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Resistência e Rigidez
Resumo
Quando uma ligação metálica trabalha em conjunto com a armadura longitudinal presente nas lajes de concreto, a
resistência e a rigidez aumentam e, consequentemente, o custo das ligações se reduz. Este artigo discute a região
metálica da ligação mista, com ênfase em ligações mistas com chapa de extremidade. O objetivo é definir e analisar
as principais propriedades dessas ligações, através da análise teórica e numérica. A análise numérica será realizada
via elementos finitos, com a utilização do programa comercial Ansys e os resultados obtidos serão comparados com
valores disponíveis, utilizando como referência a NBR8800:2008. Após a validação do modelo proposto serão
realizadas análises paramétricas, relacionando os três componentes principais da ligação mista com chapa de
extremidade: a laje de concreto, os conectores de cisalhamento e a ligação metálica. A análise tem por objetivo
discutir acerca das três respostas relevantes desse tipo de ligação: resistência, rigidez e capacidade de rotação.
Palavras-chave: Ligações Mistas. Ligações com Chapas de Extremidade. Propriedades Principais das Ligações
Mistas.
Abstract
When a connecting metallic works with the longitudinal reinforcement present in concrete slabs, strength and
stiffness increase and, consequently, the cost of connections is reduced. This article discusses the mixed metal region,
with emphasis on composite connections with end-plate. The article aims to define and analyze the main properties of
these connections, through theoretical and numerical analysis. The numerical analysis will be performed via finite
elements, using the commercial program Ansys and the results will be compared with values available, using as
reference the NBR8800:2008. After validation of the proposed model parametric analyzes will be performed, relating
the three main components of mixed connection with end-plate: the concrete slab, the shear connectors and metallic
bonding. This analysis aims to discuss about the three relevant answers of this type of connection: strength, stiffness
and rotation capacity.
Key words: Composite Connections. Connections with End Plates. Main Properties of Composite Connections.
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Mostra PROPEEs UFMG, 29 e 30 de Abril de 2013
Ligações Mistas com Chapas de Extremidade com Diferentes Graus de Resistência e Rigidez
(a)
(c)
Figura3: Ligação com cantoneira inferior (Mata 2005)
Figura2: Ligação com chapa de extremidade viga-alma de
pilar As ligações mistas possuem algumas particularidades
construtivas, como a necessidade das vigas opostas
possuírem a mesma altura de perfil para possibilitar a
transmissão do momento fletor de maneira adequada. Alem
disso, se a ligação é do tipo viga-viga, a viga suporte
precisa ter uma altura grande o suficiente para receber as
chapas e cantoneiras das vigas suportadas. No caso de
ligação viga-pilar, se a viga chega na mesa do pilar é
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Ligações Mistas com Chapas de Extremidade com Diferentes Graus de Resistência e Rigidez
vigas mistas já estavam estabelecidos, sendo que em 1944 - Eliminação ou redução de formas e escoramentos;
foram introduzidos na norma da American Association of - Redução do tempo de execução;
State Highway (AASHO), e em 1952 no American Institute - Redução do peso global da estrutura;
of Steel Construction (AISC). - Redução do volume ocupado pela estrutura.
Newmark et al. (1951) forneceram um dos primeiros Alves (2000) levantou também algumas vantagens da
estudos sobre vigas mistas com interação incompleta, por utilização de estruturas mistas em relação às estruturas de
meio de uma análise teórico-experimental. No modelo aço:
teórico, as equações básicas de equilíbrio e de - Redução do consumo de aço, com consequente
compatibilidade para um elemento de viga foram reduzidos redução do custo final;
a uma equação diferencial de segunda ordem simples. Esta - Aumento da estabilidade lateral das vigas de aço;
abordagem foi aprimorada por Yan e Chapman (1972), que
- Aumento da proteção do aço contra incêndio.
incorporaram as não-linearidades relacionadas com o
O desenvolvimento dos conectores de cisalhamento
material e os conectores de cisalhamento. Ranzi e Bradford
contribuiu significativamente para acelerar os avanços
(2007) destacaram que, embora o comportamento da
associados às vigas mistas. Hoje, vigas mistas com
interação parcial de vigas mistas tenha sido investigado ao
conectores de cisalhamento e lajes com fôrma de aço
longo dos últimos 50 anos, as análises de tais sistemas
incorporada são intensamente usadas em edifícios de
ainda são um foco para a pesquisa e continuam a ser andares múltiplos.
bastante complicadas, mesmo para avaliações lineares-
Avanços posteriores do concreto armado destinados aos
elásticas.
edifícios altos alteraram a configuração do cenário da
Atualmente, os sistemas estruturais mistos são largamente
combinação aço-concreto. O uso do concreto
empregados em estruturas de grande porte, como edifícios
desempenhando o papel de paredes resistentes à força
altos e pontes, conforme Nardini (1999). A figura 6
cortante ou o de pilares mistos foi reconhecido como sendo
apresenta um exemplo de utilização de elementos mistos no de grande eficiência estrutural para resistir às forças devidas
sistema estrutural de uma ponte localizada na China.
ao vento, aumentando a rigidez lateral da estrutura, quando
comparado ao uso da solução correspondente em estrutura
de aço.
