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TCE – 403 (TUTORIAL 01)

 Lesão intracraniana causada por forças externas.


 Lesões traumáticas são mundialmente a principal causa de
morte entre pessoas de 5 a 44 anos, correspondendo a 10%
do total de mortes.

 A maioria dos TCE (75%-80%) é considerada traumatismos


leves. Quase 100% dos pacientes com TCE grave e
aproximadamente dois terços dos pacientes com TCE
moderado apresentarão algum grau de incapacidade, não
retornando para seus afazeres prévios.

 No Brasil, anualmente meio milhão de pessoas requerem


hospitalização devido a traumatismos cranianos; destas, 75
a 100 mil pessoas morrem no decorrer de horas enquanto  Se o volume extra continuar crescendo haverá um momento
outras 70 a 90 mil desenvolvem perda irreversível de alguma em que esse mecanismo já não será mais suficiente e a PIC
função neurológica. começará a aumentar vertiginosamente.

 90% das mortes em ambiente pré-hospitalar se devem a


lesões cerebrais.

FLUXO SANGUÍNEO CEREBRAL (FSC)


 Pode sofrer reduções por conta do trauma e levar a um
estado de coma.
 A compensação é feita pelos capilares, que são capazes de
fazer vasoconstrição e vasodilatação de acordo com o valor
FISIOPATOLOGIA
da PAM.
PRESSÃO INTRACRANIANA (PIC)

 O volume de conteúdo no crânio acaba determinando o


valor da PIC - quando normal, fica em torno de 10mmHg.
 Mecanismo compensatório - precisa ser “vencido” antes de
notar alteração na PIC.
 LESÃO GRAVE >>> MECANISMO NÃO ACONTECE (PAM
elevada = Aumento da PIC/PAM diminuída =
DOUTRINA MONRO-KELLIE
Infarto/Isquemia).
 Distribui o conteúdo intracraniano em 4 categorias: sangue
venoso, sangue arterial, cérebro e LCR.  OBJETIVOS INICIAIS: aumentar o FSC pela redução da PIC
 A compensação é feita comprimindo o sangue venoso e o elevada, mantendo uma PAM normal, uma oxigenação
LCR para fora, de modo a manter o volume constante e a PIC normal e a normocapnia (evitar a ocorrência de lesões
normal. cerebrais secundárias (normalmente decorrentes de
hipotensão, hipóxia ou hiper/ hipocapnia).

TRAUMA FECHADO

 O mais comum.
 Impacto direto do crânio e do cérebro com o objeto
contuso. Esse objeto pode ser móvel, quando vai em direção
à cabeça da vítima, ou fixo, quando a vítima está em alta
velocidade e colide.
 Inercial - forte aceleração e desaceleração do cérebro
dentro da calota craniana, seja por movimentos horizontais,
seja por rotação.
TRAUMA PERFURANTE

 Contato de projéteis de alta energia com o crânio, de forma


a rompê-lo e a perfurar o tecido encefálico >>> arma de
fogo, ferimento por arma branca e estilhaços de acidentes
automobilísticos.

TRAUMA POR EXPLOSÃO


 TCE seja moderado ou grave >>> investigado urgentemente
 Mais complexo. O trauma fechado ocorre em razão de onda com tomografia de crânio e mantido internado para suporte,
de choque causada pela explosão; o perfurante, por pois há uma alta chance de complicações.
estilhaços da explosão; e o térmico, pela rápida mudança de
temperatura.  TCE leve >>> analisar alguns fatores antes de definir se
podemos liberar o paciente ou se devemos observar e
CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE DO TCE investigá-lo com exames de imagem.

 TCE Leve: 13, 14 e 15


ALGORITMO DO PECARN - CRIANÇAS
 TCE Moderado: 9-12
 TCE Grave: 8 ou menos (oitobação)  PECARN é o algoritmo mais utilizado na
indicação da realização de TC de crânio,
observação ou alta do paciente

GLASGOW OUTCOME SCALE

 Prever o prognóstico de longo prazo do paciente vítima de


TCE.

OUTROS CRITÉRIOS DE GRAVIDADE


 OUTROS: cefaleia, tontura, desequilíbrio, náuseas/ vômitos
e alterações de atenção e linguagem (lentificação e
empobrecimento da fala).

 Em geral a TC é facultativa, mas é preciso analisar os sinais


de alarme para notar evoluções desfavoráveis. Faz TC sem
constrate quando sinais presentes.

