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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

ESCOLA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E BIOLÓGICAS


CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIAS BIOLOGICAS

SCARLETT CLAUDINA VIEIRA DOS SANTOS

IMPORTÂNCIA DOS MARCADORES MOLECULARES PARA


INVESTIGAÇAO DE CRIMES SEXUAIS

Goiânia
2021
SCARLETT CLAUDINA VIEIRA DOS SANTOS

USO DOS MARCADORES MOLECULARES NA INVESTIGAÇAO DE


CRIMES SEXUAIS

Monografia apresentada à Escola de Ciências


Agrárias e Biológicas da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás como
requisito obrigatório para obtenção do Título
de Bacharel em Ciências Biológicas.

Orientador: Prof. Dr. Marc Gigonzac


Coorientadora: Profa. Dra. Flavia Melo Rodrigues

Goiânia
2021

i
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

BANCA EXAMINADORA DA MONOGRAFIA

Aluno(a): Scarlett Claudina Vieira dos Santos

Orientador: Prof. Dr. Marc Gigonzac


Coorientadora: Profa. Dra. Flávia Melo Rodrigues

Membros:

1. Dr. Marc Gigonzac

2. Dra. Flávia Melo Rodrigues

3. Dr. Alex da Silva Cruz

4. Dra. Lysa Bernades Minasi

ii
Dedico este trabalho... a minha mãe, meus irmãos Ruth e Lucas, meus
sobrinhos Enzo e Eloah, ao meu namorado Gustavo e a todas as mulheres.
iii
“Toda luta que preze igualdade tende ao
fracasso.
Não somos iguais, somos únicos!
Seres em evolução, entendam:
Estamos aqui pela equidade.
Justiça. Queremos justiça! Nada mais.”

Thai Flow

iv
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a minha mãe, Neve, que me incentivou a estudar


desde bem nova e me apoiou durante toda essa jornada desde o jardim de infância,
quando enfrentou toda a família para que eu estudasse em uma escola particular na
alfabetização para que fosse estabelecida uma boa base que ela sempre defendeu a
importância. Quando ela descobriu a possibilidade da bolsa parcial na escola
particular no ensino fundamental e médio e se desdobrou trabalhando o dobro para
pagar essas mensalidades. Assim também o fez no início da graduação onde
igualmente ainda não possuía bolsa integral. Quando me apoiou psicologicamente
sempre me confortando e me dando forças para não desistir.

Ao meu melhor amigo Diego, que quase bloqueei nas redes sociais no último
mês de produção do TCC pois sempre me cobrava a progressão da escrita. Muito
obrigada por isso, sua chatice me impulsionava a não desistir. A todas as vezes que
ele me ouviu desabafar, todas as vezes que me salvou emprestando dinheiro para
almoçar, pagar xerox ou passe para o ônibus. Além de toda ajuda que me ofereceu
durante a produção deste trabalho. Você é incrível e serei grata eternamente, nunca
vou conseguir retribuir tudo que fez por mim. Obrigada ao Paulo e ao Danilo por
terem me auxiliado também.

A minha professora Milena Alves Gama, que me conheceu no 8º ano do


Ensino fundamental e plantou o amor a ciência no meu coração. Vendo ela decidiu
que queria ser, assim como ela, bióloga e seguir carreira na área forense. Disse que
quando crescesse seria igual a ela e estou no caminho. Obrigada por todo
conhecimento e carinho que me foi direcionado. Nunca a esquecerei.

Agradeço aos meus irmãos Ruth e Lucas por horas de vídeo-chamadas


sempre me reconectando com a Scarlett criança sonhadora nos dias em que a
obstinação e garra sumia. Pelo carinho e orgulho que sempre sentiram e
demonstraram por mim. Por todos os puxões de orelha e retornada ao solo. Amo
vocês incondicionalmente.

Ao meu pai, que mesmo com tudo, nos últimos anos de graduação me apoiou
da forma que podia.

Ao meu namorado Gustavo que ofereceu todo amor, escuta, respeito,


parceria e nunca deixou que eu desacreditasse de mim mesma.
v
A Taís, que me ofereceu suporte emocional e financeiro durante os primeiros
quatro anos de graduação mesmo não tendo essa obrigação, me tratou como uma
filha.

Ao meu sogro Dimas e minha sogra Glaucy que me acolheram em sua família
e sempre tiveram prontos para oferecer amor e carinho além de toda ajuda
financeira.

A Gabrielly que desde o primeiro período se tornou minha amiga por nos
identificarmos em diversos aspectos e que se manteve me apoiando e se
disponibilizando a ajudar sempre.

Ao meu amigo Gustavo que sempre me fez rir muito, que sempre me ouviu e
ofereceu a sua doçura e alegrava nossas manhãs e as jornadas que fazíamos todos
os dias de manhã no ônibus.

Agradeço aos meus colegas que entraram junto comigo na graduação que
sempre me respeitaram e me ajudaram no dia a dia.

Aos meus professores do ensino fundamental e médio Roberto Miranda,


Israel Carneiro e Weida Rodrigues por sempre terem a sensibilidade e empatia por
mim, evidenciando o quanto acreditavam no meu potencial.

Aos meus professores da graduação que se preocuparam comigo, me


ajudaram, impeliram meu potencial.

Agradeço ao Programa Universidade para Todos (PROUNI) que possibilitou a


minha graduação me fornecendo bolsa parcial no primeiro semestre e bolsa integral
em todo o restante da mesma. Sem isso não seria possível a realização desse
sonho.

Agradeço ao meu orientador professor Marc e a minha coorientadora


professora Flavia que iluminaram meu caminho.

A minha psicóloga Amanda, que me auxiliou com os bloqueios e quase surtos


que tive durante a produção. Sem você e suas palavras doces, definitivamente eu
não teria conseguido.

vi
RESUMO

Nos últimos 20 anos, a genética tem avançado tecnologicamente utilizando-se de


ferramentas da biologia molecular para melhor atender às suas diversas áreas de
atuação. No âmbito forense, os testes de DNA têm possibilitado investigações mais
complexas e assertivas, principalmente com o avanço no uso de marcadores
moleculares específicos que aumentam o poder de discriminação na identificação
humana. O estado de Goiás tem se destacado nacionalmente e internacionalmente
com o desenvolvimento de bancos de dados de perfis genéticos. O objetivo do
estudo foi estruturar uma revisão bibliográfica sobre o uso de marcadores
moleculares na investigação de crimes sexuais, a partir da seleção de artigos
científicos e de bancos de dados públicos sobre a temática. Neste sentido, no início
de 2020, já tinham sido registrados 1075 casos de estupro em Goiás. No procedimento
pericial, evidências de origem biológica são coletadas em locais de crimes e o DNA
extraído e analisado em laboratório por meio de técnicas moleculares para identificar
possíveis suspeitos. O uso de marcadores Y-STR se demostrou útil visto que 85,5% dos
casos se trataram de agressores do sexo masculino, sendo possível identificar o
agressor por meio de confronto da amostra coletada do suspeito com a amostra
coletada in locus na cena do crime. Outros demais marcadores STR,
correspondendo aos cromossomos autossômicos, também podem ser utilizados
para identificação em casos de agressores com algum grau de parentesco. Dessa
forma, testes de DNA examinando marcadores STR revelaram enorme capacidade
de identificação, propiciando justiça à vítima e às pessoas indevidamente acusadas.

Palavras-chave: Teste de DNA, Genética Forense, Estupro, Marcadores STR e


Cromossomo Y.

vii
ABSTRACT

In the last 20 years, genetics has advanced technologically using molecular biology
tools to better serve its various areas of expertise. In the forensic scope, DNA tests
have enabled more complex and assertive investigations, especially with the
advance in the use of specific molecular markers that increase the power of
discrimination in human identification. The state of Goiás has stood out nationally and
internationally with the development of databases of genetic profiles. The aim of the
study was to structure a literature review on the use of molecular markers in the
investigation of sex crimes, based on the selection of scientific articles and public
databases on the subject. In this sense, at the beginning of 2020, 1075 cases of rape
had already been registered in Goiás. In the expert procedure, evidence of biological
origin is collected in crime scenes and the DNA extracted and analyzed in the
laboratory using molecular techniques to identify possible suspects . The use of Y-
STR markers proved to be useful since 85.5% of the cases were male aggressors,
and it is possible to identify the aggressor by comparing the sample collected from
the suspect with the sample collected in locus at the crime scene . Other other STR
markers, corresponding to autosomal chromosomes, can also be used for
identification in cases of aggressors with some degree of relatedness. Thus, DNA
tests examining STR markers revealed an enormous capacity for identification,
providing justice for the victim and for the wrongly accused.

Keywords: DNA Testing, Forensic Genetics, Rape, STR Markers and Y


Chromosome.

viii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável segundo


sexo da vítima no Brasil no período de 2017 e 2018, modificado de pesquisa
realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública a partir dos microdados dos
registros policiais e das Secretárias estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa
Social, publicada no Anuário Brasileiro de Segurança Pública de
2019.......................................................5

Figura 2: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável segundo


raça/cor da vítima no Brasil no período de 2017 e 2018, modificado pesquisa
realizada a partir dos microdados dos registros policiais e das Secretárias estaduais
de Segurança Pública e/ou Defesa Social pelo Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, publicada no Anuário Brasileiro de Segurança Pública de
2019.................................5

Figura 3: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável segundo


relação com o autor, Brasil no período de 2017 e 2018, modificado pesquisa pelo
Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicada no Anuário Brasileiro de
Segurança Pública de
2019............................................................................................................7

Figura 4: Vítimas do sexo feminino de estupro e estupro de vulnerável relacionada a


idade no Brasil em 2017 e 2018, modificado de pesquisa realizada pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública a partir dos microdados dos registros policiais e das
Secretárias estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social, publicada no
Anuário Brasileiro de Segurança Pública de
2019.....................................................................7

Figura 5: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável segundo


sexo da vítima no Brasil no período de 2017 e 2018, modificado pesquisa pelo
Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicada no Anuário Brasileiro de
Segurança Pública de
2019............................................................................................................8

ix
Figura 6: Distribuição dos crimes de estupro e estupro de vulnerável segundo o
sexo e a faixa etária no Brasil, no período de 2017 e
2018...................................................9

Figura 7: Vítimas do sexo masculino de estupro e estupro de vulnerável relacionada


a idade no Brasil em 2017 e 2018, modificado de pesquisa realizada pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública a partir dos microdados dos registros policiais e das
Secretárias estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social, publicada no
Anuário Brasileiro de Segurança Pública de
2019......................................................................9

Figura 9: Distribuição dos municípios do Estado de Goiás de acordo com a


abrangência dos Núcleos Regionais da Polícia Técnico-Científica (NRPTC) em
Goiás em
2012......................................................................................................................14

Figura 10: Análise de autoria de crime sexual em Goiás,


2012.................................15

Figura 11: O DNA e sua estrutura, contendo Adenina, Guanina, Citosina e Timina
como bases nitrogenadas..........................................................................................
26

Figura 12: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável, segundo


sexo do autor no Brasil em 2017 e
2018.....................................................................31

Figura 13: Representação esquemática do cromossomo Y humano, destacando as


regiões pseudoautossômicas (PAR 1 e PAR 2) e a localização dos marcadores STR-
Y na região NRY.........................................................................................................33

Figura 14: Distribuição cromossômica dos 13 loci STRs autossômicos


recomendados pelo Federal Bureau of Investigation (FBI) para identificação
humana.......................36

x
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Número de estupros por capitais e Distrito Federal do Brasil no período de


2017 e 2018................................................................................................................11

Tabela 2: Estupro e estupro de vulnerável por número de vítimas nas unidades da


federação do Brasil no primeiro semestre de 2019 e
2020..........................................12

Tabela 3: Número de casos de estupro por área


circunstancial..................................14

xi
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................1

2. OBJETIVOS............................................................................................................2

2.1. OBJETIVO GERAL................................................................................................2

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................................2

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................................4

4.1. CRIMES SEXUAIS.................................................................................................4

4.1.1. CRIMES SEXUAIS NO ESTADO DE GOIÁS...................................................11

4.2. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NA ELUCIDAÇÃO DE CRIMES SEXUAIS...........16

4.3. INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL.....................................................................22

4.4. EXAMES DE DNA................................................................................................25

4.4.1. MARCADORES Y-STR.....................................................................................29

4.4.2. MARCADORES STR OU MICROSSATÉLITES AUTOSSÔMICOS................35

4.4.3. DIFICULDADES NO USO DE MARCADORES MOLECULARES NA


ELUCIDAÇÃO DE CRIMES SEXUAIS.......................................................................38

REFERÊNCIAS...........................................................................................................44

6. APÊNDICE............................................................................................................55

xii
1. INTRODUÇÃO

A genética, na qualidade de domínio da biologia, atendeu, nos últimos anos,


avanços inteiramente notáveis, especialmente resultado de aparições e integração
dos métodos da biologia molecular (AMORIM, 2015). Com esses avanços
metodológicos, foi possível identificar, no genoma humano, diversas regiões
polimórficas usadas como marcadores moleculares (DECANINE, 2016).

