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Ano: 2022
1
Regina Emiko Shudo
As abordagens do brincar na
Educação Infantil: a pedagogia do
brincar
1ª Edição
2022
Curitiba, PR
Faculdade UNINA
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Faculdade UNINA
Rua Cláudio Chatagnier, 112
Curitiba – Paraná – 82520-590
Fone: (41) 3123-9000
Conselho Editorial
D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Marli Pereira de Barros Dias /
D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno /
D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia
Revisão de Conteúdos
Murillo Hochuli Castex
Designer Instrucional
Murillo Hochuli Castex
Revisão Ortográfica
Alexandre Kramer Morgenterm
Desenvolvimento Iconográfico
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério
Desenvolvimento da Capa
Carolyne Eliz de Lima
FICHA CATALOGRÁFICA
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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA!
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Sumário
Prefácio ..................................................................................................... 06
Aula 1 – A pedagogia do brincar e as abordagens curriculares .................. 08
Apresentação da aula 1 ............................................................................. 08
1.1 Que educação infantil desejamos? ............................................... 08
1.2 As abordagens do brincar ............................................................. 12
1.3 O papel do brinquedo no desenvolvimento da criança .................. 15
1.4 Princípios fundamentais da aprendizagem baseada no brincar .... 18
Conclusão da aula 1 ................................................................................... 22
Aula 2 – As abordagens do brincar e a exploração do movimento corporal 23
Apresentação da aula 2 ............................................................................. 23
2.1 O corpo em movimento na educação infantil ................................. 24
2.1.1 Fatores associados à atividade física ......................................... 25
2.2 Movimento corporal na educação infantil ...................................... 28
2.3 A importância da psicomotricidade no processo de aprendizagem 29
2.4 A brincadeira livre, o movimento corporal e a aproximação das
crianças à natureza .................................................................................... 33
Conclusão da aula 2 ................................................................................... 39
Aula 3 – A abordagem anji play e os princípios educativos ......................... 40
Apresentação da aula 3 ............................................................................. 40
3.1 O início da aborgadem anji play ..................................................... 41
3.2 Declaração true play ..................................................................... 45
Conclusão da aula 3 ................................................................................... 46
Aula 4 – O brincar heurístico ...................................................................... 47
Apresentação da aula 4 ............................................................................. 47
4.1 Livre exploração: o que é o brincar heurístico ................................ 48
4.1.1 Mais natureza e menos plástico ................................................. 50
Conclusão da aula 4 ................................................................................... 51
Conclusão da disciplina ............................................................................. 52
Índice Remissivo ........................................................................................ 53
Referências ............................................................................................... 55
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Prefácio
OU ISTO OU AQUILO
Cecília Meireles
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que o educador pode se aproximar e ouvir as vozes das crianças, propondo
situações desafiadoras.
Há muitas possibilidades do brincar, sem que haja a dicotomia entre
brincar e estudar, brincar ou trabalhar e brincar ou passar tempo.
Por acreditarmos que a brincadeira e a interação devem ser os eixos
norteadores das práticas educativas das escolas de educação infantil, conforme
previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, organizamos
algumas questões e considerações para refletirmos sobre o brincar, o resgate
de brincadeiras tradicionais, a valorização do brincar livre e com materiais não
estruturados e o brincar mais próximo da natureza.
A pós-graduação em Educação Infantil, com diferentes abordagens, é
uma possibilidade de conhecermos as perspectivas do brincar. Brincar é coisa
muito séria quando se trata da infância, por isso, é preciso refletir sobre a
importância do brincar e as abordagens que as instituições de Educação Infantil
adotam em relação à brincadeira e à interação.
Nesta disciplina apresentaremos em quatro aulas abordagens
contemporâneas referentes à brincadeira na infância.
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Aula 1 – A pedagogia do brincar e as abordagens curriculares
Apresentação da aula 1
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A criança não é uma abstração, mas um ser produtor e produto da história
e da cultura. Esta concepção da criança enquanto sujeito histórico e conhecedor,
cujo desenvolvimento se dá por seu próprio empreendimento e capacidade de
ação é muito recente no cenário de educação de nosso país. Foi com o
surgimento das bases epistemológicas e dos novos paradigmas que englobam
e transcendem a história, a antropologia, a sociologia e a própria psicologia que
foi possível conceber uma perspectiva que define a criança como ser competente
para interagir e produzir cultura no meio em que se encontra.
No entanto, transpor este novo paradigma para a prática educativa,
consiste em desconstruir ações já consolidadas e refletir de forma consciente
sobre os novos rumos a serem seguidos na educação das crianças pequenas e,
assim, assegurar o processo educativo para que a primeira infância transcorra
na totalidade de sua formação para a vida.
Então, esta discussão preliminar retrata o desejo de construirmos uma
Educação Infantil que tenha uma Proposta Político-Pedagógica flexível, ativa, ou
seja, que permita mudanças à medida que os conceitos, necessidades,
demandas e objetivos se transformam, e que expresse um caminho a ser trilhado
pelos sujeitos envolvidos.
Por este motivo, surge essa pós-graduação, que retrata os vários
momentos de reflexões, de discussões, de avaliação dos processos já
existentes, das intenções de mudança, da vontade de compreender novas
concepções e abordagens e do empenho de vários profissionais que atuam na
Educação Infantil.
Para Refletir
Todos os esforços que realizamos na construção de uma
escola ou da proposta pedagógica devem visar
fundamentalmente à formação integral das crianças de 0 a 5
anos e 11 meses. No entanto, no Brasil há muitas conquistas
a serem feitas no que tange ao atendimento das crianças,
principalmente de 0 a 3 anos.
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um papel específico à pedagogia desenvolvida nas instituições pelos
profissionais de Educação Infantil. Por isso, captar as necessidades que bebês
evidenciam antes que consigam falar, observar suas reações e iniciativas,
interpretar desejos e motivações são habilidades que profissionais de Educação
Infantil precisam desenvolver, ao lado do estudo das diferentes áreas de
conhecimento que incidem sobre essa faixa etária, a fim de subsidiar de modo
consistente as decisões sobre o processo educativo pertinente a cada momento
de desenvolvimento do aluno.
A iniciativa de redirecionar os rumos do processo educativo formal dos
alunos encontra, nas palavras de Antoni Zabala (1998), a convicção necessária
para afirmar que é sim possível uma Educação Infantil de qualidade, desde que
se construa:
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cotidianas que lhe são disponibilizadas. Logo, cabe ao adulto e ao professor
disponibilizarem um grande acervo cultural e um bom repertório educativo para
que as crianças de diferentes grupos sociais e contextos culturais diferentes
possam ter a oportunidade e a garantia de uma educação de qualidade.
Se a criança é a nossa prioridade, se ela é de fato o centro das nossas
preocupações, precisamos acompanhar em cada canto de cada escola desse
imenso país se às crianças está sendo assegurado o direito de brincar, de
aprender, de interagir, de dialogar, de observar, experimentar, de questionar, de
aprender, de explorar os sentidos, de ouvir e de acompanhar histórias, de
desenhar e representar o que está apreendendo, de aprender a respeitar as
diferenças, de ter acesso ao conhecimento historicamente acumulado, de
descobrir sobre o meio social, natural e físico, de conquistar a autonomia, de se
aproximar da cultura, de imaginar, de criar, de sonhar, de se encantar e de ser
feliz.
