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CRESCIMENTO
Setembro de 2012
1
Ficha catalográfica
2012
Torres, Wagner.
A política econômica do governo Dilma e os limites do crescimento :
Wagner Cunha e Torres. – Maceíó – 2013.
(Livro)
1. FMI e a década perdida de 80 . 2. Plano Real e as armadilhas neoliberais. 3. Governo Dilma e os
limites estruturais ao crescimento .
2
A POLÍTICA ECONÔMICA DO GOVERNO DILMA E OS LIMITES DO
CRESCIMENTO
3
Dedico esta obra a meus pais, minha
irmã e Stella, minha esposa, a ela
declarando meu amor mais profundo,
Dedico-a também Ana Laura e
karolline Gabriela meus amores
eternos.
4
Aos meus avós, meus tios , primos, sogros e sobrinhos Letícia e Gabriel pelo apoio
e incentivo aos estudos.
5
RESUMO
6
SUMÁRIO
I. INTRODUÇÃO 12
7
Tabela 1 – Taxa de crescimento nominal do PIB Brasil, China e Mundo medido
em (US$) – 1960 – 2011 24
8
Gráfico 13 – Resultado Fiscal do Governo Central - 1997 a 2011 -
(% do PIB) 72
9
Tabela 5: Crédito Imobiliário 2011 - (% PIB)
98
Gráfico 29 – Volume do crédito do setor privado (R$ milhões) e Taxa de
crescimento do credito 2011 - 2012 (%) 98
10
Gráfico 39 - Evolução do saldo comercial – mundo, Estados Unidos e China, 2000-
2010
(Em US$ bilhões)
133
Tabela 8 - Evolução das importações chinesas originárias dos Estados Unidos por
intensidade
tecnológica – valor acumulado para períodos – 1990-2009
(Em US$ bilhões correntes)
134
Tabela 9- Evolução das exportações chinesas originárias dos Estados Unidos por
intensidade
tecnológica, valor acumulado para períodos – 1990-2009
(Em US$ bilhões correntes)
135
Gráfico 40: PIB da China – Taxas reais efetivas e potenciais (filtro HP) e variação
dos preços ao consumidor (em%)
139
11
Estados Unidos e Alemanha com base no US$ – 1971-2011 - (Em %)
153
Tabela 13 : Riqueza fictícia e riqueza real – 1980 a 2010 (Em US$ trilhões)
154
Gráfico 50: Brasil - Análise desagregada do Valor Adicionado do PIB – 1995 a 2011
180
Gráfico 51 - Países da OCDE - PIB per capita (preços constantes de 2000, US$) e
valor adicionado manufatureiro (% do PIB), 1981-2010
181
12
1996 a 2011 - US$ milhões FOB
183
13
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo aborda a dinâmica macroeconômica da economia
brasileira de 1994 a 2012, não apenas a luz das políticas econômicas as quais foram
implementadas, tendo por objetivo responder as seguintes questões :
1. Por que o atual modelo de política neoliberal baseada no tripé (geração
de superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante) não proporciona a
retomada do crescimento sustentável ?
2. Por que não houve mudança estrutural na competitividade do País, mas
mesmo assim possibilita a geração de superávits comerciais ?
3. A política de câmbio flutuante é condição suficiente para acomodar os
impactos das crises cambiais, possibilitando o gerenciamento adequado e a
autonomia relativa necessária à política monetária ?
4. Há possibilidade da redução da dívida pública bruta a partir da geração de
superávits fiscais primários ?
5. Qual o impacto dos Estados e Municípios na sustentabilidade da política
macroeconômica ?
6. Por que o atual modelo baseado no incremento do consumo não
possibilitará o crescimento econômico sustentável ?
Em resumo, com a adoção da estratégia da atual política neoliberal, há
possibilidade real de se reduzir, estruturalmente, a vulnerabilidade externa do País e
a fragilidade financeira do setor público, substituindo-se o predomínio da lógica
rentista pela lógica produtiva ?
A compreensão mais geral aqui adotada, acerca do processo em curso
desde a década de 80 e os reais efeitos em 2013, pode ser resumida nos seguintes
pontos:
A crise fiscal e social do Brasil de 2013 é reflexo do imperialismo norte
americano e tendo como braço forte a instituição do Fundo Monetário Internacional
(FMI) ao impor um serviço da dívida (juros e amortização da dívida) no montante de
US$ 285,5 bilhões de dólares de 1980 a 1993, refletindo em um período de semi-
estagnação e desintegração social e econômica. Salienta-se, ainda, que a despesa
com juros no alusivo período totalizou US$ 136 bilhões e a despesa com
amortização US$ 149,5 bilhões. Além disso, é necessário ressaltar que em 1980 a
dívida externa brasileira era de US$ 80 bilhões e em função da política monetária
14
altamente contracionista do Banco Central americano se evidenciou esta alusiva
dinâmica de crescimento da dívida externa brasileira em face do volume de
empréstimos, os quais foram contraídos a taxas de juros flutuantes na década de 70.
Neste contexto, produziu não só a desarticulação produtiva como a
desintegração da capacidade do Estado em face da impossibilidade de realizar uma
política fiscal tendo como instrumento as empresas estatais no sentido de realizar
investimentos. Além disso, o significativo serviço da dívida resultou na estagnação
econômica e a geração das hiperinflações, refletindo no aprofundamento da pobreza
e da miséria.
A estagnação econômica aliada a um cenário de hiperinflação foi analisado
pelos arquitetos do Plano Real como reflexo da ação ineficiente do Estado brasileiro,
e, portanto foi apresentada a fórmula “milagrosa” a modernização baseada no
modelo de economia de mercado preconizado pelo Consenso de Washington.
Entretanto, ao adotar essa política neoliberal constituiu, na realidade, uma receita de
regressão a um padrão econômico pré-industrial em face de que a não presença do
Estado no setor produtivo inviabiliza a política de investimento, e, portanto a geração
de emprego e renda (BATISTA,1994).
A combinação da política imperialista do FMI e a adoção do Consenso de
Washington foram fundamentais para que o Brasil não obtenha o mesmo dinamismo
no crescimento econômico como a China pós década de 90.
Ressalta-se que a não implantação de um ajuste fiscal e a renegociação da
dívida com as unidades subnacionais quando da implantação do Plano Real tiveram
reflexos significativos para instabilidade macroeconômica de 1994 a 1998 no que se
refere à vulnerabilidade do balanço de pagamentos, resultados pífios de crescimento
no governo FHC e impacto nas finanças públicas.
Salienta-se que a estabilidade de curto prazo do Plano Real foi assegurada
por duas âncoras : monetária e cambial refletindo no incremento da dívida pública.
Assim, a manutenção das taxas de juros elevadas foi a condição necessária para a
manutenção da política cambial. Logo, neste cenário, na ausência de uma
sustentabilidade fiscal foi somente a âncora monetária que sustentou a âncora
cambial.
15
Neste contexto, a política monetária baseada em altas taxas de juros evitou a
reduzir a demanda agregada, como também facilitou a entrada de capitais externos,
compensando em parte os déficits em transações correntes.
A manutenção da política monetária pelo Banco Central para sustentar esta
inconsistência da implantação do Plano Real até 2000 (adoção da Lei de
Responsabilidade Fiscal) na tentativa de controlar de forma simultânea juros e
câmbio não só não demonstrou ser insustentável ao longo do tempo como o seu
efeito foi o crescimento da dívida. A título de comparação em 1994 a dívida externa
correspondia a US$ 145,7 bilhões e passou para US$ 236,2 bilhões em 2000 e a
dívida líquida do setor público de 28,1% do PIB para 49,5%, sendo que se não
houvesse a privatização 57,6% do PIB em 2000.1
A geração de déficits gêmeos (fiscal e externo) foi determinante para que de
um período de relativa estabilidade e pífios resultados de crescimento o Brasil
entrasse na rota do capital especulativo rentista tanto nacional como internacional.
Assim, esta herança maldita foi transmitida ao governo Lula, a qual
aprisionado a este modelo de política neoliberal não mais definido pelo Fundo
Monetário Internacional (FMI), mas aprisionado ao capital rentista nacional e
internacional e pelas instituições econômicas multilaterais resultaram não só em
resultados pífios de crescimento, como também aumentou a dívida pública interna
bruta em relação ao PIB, ampliando ainda mais a vulnerabilidade externa no que se
refere ao incremento substancial do volume de importação de produtos
industrializados e a necessidade de financiamento externo, a qual foi obtida
mediante taxas de juros internas maiores que as internacionais.
Além disso, em face da crise mundial de 2008 adotou o modelo de
crescimento baseado no consumo e que em 2010 apresentou um alto crescimento
de 7,5% do PIB, entretanto que comparando ao período de 2009 a 2010 foi de
apenas de 3,35% conforme o PIB potencial em função dos atuais limites do
crescimento.
Adicionalmente, o atual modelo do crescimento baseado no consumo
encontra-se em vias de esgotamento, adicionado ao custo Brasil (infraestrutura,
crédito, nível educacional) e a manutenção da política neoliberal baseada no tripé
(metas de inflação, geração de superávit primário e câmbio flutuante) são os
1
Dívida Pública. Apresentação Fabio de Oliveira Barbosa, Secretário do Tesouro Nacional, à Comissão Mista de
Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional em 17/04/2001.
16
obstáculos não só a sustentabilidade do crescimento econômico como
principalmente a reduzir a gigantesca dívida social.
A análise desenvolvida apoia-se nos indicadores macroeconômicos
referentes à inflação, ao balanço de pagamentos, a balança comercial, ao
desemprego, ao PIB, as contas públicas União, Estados e Municípios, crédito e
indicadores da indústria. As fontes são, principalmente, o Banco Central, o IBGE, a
FGV, Diese, Ministério do Trabalho, Ministério da Previdência e Secretaria de
Tesouro Nacional. Além disso, no que se refere a dinâmica do poder mundial se
baseia nos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial.
Portanto, este artigo, além desta introdução está subdividido em mais nove
seções incluindo as Considerações Finais. Na primeira seção, analisa a importância
do New Deal e do Acordo de Bretton Woods para o período de recuperação
econômica e o fim alusivo Acordo resultou na crise mundial de 2008. Na segunda
seção, resgata o contexto da década de 80 em face das implicações no
desenvolvimento econômico e social do Brasil através da imposição de US$ 285,5
bilhões de dólares como serviço da dívida externa. Na terceira seção, resgata-se a
concepção do Consenso de Washington e os fundamentos da política neoliberal. Na
quarta, a implantação do modelo do Plano Real, refletindo nas vulnerabilidades
fiscais e externas, as quais tornaram o País refém do capitalismo internacional,
resultando na necessidade de buscar socorro junto ao Fundo Monetário
Internacional (FMI) e os reflexos da privatização. Na quinta, aborda o contexto da
imposição do FMI no que se refere ao modelo baseado (metas de inflação,
superávits primário e câmbio flutuante e adoção do ajuste fiscal posteriormente ao
desequilíbrio das contas públicas e internas. No sexto e sétimo tópicos serão
abordados a política econômica do Governo Lula e o incremento das fragilidades
macroeconômicas, as quais refletiram nos resultados pífios do crescimento
econômico de 2002 a 2010.
