentes também deve ser
suficiente para que o conector atinja a área da gengiva.

RETENÇÃO
Previne a saída da peça ao longo do eixo (resistir a forças verticais).
Em prótese fixa, usamos dois ramos de retenção: retenção macromecânica e cimentação
adesiva.

Relativamente à cimentação adesiva, utilizamos essencialmente o cimento fosfato de zinco,


podendo também ser utilizado o cimento de resina e o de íonomero de vidro.

A retenção mecânica depende:


 Convergência das paredes opostas
 Área de preparação
 Altura da preparação
 Adaptação da superfície interna da coroa à superfície externa do coto

Convergência das paredes opostas


A inclinação das paredes do preparo são a principal forma de retenção. Uma menor
conicidade, isto é, quanto mais paralelas as paredes, maior o escoamento do cimento. Uma
maior conicidade leva a menor retenção pois o dente fica mais cónico, sendo mais fácil a coroa
sair.

Tapper
Ângulo entre a linha do longo eixo do dente e uma das paredes do dente.
Convergência oclusal total (TOC)
Convergência entre 2 paredes do preparo. Deve ser de 10 graus no pré-clínico (5 graus de cada
lado) e entre 10 e 20 graus na clínica.

Quando temos uma TOC excessiva, devemos repreparar com uma broca ao nível do limite,
paralela ao dente, e tornar as zonas mais acima mais retas.

Quando temos uma TOC excessiva e uma altura baixa, devemos corrigir a angulação das
paredes a nível cervical e fazer uma calha.

A melhor forma de criar formas de retenção e resistência é melhorar a angulação/convergência


na região cervical e o TOC para valores 0,8 segundo Proussaefs e 0,4 para Roudsari.

Área de preparação
Quanto maior a área de superfície, maior a retenção.

Altura da preparação
Quanto mais baixos os dentes, maior a instabilidade e o efeito alavanca pode levar à
desinserção da coroa, até porque as forças laterais são as principais responsáveis pela
descimentação.
Nos dentes anteriores, a altura dos preparos deve ser de 3mm e nos dentes posteriores de
4 mm. Com mais de 4mm, estamos na zona de segurança.
Stresses compressivos são favoráveis, enquanto os stresses de tensão ou de cisalhamento
são desfavoráveis. Os materiais de prótese fixa são mais resistentes à compressão. Ao colocar a
calha a força passa a ser compressiva e não de cisalhamento.

Coroa mais alta -> maior braço de alavanca -> > torque

Definimos meios auxiliares de retenção como artifícios que utilizamos para melhorar a
forma de retenção e/ou estabilidade de uma dada peça protética. São eles pinos, sulcos ou
calhas e boxes. Todos funcionam da mesma maneira: aumentam a área coberta pela prótese e
estreitam o leque de eixos de inserção, impedindo a rotação.

PINOS
Atualmente pouco utilizados, são cavidades cilíndricas ou tronco-cónicas que perfuram
a espessura da peça dentária. Atualmente, aconselham-se as formas tronco-cónicas. Um tipo
de coroa parcial – pin ledge – baseava a sua retenção em estruturas deste tipo.

SULCOS OU CALHAS
São estruturas tronco-cónicas produzidas paralelamente ao eixo de inserção, com
profundidade de cerca de 1 mm, que devem fazer um ângulo agudo, no plano transversal com
a superfície axial do talho.

BOXES
São o equivalente protético das cavidades proximais de Dentisteria. Seguem a inclinação do
eixo de inserção protético e são divergentes para oclusal. Devem ter 4 paredes bem definidas.
Muitas vezes executa-se um bisel nas arestas axiais da cavidade.

RESISTÊNCIA
Previne a remoção do preparo aquando da aplicação de forças horizontais e oblíquas. A
forma de resistência consiste no conjunto de características do preparo que permite que ele
resista a forças oblíquas laterais.
A forma de retenção e de resistência embora sejam coisas distintas, estão diretamente
relacionadas -> quando aumentamos a forma de resistência com uma calha (retenções
internas, paredes internas), estamos também a aumentar a força de retenção.

COMPRIMENTO (oclusogengival)
Menor diâmetro, linha tangente mais baixa na parede oposta ao eixo de rotação.
Maior diâmetro, maior arco de rotação, menor resistência.

EIXO DE INSERÇÃO
Linha imaginária ao longo da qual a prótese é colocada no preparo ou dela retirada. É
determinado pelos dentes adjacentes e deve ser único, para que não ocorram interferências.
Um eixo de inserção permite aumentar a resistência e a retenção. Este pode ser tornado
único através da aplicação de uma calha (retenções internas) quando não existem dentes
adjacentes.
Preparo mais paralelo ao eixo do dente (nos dentes anteriores) leva a menos desgaste.
A retenção está adequada quando vista de um olho se vê todos os preparos.
O plano de inserção para um preparo anterior paralelo eu eixo do dente proporciona um
desgaste mais homogéneo.
Plano ideal para coroa num dente posterior é paralela ao longo do eixo.