Como exposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica
(MEC, 2013): o conhecimento científico hoje disponível autoriza a visão de que
desde o nascimento a criança busca atribuir significado à sua experiência e,
nesse processo, volta-se para conhecer o mundo material e social, ampliando
gradativamente o campo de sua curiosidade e inquietações, mediada pelas
orientações, materiais, espaços e tempos que organizam as situações de
aprendizagem e pelas explicações e significados a que ela tem acesso.
O período de vida atendido pela Educação Infantil caracteriza-se por
marcantes aquisições: a marcha, a fala, o controle esfincteriano, a formação da
imaginação e da capacidade de fazer de conta e de representar usando
diferentes linguagens. Embora nessas aquisições a dimensão orgânica da
criança se faça presente, suas capacidades para discriminar cores, memorizar
poemas, representar uma paisagem por intermédio de um desenho, consolar
uma criança que chora etc., não são constituições universais biologicamente
determinadas e esperando o momento de amadurecer.
Elas são histórica e culturalmente produzidas nas relações que
estabelecem com o mundo material e social, mediadas por parceiros mais
experientes.
Devemos voltar os nossos olhos para as crianças para compreendermos
o que elas precisam para se desenvolverem com plenitude, na certeza de que,
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quando crescerem, tenhamos garantido todas as melhores oportunidades, pois
talvez depois seja tarde para recuperarmos o que foi perdido na infância.
As abordagens do brincar
Fonte: https://escoladainteligencia.com.br/wp-content/uploads/2020/12/original-
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aprendizagem consistente e lúdica. Como a escola e professores podem
organizar um currículo apoiado em uma cultura que dê embasamento a uma
pedagogia do brincar. Requer mudanças de paradigmas e exige compreensão
de atitudes e práticas comprometidas com o brincar em salas de aula em vários
níveis, não só na educação infantil.
Ao brincar, as crianças exploram, perguntam e refletem sobre as formas
culturais nas quais vivem e sobre a realidade circundante, desenvolvendo-se
psicológica e socialmente. O brincar é, pois, uma das atividades fundamentais
para o desenvolvimento e a educação das crianças pequenas. No ato de brincar
ocorrem trocas, as crianças convivem com suas diferenças, dá-se o
desenvolvimento da imaginação e da linguagem, da compreensão e da
apropriação de conhecimentos e sentimentos, do exercício da iniciativa e da
decisão.
Ao contrário do que se acredita, nenhuma criança nasce sabendo brincar.
Ela aprende a brincar como aprende a se comunicar e a expressar seus desejos
e vontades. Na escola, os adultos e crianças mais experientes têm um papel
importante nesta aprendizagem. Sendo assim, é fundamental criar espaços para
que a brincadeira aconteça, enriquecida por meio das trocas afetivas e
intelectuais com seus pares, com os adultos e, também, com os objetos e
brinquedos que são oferecidos às crianças.
A brincadeira tem, pois, uma natureza social que advém da necessidade
que as crianças têm, desde muito cedo, de comunicar-se e compartilhar de uma
vida simbólica com os adultos e com as outras crianças.
O brincar funciona como um cenário no qual a criança busca imitar,
imaginar, representar e comunicar de uma forma específica que uma coisa pode
ser outra e que uma pessoa pode ser um personagem, que uma criança pode
ser um objeto ou um animal, que um lugar faz de conta que é outro. Brincar é,
portanto, experimentar por meio da repetição e da imaginação outras formas de
ser e de pensar. É, também, repetir o já conhecido para compreendê-lo e se
adaptar a ele.
Qual a importância do brincar para a criança? Quais são os benefícios?
Quais são as abordagens? O brincar deve ser um dos principais objetivos da
educação infantil. Com o brincar, as escolas infantis poderão propiciar à criança
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o desenvolvimento das capacidades: cognitiva, motora, afetiva, ética, estética,
de relação interpessoal e de inserção social.
O brincar espontâneo, autoiniciado pela criança, é fundamental na escola,
é preciso permitir e prover essa forma de brincar. O brincar dirigido, conduzido
pelo adulto, e o espontâneo, ambos proporcionam o desenvolvimento e a
aprendizagem. Ao brincar, a criança tem a possibilidade de conhecer o seu
próprio corpo, o espaço físico e social e as pessoas com as quais ela convive,
conquistando a autonomia e construindo a sua identidade. Brincando, ela
também terá oportunidade de aprender conceitos, regras, normas e valores, terá
oportunidade de aprender conteúdos conceituais, atitudinais e procedimentais
nas mais diversas áreas do conhecimento. Poderá desenvolver as linguagens:
oral, escrita, musical, plástica e matemática.
O brincar, às vezes, é considerado nas escolas infantis como um
momento destituído de significado, sem uma finalidade, pois, algumas vezes,
encontramos professores que dizem: “agora é hora de estudar, depois podemos
brincar”. Ressaltamos que o brincar nas escolas infantis deve estar presente em
muitas práticas educativas, nas atividades de aprendizagem e nos momentos de
atividades mais livres, despertando, na criança, o prazer de estar na escola, o
prazer de estudar, ou seja, o prazer como forma de liberdade de expressão.
Mesmo quando a criança brinca livremente no parque infantil, ela estará
desenvolvendo novas habilidades e competências. Neste momento, o professor
poderá observar a criança nas suas relações com outros colegas, nas relações
estabelecidas com os objetos e, ainda, nas descobertas e desafios que cada
brinquedo do parque pode proporcionar. Mesmo brincando livremente, o
professor poderá conduzir e orientar a brincadeira, tornando-a mais atraente e
desafiadora.
Desde muito cedo, é importante que a criança explore e manipule diversos
objetos e brinquedos. Ao explorar determinado brinquedo, ela já estará
brincando de descobrir, brincando de criar e imaginar as possibilidades que ele
oferece. Ao brincar, as crianças ainda refletem, questionam e buscam,
gradativamente, compreender as formas culturais nas quais elas vivem,
construindo a realidade que a circunda.
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Brincando, as crianças convivem com suas diferenças, desenvolvendo a
imaginação e a criatividade e apropriando-se de conhecimentos e sentimentos,
muitas vezes, aprendem o exercício da iniciativa, da partilha e da decisão.
Quando proporcionamos o brincar, criamos um espaço para que as
crianças experimentem e descubram o mundo de maneira alegre, dinâmica e
criativa. Oportunizamos que a criança seja feliz e seja humanizada.
Toda forma de brincar é fundamental, brincar na educação infantil é coisa
séria e devemos considerar toda brincadeira importante, desde as brincadeiras
tradicionais, as folclóricas, como as brincadeiras de faz-de-conta, os jogos
motores, as brincadeiras de correr, jogos de montar, os jogos de construção, as
brincadeiras espontâneas, inventadas e sugeridas pela própria criança, jogos de
representação, brinquedos tradicionais, brinquedos que estimulem a criatividade
e a imaginação.