Com diversidade genética, presente em indivíduos de um mesmo grupo e


entre diferentes grupos populacionais, pôde-se analisar a sua estruturação a partir
da distribuição das frequências alélicas dos marcadores moleculares (GIGONZAC,
2013).

A genética forense se dá a partir de análises de amostras biológicas, tanto


amostras de referência como amostras questionadas, são analisadas levando em
consideração à aquisição de perfis genéticos. É o estudo e análise comparativa dos
perfis genéticos obtidos que permiti à genética forense corroborar os tribunais e
douta administração da justiça (AMORIM, 2015).

Em 1985, ocorreu o primeiro caso de identificação criminal elucidado por


exames de DNA, na Inglaterra (MARTHO, 1995). No Brasil, foi implementada essa
tecnologia pericial pela primeira vez em 1994, no Distrito Federal, onde principiou-se
o primeiro Laboratório de DNA forense do Brasil. No Paraná, os precípuos exames
de DNA forense foram realizados no ano de 1998, onde solucionou-se um crime de
estupro de incapaz no litoral, realizando a identificação do autor pelo filho gerado a
partir da agressão (ALVES, 2015).

No estado de Goiás, por meio da Superintendência da Polícia Técnico-


Científica (SPTC), no ano de 2017, iniciou-se, o trabalho para evidenciar o potencial
do DNA como ferramenta para elucidação de crimes, com os próprios policiais e
participes do judiciário (CARVALHO, 2019; RODRIGUES et al., 2016; BRASIL,
2012).

1
2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Estruturar uma revisão bibliográfica sobre o uso de marcadores moleculares na


investigação de crimes sexuais.

3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Discorrer sobre os aspectos gerais dos crimes sexuais;

 Apresentar a situação do Estado de Goiás na investigação de crimes sexuais;

 Descrever os principais marcadores moleculares usados na investigação de


crimes sexuais e;

 Avaliar as principais dificuldades metodológicas laboratoriais no uso de


marcadores moleculares na elucidação de crimes sexuais.

2
4. MÉTODOLOGIA

Trata-se de um estudo do tipo revisão bibliográfica narrativa realizada em


bancos de dados públicos, como Scielo, Bireme e Pubmed. As pesquisas do tipo
revisão narrativa são publicações apropriadas para descrever e discutir o "estado da
arte" de um determinado assunto, sob ponto de vista teórico ou contextual.
Constituem de análise da literatura publicada em livros, artigos de revista impressas
e/ou eletrônicas na interpretação e análise crítica pessoal do autor (ROTHER 2007).

Foram selecionados artigos gratuitos, em português e inglês, produzidos no


período de 1990 a 2020 que discorriam sobre o tema pesquisado.

A seleção dos artigos foi feita pela leitura e análise dos títulos e resumos para
ser condizente com a temática envolvida, buscando a construção de um arcabouço
lógico e cronológico.

Além do mais, foi utilizado um banco de dados público retirado de uma


dissertação de mestrado de uma perita do Laboratório de Biologia e DNA Forense
do Instituto de Criminalística Leonardo Rodrigues, da Superintendência da Polícia
Técnico-Científica de Goiás (LBDF/ICLR/SPTC-GO).

Os textos selecionados foram lidos, resumidos e em seguida foram


construídos fichamentos para a redação do trabalho final.

3
5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

5.1. CRIMES SEXUAIS

O crime de estupro, previsto, no Brasil, a partir do Art. 213 do Código Penal,


ocorre através do constrangimento a alguém, com uso de violência ou ameaça
grave, a ter conjunção carnal ou a praticar outro ato libidinoso.

O estupro é um dos atos de violência, ultraje e domínio sobre o corpo de outro


indivíduo, em sua maioria mulheres, mais brutais. O trauma vivenciado impacta na
vida e na saúde física e mental das vítimas e de suas famílias, resultando em
sequelas, a curto e longo prazo. Afetando suas vítimas nas variadas porções etárias,
classes sociais, religião, etnia e nível de escolaridade (CERQUEIRA; COELHO;
FERREIRA, 2017; SUDÁRIO et al., 2005).

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), no Anuário


Brasileiro de Segurança Pública de 2019, as vítimas podem sofrer lesões nas
genitálias, esterilidade, alterações gastrointestinais, contusões e fraturas, gravidez
indesejada, infecções do trato reprodutivo e a contração de doenças sexualmente
transmissíveis (SILVA, 2000; SUDÁRIO et al., 2005; CERQUEIRA; COELHO;
FERREIRA, 2017). No âmbito psicológico, o abuso é capaz de resultar em diversos
transtornos como disfunção sexual, depressão, transtornos alimentares como
bulimia e anorexia, ansiedade, tentativas de suicídio, uso de drogas ilícitas,
síndrome de estresse pós-traumático e síndrome do pânico (CERQUEIRA;
COELHO; FERREIRA, 2017).

É uma violência sexual delimitada por demonstrações abusivas de poder e


marcadores de gênero, uma forma de dominação. Portanto, não se trata de uma
manifestação de um tipo de sexualidade barbarizada ou descontrolada. O
estuprador tem necessidade de expressar ira e poder e evoca ao estupro para
manifestar isso (OLIVEIRA, 2000; SUDÁRIO et al., 2005; CERQUEIRA; COELHO;
FERREIRA, 2017).

Os registros de estupro e estupro de vulnerável levantados em 2017 e 2018


evidenciaram que 81,8% das vítimas eram do sexo feminino, o que expõe a

4
desigualdade de gênero como uma das causas raiz da violência sexual, ilustrado na
Figura 1.

Figura 1: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável segundo sexo da vítima no
Brasil no período de 2017 e 2018.

Fonte: FBSP 2019 (p.118)

As vítimas afrodescendentes correspondem a 50,9% das vítimas e as brancas


48,5%, conforme representado na Figura 2 (FBSP, 2019; PEARS KC, CAPALDI DM,
2001).

Figura 2: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável segundo raça/cor da vítima
no Brasil no período de 2017 e 2018.

Fonte: FBSP 2019 (p.118)

A ausência de vestígios físicos da violência sofrida, em alguns casos,


atrapalha o reconhecimento da agressão, tornando a palavra da vítima incerta. Foi
realizada uma pesquisa pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2016, que
evidenciou que 43% dos brasileiros do sexo masculino com 16 anos ou mais
5
acreditavam que “mulheres que não se dão ao respeito são estupradas”
(CERQUEIRA; COELHO; FERREIRA, 2017). A sociedade ainda apresenta uma
moral conservadora, que julga e culpa a vítima pela violência sofrida, incluindo os
órgãos públicos responsáveis pelo atendimento e registro dos estupros, resultado de
uma visão machista e pautada em estereótipos do que deveria ser o comportamento
feminino (FBSP, 2019; CERQUEIRA; COELHO; FERREIRA, 2017).

Os crimes sexuais são os crimes com as menores taxas de notificação à


polícia, o que indica que os números analisados são sempre menores do que a
realidade. No Brasil, cerca de 7,5% das vítimas de violência sexual notificam a
polícia, mostrou a última pesquisa nacional de vitimização. Já nos Estados Unidos, a
depender do estudo, varia entre 16% e 32% o número de casos notificados (FBSP,
2019, CERQUEIRA; COELHO; FERREIRA, 2017).

Em dezembro de 2018, foi publicado pelo Departamento de Justiça


Americano um estudo que revelou que apenas 23% das vítimas reportaram o crime
à polícia. Medo de represália por parte do agressor que na maioria dos casos é
alguém conhecido, demérito nas instituições de justiça e segurança pública e medo
do julgamento a que a vítima será exposta após a denúncia, são alguns dos
motivadores à baixa notificação à polícia (FBSP, 2019; BRIERE, 1992).

Apesar do senso comum figurar a agressão sexual à uma situação de


exposição da mulher em lugares ermos, em altas horas da noite ou madrugada, em
lugares escuros e sozinha, a pesquisa da Mestre Sandra Sudário mostrou a partir
de entrevistas que as conjunturas que antecederam o ocorrido foram variadas,
abrangendo situações rotineiras como estar na companhia de um amigo em lazer,
no caminho de casa para o trabalho e vice-versa; em uma carona; dormindo ou no
ambiente de trabalho (SUDÁRIO et al., 2005; VARGAS, 1999; PEARS KC, CAPALDI
DM, 2001).

Nos anos de 2017 e 2018, as vítimas que possuíam algum tipo de vínculo
com o agressor representaram 75,9% do total, sendo parentes, amigos,
companheiros e outros (Figura 3).

6
Figura 3: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável segundo relação com o
autor, Brasil no período de 2017 e 2018.

Fonte: FBSP 2019 (p.120)

A circunstância de que grande parte das vítimas de estupro no Brasil têm


menos de 13 anos, e que os abusadores são conhecidos não é nova. Pelo menos
desde a década de 90, diversas pesquisas têm indicado que o abuso sexual em
geral, é exercitado por integrantes da família ou de confiança das crianças,
mostrando padrões assustadores de violência dentro das famílias. Esse quadro
agrava na medida em que, regularmente, os relatos de crianças são
descredibilizados, além do silêncio e por vezes acobertamento de parentes próximos
(Figura 4) (FBSP, 2019; HAMPTON, 1995, CERQUEIRA; COELHO; FERREIRA,
2017).

7
Figura 4: Vítimas do sexo feminino de estupro e estupro de vulnerável relacionada a idade no Brasil
em 2017 e 2018.

Fonte: FBSP 2019 (p.119)


Foi elaborada uma análise, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com
micro dados dos registros policiais e das Secretarias estaduais de Segurança
Pública e/ou Defesa Social, em 2017 e 2018, que salientou a taxa de 63,8% das
vítimas de estupro são consideradas pessoas vulneráveis (Figura 5).

Figura 5: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável segundo sexo da vítima no
Brasil no período de 2017 e 2018.

8
Fonte: FBSP 2019 (p.118)

Pela lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, no capítulo II, Art. 218, são
consideradas pessoas vulneráveis as menores de 14 anos, portadoras de
enfermidade ou deficiência física e/ou mental, pessoa incapaz de oferecer
resistência, considerada juridicamente incapaz para aceitar relação sexual,
independentemente de sua idade e alguém sob efeito de drogas. As demais vítimas,
representou 36,2% conforme foi mostrado na Figura 1, do total de pessoas que
sofreram violência sexual. Os registros apresentaram 5.636 casos protocolados
como estupro de vulnerável, compreendendo a faixa etária das vítimas entre 0 e 13
anos, levando em consideração que a idade informada no boletim de ocorrência
estava correta (FBSP, 2019; BERGAMO & cols., 2000; FAÚNDES, 2000; SAFFIORI
& ALMEIDA, 1995).

Os crimes sexuais mais constantemente exercidos contra crianças é o


estupro e o atentado violento ao pudor, já que o assédio sexual se dá a partir de
uma relação onde há hierarquia e a fraude conjectura um consentimento inicial, que
é questionado no caso de crianças, por fim, torna-se difícil definir se houve opção de
escolha ou não correlacionado à idade e da relação de poder (JACINTO, 2009;
ANDALAFT e FAÚNDES, 2001).

