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Aline Braga de Souza

César Contin Carvalho


Letícia Helena Teixeira Morais
Malthus Moreira Couto Martin
Tiago Barbato Tanuri
Vitor Prata Oliveira Amaral

GRUPO C: SCRIPT - transtorno afetivo bipolar

Barbacena
2022
ÍNDICE
CASO CLINICO...............................................................................................................................3

1
SCRIPT..........................................................................................................................................6
CONCEITO....................................................................................................................................7
S (APRESENTAÇÃO CLINICA).........................................................................................................8
C (ANAMNESE, CLASSIFICAÇÃO E CURSO)....................................................................................9
R (EPIDEMIOLOGIA)....................................................................................................................11
I (FISIOPATOLOGIA)....................................................................................................................12
P (PROGNÓSTICO)......................................................................................................................13
T (TRATAMENTO).......................................................................................................................14
REFERÊNCIAS..............................................................................................................................19

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CASO CLINICO

Paciente do sexo feminino, 60 anos, negro (melanodermo), divorciado, ex-banqueiro


(aposentado por invalidez), natural do interior do estado de MG, em Barbacena, diagnosticado
há 7 anos com Transtorno Bipolar e internado em hospital psiquiátrico.
A ex-esposa, que se dispôs a fornecer as informações sobre o paciente em questão, refere que
o em uma festa na cidade onde morava. Após três anos de relacionamento, foram morar
juntos e tiveram duas filhas. Alega que durante muitos anos o paciente não apresentou
quaisquer problemas, até que aos 37 anos de idade ele iniciou as primeiras manifestações do
transtorno.
Os primeiros sintomas observados foram as dificuldades de concentração de memória, insônia
e pensamentos ilógicos. Posteriormente, manifestaram-se as alucinações auditivas, delírios de
perseguição e de infidelidade; pensamentos de grandeza, alegando ser professor,
pensamentos de médico psiquiatra. Relata que certa vez o paciente foi barrado em uma
Universidade querendo ministrar aulas. Outra vez, ao ser abordado por policiais em uma blitz,
se negou a mostrar os documentos alegando ser juiz federal. Além disso, durante as
internações hospitalares, o paciente alegava ser médico psiquiatra e se recusava a ser
atendido pelos profissionais médicos.
O paciente recebeu o diagnóstico de transtorno bipolar tipo I aos 37 anos de idade após
descartar condições médicas orgânicas e a partir de então iniciou tratamento farmacológico.
Um ano depois, devido aos efeitos adversos da medicação (sonolência e tremores) cessou o
tratamento por conta própria. A ex-esposa conta que era notável o prejuízo no
funcionamento social do paciente, principalmente durante os surtos (a informante não soube
quantificar a duração de cada surto, porém disse que com o passar dos anosos episódios eram
cada vez mais frequentes e duradouros). A ex-esposa nega episódios de heteroagressividade
ou de ideação suicida ao longo do período que conviveu como paciente. Relata que algum
tempo depois, por conta da persistência dos episódios maníacos o paciente perdeu o
emprego, eles se separaram e ele chegou aficar em situação drástica, morando na rua.
O irmão e atual responsável pelo paciente relata que após um dos episódios maníacos do
paciente ele ficou desaparecido por 2 anos, foi encontrado na Argentina após comunicação do
consulado com a família. Na ocasião o paciente apresentava higiene precária, sinais de
etilismo e delírios de grandeza.
O paciente em questão já foi internado outras três vezes em hospitais psiquiátricos. Nega
demais comorbidades, alergias ou cirurgias, foi etilista e usuário de drogas. A mãe tem
diagnóstico de esquizofrenia, um irmão falecido tinha doença psiquiátrica e uma filha está em
tratamento para depressão.

Exame do estado mental do paciente na admissão hospitalar:


Apresentação Geral
Aparência: descuidada, incompatível com a idade e sexo.
Psicomotricidade: gesticulação e hiperatividade.
Situação da entrevista: em consultório, ambiente calmo, com três entrevistadores.

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Linguagem e Pensamento
Característica da fala: fala espontânea, volume aumentado.
Progressão da fala: fluxo acelerado e interrompe o examinador.
Forma do pensamento: tangencialidade, perseveração e neologismo.
Conteúdo do pensamento: ansioso.
Logicidade: discurso ilógico, com delírios sistematizados e de grandeza.
Capacidade de abstração: prejudicada.
Sensopercepção: despersonalização, ausência de ilusão ou alucinações.