Se desejarmos educar crianças para serem autônomas, criativas e
críticas, a brincadeira é o início de um percurso para a formação de cidadãos
conscientes, participativos, éticos e justos.
Para Refletir
Como pode ser a sintonia entre a escola e a família para que
a brincadeira continue em casa? A escola e os educadores
podem orientar os pais sobre a importância do brincar. É
importante que os pais saibam que brincar na escola é
fundamental e que é preciso superar a dicotomia entre
brincar e estudar, pois, na infância, é por meio da brincadeira
que a criança aprende, se desenvolve, constrói relações,
interage, descobre o mundo, cria e recria.
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A criança bem pequena, como é chamada a criança de 0 a 3 anos em seu
livro, tem sua motivação para brincar deflagrada pelos objetos com os quais
brinca. Vygotsky cita os experimentos de Lewin que, ao observar crianças bem
pequenas brincando, percebeu que a própria natureza dos objetos era um
convite ao brincar, como uma porta que “convida” a criança a abri-la e fechá-la
ou uma escada que “convida” o bebê a escalá-la etc. Isso ocorre devido ao fato
da percepção estar intrinsicamente ligada ao ato motor e à motivação das
crianças pequenas, diferentemente do que ocorre com as crianças maiores, cuja
motivação pode ser motivada apesar dos objetos visíveis. Esta liberdade de ação
é adquirida conforme o amadurecimento cognitivo da criança.
Levando-se em consideração que a motivação das crianças de 0 a 3 anos
está nos objetos que as cercam, é fundamental que as escolas ofereçam
diversos recursos para que essas crianças possam ter acesso a diferentes
estímulos e possam, então, ser impelidas a descobrir novas brincadeiras, além
de desenvolver várias habilidades além do engatinhar, andar e pular. É preciso
oferecer brinquedos de encaixe e de rosquear – como tampinhas de garrafa,
objetos de diferentes espessuras, tamanhos e cores. São infinitas as
possibilidades de brincadeiras com as crianças desta faixa etária.
Quando a criança já está apta a usar a imaginação, ou seja, ver além do
objeto – representar um cavalo com cabo de vassoura – Vygotsky diz que esta
criança já consegue brincar sem a presença do objeto em si. A imaginação, para
o autor, é um processo psicológico, fruto da consciência do sujeito, sendo assim,
surge da ação. Isto explica o fato da criança conseguir criar regras e situações
imaginárias a partir daquilo com o que decide brincar.
Um exemplo claro disso, é quando um grupo de meninos decide em
comum acordo que brincarão de super-heróis. A partir desta decisão, a ação do
brincar, surgem os cenários fictícios, os anti-heróis, as muralhas a serem
puladas, os vilões a serem atacados, a mão que solta teia de aranha, as
espaçonaves etc. Todos esses recursos da brincadeira são imaginários e só
vieram à tona porque as crianças começaram uma ação. Essas situações
imaginárias representam a primeira ação frente ao rompimento com as
brincadeiras situacionais – que dependem da situação vivida e dos objetos
utilizados – das crianças bem pequenas, uma vez que estas não possuem
imaginação como os maiores.
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Nas situações de brinquedo, termos do autor, a criança experimenta
momentos de subordinação, de renúncia a alguns desejos frente às regras ou
desejos diferentes dos seus, controla seus impulsos, tudo isso para que possa
atingir o prazer de brincar. Essas ações citadas são de extrema importância para
a convivência social e nem sempre são existentes fora de uma situação de
brinquedo. Muitas vezes, os cuidadores das crianças – pais, avós e tias – relatam
a teimosia das crianças, a falta de obediência às regras estabelecidas nas
situações reais do dia a dia. Isso se deve ao fato de que as crianças reproduzem
na brincadeira aquilo que sabem ser o ideal de comportamento, uma vez que
ouvem os adultos falarem sobre o que é certo ou errado, no entanto, em
situações reais não há, necessariamente, a presença do prazer real que existe
no brincar. Vygotsky afirma que no brinquedo, a criança sempre se comporta
além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento
diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade.
Ao término da educação infantil, as crianças envolvem-se em brincadeiras
cujas regras passam a ser mais rígidas ou mais exigentes e, nem por isso,
deixam de brincar. Elas se adaptam, aprendem a negociar, argumentar, respeitar
e a se autorregularem. Em suma, para Vygotsky, o brinquedo representa o mais
alto nível de desenvolvimento pré-escolar, pois permite que a criança desenvolva
movimentos, imaginação, regulação interna de seus desejos, respeito às regras,
entre outros.
Segundo Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo não é apenas
condicionado ao desenvolvimento biológico. É preciso levar em conta as
estimulações recebidas pelo meio em que a criança está inserida: estímulos dos
pais, irmãos, amigos mais velhos, cuidadores, professores etc., bem como
acesso a livros, internet, jogos de videogame, entre outros recursos de
aprendizagem indireta. Ao ser exposta a essas possibilidades de estimulação, a
criança age sobre as mesmas e modifica o seu pensamento.
Quando a ação é mediada por alguém mais experiente do que a criança
em questão, Vygotsky postula que esta criança atinge a Zona de
Desenvolvimento Proximal (ZDP) – área da aprendizagem situada entre a área
de aprendizagem real (atividades que a criança consegue executar de modo
independente) e a área proximal (atividades que a criança ainda precisa de ajuda
para desempenhar). Para Vygotsky, a ZDP é fundamental para que o
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desenvolvimento cognitivo ocorra, visto que é nesta área que a criança testa
seus conhecimentos e amadurece suas habilidades a ponto de poder passar
para o nível real e independente de aprendizagem.
Ao atingir a zona real de aprendizagem, a criança encontra-se apta a usar
este conhecimento adquirido para integrá-lo e usá-lo na aquisição de novos
conhecimentos e, assim, aumentar seu repertório. A plasticidade neuronal
permite que esse processo aconteça de modo constante ao longo da infância.
Todas as atividades que são repetidas com frequência ficam marcadas em nossa
memória e vão sendo somadas às novas experiências.
Nosso cérebro é capaz de combinar lembranças passadas e criar novas
normas e concepções a partir do que foi vivido anteriormente. Esta atividade
criadora faz com que o homem seja um ser projetado para o futuro e que modifica
seu presente. Para Vygotsky, a principal mola propulsora da criação é a
imaginação, pois é por meio da imaginação que o homem cria, faz descobertas
e evolui tanto artística quanto cientificamente. É preciso esclarecer que por
menor que seja uma descoberta, um invento ou uma criação, esses são atos
criativos. Deste modo, desde a mais tenra idade a criança já é um ser criador e
inventor.
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sobre a qual formuladores de políticas e líderes cívicos podem desenvolver uma
agenda compartilhada e mais eficaz.