Na oitava seção, foca os limites estruturais do crescimento econômico da
política de governo Dilma tendo como importante aspecto a atual dinâmica do poder
mundial em face da relação simbiótica de dependência estrutural em relação à
China no que tange à exportação de commodities. Por fim, na nona seção, procura-
se alinhavar algumas ideias a título de conclusão.
II – A CONCEPÇÃO DO NEW DEAL ATÉ A DÉCADA DE 80
17
A retomada da acumulação, no pós crise de 1929, deve ser identificada
como ponto de partida do longo boom pós Segunda Guerra, pois foi fundamentada
em um programa de investimentos maciços em obras públicas, a qual o presidente
Roosevelt concebeu e executou com grande sucesso para retirar a economia norte-
americana da Grande Depressão, ou seja, a presença forte e decisiva do Estado
como ente planejador e produtor e articulada à nova forma de controle social
(Welfare State) especialmente nos países centrais.
Assim, segundo (PINTO ; BALANCO, 2009, p.36) a acentuada inflexão
relacionada às atribuições socioeconômicas designadas ao Estado capitalista foi
baseada em dois elementos fulcrais.
Essa, acentuada inflexão relacionada às atribuições socioeconômicas de-
signadas ao Estado capitalista baseou-se em dois elementos fulcrais : (i) um
inquestionável aparato de regulação com o propósito principal de enquadra-
mento do capital financeiro e seu direcionamento para o financiamento da
produção por meio de planejamento, considerado necessário à própria di-
nâmica do capital nesse momento histórico; e (ii) uma acomodação das
contradições entre capital e trabalho por meio de certas concessões, pelo
capital, aos trabalhadores dos países centrais (compromisso
keynesianismo / fordista ou estratégia de harmonização) e de forte
coerção, pelas ditaduras militares, dos frágeis movimentos operários dos
países periféricos.
18
O sistema de Bretton Woods (padrão dólar-ouro) foi um dos elementos
estruturais na estratégia de recuperação da economia mundial segundo (PINTO ;
BALANCO, 2009, p.37).
1) taxas fixas de câmbio, mais ajustáveis, em virtude de desequilíbrios fun-
damentais associado aos balanços de pagamentos; 2) a aceitação do con-
trole de fluxos de capitais internacionais; e 3) a criação do FMI para monito-
rar as políticas nacionais e oferecer financiamentos para equilibrar os ba-
lanços de pagamentos com desequilíbrios.
20
No sistema monetário internacional que emergiu após a ruptura do sistema
de Bretton Woods (1944-1971) e que se consolidou com a retomada da
hegemonia americana, a hierarquia de moedas revelou-se ainda mais
assimétrica, em função do caráter fiduciário da moeda-chave, garantindo
aos Estados Unidos um grau de liberdade quase ilimitado na gestão das
suas políticas cambial, monetária e fiscal.
As demais características desse sistema – cambio flexível e livre mobilidade
de capitais – reforçaram essa autonomia e, ao mesmo tempo, imprimiram
ao sistema uma instabilidade intrínseca, que atingiu de forma perversa os
países emissores de divisas inconversíveis.
23
Em suma, ao longo deste capitulo, avaliou-se a importância da política fiscal
Keynesiana e do Acordo de Bretton Woods como alicerces para a retomada do
crescimento econômico mundial. Por outro lado, a geração de déficits gêmeos de
conta corrente e fiscais dos Estados Unidos resultou no fim do alusivo Acordo,
refletindo na retomada da hegemonia americana em face da utilização da
combinação de políticas de estímulo ao crescimento econômico baseada na
combinação de políticas : monetária, de crédito, de juros e de construção
residencial, resultaram na dinâmica explosiva da dívida pública americana,
entretanto foi mantida a sustentabilidade da dívida pública em relação ao PIB.
24
III – BRASIL DO FMI AO CAOS
Neste tópico será analisada a correlação existente entre o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e os efeitos sobre o Brasil na década de 80, refletindo na
desestruturação do Estado e as suas consequências no que se refere à utilização da
política neoliberal na década de 90.,
O Brasil no período de 1974 a 1978 teve um crescimento econômico médio
anual de 6,7% e de 1979-1980 de 8,0%, entretanto as mudanças bruscas das taxas
de juros no mercado americano em face da alusiva política VolKer, resultou que ao
final de 1982 uma dívida externa de US$ 80 bilhões, a qual esta correspondia a 30%
do seu PIB tivesse uma dinâmica explosiva no seu crescimento e principalmente
uma sangria de recursos em termos de custo do serviço da dívida.
Assim, as consequências foram devastadoras no tocante ao desajuste das
finanças públicas, refletindo que a década de 80 se tornasse como a década perdida
no contexto de um período de recessão, hiperinflação, aumento da pobreza e da
miséria.
A Tabela 1 mostra que a taxa de crescimento do PIB do Brasil era bastante
superior a China e ao crescimento do PIB mundial na décadas de 1960 e 1970, e
que em face da imposição da política imperialista dos Estados Unidos utilizando o
FMI interrompeu a dinâmica de crescimento do PIB do Brasil na década de 80 e que
aliada a política neoliberal implementada nas décadas posteriores reduziram ainda
mais a taxa de incremento do PIB. No que se refere ao período de 2000 a 2008 a
entrada da China na dinâmica de poder resultou no incremento do volume das
exportações aliada a política de valorização do salário mínimo. Ressalta-se,
entretanto que este maior dinamismo no crescimento do PIB foi reflexo
principalmente da valorização do real em face que em 2000 a taxa de câmbio do
dólar era de R$ 3,9 e em 2008 passou para R$ 2,35, sendo esta determinante para
o incremento do PIB medido em valores de dólares.
No tocante ao período de 2000 a 2011, observou-se que o incremento do
PIB do Brasil aumentou consideravelmente em face das combinações da política de
estímulo ao crédito, de investimento do PAC e expansão do crédito em relação ao
PIB e da valorização do real após a irrigação de trilhões de dólares pós crise de
2008. Entretanto, o fator decisivo foi a taxa de câmbio do dólar foi de R$ 1,56,
refletindo que a taxa de incremento do PIB fosse superior a taxa de crescimento do
25
PIB Mundial. Ressalta-se, ainda, que a taxa de crescimento do PIB do Brasil na
década de 90 foi inferior a taxa de crescimento do PIB mundial.
Tabela 1 – Taxa de crescimento nominal do PIB Brasil, China e Mundo medido em (US$) – 1960 -
2011
1960 - 1970 1970 - 1980 1980 - 1990 1990-2000 2000 - 2008 2000 - 2011
Taxa de Crescimento do PIB Brasil 179,1% 455,3% 96,6% 39,6% 154,1% 284,2%
Taxa de Crescimento do PIB China 49,1% 107,0% 88,5% 235,8% 277,3% 508,9%
Taxa de Crescimento do PIB Mundial 112,9% 281,6% 99,4% 47,0% 90,5% 117,2%
Fonte : Banco Mundial
28
autonomia de decisão na formulação e execução da política
macroeconômica. Esta passaria a ser concebida a partir da disponibilidade
de recursos proporcionados pela renegociação dos débitos externos e não o
inverso, como seria o correto. Repetir-se-ia, assim, a dramática experiência
do início dos anos 20, quando a cobrança das dívidas interaliadas e das
reparações de guerra se tornou inviável por não levar em conta, como
propusera avisadamente Keynes, a "capacidade de pagamento" dos
devedores.
29
proporções e de efeitos ainda imprevisíveis para a economia internacional,
a curto e médio prazos.
Não é por outra razão que o acréscimo das exportações brasileiras poderia ser
de 10% através do mecanismo de desvalorização do cruzeiro em relação ao valor do
dólar, resultando em efeitos inflacionários a curto prazo (FASSY,1984,p.25).
É de grande importância a análise feita por (FASSY,1984,p.28) no que
concernem as causas fundamentais para que as transnacionais comecem a ter
superávits na balança comercial.
1) o enfraquecimento da demanda interna a partir de 1974;
2) a manutenção de um importante esquema de promoção das exportações
3) os efeitos do programa de substituição de importações implementadas
com o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento; e
4) a política restritiva do governo, objetivando corrigir os desequilíbrios da
balança de pagamentos.
30
prejuízos ou baixos lucros apresentados por algumas estatais que passaram a
acumular dívidas ao longo dos anos.
Assim, basicamente a política subordinada ao FMI resultou nas pressões
inflacionárias generalizadas e persistentes; o desemprego generalizado de fatores,
particularmente da mão-de-obra, a qual assumiu formas crônicas; o desequilíbrio
das finanças públicas ; a perda da capacidade de realização de investimentos
estruturantes. Além disso, o Brasil aumentou sua vulnerabilidade em relação às
contas externas em face do vazamento de renda reflexo do significativo serviço da
dívida de 1980 a 1993 impactando assim na taxa de crescimento da economia.
31
IV – O CONSENSO DE WASHINGTON E OS FUNDAMENTOS DA
POLÍTICA NEOLIBERAL
A crise da dívida externa na década de 1980 e o impacto estrutural das
finanças públicas do Estado brasileiro aliada ainda a deterioração da capacidade de
investimento das estatais e, portanto o sucateamento das mesmas, resultaram na
desestruturação das cadeias industriais (estatais e privadas), bem como na
desintegração social e econômica em face de uma década de estagflação. Assim, o
Consenso de Washington e os fundamentos da política neoliberal2 possibilitaria o
ingresso do país a modernização e ao crescimento econômico ?
As propostas do Consenso de Washington se convergiram para a drástica
redução do Estado e ao máximo de abertura à importação de bens e serviços
(BATISTA,1994,p.18)
As propostas do Consenso de Washington nas 10 áreas a que se dedicou
convergem para dois objetivos básicos: por um lado, a drástica redução do
Estado e a corrosão do conceito de Nação; por outro, o máximo de abertura
à importação de bens e serviços e à entrada de capitais de risco. Tudo em
nome de um grande princípio: o da soberania absoluta do mercado autore-
gulável nas relações econômicas tanto internas quanto externas.
2
A avaliação objeto do Consenso de Washington abrangeu 10 áreas: 1. disciplina fiscal; 2.
priorização dos gastos públicos; 3. reforma tributária; 4. liberalização financeira; 5. regime cambial; 6.
liberalização comercial; 7. investimento direto estrangeiro; 8. privatização; 9. desregulação; e 10.
propriedade intelectual.
3
Este plano leva o nome do então Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Nicholas F. Brady,
que pretendia renovar a dívida externa de países em desenvolvimento, mediante a troca por
bônus novos. Estes bônus contemplavam o abatimento do encargo da dívida, através da redução
do seu principal ou pelo alívio nos juros. Além de emitir os bônus, os países deveriam promover
reformas liberais em seus mercados.
32
A inserção do Brasil na chamada globalização representou o ingresso em
uma nova etapa da história de expansão da economia capitalista
(GOMES,2007,p.38).
O contexto internacional, nas décadas de 1980 e 1990, entretanto, era bem
bem diferente dos anteriores e a economia capitalista mundial exigia, dos
mercados periféricos, medidas liberalizantes, sob a influência das altas
finanças consorciadas com as políticas de Estado, principalmente, o norte-
americano. Logo, a inserção, na chamada globalização representou, antes
de tudo, o ingresso em uma nova etapa da história de expansão da
economia capitalista que, a partir de seus centros de poder mundial, foram
constituindo novas relações de poder.
