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Exposição

O título vem depois da instalação da exposição


The exhibition will be titled after its installation
15 jul – 28 Ago 2021

Vaga - espaço de arte e conhecimento


Tv. das Laranjeiras 51, 9500-318 Ponta Delgada

Alex Farrar
Com Francisca de Medeiros, Maria da Conceição Mansinho, Ana Cristina Medeiros, Adília
Simões, Sofia Silva, Maria Ribeiro, Luís Brum, Ana Catarina Oliveira, Carolina Medeiros, Fátima
Ramos, Joana Dias, Cheila Arruda, Ana Pedro, Joana Moreira, Rubén Monfort, Ioannis
Christoforidis, Inês Lopes, Anhelina Bykova, Laura López, Maria Novo, Miguel Miguel, Maria
Cabral, and Brenda & Cristina.

Da necessidade de se comprometer com um nome para a exposição Alex Farrar, artista nascido
em Yeadon, Leeds e a trabalhar entre Londres e Amesterdão, apresenta-nos fragmentos do
risco que demarca uma performance coletiva e aberta. Do interesse pelas qualidades artesanais
e poéticas condensadas na técnica do bordado, assumido aquando da sua primeira residência
no festival Walk&Talk em 2019, o artista – que, na sua biografia, afirma ter como prática «o uso
artístico da forma de exposição como um espaço partilhado entre a imaginação e a realidade» –
propõe-nos uma oficina aberta enquanto modelo expositivo. O carácter experimental do trabalho
de Alex Farrar, comprometido com o ensaio de processos sociais e culturais, coincide com a
questão da “comunalidade” que constitui o foco da 10ª edição do festival.
Neste sentido, o laboratório, desenvolvido em colaboração com a bordadeira Maria da
Conceição Mansinho, a artesã Ana Medeiros, a artesã e pesquisadora têxtil Sofia Silva e 23
outros participantes no decurso de 9 dias, promoveu simultaneamente uma incursão sobre a
prática do bordado como também um levantamento de estratégias colaborativas, logísticas e
pedagógicas que podem constituir o processo de composição de uma exposição.
A simetria a que se reduz a sala de exposição, entre uma parede onde é desenhado o
conteúdo da responsabilidade dos participantes e outra parede onde esse conteúdo é espelhado
para um suporte que permite o decalque no tecido, é resultante de uma síntese da prática do
bordado em duas cadências. Se, pela ala direita, a fase do “riscar”, compreendida pela
capacidade de rapidez de execução do desenho, é associada ao pensamento lateral que motiva
a estratégia de abertura da exposição a um significado exterior, pela esquerda, a fase do
“bordado”, morosa e preenchida de expectativa, dispõe um conjunto de exemplares dos vários
tipos de pontos que compõem a prática do bordado, em conjunto com testemunhos do labor e
ainda regras e diretrizes para a oficina. A mesa disposta ao centro da sala, indiciando a
imposição de compromisso que surge da necessidade de delimitar de um espaço de trabalho,
sustem um pano de linho e algodão bordado que, embora anunciado sem conclusão prevista,
será porventura o mais perto de um resultado final. Permanece, no entanto, o auspício de uma
intitulação. Após a inauguração da exposição a 15 de julho de 2021, mantém-se a oficina aberta
à intervenção de novos participantes.
Deste modo, o momento expositivo que resulta da oficina, fica dissoluto entre a primeira
e a última palavra que formam a pressuposta designação da exposição. “O título vem depois da
instalação da exposição” pode ser uma promessa de materialização (no sentido em que o ato de
nomear algo o é) ou, então já uma exposição em potência. A obra realizada presume a
emergência de um organismo. O funcionamento da oficina supõe a formação de um sistema que
programa e operacionaliza conteúdo de acordo com princípios culturais e sociais internos. Esta
cedência de uma certa noção basilar de autoria é responsável pela autonomia de um resultado
que questiona continuadamente o seu término.

– João Miguel Ramos

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