A ciência relacionada ao desenvolvimento infantil e às competências
essenciais dos adultos apontam para um conjunto de princípios que os
formuladores de políticas e profissionais de muitos setores diferentes podem
usar para melhorar os resultados para as crianças e as famílias, ou seja, para
ser maximamente eficazes, as políticas e serviços devem:
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➢ Brincar é reconhecido como direito da criança e é essencial para o seu
desenvolvimento;
➢ As Nações Unidas, sobre os direitos das crianças, reconhecem o direito
de engajar a criança na brincadeira e na idade apropriada da criança, para
participar livremente em uma vida cultural e com arte;
➢ Brincar é essencial para o desenvolvimento cognitivo, físico, social e
emocional do bem-estar da criança;
➢ Educadores devem reconhecer os benefícios do brincar para
aprendizagem e engajar-se na brincadeira das crianças, respeitando suas
ideias e pensamentos, bem como as suas escolhas;
➢ Todas as crianças são vistas como competentes, curiosas, capazes e com
pensamentos complexos e ricos em potencial e experiência;
➢ Na base do brincar, educadores honram toda a visão da criança, suas
ideias e teorias, imaginação, criatividade, interesses e experiências em
assumir novas identidades no percurso de aprendizagem;
➢ A criança deve ser vista como membro ativo, colaboradora e contribuinte
no processo de aprendizagem. Juntos, os educadores e aprendizes
planejam, negociam, refletem sobre e constroem a experiência de
aprendizagem;
➢ A curiosidade natural de querer explorar, brincar e questionar são os fios
condutores de aprendizagem junto com crianças pequenas;
➢ As escolhas das crianças em brincar são os melhores pontos de início de
construir junto a aprendizagem com a criança;
➢ Educadores devem responder a desafios e entender a aprendizagem das
crianças por meio de brincadeiras e das perguntas curiosas que as
crianças realizam;
➢ O ambiente de aprendizagem tem um papel-chave em todo o processo
do brincar. Logo, as escolas devem proporcionar ambientes abertos e
enriquecidos de experiências diferentes, para incentivar o brincar
construtivo e livre, do faz-de-conta, exploratório;
➢ Um ambiente de aprendizagem deve ser seguro, apoiando a autonomia
das crianças com áreas externas e internas que proporcionem ricas
experiências de aprendizagem;
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➢ Na base do brincar, educadores, crianças e famílias colaboram no
acompanhamento avaliativo como apoio para a aprendizagem das
crianças e a garantia do seu desenvolvimento cognitivo, social, físico e
emocional;
➢ Documentar todo brincar para reflexões sobre o que crianças dizem,
fazem e representam em brincadeiras e questionamentos.
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Brincar com regras: neste tipo de brincadeira, o desafio e a resolução
de problemas encontram-se no cumprimento de determinadas regras que
organizam a ação das crianças. Estas atividades abrangem as brincadeiras
tradicionais que envolvem o corpo, tais como: jogos com bolas, amarelinha etc.;
jogos tradicionais de linguagem: adivinhações, trava-línguas, parlendas etc.;
jogos tradicionais com objetos: rodar pião, bolinha de gude, elástico etc.; os jogos
de tabuleiro, como dama, xadrez etc. e uma infinidade de jogos de estratégia e
de percurso.
As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construção e aqueles que
possuem regras, tais como os de sociedade, jogos tradicionais, didáticos e
corporais são, portanto, formas de brincar que definem os blocos de conteúdos
que servem para o desenvolvimento afetivo, cognitivo, social e físico das
crianças. Estas brincadeiras dependem, por um lado, da riqueza de recursos
individuais de cada criança e, por outro, da criação de condições, por parte dos
educadores, para que elas aconteçam de maneira favorável e com qualidade
para o desenvolvimento das capacidades citadas anteriormente.
A intervenção do professor baseia-se ao mesmo tempo na oferta de
brinquedos, na delimitação do tempo e na organização do espaço para brincar,
a fim de que as crianças possam vivenciar diferentes papéis no interior de tramas
e enredos definidos por elas próprias ou na apresentação de um novo jogo de
regras ou de uma brincadeira tradicional.
É de fundamental importância que os temas, imagens e tipos dos
brinquedos e materiais oferecidos sejam determinados pela observação e escuta
dos interesses das crianças, assim como por objetivos programáticos
previamente definidos.
Vídeo
Recomendamos que assista ao
documentário Território do Brincar, e
também à produção O Brincar em Casa.
O Território do Brincar é um trabalho de
escuta, intercâmbio de saberes, registro e
difusão da cultura infantil. São diversos
vídeos, filmes e documentários sobre a
importância do brincar.
22
Entre abril de 2012 e dezembro de 2013, os documentaristas
Renata Meirelles e David Reeks percorreram o Brasil. Eles
visitaram comunidades rurais, indígenas, quilombolas, grandes
metrópoles, sertão e litoral, revelando o país através dos olhos
de nossas crianças. Renata e David registraram as sutilezas da
espontaneidade do brincar, como eles mesmos comentam.
Acompanhar essa trajetória riquíssima do brincar em cada
região do nosso país enche nossos corações de alegria, ao
perceber a singularidade de cada brincar.
O trabalho do Território do Brincar se amplia ainda mais pela
parceria firmada com o Instituto Alana, que é o correalizador do
programa, pelas escolas que acreditam no valor dessa pesquisa
e são nossas parceiras, pelo apoio da aliança pela infância e
outras pessoas e organizações que muito enriquecem essa
história. Disponível em: https://territoriodobrincar.com.br/
Conclusão da aula 1
Atividade de Aprendizagem
Para você, qual a importância do brincar na Educação Infantil?
Elabore uma reflexão com suas palavras.
Apresentação da aula 2
23
desenvolvimento infantil saudável e experiências de aprendizagens de alta
qualidade.
Em diversos países da Europa, na China, no Canadá e nos Estados
Unidos há uma crescente construção de programas e políticas públicas que
viabilizam mais espaços livres e espaços com áreas verdes para que as crianças
possam brincar. Os esforços de implementação de programas de educação
infantil estão em alta, no entanto, no Brasil, ainda precisamos concentrar muitos
esforços.
É preciso que políticas públicas e práticas de educação infantil acreditem
na importância do brincar ao ar livre das crianças. Temos ainda muitas lacunas
e barreiras sobre brincar mais próximo da natureza e o brincar mais intenso e
turbulento. A criança precisa ser criança, correr, subir, pular, rolar e não ficar por
longo tempo sentada, como os jovens estudantes.
24
distanciamento cada vez maior das crianças com as possibilidades de
explorarem e conhecerem o seu corpo.
A obesidade infantil constitui um problema crescente em muitos países.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 28% das crianças já
apresentam excesso de peso. Hábitos saudáveis têm mais chances de
acompanhar a população durante a vida, se começarem logo na infância. Por
isso, é preciso chamar atenção para a qualidade de vida e rotina alimentar
balanceada, para a conscientização contra a obesidade infantil. A estimativa é
que 6,4 milhões de crianças tenham excesso de peso no Brasil e 3,1 milhões já
evoluíram para obesidade. Os dados são de 2019, baseados no Índice de Massa
Corporal (IMC) de crianças que são atendidas na Atenção Primária à Saúde
(SAPS).