A dívida do ‘Terceiro Mundo’ foi uma alavanca poderosa que permitiu impor
políticas enérgicas de ajuste estrutural, austeridade fiscal, liberalização e
privatização” (CHESNAIS, 2005, p. 67 apud GOMES, 2007, p.38).
A adoção irrestrita do Consenso de Washington representou o fim da
estratégia de desenvolvimento e soberania na administração das políticas
econômicas (CANO, 2000 apud GOMES, 2007, p.39).
A adoção irrestrita das políticas neoliberais na América Latina anunciou o
fim das experiências de desenvolvimento econômico e a perda considerável
de graus de soberania no manejo das políticas econômicas e de autonomia
dos principais centros decisórios desses países.
Como vem apontando Santos (1998; SANTOS ET AL., 2001; 2004a; 2004b
apud GOMES, 2007, p.39 ), o que ficou conhecido como “crise fiscal” não passou de
um artifício para que o Brasil se inserisse em uma estratégia passiva no contexto
mundial.
33
o que ficou conhecido como “crise fiscal” não passou de um artifício ideoló-
gico para legitimar o processo de reestruturação das atividades e funções
públicas e estabelecer um novo padrão de intervenção estatal, adequado e
capaz de estabelecer as bases e condições da abertura econômica e da
integração às correntes do processo de acumulação, em escala
internacional.
Neste contexto, é que se configurou a armadilha do Plano Real, pois este foi
baseado não só em um nível baixo de carga tributária em percentual do PIB, bem
como neste período já se evidenciava uma alta vinculação da receita a despesa, a
qual não possibilitava uma gestão fiscal eficiente tanto no que se refere à geração
de superávit primário para manter a sustentabilidade da dívida pública como também
a atuação do Estado como ente dinamizador do crescimento econômico no que se
refere à realização de investimentos estruturantes como : educação e infra-estrutura.
34
V - DO PLANO REAL A CRISE DE 1998
O Plano Real foi fundamentado em uma política de estabilização monetária
alicerçada na sobrevalorização da nova moeda criada (o Real) e na abertura
comercial e financeira e sob duas âncoras a monetária e a cambial, entretanto sem
um sustentáculo fiscal. O impacto sobre as taxas de inflação foi de imediato em face
que estas reduziram sistematicamente durante os quatro anos do primeiro governo
FHC - considerando o IGP, IGP-DI, IPC-A (Tabela I).
A estabilidade dos preços propiciou um circulo virtuoso e crescimento do
consumo, da produção e emprego (FILGUEIRAS ; PINTO 2009, p.254).
A estabilidade dos preços no seu período inicial – notadamente de julho de
1994 a março de 1995 – propiciou um círculo virtuoso de aumento do con-
sumo e crescimento da produção e do emprego, impulsionado pelo fim do
imposto inflacionário e ampliação do crédito.
35
Nesse sentido, os pressupostos neoliberais partiam da premissa de que os
países que realizassem uma liberalização financeira de seus respectivos
mercados, aumentando o grau de exposição às finanças internacionais
(liberalização financeira) por meio da abertura da conta de capital,
alcançariam melhores condições de financiamento para modernização da
capacidade produtiva. Segundo esses pressupostos, como os países da
periferia apresentam uma relativa escassez de capital, por isso
apresentando condições de financiamento menos favoráveis, a liberalização
permitiria ampliar o mercado de capitais e créditos, elevando a
concorrência. Com isso os agentes econômicos teriam possibilidades mais
abrangentes de alocar capital e em situações menos dispendiosas devido
às taxas de juros mais baixas.
Essa estratégia foi útil para condicionar o grau de abertura econômica do país,
refletindo na atual política de estabilização econômica, entretanto com impactos
significativos nos atuais resultados pífios de crescimento econômico obtido pelo
Brasil de 2002 a 2012. Assim, o reflexo desta estratégia se reflete no atual volume
de importação no segmento de industrialização ; na dinâmica do incremento da
dívida pública bruta no que se refere à elevada proporção em relação ao PIB,
mesmo com a manutenção da elevada geração de resultados primários (ver
tópico IX).
A avaliação feita por (CARVALHO, 2004 apud GOMES,2009,p.218) centra a
deterioração exclusivamente nas contas públicas da União antes do Plano Real.
Entre 1991 e 1993, a necessidade de financiamento do setor público, exigia
superávits na ordem de 2% a 5%. O equilíbrio fiscal e as condições mais
favoráveis da relação dívida/ PIB, estabeleceram a redução das despesas
com juros, dando lugar a déficits operacionais próximos de zero.
36
Quando se comparam os resultados médios de 1991/1994 e de
1995/1998, nota-se que o superávit primário do setor público
consolidado de 2,9% do primeiro período converteu-se em um déficit de
0,2% do PIB nos quatro anos seguintes.
[....] se observa a “fotografia” do déficit público a cada ano, o desequilíbrio
de Estados e municípios foi, durante, a maior parte do período
1994/1998, o responsável pelo pior resultado primário no conjunto das
três unidades de governo consideradas – governo central; estados e
municípios e empresas estatais. Entretanto, quando se analisa a tendência
verificada ao longo do período, cabe chamar a atenção para a nítida
deterioração da performance das contas do governo central.
37
a impossibilidade do governo de se financiar via senhoriagem (emissão de moeda)
resultou na trajetória da insustentabilidade da dívida pública. Além disso, apesar de
ter ocorrido um incremento da carga tributária esta foi demasiadamente inferior a
real necessidade para gerar o superávit primário em % do PIB em face da gestão da
política econômica conduzida no período na era Malan no sentido de manter a
sustentabilidade da dívida pública conforme os preceitos do FMI.
Para corroborar esta análise evidencia-se o significativo crescimento da
arrecadação tributária de 1999 em relação as receitas de 1991-1993 (CARVALHO,
2004 apud GOMES, 2009,p.219)
“Pelo lado da arrecadação tributária, além do aumento dos impostos, houve
elevação muito maior das contribuições (Cofins, PIS/Pasep) que passaram
de 30% das receitas entre 1991-1993, em média, para 43% em 1999.”
4
A entrada de oferta de divisas estrangeiras força o Banco Central a emitir reais, mas o Banco
Central para evitar o aumento da inflação realiza operações de open market.
38
despendidos para atender a elite financeira nacional (CARVALHO, 2004 apud
GOMES, 2009, p.219).
Carvalho (2004) afirma existir uma certa dificuldade para se ponderar a
influência desses fatores sobre o aumento da dívida pública. Entretanto, por
hipótese, se levarmos em consideração a gestão da política econômica
durante o período, podemos constatar que a dinâmica das taxas de juros e
a estratégia conservadora de restringir a base monetária e os meios de
pagamento estão entre os fatores que mais influenciaram no aumento do
estoque da dívida do setor público.
[...] Não se deve, entretanto, minimizar a importância do volume de recursos
públicos que foram despendidos para atender a elite financeira nacional
(Proer), bem como a absorção das chamadas “moedas podres” no processo
de privatizações.
39
acelerado de privatização não contribuiu significativamente para redução da relação
dívida líquida em face da política monetária conduzida na época.
O processo de privatização acelerado de 1997 a 1999 não contribuiu para
reduzir o estoque da dívida pública segundo (BELLUZO & ALMEIDA, 2002, p.391 ;
apud GOMES,2009, p. 214).
As receitas das vendas entre 1997 e 1998 alcançaram cerca de 3% do PIB.
As privatizações não teriam alcançado tal envergadura se por trás não
houvesse a estratégia central de atrair capitais externos para auxiliar no
ajustamento do balanço de pagamentos. Até o início da década de 1990 era
insignificante a presença dos investimentos externos diretos na economia
brasileira. De pouco mais de US$ 400 milhões em 1990, esses
investimentos alcançaram as cifras estratosféricas de US$ 30 bilhões em
1999 (Gráfico 6.3). De acordo com Belluzo & Almeida (2002,p.391) “ esses
números contrastam com os resultados da dívida pública e do desequilíbrio
fiscal, que prosseguiram como se uma privatização de tal envergadura não
tivesse em curso.
Assim, segundo Gomes (2009,p. 216) avaliou que a privatização seria um dos
fatores estruturais para os resultados pífios de crescimento no longo prazo.
No longo prazo, a consequência do processo de abertura econômica e da
privatização poderá vir sob a forma de maiores pressões sobre o balanço de
de pagamentos, tornando ainda mais estrutural o problema dos saldos ne-
gativos na conta de serviços. A evolução da remessa de lucros e
dividendos entre 1992 e 2003 é considerável. Elas passam de US$ 574
milhões para US$ 7 bilhões em 1998. Mesmo caindo nos anos posteriores
para uma média de US$ 4,5 bilhões, em 2003 voltou a subir alcançando
US$ 5 bilhões.
O fato é que muitas dessas empresas estrangeiras que remetem lucros e
dividendos não produzem mercadorias exportáveis. A maioria está concen-
trada nos setores de serviços de bens não-tradeables. Como não produ-
zem bens exportáveis, então não têm como garantirem a remessa de lucros
para o exterior. Ademais vários setores onde ocorreram as privatizações,
fusões e aquisições, como o aumento da participação de grupos estrangei
ros, apresentam a peculiaridade de serem intensivos no uso de tecnologi-
as avançadas, geralmente importadas (e.g, telecomunicações, setor finan-
ceiro), com isso contribuindo para uma certa rigidez do volume de
importações.
40
Salienta-se, ainda, que o reduzido volume de investimentos em ampliação na
melhora da infraestrutura do setor telecomunicações do período da privatização até
2012 reflete na baixa qualidade na prestação de serviços contribuindo para o alto
custo Brasil em face da deficiência tecnológica no que se refere a atual capacidade
da rede de Internet.
A conta de capital (empréstimos, financiamentos e investimentos externos
diretos) financiando o desequilíbrio externo, era necessária, conforme já salientado
anteriormente e o governo utilizou a esterilização para absorver o excedente de
dólares que entrava no país no sentido de evitar a expansão de liquidez interna e,
portanto, não provocar a inflação.
A esterilização do aumento da liquidez resultou na trajetória explosiva da
dívida interna no sentido de absorver a entrada de capitais externos, sobretudo o
volátil. Assim, em um cenário de combinação de uma política monetária baseada em
alta taxa de juros reais tornou difícil a manutenção do regime em câmbio fixo e
aliada ainda fluxos livres de capital conforme análise de Mankiv (2004, p.264) sobre
a trindade impossível, a qual foi administrada pelo Banco Central a serviço da
política neoliberal fundamentada pelo Consenso de Washington “[.....] é impossível
para uma nação ter fluxos livres de capital, uma taxa de câmbio fixa e política
monetária independente”.
Assim, a política neoliberal implantada pelo FHC sob o regime de trindade
impossível resultou em uma geração de déficits gêmeos e que aliada a referida
política monetária conduziu a uma trajetória de dívida explosiva e principalmente a
necessidade de recorrer ao FMI e a sua ortodoxia sob o regime do tripé (metas de
inflação, geração de superávits primários e câmbio flutuante), a qual nos mantém
refém dos capitalistas rentistas nacionais e internacionais), sendo hoje um dos
fatores estruturais para os resultados pífios do crescimento no que tange ao período
de 1998 a 2012.
Em resumo (TORRES, 2010,p.25) analisa que, no período de 1994 a 1998, a
gestão da política neoliberal nos conduziu a um financiamento configurado como
devedor Ponzi conforme se evidencia na insustentabilidade do déficit de conta
corrente e na geração de déficits comerciais (Gráfico 1), ou seja, segundo o
economista Mario Henrique Simonsen “se a inflação aleija o balanço de pagamentos
mata”.