TCE LEVE E CONCUSSÃO

 Concussão (clínico): caracteriza-se por uma disfunção


cerebral aguda causada por um TCE, que não causa um
rebaixamento significativo de consciência (ECG < 13). A tem
TC de crânio normal.
 Alteração pós-traumática transitória e reversível no
status menta - dura de segundos a minutos e, por
definição arbitrária, < 6 horas. 
 Concussão leve: ocorre apenas distúrbio
neurológico, sem perda da consciência
 Concussão clássica: perda temporária da consciência, CANADIAN CT SCORE RULE
por no máximo 6 horas.
 Várias concussões podem causar encefalopatia
traumática crônica, que resulta em disfunção cerebral
grave.

 NÃO ABORDA: alterações neurológicas (cefaleia progressiva,


sinais neurológicos focais e crise epiléptica), da perda de
consciência por mais de 30 minutos e da amnésia pós-
traumática por mais de 30 minutos.

 Contusão (radiológico): lesão cerebral estrutural causada TCES MODERADO E GRAVE


pelo TCE (exame de imagem).
 LESÃO INTRACRANIANA PRIMÁRIA: causada pelo próprio
 SINTOMAS: confusão mental e amnésia lacunar, que podem mecanismo do trauma. Não pode ser evitada.
ou não estar associados à perda transitória de consciência
(após o traumatismo ou vários minutos após).  LESÃO INTRACRANIANA SECUNDÁRIA (isquemia cerebral
por vasoespasmo/ síndromes de herniação cerebral):
 Amnésia lacunar - perda de memória que consequência de complicações das lesões primárias. Pode
habitualmente envolve o evento traumático e pode ser evitada por meio de tratamento médico adequado.
abarcar momentos antes (retrógrada) e/ou depois do
evento (anterógrada). LESÕES EXTRA-AXIAIS - PRIMÁRIA
 TRÍADE SÍNDROME DE HIPERTENSÃO INTRACRANIANA:
Cefaleia/ Vômitos/ Papiledema

 Pressão se mantém acima de 22mmHg por mais de


cinco minutos. Pressão arterial média – pressão
intracraniana = pressão de perfusão cerebral.

 A cavidade intracraniana é preenchida por sangue,


parênquima cerebral e líquor (LCR).

 Na tentativa de se manter uma pressão de perfusão


 Sem relação direta com o parênquima encefálico. cerebral compatível com a irrigação encefálica
Geralmente, ocorrem por extravasamento de sangue nos necessária, ocorre aumento da (PAM) >>> resultado da
espaços entre as meninges ou nos ventrículos cerebrais. hipóxia de estruturas do tronco cerebral. Caso essa
isquemia atinja maiores proporções, poderá haver
HEMATOMA EPIDURAL OU EXTRADURAL falência da reação vasopressórica, diminuição da
PAM, isquemia cerebral e morte.

 Aumento da PAM + bradicardia + alterações no


padrão respiratório >>> Tríade de Cushing (HIC grave).

 CEFALÉIA: primeiro sintoma e o mais constante,


podendo ser holocraniana, occipital ou frontal. Piora
pela manhã – quando a PIC atinge o seu valor máximo
– e se exacerba com esforço físico, tosse, espirro,
evacuação, ou qualquer manobra que acarrete a
 Raro (1 a 4% dos TCEs) e traiçoeiro! Geralmente, ocorre após
elevação da pressão intratorácica subitamente.
um evento traumático de alta energia e está associado
frequentemente a uma fratura do crânio adjacente. Em
 VÔMITO: vômito em jato, não precedido por náusea-
idosos, esse tipo de hemorragia é menos frequente, devido à
sinal patognomônico de HIC.
dura-máter estar bem aderida ao crânio. Na maioria das
vezes ocorre em adultos jovens, sendo raro antes dos 2 anos
 PAPILEDEMA: devido à resistência imposta à
de idade e após os 50 anos.
drenagem venosa da retina por meio da veia central
da retina em direção ao seio cavernoso, o que acarreta
 LOCAL MAIS COMUM: região temporoparietal e o
maior pressão nas veias retinianas.
mecanismo é a ruptura da artéria meníngea média com
sangramento no espaço entre a dura-máter e a calota
 Exame de fundo de olho >>> aumento do diâmetro das
craniana. Sangramento arterial >>> com alto fluxo para
veias retinianas, desaparecimento do pulso venoso e
dentro desse espaço >>> rápida expansão do hematoma e
borramento dos bordos da papila, evoluindo, para
síndrome de hipertensão intracraniana em poucas horas.
edema, presença de focos hemorrágicos e, mais tarde,
atrofia da papila.
 Os hematomas extradurais ocorrem lateralmente aos
hemisférios em 70% das vezes, o restante ocorrendo na  O papiledema não se instala abruptamente. Em casos
fossa frontal, occipital e posterior (5%-10% cada). mais agudos (hemorragias intracranianas e trauma
crânio-encefálico), a avaliação do fundo de olho pode
 CLÍNICA: +- perda transitória de consciência. Inicialmente ser normal em um primeiro momento.
como TCE leve >>> evolui com deterioração neurológica,
redução na pontuação na ECG, síndrome de HIC(com  HERNIAÇÕES CEREBRAIS: protusões anormais do tecido
complicações >>> anisocoria) + sinais neurológicos focais. cerebral ao longo das aberturas nas barreiras intracranianas
Outros: cefaleia, náuseas e vômitos. Dilatação pupilar com rígidas.
perda da reatividade à luz geralmente indica herniação.
 HÉRNIA TRANSTENTORIAL CENTRAL: pela compressão,
 Em alguns casos, a dilatação pupilar pode ser contralateral no sentido vertical, do tálamo sobre o mesencéfalo.
ao hematoma extradural, caracterizando o fenômeno de
Kernohan.  Coma profundo e a pupilas médio-fixas, devido
perda do reflexo fotomotor e consensual (III par
craniano)
 Respiração de CheyneStrokes pela compressão do  HED identificado >>> acionar a equipe de neurocirurgia para
tálamo e hiperventilação central pela compressão evacuar o hematoma. Pode ocorrer: síndrome de HIC >>>
do mesencéfalo. isquemia cerebral, síndromes de herniação cerebral.
 Atinge a ponte e o bulbo leva à descerebração
(compressão da ponte), respiração apnêustica
pontina (pausa após a expiração), respiração atáxica
de Biot (ponte e bulbo) e apnéia por compressão
bulbar