O principal grupo de vitimização são pessoas do sexo feminino muito jovens,


26,8% tinham no máximo 9 anos. Se observarmos a idade considerada para estupro
de vulnerável, vemos que 53,6% das vítimas de estupro de vulnerável possuíam no
máximo 13 anos. 71,8% de todos os registros de estupro estão na faixa etária de 0
a 17 anos. O ápice da violência sexual entre as meninas se dá aos 13 anos, já com
os meninos, se deu ainda mais cedo, aos 7 anos (Figura 6). Cerca de 27% dos
meninos vítimas de estupro tem entre 5 e 9 anos (Figura 7) (FBSP, 2019;
BERGAMO, 2000).

9
Figura 6: Distribuição dos crimes de estupro e estupro de vulnerável segundo o sexo e a faixa etária
no Brasil, no período de 2017 e 2018.

Fonte: FBSP 2019 (p.119)

Figura 7: Vítimas do sexo masculino de estupro e estupro de vulnerável relacionada a idade no Brasil
em 2017 e 2018.

Fonte: FBSP 2019 (p.119)

Parar entender a pouca idade das vítimas é importante lançar luz sobre a
questão da maternidade e do casamento no Brasil. Meninas, principalmente das
classes mais baixas, até dezesseis anos, ligam o casamento à oportunidade de
10
mudança de status social, de acordo com a UNICEF. A gravidez autorizava o
casamento infantil no Brasil, inclusive meninas com menos de catorze anos, sendo
que, a princípio, pelas definições do Código Penal Brasileiro, qualquer relação
sexual com menina dessa idade poderia ser criminalizada como um estupro de
vulnerável (FBSP, 2019; BRIERE, 1992).

Em 12 de março, o artigo 1.520 do Código Civil brasileiro foi alterado a partir


da Lei 13.811, proibindo o casamento de menores de 16 anos. Anteriormente à
reforma, o código permitia o casamento, em princípio, a qualquer idade em caso de
gravidez ou para evitar cumprimento de pena criminal (TAVARES, 2019).

Apesar dos casos conhecidos como estupros coletivos atraírem maior


atenção midiática, a maioria dos estupros são praticados por um único autor 92,5%,
embora os casos conhecidos como estupro coletivo cativarem mais atenção
midiática, esses representam 7,5% do total (Figura 8). (FBSP, 2019).

Figura 8: Distribuição dos crimes de estupro e estupro de vulnerável segundo autoria no Brasil, no
período de 2017 e 2018.

Fonte: FBSP 2019 (p.120)

5.1.1. CRIMES SEXUAIS NO ESTADO DE GOIÁS

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública estabelece que Goiás foi o oitavo estado
com maior índice de estupro de mulheres em 2019 em 2020 caiu para nono lugar.

11
Segundo o relatório, foram registrados 2.741 casos, o que representa uma média de 7,5
estupros por dia em 2019 (Tabela 1).

Tabela 1: Número de estupros por capitais e Distrito Federal do Brasil no período de 2017 e 2018.

UF Capitais e Distrito Federal Estupro  


Variaçã
Ns. Abs. Taxas(2) o
    2017 (3) 2018 2017 2018  
Total Capitais 13158 13104 26,6 26,4 -0,9
AC Rio Branco 27 44 7 11 55,8
AL Maceió 185 199 18 19,7 9,3
AP Macapá 306 231 64,5 46,8 -27,4
AM Manaus (4) 865 988 40,6 46,1 13,4
BA Salvador (4) 601 352 20,3 12,3 -39,4
CE Fortaleza 504 478 19,2 18,1 -5,7
DF Brasília (4) 889 789 29,2 26,5 -9,3
ES Vitória 29 29 8 8,1 1,4
GO Goiânia 117 123 8 8,2 3
MA São Luís 272 209 24,9 19,1 -23,4
MT Cuiabá 320 313 54,2 51,6 -4,9
MS Campo Grande 651 600 74,5 67,7 -9
MG Belo Horizonte 617 544 24,4 21,7 -11
PA Belém 573 551 39,5 37,1 -6
PB João Pessoa 31 45 3,8 5,6 47,2
PR Curitiba 711 797 37,3 41,6 11,6
PE Recife (4) 432 434 26,4 26,5 0,2
PI Teresina 277 224 32,6 26 -20,2
RJ Rio de Janeiro 1.438 1.642 22,1 24,5 11,3
RN Natal 72 107 8,1 12,2 49,9
RS Porto Alegre 689 662 46,4 44,8 -3,5
RO Porto Velho 355 413 68,3 79,5 16,3
RR Boa Vista 185 219 55,7 58,3 4,7
SC Florianópolis 221 231 45,5 46,9 3
SP São Paulo 2.546 2.590 21 21,3 1,1
SE Aracaju 161 151 24,8 23,3 -6
TO Palmas 84 139 29,3 47,6 62,6
Fonte: Adaptada de FBSP, 2019 (p. 106)
(...) Informação não disponível.
(1) Inclui estupro de vulnerável.
(2) Taxas por 100 mil habitantes.
(3) Atualização das informações publicadas no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, ano 12,
2018.
(4) O dado de estupros diz respeito ao total de vítimas.

12
No primeiro semestre de 2020, de janeiro a maio, registrou-se 1075 casos de
estupro, do total de vítimas 959 eram mulheres (Tabela 2) (SANTANA, 2020; FBSP,
2019; FBSP, 2020).

Tabela 2: Estupro e estupro de vulnerável por número de vítimas nas unidades da federação do Brasil
no primeiro semestre de 2019 e 2020.

Brasil e Unidades da Federação Estupro Estupro de vulnerável Estupro (total)


Ns. Abs. Ns. Abs. Ns. Abs.
1º Semestre 1º Semestre 1º Semestre
  2019 2020 Variação (%) 2019 2020 Variação (%) 2019 2020 Variação (%)
17.57 25.92
Brasil 10918 8347 -23,5 22.643 5 -22,4 33.561 2 -22,8
Acre 244 124 -49,2 ... ... ... 244 124 -49,2
Alagoas ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Amapá 83 41 -50,6 167 96 -42,5 250 137 -45,2
Amazonas 124 84 -32,3 285 207 -27,4 409 291 -28,9
Bahia 512 420 -18 1.175 938 -20,2 1.687 1.358 -19,5
Ceará 237 165 -30,4 661 613 -7,3 898 778 -13,4
Distrito Federal 144 114 -20,8 413 327 -20,8 557 441 -20,8
Espírito Santo 229 187 -18,3 611 415 -32,1 840 602 -28,3
Goiás (1) 438 297 -32,2 1.149 778 -32,3 1.587 1.075 -32,3
Maranhão 675 472 -30,1 242 240 -0,8 917 712 -22,4
Mato Grosso 300 301 0,3 733 585 -20,2 1.033 886 -14,2
Mato Grosso do Sul 1.118 805 -28 956 648 -32,2 2.074 1.453 -29,9
Minas Gerais 752 502 -33,2 1.721 1.292 -24,9 2.473 1.794 -27,5
Pará 428 352 -17,8 1.346 959 -28,8 1.774 1.311 -26,1
Paraíba 94 37 -60,6 ... 27 ... 94 64 -31,9
Paraná 670 599 -10,6 2.612 1.843 -29,4 3.282 2.442 -25,6
Pernambuco 342 299 -12,6 664 472 -28,9 1.006 771 -23,4
Piauí 97 60 -38,1 297 253 -14,8 394 313 -20,6
Rio de Janeiro 918 679 -26 1.812 1.402 -22,6 2.730 2.081 -23,8
Rio Grande do Norte 105 70 -33,3 99 146 47,5 204 216 5,9
Rio Grande do Sul 755 497 -34,2 1.492 1.196 -19,8 2.247 1.693 -24,7
Rondônia 199 206 3,5 391 342 -12,5 590 548 -7,1
Roraima ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Santa Catarina 842 684 -18,8 1.148 799 -30,4 1.990 1.483 -25,5
São Paulo 1.527 1.291 -15,5 4.433 3.780 -14,7 5.960 5.071 -14,9
Sergipe ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Tocantins 85 61 -28,2 236 217 -8,1 321 278 -13,4
Fonte: Adaptada de FBSP, 2019 (p. 107)

13
(...) Informação não disponível.
(1) Em Goiás, os dados do 1º semestre de 2020 se referem apenas aos meses de janeiro a maio.

A grande maioria dos crimes cometidos contra as mulheres, no contexto


doméstico requer a presença da vítima para a instauração de um inquérito, com a
pandemia da Covid-19, reduziu-se o número de denúncias na quarentena em função
dos protocolos que exigem o distanciamento social e a maior permanência em casa.
Ademais, a presença mais acentuada do agressor nos lares constrange a mulher a
fazer uma ligação telefônica ou mesmo de conduzir-se as autoridades competentes
para comunicar o ocorrido (FBSP, 2020)

Na tese de mestrado realizada por Grasielly Arão em 2019, da totalidade de


casos examinados, constatou-se que cerca de 50% foi proveniente da regional de
Goiânia, correspondente a 1.154 delitos de crime sexual, seguida pelas 14ª
(Luziânia, Águas Lindas, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Cristalina, Novo
Gama, Mimoso de Goiás, Padre Bernardo, Santo Antônio do Descoberto e
Valparaíso de Goiás) e 10ª (Anápolis, Abadiânia, Campo Limpo, Corumbá de Goiás,
Damolândia, Gameleira de Goiás, Goianápolis, Leopoldo de Bulhões, Ouro Verde de
Goiás, Petrolina de Goiás, Pirenópolis, Silvânia, Terezópolis de Goiás, Vianópolis,
Alexânia, Jesúpolis, Orizona e São Francisco de Goiás) regionais com 16,6% e
9,3%, respectivamente (ARÃO, 2019). Levando em conta a densidade demográfica
das regionais estudadas, o 5º (Rio Verde, Acreúna, Maurilândia, Montividiu,
Paraúna, Porteirão, Santa Helena de Goiás, Santo Antônio da Barra, Turvelândia e
São João D’Aliança) e 11º (Jataí, Aparecida do Rio Doce, Aporé, Serranópolis,
Chapadão do Céu, Mineiros, Perolândia, Portelândia e Santa Rita do Araguaia)
NRPTCs (Núcleos Regionais da Polícia Técnico-Científica) trouxeram os maiores
índices de casos de violência sexual analisados (Figura 9) (ARÃO, 2019).

14
Figura 9: Distribuição dos municípios do Estado de Goiás de acordo com a abrangência dos Núcleos
Regionais da Polícia Técnico-Científica (NRPTC) em Goiás em 2012.

Fonte: ARÃO, 2012 (p. 51)

A quantidade de delitos de estupro realizados no estado de Goiás, das quais


as amostras apresentaram resultado positivo no teste de triagem para pesquisa de
espermatozoide, juntamente analisou-se o aspecto temporal. Observou-se uma linha
crescente representante do número de registros no laboratório até 2009,
15
preservando-se quase constante entre os anos de 2010 a 2017, com média de 178
casos por ano (Tabela 3) (ARÃO, 2019).

Tabela 3: Número de casos de estupro por área circunstancial.

Fonte: ARÃO, 2012 (p. 51)

Das amostras analisadas, mais que 50% são provenientes de material


coletado no canal vaginal da vítima logradas durante procedimento de exame de
conjunção carnal, seguido por 15,93% de casos em que foi coletado mais de um tipo
de vestígio como, indumentária, preservativos e objetos variados (ARÃO, 2019).

Em relação ao estudo da autoria do delito perpetrado, 62% dos 271 casos


submetidos a exame de DNA, foram provenientes de casos onde não havia
suspeitos; 14% referiam-se a casos com resultado negativo para os suspeitos
envoltos na investigação; e em 24%, obteve-se resultado de inserção para teste de
DNA dos suspeitos apresentados pela Polícia Judiciária (Figura 10) (ARÃO, 2019).