O Plano Real teve como instrumentos a âncora cambial e a política extre-
41
mamente restritiva do Banco Central, por conseguinte a combinação de
ambas foi determinante para o aumento dos déficits em conta corrente de-
corrente da perda de competitividade das exportações. Além do mais, a
geração de resultados primários deficitários concomitantemente a política
monetária altamente restritiva do Banco Central em face à necessidade de
atrair os dólares para financiar os altos e crescentes déficits de conta cor-
rente refletiram em resultados nominais deficitários do setor público con-
solidado.
15
10
5
0
-5
-1 0
-1 5
-2 0
-2 5
-3 0
-3 5
-4 0
1994 1995 1996 1997 1998
Re sultado C.C -1 ,8 -1 8 ,4 -2 3 ,5 -3 0 ,5 -3 3 ,4
Balanç a Come rc ial 1 0 ,5 -3 ,5 -5 ,6 -6 ,8 -6 ,6
SRT -1 2 ,3 -1 4 ,9 -1 7 ,9 -2 3 ,7 -2 6 ,8
43
Salienta-se, ainda, que FHC conseguiu apoio político para aprovar as
medidas de ajuste com as quais foram fundamentais para renegociar o acordo com
o FMI em um novo cenário (GIAMBIAGI, 2005, p.178).
Como este incluía uma dívida pública maior – devido ao efeito da desvalori-
zação sobre a parcela da dívida afetada pelo câmbio -, foi necessário am-
pliar a meta de superávit primário, que passou a ser de 3,10%; 3,25% e
3,35% do PIB para os anos de 1999 a 2002, implicando um forte aperto fis-
cal, em particular, nas condições do governo central.
Outra importante análise feita por Giambiagi (2005, p. 178 - 179) é que
apesar da significativa desvalorização do real não resultou em efeitos inflacionários
em face da importância dos seguintes fatos:
A desvalorização ocorreu em um momento de “vale” da produção industrial
no primeiro trimestre de 1999, estava 3% abaixo do primeiro trimestre de
1998 que, por sua vez, era 3% inferior ao primeiro trimestre de 1995, ge-
rando uma contração de demanda que diminuiu muito a chance de repasse
de câmbio aos preços.
Quase cinco anos de estabilidade e desmontagem dos mecanismos de
reajuste tinham de fato mudado a mentalidade indexatória dos agentes eco-
nômicos, que tinha prevalecido até o Plano Real.
A política monetária rígida – caracterizada por uma taxa de juros real de
15% em 1999 – cumpriu o papel esperado de conter o ritmo de
remarcações e de apreciar o Real,após o overshooting inicial.
O aumento de salário mínimo em maio de 1999, de menos de 5% nominais
quando muitos analistas ainda projetavam taxas de inflação da ordem de
20% teve um papel crucial nas negociações salariais da época, balizando
reajustes baixos.
Desta forma, mais uma vez foi a classe trabalhadora, a qual foi prejudicada,
ou seja, refletindo no incremento da participação do capital rentista em relação a
renda nacional.
O balanço do período de 1999 a 2002 resultou em um crescimento que
permaneceu baixo, pois continuou amargando taxas de juros reais elevadas a
reboque dos interesses do capitalismo internacional de outro houve melhora
sistemática da balança comercial e do resultado em conta corrente, apesar deste
continuar sendo deficitário.
Destaca-se a importância da análise feita por Giambiagi (2005, p.182) “[.....]
no que concerne ao ajuste fiscal feito pelo país no início do processo e que até os
mais otimistas julgavam que seria muito difícil de implementar: entre 1998 e 2002, a
melhora do resultado primário foi de quase 4% do PIB”.
Acrescenta-se, ainda, que o ajuste fiscal foi fundamental para os resultados
pífios do crescimento econômico, pois foi conseguido via aumento da carga tributária
e em face da anomalia do sistema de gestão fiscal do Brasil, o qual vincula à receita
44
a despesa e que em quase sua totalidade se direciona para expansão dos gastos
correntes e principalmente o incremento da despesa de pessoal em função da
vinculação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
A condução da política econômica a partir de 1999 baseada em uma política
de câmbio flutuante combinada as altas taxas de juros reais além de trazer os
resultados pífios de crescimento do PIB. Por conseguinte, do período de 1995 a
1997, as empresas nacionais foram forçadas a endividar-se em dólares, contribuindo
para financiar o déficit em conta corrente, pois a altíssima taxa de juros tornava
impossível investir para aumentar a capacidade produtiva e em novas tecnologias
visando incrementar a produtividade, refletindo assim na diminuição da participação
do setor público em relação ao total da dívida externa.
A partir do começo de 1999, o país iniciou um processo de retomada do
crescimento que só viria a ser abortado pela combinação de crises de 2001.
Primeira, a crise de energia em face da ausência de realização de investimentos
para cumprir as elevadas metas de resultado primário (% do PIB) impostas pelo FMI.
A segunda o “efeito tango” denominado contágio argentino, o qual resultou na
redução da entrada de capitais e que combinado aos ataques terroristas de 11 de
setembro, os quais resultaram na perda de bilhões de dólares em prejuízo com a
queda de ações (GIAMBIAGI, 2005, p.181)
Nesse contexto,o risco-país voltou a aumentar, refletindo uma menor dis-
ponibilidade de capitais para o país e afetando os juros domésticos. Isso
comprometeu o desempenho médio da economia no segundo governo
FHC.
45
demonstravam que Lula seria o candidato do povo sofrido por tanta imposição de
uma política imperialista americana utilizando o FMI como instrumento de
submissão.
Entretanto as elites brasileiras que usurparam o suor, o trabalho e
principalmente a esperança de ter uma vida digna e aliado ao capitalismo rentista
internacional desestabilizou mais uma vez o país não por que o Brasil deixou de
gerar superávit primário para manter a sustentabilidade da dívida pública, e sim
porque o sentido do capitalismo rentista nacional e internacional é obter o mais alto
retorno possível em um curto espaço de tempo.
Gráfico 2 – Resultado nominal e primário do setor público consolidado (%PIB)
Assim, neste alusivo cenário assume Lula5, e que em virtude da crise gerada
pela elite rentista nacional e internacional produziu uma valorização da moeda
brasileira de R$ 2,20 para R$ 3,96 a ponto de o Brasil estar a beira do precipício
reflexo de uma crise fabricada pelo mercado (PAULANI, 2008,p.24).
As reservas começam o ano em cerca de US$ 36 bilhões (a média de 2001
foi de US$ 36,3 bilhões), oscilam para US$ 33 bilhões em abril e maio, al-
cançam a faixa dos US$ 40 bilhões em junho e julho, ficam na esfera dos
US$ 38 bilhões em agosto e setembro e dos US$ 36 bilhões no bimestre
seguinte, fechando o ano com US$ 37,8 bilhões.
[....] Em dezembro de 2002, portanto do ponto de vista das condições ne-
cessárias para honrar os compromissos externos, a situação estava equa-
cionada. Além disso, e este talvez seja um elemento ainda mais importante,
a balança comercial vinha apresentando resultados absolutamente surpre-
endentes, superando em cerca de 50% as previsões feitas pelo próprio go-
verno. Assim, do ponto de vista da performance futura das contas exter-
nas, em dezembro de 2002 as expectativas eram muito melhores do que
as existentes, por exemplo, um ano antes, quando se esperava um resul-
tado positivo nessa área, porém não na magnitude do efetivamente obtido.
5
Vítima do imperialismo norte americano e de uma elite agrária, pois nasceu miserável, passou fome conduziu
a sua trajetória de história política baseada na relação de exploração capital e trabalho, mas quando assumiu
com sonho de mudar o destino do Brasil e com um apoio massivo das urnas foi incapaz de modificar em face
que ao assumir o governo não era mais a relação de capital e trabalho que teria de enfrentar, e sim a mais
perversa a relação capital volátil aliada a herança maldita versus a vontade de reduzir a gigantesca dívida social.
47
resultado mais expressivo para a obtenção desses superávits vem mesmo
do lado das exportações.
6
A elevação da carga tributária do setor público, associada a um sistema tributário complexo e
intrincado, gera custos e desincentivos não apenas à atividade produtiva, mas ao consumo,
impactando negativamente o crescimento econômico. Aliada ainda a alta vinculação da receita a
despesa, a qual compromete uma gestão fiscal eficiente no que se refere a ampliação dos
investimentos.
49
O segundo governo Lula pode ser analisado como apenas pragmático no
sentido da manutenção da política neoliberal e tendo como foco exclusivo o controle
da inflação, a qual refletiu no incremento da vulnerabilidade macroeconômica
(crescimento econômico, inflação, finanças públicas e contas externas). No que
concerne à área financeira esta envolve a análise das seguintes variáveis : ingresso
líquido de capital externo; o descompasso (entre ativos e passivos correlatos) em
montantes, prazos e moedas ; a ampliação do volume de crédito em percentual do
PIB ; nível de endividamento externo ; valor líquido das reservas internacionais e
desalinhamento da taxa de câmbio.
A gestão fiscal do setor público consolidado ineficiente no que concerne à
manutenção da sustentabilidade da dívida agrava ainda mais a alusiva
vulnerabilidade macroeconômica. Entretanto, diferentemente do governo FHC, o
qual agravou a miséria e, portanto, a instabilidade social o segundo governo Lula
reduziu a miséria em face da política do incremento da valorização do salário
mínimo e do Programa da Bolsa Família. Ressalta-se que estes foram importantes
para a manutenção dos pífios resultados de crescimento econômico e os reflexos no
aumento da arrecadação do ICMS, entretanto contribuiu para a deterioração das
contas da Previdência da União.
A utilização da política monetária contracionista pelo Banco Central em
nome da credibilidade do mercado, apesar de ter reduzido significativamente as
taxas de juros reais impactou na taxa de crescimento da economia, e manteve a
sustentabilidade da pública bruta7 em percentual do PIB.
O crescimento econômico do Brasil ,no período de 2006 – 2010, apresentou
resultados pífios, sendo que evidenciamos um ponto de inflexão em 2008 em face
da crise econômica mundial, a qual forçou o governo a utilização da política de
estímulo de crédito, refletindo no incremento do PIB. Neste contexto, evidencia-se
um incremento do volume de crédito em percentual do PIB, bem como do crédito
imobiliário em % do PIB e estes tiveram impacto em relação crescimento real do
PIB. A título de comparação em 2008, 2009 e 2010 foi de 5,2%, -0,3%, 7,5%.
Entretanto, considerando os exercícios de 2009 e 2010 evidencia-se que o
7
O aumento da dívida pública foi reflexo do incremento do volume de recursos do Tesouro ao BNDES, Caixa
Econômica Feral e aliada a manutenção de uma taxa de juro real muito superior a taxa de crescimento da
economia exigindo a manutenção de um alto superávit primário em percentual do PIB para manter a
sustentabilidade da dívida pública.
50
crescimento do PIB foi de 3,6% conforme a projeção do PIB potencial para não
aumentar ainda mais o desequilíbrio da conta corrente e impactar no crescimento da
inflação.
A necessidade de aumentar o investimento em infraestrutura da União fez o
governo lançar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o período de
2007 a 2010 e segundo a análise de (FILGUEIRAS ; GONÇALVES,2007,p.199) o
impacto do PAC é pouco significativo.