 HÉRNIA DE UNCUS: ocorre por uma lesão expansiva


sobre o lobo temporal. Pode acarretar compressão do
nervo oculomotor (III par craniano) ipsilateral à lesão
HEMATOMA SUBDURAL (HSD)
(midríase paralítica); infarto mesencefálico tornando o
estado de coma irreversível pela compressão da artéria  Tipo de lesão extra-axial mais comum >>> 30% dos TCEs
cerebral posterior e hemiparesia ipsilateral à lesão graves. O HSD também ocorre em eventos traumáticos de
expansiva por compressão do pedúnculo cerebral baixa energia, como na queda do mesmo nível. Menor
mesencefálico contralateral. frequência de complicações. Entre a dura-máter e máter
aracnoide.
 HÉRNIA SUBFÁLCICA: Ocorre pela protusão do giro
cingulado por baixo da foice do cérebro, acarretando  MECANISMO: hematoma é formado por ruptura de veias-
hemiparesia ipsilateral à lesão expansiva por pontes, que drenam o sangue de estruturas corticais para
compressão das fibras piramidais contralaterais. os seios venosos. Estão no espaço entre o encéfalo e a dura-
máter, mais amplo que o epidural. Sangue venoso com
 HÉRNIA DO FORAME MAGNO: Ocorre pela protusão da menor pressão e corre por um espaço mais amplo,
amídala cerebelar pelo Forame Magno, ocasionando evoluindo mais lentamente do que o HED.
apnéia súbita pela compressão do centro respiratório
bulbar.

 Casos de TCE com piora cognitiva ou de nível de consciência


após intervalo lúcido: hematoma epidural.

 ATENÇÃO: idade avançada têm maior risco de HSD, pois o


parênquima cerebral atrófico aumenta o trajeto livre das
veias-pontes no espaço subdural, facilitando a ruptura no
caso de rápida aceleração e desaceleração do encéfalo. Por
 A TC de crânio mostra uma lesão extra-axial hiperatenuante isso acima de 65 anos é FR para TCE leve. Maior em etilista,
com formato de lente (biconvexa). Em casos mais devido a atrofia cerebral e usuários de anticoagulantes.
avançados, o parênquima desvia para o lado oposto,
cruzando a linha média.  MANIFESTAÇÃO AGUDA (até 2 dias do evento traumático),
há rápida expansão do sangue venoso. Casos menos graves
 Em teoria, um hematoma epidural pode cruzar a linha >>> cefaleia, náuseas e sonolência leve. Rebaixamento do
média porque está localizado entre a dura-máter e o crânio. nível de consciência ocorre em 50% e pode surgir no
No entanto, como a dura-máter está fortemente aderida ao momento do trauma ou após um intervalo lúcido de horas
crânio adjacente perto das linhas de sutura, um hematoma (incomum – tem evolução mais lenta). Pode ter síndrome de
epidural geralmente não cruza as linhas de sutura. HIC.

 MANIFESTAÇÕES SUBAGUDA (3-14 dias do trauma) E


CRÔNICA (mais de 14 dias do trauma) – mais comum >>>
cefaleia, tontura, apatia, sonolência e alteração cognitiva/
déficits neurológicos focais e crises epilépticas. O hematoma
pode permanecer silencioso por meses.

 A presença de produtos da degradação do


fibrinogênio, com atividade fibrinolítica da cápsula,
seria o substrato para a ocorrência de
sangramentos recorrentes na evolução do HSDC.