Afetividade e Humor
Tonalidade emocional: ansiedade, hostilidade e exaltação.
Modulação: normomodulado.
Associação pensamento/afeto: inadequado.
Equivalentes orgânicos: preservados.
Atenção e Concentração: prejudicadas.
Memória: não avaliada.
Orientação: autopsíquica e alopsíquica preservadas.
Consciência: vígil.
Capacidade intelectual: prejudicada.
Juízo Crítico da Realidade: insight ausente.

O paciente se mantém em surto maníaco persistente, marcado principalmente por alteração


do comportamento associada a alucinações e delírios de grandeza. Atualmente está internado
em hospital psiquiátrico e apresenta melhora do quadro maníaco.

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SCRIPT

Partindo da necessidade de encontrar estruturas para melhorar a forma organizacional do


médico ao estudar as doenças, foi criado o mneumonico SCRIPT. A partir disso, a capacidade
de formação de memória a longo prazo foi facilitada no estudo das doenças, pois a forma de
captar as informações passou a ser sistematizada.
O SCRIPT se baseia em:
 S: sinais e sintomas
 C: começo e curso
 R: relações epidemiológicas
 I: integração fisiopatológica
 P: prognóstico
 T: tratamento
Este trabalho se baseará na apresentação clinica de transtorno afetivo bipolar (TAB), o qual já
foi elucidado anteriormente, e cada capitulo vai se basear em uma das estruturas do SCRITP.

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CONCEITO

Imagine uma montanha-russa emocional em que o humor oscila entre picos de euforia e vales
profundos de desespero. Essa é a realidade do Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), uma condição
psiquiátrica complexa e intrigante. A vida dos indivíduos afetados por esse transtorno é
marcada por episódios de mania e depressão, separados por períodos de relativa estabilidade
emocional.

Durante os episódios de mania, o humor elevado ou irritado toma conta, acompanhado por
um excesso de atividade e uma pressão de fala incontrolável. As pessoas afetadas pelo TAB
experimentam uma autoestima inflada e uma necessidade reduzida de sono. Esses momentos
de euforia extrema podem ser acompanhados por comportamentos impulsivos e arriscados,
levando a consequências potencialmente graves.

Curiosamente, alguns indivíduos apresentam apenas episódios de mania, sem experienciar a


fase depressiva. Ainda assim, eles são classificados como tendo transtorno bipolar. Esse
fenômeno intrigante demonstra a complexidade dessa condição psiquiátrica e a necessidade
de uma abordagem abrangente para compreendê-la.

Embora a causa exata do TAB ainda seja um enigma, pesquisas apontam para a influência de
fatores genéticos e ambientais. Estudos revelaram que a hereditariedade desempenha um
papel significativo, com uma possível taxa de até 70% de ocorrência em parentes de primeiro
grau. A interação entre genes e ambiente molda a expressão do transtorno, tornando-o um
verdadeiro quebra-cabeça para os cientistas.

Mudanças hormonais também podem influenciar a manifestação do TAB. Variações no ciclo


menstrual e no pós-parto foram associadas ao desencadeamento de crises em mulheres. No
entanto, é importante ressaltar que não há diferenças de prevalência entre os sexos, embora o
diagnóstico seja mais comum em mulheres. Esse fato pode ser atribuído à maior busca
feminina por cuidados de saúde em comparação aos homens.

Detectar o TAB nem sempre é uma tarefa fácil. Os pacientes eufóricos muitas vezes acreditam
que estão bem, felizes e não precisam de ajuda. A detecção, portanto, ocorre com maior
frequência durante os estados depressivos, quando a necessidade de apoio se torna mais
evidente.

Além dos fatores genéticos e hormonais, eventos traumáticos na infância também podem
desempenhar um papel no desenvolvimento do TAB. Maus-tratos, negligência parental, abuso
sexual e uma vida desorganizada podem ser fatores desencadeantes, aumentando a
vulnerabilidade para episódios bipolares futuros.

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Outra apresentação intrigante do TAB é o episódio misto, no qual os sintomas de mania e
depressão ocorrem simultaneamente. Essa combinação explosiva traz consigo maior
idealização suicida, aumento do uso de drogas, irritabilidade extrema e um maior risco de
hospitalização.

Felizmente, existe esperança no horizonte para aqueles que vivem com o TAB.

