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O “eu” e o “nós”: trabalhando com a diversidade em sala de aula

INTRODUÇÃO

A autora começa colocando que existe uma dificuldade em lecionar em classes muito heterogêneas, demonstrando que
a diversidade tem se apresentado como um problema concreto no âmbito educacional.

Para lidar com isso, é comum que os docentes trabalhem com a ideia de um "aluno padrão", acarretando na
desconsideração da individualidade de cada aluno. Essa prática, além disso, contribuiu com o preconceito, pois as
crianças e jovens passam a ser agrupados em níveis - fortes, médios e fracos.

Contudo, como é defendido por Perrenoud, "seja qual for o grau de seleção prévia, ensinar é confrontar-se com um
grupo 'heterogéneo' [...] as didáticas nada dizem sobre as diferenças".

As dificuldades eminentes desse contexto de heterogeneidade podem se agravar com a implementação da organização
curricular em ciclos - a partir da ideia de reprovação em cada série, prática que se apresenta como uma forma de
homogeneização.

A autora, para a elaboração do seu trabalho, procurou examinar a prática docente de uma professora - que leciona em
uma escola pública e periférica.

PROFESSORES E ALUNOS NA SALA DE AULA

Perfil da professora: Luísa, 41 anos, casada, possuí dois filhos, de família classe média (sem salário não é essencial
para a manutenção da casa), "trabalha por amor", 15 anos de experiência com ensino fundamental.

Escola: possui uma clientela escolar formada por filhos de trabalhadores de indústrias próximas e de trabalhadores
rurais.

Em primeiro plano, a autora descreve que na sala de aula de Luísa há um clima agradável e uma harmonia entre
professora e aluno. As crianças gostam das aulas, contudo, há momentos que a professora se irrita e as crianças
parecem desinteressadas - mas esses desencontros logo são superado

A CONSTRUÇÃO DO "SER PROFESSOR" E DO "SER ALUNO"

Na perspectiva de Luísa, ela possuí dois papéis: um que diz respeito ao seu compromisso com a aprendizagem dos
alunos e um que considera que essa aprendizagem possuí um caráter formativo - é essencial, pois é o que contribui
para a formação de um indivíduo que usa o conhecimento como instrumento de participação social.

Em suma, a professora enxerga seus alunos como pessoas, por cuja formação é responsável. Em virtude disso, ela dá
especial atenção a vida das crianças.

Chevallard = entrada de um indivíduo numa instituição é sua adesão a um contrato - no caso da escola, é o contrato
didático. Todavia, nem sempre as regras e comportamentos esperados, tal como os objetivos de sua permanência nessa
instituição, estão claros para esses "sujeitos didáticos". Por isso, é necessário diálogo.

A SALA DE AULA COMO ESPAÇO DE CONHECIMENTO


A trama das comunicações que perpassa a sala de aula está diretamente ligado ao compromisso com o aprender e o
ensinar. Na sala de Luísa, o aprender não é visto como uma questão individual, mas coletiva - ela estimula a
participação dos alunos.

Wallon = discorre sobre a importância do grupo para o desenvolvimento da criança em idade escolar e destaca a
necessidade de estimular a cooperação entre elas.

A APRENDIZAGEM COMO PROCESSO DE REFLEXÃO

Na sala de aula de Luísa há um constante estímulo para que as crianças reflitam sobre o próprio processo de
conhecimento e isso se faz tanto individualmente quanto coletivamente.

Em sua prática, é possível observar que a professora, ao expor um problema:

- faz uma análise prévia, feita coletivamente, de cada atividade proposta, encaminhando a reflexão das crianças sobre
a tarefa a ser realizada;

- a professora estimula que o aluno resolva o problema, mas não lhe dá resposta.

Acerca das provas ao final do bimestre:

A autora observa que a professora inova na própria forma de elaborar e apresentar as provas. Surpreende, além disso,
que a professora questiona seus alunos sobre o que acharam da avaliação.

Após a correção das provas, a professora faz uma análise individual dos trabalhos com cada aluno. Nela, a professora
não busca enfatizar o que o aluno não sabe.

Vygotsky

a) zona de desenvolvimento proximal - distância entre o nível de desenvolvimento real (solução independente de
problemas) e o nível de desenvolvimento potencial (determinado através da solução de problemas sob orientação) -
professora faz durante a correção ao se colocar como interlocutora é procurar detectar não só o nível de
desenvolvimento real, mas também o que ela poderia responder e não o faz

b) Consciência reflexiva - consciência de nossas operações que nos permite o domínio e a utilização delas. A
educação escolar tem uma importância decisiva no desenvolvimento dessa conscientização dos seus processos mentais

O CONHECIMENTO DO ALUNO COMO BASE DO TRABALHO DOCENTE

O conhecimento do aluno como fonte de informação para o trabalho da professora = a atenção constante da professora
em relação às crianças, que poderíamos chamar de atitude observadora (que permite ao professor refletir sobre suas
ações, adequando-as às demandas de cada aluno) --> o objetivo de Luíza não é apenas compreender, mas agir

A autora finaliza colocando que trabalhar com a diversidade não é, portanto, ignorar as diferenças ou impedir o
exercício da individualidade.

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