Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Organizadores:
Giorgia dos Santos | Luciane Schutz Kruche | Márcia Beatriz Cerutti Müller
unidade
3
Aspectos Linguísticos da
Libras e Suas Interfaces com
a Língua Portuguesa
Prezado estudante,
Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados
com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado
tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os
tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina.
Objetivo Geral
Compreender aspectos linguísticos relacionados à comunicação em Libras, considerando-a como uma
Língua com sistema próprio e fazendo uma análise da sua relação com a Língua Portuguesa.
Objetivos Específicos
• Conhecer as modalidades da Libras, comparando seu sistema sintático com o da Língua Portuguesa;
• Conhecer componentes linguísticos, semânticos e estruturais da LIBRAS (iconicidade e arbitrariedade,
classificadores, expressões faciais e corporais, tipos de sinais, expressão facial e corporal);
• Refletir sobre a estrutura da Libras como modalidade viso-gestual ou espacial-visual em relação à
Língua Portuguesa como modalidade oral-auditiva.
Questões Contextuais
• O que entendemos por cultura e identidade surda?
• Quais são os marcadores que as caracterizam?
• Como a utilização de estratégias comunicativas pode evitar as barreiras ambientais e atitudinais?
52 CULTURA SURDA E LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS | Márcia Beatriz Cerutti Müller
É importante destacar que as línguas de sinais são consideradas pela linguística como
naturais ou um sistema linguístico legítimo, e não como um problema do surdo ou uma
patologia da linguagem. Em 1960, William Stokoe, importante linguista norte-americano,
comprovou, através de suas pesquisas, que a Língua de Sinais Americana possuía todas as
características das línguas orais, e seus trabalhos auxiliaram pesquisas de diversos países
sobre esta temática. Ele percebeu e comprovou que a língua dos sinais atendia a todos os
critérios linguísticos de uma língua genuína: no léxico, na sintaxe e na capacidade de gerar
uma quantidade infinita de sentenças (QUADROS; KARNOPP, 2004). Dessa forma, pode-
se afirmar que a língua de sinais é natural das comunidades de pessoas surdas, pois ela
possui o mesmo status linguístico das línguas orais.
Figura 3.3 – Exemplo utilizado pelos usuários da Libras no Rio Grande do Sul.
Até mesmo o alfabeto manual, que é utilizado basicamente para soletrar nomes
próprios ou palavras que ainda não possuem sinais correspondentes na língua oral,
diferem de país para país. Na imagem a seguir podemos observar um comparativo entre
o alfabeto manual brasileiro com o americano e britânico.
SAIBA MAIS
DESTAQUE
A B C Ç D E
F G H I J K L
M N O P Q R
S T U V W X
Y Z
A B C D E F
G H I J K L
M N O P Q R
S T U V W X
Y Z
Fonte: Wikimedia Commons (2020) com base em FADERS (2020) com base em FADERS (2010).
Aspectos Linguísticos da Libras e suas Interfaces com a Língua Portuguesa | UNIDADE 3 55
SAIBA MAIS
3.2.1 Arbitrariedade
A Libras é a língua natural das comunidades de pessoas surdas, de modalidade
viso-espacial. Apesar de ser uma língua visual, ela é arbitrária. Ou seja, a sinalização
não é uma representação concreta dos objetos e não é restrita à ligação entre forma e
significado. Os sinais utilizados são arbitrários, pois não é possível prever uma conexão
entre a palavra e o que ela simboliza.
Observe o sinal referente à palavra domingo. Nele, não há uma ligação entre a
palavra e o que simboliza, e não há relação de semelhança com o seu referente. Por isso,
diz-se que as línguas de sinais são arbitrárias.
3.2.2 Iconicidade
Muitos estudos concluíram que as línguas de sinais não são icônicas, isto é:
elas não são uma representação do seu referente e os sinais não são uma reprodução ou
representação exata e fidedigna das palavras.
Alguns sinais da Libras até podem fazer menção à imagem do seu significado,
como, por exemplo, o sinal das palavras “casa” e “bebê”, conforme figuras a seguir.
58 CULTURA SURDA E LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS | Márcia Beatriz Cerutti Müller
Outro sinal que podemos utilizar como exemplo é o da palavra “não”, que aqui
no Brasil, apesar de ser considerado icônico, apresenta um significado diferente na
língua de sinais americana.
Aspectos Linguísticos da Libras e suas Interfaces com a Língua Portuguesa | UNIDADE 3 59
SAIBA MAIS
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Quadros e Karnopp (2004, p. 51).
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Quadros e Karnopp (2004, p. 52).
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Quadros e Karnopp (2004, p. 52).
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Quadros e Karnopp (2004, p. 52).
Aspectos Linguísticos da Libras e suas Interfaces com a Língua Portuguesa | UNIDADE 3 63
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Quadros e Karnopp (2004, p. 52).
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Quadros e Karnopp (2004, p. 52).
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Quadros e Karnopp (2004, p. 52).
64 CULTURA SURDA E LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS | Márcia Beatriz Cerutti Müller
Pelo fato das línguas de sinais serem organizadas espacialmente, diferentemente das
línguas orais, elas apresentam uma estrutura diferente do português falado e, por isso, deve-
se ficar atento para a compreensão das relações sintáticas da frase. A Libras apresenta uma
ordenação sintática espacial, isto é, os sinais são produzidos no espaço e as referências
nominais devem ser estabelecidas em um local de sinalização, o qual pode utilizar diversos
mecanismos espaciais.