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S (APRESENTAÇÃO CLINICA)

O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é uma condição psiquiátrica caracterizada por mudanças
extremas de humor. Os pacientes podem apresentar episódios de depressão, mania ou
hipomania, cada um com características distintas.
Quando o TAB se manifesta na forma depressiva, os pacientes geralmente procuram
atendimento médico por conta própria. Eles experimentam uma sensação avassaladora de
inutilidade, falta de prazer, lentidão de pensamento, alterações no sono, perda de apetite e
outros sintomas associados à depressão. Essa condição pode durar pelo menos 15 dias, mas
em alguns casos pode se estender por até dois anos, impactando significativamente a
qualidade de vida do paciente.
Por outro lado, em alguns casos, o paciente pode ser encaminhado para consulta médica por
um parceiro ou familiar preocupado com os episódios de mania ou hipomania. Durante a fase
maníaca, o paciente se sente eufórico, com uma ideação rápida e uma movimentação
exagerada. Eles podem ter um sentimento de grandeza, distraibilidade, alucinações ou delírios
grandiosos. Já a hipomania é uma forma mais leve de mania, que muitas vezes passa
despercebida pelo paciente ou pelos familiares. Os sinais comuns dessa condição incluem
redução do sono, hiperatividade e hipersexualidade.
Embora as mudanças de humor possam ocorrer de forma brusca, a duração de cada episódio é
um fator importante no diagnóstico do TAB. A depressão persiste por pelo menos 15 dias, mas
pode durar muito mais tempo. A mania, por sua vez, dura pelo menos uma semana, enquanto
a hipomania requer uma duração mínima de quatro dias. Entre esses episódios, ocorrem fases
de normalidade, em que o paciente aparenta estabilidade emocional.
É fundamental compreender as diferentes apresentações do TAB para um diagnóstico e
tratamento adequados. Com a devida avaliação clínica e o suporte médico adequado, os
pacientes podem aprender a gerenciar seus sintomas, encontrar estabilidade emocional e
levar uma vida plena, apesar dos desafios que essa condição possa trazer.

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C (ANAMNESE, CLASSIFICAÇÃO E CURSO)

ANAMNESE
A anamnese, ou entrevista clínica, desempenha um papel fundamental na formação de
hipóteses diagnósticas relacionadas ao Transtorno Afetivo Bipolar (TAB). Durante a anamnese,
é essencial investigar se há oscilações de humor e se há a presença de episódios de mania ou
hipomania.
Para abordar adequadamente esses pontos, é importante explorar inicialmente a
apresentação de episódios depressivos. Os sintomas a serem investigados incluem tristeza,
desesperança, sensação de inutilidade, perda de prazer nas atividades cotidianas, lentificação
do pensamento, falta de energia, idealização suicida, alterações no sono e no apetite. É
relevante determinar há quanto tempo o paciente vem experimentando esses episódios,
sendo comum que eles ocorram antes dos 25 anos. Também é importante verificar se houve
episódios semelhantes anteriormente.
Além disso, durante a anamnese, é necessário explorar a possível ocorrência de episódios de
mania ou hipomania. Os sinais a serem investigados incluem estados de humor eufóricos,
pensamentos acelerados, sentimentos de grandiosidade, fuga de ideias, dificuldade em se
concentrar (hipotenacidade), sensações delirantes (geralmente com conteúdo religioso ou
grandioso), alterações no sono, hipersexualidade, impulsividade em compras ou
comportamentos compulsivos, tendência à limpeza excessiva e outras manifestações de
mania.
Outro aspecto relevante a ser abordado na anamnese é o histórico de diagnósticos prévios do
paciente, bem como a história familiar. A presença de casos de TAB na família está associada a
um maior risco de desenvolver a condição.
A anamnese completa e cuidadosa permite ao profissional de saúde reunir informações
importantes para a formulação de um diagnóstico preciso e planejamento do tratamento
adequado. A compreensão da história clínica do paciente, incluindo os sintomas, a duração e a
frequência dos episódios, bem como os antecedentes familiares, é essencial para uma
abordagem individualizada e eficaz do TAB.
CLASSIFICAÇÃO
O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) pode ser classificado em quatro formas principais: tipo 1,
tipo 2, misto e transtorno ciclotímico. Essas classificações são baseadas no padrão de oscilação
do humor e na presença de episódios de mania.
O TAB tipo 1 é caracterizado por episódios de mania que duram pelo menos 7 dias, seguidos
por episódios de humor deprimido que persistem por mais de 2 semanas. Essas flutuações
extremas de humor podem levar a mudanças comportamentais significativas, prejudicando os
relacionamentos pessoais e o desempenho profissional. Em alguns casos, essas oscilações
podem levar a ideações suicidas, exigindo internação hospitalar.
No TAB tipo 2, os pacientes apresentam episódios de hipomania, que são estados de humor
elevado, impulsivos, porém menos intensos que a mania completa. Esses episódios são
alternados com episódios de depressão, caracterizados por tristeza, falta de energia e outros
sintomas depressivos.
O TAB misto é considerado a forma mais complexa da doença. Nesse caso, os sintomas
sugerem a presença de TAB, mas não preenchem todos os critérios para serem classificados