16
Figura 10: Análise de autoria de crime sexual em Goiás, 2012.

Fonte: ARÃO, 2012 (p. 52)


A análise envolvendo ocorrências de crimes de violência sexual contra vítimas
vulneráveis, menores de 14 anos ou com enfermidade/deficiência mental, evidenciou
que dos 252 casos de agressão sexual que se adquiriu-se o perfil haplotípico do
agressor, 82 ocorrências relacionam-se com esse tipo crime. Desse total, em 63,4%
a autoria é sabida pela vítima, correspondendo a 52 casos (ARÃO, 2019).

Depois de 252 haplótipos serem inseridos no BVPG-YSTR (Banco de Dados


de Perfis Genéticos Y específicos como Ferramenta na Investigação de Crimes
Sexuais), o banco identificou 17 agressores em série e 55 vítimas. Na análise dos
resultados de matches (combinação), observou-se 17 haplótipos, associado a 17
diferentes contribuintes. Mostrando que um mesmo indivíduo pode ter perpetrado
mais de um crime, apontando reincidência (ARÃO, 2019).
Evidenciou-se a ocorrência de crimes em série abrangendo 2 a 8 vítimas de
estupro. Dentre os crimes em série identificados pelo BVPG-YSTR, o autor cometeu
duas vezes o delito de estupro em 52,9% dos casos; em 11,8% constatou-se o
cometimento de agressão sexual por três vezes; 11,8% dos casos por quatro vezes;
17,6% dos agressores atuaram cinco vezes; e um caso, que corresponde a 5,9%,
envolveu oito vítimas diferentes (ARÃO, 2019).
Em reflexo ao trabalho desempenhado em Goiás, a Superintendência de
Polícia Técnico-Científica (SPTC) do estado, foi dentre as seis unidades do Brasil a
serem premiadas pela Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), do
Ministério da Justiça e Segurança Pública. O núcleo ficou em segundo lugar em
duas categorias da premiação: vestígios (valores absolutos) e vestígios (valores

17
relativos). Ademais, ficou em 3º lugar na identificação de pessoas desaparecidas em
2020 (SSP, 2020).

5.2. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NA ELUCIDAÇÃO DE CRIMES SEXUAIS

A redemocratização do Brasil, especialmente após a proclamação da


Constituição em 1988, proporcionou aos cidadãos, como no artigo 5º da
Constituição Federal, direitos e garantias pessoais, como o direito de se
permanecer em silêncio durante os interrogatórios policiais, da inexistência da
tortura; da obrigatoriedade das provas obtidas por meios lícitos, da informação de
seus direitos, do direito de ser assistido por familiares e advogados e de manter-se
a segurança pessoal (RODRIGUES et al., 2010; BRIERE, 1992).

A investigação criminal garante a proporção de recursos entre a acusação e o


acusado, uma vez que outorga a obtenção dos meios de prova relevantes para a
defesa e que serão usados para acarear os elementos materiais anexos à
investigação pública propensa a acusação (MACHADO, 2009; CERQUEIRA;
COELHO; FERREIRA, 2017).

Tendo em conta as vítimas de crimes sexuais, os métodos para lidar com as


mesmas são particularmente complexos. A natureza do crime em si, a dinâmica do
impacto desta forma de vitimização e a particularidade dos procedimentos de
investigação judicial são os principais fatores dificultantes. Sem evidência física, a
maior parte dos casos de vitimização sexual é caracterizada pela confidencialidade
e a narração dos fatos advindo da vítima, geralmente é uma das únicas evidências,
pois normalmente são cometidos em segredo. Embora esse relato obviamente
possa carregar mágoa ou apresentar cobertura ao agressor, já que na maioria dos
casos, esse é alguém próximo ou conhecido, podendo haver algum tipo de afeto
em relação ao mesmo (JACINTO, 2009).

A perícia criminal, enquanto órgão responsável pela prova pericial, utiliza o


conhecimento científico e a inovação tecnológica aplicada como fonte do seu
trabalho por conta da necessidade do Estado Democrático de Direito em conciliar o
respeito aos direitos humanos com uma investigação eficaz dos crimes, a fim de

18
levar os autores à justiça e proporcionar um julgamento justo (RODRIGUES et al.,
2010).

A oitiva a vítimas de crimes sexuais compõe uma conjuntura fundamental da


perícia forense, tanto pela sua importância na constatação de possíveis evidências
do abuso, como também, por compor o começo de uma intervenção terapêutica, de
proteção e orientação da vítima. Todavia, dada a delicadeza da situação, esta
perícia é particularmente complexa, exigindo dos profissionais envolvidos
sensibilidade e habilidades especiais, gerando um trabalho de investigação
conclusivo, sem acarretar no desenvolvimento de vitimação secundária
(BRIERE,1992).

A vítima não sabe mais em quem pode confiar, por conta da maior parte dos
casos ter como agressores pessoas da família ou muito próximas a elas, além do
medo de represália, ou por não entender o ato sexual em si, ela tende a silenciar
originando a ‘síndrome do segredo’, que influencia na demora da denúncia,
prejudicando ainda mais a identificação da agressão e do agressor (JACINTO, 2009;
BRIERE,1992).

Deve-se levar em conta que a maioria das vítimas de crimes sexuais sofre um
impacto psico-emocional negativo. Porém há casos em que esta não manifesta
sintomatologia decorrente da situação de abuso, não impedindo ter experienciado
uma situação potencialmente traumática. Sendo assim, não se pode assumir que
com a ausência de sintomatologia, a pessoa não tenha vivenciado um abuso. No
caso de vítimas com recursos cognitivo, emocionais e apoio familiar eficientes
pode-se ocasionar uma maior facilidade em integrar as experiências sofridas sem a
necessidade de apoio psicológico (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007).

Entretanto, na literatura, há consenso sobre uma série de indicadores


clínicos fornecidos pela maioria das vítimas sexualmente abusadas. Alterações
agudas a nível emocional, caracterizadas pela emergente angústia, medo e raiva,
bem como contingencia afetiva, de instabilidades do humor e indicadores clínicos de
ansiedade, depressão e alterações comportamentais. A severidade dos danos
psicoemocionais depende do modelo de vitimização sofrida e das consequências
consecutivas resultantes, das características da vítima e da sua rede de suporte, da
gravidade e extensão do abuso, da idade em que houve o início e o nível de

19
proximidade entre a vítima e o abusador. (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007;
BRIERE,1992).

O primeiro profissional a se comunicar com uma vítima, tendo conhecido ou


receado da ocorrência de uma agressão sexual a partir do relato direto desta, de
terceiros ou, através da análise de sintomas ou sinais sugestivos dessa classe de
agressão, deve realizar uma intervenção mínima, acalmando a vítima e passando-
lhe confiança. Requisitando exclusivamente informação sumária sobre o caso como
a possível idade do suspeito agressor e da vítima, circunstância familiar,
institucional, extra familiar; tipo de agressão; tempo transcorrido desde a última
ocorrência; probabilidade dos vestígios terem sido destruídos; interesse da vítima ou
do seu representante legal para realizar abertura de boletim de ocorrência na polícia,
caso não se tratar de um crime público (PEARS KC, CAPALDI DM, 2001).

A equipe deve ser definida o mais breve possível e não deve ser alterada. É
ideal que seja composta por um médico legista e um psicólogo forense experientes,
de forma que o diálogo e exame físico ocorram de forma integrada, num meio de
empatia que gradualmente irá se formando (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007).

Perícia é a análise de algo ou alguém realizado por técnicos ou especialistas


em determinados conteúdos, podendo fazer afirmações ou extrair desenlaces
pertinentes ao processo penal. A atividade pericial é regulada pelo Código de
Processo Penal (CPP). Os peritos são classificados como assistentes da justiça
com a função de fornecer informações de classe técnica e proceder à verificação e
formação do corpo de delito com conhecimento específico em determinada área,
submetendo-se à disciplina judiciária e aos mesmos empecilhos que os juízes
(RODRIGUES et al., 2010). A perícia é um dos dez tipos de provas, sendo eles:
pericial; interrogatório do acusado; confissão; perguntas à vítima; testemunhal;
reconhecimento de pessoas ou coisas; acareação; documental; indiciária; e busca e
apreensão (NUCCI, 2006).

A perícia de local de crime sexual é carente em dados que liguem o autor ao


fato, e devido ao choque sofrido pela vítima, frequentemente, a construção de um
retrato falado do agressor também fica afetada (ARÃO, 2019; PEARS KC, CAPALDI
DM, 2001).

20
O êxito da perícia é determinado também pelo local onde será realizada. Esse
deve ser calmo, confortável e agradável, em que a vítima possa sentir bem-estar,
onde tenha privacidade, havendo material lúdico adequado à sua faixa etária, se
necessário (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007).

Em todo andamento do processo é extremamente necessário que os peritos


compreendam a tribulação da percepção da vítima, que tenham compreensão e
apreço pelos fatos, a possível negativa em relação a revelação da identidade do
agressor, levando em conta a vergonha e medo que podem resultar na ocultação do
agressor e ao tipo de expressão, tendo sempre em vista a habilidade cognitiva da
fase de desenvolvimento (idade), o seu nível cultural e o grau de ansiedade em que
se possa encontrar (BRIERE,1992).

A colaboração e participação da vítima no processo judicial dependerá da


adequação e eficácia do comportamento dos técnicos. Assim, os técnicos devem
respeitar o ritmo discursivo da pessoa, incentivando a confiança, realizando a oitiva
sem julgamentos e preconceito e compreendendo as brechas de informação e
aparentes contradições e incoerências do discurso da vítima. Consequentemente ela
não se sentirá julgada ou desacreditada. Acreditará que será auxiliada e que seu
caso será solucionado. Este tipo de estratégia impossibilita a vitimação secundária e
a piora da ocorrência de ocultação que é muito comum nestes casos (WILLIAMS e
FINKHELOR, 2001).

Retratar o acontecimento, descrever as características psicossociais da


vítima, verificar o risco de reincidência e a situação de outras possíveis vítimas e
exibir o contexto familiar, no caso de abusos intra-familiares, são todos os objetivos
da coleta de informações (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007).

Tratando-se de crianças, há expectativa para uma narrativa imaginativa,


havendo a possibilidade de ter um adulto sugestionando-as, mal-intencionado ou
não, já que lhes falta discernimento para compreender o sentido e as resultantes de
suas atitudes, além do seu relato estar sujeito a desacordos advindos da tentativa de
defender o agressor e sua família (JACINTO, 2009). Nesses casos, uma avaliação
psicológica é indispensável para compreender e considerar o seu testemunho. A
abordagem forense destas vítimas reivindica um intermédio da área técnica
demasiadamente especializado (PEARS KC, CAPALDI DM, 2001).

21
Portanto, para a colheita de informação é fundamental realizar à avaliação
psicológica do desenvolvimento cognitivo, emocional e afetivo, linguístico e
narrativo, sócio-moral, relacional; comportamental e capacidade de distinguir
verdadeiro e falso. É de suma relevância examinar a sintomatologia e possíveis
sinais traumáticos (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007).

As vítimas podem apresentar dificuldade em seu relato como lacunas de


informação; instabilidade emocional, dificuldade em recordar detalhes periféricos
como a noção de espaço e tempo, de orientar a ordem e duração dos fatos
ocorridos, organização do pensamento e do discurso com recurso ao pensamento
concreto, limitações de memória a curto e a longo prazo (MACHADO, 2009).

É utilizado diversos métodos para realizar a junta de informações, sendo a


técnica mais comum a entrevista, visto que permite recolher um grande conjunto de
dados, advindos de diversas fontes, tanto a partir do diálogo propriamente dito,
como por desenhos ou estratégias lúdicas; observação; apontamento de condutas e
utilização de ferramentas padronizadas, possibilitando captar outras características,
além da comunicação verbal, como comportamento, atitudes, emocional, postura,
elementos relacionais, manifestações desconforto psicológico, entre outros (
MANITA, 2003).

