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Goiânia
2021
SCARLETT CLAUDINA VIEIRA DOS SANTOS
Goiânia
2021
i
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
Membros:
ii
Dedico este trabalho... a minha mãe, meus irmãos Ruth e Lucas, meus
sobrinhos Enzo e Eloah, ao meu namorado Gustavo e a todas as mulheres.
iii
“Toda luta que preze igualdade tende ao
fracasso.
Não somos iguais, somos únicos!
Seres em evolução, entendam:
Estamos aqui pela equidade.
Justiça. Queremos justiça! Nada mais.”
Thai Flow
iv
AGRADECIMENTOS
Ao meu melhor amigo Diego, que quase bloqueei nas redes sociais no último
mês de produção do TCC pois sempre me cobrava a progressão da escrita. Muito
obrigada por isso, sua chatice me impulsionava a não desistir. A todas as vezes que
ele me ouviu desabafar, todas as vezes que me salvou emprestando dinheiro para
almoçar, pagar xerox ou passe para o ônibus. Além de toda ajuda que me ofereceu
durante a produção deste trabalho. Você é incrível e serei grata eternamente, nunca
vou conseguir retribuir tudo que fez por mim. Obrigada ao Paulo e ao Danilo por
terem me auxiliado também.
Ao meu pai, que mesmo com tudo, nos últimos anos de graduação me apoiou
da forma que podia.
Ao meu sogro Dimas e minha sogra Glaucy que me acolheram em sua família
e sempre tiveram prontos para oferecer amor e carinho além de toda ajuda
financeira.
A Gabrielly que desde o primeiro período se tornou minha amiga por nos
identificarmos em diversos aspectos e que se manteve me apoiando e se
disponibilizando a ajudar sempre.
Ao meu amigo Gustavo que sempre me fez rir muito, que sempre me ouviu e
ofereceu a sua doçura e alegrava nossas manhãs e as jornadas que fazíamos todos
os dias de manhã no ônibus.
Agradeço aos meus colegas que entraram junto comigo na graduação que
sempre me respeitaram e me ajudaram no dia a dia.
vi
RESUMO
vii
ABSTRACT
In the last 20 years, genetics has advanced technologically using molecular biology
tools to better serve its various areas of expertise. In the forensic scope, DNA tests
have enabled more complex and assertive investigations, especially with the
advance in the use of specific molecular markers that increase the power of
discrimination in human identification. The state of Goiás has stood out nationally and
internationally with the development of databases of genetic profiles. The aim of the
study was to structure a literature review on the use of molecular markers in the
investigation of sex crimes, based on the selection of scientific articles and public
databases on the subject. In this sense, at the beginning of 2020, 1075 cases of rape
had already been registered in Goiás. In the expert procedure, evidence of biological
origin is collected in crime scenes and the DNA extracted and analyzed in the
laboratory using molecular techniques to identify possible suspects . The use of Y-
STR markers proved to be useful since 85.5% of the cases were male aggressors,
and it is possible to identify the aggressor by comparing the sample collected from
the suspect with the sample collected in locus at the crime scene . Other other STR
markers, corresponding to autosomal chromosomes, can also be used for
identification in cases of aggressors with some degree of relatedness. Thus, DNA
tests examining STR markers revealed an enormous capacity for identification,
providing justice for the victim and for the wrongly accused.
viii
LISTA DE FIGURAS
ix
Figura 6: Distribuição dos crimes de estupro e estupro de vulnerável segundo o
sexo e a faixa etária no Brasil, no período de 2017 e
2018...................................................9
Figura 11: O DNA e sua estrutura, contendo Adenina, Guanina, Citosina e Timina
como bases nitrogenadas..........................................................................................
26
x
LISTA DE TABELAS
xi
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................1
2. OBJETIVOS............................................................................................................2
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................................4
REFERÊNCIAS...........................................................................................................44
6. APÊNDICE............................................................................................................55
xii
1. INTRODUÇÃO
1
2. OBJETIVOS
3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
2
4. MÉTODOLOGIA
A seleção dos artigos foi feita pela leitura e análise dos títulos e resumos para
ser condizente com a temática envolvida, buscando a construção de um arcabouço
lógico e cronológico.
3
5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4
desigualdade de gênero como uma das causas raiz da violência sexual, ilustrado na
Figura 1.
Figura 1: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável segundo sexo da vítima no
Brasil no período de 2017 e 2018.