 Trabalhos recentes revelaram que a presença de


sangramento no espaço subdural promove uma
reação inflamatória com deposição de fibrina, HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA TRAUMÁTICA
seguida por organização e formação de membranas
subdurais com crescimento de neocapilares.  Rotura de vasos que correm pelo espaço subaracnóideo.
 HSA espontânea - ruptura de aneurismas saculares.
 O plasminogênio no interior do hematoma é então  HSA traumática (associação a outros tipos de lesão focal) -
transformado em plasmina pelo ativador tecidual rotura de vasos piais pequenos em razão do impacto direto
do plasminogênio, o qual é extremamente do trauma, especialmente nas regiões perisilvianas e
abundante na neomembrana externa. intrapedunculares.
Seqüencialmente, a lise da fibrina e do fibrinogênio
resultam na produção de grandes quantidades de  FORMAS: hemorragia intraparenquimatosa (o sangramento
produtos de degradação com liquefação de avança até as áreas corticais superficiais) e de hemorragia
coágulos, levando a maior permeabilidade de intraventricular (o sangue que está nos ventrículos é
capilares e aumento progressivo do HSDC drenado pelas vias de saída do quarto ventrículo até o
espaço subaracnóideo).
 TÍPICO: idoso que cai, sofre um TCE leve sem maiores
repercussões e vai ao PS após semanas do evento inicial.

 IMAGEM: agudo (extra-axial hiperdensa, em formato de


crescente (côncavo-convexa))/crônico (hematoma é
hipodenso)

 IMAGEM: hiperdensidade na região de sulcos corticais e/ou


na região da cisterna perimesencefálica: o espaço dos sulcos
e das cisternas afetados ficam tingidos de branco ao invés do
preto. É comum observar linhas de fratura no crânio ou
contusão cerebral adjacentes às áreas de sangramento.

 O hematoma margeia o cérebro por toda a circunferência e  CONSEQUÊNCIAS: hipertensão intracraniana e o


ultrapassa os limites das sínfises cranianas. Pode ter desvio vasoespasmo das artérias cerebrais >>> isquemia dos
da linha média. tecidos supridos pelos vasos afetados.

 Tratamento imediato do HSD agudo é craniotomia e  TRATAMENTO: suporte e monitoração intensiva, assim
drenagem cirúrgica precoce. como uso de nimodipino para minimizar o vasoespasmo. O
prognóstico é favorável em pacientes com TCE leve, mas é
 O edema ou hiperemia (aumento do fluxo sanguíneo devido desfavorável quando o TCE é moderado ou grave.
ao aumento do número de vasos sanguíneos) pode ocorrer
como hematoma que comprime o tecido cerebral - PIC. HEMORRAGIA INTRAVENTRICULAR
 MECANISMO: rotura de veias subependimárias, presentes
no interior dos ventrículos ou extravasamento do sangue de
uma hemorragia intraparenquimatosa, que ocorre próximo
aos ventrículos.
 SINTOMAS: síndrome concussional sem sinais de alarme até
TCE grave com sinais neurológicos focais e coma. As
localizações mais frequentes são as regiões frontal e
temporal anteriores.
 IMAGEM: imagens hipodensas (denotam morte tecidual e
edema) nas áreas de golpe e contragolpe e focos
hemorrágicos (hiperdensas), indo de pequenos focos de
sangramento até hemorragia intraparenquimatosa
volumosa, com parênquima além da linha média.
 TC de crânio - ventrículos cerebrais, especialmente os
ventrículos laterais, preenchidos por material  A laceração cerebral ocorre por perfuração direta do tecido
hiperatenuante. Pode haver aumento do volume dos encefálico. Ocorre em casos de ferimento por arma branca
ventrículos, indicando hidrocefalia não comunicante. ou arma de fogo e traumas de alta energia que causam
fraturas expostas do crânio. Nesses casos, a destruição do
 COMPLICAÇÃO: hidrocefalia não comunicante. O sangue parênquima pode ser catastrófica, exigindo procedimentos
presente nos ventrículos coagula, impedindo o fluxo cirúrgicos de urgência, e o risco de complicações
liquórico >>> aumento do volume dos ventrículos cerebrais secundárias, como hemorragia, infecção e hipertensão
e da pressão intracraniana. O tratamento é a inserção de intracraniana, é alto.
uma derivação ventricular externa - evacuação do liquor e o
melhor controle da pressão intracraniana.
LESÃO AXONAL DIFUSA (LAD)

LESÕES INTRA-AXIAIS  Lesão traumática inercial, causada por movimentos de


rápida aceleração, desaceleração e rotação da cabeça.
 Ocorrem no interior do parênquima encefálico e não Movimentos como esses causam cisalhamento de axônios
necessariamente estão associadas a eventos hemorrágicos. de grandes tratos de substância branca.
Suas representantes são a contusão e laceração encefálica e
a lesão axonal difusa (LAD).  Em casos mais leves, a lesão pode ser mais sutil, acarretando
alterações cognitivas e comportamentais que só serão
CONTUSÃO E LACERAÇÃO ENCEFÁLICA descobertas após a alta.