O método a ser utilizado deve se adequar à faixa etária da vítima, as suas


características e personalidade, a sua aptidão à colaboração, a disponibilidade e as
condição de cada caso. Contudo, a maioria exige a intervenção de um psicólogo
forense pela sua complexidade (PEARS KC, CAPALDI DM, 2001).

Em casos de abusos intra-familiares, torna-se importante a entrevista de


integrantes da família, professores e profissionais de saúde que se relacionaram
com a vítima, como também vizinhos, colegas, conhecidos ou amigos (KENDALL,
WILLIAMS e FINKHELOR, 2001).

Na oitiva de crianças, estas devem estar sozinhas ou junta do primeiro adulto


a quem relatou o abuso. É importante que na fase inicial, seja permitido um período
ao qual possam explorar com liberdade o espaço e os materiais existentes na sala a
fim de estabelecer uma relação de confiança e bem-estar com o entrevistador e o
ambiente (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007).

22
É fundamental que a entrevista seja planejada previamente definindo os itens
mais indispensáveis de forma a atingir os objetivos pretendidos, preenchendo as
lacunas do caso. Com adultos, é aconselhável esclarecer o motivo da oitiva, de
forma direta e profissional, não revelando a fonte de notificação do caso (2007;
MANITA, 2003).

Todavia, sua condução deve ser flexível, respeitando o emocional da vítima.


Evitando múltiplas abordagens ao mesmo tempo e interrupções de todas as pessoas
que irão participar do exame. Em casos em que essas interrupções ocorrerem em
demasiada, principalmente a partir de membros familiares, a conversação poderá
ocorrer numa sala com espelho unidirecional, através do qual esse ou esses
indivíduos poderão assistir sem ser notado a sua presença nem intervir no discurso
da vítima (MANITA, 2003). Pode ser útil filmar ou gravar a entrevista, dado que o
material de vídeo é uma evidência auxiliar em casos legais (MACHADO, 2009;
MANITA, 2003).

A entrevista, via de regra, é composta por três fases: a introdução, onde há e


exposição do motivo, assegurando confidencialidade e garantindo que a pessoa
entrevistada não se sinta culpada ou delatora, possivelmente concedendo um
período de conversa livre estimulando as capacidades descritivas da pessoa , onde o
entrevistador deve garantir que a vítima compreenda que o mesmo tem capacidade
para ouvir e compreender as suas experiências, mesmo as mais negativas,
possibilitando também, que a vítima tenha espaço para abordar outros assuntos ao
longo da entrevista, sendo provável que manifeste dificuldade em falar somente da
situação de vitimação (MACHADO, 2009; KENDALL, WILLIAMS e FINKHELOR,
2001).

A segunda etapa se dá pela exploração, onde há a necessidade da inserção


de perguntas de modo focalizado, contextualizando a importância do relato,
solicitando à vítima para relatar os eventos que vivenciou, evidenciando que a
mesma evite o que ouviu dizer de alguém, reforçando a importância de dizer a
verdade, encorajando a fornecer toda a informação de que se lembrar
(MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007; KENDALL, WILLIAMS e FINKHELOR, 2001).

A terceira e última etapa desenrola-se na conclusão, onde deve-se evitar


perguntas do tipo sim/não, perguntas que contenham mais de um questionamento

23
ou perguntas de múltipla escolha, por conta de estas aumentarem o risco do
entrevistado responder aleatoriamente, principalmente quando não se lembra muito
bem do ocorrido. Nesta fase aconselha-se a intercalação entre perguntas abertas e
fechadas, perguntas acerca da situação de abuso e perguntas neutras, evitando-se,
insistir em perguntas das quais a vítima demonstre não querer dar informações, não
apresentando atitude intimidadora nem pedindo que repita a sua história na
presença de outras pessoas, tão quanto não deve manifestar sentimentos contra o
abusador, ou conduzir a entrevista como um interrogatório, pressionando a vítima a
falar, prestando-se atenção aos sinais de cansaço ou de fragilização emocional
provocados pela abordagem de determinado assunto (MACHADO e GONÇALVES
R, 2002).

5.3. INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL

A pessoa estuprada ou agredida sexualmente precisa de ágil atendimento


reparando a crise emocional sofrida, assegurando-lhe privacidade, respeito,
sensibilidade e solidariedade. A equipe responsável pelo atendimento a vítima deve
ser criteriosamente selecionada. As vítimas de crimes sexuais almejam mais que a
trivial aplicação de protocolos. Esperam receber um atendimento íntegro, respeitoso
e acolhedor, que evitem da revitimização. Cabe ao médico e demais profissionais de
saúde o reconhecimento de sua considerável função, com uma prática ética e
responsável de medidas defensora de sua saúde e de seus direitos humanos
(FAÚNDES et al., 2006).

Recomenda-se que o primeiro profissional a realizar a oitiva faça uma


descrição detalhada da violência, incluindo o tipo ou tipos de agressões, número de
agressores e a hora e dia da agressão para que evite que as pacientes se sintam
como uma nova agressão tendo que repetir a mesma história a diversas pessoas,
fazendo-as reviver a horrível experiência que quiseram esquecer o mais
rapidamente possível. Nesta perspectiva, indica-se a adoção de uma única ficha e
que a mesma seja utilizada por todos os profissionais que atendem a vítima
(enfermeira, médico, assistente social e psicóloga) (FAÚNDES et al., 2006; MANITA,
2003).

O exame físico tem dois propósitos: conseguir provas periciais e constatar


lesões que demandam tratamento. O qual se faz necessária a presença de outra
24
pessoa, podendo ser uma enfermeira ou uma mulher da família que esteja junto a
vítima (FAÚNDES et al., 2006).

A inspeção deve incluir o estado geral e sinais vitais, exame dos membros
inferiores e superiores na procura de traumas, exame do couro cabeludo e face e,
pescoço, mamas e tronco. Verifica-se o abdome com a paciente em decúbito dorsal,
face interna das coxas, pernas, nádegas, realizar exame ginecológico e anal. Colher
amostras biológicas tais como pelos, unhas, cabelo, sêmen e sangue. Muitas vítimas
tentam se defender e acabam por agredir seu algoz onde fragmentos de células
epiteliais deste se situam sob suas unhas, possibilitando-se a coleta desse material
que possivelmente detectam o agressor (FAÚNDES et al., 2006; RUIZ, 2017).

O padrão é que este trâmite seja realizado no IML. Se isto não for viável, o
postulado pelo Ministério da Saúde é que a colheita seja feita por meio de swab e
que após enxugar em temperatura ambiente o material, seja colocado em invólucro
lacrado. Esse deve ser guardado em ambiente climatizado ou em um congelador. É
necessário garantir a cadeia de custódia, portanto, deve-se realizar o registro
pertinente reiteradamente que o material for enviado (FAÚNDES et al., 2006).

É necessário realizar testes laboratoriais para sífilis, HIV, hepatite B e C,


Chlamydia, Trichomonas, HPV e gonorreia, deve-se realizar o teste para identificar
uma possível gravidez na entrada da paciente e serem repetidos posteriormente
durante o seguimento do tratamento (FAÚNDES et al., 2006).

No caso de cadáveres com suspeita de agressão sexual, em que se verifique


pelagem morfologicamente diferentes dos da vítima, o perito poderá passar um
pente fino na região pubiana para realizar a coleta desses pelos ou outros possíveis
vestígios biológicos. Realizar esfregaço de swabs umedecidos em água destilada no
pente e direcionar ao laboratório ou encaminhar o próprio pente (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA et al., 2013).

O fato de várias mulheres, quando violentadas, se banharem por muito tempo


se lavando além do habitual, na tentativa de se “purificar” por conta do nojo do fato
ocorrido é um dos motivos para negativa na detecção de esperma nas amostras
recolhidas das vítimas de crimes sexuais (RUIZ, 2017).

É essencial que a vítima informe se ocorreu alguma relação sexual recente


consentida, em caso de afirmativa, necessita-se realizar a coleta de amostra
25
biológica desse parceiro para confronto consecutivo por conta de uma provável
mistura de perfil do parceiro ou parceira, da vítima e do agressor, caso seja
detectada (RUIZ, 2017).

Exames de DNA são muito dispendiosos, por conta disso é realizado uma
triagem para então se proceder a análise molecular nas amostras provenientes de
crimes de natureza sexual. É feito a citologia de esperma (CE), o antígeno
específico da próstata (PSA), as semenogelinas I e II e a detecção da atividade da
fosfatase ácida prostática (FAP) (HOCHMEISTER, 1995; RUIZ, 2017).

Com a detecção do espermatozoide nos vestígios materiais há a


caracterização de contato sexual e ejaculação, sendo prova irrefutável da presença
de sêmen (PEONIM et al., 2013; RUIZ, 2017).

O teste CE apresenta muitos resultados falso negativos, os espermatozoides


podem não ser encontrados pelo período decorrido entre o fato criminal e a coleta
de material, tal como com indivíduos oligospérmicos e azoospérmicos (patologia ou
cirurgia/vasectomia) tais células não serão localizadas (MARTÍNEZ et al., 2015;
RUIZ, 2017).

5.4. EXAMES DE DNA PARA IDENTIFICAÇÃO HUMANA EM CASOS CRIMINAIS

O primeiro caso de identificação criminal descoberto por exames de DNA


ocorreu em 1985, na Inglaterra. Em um povoado afastado, uma mulher foi
assassinada, na cidade havia um geneticista chamado Alec Jeffreys, que colheu o
esperma encontrado na vítima e fez um exame de DNA. Algum tempo depois
ocorreu outro crime similar, novamente Alec Jeffreys analisou o esperma encontrado
na vítima e identificou que pertencia ao mesmo homem. Os policiais locais
realizaram uma campanha de doação de sangue com a finalidade de identificar o
criminoso. Nenhum morador do povoado possuía o mesmo DNA do estuprador.
Então foi realizado a coleta de sangue de um viajante que estava na cidade e
identificado através do teste de DNA que as informações genéticas do viajante eram
as mesmas do estuprador (AMABIS & MARTHO, 1995).

A identificação do DNA humano é uma ferramenta poderosa para casos de


paternidade, bem como para investigação criminal por meio da digitação de
evidências biológicas coletadas na cena do crime, como homicídio, estupro,
sequestro, troca ou abandono de crianças e na identificação de restos mortais em
26
desastres ou batalhas de campo. Porém, métodos científicos, tecnológicos e
analíticos devem ser utilizados, para que esta associação seja feita corretamente
(DOLINSKY, 2007).

Evidências biológicas como manchas de sangue, sêmen, cabelo, entre outras


são encontradas em cenas de crimes. O DNA pode ser extraído destes locais e
estudado em laboratório por meio de técnicas moleculares para identificar possíveis
suspeitos. Portanto, para implementar totalmente a tecnologia de identificação de
DNA, as amostras biológicas a serem analisadas devem ser corretamente
selecionadas, transportadas, coletadas e armazenadas (SILVA & PASSOS, 2006).

O perfil genético ou perfil do DNA tem sido considerado um método


importante na identificação individual, pois as informações contidas no DNA são
determinadas pela sequência, ou seja, são como letras do alfabeto genético,
encontradas nos cromossomos. No ser humano, existem três bilhões dessas letras
escritas nos cromossomos de todas as células do corpo humano, sempre na mesma
ordem em todas as células do indivíduo. É a ordem em que essas letras são escritas
nos cromossomos que faz com que cada indivíduo seja diferente dos outros. Quanto
mais diferentes são os indivíduos, mais distinta é a ordem das letras no genoma.
Indivíduos aparentados, irmãos, pais e filhos, apresentam similaridade
proporcionalmente maior na sequência genética (Figura 11) (DOLINSKY, 2007).

Figura 11: O DNA e sua estrutura, contendo Adenina, Guanina, Citosina e Timina como bases
nitrogenadas.