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como tipo 1 ou tipo 2. Os pacientes podem apresentar uma combinação de sintomas de mania
e depressão ao mesmo tempo, resultando em um quadro de humor extremamente instável.
O transtorno ciclotímico é uma forma mais leve de TAB, caracterizada por oscilações crônicas
de humor entre hipomania e depressão. Essas oscilações são menos intensas do que nos
outros tipos de TAB e podem ser confundidas com um temperamento instável. Muitas vezes,
os pacientes com transtorno ciclotímico são diagnosticados incorretamente com transtorno
depressivo.
Essas classificações são importantes para ajudar os profissionais de saúde a compreenderem a
natureza e a gravidade dos sintomas do TAB, permitindo um diagnóstico mais preciso e um
planejamento de tratamento adequado. Cada forma de TAB tem suas características
específicas, influenciando nas abordagens terapêuticas e na gestão dos sintomas ao longo do
tempo.
CURSO
O curso do Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é caracterizado pela alternância entre fases de
mania (ou hipomania) e fases de depressão. Cada fase apresenta sintomas distintos e a
duração pode variar de acordo com o caso.
Na fase de mania, os sintomas surgem de forma abrupta e se intensificam rapidamente ao
longo de alguns dias. Durante essa fase, o paciente pode experimentar euforia, agitação,
aumento de energia, sensação de grandeza, pensamentos acelerados e impulsividade. A
duração da fase maníaca pode variar, sendo que sem tratamento adequado, pode durar
algumas semanas até cerca de 3 a 4 meses.
Já a fase de depressão tende a ser mais longa, com duração geralmente superior à da fase
maníaca ou hipomaníaca. Durante a fase depressiva, o paciente pode apresentar tristeza
profunda, apatia, prostração, falta de prazer, alterações no sono e no apetite, entre outros
sintomas característicos da depressão. Um episódio depressivo não tratado pode persistir de 6
a 13 meses. A fase depressiva pode surgir de forma repentina ou se desenvolver gradualmente
ao longo de semanas ou meses.
É importante ressaltar que a duração das fases e a intensidade dos sintomas podem variar de
um indivíduo para outro, bem como ao longo do tempo. Alguns pacientes podem
experimentar períodos de estabilidade emocional entre as fases de mania e depressão,
enquanto outros podem ter uma transição mais rápida e frequente entre as fases. O
acompanhamento médico regular e o tratamento adequado são essenciais para gerenciar os
sintomas, prevenir recaídas e promover a estabilidade do humor ao longo do tempo.

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R (EPIDEMIOLOGIA)

O Transtorno Afetivo Bipolar é uma doença com uma prevalência relativamente comum,
afetando aproximadamente 1,6% da população geral. É importante ressaltar que tanto
homens quanto mulheres podem ser afetados igualmente pela doença.
A idade de início do transtorno geralmente ocorre entre 20 e 40 anos, embora possa ocorrer
em outras faixas etárias também. O quadro clínico do TAB geralmente se inicia com um
episódio de mania, que é caracterizado por uma fase de humor elevado, eufórico e agitado.
Essa fase de mania pode surgir de forma súbita e durar de 2 semanas a 4 a 5 meses.
É importante mencionar que após o primeiro episódio de mania, existe um alto risco de
recorrência, com cerca de 90% das pessoas com TAB apresentando um segundo episódio em
algum momento de suas vidas.
Os episódios depressivos no TAB tendem a ter uma duração maior, podendo se estender por
até um ano. É interessante destacar que entre aqueles que inicialmente apresentam um
episódio depressivo, há uma chance de 5 a 15% de ser diagnosticado com Transtorno Afetivo
Bipolar, em vez de apenas depressão.
É importante ter em mente que esses dados são uma média e que a experiência de cada
indivíduo com o transtorno pode variar. O diagnóstico preciso e o tratamento adequado são
fundamentais para o manejo eficaz do Transtorno Afetivo Bipolar.