Os dados indicam que os investimentos da União são relativamente baixos.
A taxa média anual de investimento da economia brasileira foi de
aproximadamente 16% no período 2003 – 2006. Essa taxa esteve
associada à taxa média anual de crescimento do PIB de 3,3%. Para que o
país possa atingir taxa de crescimento de longo prazo da ordem de 5%
como previsto no PAC, a taxa de investimento terá que subir para
patamares superiores a 20%. É pouco provável que o multiplicador de renda
gerado pelos investimentos da União, da ordem de 0,6% do PIB, seja
significativo.
51
Assim, a manutenção desta política monetária em face da necessidade de poupança
externa para financiar o investimento além de agravar a perda de competitividade da
indústria resultou no incremento das despesas de viagens internacionais e
principalmente a elevação do déficit comercial no segmento de produto
industrializado.
Neste contexto, assim como o Plano Real foi executado sem o alicerce fiscal
e foi mantido a ferro e fogo para que o FHC fosse reeleito o Lula em 2010 manteve a
alusiva política monetária para transmitir a ilusão aos brasileiros que estavam ricos
no que se refere a Paridade do Poder de Compra em dólar ,e, portanto contribuiu
favoravelmente para a eleição da presidente Dilma. Salienta-se, ainda, o efeito
tsunami de dólares e de euro, os quais contribuíram para a valorização do real em
relação as duas moedas em face da livre entrada de capital no alusivo período de
2009 e 2010.
Destarte, o governo Lula resultou em um agravamento da herança maldita
para o Governo Dilma no que se refere à deterioração das finanças públicas em face
do aumento da dívida pública, o incremento da vulnerabilidade externa no que se
refere não só ao déficit de conta corrente, bem como ao aumento do volume de
importação de produtos industrializados e o aumento da carga tributária do setor
público consolidado.
53
impactando no crescimento econômico e como dependência estrutural em relação a
China.
Assim, os efeitos do processo de abertura comercial refletiram no aumento
estrutural da necessidade de financiamento externo (CARCANHOLO, 2010,p.118).
A abertura comercial, de um lado, promove dois efeitos. O primeiro, em as-
sociação com uma conjuntural valorização cambial, é a construção de ele-
vados déficits comerciais que precisam ser financiados. O segundo, de
uma forma mais estrutural, promoveria uma espécie de processo de substi-
tuição de importações às avessas, isto é, o fato dos produtos importados fi-
carem mais baratos que os de produção nacional por um determinado tem-
po leva à quebra das empresas nacionais que produziam esses produtos.
[.....] Tanto um efeito como o outro mostram como a abertura comercial le-
va ao aumento estrutural da necessidade de financiamento externo, em
função do maior crescimento estrutural das importações.
Gráfico 3 – Exportação por fator agregado do Brasil – 1998 a 2012 (US$ Bilhões)
54
140.000
120.000
100.000
80.000
Produtos básicos
60.000 Industrilaizados
40.000
20.000
-
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Fonte : SECEX
Nota : O total do segmento industrializado é a soma dos produtos manufaturados e semi-
manufaturados.
250.000
200.000
150.000
Produtos básicos
100.000 Industrilaizados
50.000
-
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Fonte : SECEX
Nota : O total do segmento industrializado é a soma dos produtos manufaturados e semi-
manufaturados.
Os resultados da balança comercial do Brasil demonstram a dependência
estrutural em relação à China em face que de um déficit comercial de US$ 6,6
55
bilhões em 1998 passou para um superávit US$ 14 bilhões em 2012. Entretanto em
relação a este se evidencia um ponto de inflexão em 2006, pois a partir deste
período o superávit comercial vem sendo reduzido sistematicamente em função da
perda da competitividade da indústria brasileira em face da combinação da
valorização do real em relação ao dólar aliada ao custo Brasil (corrupção
administrativa pública elevada ; déficit público elevado ; manutenção de taxas de
juros reais elevadas; carga tributária alta ; altos custos trabalhistas ; legislação fiscal
complexa e ineficiente ; infraestrutura precária (sistema de portos, aeroportos,
estradas e ferrovias e baixa qualidade educacional e falta de mão de obra
qualificada), os quais refletem na perda de competitividade , principalmente a partir
de 2008 com as medidas de afrouxamento quantitativo correlacionada ao diferencial
da taxa de juros no Brasil em relação ao resto do mundo principalmente em face da
livre entrada de capital.
Gráfico 5 – Resultado da Balança Comercial do Brasil – 1998 a 2012 (US$ Bilhões)
300.000
250.000
200.000
150.000 Exportações
Importações
100.000 Déficit Comercial
50.000
-
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
(50.000)
Fonte : SECEX
Por fim, a quarta armadilha no que se refere ao processo de stop and go, a
qual caracteriza a economia brasileira a partir dos anos 90, refletindo nas oscilações
conjunturais da atividade econômica (CARCANHOLO,2010,p.119).
Se, por alguma eventualidade, esse nível de atividade crescesse, isso impli-
caria um aumento da renda que, por sua vez, levaria à elevação da
demanda por importações e, portanto, do déficit das transações correntes. A
necessidade de financiar este déficit com capital externo obriga o aumento
das taxas internas de juros, o que aborta aquele ensaio inicial de
crescimento econômico.
57
resultou em um déficit de transações correntes de US$ 188 bilhões. A conta de
transações correntes é a soma da balança comercial e da balança de serviços e
rendas, e esta foi desfavorável e de dimensão muito grande (US$ 208,9 bilhões),
sendo que a conta de renda de investimentos contribuiu significativamente para este
resultado com o montante de US$ 139,5 bilhões. Além disso, o déficit de transações
correntes foi financiado por investimentos diretos no montante de US$ 156,2 bilhões.
40 .0 0 0
30 .0 0 0
20 .0 0 0
10 .0 0 0
0
19 9 4 1995 1996 1 99 7 19 9 8 1999 2000 2 0 01 2 00 2
-10 .0 0 0
-20 .0 0 0
-30 .0 0 0
-40 .0 0 0
150.000
100.000
50.000
-
-50.000
-100.000
-150.000
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Conta Capital e Financeira 5.111 -7.523 -9.464 16.299 89.086 29.352 71.301 99.912 112.380 72.762
Investimento Direto 9.894 8.339 12.550 -9.380 27.518 24.601 36.033 36.919 67.689 68.093
Serviço e Rendas -23.483 -25.198 -34.276 -37.120 -42.510 -57.252 -52.930 -70.322 -85.251 -76.523
Balança comercial (FOB) 24.794 33.641 44.703 46.457 40.032 24.836 25.290 20.147 29.794 19.431
Transações Correntes 4.177 11.679 13.985 13.643 1.551 -28.192 -24.302 -47.273 -52.473 -54.246
4 0 0 .0 0 0
3 5 0 .0 0 0
3 0 0 .0 0 0
2 5 0 .0 0 0
2 0 0 .0 0 0
1 5 0 .0 0 0
1 0 0 .0 0 0
5 0 .0 0 0
61
PRODUTOS PREÇOS MÉDIOS DE EXPORTAÇÃO – US$ / TON
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Café cru 1.613 964 770 951 1.240 1.861 1.984 2.270 2.637 2.294 2.893 4.466
Soja grão 190 177 190 216 280 238 227 283 447 400 380 495
Farelo Soja 176 183 176 191 226 199 196 237 355 375 345 397
Fumo folha 2.380 2.116 2.103 2.258 2.383 2.693 2.993 3.160 3.958 4.521 5.490 53.895
Açúcar brut 175 198 146 162 158 206 307 251 268 333 444 573
Açúcar ref. 203 215 172 173 182 234 368 285 313 376 489 652
Suco laranj 832 666 867 750 668 625 829 1.090 972 783 897 1.184
Carne frang 889 1.034 834 889 1.029 1.203 1.130 1.402 1.781 1.475 1.673 1.979
Carne bov 2.668 2.006 1.804 1.862 2.122 2.228 2.558 2.711 3.917 3.264 4.059 5.083
Carne suín 1.403 1.400 1.045 1.150 1.580 1.938 2.045 2.104 2.918 2.102 2.645 2.949
Celulose 532 374 337 382 345 367 397 458 542 385 540 561
Couros 3.891 4.180 4.162 4.157 4.080 4.266 4.600 5.647 6.474 3.766 5.074 5.851
Minério 19 19 18 20 22 33 37 39 59 50 93 126
Alumínio 1.536 1.446 1.322 1.376 1.633 1.816 2.435 2.608 2.590 1.561 2.113 2.395
Petróleo 164 126 139 168 210 291 359 405 606 342 495 691
Fonte : AEB
62
poderá agravar o financiamento do déficit de conta corrente não só em 2013 como
os exercícios posteriores.
11
DLSP corresponde à diferença entre passivos e ativos acumulados pelas três esferas do governo,
incluindo o Bacen, e pelas empresas estatais
64
Destarte, a análise da inter-relação entre o incremento das reservas
internacionais e o aumento simultâneo de um passivo e um ativo para o setor
público (GOBETTI ; SCHETTINI, 2010, p.7).
Da mesma forma que as emissões do Tesouro Nacional (TN) destinadas a
captar recursos para emprestar ao BNDES, as operações compromissadas
do Bacen que lastreiam a compra de dólares para as reservas também ge-
ram simultaneamente um passivo e um ativo para o setor público. Entre de-
zembro de 2001 e junho de 2010, os créditos com as instituições financei-
ras oficiais cresceram de 0,3% para 6,8% do PIB, enquanto os créditos ex-
ternos vinculados às reservas internacionais cresceram de 4,5% para
13,1% do PIB.
65
macroeconômicas (deterioração das transações correntes e agravando os
problemas fiscais).
A trajetória de incremento do endividamento da dívida bruta foi resultado do
impacto do diferencial de juros sobre a estrutura de ativos e passivos e das políticas
monetária, cambial e fiscal (GOBETTI ; SCHETTINI, 2010, p.8).
Observado o significativo diferencial de juros entre nossa dívida mobiliária,
por mobiliária, por um lado, e nossos créditos externos e internos, por outro,
toda política (cambial, monetária ou creditícia) que implique ampliação si-
multânea de passivos e ativos possui um custo em médio e longo prazo,
embora estatisticamente não altere o endividamento líquido.
12
A LRF cassou o direito de o Bacen emitir títulos públicos, estipulando prazo de transição de dois
anos – a partir de maio de 2000 – para que a nova sistemática de financiamento da política
monetária fosse gradualmente implementada. Quando os títulos do Bacen começaram a ser
resgatados e o próprio Tesouro passou a emitir títulos e transferi-los para a autoridade monetária
utilizá-los em operações compromissadas (OC), então os novos títulos passaram a integrar a DBGG
– enquanto os antigos títulos não.
67
abranger o período crítico de transição da carteira deste para o Tesouro,
impossibilitando, portanto, comparações temporais.
Fonte : Elaboração Sérgio Wulf Gobetti e Bernardo Patta Schettinni com base em dados do Bacen
Nota : Posição em junho
68
significativos montantes de reservas internacionais, tanto para criar um
colchão de proteção diante das crises cambiais quanto, mais recentemente,
para tentar conter a volatilidade e a apreciação do real diante do dólar. A
acumulação de ativos externos exigiu a emissão adicional de títulos
públicos para que o Bacen utilizasse em operações compromissadas. O
segundo fator, mais recente, tem a ver com a política governamental de
indução do crescimento por meio da expansão do crédito público e do
investimento das empresas estatais, materializada em operações de
capitalização financiadas por emissões do Tesouro. Por fim, é preciso
elencar um terceiro fator que restringe a possibilidade de reduzir o esto-
que de títulos públicos em mercado e que está relacionado à operaciona-
lização da política monetária e ao relacionamento entre Tesouro e Bacen.