27
Fonte: FRUEHWIRTH et al., 2015 (p.5)

O DNA é encontrado no núcleo das células em forma de cromatina. Fora do


núcleo, no citoplasma também é encontrado o DNA mitocondrial. As mitocôndrias
são organelas responsáveis por produzir energia nas células. Nos estudos rotineiros
é utilizado apenas o DNA nuclear para identificação humana, entretanto ocorrem
casos em que não é possível utilizar DNA nuclear e nessas ocasiões é utilizado o
DNA mitocondrial, como por exemplo em ossos antigos. Qualquer tecido pode ser
utilizado para extração de DNA desde que possua células próprias ou células de
outros tecidos (SILVA & PASSOS, 2006).

Na espécie humana, o DNA que carrega o código genético ocorre em todas


as células que possuem núcleo, como os espermatozoides, os glóbulos brancos, as
células encontradas na saliva e as células que envolvem as raízes capilares. Estas
são as células que apresentam maior interesse para os estudos forenses (DUARTE,
2001).

O padrão de fragmento do DNA de uma pessoa pode ser realizado pela


análise do seu material genético. O procedimento inclui algumas etapas, na primeira
é feita a coleta da amostra podendo ser do sangue, saliva, sêmen, pelo, dente,
ossos ou qualquer outro tecido ou fluido do indivíduo (BORÉM et al., 2001).
28
Após a extração de DNA, a próxima fase se dá a partir da amplificação do
material genético por PCR, tendo como alvo o conjunto de 17 STR autossômicos e o
gene homólogo da amelogenina, para que se obtenha um perfil genético individual
(AMORIM, 2015).

A Reação em Cadeia de Polimerase (do inglês, Polymerase Chain Reaction –


PCR), etapa essencial na análise de DNA, foi elaborada em 1985 por Kary Mullis,
tornou a identificação pelos marcadores microssatélites (STR) mais prática, ágil e
ótima custo-benefício, tomando o lugar da técnica RFLP (Restriction fragment length
polymorphism ou Polimorfismo dos fragmentos de restrição do DNA)
(FRUEHWIRTH, 2015; AZEVEDO, 2011; PENA,1994)

A PCR fundamenta-se na amplificação excludente de uma sequência-alvo de


DNA específica a partir de uma coleção heterogênea de DNA, operando-se um par
de oligonucleotídeos iniciadores que são complementares a uma certa extensão em
ambas as fitas do DNA a ser amplificado. A sequência-alvo de DNA, cuja
continuação é originalmente conhecida, é denominada DNA molde (SAIKI et al.,
2001).

A enzima termoestável alcunhada DNA polimerase orienta o posicionamento


dos precursores do DNA – dNTP – iniciando a síntese de novas fitas de DNA. Com
um novo aumento de temperatura, a enzima DNA polimerase catalisa a reação,
agregando o nucleotídeo na posição terminal ao iniciador, acrescentando as bases
do DNA molde, promovendo a extensão da fita (SAMBROOK, 2001). A reação de
PCR é elaborada utilizando-se diversos reagentes que devem conter concentrações
específicas para todo tipo de análise. Na atualidade, existem diversos kits de PCR
contendo todos os reagentes pré padronizados que possibilitam a utilização da PCR
em laboratórios forenses (BUTLER, 2005).

Uma vez sucedida à amplificação, os produtos da mesma, são detectados por


eletroforese capilar num sequenciador automático (AMORIM, 2015).

Na posse dos eletroferogramas, os alelos, que cada indivíduo exprime, em


cada STR, são transcritos para uma folha de registo adequada e inicia-se por
verificar se há ou não incompatibilidades entre a constituição genética da amostra
coletada in locus e a constituição genética da amostra coletada para confronto do
suspeito. Existindo incompatibilidades em mais de dois STR, é excluída a

29
possibilidade de culpabilidade, neste caso, a perícia não permite a identificação do
suspeito. Não existindo incompatibilidade em nenhum STR conclui-se, pela
impossibilidade de exclusão de parentesco e calcula-se a probabilidade de
parentesco (AMORIM, 2015).

O teste de DNA é usado para a investigação criminal e na esfera civil e para


investigação de paternidade. O DNA Forense é aplicado na identificação de suspeito
em casos de crimes sexuais relacionados a atentado violento ao pudor, a estupro,
ato libidinoso diverso da conjugação carnal, na identificação de cadáveres
carbonizados, mutilados, em decomposição, relação entre instrumento lesivo e
vítima; falta de assistência durante o estado puerperal; investigação de paternidade
em caso de gravidez resultante de estupro, identificação de cadáveres
abandonados; aborto provocado; infanticídio; estudo de vínculo genético: raptos,
sequestros e tráfico de menores; e anulação de registro civil de nascimento (LEITE,
et al., 2005).

O uso de luvas descartáveis, máscaras e gorros cirúrgicos quando da


realização da coleta, manuseio e processamento das evidências é de extrema
importância para que não haja contaminação das evidências que contenham o
material genético. Nas células, o DNA de interesse forense é encontrado tanto no
núcleo como nas mitocôndrias (BEZERRA, 2004). Os tipos de amostras mais
comuns são sangue, sêmen, cabelo, saliva, urina, pele, unha, líquidos amnióticos,
vilosidade coriônica, fígado, ossos, músculo, fezes, suor (DOLINSKY, 2007).

Pode ocorrer degradação e contaminação de DNA nos laboratórios e nas


cenas de crimes. A degradação biológica do DNA é feita por enzimas produzidas por
bactérias e fungos, por conta da umidade e temperatura. O DNA resiste bem ao
calor podendo ser exposto a temperaturas de até 100ºC sem ser danificado, porém
existe a ocorrência de possíveis contaminações, a partir da deposição de material
biológico de outra pessoa na amostra. Por exemplo, em caso de estupro, quando o
material coletado com swab pode conter sêmen do estuprador e fluido vaginal com
células da própria vítima (SILVA & PASSOS, 2006).

Para um efetivo controle da integridade física da amostra biológica coletada, é


necessário a documentação de sua cadeia de custódia, que diz respeito à
identificação de todas as pessoas que ficaram responsáveis pelo cuidado da

30
amostra, e das condições em que as mesmas se encontravam a cada nova etapa,
desde a coleta até sua análise em laboratório. As amostras biológicas precisam de
especial atenção devido a suas susceptibilidades à degradação e contaminação
(SILVA& PASSOS, 2006; DOLINSKY, 2007).

5.4.1. MARCADORES Y-STR

Qualquer porção específica de DNA humano com tamanho aproximadamente


de 1.000 pares de bases (pb), possuem, em média, somente 1 pb que varia entre
duas pessoas na população e, as distintas versões de uma certa sequência de DNA
em um determinado local do cromossomo (locus), são chamadas de alelos
(NUSSBAUM et. al, 2002; PIZA, 2012).

Levando em conta que um indivíduo apresenta um par de cromossomos


autossômico, sendo um de derivação paterna e outro de origem materna, terão dois
alelos em cada locus que estabelece o genótipo, podendo ser heterozigoto ou
homozigoto (MARANO et al., 2010; PIZA, 2012).

Na análise dos cromossomos homólogos, observa-se considerável


semelhança nas sequências de DNA. No entanto, é possível observar variabilidade
nessas sequências, quer dizer que, há a existência de diferentes alelos em certas
regiões homólogas (SAKAR et al., 2018; DECANINE, 2016).

A ocorrência de polimorfismo genético ou de variante rara em uma população


se dá a partir da frequência na qual os alelos são encontrados. São considerados
alelos comuns quando são identificados em mais de 1% dos cromossomos na
população em geral, estes constituem polimorfismos genéticos. Já os alelos com
frequências menores de 1% são, por convenção, variantes raras (NUSSBAUM et al.,
2002; PIZA, 2012).

Quando os polimorfismos são analisados por marcadores genéticos, se dão


como importantes elementos para os estudos intra e inter populacional, por
diferenciarem proficientemente as distintas versões alélicas de um locus a vários
loci, herdadas ou não, de um gene ou sequências do genoma (segmento de DNA),
fornecendo material para uma vasta gama de aplicações. Devido a análise de
regiões que apresentam maior variação individual possibilita-se a utilização do DNA
como elemento de identificação na área forense (DUARTE et al., 2001).
31
As regiões hipervariáveis constituem exímias ferramentas de identificação
humana, existindo alto grau de polimorfismo. Estudos verificaram diversos sítios em
que existem distinções pontuais na molécula de DNA (MACHADO et al., 2017;
HUNTINGTON, 2016; GRIFFITHS et al., 2013; NUSSBAUM; MCINNES;). Em cada
1000 pares de bases (pb) de certos segmentos homólogos do DNA humano, há
cerca de um único nucleotídeo que os distinguiam (MCINNES; NUSSBAUM;
HUNTINGTON, 2016, BUTLER, 2010;). Ademais, reconheceu-se regiões com
sequências repetitivas substancialmente presentes no genoma. Difundem-se em
cadeias curtas ou longas, denominadas como DNA satélites, exibindo mais de
100.000 vezes em todo o insumo genético, com sequências que variam no tamanho
e causa da unidade de repetição (MACHADO; EHRHARDT, 2018; SILVA, 2016;
ARÃO,2019).

Os microssatélites STR são marcadores moleculares, repetições curtas em


tandem, do inglês Short Tandem Repeats, que compreendem poucos pares de
bases e situam-se dispersos por todo o genoma humano (JOBLING e GILL, 2004;
KOCH e ANDRADE, 2008; LEWIN, 2009).

Os loci STR compreendem sequências repetidas em tandem que vão de 2 a 7


pares de base, com extensão total com cerca de 350 pares de bases após a
multiplicação pela PCR. Normalmente, os loci contendo tetra e pentanucleotídeos
são regularmente utilizados com o propósito de identificação humana. O número de
alelos em um locus STR de importância forense, com possibilidade de diferenciação
genotípica entre dois indivíduos designados aleatoriamente que possuam genótipos
distintos, geralmente varia de 3 a 8 (PATRINOS e ANSORGE, 2010), já os mais
informativos podem manifestar mais de uma dezena de alelos distintos, sendo esta
diversidade vinculada à variabilidade do número de fragmentos repetidos contidos
no segmento de DNA (MARANO et al., 2010).

Nos exames genéticos de interesse forense, os cromossomos autossômicos


aplicam-se à identificação específica, o DNA mitocondrial determina a linhagem
matrilínear, os cromossomos sexuais (X e Y) comprovam as identificações
individuais e, o cromossomo Y, também é usado para estabelecer a linhagem
patrilínear em casos de crime sexual. Compreende a informação genética disponível
e decisória devido à super-representação de agressores do sexo masculino, que

32
correspondem a 85,5% dos casos. (Figura 12) (JOBLING e GILL, 2004; KOCH e
ANDRADE, 2008, FBSP, 2019).

Existem ocorrências onde a identificação espermática é impossível, seja pelo


lapso decorrido entre o ato violento e o exame médico-legal, por casos de
azoospermia, por ínfima quantidade de material ou combinação com fluídos da
vítima, que atrapalham a comprovação do crime inviabilizando a separação e
identificação do DNA do agressor. (COLLINS, 1964; NOGUEIRA et al., 2020). As
células usadas para a extração de DNA são epiteliais transferidas dos dedos ou
pênis do agressor, já que a técnica Y-STR (microssatélites do cromossomo Y),
objetiva localizar especificamente DNA masculino e nesses casos seria improvável
detectar DNA do ofensor através de análises autossômicas, principalmente devido à
presença em excesso de células femininas na amostra (PAULA, 2012; DANERI,
2008; POUCHKAREV, 1998; NOGUEIRA et al., 2020).

O perfil genético obtido do indício é um perfil inquirido, portanto, averígua-se


conhecer a origem do “doador/contribuidor masculino” deste perfil por meio de
confronto com um perfil genético de referência, previamente colhido da vítima e do
suspeito. Em casos onde é feita a comparação dos perfis e resulta em semelhança,
a possibilidade das amostras terem se originado da mesma pessoa é eliminada
(RODRIGUES, 2008).

Nos crimes sexuais, a deliberação do perfil genético de uma amostra


questionada pode esclarecer ou direcionar uma investigação criminal, convertendo-
se uma ferramenta eficaz na identificação do agressor (TORRES et al., 2007).