 Em casos mais graves, o sistema ativador reticular


ascendente, que é responsável pela manutenção da vigília,
pode ser danificado - rebaixamento do nível de consciência.

 A LAD pode manifestar-se como lesões hemorrágicas


pequenas situadas nas regiões cortical frontal e parietal
anterior uni ou bilateralmente, caracterizando lesões por
cisalhamento (gliding contusions). As regiões mais
freqüentemente acometidas são subcortical frontal para
ventricular, corpo caloso, núcleos da base, tálamo e porção
dorsolateral do mesencéfalo uni ou bilateral

 Pode acontecer na síndrome do bebê sacudido

 Lesões no tecido encefálico causadas pelo impacto do


trauma, quando o encéfalo se choca contra porções internas
do crânio.

 QUADRO CLÍNICO: ausência de intervalo lúcido após o


trauma. O paciente vítima da LAD não apresenta
recuperação de consciência após o trauma inicial e assim
permanece nas horas e nos dias subsequentes. Perda de fratura está íntegra, ou expostas, quando há ruptura da pele
consciência que dura mais de seis horas. e do escalpo e contato da fratura com o meio externo. Alta
taxa de complicações >>> crises epilépticas, infecções e
 O estado de coma pode ser definitivo. constituindo o estado lesões extra-axiais, especialmente HED.
vegetativo (também chamado de coma vigil ou mutismo
acinético). Nos pacientes que se recuperam do coma podem  O tratamento das fraturas abertas com afundamento é mais
restar sequelas, como demência, espasticidade e ataxia complexo e inclui profilaxia de tétano (quando apropriado),
antibióticos profiláticos (pelo alto risco de infecção) e
anticonvulsivantes no caso de crises epilépticas.
Reposicionamento da calota craniana pode ser indicado em
situações selecionadas, mas deverá ser avaliado pelo
neurocirurgião.

 FRATURAS DE BASE DE CRÂNIO - taxa de complicações


graves alta. Sinais: hematomas orbitais - sinal do guaxinim, a
equimose retroauricular - sinal de Battle, e a saída de liquor
pelo ouvido ou pelo nariz (otoliquorreia e rinoliquorreia).

 IMAGEM: ausência de lesões que justifiquem a alteração do


nível de consciência (dissociação clinicorradiológica).
Pequenos focos hiperdensos esparsos na substância branca
profunda e no corpo caloso. RNM >>> documentar a lesão
das fibras de substância branca.

 O líquido que drena do nariz ou do ouvido geralmente está


avermelhado.
 SINAL DO DUPLO HALO: solta-se uma gota do líquido em um
FRATURAS CRANIANAS tecido ou papel filtro. Quando o conteúdo é liquor (mas
outros líquidos aquosos), ao cair no tecido ou papel, a gota
forma desenho arredondado com formato de alvo,
alternando linhas vermelhas e transparentes.

CONDUTAS NOS TCES MODERADO E GRAVE

 Para as lesões extra-axiais, o tratamento cirúrgico de escolha


é a drenagem de urgência dos hematomas e casos
selecionados de hemorragia intraparenquimatosa
(hemorragia de fossa posterior com sinais de hipertensão
intracraniana).
 Lesões intra-axiais –contusões cerebrais e hemorragia
intraparenquimatosa –, o foco do suporte neurológico ficará
sobre as medidas de controle da pressão intracraniana
 FRATURAS LINEARES - as mais comuns e, na maioria das
vezes, não têm implicações significativas no quadro clínico AVALIAÇÃO INICIAL NA SALA DE EMERGÊNCIA
>>> TCE de menor energia e evoluem menos usualmente
 Pacientes vítimas de TCE grave com hipotensão têm o dobro
com lesões intracranianas. Tratamento expectante.
da taxa de mortalidade daqueles sem hipotensão –
importância do ATLS.
 FRATURAS COM AFUNDAMENTO - traumas de maior
energia. Podem ser fechadas, quando a pele que reveste a
 ECG ≤ 8 - intubação orotraqueal para proteger as vias aéreas  A hipotensão afeta a perfusão e o funcionamento cerebral,
do doente. de modo que a gente precisa se esforçar ao máximo para
 Identificar alterações pupilares ou sinais neurológicos focais conseguir normalizar o valor da PA. Origem do problema:
que demandem maiores atenções na sequência. hipertensão intracraniana ou choque neurogênico.
 Procurar lesões adicionais.
 Após a estabilização inicial do doente, você deve avançar
para a avaliação secundária, com TC de crânio, tórax,
abdome e pelve.