Fonte : Elaboração Sérgio Wulf Gobetti e Bernardo Patta Schettinni com base em dados do Bacen
1
Nota : Posição em junho
2
: Fundo de Amparo ao Trabalhador
69
Avalia-se através da Tabela 3 a evolução dos gastos fiscais e parafiscais
(como os empréstimos do BNDES) do governo como estratégia em face dos efeitos
significativos da crise mundial, a qual proporcionou um maior crescimento por outro
lado resultou em uma maior deterioração das finanças públicas (PEREIRA ; SIMÕES
(2010) apud GOBETTI & SCHETTINI, 2010, p.22)
Pereira e Simões (2010) estimaram, por exemplo, que o custo direto da
primeira parte do empréstimo de R$ 180 bilhões do Tesouro ao BNDES
para financiar projetos de endividamento gire em torno de 29% do valor de
face em 30 anos – o que é calculado pela diferença entre as taxas de juros
sobre as emissões do Tesouro (pós e pre-fixadas) e as taxas pelas quais
o BNDES vai remunerar o Tesouro (TJLP mais 0,63% a.a. em media).
Fonte : BNDES
13
Para uma resenha das fases de expansão dos recursos do BNDES bem como da atuação do
banco como braço da política econômica ver Ana Cláudia Além (1998), “O Desempenho do BNDES
no Período Recente e as Metas da Política Econômica” . Revista do BNDES, V.5. N9, p. 51-76.
14
VILLAVERDE, João. Para analistas, aparente tranquilidade fiscal da dívida brasileira exige atenção.
Jornal Valor Econômico, São Paulo 18/07/2011. Disponível em
http://jccavalcanti.wordpress.com/2011/07/18/governo-fala-em-divida-publica-liquida-mas-a-bruta-e-a-
que-importa/. Acesso em 05 de agosto de 2012.
70
Schwartsman & Associados e ex-diretor do Banco Central, a dívida líquida
passou a perder o sentido a partir de 2009, quando o governo emitiu títulos
do Tesouro com volume total de R$ 100 bilhões para financiar um
empréstimo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES). No ano seguinte, outros R$ 80 bilhões foram repassados da
mesma forma, e neste primeiro semestre de 2011, mais R$ 30 bilhões foram
transferidos do Tesouro ao BNDES.
Nessas operações, o Tesouro se endivida, ao lançar títulos públicos
remunerados pela Selic, para aumentar o capital do BNDES. Como as
operações do BNDES geram “lucro” ao governo, e, portanto, servem de
ativo ao setor público, são deduzidos da dívida total do governo. Assim, a
dívida líquida cai, mas, como há maior endividamento do governo, via novos
empréstimos do Tesouro ao mercado, esse passivo só é contabilizado na
dívida bruta. “É a dívida bruta que interessa ao mercado internacional, uma
vez que indica realmente qual é o tamanho da dívida real do setor público”,
afirma Schwartsman.
71
função do atual patamar da dívida pública bruta, refletindo na exigência de um
aumento significativo da carga tributária em % do PIB, bem como a dificuldade na
realização de uma reforma tributária para aumentar a competitividade da economia
brasileira. Portanto, a atual dinâmica da dívida pública brasileira torna-se um
limitador estrutural no que concerne à sustentabilidade do crescimento econômico e
impacta no tocante à equidade intergeneracional.
• O modelo de esgotamento do modelo de ajuste fiscal
3,00%
2,50%
2,00%
1,50%
1,00%
0,50%
0,00%
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
-0,50%
73
de estabilização da inflação a ferro e a fogo, a qual ampliou consideravelmente a
dívida pública bruta (% do PIB).
Em 1997, a Receita Total (RT) era de 16,23% do PIB e o superávit primário
de -0,25% do PIB e em 1999, a RT foi de 19,66% e o resultado primário de 2,13%
do PIB. Realizando uma análise desagregada entre RT e a Receita Líquida Total
(RLT) evidencia a fragilidade do modelo de ajuste fiscal em face das vinculações
constitucionais. A título de comparação a RT entre 1997 e 1999 houve um
incremento de 2,73% do PIB e a RLT de 2,11% do PIB.
Gráfico 11 – Resultado Fiscal do Governo Central - 1997 a 1999 - (% do PIB)
2 5 ,0 0 %
2 0 ,0 0 %
1 5 ,0 0 %
1 0 ,0 0 %
5 ,0 0 %
0 ,0 0 %
- 5 ,0 0 %
- 1 0 ,0 0 %
R e s u lta d o R e s u lta d o
R e c e ita L íq u id a
R e c e ita T o ta l P r im á r io d o N o m in a l d o
T o ta l
G o v e r n o C e n tr a l G o v e r n o C e n tr a l
1997 1 6 ,9 3 % 1 4 ,2 7 % - 0 ,2 5 % - 2 ,2 7 %
1998 1 8 ,7 4 % 1 5 ,8 3 % 0 ,5 1 % - 4 ,6 1 %
1999 1 9 ,6 6 % 1 6 ,3 8 % 2 ,1 3 % - 2 ,4 7 %
74
política de renúncia fiscal e do modelo de vinculação de receitas as despesas, a qual
impede uma gestão fiscal eficiente.
Gráfico 12 – Resultado Primário Desagregado – 2006 a 2010 (% do PIB)
4 ,5 0 %
4 ,0 0 %
3 ,5 0 %
3 ,0 0 %
2 ,5 0 %
2 ,0 0 %
1 ,5 0 %
1 ,0 0 %
0 ,5 0 %
0 ,0 0 %
2006 2007 2008 2009 2010
S u p e r á v it d o G o v e r n o
3 ,0 8 % 3 ,8 2 % 3 ,9 0 % 2 ,0 1 % 2 ,7 5 %
G e r al
S u p e r á v it d o G o v e r n o
2 ,0 6 % 2 ,1 9 % 2 ,3 7 % 1 ,2 4 % 2 ,1 0 %
Fe d e r al
S u p e r á v it d o s Esta d o s 0 ,8 4 % 1 ,2 5 % 1 ,1 9 % 0 ,5 2 % 0 ,4 0 %
75
Realizando uma análise desagregada entre a Receita do Tesouro e da
Previdência evidencia-se um incremento daquela de 5,6% do PIB e desta de 1,6%
do PIB entre 1997 a 2012. Salienta-se que em face da crise mundial aliado aos
alusivos limites estruturais do crescimento econômico (CARCANHOLO,2011) em
2008 e aliada a política de renúncia fiscal evidenciou-se uma redução de 18,18% do
PIB para 17,13%. Evidencia-se o modelo de esgotamento do incremento das
Receitas do Tesouro em % do PIB, bem como observou-se o ápice em 2008. No
tocante as Receitas da Previdência Social verificou-se um incremento em % do PIB.
Considerando o comportamento de ambas receitas analisa-se o risco de
financiamento para manter a sustentabilidade da dívida pública.
Gráfico 14 – Participação das Receitas do Governo Central - 1997 a 2012 - (% do PIB)
20,0%
18,0%
16,0%
14,0%
12,0%
10,0%
8,0%
6,0%
4,0%
2,0%
0,0%
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Receitas do Tesouro 12,2% 14,0% 15,0% 15,2% 15,9% 16,8% 16,2% 16,7% 17,6% 17,7% 17,9% 18,2% 17,1% 18,7% 17,9% 17,8%
Receitas da Prev. Social 4,7% 4,7% 4,6% 4,7% 4,8% 4,8% 4,7% 4,8% 5,0% 5,2% 5,3% 5,4% 5,6% 5,6% 5,9% 6,3%
76
Gráfico 15 – Receita Líquida Total x Despesa Total – 1997 a 2012 (% do PIB)
25,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Receita Líquida Total 14,3% 15,8% 16,4% 16,5% 17,2% 17,9% 17,4% 18,1% 18,8% 19,0% 19,3% 19,2% 18,9% 20,7% 19,7% 20,0%
Despesa Total 14,0% 15,0% 14,5% 14,7% 15,6% 15,7% 15,1% 15,6% 16,4% 17,0% 17,1% 16,4% 17,7% 18,6% 17,5% 18,3%
4,50%
4,00%
3,50%
3,00%
2,50%
2,00%
1,50%
1,00%
0,50%
0,00%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Transferências a Estados e Municípios 2,80% 3,02% 2,72% 2,63% 2,97% 2,98% 3,09% 3,36% 3,01% 2,80% 3,14% 4,09%
Transferências Constitucionais (IPI, IR
2,80% 3,02% 2,72% 2,63% 2,97% 2,98% 3,09% 3,36% 3,01% 2,80% 3,14% 3,04%
e outras)
Lei Complementar 87/ Lei
0,28% 0,27% 0,23% 0,22% 0,22% 0,18% 0,15% 0,17% 0,12% 0,10% 0,09% 0,09%
Complementar 1153 (3)
Demais 0,46% 0,51% 0,59% 0,57% 0,64% 0,68% 0,66% 0,80% 0,78% 0,78% 0,88% 0,96%
8,00%
7,00%
6,00%
5,00%
4,00%
3,00%
2,00%
1,00%
0,00%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Pessoal e Encargos Sociais 4,80% 4,81% 4,46% 4,31% 4,30% 4,45% 4,37% 4,31% 4,68% 4,42% 4,33% 4,23%
Benefícios Previdenciários 5,78% 5,96% 6,30% 6,48% 6,80% 6,99% 6,96% 6,58% 6,94% 6,76% 6,79% 7,19%
Custeio e Capital 4,90% 4,87% 4,27% 4,69% 5,18% 5,42% 5,69% 5,41% 5,91% 7,29% 6,22% 6,73%
15
A Política Permanente de Valorização do Salário Mínimo, acordada em 2007, pretende se estender
até 2023 e tem como critério repassar no reajuste anual salarial a inflação do período, o aumento real
pela variação do PIB e a antecipação da data-base de revisão.
78
O Gráfico 18 demonstra a fragilidade do modelo de ajuste fiscal no Brasil,
pois concentra volume significativo de recursos em custeio (% do PIB) e para
cumprir as metas de superávit primário (% do PIB). Ressalta-se que este foi gerado
via aumento significativamente da carga tributária aliada a contingência dos
recursos destinados a investimentos. De 2002 a 2009, observa-se a baixa
capacidade de investimento do Governo Central em % do PIB na média de 0,70%.
Em 2012, foi o maior montante de recursos destinado pelo Governo Federal a
investimentos (1,35% do PIB) com Receita Total de 24,13% do PIB, entretanto bem
próximo a 2001 (1,10%) com Receita Total de 20,77% do PIB.
Salienta-se que o expressivo volume de investimentos em 2010, o qual
correspondeu a 2,33% do PIB foi reflexo da capitalização da Petrobrás de 1,14% do
PIB. Assim, evidencia-se que em face do modelo de vinculação da receita a despesa
a baixa efetividade da política fiscal anti-cíclica pós crise mundial.