Esses números reforçam a importância de que ter ambientes saudáveis e
promover a educação alimentar desde cedo são atitudes que possibilitam evitar
doenças que podem acompanhar durante o desenvolvimento e ao longo de toda
a vida, afetando o desempenho escolar e aumentando o risco de vários agravos,
como hipertensão e diabetes.
Contrariando a crença popular segundo a qual as crianças são
naturalmente ativas, as taxas de atividade física são baixas em muitos países.
Na realidade, os comportamentos associados a um estilo de vida sedentário
ocupam um lugar importante na rotina diária das crianças pequenas. Os
comportamentos sedentários, como assistir televisão ou utilizar os aparelhos
como celulares e tablets, exigem normalmente pouco gasto energético.
Esses comportamentos não são necessariamente em oposição à
atividade física, uma vez que a criança que pratica atividades físicas pode
também passar muito tempo tendo comportamentos sedentários. Contudo, visto
que um estilo de vida sedentário pode ter consequências negativas sobre a
saúde no longo prazo e que a atividade física tem efeitos positivos para a saúde
e o desenvolvimento das crianças, é de suma importância encontrar meios de
estimular as crianças a desenvolverem hábitos de vida saudáveis logo na
primeira infância.
25
2.1.1 Fatores associados à atividade física
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a comportamentos sedentários e promover a atividade física na família e na
creche. Por exemplo, as autoridades americanas e australianas recomendam
que as crianças menores de dois anos de idade não assistam televisão e que as
crianças com idade entre dois e cinco anos só assistam televisão de uma a duas
horas por dia. Como a quantidade exata de atividade física necessária para ter
efeito benéfico para as crianças ainda não foi determinada, as recomendações
mínimas variam de país para país.
Na Austrália, as autoridades recomendam três horas de atividades físicas,
distribuídas ao longo do dia, tanto para crianças pequenas quanto para crianças
em idade pré-escolar; elas não especificam a intensidade da atividade no intuito
de respeitar as disposições naturais das crianças. Nos Estados Unidos, as
diretrizes são mais específicas e recomendam uma participação diária em
atividades físicas estruturadas de 30 minutos para as crianças pequenas e de 60
minutos para as crianças em idade pré-escolar. Da mesma maneira, as crianças
deveriam passar pelo menos uma hora por dia em atividades físicas não
estruturadas (por exemplo, subir em uma estrutura de playground), tempo
mínimo que pode ser estendido a várias horas.
Os pais podem estimular a participação de seus filhos em atividades
físicas, sendo eles próprios ativos, o que faz deles modelos positivos para seus
filhos. Eles devem também propiciar-lhes muitas oportunidades para serem
ativos, como andar um pouco a pé ao invés de andar de carrinho e limitar o
tempo que as crianças passam em comportamentos sedentários. Os pais são
também responsáveis por oferecer um ambiente seguro e sem risco, dentro e
fora de casa, em que seus filhos possam ficar fisicamente ativos. Além disso, os
pais devem também dar oportunidades iguais a seus meninos e suas meninas
para serem ativos.
No intuito de promover a atividade física em casa, os formuladores de
políticas têm de colocar a educação e o apoio aos pais como prioridade. Nos
serviços de guarda, a atividade física pode ser estimulada integrando exercícios
físicos de intensidade variada, dentro e fora das salas, na rotina diária das
crianças, tornando-os mais prazerosos. Da mesma maneira, as crianças devem
ter acesso a um local externo amplo, com áreas na sombra e equipamentos
portáteis. Formar educadores e monitores dos serviços de creche para que
incluam atividades físicas no seu programa é também considerada uma
27
estratégia importante para estimular a participação das crianças em atividades
físicas.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria realiza as mesmas
recomendações acima citadas que para as crianças menores de 2 anos, os
familiares devem evitar o uso de telas e promover pelo menos 3 horas de
movimentos corporais ao longo do dia.
Para Refletir
Por que o movimento é importante no processo ensino-
aprendizagem? Com que tipo de adultos podemos contar no
futuro, se levarmos em consideração a qualidade do
desenvolvimento psicomotor recebido? Os movimentos
corporais devem ser valorizados pelos professores da
Educação Infantil? Temos que levar em conta sempre que
toda e qualquer atividade concorre para o desenvolvimento
intelectual, social e moral dos alunos e faz com que
possamos enxergar de que modo a escola e o professor
estão contribuindo para isso.
28
com o meio e com o mundo. Elas percebem os sentidos, captam, recebem os
sons, sentem os cheiros e sabores por meio de seus corpos.
Muitas famílias estimulam o desenvolvimento global da criança de forma
natural enquanto conversam com seus filhos, na alimentação, no banho, na
demonstração de carinho e afeto e, à medida que se desenvolvem, suas
vivências vão se ampliando.
É de fundamental importância para a criança promover a construção da
sua própria identidade e autoimagem, mediante o conhecimento do seu corpo,
desenvolvendo capacidades motoras básicas, como rolar, andar, correr, pular,
dançar, rasgar, recortar, ter noção de cuidados com o seu corpo, adotando
hábitos de higiene, familiarizando-se principalmente com sua imagem,
descobrindo e reconhecendo as sensações que o seu corpo produz, seus
movimentos, suas possibilidades e limites. Deve vivenciar diferenciadas
sensações, percepções e emoções, para que possa descobrir suas
possibilidades e, assim, ampliar suas linguagens: corporal, gestual e oral,
expressando-se de diversas formas na sua relação com adultos e outras
crianças, conversando, dramatizando, imitando, cantando, desenhando e
jogando. Assim, a criança irá gradativamente incorporar essas vivências e tomar
consciência de seu corpo.
Uma criança que conhece a si mesma e ao seu corpo adquire domínio
sobre os seus movimentos e aprofunda a sua relação com o mundo externo.
29
e uma dificuldade em um desses aspectos irá provavelmente prejudicar o
processo de aprendizagem.
A palavra é antecipada pelo ato e é uma ferramenta psicológica
organizadora de grande importância. Caso ocorram falhas no desenvolvimento
motor, poderá também haver dificuldades na aquisição da linguagem verbal e
escrita, faltando à criança um repertório de vivências concretas que serviriam ao
seu universo simbólico constituído na linguagem, indo, assim, afetar o processo
de aprendizagem. A criança cujo desenvolvimento psicomotor é mal constituído
poderá apresentar problemas na escrita, na leitura, na direção gráfica, na
distinção de letras, na ordenação de sílabas, no pensamento abstrato
(Matemática) e em aprendizagens mais complexas.
A escola ainda mantém o caráter mecanicista instalado na educação
infantil, ignorando a psicomotricidade. Os professores preocupam-se muito com
a leitura e a escrita, porém, muitas vezes, não sabem como resolver as
dificuldades que alguns alunos apresentam, rotulando-os como portadores de
distúrbios de aprendizagem; todavia, muitas dessas dificuldades poderiam ser
resolvidas na própria escola e até evitadas precocemente, se houvesse um olhar
atento e qualificado por parte dos educadores para o desenvolvimento
psicomotor.
Hoje temos consciência da importância da Psicomotricidade, uma vez que
ela vem trazendo oportunidades para que as crianças possam desenvolver suas
capacidades básicas, aumentar seu potencial motor e, através de movimentos,
atingir aquisições mais elaboradas, como as intelectuais, auxiliando a sanar
essas dificuldades.