Para melhor interpretar os perfis genéticos LCN (do inglês Low Copy
Number), foi criado um conjunto de regras, sendo a primeira usar o método de
“consenso”, que se dá por efetuar várias amplificações da mesma amostra e
somente considerar os alelos presentes como verdadeiros em, pelo menos, duas
dessas amplificações; analisar os controles negativos – se os controles negativos,
com um conjunto de amostras, revelarem os mesmos alelos em, pelo menos, dois
desses controles, esses alelos não devem ser considerados em nenhuma amostra
e, se possível, estas devem ser reanalisadas; e se for detectado algum alelo numa
amostra que não pertença ao perfil do suspeito, outras metodologias de identificação

33
devem ser consideradas (GILL et al., 2000 e WHITAKER et al., 2001 APUD LAGOA,
2007).

Referente a extração e purificação do DNA é necessário utilizar a metodologia


mais apropriada frente às amostras forenses em virtude da insuficiente quantidade e
qualidade do DNA presente nos vestígios. (O’DONNELL et al., 2008; PATRINOS e
ANSORGE, 2010).

Nos crimes sexuais, as evidências que apresentam composto de material


biológico com espermatozoides e células epiteliais do agressor e células epiteliais da
vítima, orientam a realização da extração diferencial com lise celular em duas
etapas. Na primeira etapa, o uso de detergentes fracos disponibiliza o DNA das
células epiteliais resultando na fração não espermatozoide (FNE) e, na segunda
fase, há o emprego de detergentes fortes para liberar o DNA dos espermatozoides
resultando na fração espermatozoide (FE). O êxito deste método depende da
qualidade da amostra e da etapa de digestão com a enzima proteinase K (TEREBA
et al., 2004; TORRES et al., 2007; PACHECO, 2010).

O reconhecimento do perfil genético masculino exposto em um vestígio com


mistura de amostras biológicas masculina e feminina por meio dos marcadores STR
autossômicos nem sempre é viável, sobretudo quando a amostra masculina está
proporcionalmente menor do que a fração feminina, já que na amplificação por PCR
a fração feminina terá multiplicação preferencial por conta da competição com os
regentes da PCR, onde a fração masculina será diminutamente ou não detectada.
Todavia, se na amplificação forem utilizados marcadores STR específicos para o
cromossomo Y, os Y-STR, a competição de reagentes que ocorre com os
marcadores STR autossômicos será substancialmente reduzida (PATRINOS,
ANSORGE, 2010). Os marcadores moleculares Y-STR são específicos, capazes de
revelar o haplótipo masculino no composto analisado (Figura 13) (FERREIRA-SILVA
et al., 2018; ZHOU et al., 2018; ANDERSEN; BALDING, 2017; DECANINE, 2016).

Figura 13: Representação esquemática do cromossomo Y humano, destacando as regiões


pseudoautossômicas (PAR 1 e PAR 2) e a localização dos marcadores STR-Y na região NRY.

34
Fonte: GIGONZAC, 2013 (p.22)

Essa separação é praticável a cargo do estado haploide de grande parte do


cromossomo Y e do fato de não se identificar muitas recombinações,
consequentemente o Y-STR se torna um marcador singular transmitido pelas
gerações masculinas da mesma linhagem e é capaz de verificar-se determinado
indivíduo faz ou não parte de uma linhagem familiar (NOGUEIRA, 2020; PAULA,
2012; STANGE 2014; ARAUJO, 2017).

O estudo realizado McDonald et al. (2015) mostrou a presença de ao menos


uma amostra com três ou mais alelos Y-STR em 30% dos 47 casos analisados e
21% com no mínimo uma amostra de dez ou mais alelos Y-STR.

O cromossomo Y é o de menor tamanho do genoma humano. Apesar de ser


desvalido em genes funcionais, cumpre essenciais funções biológicas na regulação
da espermatogênese e na demarcação do sexo gonadal (MASSAIA; XUE, 2017;
BICHILE et al., 2014, ARÃO,2019).

Exclusiva engrenagem de variabilidade da porção Y-específica masculina,


tendo em conta a inexistência de ocorrência de mutações espontâneas, indivíduos
do sexo masculino de uma mesma geração apresentam o mesmo haplótipo Y-STR

35
(LIU et al., 2018; BALANOVSKY, 2017; BUCKLETON et al., 2016; BUTLER, 2010).
Kits Y-STR comercializados para análise de linhagem patrilinear apontam
marcadores com taxas de mutação ponderadamente baixa, na ordem de 10-3
(ADNAN et al., 2016; DECANINE, 2016; HADI, 2016; DIEGOLI et al., 2015;
OLOFSSON et al., 2015; BALLANTYNE et al., 2014).

Atualmente, o número de loci Y-STR analisados para identificação humana


tem aumentado. Portanto, a fim de possibilitar o confronto inter laboratorial de
resultados e compatibilidade para acréscimo de dados aos bancos de haplótipos, foi
indicada a padronização do uso de conjuntos de Y-STR (DIEGOLI et al., 2015;
CHIANCA, 2013; LIU et al., 2018; ZHOU et al., 2018; ADNAN et al., 2016; KAYSER,
2017; THOMPSON et al., 2013).

Foi definido o primeiro loci padrão, em 1998, formado por nove marcadores Y-
STR, desenvolvido na Europa para fins forenses, designado como “haplótipo
mínimo” (ZHOU et al., 2018; KAYSER, 2017; LIU et al., 2016, ARÃO,2019).
Posteriormente, outros marcadores foram associados com o propósito de expandir a
capacidade de discriminação de indivíduos (PURPS et al., 2014), criando o
“haplótipo estendido”, totalizando 11 marcadores Y-STRs com a inclusão de
DYS438 e DYS439 (KAYSER, 2017; DIEGOLI, 2015; OLLOFSSON et al., 2015).

5.4.2. MARCADORES STR OU MICROSSATÉLITES AUTOSSÔMICOS

O International Human Genome Sequencing Consortium (LANDER et


al.,2001), define uma sequência repetitiva formada de 1 a 13 pb como região
microssatélite ou região de repetições consecutivas curtas (STRs, Short Tandem
Repeats– Repetições Curtas em Tandem). A quantidade de repetições varia entre
os indivíduos, criando polimorfismos de comprimento, o que defini formas
diversificadas dos alelos presentes na população (MARTINS, 2008; GIGONZAC,
2013).

O Sistema Codis consiste em um conjunto de quinze marcadores, 18


marcadores padrões e 2 marcadores auxiliares do tipo STR aconselhável para
identificação humana por meio de análises de DNA, que foram estabelecidos para a
identificação. O CODIS compreende perfis genéticos de indivíduos condenados e os

36
resultados de buscas em sua base de dados têm facilitado bastante as
investigações criminais (PACHECO, 2010, FRUEHWIRTH; DELAI; FOLHA, 2015).
Todavia, para serem considerados bons marcadores forenses, os STR devem ser
equipados de neutralidade, em outras palavras, não podem deduzir características
fenotípicas e/ou enfermidades, além de estarem localizados em regiões não-
codificantes do genoma humano (FRUEHWIRTH; DELAI; FOLHA, 2015; DE TONI et
al; 2011).

Em grupo, esses 20 marcadores apontam probabilidade de repetição de cerca


de 1,7 x 10-15, visto que o perfil composto pelos genótipos mais constantes de cada
um dos 13 marcadores apresenta uma probabilidade de ocorrência estimada em
cerca de 1 em 160 bilhões (BUTLER, 2005). Na prática, esses números asseguram
que cada indivíduo da população universal, com exceção de gêmeos idênticos,
manifeste um perfil de marcadores genéticos polimórficos singulares no que se
refere aos 20 CODIS. Esses têm potencial para serem analisados
concomitantemente em um procedimento laboratorial automatizado como o
sequenciamento em tempo real, o que possibilita sua aplicação forense em casos
dos quais necessitam da análise de um enorme número de indivíduos (Figura 14)
(MARANO et al., 2010).

Figura 14: Distribuição cromossômica dos 13 loci STRs autossômicos recomendados pelo Federal
Bureau of Investigation (FBI) para identificação humana.

37
Fonte: GIGONZAC, 2013 (p.21)

Os marcadores STR fundamentais utilizados pelo sistema CODIS são: TPOX


(cromossomo 2), D3S1358 (cromossomo 3), FGA (cromossomo 4), D5S818 e
CSF1PO (cromossomo 5), D7S820 (cromossomo 7), D8S1179 (cromossomo 8),
TH01 (cromossomo 11), VWA (cromossomo 12), D13S317 (cromossomo 13),
D16S539 (cromossomo 16), D18S51 (cromossomo 18), D21S11 (cromossomo 21),
AMEL (cromossomo X) e AMEL (cromossomo Y) (FERREIRA, 2011). Ao definir as
sequências dos 20 marcadores CODIS, é viável identificar um indivíduo a partir de
uma acareação entre as amostras, resultando em um desenlace dificilmente
questionável (FRUEHWIRTH et al., 2013).

Quando o material biológico apresenta demasiados danos ou quando é


impossível extrair DNA nuclear, utiliza-se o marcador de DNA Mitocondrial (DNAmt).
Essa técnica constitui-se no sequenciamento de certas regiões de DNAmt, que
diversificam de uma pessoa para outra e que tem origem matricial. O DNAmt está
presente em todas as células, portanto apresenta menor ameaça de degradação em
relação ao DNA nuclear (SANTOS et al., 2005, FRUEHWIRTH; DELAI; FOLHA,
2015).

A apuração do uso de métodos distintos de extração de DNA está associada


ao tipo de material envolvido e interfere diretamente no resultado da análise dos
38
STRs. A maior parte dos procedimentos de extração de DNA compreende a lise
celular, seguidamente da retirada de proteínas celulares precipitadas e pôr fim a
precipitação do DNA com sua eleição final (CDFS, 1996; HALLENBERG, MORLING,
2001).

Em casos de estupros, onde a procedência de DNA é o sêmen, uma


adequação metodológica baseada em um estudo da EMBRAPA recomenda que o
processo seja efetuado a partir de, primeiramente o descongelamento de uma
palheta de sêmen (cerca de 0,54 mL), após posicionamento em um micro tubo de
1,5 mL, em seguida a centrifugação durante oito minutos a 16.000 g. Depois deve-se
lavar o pellet quatro vezes em 1 mL de tampão PBS (a cada lavagem passar no
vortex e centrifugar novamente). A seguir ressuspender em 100 μL de tampão PBS,
nesta fase, a amostra pode ser armazenada no freezer. Seguidamente, adicionar
400 μL de tampão de lise 2 e incubar por trinta minutos a 50°C para dissolver o
pellet. f) Adicionar solução de proteinase K a 200 μg/mL (100 μg = 5 μL da solução
de estoque de 20 mg/mL). Agitar no vortex até dissolver. Incubar por dezesseis
horas a 50ºC. g) Dividir as amostras em dois tubos, colocando 250 μL em cada tubo.
Adicionar 80 μL de NaCl 5 M por tubo. Agitar vigorosamente por inversão.
Centrifugar a 16.000 g por cinco minutos. Transferir o sobrenadante para tubos
limpos. Acrescentar 1 mL de etanol absoluto a cada tubo e agitar por inversão.
Centrifugar a 16.000 g por cinco minutos. Depois Desprezar o sobrenadante. Logo
após acrescentar 100 μL de etanol a 70% a cada tubo (não agitar no vortex).
Centrifugar a 16.000 g por cinco minutos. Desprezar o sobrenadante. Secar o pellet
e suspender em 100 μL de tampão TE + enzima que atue sobre RNA (10 μg/mL de
amostra). Por fim incubar por uma hora em temperatura ambiente (EMBRAPA,
2007).

Os marcadores moleculares estão distribuídos nos cromossomos autossomos


e sexuais, são constituídos por regiões de repetições nucleotídicas sucessivas ou in
tandem, de número variável, citadas como VNTRs (Variable Number Tandem
Repeats ou Repetições Consecutivas de Número Variável) e STRs (Short Tandem
Repeats ou Repetições Consecutivas Curtas) (KOBACHUK, 2012).