Gráfico 18 – Despesa Custeio e Investimento do Governo Federal – 2001 a 2012 (% do PIB)
8 ,0 0 %
7 ,0 0 %
6 ,0 0 %
5 ,0 0 %
4 ,0 0 %
3 ,0 0 %
2 ,0 0 %
1 ,0 0 %
0 ,0 0 %
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
C u ste io e In v e stim e n to 4 ,9 0 % 4 ,8 7 % 4 ,2 7 % 4 ,6 9 % 5 ,1 8 % 5 ,4 2 % 5 ,6 9 % 5 ,4 1 % 5 ,9 1 % 7 ,2 9 % 6 ,2 2 % 6 ,7 3 %
In v e stim e n to 1 ,1 0 % 0 ,7 0 % 0 ,4 0 % 0 ,5 0 % 0 ,5 0 % 0 ,7 0 % 0 ,8 2 % 0 ,9 3 % 1 ,0 5 % 2 ,3 3 % 1 ,2 7 % 1 ,3 5 %
79
É fundamental a análise de (DELFIN NETO, 2009, p. 30) no que se refere à
armadilha que o Brasil entrou ao se concentrar esforços exclusivamente em uma
agenda fiscal.
A agenda do Estado-indutor é muito mais ampla do que a agenda fiscal.
Esta não deve começar (como parece ser a sugestão atual), mas sim
terminar na reforma tributária. O projeto em discussão no Congresso
assume, implicitamente como “definitiva” e “insuperável”, a absurda carga
tributária atual. Apenas marginalmente melhorará a alocação dos fatores e a
produtividade do setor privado.
A implantação do Plano Real sem o alicerce fiscal tornou o país refém dos
rentistas nacionais e do capital especulativo internacional, o qual resultou no
aumento da dívida líquida do setor público. A título de comparação esta era em 1995
correspondia a 29,9% do PIB e aumentou para 49,4% em 1999 em face da política
macroeconômica conduzida pelo Banco Central, resultando no incremento da carga
tributária16 do setor público consolidado em face que em 1995 era de 27,24% do PIB
e passou para 29,05%.
Gráfico I9 – Carga Tributária do Brasil - 1995 a 1999 – (% do PIB)
3 5 ,0 0 %
3 0 ,0 0 %
2 5 ,0 0 %
2 0 ,0 0 %
1 5 ,0 0 %
1 0 ,0 0 %
5 ,0 0 %
0 ,0 0 %
1995 1996 1997 1998 1999
M u n ic íp io s 1 ,2 7 % 1 ,2 9 % 1 ,2 3 % 1 ,4 5 % 1 ,4 1 %
U n iã o 1 8 ,3 3 % 1 7 ,8 6 % 1 8 ,2 2 % 1 9 ,0 5 % 2 0 ,2 7 %
Es ta d o s 7 ,6 4 % 7 ,5 7 % 7 ,3 2 % 7 ,2 6 % 7 ,3 7 %
To ta l 2 7 ,2 4 % 2 6 ,7 3 % 2 6 ,7 7 % 2 7 ,7 6 % 2 9 ,0 5 %
16
A Carga Tributária Bruta é definida como a razão entre a arrecadação de tributos e o PIB a preços
de mercado, ambos considerados em termos nominais
80
2008 e em face da crise mundial marca o ponto de inflexão no que tange a redução
da carga tributária em % do PIB. Além disso, evidencia o impacto significativo tanto
na receita da União como dos Estados contrastando com as receitas dos Municípios,
as quais apresentaram o melhor índice da série histórica em face do aumento do
crédito imobiliário, o qual impactou na receita do IPTU e ITBI.
Gráfico 20 – Carga Tributária do Brasil – 2000 a 2010 - (% do PIB)
4 0 ,0 0 %
3 5 ,0 0 %
3 0 ,0 0 %
2 5 ,0 0 %
2 0 ,0 0 %
1 5 ,0 0 %
1 0 ,0 0 %
5 ,0 0 %
0 ,0 0 %
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
U n iã o 2 0 ,9 8 % 2 1 ,6 0 % 2 2 ,7 0 % 2 1 ,6 1 % 2 2 ,2 6 % 2 3 ,4 4 % 2 3 ,3 4 % 2 3 ,9 4 % 2 3 ,9 1 % 2 2 ,7 5 % 2 2 ,8 7 %
Esta d o s 7 ,9 9 % 8 ,3 0 % 8 ,3 7 % 8 ,4 0 % 8 ,6 0 % 8 ,6 8 % 8 ,5 9 % 8 ,4 5 % 8 ,6 7 % 8 ,3 4 % 8 ,2 5 %
M u n ic íp io s 1 ,3 6 % 1 ,4 1 % 1 ,3 7 % 1 ,4 0 % 1 ,3 9 % 1 ,2 7 % 1 ,4 3 % 1 ,5 5 % 1 ,5 2 % 1 ,4 9 % 1 ,5 9 %
G o v e r n o G e r al 3 0 ,3 2 % 3 1 ,3 1 % 3 2 ,4 4 % 3 1 ,4 1 % 3 2 ,2 4 % 3 3 ,3 8 % 3 3 ,3 6 % 3 3 ,9 5 % 3 4 ,1 0 % 3 2 ,5 8 % 3 2 ,7 2 %
17
TANZI, Vito. É melhor de mãos dadas. São Paulo Revista Veja, edição 2.278, 18 de julho de 2012.
Entrevista concedida a PETRY, André.
81
Gráfico 21 – Carga Tributária do Governo Central – 1995 a 1999 - (% do PIB)
4 5 ,0 0 %
4 0 ,0 0 %
3 5 ,0 0 %
3 0 ,0 0 %
2 5 ,0 0 %
2 0 ,0 0 %
1 5 ,0 0 %
1 0 ,0 0 %
5 ,0 0 %
0 ,0 0 %
1995 1996 1997 1998 1999
P ar a fisc a is 2 ,1 3 % 2 ,0 7 % 2 ,0 5 % 2 ,3 1 % 2 ,2 8 %
O r ç am e n to d e
8 ,6 6 % 8 ,7 8 % 9 ,2 7 % 9 ,1 3 % 1 0 ,0 3 %
S e gu r id a d e
O r ç am e n to F isc al 7 ,5 5 % 7 ,0 1 % 6 ,8 9 % 7 ,6 1 % 7 ,9 6 %
U n iã o 1 8 ,3 3 % 1 7 ,8 6 % 1 8 ,2 2 % 1 9 ,0 5 % 2 0 ,2 7 %
82
Ressalta-se que o crescimento das receitas do Orçamento da Seguridade
Fiscal, as quais não fazem parte do cálculo do Fundo de Participação dos Estados e
Municípios em contraste a diminuição das receitas do Tesouro e que ,portanto
aprofundou ainda mais a crise das finanças públicas dos Estados e Municípios em
face da crise mundial. Salienta-se, ainda, o impacto nas perdas das receitas do
orçamento fiscal em particular a política de desoneração do IPI em 2009.
Gráfico 22 - Receitas da União – 2000 a 2011 – (% do PIB)
30,00%
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
União 20,98% 21,60% 22,70% 21,61% 22,26% 23,44% 23,34% 23,94% 23,91% 22,75% 22,87% 24,73%
Orçamento Fiscal 7,68% 7,91% 8,35% 7,24% 7,13% 7,87% 7,85% 8,23% 9,14% 8,16% 8,21% 8,83%
Orçamento de Seguridade 11,17% 11,50% 11,76% 11,85% 12,67% 13,19% 13,05% 13,28% 12,37% 12,15% 12,22% 13,12%
Parafiscais 2,13% 2,19% 2,59% 2,51% 2,46% 2,38% 2,44% 2,43% 2,39% 2,45% 2,44% 2,78%
83
Gráfico 23 – Orçamento Fiscal da União – 1995 a 1999 – (% do PIB)
9 ,0 0 %
8 ,0 0 %
7 ,0 0 %
6 ,0 0 %
5 ,0 0 %
4 ,0 0 %
3 ,0 0 %
2 ,0 0 %
1 ,0 0 %
0 ,0 0 %
1995 1996 1997 1998 1999
O r ç a m e n to F is c a l Im p o s t o d e R e n d a
P e s s o a s F ís ic a s P e s s o a s Ju r íd ic a s
Im p o s t o s / P r o d . In d u s tr ia liz a d o
18
A defasagem da tabela do IR vem afetando nosso bolso. Nos últimos 15 anos, até 2010, já há uma
perda acumulada de 44,35%, segundo levantamento da Ernst & Young Terco. No período, a inflação
registrada foi de 97,85%, enquanto o reajuste da tabela do IR foi de apenas 53,50%.
CAMPOS, Elisa.Uma fome de leão – a defasagem da tabela do IR. Revista Época Negócios , São
Paulo : Editora Globo Disponível em <
htpp://colunas.revistaepocanegócios.globo.com/financasdebolso/2011/03/14/uma fome de leão a
defasagem da tabela do IR >. Acesso 18/07/2012.
84
Gráfico 24 – Orçamento Fiscal da União – 2000 a 2010 – (% do PIB)
10,0%
9,0%
8,0%
7,0%
6,0%
5,0%
4,0%
3,0%
2,0%
1,0%
0,0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Orçamento Fiscal 7,7% 7,9% 8,3% 7,2% 7,1% 7,9% 7,8% 8,2% 9,1% 8,2% 8,2% 8,8%
Imposto de Renda 5,1% 5,4% 6,1% 5,4% 5,2% 5,8% 5,7% 6,0% 6,4% 5,9% 5,7% 6,2%
Pessoas Físicas 3,7% 4,1% 4,0% 3,6% 3,3% 3,5% 3,5% 3,3% 3,6% 3,4% 3,3% 3,9%
Pessoas Jurídicas 1,4% 1,2% 2,2% 1,8% 1,9% 2,2% 2,2% 2,5% 2,6% 2,4% 2,2% 2,3%
Imposto s/ Prod. Industrializado 1,6% 1,5% 1,3% 1,1% 1,1% 1,1% 1,1% 1,2% 1,2% 0,9% 1,0% 1,1%
9 ,0 %
8 ,0 %
7 ,0 %
6 ,0 %
5 ,0 %
4 ,0 %
3 ,0 %
2 ,0 %
1 ,0 %
0 ,0 %
1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0
E s ta d o s 7 ,6 % 7 ,6 % 7 ,3 % 7 ,3 % 7 ,4 % 8 ,0 0 %
IC M S 6 ,7 % 6 ,6 % 6 ,3 % 6 ,2 % 6 ,4 % 7 ,0 %
1 0 ,0 %
9 ,0 %
8 ,0 %
7 ,0 %
6 ,0 %
5 ,0 %
4 ,0 %
3 ,0 %
2 ,0 %
1 ,0 %
0 ,0 %
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
E s ta d o s 8 ,3 % 8 ,4 % 8 ,4 % 8 ,6 % 8 ,7 % 8 ,6 % 8 ,4 % 8 ,7 % 8 ,3 % 8 ,2 % 8 ,6 %
IC M S 7 ,2 % 7 ,1 % 7 ,1 % 7 ,1 % 7 ,1 % 7 ,1 % 6 ,9 % 7 ,2 % 6 ,9 % 6 ,8 % 7 ,2 %
86
Para contrastar a realidade da importância da privatização para os resultados
dos ajustes fiscais na Nova Zelândia diferente do que ocorreu no Brasil conforme já
foi analisado em tópico anterior (CYSNE ; SOBREIRA,2007,p.153).