Por volta dos três anos, as aquisições da criança são consideráveis e já
possuem as coordenações neuromotoras essenciais, como andar, correr, pular,
falar e se expressar, utilizando jogos e brincadeiras. Esses aprendizados são,
sem dúvida, o resultado de uma maturação orgânica progressiva, mas também
vêm da experiência pessoal e são parte do produto parcial da educação. Foram
obtidos e são complementados progressivamente ao tocar, ao apalpar, ao andar,
ao cair e ao comparar.
Essa ligação estreita entre maturação e experiência neuromotora,
segundo Henri Wallon (1975), passa por diferentes estados:
30
➢ Estado de impulsividade motora – em que os atos são simples descargas
de reflexos;
➢ Estados emotivos – as primeiras emoções aparecem no tônus muscular.
As situações são conhecidas pela agitação que produzem, evidenciando
a interação da criança com o meio;
➢ Estado sensitivo-motor – coordenação mútua de percepções diversas
(adquire a marcha, a preensão e o desenvolvimento simbólico e da
linguagem);
➢ Estado projetivo – mobilidade intencional dirigida para o objeto. Associa a
necessidade do uso de gestos para exteriorizar o ato mental (inteligência
prática e simbólica).
31
➢ Um saber corporal que inclua as dimensões do movimento, desde
funções que indiquem afetividades e representações de movimentos;
➢ Trocas afetivas;
➢ A comunicação e a expressão das ideias;
➢ A exploração do mundo físico e o conhecimento do espaço;
➢ A apropriação da imagem corporal;
➢ As percepções rítmicas, estimulando reações novas por meio de jogos
corporais e danças;
➢ Habilidades motoras finas no desenho, na pintura, na modelagem, na
escultura, no recorte, na colagem e nas atividades de escrita.
32
tende a contribuir para o bom aprendizado. A multiplicidade de formas e
materiais induz a criança a:
Brincadeiras ao ar livre
Fonte: https://cangurunews.com.br/wp-content/uploads/2021/08/crianca-contato-
natureza-696x464.jpg
33
Com evidências crescentes e fortes dos benefícios do aprendizado ao ar
livre e baseado na natureza para as crianças, o aprendizado baseado na
natureza é um fenômeno crescente tanto nas salas de aula quanto nas escolas
em casa.
A natureza pode ajudar o aluno a se sentir mais atento, menos estressado,
mais autodisciplinado, mais engajado, mais interessado e mais fisicamente ativo
e em forma. Na verdade, apenas aprender sobre a natureza pode ajudar as
crianças a se sentirem mais conectadas a ela, o que pode ajudar a promover
atitudes e comportamentos pró-ambientais que, idealmente, todas as pessoas
teriam ao longo da vida.
Então, por que o aprendizado baseado na natureza não é mais
prevalente? Existem muitas razões, desde regras escolares rigorosas até
espaço insuficiente no currículo para a aprendizagem de história natural ou
baseada na natureza. Para muitos educadores, a falta de confiança em seu
conhecimento do mundo natural os impede de explorá-lo com seus alunos.
O Simpósio de Pesquisa de Políticas de Aprendizagem no Kingbridge
Center, King City, Ontário, para explorar e avançar o brincar mais próximo da
natureza, indica pesquisas e discussões de seis grandes temas:
34
6. A necessidade de desenvolver uma robusta estratégia de pesquisa e
mobilização de conhecimento para apoiar a política e a prática informadas de
evidências.
35
de eletrônicos, consumismo, desenvolvimento econômico, desigualdade social,
insegurança, violência, conservação da natureza e educação. Trata-se de um
cenário complexo, cujos fatores estão inter-relacionados e que variam de
intensidade, dependendo da condição socioeconômica e da realidade específica
de cada um.
Assim, os impactos do confinamento e da falta de contato com natureza
e ambientes saudáveis são mais agudos e presentes nas cidades e bairros
densamente habitados e de alta vulnerabilidade social, em que as condições
para uma vida saudável e plena estão ameaçadas. Esse cenário vem se
agravando nos últimos anos e é particularmente crítico quando se trata da
infância e da adolescência, com indicadores que se destacam em diversos
setores.
Em consonância com os marcos legais nacionais e internacionais, há
atualmente um amplo conjunto de pesquisas que relacionam a falta de
oportunidades de brincar e aprender com a – e na – natureza com problemas de
saúde na infância e na adolescência, como obesidade/sedentarismo,
hiperatividade, baixa motricidade, falta de equilíbrio, agilidade, habilidade física
e até miopia.
Outro aspecto a ser considerado é que a principal causa de morte nos
adultos corresponde às doenças cardiovasculares e que a síndrome metabólica,
caracterizada como a associação dos fatores de risco como sobrepeso, elevação
da glicemia, do colesterol e da pressão arterial, tornou-se uma situação de risco
que vem avançando em fases precoces da vida.
Apesar de ser causada por vários fatores de risco, sabemos que a
síndrome metabólica está diretamente ligada ao estilo de vida das crianças e dos
adolescentes e, portanto, a privação de movimento e o maior nível de estresse
podem impactar gravemente o futuro desta e das próximas gerações. Esses são
alguns dos problemas de saúde mais evidentes causados pelo cenário de
confinamento da infância e da adolescência, mas diversas consequências
menos reconhecidas e comportamentais, como aumento de equivalentes
depressivos, ansiedade e transtornos de sono, também fazem parte desse
contexto.
Os problemas de comportamento, além de proporcionar bem estar mental
e equilibrarem os níveis de vitamina D, diminuem o número de visitas ao médico.
36
O contato com a natureza ajuda também a fomentar a criatividade, a iniciativa, a
autoconfiança, a capacidade de escolha, de tomar decisões e resolver
problemas, o que, por sua vez, contribui para o desenvolvimento de múltiplas
linguagens e a melhora da coordenação psicomotora.
Isso sem falar nos benefícios mais ligados ao campo da ética e da
sensibilidade, como encantamento, empatia, humildade e senso de
pertencimento.
Em setembro de 2018, tendo em vista a pressão para a inclusão de mais
atividades didáticas de caráter cognitivo e a consequente diminuição de tempo
para o brincar (recreio) nas escolas de educação infantil nos Estados Unidos, a
Academia Americana de Pediatria publicou uma diretriz que ressalta o papel dos
pediatras no sentido de enfatizar a importância de um currículo equilibrado, que
inclua o brincar na promoção de um desenvolvimento infantil saudável.
A literatura demonstra que o ato de brincar, durante a infância e
adolescência, está associado ao desenvolvimento cerebral ótimo, pois as
experiências vivenciadas durante esse período, no qual as janelas de
oportunidades estão abertas, são enviadas e traduzidas em conexões sinápticas
essenciais para a maturação adequada do cérebro e para o desenvolvimento
neuropsicomotor satisfatório. Como resultado, as crianças e adolescentes terão
melhorias nas funções executivas, linguagem, habilidades matemáticas,
integração sensorial, capacidade de pensar criativamente e de realizar
multitarefas, contribuindo para a formação de adultos saudáveis com potencial
cerebral plenamente desenvolvido.