VIA AÉREA E VENTILAÇÃO


AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA
 No Trauma, o que mata mais rapidamente é a apneia -
analisar o padrão respiratório do paciente e checar a  3 quesitos: Escala de Coma de Glasgow, resposta pupilar ao
permeabilidade das vias aéreas (VA). estímulo luminoso e déficit neurológico focal.
 Sinais de herniação e/ou Hipertensão Intracraniana: •
 Se o paciente estiver desacordado: ◊ Realizar manobra Dilatação pupilar unilateral • Plegia, descerebração ou
de abertura de VA decorticação unilateral • Tríade de Cushing • Queda de 3 ou
 Se o paciente estiver consciente: ◊ Pedir para ele abrir mais pontos na GCS • Parada cardiorrespiratória súbita
a boca
 ATENÇÃO: pacientes sob efeito de drogas, em coma, ou que
 Estabilizar a cervical do paciente durante todo o acabaram de ter um ataque epiléptico.
atendimento, pelo risco de trauma raquimedular adjacente.
 A sedação do paciente pode interferir na avaliação.
 Identificar sinais de obstrução na cavidade oral do paciente Não se deve administrar sedativos ou relaxantes
musculares no atendimento primário, a menos que a
 Corpo estranho: retirar com dedo em garra condição clínica impeça a realização das etapas.
 Sangue/Secreções: aspirador de ponta rígida  EX: necessário sedar o paciente é no caso de indicação
de intubação >>> faz avaliação RÁPIDA ANTES.
 Paciente tem condições de manter a perviedade das VA?  Na presença de uma lesão expansiva com efeito de
massa comprimindo as cisternas da base, a retirada de
 NÃO >>> VIA AÉREA DEFINITIVA, que consiste no líquor pode produzir efeito aspirativo que precipita
posicionamento de um tubo com balão insuflado na uma herniação transtentorial central ou uncal.
traqueia e que esteja conectada com fornecimento de 
oxigênio a 100% + monitoramento com oxímetro de
pulso (> 98%) e capnógrafo (35mmHg). EXPOSIÇÃO
 PROCURA DE SANGRAMENTOS - lesões em couro cabeludo.
 Parada respiratória e hipóxia são situações comuns no
Para controle de hemorragia essas lesões requerem limpeza,
TCE. Usa O2 té que seja colhida gasometria e sejam
compressão direta e sutura.
feitos os ajustes apropriados da Fi02 >>> PC02 de 35
 A presença de LCR é um indicativo de lesão nas meninges e
mmHg. A hiperventilação (PC02 < 32 mmHg) deve ser
requer avaliação de neurocirurgião, bem como nos casos de
usada com cautela nos graves e somente quando ocorre
fratura aberta ou com depressão do crânio.
piora neurológica aguda.
 Procura de outras lesões graves e em manter a
normotermia.
 INDICAÇÕES PARA VIA AÉREA DEFINITIVA: GCS ≤ 8,
risco de obstrução (hematoma cervical, lesão de
faringe/traqueia), inadequação respiratória, ANESTESIA, ANALGESIA E SEDAÇÃO
comprometimento iminento ou potencial da via aérea  Cuidado quando suspeita de TCE >>> essas drogas podem
(trauma maxilofacial, lesões por inalação, hematoma acabar retardando o reconhecimento de uma lesão cerebral,
retrofaríngeo), apneia. além de poder causar prejuízos para a respiração do
paciente.
CIRCULAÇÃO
 A hipotensão não costuma ser decorrente do TCE e isso se
explica pela própria anatomia: como o crânio não se
expande, ele acaba limitando o volume de sangue perdido
em uma hemorragia e é essa restrição que garante que esses
pacientes não vão chocar. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
 Reavaliar o paciente em busca de deteriorização coexistência de abuso de álcool ou de outros tóxicos.
neurológica. Realização da GCS e a busca tanto por sinais de Entretanto, alterações do estado mental nunca devem ser
lateralização, quanto pela reação das pupilas. atribuídas a fatores de confusão até que a lesão cerebral
tenha sido definitivamente excluída.
 Identificar o mecanismo de lesão. Atenção para perda da
consciência - tempo de duração de estado não responsivo,
qualquer episódio de convulsão e o nível subsequente

 Determinar a duração da amnésia tanto antes (retrógrada)


quanto depois (anterógrada) do evento traumático.

DIAGNÓSTICO

 Tomografia Computadorizada (TC) de crânio - desde que o


paciente esteja hemodinamicamente estável.

