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Tópico Frasal e como estruturar um bom parágrafo

Tópico Frasal é a frase que pauta o tema de um parágrafo. É a partir da centralidade desta
que se consegue definir até onde determinado parágrafo pode ir, ou seja, quando se deve
terminá-lo.

A teoria do tópico frasal é trazido da teoria linguística inglesa para o Brasil por meio do
crítico literário Othon Moacir Garcia, em 1988. A obra dele será a base da nossa aula e
dos nossos estudos aqui. Com seu grupo de pesquisa, Othon chegou à conclusão que 60% dos
casos estudados equivalem ao uso de tópico frasal explícito e como início do parágrafo:
Pesquisa que fizemos em muitas centenas de parágrafos de
inúmeros autores permite-nos afirmar com certa segurança
que mais de 60% deles apresentam tópico frasal inicial. Essa
proporção vem sendo ainda confirmada praticamente todos os
dias em nossas aulas, principalmente particulares, quando
damos como exercício aos nossos alunos a tarefa de estudar a
estrutura de parágrafos por eles mesmos escolhidos nas mais
variadas fontes (livros, editoriais da imprensa diária, artigos de
revista (M. GARCIA, p. 114-115, 2010)

O tópico frasal, em seu caso padrão (explícito) tem a estrutura de um pequeno texto dentro
do texto:

Introdução - uma a duas pequenas sentenças expressando a ideia central do parágrafo,


chamaremos elas de tópico frasal.

Desenvolvimento - as sentenças expandindo a ideia.

Conclusão - a sentença que finaliza a ideia. Este é um caso raro e só se aplica a parágrafos
complexos e densos.

O tópico frasal segue a lógica do método dedutivo: geral para o particular. Ou seja, das frases
generalistas para as específicas sobre um mesmo tema.

Feições do tópico frasal:


Declaração inicial: Começa por uma afirmação ou negação da qual deriva o resto do
parágrafo. Ex: Há tempos que não acordo feliz. Minhas manhãs tem sido cada vez mais
melancólicas, com nuvens letárgicas definindo o ritmo de meus passos…

Definição: O mais didático dos formatos, define algo de modo sintético já na primeira
sentença e segue explicando o fato em seguida. Ex: O tópico frasal é a sentença que define o
tema central de um parágrafo. Normalmente, ela se encontra no começo deste, mas por vezes
pode estar no meio ou até mesmo no fim.

Divisão: Descreve um processo de listagem que irá ser explicado a cada sentença ou
sequência de sentenças dentro de um parágrafo. Ex: No Rio de Janeiro, o domínio armado é
dividido em duas categorias: milícias e comandos. Os comandos são os narcotraficantes…
Diluído: Não raro, ou seja, nos outros 40% dos casos em que parágrafos não começam pelo
tópico frasal, este se encontra diluído em inúmeros detalhes e fatos que compõem a ideia
central do texto. Por vezes, como já dito, pode haver uma frase no meio ou ao fim que
sintetize o tema do parágrafo, mas, não é incomum que não haja.

Outros métodos de começar parágrafos:


O tópico frasal é a forma mais comum de se começar um parágrafo — a ver por este mesmo
—, todavia, há inúmeras maneiras de iniciá-los. Dentre elas, temos:

Alusão histórica: Basicamente uma forma de referência direta ou rima visual a períodos e
personagens históricos outrens.

Omissão de dados identificadores num texto narrativo: Quando o início de um texto segue
em suspense quanto aos dados principais, como quem é o personagem e onde decorre a
descrição. É um método profundamente narrativo, mas pode ter utilidade em dissertações e
ensaios a depender do uso.

Interrogação: A iniciação de um parágrafo por meio de uma pergunta a qual deverá ser
respondida ou começar a sê-la durante a sucessão de frases que compõem o parágrafo.

Vale destacar que esses métodos exigem maior experiência por parte do autor. São escolhas
estilísticas que precisam de experimentação e se aperfeiçoam com amadurecimento.

Numa aula de cunho narrativo, haveríamos de estudar mais a fundo outras propriedades do
parágrafo. Mas para fins de dissertação e artigo acadêmico, é melhor que nos atenhamos ao
supracitado.