Crianças que brincam de forma fisicamente ativa, e a natureza é um
espaço privilegiado para isso, apresentam melhor capacidade cognitiva e de
focar a atenção, assim como diminuição dos transtornos de atenção.
A Sociedade Brasileira de Pediatria, que agrega 22 mil médicos pediatras,
recomenda:
37
➢ Responsáveis, cuidadores, educadores e pediatras devem estar atentos
sobre as especificidades da relação com a natureza em cada faixa etária:
crianças entre 0-7 anos, 7-12 anos e adolescentes. No caso das crianças
pequenas, o foco deve ser no livre brincar, no movimento de ir além, nas
experiências sensoriais e no papel do adulto como um companheiro de
exploração e descobertas, o que ao mesmo tempo fortalece o binômio
pais-filhos. Já as crianças maiores estão em busca de aumentar o seu
raio de exploração, de curiosidade, de autonomia, de lidar com o risco
percebido e de alcançar a competência ao lado de seus amigos. O
adolescente é uma pessoa em busca de desafios, aventuras e
convivência social entre pares;
➢ As escolas e instituições de cuidados devem organizar suas rotinas e
práticas de forma a equilibrar o tempo destinado às atividades curriculares
com o tempo livre (recreio), a fim de permitir que as crianças e os
adolescentes tenham amplas oportunidades de estarem ao ar livre,
preferencialmente em ambientes naturais em contato com plantas, terra
e água. Diversos estudos e exemplos mostram que mais tempo de recreio
beneficia diretamente o aprendizado e o comportamento dos alunos nas
escolas;
➢ Escolas, educadores e responsáveis devem permitir os riscos benéficos
nos quais as crianças e adolescentes se engajam por livre escolha,
conseguindo dimensionar as consequências e lidar com elas;
➢ Os adultos devem compartilhar seu apreço pela natureza e pelas
atividades de lazer ao ar livre pautadas pelas relações, pelos encontros,
pelo movimento e também pela contemplação e momentos de
relaxamento;
➢ As crianças e adolescentes devem ser orientados no sentido de buscarem
o equilíbrio no qual tanto o uso da tecnologia quanto a conexão com o
mundo natural prosperem de forma benéfica, contribuindo para o seu
desenvolvimento e bem-estar;
➢ A alimentação deve ser vista pelas escolas, famílias e outras instâncias
como uma importante estratégia de fomento da relação entre a criança e
a natureza, especialmente por meio do processo de plantar, cultivar,
colher e preparar alimentos;
38
➢ O poder público deve garantir que todas as crianças e adolescentes
tenham acesso a áreas naturais, seguras e bem mantidas, a uma
distância inferior a 2 km de suas residências;
➢ Pediatras, famílias, educadores e gestores públicos devem ter
consciência de que os benefícios são mútuos: assim como a criança e o
adolescente precisam da natureza, a natureza precisa das crianças e
jovens.
Conclusão da aula 2
Atividade de Aprendizagem
Educadores, assistam o documentário O Começo da Vida 2 –
Lá fora.
Evidências científicas apontam que a falta de contato com a
natureza pode contribuir para problemas físicos e mentais. No
novo capítulo de O Começo da Vida, os principais
especialistas no tema mostram como essa conexão pode fazer
parte da cura para os maiores desafios da humanidade
contemporânea e da construção de uma vida de mais bem-
estar e felicidade.
O filme revela que esse pensamento tem sido transformador
em diversas cidades, pelo modo que valorizam e promovem
uma maior conexão com o mundo natural.
39
Depois, promova um debate com seus colegas na escola e
inspirado com o filme, repense os espaços da sua instituição.
Apresentação da aula 3
40
pintor Wu Changshuo, o nome Anji hoje se tornou sinônimo de práticas
inovadoras de educação infantil na China.
O condado de Anji abriga 130 pré-escolas públicas e locais de ensino nas
aldeias que atendem 14.000 crianças de 3 a 6 anos. Por muitos anos, a
abordagem dos Anji na educação infantil foi a da maioria das escolas chinesas:
fazer com que as crianças se sentassem quietas em suas mesas até estarem
prontas para voltar aos cuidados e supervisão de seus pais, no final do dia. Mas
Cheng, cuja posição a colocou na gestão das 130 escolas infantis, logo mudaria
o status quo.
Anji (China)
Fonte: https://www.chinadaily.com.cn/attachement/jpg/site1
Para Refletir
Ms. Cheng fez uma pergunta básica: “quais são as minhas
memórias mais profundas do brincar na infância?"
42
Quando as crianças se envolvem no True Play (a tradução literal seria
Jogo Verdadeiro ou Verdadeira Brincadeira, nome do programa), Cheng
percebeu que começam a perceber a intenção verdadeira das brincadeiras.
Simplificando, Cheng, na sua intenção com o projeto, procurava demonstrar que
as crianças podiam se divertir e serem felizes.
Uma das perspectivas fundamentais na abordagem Anji Play refere-se
aos ambientes recheados de materiais pouco estruturados, que permitem
grandes movimentos corporais e grandes desafios com o corpo, a mente e o
cérebro. Os espaços são previamente arquitetados para garantir que as crianças
possam brincar livremente, interagir com os colegas e superar altos graus de
complexidade em cada brincadeira.
Anjii Play
Fonte: https://images.squarespace-cdn.com/content/v1/55cb7a80e4b0d97ae
7ff91d8/1515446703076-PA2J6NJEJ6M5GCRISKMW/IMG_9815.JPG?format=1000w
43
ordem, pois isso tornará o jogo mais divertido. Eles procurarão entender o que
estão fazendo e pedirão ajuda se precisarem. O tempo é crucial para a
brincadeira livre, autônoma e criativa.
Quando as crianças se envolvem no True Play, elas estão realizando
intenções específicas, por isso, parte dos materiais amplos é previamente bem
planejada, organizada e construída, a fim de promover para as crianças ações
cada vez mais complexas.
Cheng também observou a dificuldade que seus professores enfrentavam
ao tentar avaliar o nível de desenvolvimento de uma criança, a fim de fornecer
atividades e materiais específicos que abordavam essa criança em seu nível de
desenvolvimento. Quando ela multiplicou esse número por 30, imediatamente
entendeu a impossibilidade de criar atividades apropriadas para o
desenvolvimento de uma sala de aula inteira de crianças. Em vez disso, ela
descobriu que quando as crianças recebem liberdade de brincadeiras arriscadas
e autodeterminadas, elas se desafiam em seu próprio nível de desenvolvimento.
Nessa abordagem, como no Brasil e em outros países, a ordem é o brincar
e o desemparedamento.
A tarefa do professor é projetar os espaços, incentivar as brincadeiras,
cuidar, observar e intervir quando necessário. Também frequentemente leva os
professores a uma profunda admiração pelas habilidades de seus alunos.
Admiração, alegria, confiança, participação e compreensão são ingredientes
para uma relação de amor entre criança e professor, a base dos laços de apego
que sustentam o crescimento emocional, social e cerebral de uma criança.