Figura 2: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável segundo raça/cor da vítima
no Brasil no período de 2017 e 2018.
Nos anos de 2017 e 2018, as vítimas que possuíam algum tipo de vínculo
com o agressor representaram 75,9% do total, sendo parentes, amigos,
companheiros e outros (Figura 3).
6
Figura 3: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável segundo relação com o
autor, Brasil no período de 2017 e 2018.
7
Figura 4: Vítimas do sexo feminino de estupro e estupro de vulnerável relacionada a idade no Brasil
em 2017 e 2018.
Figura 5: Distribuição dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável segundo sexo da vítima no
Brasil no período de 2017 e 2018.
8
Fonte: FBSP 2019 (p.118)
Pela lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, no capítulo II, Art. 218, são
consideradas pessoas vulneráveis as menores de 14 anos, portadoras de
enfermidade ou deficiência física e/ou mental, pessoa incapaz de oferecer
resistência, considerada juridicamente incapaz para aceitar relação sexual,
independentemente de sua idade e alguém sob efeito de drogas. As demais vítimas,
representou 36,2% conforme foi mostrado na Figura 1, do total de pessoas que
sofreram violência sexual. Os registros apresentaram 5.636 casos protocolados
como estupro de vulnerável, compreendendo a faixa etária das vítimas entre 0 e 13
anos, levando em consideração que a idade informada no boletim de ocorrência
estava correta (FBSP, 2019; BERGAMO & cols., 2000; FAÚNDES, 2000; SAFFIORI
& ALMEIDA, 1995).
9
Figura 6: Distribuição dos crimes de estupro e estupro de vulnerável segundo o sexo e a faixa etária
no Brasil, no período de 2017 e 2018.
Figura 7: Vítimas do sexo masculino de estupro e estupro de vulnerável relacionada a idade no Brasil
em 2017 e 2018.
Parar entender a pouca idade das vítimas é importante lançar luz sobre a
questão da maternidade e do casamento no Brasil. Meninas, principalmente das
classes mais baixas, até dezesseis anos, ligam o casamento à oportunidade de
10
mudança de status social, de acordo com a UNICEF. A gravidez autorizava o
casamento infantil no Brasil, inclusive meninas com menos de catorze anos, sendo
que, a princípio, pelas definições do Código Penal Brasileiro, qualquer relação
sexual com menina dessa idade poderia ser criminalizada como um estupro de
vulnerável (FBSP, 2019; BRIERE, 1992).
Figura 8: Distribuição dos crimes de estupro e estupro de vulnerável segundo autoria no Brasil, no
período de 2017 e 2018.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública estabelece que Goiás foi o oitavo estado
com maior índice de estupro de mulheres em 2019 em 2020 caiu para nono lugar.
11
Segundo o relatório, foram registrados 2.741 casos, o que representa uma média de 7,5
estupros por dia em 2019 (Tabela 1).
Tabela 1: Número de estupros por capitais e Distrito Federal do Brasil no período de 2017 e 2018.
12
No primeiro semestre de 2020, de janeiro a maio, registrou-se 1075 casos de
estupro, do total de vítimas 959 eram mulheres (Tabela 2) (SANTANA, 2020; FBSP,
2019; FBSP, 2020).
Tabela 2: Estupro e estupro de vulnerável por número de vítimas nas unidades da federação do Brasil
no primeiro semestre de 2019 e 2020.
13
(...) Informação não disponível.
(1) Em Goiás, os dados do 1º semestre de 2020 se referem apenas aos meses de janeiro a maio.
14
Figura 9: Distribuição dos municípios do Estado de Goiás de acordo com a abrangência dos Núcleos
Regionais da Polícia Técnico-Científica (NRPTC) em Goiás em 2012.
16
Figura 10: Análise de autoria de crime sexual em Goiás, 2012.
17
relativos). Ademais, ficou em 3º lugar na identificação de pessoas desaparecidas em
2020 (SSP, 2020).
18
levar os autores à justiça e proporcionar um julgamento justo (RODRIGUES et al.,
2010).
A vítima não sabe mais em quem pode confiar, por conta da maior parte dos
casos ter como agressores pessoas da família ou muito próximas a elas, além do
medo de represália, ou por não entender o ato sexual em si, ela tende a silenciar
originando a ‘síndrome do segredo’, que influencia na demora da denúncia,
prejudicando ainda mais a identificação da agressão e do agressor (JACINTO, 2009;
BRIERE,1992).