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Alves (2000) descreve vigas mistas como sistemas 5.3 Lajes mistas
estruturais nos quais a viga de aço trabalha em conjunto
com uma faixa da laje de concreto. Para que ocorra a O sistema de lajes mistas resulta da combinação
interação entre a viga de aço e a faixa da laje de concreto é estrutural de dois elementos principais: a fôrma metálica
necessário, na maior parte dos casos, que estas sejam unidas (Steel Deck) e o concreto. O fundamento deste sistema
por elementos apropriados denominados conectores de consiste em seus elementos trabalharem conjuntamente,
cisalhamento. aproveitando cada um suas melhores características
A ligação entre a viga metálica e a laje de concreto pode mecânicas. A fôrma metálica, durante a etapa de
atingir vários graus de interação segundo Pires (2003): construção, deve resistir às cargas relativas ao peso do
· Ausência de interação: concreto fresco, operários, equipamentos e demais
Não ocorre nenhum tipo de ligação a cisalhamento entre sobrecargas. A sua resistência deve ser verificada pelos
o perfil metálico e o concreto, assim como nenhum atrito ou procedimentos aplicáveis aos perfis de chapas finas
aderência. Nesse caso, a laje e a viga trabalham dobradas a frio. Após a cura do concreto, conforme mostra
separadamente, com deslizamento na superfície de contato. a figura 9, a fôrma deve servir, total ou parcialmente, como
Existem duas linhas neutras, uma da laje e outra da viga. armadura de tração da laje. Para isto, é imprescindível
· Interação total: alcançar uma aderência mecânica entre o aço da fôrma e o
A ligação entre o perfil de aço e o concreto é concreto, superior ao esforço de cisalhamento longitudinal
infinitamente rígida. Laje e viga trabalham em conjunto, na interface dos dois elementos, caracterizando assim, um
sem nenhum deslizamento. A linha neutra é única. comportamento estrutural misto (Campos, 2001).
Nas regiões de momento negativo deve ser utilizado esse
tipo de interação, com os conectores posicionados, de
preferência, dentro da região de momento negativo. A
interação total, nesse caso, é necessária para compensar
algumas simplificações, como desprezar o concreto
tracionado, desprezar o encruamento da armadura, não
diferenciar concreto tracionado ou comprimido no cálculo
da resistência do conector.
· Interação parcial:
Laje e viga trabalham com alguma ação mista. Existem
duas linhas neutras, sendo uma na laje de concreto e a outra
na viga metálica.
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onde:
Ki é a rigidez inicial da ligação inferior. Em
ligações com chapa de extremidade, que é a
abordada nesse estudo,
ʛƅ = ∞
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= 1 , se d≤ 2⁄3 d;
.
= ( ) , se 2⁄3 d≤ d≤ d;
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- Rigidez inicial (Ki): Dada pela inclinação inicial da O cálculo da largura efetiva de vigas semicontínuas pode
curva M-θ; ser feito utilizando a norma NBR8800: 2008, que define
- Rigidez de serviço (Kser): É a rigidez secante da distâncias simplificadas entre pontos de momento nulo,
ligação, baseada em um momento de serviço conforme figura 15.
esperado (Kser = Μser/θser), geralmente da ordem de
0,6 a 0,7 do momento último;
- Rigidez tangente (Ktan): Rigidez real da ligação em
um dado ponto (Ktan = ΔM/Δθ).
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Figura21: Modo 1: escoamento da chapa (Couchman e Figura23: Modo 3: ruptura do parafuso (Couchman e
Way, 1998) Way, 1998)
- Modo 2 – ruptura do parafuso com escoamento Para desconsiderar a chapa de extremidade na
da chapa (figura 22). transmissão do momento fletor, é necessário comprovar a
Quando a resistência da linha de parafusos é dada por ductilidade da ligação. Ou seja, é importante que o modo 1
esse modo, sua ductilidade deve ser comprovada por meio prevaleça na determinação da resistência da linha de
de ensaios. parafusos.
Segundo Conceição (2011), é importante salientar que no
caso dos parafusos estarem sujeitos à ação de corte, deve-se
avaliar uma possível redução da resistência nominal à
tração dos mesmos. E que para o aço dos parafusos é
importante utilizar um modelo construtivo multilinear de
acordo com o critério de escoamento de Von Misses (figura
24).
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sendo:
L : comprimento total da viga;
bch : largura da chapa de extremidade;
bf : largura da mesa;
d : altura da alma;
hch : altura da chapa de extremidade;
tch : espessura da chapa de extremidade;
tf : espessura da mesa;
e1: espaçamento entre parafusos na direção paralela à carga
aplicada P;
e2: espaçamento entre parafusos na direção perpendicular à
carga aplicada P;
tw : espessura da alma.
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A malha de elementos finitos do modelo pode ser vista na Critérios Adotados na Modelagem Numérica:
figura 28. A figura 29 mostra detalhadamente a malha na - As não linearidades física e geométrica são
região dos furos. previstas no software utilizado;
- Todas as chapas de ligação e os componentes do
perfil foram modelados usando-se o elemento
SHELL 181 de 4 nós;
- O fuste do parafuso e a porca foram modelados
com o elemento SHELL181, impedindo a
translação na direção x, dos nós situados no plano
de simetria;
- Coeficiente de atrito igual a zero;
- Para os nós da chapa de extremidade e da porca foi
utilizado o comando “couple” nas direções z e y
(ver figura 30);
(a)
(b)
Figura30: Detalhe do modelo na região da primeira linha
de parafusos
- No apoio da viga foram impostas condições de
contorno reais, isto é, os nós foram impedidos de
transladar na direção z e o nó localizado no centro
Figura29: Malha de elementos finitos da chapa de da junção entre a mesa inferior e a chapa de apoio,
extremidade também foi impedido na direção y (figura 31);
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Figura37: Deformação na chapa de extremidade
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8 Referências
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