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I (FISIOPATOLOGIA)

Sobre No Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), há interferência na atividade dos receptores


serotoninérgicos 5HT nos lobos frontal e parietal do cérebro. Isso pode explicar sintomas como
idealização suicida, agressividade e distúrbios do sono durante os episódios depressivos. Nos
episódios de mania, a atividade pré-sináptica desses receptores está reduzida, enquanto a
sensibilidade pós-sináptica está aumentada, indicando um estado de hiperatividade
serotoninérgica.
A dopamina também desempenha um papel importante no TAB. Estudos, como o de Ackenheil
em 2001, sugerem uma hipoatividade dopaminérgica na depressão e uma hiperatividade no
episódio maníaco.
O estudo de Baumann et al. em 1999 descreveu uma relação direta entre um maior número de
células pigmentadas no locus ceruleus em pacientes com TAB, além de uma hiperatividade
noradrenérgica associada aos episódios de mania.
No sistema GABAérgico, observa-se uma redução plasmática em pacientes com TAB, o que
pode indicar uma hiperatividade do neurotransmissor devido à hipersensibilidade do receptor.
O sistema glutamatérgico também está alterado em pacientes com TAB. O glutamato
desempenha um papel na estabilização do humor, o que explica a farmacocinética de
medicamentos como ácido valproico e lítio no tratamento do TAB.
Outras apresentações bioquímicas conhecidas no TAB incluem a via do inositol, que é
degradado em IP3 e diacilglicerol. O IP3 é responsável pela ativação de canais de cálcio, que
são importantes para a regulação da transcrição genética e expressão de proteínas quinases.
Outra via descrita é a via WNT, que regula os níveis de neurotrofinas por meio da atividade da
GSK3, uma proteína que regula a atividade glicolítica neuronal e a estabilização da bainha de
mielina. No TAB, ambas as atividades bioquímicas estão diminuídas, o que pode ser corrigido
pelo uso correto de medicação.
Essas alterações bioquímicas fornecem uma compreensão parcial da fisiopatologia do TAB e
destacam a complexidade do distúrbio. No entanto, é importante ressaltar que a fisiopatologia
exata do TAB ainda não é totalmente compreendida e está sujeita a contínuas pesquisas e
descobertas.

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P (PROGNÓSTICO)

O prognóstico do transtorno bipolar é variável e depende de vários fatores, incluindo o


tratamento adequado, adesão à medicação, suporte psicoterapêutico, estilo de vida saudável
e gerenciamento do estresse. Quando o transtorno bipolar é bem tratado, os pacientes podem
ter um bom prognóstico e viver uma vida plena e sem limitações.
É fundamental que os pacientes com transtorno bipolar recebam tratamento contínuo ao
longo da vida, com uso regular de medicamentos prescritos pelos profissionais de saúde. Os
medicamentos estabilizadores de humor, como o lítio e o ácido valproico, são frequentemente
utilizados para prevenir episódios maníacos e depressivos.
O tratamento inadequado do transtorno bipolar pode levar a complicações graves. Por
exemplo, se um paciente bipolar em estado depressivo receber apenas antidepressivos sem
estabilizadores de humor, o quadro clínico pode piorar, podendo ocorrer uma virada para a
mania ou para o estado misto, caracterizado pela presença simultânea de sintomas de
depressão e mania. Esses estados são considerados graves e apresentam alto risco de lesões,
suicídio e hospitalização psiquiátrica.
É importante ressaltar que o transtorno bipolar é uma condição crônica que requer
tratamento a longo prazo e gerenciamento contínuo. Muitas pessoas com transtorno bipolar
podem ter recaídas, especialmente durante períodos de maior estresse. Portanto, o
acompanhamento médico regular, a adesão ao tratamento e o aprendizado de estratégias
eficazes de enfrentamento são cruciais para um prognóstico favorável e uma melhor qualidade
de vida.

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T (TRATAMENTO)

O tratamento do transtorno bipolar envolve uma abordagem abrangente que aborda os