Deve-se prestar atenção para o fato de que existem PA exatos em pontos específicos
e tocados no corpo. Como exemplo de ponto específico, pode-se citar o sinal da palavra
“mãe”, que tem um ponto exato, encostando o dedo indicador na lateral da narina.
66 CULTURA SURDA E LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS | Márcia Beatriz Cerutti Müller
PARA PARA
CIMA BAIXO
PARA PARA
DENTRO FORA
PARA O LADO
PARA O LADO (IPSILATERAL)
(CONTRALATERAL)
DESTAQUE
Nela, há sinais realizados apenas com uma mão, como pode-se verificar
na imagem a seguir, a qual representa a palavra “pai”, no qual utiliza-
se apenas uma mão.
Há, também, aqueles que devem ser sinalizados com as duas mãos, alguns
com as duas mãos configuradas na mesma forma. Há sinais em que cada mão
está configurada de uma forma diferente. Visualize o sinal da palavra “fazer”,
o qual é realizado com as duas mãos em um mesmo movimento.
(Continuação)
Agora, observe o sinal da palavra “feijão”, que é realizado com as duas mãos,
em formas diferentes:
SVO
Exemplos:
• Eu querer água.
• Bernardo gostar futebol.
Entretanto, na Libras, as frases também podem ser estruturadas em outras
ordenações na ordem Sujeito - Objeto - Verbo (SOV), Objeto - Sujeito - Verbo
(OSV), Verbo - Sujeito - Objeto (VSO) e Verbo - Objeto - Sujeito (VOS), derivadas
da ordem básica SVO.
SOV
• Eu água querer.
• Bernardo futebol gostar.
OSV
• Água eu querer.
• Futebol Bernardo gostar.
VOS
DESTAQUE
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Felipe e Monteiro (2007, p. 132).
REFLETINDO
3.5 Classificadores
Na Libras, há sinais que se formam incorporando mais de um sinal, possibilitando
uma descrição e detalhando e ampliando as possibilidades de entendimento daquilo que
se quer comunicar através do uso dos classificadores. Confira o exemplo abaixo.
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Felipe e Monteiro (2007, p. 26).
Aspectos Linguísticos da Libras e suas Interfaces com a Língua Portuguesa | UNIDADE 3 77
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Felipe e Monteiro (2007, p. 26).
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Felipe e Monteiro (2007, p. 26).
VÍDEO
Exemplos:
ÁRVORE ÁRVORES
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Felipe e Monteiro (2007, p. 26).
DESTAQUE
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Felipe e Monteiro (2007, p. 82).
Aspectos Linguísticos da Libras e suas Interfaces com a Língua Portuguesa | UNIDADE 3 81
DESTAQUE
NÓS TRÊS
NÓS QUATRO
Fonte: Universidade La Salle (2020) com base em Felipe e Monteiro (2007, p. 82).
82 CULTURA SURDA E LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS | Márcia Beatriz Cerutti Müller
REFLETINDO
Vimos que a Libras é a língua natural das pessoas surdas e que é através dela
que os surdos garantem o seu direito de comunicação. Ela possui similaridades
e diferenças da língua oral e, por isso, deve ser respeitada e valorizada. É essa
a marca que diferencia os surdos para terem as condições necessárias à sua
acessibilidade plena: “[...] as pessoas e os grupos sociais têm o direito a ser
iguais quando a diferença os inferioriza e o direito a ser diferentes quando a
igualdade os descaracteriza” (SANTOS, 1997, p. 122).
Finalizando os nossos estudos, enfatizamos que a Libras tem uma estrutura tão
complexa quanto a língua oral, com uma gramática própria. Desejamos que os estudos
possam ter ampliado a compreensão sobre a importância da visualidade da língua de
sinais para os surdos.
VÍDEO
Para fechar com chave de ouro nossa Unidade 3, assista o vídeo “Estrutura
Gramatical da Libras”, produzido pela professora Ronice Muller de Quadros, e
aprofunde seus conhecimentos sobre tudo que vimos até agora. O link está aqui:
http://gg.gg/nevz4
Aspectos Linguísticos da Libras e suas Interfaces com a Língua Portuguesa | UNIDADE 3 83
Síntese da Unidade
Esta Unidade buscou compreender que a língua de sinais é a língua natural das
pessoas surdas. Que a sua estrutura é de modalidade viso-gestual ou espacial-visual,
diferente da Língua Portuguesa, que é de modalidade oral-auditiva.
Compreendemos que cada país possui a sua própria língua de sinais, utilizando
vários sistemas de transcrição, de acordo com a sua modalidade viso-gestual.
Bibliografia
DIAS SILVA, R. Língua brasileira de sinais: Libras. São Paulo: Pearson, 2016.
PEREIRA, M. C da C. et al. Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2011. Disponível em: http://gg.gg/m4h0w. Acesso em: 22 jul. 2020.
SKLIAR, C. B (org). A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2013.
CONTRIBUA COM A QUALIDADE DO SEU CURSO