Referência: Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar /


Othon M.Garcia -- 27.ed. -- Rio de Janeiro :Editora FGV, 2010. 548p.

Exercício:

Aponte o tópico frasal e a categoria:

1) Em todo o mundo, 675 milhões de pessoas vivem sem luz elétrica. É o que aponta um
relatório divulgado na semana passada por várias organizações, incluindo a OMS
(Organização Mundial da Saúde) e o Banco Mundial. Cerca de 80% delas vivem na
África subsaariana, de acordo com o material.
(https://gizmodo.uol.com.br/675-milhoes-de-pessoas-nao-tem-luz-eletrica-no-mund
o-diz-relatorio/)
2) Aprofessora Deili Mateus, de 58 anos, viveu um pesadelo na noite desta quinta-feira
(15). Moradora do Garapiá, comunidade do município de Maquiné, no litoral norte
do Rio Grande do Sul, presenciou a passagem do ciclone extratropical que atinge o
estado. Em meio ao temporal, ela e o marido não conseguiram pregar os olhos à
noite: a chuva invadiu a casa em que moram, e eles ficaram com água pelos joelhos. A
força da água fez a casa estalar. O marido tem uma mercearia na residência, e os
produtos começaram a boiar. Os dois tiveram de escolher: “Tivemos que abrir todas
as portas para dar vazão à água, ou a casa ia ser levada junto. A gente preferiu deixar
a mercadoria ir embora e preservar a nossa vida”, afirmou Deili. Eles perderam tudo.
(https://piaui.folha.uol.com.br/ilhados-em-meio-ao-ciclone/)
3) Nossa Constituição contém regras sobre como devem ser feitas as leis e como devem
funcionar os três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), além de outros órgãos
que atuam conjuntamente com esses Poderes (como é o caso do Ministério Público e
da Defensoria Pública, por exemplo). Outro tema importante tratado em nossa
Constituição é a divisão de tarefas entre a União, os Estados e os Municípios. Assim,
sempre que alguém vai propor uma lei federal (lei da União, a ser votada no
Congresso Nacional), deve antes verificar, nos arts. 21 a 30 da Constituição, se aquela
competência é mesmo da União, e não dos Estados ou dos Municípios, por exemplo.
A Constituição de 1988 também se preocupou bastante em assegurar os direitos
básicos dos cidadãos, chamados de direitos fundamentais. Por conta disso,
especialmente nos arts. 5º a 17, estão previstas as prerrogativas básicas dos
indivíduos e dos grupos sociais em relação ao Poder Público. É na Constituição que
estão previstos direitos como vida, liberdade, propriedade, igualdade, saúde,
educação, moradia, entre vários outros.
(https://www12.senado.leg.br/jovemsenador/home/arquivos/textos-consultoria/o-q
ue-e-a-constituicao)
4) A teoria das redes criminais lida com a territorialidade de modo volátil, a depender
do pesquisador e da relevância que ele atribui a isso. Por tal motivo, enxergando uma
necessária consideração da territorialidade ao se pensar em redes, divido as redes
criminosas em três tipos ideais: (1) Rede criminal com domínio territorial; (2) rede
criminosa com alta dependência territorial; e (3) rede criminosa com baixa
dependência de território. Essas três categorias não são excludentes, pois algumas
redes têm uma relação volátil com a territorialidade a depender do local pelo qual
transitam. (Artigo acadêmico meu)
5) O Grande São Paulo — isto é, a capital paulista e as cidades que a circundam — já
anda em torno da décima parte da população brasileira. Apesar da alta arrecadação
do município e das obras custosas, que se multiplicam a olhos vistos, apenas um terço
da cidade tem esgotos. Metade da capital paulista serve-se de água proveniente de
poços domiciliares. A rede de hospitais é notoriamente deficiente para a população,
ameaçada por uma taxa de poluição que técnicos internacionais consideram superior
à de Chicago. O trânsito é um tormento, pois o acréscimo de novos veículos supera a
capacidade de dar solução de urbanismo ao problema. Em média, o paulista perde
três horas do seu dia para ir e voltar, entre a casa e o trabalho. (De um editorial do
Jornal do Brasil) (exemplo retirado de Othon)

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