aspectos biológicos, psicológicos e sociais da doença. Os medicamentos desempenham um
papel fundamental no tratamento, e nos últimos anos, anticonvulsivantes e antipsicóticos
atípicos têm sido amplamente utilizados.
A avaliação diagnóstica é o primeiro passo no tratamento, e questionários de autoavaliação,
escalas de avaliação de mudanças de humor e afetivogramas podem ser úteis nesse processo.
É importante avaliar a segurança do paciente e das pessoas ao seu redor, especialmente em
relação ao risco de suicídio, que é significativo em pacientes com transtorno bipolar tipo I.
Aqueles que apresentam risco de suicídio ou violência devem ser monitorados de perto, e a
hospitalização pode ser necessária em casos de ameaça grave ou falta de resposta ao
tratamento anterior.
O tratamento agudo visa controlar os sintomas agudos e estabilizar o paciente. Em seguida, é
essencial planejar e executar o tratamento a longo prazo, que envolve o estabelecimento de
uma aliança terapêutica entre o médico, o paciente, a família e os cuidadores. Uma relação
terapêutica sólida e de apoio é crucial para o manejo eficaz do transtorno bipolar.
O médico psiquiatra deve estar atento a possíveis mudanças no estado clínico do paciente,
como ciclagem para estados mistos ou depressão, além de avaliar a duração e a gravidade dos
episódios. O tratamento a longo prazo geralmente requer a administração contínua de
medicamentos estabilizadores de humor para prevenir a recorrência de episódios maníacos ou
depressivos.
Além do tratamento medicamentoso, a psicoterapia também pode desempenhar um papel
importante no manejo do transtorno bipolar. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a
terapia interpessoal são abordagens comumente utilizadas para ajudar os pacientes a lidar
com os sintomas, desenvolver habilidades de enfrentamento e melhorar a qualidade de vida.
Em resumo, o tratamento do transtorno bipolar é uma abordagem abrangente que envolve o
uso de medicamentos, acompanhamento psiquiátrico regular, suporte psicoterapêutico e
manejo do estilo de vida. Com um tratamento adequado e adesão contínua, muitos pacientes
com transtorno bipolar podem levar vidas saudáveis e produtivas.
Tratamento da mania aguda

No tratamento da mania aguda no transtorno bipolar, o objetivo é controlar rapidamente os


sintomas e restaurar o funcionamento psicossocial do paciente. A escolha do tratamento
inicial leva em consideração a gravidade do episódio, a presença de psicose, ciclagem rápida
ou episódio misto, preferências do paciente e os efeitos colaterais dos medicamentos.

Os medicamentos antimaníacos mais comumente utilizados e que possuem maior evidência de


eficácia são o lítio, o valproato (ácido valproico, divalproato) e a carbamazepina. Além desses,
os antipsicóticos típicos, como a clorpromazina e o haloperidol, e os atípicos, como a
olanzapina e a risperidona, também são opções efetivas. Os antipsicóticos atípicos mais
recentes, como ziprasidona, quetiapina e aripiprazol, possuem menos estudos em comparação
aos anteriores.

A combinação de um antipsicótico com lítio ou valproato pode ser mais eficaz do que o uso
isolado de cada medicamento. Em casos de mania grave, a combinação de lítio com um
antipsicótico atípico ou valproato com antipsicótico atípico é recomendada como primeira

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opção. Para casos menos graves, a monoterapia com lítio, valproato ou um antipsicótico
atípico, como a olanzapina, pode ser suficiente.

No tratamento da mania aguda, é importante evitar o uso de antidepressivos, pois eles podem
precipitar ou agravar episódios maníacos, hipomaníacos ou mistos. Os benzodiazepínicos
podem ser utilizados concomitantemente para ajudar no controle dos sintomas agudos.

É importante ressaltar que a escolha do tratamento deve ser individualizada e baseada nas
características do paciente e nas evidências clínicas disponíveis. O acompanhamento regular
pelo médico psiquiatra é fundamental para avaliar a resposta ao tratamento, ajustar as doses
dos medicamentos e realizar as intervenções necessárias ao longo do tempo.

Líti o

O lítio é um medicamento amplamente utilizado no tratamento do transtorno bipolar. É


considerado o medicamento de primeira escolha devido ao seu comprovado benefício na
mania/hipomania e na prevenção de recorrências. Além disso, o lítio também demonstrou
reduzir o risco de suicídio em pessoas com transtorno bipolar.

Estudos controlados têm mostrado a eficácia do lítio no tratamento da mania/hipomania e na


redução dos sintomas associados a esses episódios. Ele é particularmente eficaz em episódios
clássicos de mania, nos quais o humor está eufórico e não há muitos sintomas depressivos ou
psicóticos. O lítio também é mais efetivo em casos nos quais o curso do transtorno bipolar
segue o padrão mania-depressão-eutimia, em oposição ao padrão depressão-mania-eutimia.

É importante notar que o lítio tem um início de ação mais lento em comparação com outros
medicamentos, como o valproato e os antipsicóticos. Portanto, pode levar algum tempo para
que os efeitos terapêuticos sejam percebidos.