 CUIDADO: armadilhas no TCE - paciente pode começar a


MANEJO sofrer de uma lesão secundária a qualquer momento após o
atendimento inicial (sustenta a necessidade de reavaliação
constante).
 PROTOCOLO PARA PACIENTE: explicar ao paciente que ele
não tem indicações para ser internado, mas que as primeiras
24h após o trauma são cruciais e por isso existe uma série de
coisas que ele não pode fazer.

MANEJO DE TCE LEVE (GCS 13-15) MANEJO DE TCE MODERADO (GCS 9-12) – 15%

 Trauma craniencefálico leve (TCEL) - história de  São ainda capazes de obedecer ordens simples, mas em
desorientação, amnésia, ou perda transitória da consciência geral estão confusos ou sonolentos e podem apresentar
em um doente que está consciente e falando. A história de déficit neurológico focal, como hemiparesia.
perda momentânea de consciência frequentemente é de
difícil confirmação e muitas vezes o quadro fica confuso pela
 INDICAÇÕES: TCE grave com TC alterada à admissão
(hematomas, contusões, edema ou compressão das
cisternas basais). TCE grave na presença de 2 ou mais fatores
de risco: idade > 40, postura motora patológica única ou
bilateral e PAS < 90 mmHg. Não está indicada de rotina em
pacientes com TCE moderado e leve.

 COMPLICAÇÕES: infecção em 5%; hemorragia em 1,4%,


apenas 0,5% necessitando de drenagem cirúrgica; e mau
funcionamento ou mau posicionamento do cateter em 6,3%
dos pacientes, com 3% necessitando de reposicionamento.
 10 a 20% desses doentes apresentam piora e entram em
coma >>> exame neurológico seriado. TERAPIA CLÍNICA
 Hospitalização em UTI ou unidade semelhante – reavaliação
frequente neurológica nas primeiras 12 a 24 horas.
 Seguimento com TC em 12 a 24 horas se a TC inicial for
anormal ou se há piora das condições neurológicas do
doente.

MANEJO DE TCE GRAVE (GCS 3-8) – 10%


Corticoides são contraindicados nos casos de TCE, visto que não
 Não são capazes de obedecer a ordens simples mesmo após trazem benefícios adicionais no tratamento. A única situação de
estabilização cardiopulmonar. hipertensão intracraniana em que você deverá indicar
 Ventilado com oxigênio a 100% >>> depois ajusta após corticoterapia são os tumores cerebrais.
gasometria arterial.
 Se o doente está hipotenso, deve-se estabelecer a Precisamos manter a PPC acima de 60 mmHg >>> abrir a DVE
normovolemia logo que possível utilizando-se produtos de para reduzir a PIC ou aumentar a PAM por meio de droga
sangue, sangue total ou soluções isotônicas conforme a vasoativa.
necessidade.

SUPORTE NUTRICIONAL

 Início precoce da dieta está associado à melhores resultados


de sobrevida e melhores taxas de recuperação pós-lesão
neuronal.

 Fórmula enteral - preferível, mas em grande volume residual


gástrico, com risco de broncoaspiração ou trauma
abdominal associado, faz dieta parenteral pode ser utilizado.

 MONITORAR: hiperglicemia, cetoacidose, intolerância


gástrica, diarreia e desidratação.

MONITORIZAÇÃO DA PIC

 A punção lombar não deve ser realizada em pacientes com


HIC antes da TC de crânio, visto que na presença de uma
lesão expansiva com efeito de massa comprimindo as
cisternas da base, a retirada de líquor pode produzir efeito
aspirativo que precipita uma herniação transtentorial central
ou uncal.

 A instalação de um monitor para determinação da PIC


invasiva confirma o diagnóstico e permite o
acompanhamento do paciente com HIC: intraventriculares
(considerado padrão-ouro para monitorização), FLUIDO INTRAVENOSO
intraparenquimatosos, subaracnóides e epidurais.
 A hipovolemia é prejudicial ao funcionamento do cérebro, FSC; e a oferta cerebral de O2/efeito osmótico (demora 15 a
especialmente se ele estiver lesado >>> adm para reanimar e 30 min) – persiste de 90 min até 6 horas.
manter a normovolemia >>> não sobrecarregar o doente
com líquidos. Não se devem usar líquidos hipotônicos.  Excretado exclusivamente na urina - pode levar a diurese
intensa, tornando o risco de falência renal aguda.
 Uso de soluções que contêm glicose pode produzir
hiperglicemia. SOLUÇÃO SALINA HIPERTÔNICA

 Reduzir PIC >>> concentração varia entre 3% a 23,4%. Nessa


 Recomenda-se o uso de solução salina isotônica ou de
opção não há o efeito diurético, preferida em pacientes
Ringer lactato. Os níveis séricos de sódio devem ser
hipotensos.
monitorados. A hiponatremia está associada ao edema
cerebral.
 MECANISMO: aumenta da osmolaridade com redução da
PIC, mantendo o seu volume intravascular. Gera gradiente
CORREÇÃO DA ANTICOAGULAÇÃO
osmótico na barreira hematoencefálica intacta, reduzindo o
 INR volume cerebral.