Os professores têm um papel importante no aprendizado e na descoberta
que ocorrem nas escolas infantis de Anji, mas eles não são guias, não estruturam
o jogo em direção a objetivos específicos e não veem as crianças como
pensadores não sofisticados que precisam ser direcionados para a conquista.
Os professores de Anji observam e participam da brincadeira, entendem que as
crianças podem escolher a brincadeira, resolver seus próprios conflitos,
gerenciar e regular seus próprios riscos, desenvolver regras e ordenar o máximo
de diversão possível. Os professores confiam nas crianças e não subestimam a
capacidade de cada uma delas.
Os professores e pais de Anji também entendem que o aprendizado mais
eficaz, seja social ou emocional, ocorre quando a criança é protagonista de suas
44
próprias experiências e descobertas, mas nem sempre foi assim. Os pais de Anji
foram, inicialmente, contra brincadeiras em suas escolas. Eles protestaram
veementemente sobre o desperdício de tempo que poderia ser melhor utilizado
nos estudos e sobre os perigos do risco e da sujeira. Eles escreveram cartas,
denunciaram Cheng a funcionários de alto escalão e se recusaram a enviar seus
filhos para a escola. Em resposta, Cheng tinha cópias das diretrizes nacionais
da China para o desenvolvimento infantil impressas, encadernadas e enviadas
a todas as famílias do condado. Ela pediu aos pais e avós de seus alunos que
levassem essas diretrizes à escola e observassem seus filhos e netos brincando.
A descoberta de que seus quatro anos de idade possuíam níveis tão altos
de bravura, compaixão e inteligência levou muitos pais a chorarem. Da noite para
o dia, os pais resistentes tornaram-se defensores inflexíveis e assumiram o papel
de orientar os pais novos nas habilidades de observação e documentação.
Em 2014, Cheng recebeu a mais alta homenagem concedida à educação
infantil na China. Ela recebeu este prêmio do Presidente da China. Nos 15 anos
em que ela trabalhou para refinar a sua abordagem, milhares de professores e
administradores de toda a China visitaram suas escolas para aprender com seus
sucessos. Os professores do ensino fundamental de Anji estão descobrindo que
as crianças que entram nas salas de aula são altamente engajadas, que têm
experiências concretas em primeira mão e que são adeptas da cooperação, da
aprendizagem autoiniciada e altamente criativas.
Quando consideramos o que queremos que nossos bebês, crianças e
jovens sejam no futuro, serão participantes ativos na sociedade ou estacionários,
receptores adeptos do conhecimento padronizado? Queremos cidadãos alegres,
engajados, criativos e curiosos? Por mais estranha que pareça, essa
abordagem, Anji Play, baseia-se na confiança profundamente enraizada nas
crianças. É, em sua essência, um movimento de amor, risco, alegria,
engajamento e reflexão.
Devemos isso aos nossos filhos, a nós mesmos, a nossas sociedades e
ao mundo, abraçando esses princípios fundamentais. Eles não são
denominacionais e não são baseados em teorias e conjecturas selvagens, não
são culturalmente específicos. Eles são fundamentais e poderosos. Chegou a
hora de um movimento de educação infantil do século XXI.
45
3.2 Declaração True Play
A declaração True Play foi feita pela primeira vez em 15 de maio de 2019
no condado de Anji, China, na 1ª Conferência Internacional True Play. Depois
que Cheng Xueqin leu a declaração em chinês e Jesse Coffino leu a declaração
em inglês, educadores de dez países, incluindo a China, assinaram a declaração
como membros fundadores da True Play Advocacy Alliance.
Pesquise
Para saber mais sobre essa abordagem, acesse o site:
http://www.anjiplay.com/
46
Conclusão da aula 3
Atividade de Aprendizagem
Educadores, nessa pós-graduação apresentamos diversas
abordagens, como Montessori, Reggio Emilia, Pikler e
Pedagogia do Brincar. É preciso refletir sobre quais dessas
abordagens podemos apoiar em nossas práticas educativas.
Como a Sra. Cheng, vamos pensar e criar uma perspectiva
para a educação infantil que abrace de fato a brincadeira e a
interação.
Construa um projeto para desemparedar as crianças na
Educação Infantil e acompanhe o desenvolvimento das
crianças.
47
Aula 4 – O brincar heurístico
Apresentação da aula 4
48
Um dos fatores principais para o desenvolvimento das habilidades das
crianças, de dois anos de vida, é a capacidade recém-adquirida de mover-se,
praticada durante o dia todo, enquanto está acordada. Entretanto, essa imensa
vontade da criança em deslocar-se de um lugar para o outro acaba gerando no
adulto uma certa ansiedade e preocupação, ocasionando, por parte dele, a
restrição e delimitação do espaço da criança e consequentemente limitando as
oportunidades para o seu aprendizado.
No segundo ano de vida, as crianças têm um grande desejo em saber
como os objetos manipulados por ela mesma se comportam no espaço. Elas
necessitam de diferentes tipos de objetos para fazerem essa experiência e por
isso precisam de uma grande variedade deles.
O brincar heurístico foi desenvolvido tendo como um dos objetivos
centrais libertar a criatividade dos adultos em relação à tarefa de cuidar das
crianças, tornando essa atividade muito mais estimulante e prazerosa.
Em uma pesquisa feita por Elinor e suas colaboradoras, com crianças
pequenas, de dois anos de idade, aplicando-se a abordagem do brincar
heurístico, pode-se observar que:
49
No brincar heurístico, algumas questões organizacionais devem ser
consideradas, para que as crianças consigam o máximo de satisfação. Dentre
elas, podemos destacar:
50
os materiais não sejam estruturados, uma vez que objetos estruturados e com
uma proposta pronta podem limitar as possibilidades que oferecem às crianças.
Além disso, é necessário que sejam o mais próximo do natural, indo em direção
contrária à artificialidade e uso do plástico.
Os materiais não estruturados e a polimaterialidade que aparecem no
Jogo Heurístico também marcam presença na última modalidade, a Bandeja de
Experimentações, destinada a crianças maiores, que já começam a se
movimentar, ficar em pé e a verbalizar.
Conclusão da aula 4
Atividade de Aprendizagem
Propõe-se, como atividade, observar as crianças brincando
com materiais não estruturados na escola, tanto na área
externa quanto na área interna, dialogando para saber o
quanto elas se envolvem nesse brincar heurístico.
Crianças costumam brincar com brinquedos industrializados e,
muitas vezes, vão deixando o potencial criativo de lado. Com
o brincar não estruturado, surgirão as descobertas e a
inventividade.
51
Conclusão da disciplina
52
Índice Remissivo
A abordagem anji play e os princípios educativos ...................................... 39
(Anji play; educação; princípios)
53
Referências
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
54
GUEDES, M. H. de S. Oficina da brincadeira. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.
55
SMOLE, K. S. S. org. Coleção Matemática de 0 a 6: Brincadeiras infantis nas
aulas de Matemática. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
ROSSETTI-FERREIRA, M. C., org. Os fazeres na educação infantil. São
Paulo: Cortez, 1998.
56