Deve-se levar em conta que a maioria das vítimas de crimes sexuais sofre um
impacto psico-emocional negativo. Porém há casos em que esta não manifesta
sintomatologia decorrente da situação de abuso, não impedindo ter experienciado
uma situação potencialmente traumática. Sendo assim, não se pode assumir que
com a ausência de sintomatologia, a pessoa não tenha vivenciado um abuso. No
caso de vítimas com recursos cognitivo, emocionais e apoio familiar eficientes
pode-se ocasionar uma maior facilidade em integrar as experiências sofridas sem a
necessidade de apoio psicológico (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007).
19
proximidade entre a vítima e o abusador. (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007;
BRIERE,1992).
A equipe deve ser definida o mais breve possível e não deve ser alterada. É
ideal que seja composta por um médico legista e um psicólogo forense experientes,
de forma que o diálogo e exame físico ocorram de forma integrada, num meio de
empatia que gradualmente irá se formando (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007).
20
O êxito da perícia é determinado também pelo local onde será realizada. Esse
deve ser calmo, confortável e agradável, em que a vítima possa sentir bem-estar,
onde tenha privacidade, havendo material lúdico adequado à sua faixa etária, se
necessário (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007).
21
Portanto, para a colheita de informação é fundamental realizar à avaliação
psicológica do desenvolvimento cognitivo, emocional e afetivo, linguístico e
narrativo, sócio-moral, relacional; comportamental e capacidade de distinguir
verdadeiro e falso. É de suma relevância examinar a sintomatologia e possíveis
sinais traumáticos (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007).
22
É fundamental que a entrevista seja planejada previamente definindo os itens
mais indispensáveis de forma a atingir os objetivos pretendidos, preenchendo as
lacunas do caso. Com adultos, é aconselhável esclarecer o motivo da oitiva, de
forma direta e profissional, não revelando a fonte de notificação do caso (2007;
MANITA, 2003).
23
ou perguntas de múltipla escolha, por conta de estas aumentarem o risco do
entrevistado responder aleatoriamente, principalmente quando não se lembra muito
bem do ocorrido. Nesta fase aconselha-se a intercalação entre perguntas abertas e
fechadas, perguntas acerca da situação de abuso e perguntas neutras, evitando-se,
insistir em perguntas das quais a vítima demonstre não querer dar informações, não
apresentando atitude intimidadora nem pedindo que repita a sua história na
presença de outras pessoas, tão quanto não deve manifestar sentimentos contra o
abusador, ou conduzir a entrevista como um interrogatório, pressionando a vítima a
falar, prestando-se atenção aos sinais de cansaço ou de fragilização emocional
provocados pela abordagem de determinado assunto (MACHADO e GONÇALVES
R, 2002).
A inspeção deve incluir o estado geral e sinais vitais, exame dos membros
inferiores e superiores na procura de traumas, exame do couro cabeludo e face e,
pescoço, mamas e tronco. Verifica-se o abdome com a paciente em decúbito dorsal,
face interna das coxas, pernas, nádegas, realizar exame ginecológico e anal. Colher
amostras biológicas tais como pelos, unhas, cabelo, sêmen e sangue. Muitas vítimas
tentam se defender e acabam por agredir seu algoz onde fragmentos de células
epiteliais deste se situam sob suas unhas, possibilitando-se a coleta desse material
que possivelmente detectam o agressor (FAÚNDES et al., 2006; RUIZ, 2017).
O padrão é que este trâmite seja realizado no IML. Se isto não for viável, o
postulado pelo Ministério da Saúde é que a colheita seja feita por meio de swab e
que após enxugar em temperatura ambiente o material, seja colocado em invólucro
lacrado. Esse deve ser guardado em ambiente climatizado ou em um congelador. É
necessário garantir a cadeia de custódia, portanto, deve-se realizar o registro
pertinente reiteradamente que o material for enviado (FAÚNDES et al., 2006).
Exames de DNA são muito dispendiosos, por conta disso é realizado uma
triagem para então se proceder a análise molecular nas amostras provenientes de
crimes de natureza sexual. É feito a citologia de esperma (CE), o antígeno
específico da próstata (PSA), as semenogelinas I e II e a detecção da atividade da
fosfatase ácida prostática (FAP) (HOCHMEISTER, 1995; RUIZ, 2017).