DURABILIDADE ESTRUTURAL
O preparo deve permitir espaço suficiente para a quantidade adequada de material
restaurador e para resistir a forças oclusais.

REDUÇÃO OCLUSAL
A redução oclusal confere resistência às forças de oclusão e resistência à restauração.
Deve reproduzir os planos inclinados básicos da anatomia do dente e não ser um plano
achatado. Isto vai conferir maior resistência.
Deve ser feita uma redução por planos, pois esta permite a presença de um contorno
normal da coroa, providencia espaço para os materiais cerâmicos e facilita o desenvolvimento
natural proximal e a cor e translucidez.

Espessura mínima Metalo-Cerâmica


0,3 para o metal
0,2 para cerâmica opaco (camada fina)
1mm para a camada externa de cerâmica.
Logo, a coroa metalo-cerêmica necessita 1,2 a 1,5 (a nível marginal- linha de terminação)

Espessura de coroa apenas cerâmica


A nível marginal: 0,8 a 1 mm.

Quando fazemos uma restauração overlay, com coroa parcial de cerâmica, temos de
remover do preparo 20%. No preparo para uma coroa totalmente cerâmica (monolítica)
removemos 34% do dente e 45% para metalo-cerâmica (são as que preservam menos o dente).
Incisivo central superior pode ser talhado para coroas metalo-cerâmicas, as espessuras são
favoráveis; o lateral superior deve ser talhado em cerâmica monolítica, porque é mais
conservadora, o limite mesial é 1,77, significa que se fizéssemos um retalho de 1.5, ficaríamos
com uma distância à pulpa de 2mm, que é pouco.
Incisivos inferiores, pré-molares superiores e incisivos laterais superiores: dentes com
margens com espessuras mínimas, logo devemos usar coroas apenas cerâmicas.

Metais a utilizar para estruturas metalo-cerâmicas: nobres e semi-nobres. Níquel-crómio,


crómio-cobalto não são utilizados.
Não podemos utilizar só ouro, temos de utilizar ligas, ou seja, utilizamos outros metais, que
conferem resistência e no processo de fundição permitem que não haja alterações a nível
marginal e discrepâncias com o modelo de gesso.

BISELAMENTO DAS CÚSPIDES FUNCIONAIS


Biselamento é um meio de diminuir a discrepância marginal. Isto leva a uma boa adaptação
e linha mínima de cimento. O bisel proporciona um maior escoamento do cimento, logo
proporciona um maior contacto do dente com a coroa.
Deve ser feito nas cúspides palatinas dos molares superiores e nas cúspides vestibulares
dos molares inferiores

REDUÇÃO AXIAL
É importante para garantir uma correta espessura do material de restauração e
corresponde ao desgaste das faces á volta do dente.
Linhas de terminação verticais e horizontais (são as que utilizamos por serem as mais fáceis
de fazer, temos uma área de assentamento enquanto na vertical temos apenas uma linha).
Temos 3 tipos de linhas: ombro arredondado, em chanfro ou em ombro com bisel.
O limite em ombro dá muito espaço, mas desgasta muito o dente, levando à perda de
estrutura. É mais usado na cerâmica por esta não ser tão resistente como o metal e necessitar
de maior apoio. Dentro deste, podemos ter o limite em ombro arredondado, termina a 90º
com ângulo interno e externo (nunca nas cerâmicas, apenas no metal) ou em bisel (é uma
alteração à linha de ombro, há uma ponta que leva à formação de um vértice).
As que apresentam uma melhor adaptação são as linhas em ombro e em ombro em bisel
(temos uma maior percentagem de metal (espessura), na queima de cerâmica vai levar a que
este fique mais protegido). Os piores resultados são com o chanfro e com o chandro em bisel.
Tudo o que é ângulos agudos vai fechar mais depressa sobre a margem quando
comparadas com um ângulo reto.
O metal pode terminar ao nível da margem (ombro em metal), ou podemos ter um ombro
cerâmico em que a ponta do metal é retirada e a cerâmica contacta diretamente com a
margem da preparação
A colocação do bisel não vai ter influência na adaptação.
Quando trabalhamos em dentes anteriores, o limite tem de ser obrigatoriamente em
ombro, para que a margem não acabe em metal.
Para coroas totalmente em cerâmica, consideramos os limites em ombro arredondado e
chanfro modificado.
No caso de um limite em ombro, temos de utilizar cerca de 80% do diâmetro da broca
(apenas 80% da broca tem atividade). No caso do limite em chanfro, 50% da broca tem
atividade, outros 50% não tem.

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