HIPERVENTILAÇÃO  ADM: Infusão contínua, com controle do sódio sérico a cada


seis horas, respeitando-se o aumento máximo de sódio em
 TCE com hipercapnia (PaCO2 > 45mmHg) – causa
torno de 15 mEq/l/dia.
vasodilatação, o que aumenta o fluxo sanguíneo e,
consequentemente, a própria pressão intracraniana.
ANTICONVULSIVANTES

 EVITAR ISSO: hiperventilar o paciente, de modo a reduzir a  Epilepsia pós-traumática - 5% com TCE fechado/15% com
PaCO2 e provocar vasoconstrição no paciente. Essa TCE grave >>> 30 – 60min já causa lesão secundária.
vasoconstrição pode provocar mais lesão cerebral, por
isquemia. a) a adm antecipada não muda se o paciente terá ou não
convulsões
 Pesquisas recentes mostram que o FSC no primeiro dia após b) as drogas anticonvulsivantes atrapalham a recuperação
TCE é aproximadamente 50% do normal, aumentando o do cérebro e só devem ser utilizadas quando necessário.
risco de isquemia quando realizadada Hiperventilação
agressiva. É inferior a 30 cc/100g/min durante as primeiras  FENITOÍNA/FOSFENITOÍNA >>> dose de ataque inicial deve
horas após a lesão, podendo ser inferior a 20 cc/100g/min. ser de 1g por via intravenosa, a uma velocidade > 50mg/
min. A manutenção é feita com 100mg/8h. Faz diazepam ou
 Hiperventilação crônica profilática deve ser evitada durante lorazepam junto com a fenitoína em pacientes com
os primeiros 5 dias após TCE, especialmente nas 24 horas convulsões prolongadas. E isso segue até que elas parem.

 A normocapnia (PaCO2 = 35mmHg) é preferível, mas a gente BARBITÚRICOS


pode fazer intervalos bem pequenos de hiperventilação
 Reduzir a PIC em pacientes refratários às outras opções
(PaCO2 entre 25- 30mmHg – moderação e tempo limitado)
 CONTRAINDICAÇÕES: Hipotensão ou hipovolemia/Durante a
no manejo de pacientes com deteriorização neurológica
fase de ressuscitação/Lesões incompatíveis com a vida (seu
aguda em via aérea definitiva.
efeito retardaria o protocolo de morte encefálica).

MANITOL - DIURÉTICO
TERAPIA CIRÚRGICA - LESÕES DE COURO
 Reduz PIC – pacientes euvolêmicos com deteriorização CABELUDO
neurológica >>> conservar a osmolaridade sérica abaixo de
320 mOsm. FRATURAS COM AFUNDAMENTO DE CRÂNIO

 Caso o afundamento não seja muito significativo, podemos


 ADM >>> causa hipotensão >>> isquemia (ATENÇÃO). Bolus
optar por tratar apenas com o fechamento do couro
(1g/kg) de forma rápida (5min) e providenciar o transporte
cabeludo. Por outro lado, em se tratando de uma depressão
do paciente para a TC ou diretamente para a sala de cirurgia.
maior do que a espessura do próprio crânio, aí é
imprescindível que seja feita a correção cirúrgica.
 INDICAÇÕES >>> sinais e sintomas de herniação ou déficit
neurológico progressivo não atribuível a causas externas. LESÕES INTRACRANIANAS DE MASSA

 EFEITOS NA PIC >>> imediata expansão plasmática que  Esse tipo de lesão só pode ser manejado por
reduz hematócrito, viscosidade sangüínea, aumentando o neurocirurgiões, uma vez que envolve a realização de uma
craniotomia, um procedimento muito complexo e que se
não for feito da forma correta, pode deteriorar rapidamente
o estado do paciente.

FERIMENTOS ENCEFÁLICOS PENETRANTES

 Realização de antibioticoterapia profilática e a não retira- da


de corpos que estejam exteriorizados, devido ao risco de
sangramento.

MORTE ENCEFÁLICA

 Impossibilidade do cérebro recuperar suas funções >>>


comprovação por meio de algum exame de imagem, que
pode ser um eletroencefalograma, um estudo de fluxo
sanguíneo cerebral (como o Doppler, por exemplo) ou uma
arteriografia cerebral.

 ATENÇÃO: uso de barbitúricos (protocolo só pode ser aberto


depois que já tenha passado o efeito de todos os
medicamentos administrados)

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