Figura 11: O DNA e sua estrutura, contendo Adenina, Guanina, Citosina e Timina como bases
nitrogenadas.
27
Fonte: FRUEHWIRTH et al., 2015 (p.5)
29
possibilidade de culpabilidade, neste caso, a perícia não permite a identificação do
suspeito. Não existindo incompatibilidade em nenhum STR conclui-se, pela
impossibilidade de exclusão de parentesco e calcula-se a probabilidade de
parentesco (AMORIM, 2015).
30
amostra, e das condições em que as mesmas se encontravam a cada nova etapa,
desde a coleta até sua análise em laboratório. As amostras biológicas precisam de
especial atenção devido a suas susceptibilidades à degradação e contaminação
(SILVA& PASSOS, 2006; DOLINSKY, 2007).
32
correspondem a 85,5% dos casos. (Figura 12) (JOBLING e GILL, 2004; KOCH e
ANDRADE, 2008, FBSP, 2019).
Para melhor interpretar os perfis genéticos LCN (do inglês Low Copy
Number), foi criado um conjunto de regras, sendo a primeira usar o método de
“consenso”, que se dá por efetuar várias amplificações da mesma amostra e
somente considerar os alelos presentes como verdadeiros em, pelo menos, duas
dessas amplificações; analisar os controles negativos – se os controles negativos,
com um conjunto de amostras, revelarem os mesmos alelos em, pelo menos, dois
desses controles, esses alelos não devem ser considerados em nenhuma amostra
e, se possível, estas devem ser reanalisadas; e se for detectado algum alelo numa
amostra que não pertença ao perfil do suspeito, outras metodologias de identificação
33
devem ser consideradas (GILL et al., 2000 e WHITAKER et al., 2001 APUD LAGOA,
2007).
34
Fonte: GIGONZAC, 2013 (p.22)
35
(LIU et al., 2018; BALANOVSKY, 2017; BUCKLETON et al., 2016; BUTLER, 2010).
Kits Y-STR comercializados para análise de linhagem patrilinear apontam
marcadores com taxas de mutação ponderadamente baixa, na ordem de 10-3
(ADNAN et al., 2016; DECANINE, 2016; HADI, 2016; DIEGOLI et al., 2015;
OLOFSSON et al., 2015; BALLANTYNE et al., 2014).
Foi definido o primeiro loci padrão, em 1998, formado por nove marcadores Y-
STR, desenvolvido na Europa para fins forenses, designado como “haplótipo
mínimo” (ZHOU et al., 2018; KAYSER, 2017; LIU et al., 2016, ARÃO,2019).
Posteriormente, outros marcadores foram associados com o propósito de expandir a
capacidade de discriminação de indivíduos (PURPS et al., 2014), criando o
“haplótipo estendido”, totalizando 11 marcadores Y-STRs com a inclusão de
DYS438 e DYS439 (KAYSER, 2017; DIEGOLI, 2015; OLLOFSSON et al., 2015).
36
resultados de buscas em sua base de dados têm facilitado bastante as
investigações criminais (PACHECO, 2010, FRUEHWIRTH; DELAI; FOLHA, 2015).
Todavia, para serem considerados bons marcadores forenses, os STR devem ser
equipados de neutralidade, em outras palavras, não podem deduzir características
fenotípicas e/ou enfermidades, além de estarem localizados em regiões não-
codificantes do genoma humano (FRUEHWIRTH; DELAI; FOLHA, 2015; DE TONI et
al; 2011).
Figura 14: Distribuição cromossômica dos 13 loci STRs autossômicos recomendados pelo Federal
Bureau of Investigation (FBI) para identificação humana.
37
Fonte: GIGONZAC, 2013 (p.21)
40
provenientes de ocasional contato com objetos, ou excepcionalmente degradados,
como restos mortais em avançado estado de putrefação, amostras biológicos
antigas ou mantidas sob condições ambientais desconformes e ossadas
(ALAEDDINI et al., 2010).
Em situações como essas, a obtenção de perfis genéticos parciais e/ou de
difícil interpretação é usual. O DNA em quantidade exígua ou extremamente
degradado origina perfis desbalanceados com frequente falha na amplificação,
produto conhecido como drop-out, de alelos ou locus inteiros. Ademais, a presença
de artefatos da reação de amplificação, tal como stutters2 que é facilmente
identificado em um perfil normal e balanceado, dificulta relevantemente a
interpretação de perfis genéticos obtidos de amostras avariadas (BURGER et al.,
1999).