Os marcadores moleculares foram empregados a princípio na ciência forense


para identificação humana, sendo o primeiro caso criminal elucidado na Inglaterra
mediante análise das variações de comprimento dos fragmentos de restrição, o
39
RFLP (Restriction Fragment Length Polymosphism), em locais multilocais do DNA
genômico (JEFFREYS, WILSON, THEIN, 1985). Encontrou-se a mesma técnica
para aplicação em inúmeras outras áreas, como exemplo, o mapeamento genético
(DONIS-KELLER et al, 1987; TELENIUS et al. 1990) e posterior diagnóstico de
patologias.

Os STRs são os mais utilizados por apresentam elevado polimorfismo


(FERREIRA, GRATTAPAGLIA, 1995), com grande variação entre os indivíduos
(LINS et al.1996) e, inferior grau entre populações (CHARLESWORTH,
SNIEGOWSKI, STEPHAN, 1994). As regiões de STRs contêm taxa de mutação
mais alta por conta de sua principal propriedade, as repetições in tandem (SANTOS,
TYLER-SMITH, 1996; KAYSER et al., 2000). Nessas áreas, a replicação tem
superior probabilidade de afligir-se inexatidão em decurso de um processo
denominado derrapagem da polimerase, que leva a inserção ou deleção de
geralmente, uma unidade de repetição.

Os STRs são essenciais para a tarefa de identificação humana e análises de


subestruturarão (ROSENBERG, WARD, PRITCHARD, 2003; PRITCHARD et al.,
2002), além do que inferências filogenéticas. Sua utilização reivindica um número
colossal de regiões, de modo a reduzir as ações das mutações recorrentes
(BUDOWLE, BROWN, 2001), expandindo seu poder de descriminação. As regiões
STRs representam 3% do genoma humano (BUTTLER, 2006).

5.4.3. DIFICULDADES NO USO DE MARCADORES MOLECULARES NA


ELUCIDAÇÃO DE CRIMES SEXUAIS

Nos casos onde o vestígio submetido à análise genética não contenha


inibidores, ocorra concentração de DNA dentro do limite mínimo requisitado pelos
sistemas e não apresente muita degradação do material, então a obtenção de um
perfil genético com os dezesseis locus em ambos os sistemas se tornou usual.
Todavia, existem incontáveis situações no cotidiano de um laboratório de genética
forense onde estes pré-requisitos não são seguidos (MICHELIN, 2011).
Com o alastramento da ferramenta do DNA na investigação criminal
internacionalmente, verifica-se uma demanda crescente por análises de amostras
críticas, que são vestígios com quantidades extremamente diminutas de DNA,

40
provenientes de ocasional contato com objetos, ou excepcionalmente degradados,
como restos mortais em avançado estado de putrefação, amostras biológicos
antigas ou mantidas sob condições ambientais desconformes e ossadas
(ALAEDDINI et al., 2010).
Em situações como essas, a obtenção de perfis genéticos parciais e/ou de
difícil interpretação é usual. O DNA em quantidade exígua ou extremamente
degradado origina perfis desbalanceados com frequente falha na amplificação,
produto conhecido como drop-out, de alelos ou locus inteiros. Ademais, a presença
de artefatos da reação de amplificação, tal como stutters2 que é facilmente
identificado em um perfil normal e balanceado, dificulta relevantemente a
interpretação de perfis genéticos obtidos de amostras avariadas (BURGER et al.,
1999).
No dia-a-dia forense, em análises onde o perfil de STRs autossômicos obtido
se mostra escasso para a identificação, é habitual que o perito dispense o uso de
microssatélites do cromossomo Y (GILL et al., 2001; JOBLING et al., 1997) e do uso
de polimorfismos de uma única base no DNA mitocondrial (mtDNA) (BUDOWLE et
al., 2003), ferramentas usuais em laboratórios de genética forense. É relevante
ressaltar, contudo, que a natureza haploide destes dois genomas, a sua herança
uniparental (somente da mãe) e a ausência de recombinação diminuem o poder de
discriminação em ambos.
Vários estudos apontam a importância desses testes genéticos, porém ainda
existem problemáticas associadas a diferenciação de gêmeos monozigóticos.
Percebe-se que o progresso da Genética Forense vem transitando os caminhos da
análise da variabilidade genética humana; a análise do genoma humano mostrou
que entre quaisquer dois seres humanos a correspondência genética é observada
em aproximadamente 99,9% da sequência do DNA nuclear e que cerca de 0,1%
desta sequência é variável entre as pessoas, concedendo-lhes propriedades
individuais; exceto entre gêmeos monozigóticos (Alho, 2004; Neto, 2004, PIZA,
2012).
No experimento de Crick em 1953, um núcleo frequente de sequências de
dez a quinze pares de bases ricas em CG (guaninas e citosinas) distribuidas entre
21 diferentes minissatélites permitia que sondas multiloco detectassem diferentes
minissatélites sincronicamente, produzindo um padrão de bandas análogos a um
código de barras, chamado como “DNA fingerprints”, ou “impressões digitais
41
genéticas”. A técnica aprovisionava um elevado poder de diferenciação.
Empregando -se exclusivamente duas sondas multilocais, cada uma com a
habilidade de detectar diferentes conjuntos de minissatélites, a probabilidade de
compatibilidade dos perfis genéticos assim obtidos de duas pessoas não
relacionadas era estimada em 5 x 10- 19, um valor tão pequeno que potencialmente
apenas gêmeos idênticos poderiam apresentar o mesmo perfil genético (MICHELIN,
2011).
Os relatórios NRC (National Research Council) de 1992 e de 1996 destacam
a questão da contaminação dos vestígios com material humano nos testes forenses
de DNA e mostram a existência de vários tipos de contaminação. Um deles se dá
quando as amostras são contaminadas pela própria natureza, portanto denominadas
como amostras mistas, o esfregaço vaginal pós-coito com mistura de sêmen e
fluidos vaginais, e mistura de sangue derramado por pessoas diferentes são alguns
dos exemplos desse tipo de amostra contamina. O material genético do esperma
pode ser separado do DNA que não é esperma, pela extração diferencial. Todavia, o
mesmo não acontece com as amostras mistas de sangue. Nestes casos, testar
amostras coletadas em diferentes regiões de uma mancha pode possibilitar que os
tipos genéticos presentes sejam mais evidentemente diferenciados
(BONACCORSO, 2005).
Marcadores STRs são bastante polimórficos e sujeitos à multiplexagem para
possibilitar a identificação inequívoca de um indivíduo, podendo evidenciar o DNA de
determinada pessoa na cena de um crime com elevada certeza. Porém, STRs não
indicam ao investigador dados sobre quando ou como o material foi posto, qual a
origem do material coletado, se células, fluidos ou tecidos, ou quaisquer descrições
fenotípicas além do sexo (GOES,2005; DECANINE, 2016).

Com base nesses conceitos, os produtos vendidos na atualidade para testes


de paternidade e identificação de suspeitos, amplificam normalmente 16 loci em uma
única reação de PCR (Reação da Cadeia Polimerase). A análise do produto
amplificado pela PCR em sequenciadores de DNA e as escadas alélicas (ladders)
proporciona a identificação dos alelos existentes nos loci analisados (JOBIM et al.,
2008; DECANINE, 2016).

Em situações em que a análise de STRs se torna complicado ou


impossibilitada por conta da quantidade ou qualidade do DNA que foi recuperado,

42
existe a alternativa, de se realizar o exame a partir do DNA mitocondrial (mtDNA).
Mesmo que não seja tão informativo como as análises STRs, o mtDNA pode
aprovisionar informações úteis, tanto no quesito investigativo quanto na confirmação
da identidade. Geralmente é feita por didesoxinucleótidos ("Sanger") e
sequenciamento da região hipervariável de controle do genoma mitocondrial
(HOLLAND, MELTON, HOLLAND, 2013).

Em 2014, Stange realizou um estudo avaliando marcadores Y-STR onde foi


demonstrada a suscetibilidade, singularidade e assertividade do teste genético no
qual o propósito foi identificar DNA oriundos de material masculino em amostras de
vítimas mulheres de violência sexual. Além dos marcadores, utilizou-se métodos de
PCR e análise em gel. Foram constatadas 19 amostras promitentes para
genotipagem, mesmo quando os testes citológicos obtiveram resultados negativos
para presença de espermatozoides, tido como melhor material para análise, e testes
de antígeno específico da próstata (PSA), legitimando assim a aptidão da análise em
reduzir resultados falsos-negativos (STANGE, 2014; NOGUEIRA,2020).

O uso de marcadores do cromossomo Y beneficia investigações forenses,


essencialmente para identificação e separação das amostras de perfis genéticos
masculinos, podendo ser ponderados e utilizados como prova de crimes sexuais.
Todavia, os kits comumente utilizados de marcadores Y-STR, por via de regra, são
incapazes de distinguir indivíduos relacionados há uma mesma geração paterna,
irmãos por exemplo, se revelando uma desvantagem (BOATTINI et al., 2016,
NOGUEIRA,2020).

Em face destas dificuldades, a comunidade forense mundial tem buscado


alternativas para aumentar a obtenção de perfis genéticos para um maior número de
locus, mesmo quando os pré-requisitos mínimos de qualidade da amostra não são
atendidos. (BUTLER et al., 2007; DIXON et al., 2005).

Com a intenção de solucionar essa deficiência surgiram os rapidly mutating Y-


STR (RM Y-STR) que são vistos como horizonte da análise forense dos Y-STRs,
visto que se espera que, a partir desses marcadores, consiga-se distinguir o material
genético de indivíduos do sexo masculino biologicamente associados e expandindo-
se a capacidade discriminatória entre pessoas de diferentes linhagens genéticas.
(FERNANDES,2016; NOGUEIRA,2020).

43
6. CONCLUSÕES

O Brasil necessita de mudanças tanto culturais, quanto legislativas.


Revisando os dados, verificamos uma alta taxa de subnotificação dos crimes e deve-
se evidenciar e mudar a forma de acolhimento dessas vítimas, tanto em relação aos
hospitais, policiais, canais que recebem as denúncias, magistrados que participam
de um possível julgamento. É necessário que a vítima deixe de ser criminalizada,
julgada e questionada. Precisa-se prestar atenção nas crianças e nos seus sinais,
afastando do convívio próximo de seus agressores, que por muitas vezes, são entes
familiares ou conhecidos, os denunciando e buscando tratamento psicológico para
essas vítimas.

Por conta da complexidade dos crimes sexuais e da sensibilidade em que se


encontram as vítimas, deve-se levar em consideração os pormenores de cada
pessoa agredida, como idade, classe social, nível de estudo e habilidades
cognitivas, para que a investigação criminal tenha maior êxito utilizando o relato da
vítima e evite a vitimação secundária.

O atendimento a vítimas de estupro deve ser urgente, realizando os testes


para possíveis patologias sexualmente transmissíveis, gravidez, trantando possíveis
lesões e coletando amostras biológicas com cautela, seguindo a cadeia de custódia,
para que esses vestígios possam ser considerados evidencias ou provas com o
decorrer de um processo judicial, se esse houver.

Por conta das circunstâncias, normalmente sigilosas, sem testemunha, os


crimes sexuais dependem muito das provas periciais, sendo o teste em DNA uma
das principais, para que haja uma elucidação. A identificação do autor do crime, que
se dá normalmente a partir da análise e comparação do perfil genético encontrado
em amostras coletadas em locais de crime ou no corpo da própria vítima, é

44
fundamental. É de suma relevância também que se sigam os protocolos de análise
do DNA e as sondas corretas para exame das regiões precisas dos alelos.

A análise dos microssatélites representa um alto desenvolvimento na


tecnologia de identificação específica de indivíduos, por examinar regiões
polimórficas específicas que tanto orientam a identidade, linhagem matriliniar e
patrilinear.

Assim, os testes de DNA analisando as regiões STR apresentam alto


potencial de identificação o que possibilita que a justiça seja feita para vítima e que
nenhum individuo seja sentenciado injustamente

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