O uso do lítio requer monitoramento regular dos níveis sanguíneos para garantir que estejam
dentro da faixa terapêutica. Isso é importante porque o lítio possui uma janela terapêutica
estreita, ou seja, a dose precisa ser cuidadosamente ajustada para evitar níveis muito baixos
(ineficácia) ou muito altos (toxicidade). Além disso, podem ser necessários exames regulares
para verificar a função renal e a função da tireoide, pois o lítio pode afetar essas áreas.

Anti convulsivantes

Entre os anticonvulsivantes utilizados no tratamento da mania aguda, o valproato é o mais


estudado e com evidências significativas de eficácia. Estudos randomizados e controlados
mostraram que o valproato é efetivo em cerca de 60% dos casos de mania aguda.

Em ensaios clínicos comparativos, a resposta clínica ao valproato foi de aproximadamente 48%


a 53%. Esses estudos incluíram comparações com placebo, lítio, olanzapina e haloperidol. Em
um dos estudos, a eficácia do valproato foi semelhante à da olanzapina, enquanto em outros
estudos comparativos, o valproato mostrou resultados comparáveis ao lítio e ao haloperidol.

Análises secundárias desses estudos sugeriram que o valproato pode ser especialmente eficaz
em casos com sintomas depressivos acentuados durante a mania, história de vários episódios
anteriores, presença de estados mistos e comorbidades como transtornos ansiosos, abuso de
álcool e substâncias, retardo mental, traumatismo craniano prévio ou lesões neurológicas.

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É importante destacar que a escolha entre lítio e valproato, ou mesmo a combinação de
ambos, dependerá da avaliação individual do paciente e das características do quadro clínico.
O médico psiquiatra é responsável por fazer essa análise e prescrever o tratamento mais
adequado.

Assim como qualquer medicamento, o valproato também possui efeitos colaterais e requer
monitoramento regular durante o tratamento. Portanto, é fundamental que o paciente esteja
sob acompanhamento médico adequado ao utilizar o valproato ou qualquer outro
anticonvulsivante no tratamento da mania aguda.

Benzodiazepínicos

Dentre os benzodiazepínicos (BDZ) utilizados no tratamento da mania aguda, o clonazepam e o


lorazepam foram objetos de estudo em sete ensaios clínicos controlados e randomizados, nos
quais foram comparados com placebo, haloperidol e lítio, tanto isoladamente quanto em
combinação com lítio.

Uma metanálise bayesiana desses estudos concluiu que o clonazepam é considerado útil e
seguro no tratamento da mania aguda. No entanto, é importante mencionar que houve
algumas falhas metodológicas que podem ter afetado os resultados. Por outro lado, os dados
sobre o lorazepam são inconclusivos, ou seja, não há evidências suficientes para determinar
sua eficácia no tratamento da mania aguda.

É interessante notar que, em um estudo randomizado controlado por placebo, a administração


intramuscular de olanzapina demonstrou ser mais eficaz no controle da agitação maníaca em
comparação com o lorazepam. Isso sugere que a olanzapina pode ser uma opção preferível em
casos de agitação maníaca aguda.

No geral, os estudos indicam que o uso combinado de benzodiazepínicos pode ser útil como
medida temporária enquanto se aguarda o efeito terapêutico do tratamento principal. No
entanto, é importante ressaltar que o uso de benzodiazepínicos deve ser realizado com
cautela, pois eles podem causar sedação e outros efeitos colaterais, além de ter potencial para
dependência. Portanto, o uso desses medicamentos deve ser feito sob supervisão médica
adequada.

Anti psicóti cos

Antipsicóticos são frequentemente utilizados no tratamento de sintomas psicóticos, como


alucinações e delírios, que são mais comuns durante episódios de mania bipolar do que na
depressão bipolar. No entanto, sua prescrição não é absolutamente necessária e a preferência
deve ser dada aos antipsicóticos atípicos devido aos efeitos colaterais mais favoráveis.

A eficácia dos antipsicóticos típicos foi demonstrada em estudos clínicos randomizados


comparativos com o lítio, mostrando efeitos clínicos semelhantes. Além disso, a clorpromazina
foi estudada de forma controlada com placebo, com resultados positivos. O haloperidol, por
sua vez, foi investigado em ensaios clínicos randomizados controlados com placebo,
risperidona e olanzapina, demonstrando ser superior ao placebo e equivalente às outras
drogas ativas.

No entanto, o uso de antipsicóticos típicos tem diminuído com a disponibilidade dos


antipsicóticos atípicos, devido aos efeitos adversos extrapiramidais (como rigidez muscular e
tremores) e ao risco de causar sintomas depressivos. Atualmente, os antipsicóticos típicos são

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reservados para casos de difícil controle dos sintomas ou quando há considerações
relacionadas ao custo do tratamento.