No dia-a-dia forense, em análises onde o perfil de STRs autossômicos obtido
se mostra escasso para a identificação, é habitual que o perito dispense o uso de
microssatélites do cromossomo Y (GILL et al., 2001; JOBLING et al., 1997) e do uso
de polimorfismos de uma única base no DNA mitocondrial (mtDNA) (BUDOWLE et
al., 2003), ferramentas usuais em laboratórios de genética forense. É relevante
ressaltar, contudo, que a natureza haploide destes dois genomas, a sua herança
uniparental (somente da mãe) e a ausência de recombinação diminuem o poder de
discriminação em ambos.
Vários estudos apontam a importância desses testes genéticos, porém ainda
existem problemáticas associadas a diferenciação de gêmeos monozigóticos.
Percebe-se que o progresso da Genética Forense vem transitando os caminhos da
análise da variabilidade genética humana; a análise do genoma humano mostrou
que entre quaisquer dois seres humanos a correspondência genética é observada
em aproximadamente 99,9% da sequência do DNA nuclear e que cerca de 0,1%
desta sequência é variável entre as pessoas, concedendo-lhes propriedades
individuais; exceto entre gêmeos monozigóticos (Alho, 2004; Neto, 2004, PIZA,
2012).
No experimento de Crick em 1953, um núcleo frequente de sequências de
dez a quinze pares de bases ricas em CG (guaninas e citosinas) distribuidas entre
21 diferentes minissatélites permitia que sondas multiloco detectassem diferentes
minissatélites sincronicamente, produzindo um padrão de bandas análogos a um
código de barras, chamado como “DNA fingerprints”, ou “impressões digitais
41
genéticas”. A técnica aprovisionava um elevado poder de diferenciação.
Empregando -se exclusivamente duas sondas multilocais, cada uma com a
habilidade de detectar diferentes conjuntos de minissatélites, a probabilidade de
compatibilidade dos perfis genéticos assim obtidos de duas pessoas não
relacionadas era estimada em 5 x 10- 19, um valor tão pequeno que potencialmente
apenas gêmeos idênticos poderiam apresentar o mesmo perfil genético (MICHELIN,
2011).
Os relatórios NRC (National Research Council) de 1992 e de 1996 destacam
a questão da contaminação dos vestígios com material humano nos testes forenses
de DNA e mostram a existência de vários tipos de contaminação. Um deles se dá
quando as amostras são contaminadas pela própria natureza, portanto denominadas
como amostras mistas, o esfregaço vaginal pós-coito com mistura de sêmen e
fluidos vaginais, e mistura de sangue derramado por pessoas diferentes são alguns
dos exemplos desse tipo de amostra contamina. O material genético do esperma
pode ser separado do DNA que não é esperma, pela extração diferencial. Todavia, o
mesmo não acontece com as amostras mistas de sangue. Nestes casos, testar
amostras coletadas em diferentes regiões de uma mancha pode possibilitar que os
tipos genéticos presentes sejam mais evidentemente diferenciados
(BONACCORSO, 2005).
Marcadores STRs são bastante polimórficos e sujeitos à multiplexagem para
possibilitar a identificação inequívoca de um indivíduo, podendo evidenciar o DNA de
determinada pessoa na cena de um crime com elevada certeza. Porém, STRs não
indicam ao investigador dados sobre quando ou como o material foi posto, qual a
origem do material coletado, se células, fluidos ou tecidos, ou quaisquer descrições
fenotípicas além do sexo (GOES,2005; DECANINE, 2016).
42
existe a alternativa, de se realizar o exame a partir do DNA mitocondrial (mtDNA).
Mesmo que não seja tão informativo como as análises STRs, o mtDNA pode
aprovisionar informações úteis, tanto no quesito investigativo quanto na confirmação
da identidade. Geralmente é feita por didesoxinucleótidos ("Sanger") e
sequenciamento da região hipervariável de controle do genoma mitocondrial
(HOLLAND, MELTON, HOLLAND, 2013).
43
6. CONCLUSÕES
44
fundamental. É de suma relevância também que se sigam os protocolos de análise
do DNA e as sondas corretas para exame das regiões precisas dos alelos.
45
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