É importante ressaltar que a escolha do antipsicótico e a duração do tratamento devem ser


individualizadas, levando em consideração os sintomas específicos, a resposta do paciente e os
efeitos colaterais. O uso desses medicamentos deve ser supervisionado por um profissional de
saúde, de acordo com as diretrizes clínicas estabelecidas.

Eletroconvulsoterapia

A eletroconvulsoterapia (ECT) é uma opção a ser considerada para pacientes que apresentam
um quadro grave de transtorno bipolar ou que não respondem adequadamente aos
tratamentos convencionais. Também pode ser uma escolha preferencial por parte do paciente.

Existem três estudos prospectivos, dois deles controlados e randomizados, que compararam a
ECT com o uso de lítio, tanto isoladamente como em combinação com a clorpromazina. Esses
estudos indicaram a superioridade da eficácia da ECT no tratamento da mania bipolar. Embora
as amostras desses estudos tenham sido pequenas, os resultados são consistentes com
estudos longitudinais retrospectivos que também demonstraram bons desfechos no
tratamento da mania com ECT.

Além disso, a ECT pode ser uma opção de tratamento para pacientes que apresentam
episódios mistos ou mania grave durante a gestação, quando o uso de medicamentos pode ser
limitado devido aos riscos para o feto.

É importante ressaltar que a decisão de utilizar a ECT deve ser individualizada, levando em
consideração a gravidade do quadro, a resposta aos tratamentos convencionais e as
preferências do paciente. A ECT é um procedimento médico que requer supervisão
especializada e deve ser realizada por profissionais treinados nessa técnica.

A prevenção de novos episódios de mania


Nos estudos de longa duração no transtorno bipolar, existem dois tipos principais: os de
prevenção de recaídas e os de profilaxia. Os estudos de prevenção de recaída envolvem
pacientes que responderam bem a um determinado medicamento durante um episódio
agudo. Esses pacientes continuam tomando a medicação por pelo menos seis meses, e o
objetivo é verificar se ela consegue prevenir o retorno dos sintomas ou recaídas. Já os estudos
de profilaxia observam pacientes que estão em remissão, ou seja, sem sintomas, para
determinar se o medicamento é eficaz na prevenção de novos episódios.
É importante notar que, durante a fase maníaca, os pacientes costumam tolerar melhor os
tratamentos agudos, mas assim que os sintomas diminuem, eles podem relatar mais efeitos
colaterais. Isso pode ocorrer devido ao aumento dos níveis do medicamento no sangue ou a
uma percepção que varia de acordo com o estado do paciente. Nesses casos, ajustes na dose e
outras intervenções podem ser úteis para evitar a interrupção do tratamento devido a efeitos
colaterais.
O tratamento utilizado na fase aguda do transtorno bipolar deve ser mantido durante a fase de
manutenção. É importante realizar ajustes na dose e monitorar regularmente o paciente,
especialmente no início do tratamento e a intervalos de uma a duas semanas. Uma vez que a
estabilização seja alcançada, a dose deve ser mantida por um longo período, às vezes ao longo
da vida do paciente. Isso visa evitar recaídas e manter a estabilidade do humor a longo prazo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. SCIELO. Diagnóstico, tratamento e prevenção da mania e da hipomania no transtorno


bipolar. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rpc/a/V7zwMHghSdyM7P9XJ7z3S3h/?
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Editora, 2017. 9786557830031. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786557830031/. Acesso em: 03 Dec
2022
3. Costa, Anna Maria NiccolaiTranstorno afetivo bipolar: carga da doença e custos
relacionados. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo) [online]. 2008, v. 35, n. 3
[Acessado 3 Dezembro 2022], pp. 104-110. Disponível em:
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4. LAPSM – Liga Acadêmica de Psiquiatria e Saúde Mental. Resumo de Psiquiatria completo
sobre Transtorno Afetivo Bipolar. Sanarmed, 2022. Disponível em:
sanarmed.com/transtorno-afetivo-bipolar
5. Instituto de Psiquiatria Paulista. Transtorno afetivo bipolar: entenda o que é e se você
pode estar sofrendo com isso. Instituto de Psiquiatria Paulista, 2020. Disponível em:
https://psiquiatriapaulista.com.br/transtorno-afetivo-bipolar-entenda-o-que-e-e-se-voce-
pode-estar-sofrendo-com-isso/

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