A Lei de Responsabilidade de 1994 almejava a transparência nos relatórios
de finanças públicas no tocante às intenções do governo na área fiscal e
também encorajar os governos a levar em conta as consequências de lon-
go prazo das decisões de política. Mas, os princípios estabelecidos em
1994 podem ser também vistos como resposta à situação fiscal de então,
exemplificada no elevado e crescente nível de endividamento do setor pú-
blico, que de menos de 10% do PIB na década de 1970, no caso da dívida
líquida, cresceu fortemente ao longo dos anos de 1980, para situar-se na
vizinhança dos 50% do PIB na primeira metade dos anos 1990. A partir daí,
a dívida como proporção do PIB iniciou uma fase de expressiva queda”.
A dívida líquida caiu de 44% do PIB em 1993/94 para 11% em 2002/2003.
Os pagamentos da dívida foram financiados com os superávits operaciona-
is e, até 2000 com vendas de ativos.
19
Jiri Jonas y Cemile Sancak, Vecinos Fiscales.Finanzas & Desarrollo septiembre de 2011
88
cíclicos aliada a implementação de políticas de crescimento resultaram no aumento
da relação dívida/PIB.
Antes de emprender el ajuste de mediados de la década de 1990, ambos
países tenian situaciones economicas y presupuestarias parecidas. Los
saldos primarios (es decir, antes del pago de intereses) eran casi identicos
(grafico 1, panel superior), aunque el saldo global canadiense era peor al
tener en cuenta el pago de intereses (grafico 1, panel inferior). Los coefici-
cientes de deuda estaban en rapido ascenso en ambos paises (grafico 2) y
las tasas de crecimiento economico eran parecidas durante los dos episo-
dios de ajuste coincidentes (grafico 3). Hubo factores ciclicos, como la
recesion mundial y el aumento de las tasas de interes, que empujaron al
alza los coeficientes de endeudamiento, y lo propio ocurrio con factores es-
tructurales como la indexacion de vários programas de gasto en Canada.
La relacion deuda/PIB tambien aumento como consecuencia de politicas
de estimulo encaminadas a promover el crecimiento economico, como re-
cortes de los impuestos y aumentos de los gastos. .
90
• O modelo de esgotamento do aumento do crédito
Em face da crise mundial e da ausência de mecanismos de estimular o
crescimento via investimento em função da já salientada ineficiência da gestão de
política macroeconômica aliada a ineficaz gestão fiscal também já salientada o
Governo Lula concentrou a sua atenção na expansão do crédito para alimentar o
consumo a partir da crise de 2007. Assim, a retração do crescimento econômico do
PIB de -0,3% em 2009 provocada pelos efeitos da crise mundial aliado aos fatores
estruturais que serão salientados neste tópico.
O crescimento real do Brasil em 2010 é reflexo das combinações das
políticas de investimento (PAC) ; do estímulo ao crédito ; o aumento do salário
mínimo ; das renúncias fiscais do IPI do setor automobilístico e da redução da taxa
Selic, os quais resultaram em um crescimento econômico de 7,5% a.a
Em 2011, o Governo utilizou a combinação de políticas de crédito, a política
de valorização do salário mínimo , a política monetária e o efeito do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), os quais resultaram em um incremento real pífio
do PIB de 2,7% em face dos reflexos das políticas dos Estados Unidos e da China,
refletindo em um aumento significativamente do déficit estrutural do segmento de
produtos industrializados da economia brasileira.
Ressalta-se que os Estados Unidos ao implementar a política de
afrouxamento quantitativo de trilhões de dólares despejados e que estes ficaram
entesourados nos bancos americanos ou foram direcionados ao Brasil em face do
aumento da taxa Selic, pois o Banco Central foi forçado a aumentá-la pela pressão
da inflação, a qual estava bem acima da meta, refletindo na alta da valorização do
real impactando na redução da competitividade da economia brasileira.
No tocante a China em virtude da queda das exportações da Zona do Euro e
em face da alta competitividade da sua economia aumentou consideravelmente o
volume de importações de produtos industrializados pelo Brasil.
Neste contexto, o pífio resultado do Produto Interno Bruto (PIB) nacional – de
0,87%, registrado em 2012 – evidenciou que o modelo de crescimento brasileiro
está esgotado em face de que os alicerces no consumo e do crédito aliada a política
de valorização do salário mínimo e os programas de bolsa família não são mais
capazes de sustentar o crescimento do PIB principalmente pelo atual nível de
endividamento, a qual refletiu no índice de inadimplência.
91
O Gráfico 27 mostra que o crédito do setor privado em % do PIB em face
2005 representava R$ 586,5 bilhões (28,1% do PIB) e alcançou em 2012 R$ 2,249
trilhões (53,8% do PIB). O modelo de incremento do consumo além de evidenciar
esgotamento não produziu resultados satisfatórios do ponto de vista do crescimento
econômico em 2011 e 2012 em face da política neoliberal (privatização, política
macroeconômica) conduzida pelo Governo Central pós Plano Real, refletida na
correlação entre o aumento do consumo e as importações (ver tópico crescimento).
Gráfico 27– Total do Crédito do Setor Privado no Brasil 2005 - 2012 (% do PIB)
60,0% 8,0%
7,0%
50,0%
6,0%
40,0% 5,0%
4,0%
30,0%
3,0%
20,0% 2,0%
1,0%
10,0%
0,0%
0,0% -1,0%
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Volume Crédito / PIB 28,1% 30,7% 33,4% 40,5% 44,4% 46,7% 47,0% 53,80%
Crescimento real do PIB 3,2% 4,0% 6,1% 5,2% -0,3% 7,5% 2,7% 0,89%
92
Evidencia-se uma bolha imobiliária em face do rápido aumento dos preços
ao longo do preço normal histórico ou crítico e em curto espaço de tempo. Dados do
Banco Central mostram que a alta média de 2003 para cá foi 108% superior ao
aumento da renda da população.
Ressalta-se ainda o nível de endividamento no que se refere à relação dívida
e renda das famílias (GUTIERREZ,2012)20.
A relação dívida e renda das famílias, conhecida como endividamento, está
próxima de 43%, mas ao excluir a parcela do crédito habitacional, a
proporção cai para 30%. A declaração foi dada por Carlos Hamilton Araújo,
diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), que acrescentou que
a tendência observada nos últimos meses é de queda”.
[...] O diretor lembra que há 10 anos o crédito correspondia a 20% de
participação no Produto Interno Bruto (PIB) e que hoje passa de 50%.
20
GUTIERREZ,Marcelle.Endividamento do consumidor está em 43%. Diário Comércio Indústria &
Serviços. São Paulo, 11,12,13 ago. 2012. Caderno Finanças & Mercados.
93
No tocante alusiva prosperidade foi obtida mediante um volume crescente de
empréstimos para a construção de imóveis residenciais, refletindo no impacto sobre
o crescimento no PIB americano (FISLOW,2011,p.8).
Conforme Robert Shiller,” a bolha dos imóveis residenciais foi uma causa
muito importante, se não a causa,da crise do crédito subprime e da crise
econômica mais geral...”Os preços dos imóveis residenciais, subiram em
proporções recordes e de modo contínuo desde o fim dos anos 1990 até
2006, permitindo aos donos de imóveis consumir e tomar empréstimos sem
cessar, impulsionado a economia após o colapso dos preços das ações no
Nasdaq em 2000-2001 e o ataque de Al Qaeda ás Torres Gêmeas em
2001. A construção civil – e o emprego nela – tornou-se líder da economia.
Essas condições persistiram até o início de 2006, quando o investimento
residencial começou a desacelerar. Nos três anos anteriores, esse
investimento – que alcançou 6% do produto total – fora a fonte de 15% do
crescimento do PIB. Em novembro de 2006, quando as licenças de
construção para novas casas tinham caído em 26% comparado ao ano
anterior, havia se tornado mais claro, ao menos para algumas pessoas que
estava se gerando um grande problema.
94
Assim, a desregulamentação financeira resultou na securitização hipotecária
tornando uma fonte importante de expansão do setor financeiro (FISLOW,2011,p.8).
Por outro lado, a securitização de dívida hipotecária tornou-se uma fonte
importante de expansão do setor financeiro. Um número crescente de
bancos hipotecários vendeu a dívida hipotecária para outros bancos e
instituições financeiras que, por sua vez, com base nela, criaram novos
pacotes e passaram para outros investidores. Bancos comerciais e de
investimento usaram operações com companhias financeiras do chamado
“setor bancário oculto”, os SIVs (structural investment vehicles), não
incluídos em seus balanços, para aumentar a lucratividade pelo aumento de
sua alavancagem. Foram criados instrumentos financeiros cada vez mais
complexos, as CDOs (collateral debt obligations), títulos garantidos por
dívidas, e, ativos financeiros novos, se afastaram cada vez mais de suas
contrapartes físicas, sendo rapidamente vendidos a outros investidores. As
hipotecas prontamente se tornaram de alto risco, exigindo pouca evidência
de que os devedores tinham capacidade para pagar o serviço da dívida.
Derivativos, não regulados, passaram a ser amplamete usados como forma
de aumentar a alavancagem financeira. Os credit default swaps (CDS), um
tipo de seguro contra perdas garantindo os valores dos ativos em caso de
calote, proliferam.
95
Nesta manhã, a Lehman Brothers, uma das mais prestigiosas instituições
de Wall Street, entrou com um pedido de proteção por falência depois que
as tentativas para salvá-la feitas durante o fim de semana fracassaram".
Nos meses seguintes, os desdobramentos da falência do Lehman Brothers
desencadeariam uma torrente de destruição da riqueza de pessoas,
empresas e países. Alguns meses depois, tinham sido reduzidos a cinzas
em todos os continentes cerca de 50 trilhões de dólares, o equivalente a
todo o PIB mundial, ou toda a riqueza produzida por todos os 6,5 bilhões de
terráqueos durante um ano. Só nos Estados Unidos, as famílias perderam
14 trilhões de dólares. Dados do Censo americano, divulgados na semana
passada, evidenciaram os efeitos da recessão no bem-estar da população:
a renda média dos americanos caiu 3,6% em 2008, a maior retração em
quatro décadas, e o porcentual dos que vivem na pobreza subiu para
13,2%, o maior desde 1997. Além disso, a taxa de desemprego está perto
de 10%, mais que o dobro da registrada nos tempos de bonança” (O mundo
21
pós crise como usar, 2009, p.124) .
Por outro lado, em setembro de 2007 o súbito aumento das taxas de juros
interbancárias resultou ao fim de 2008 a redução das taxas de juros a quase a zero
e uma significativa intervenção fiscal do Tesouro Americano agravando ainda mais o
déficit fiscal (FISLOW,2011,p.8).
Em setembro de 2007, em resposta ao súbito aumento das taxas de juros
interbancárias à medida que os bancos hesitavam em depositar seus
excessos de reservas em outros bancos, o FED reagiu a desaceleração do
crescimento reduzindo a taxa de juros de 5,25% para 4,75%. Esse foi
apenas o início atrasado de um processo que, até o fim de 2008, tinha se
acelerado a ponto de levar a taxa de juros do FED para próximo zero.
Entrementes ocorreu o maciço colapso financeiro de setembro de 2008, e
houve uma intervenção fiscal do governo de 700 bilhões de dólares (TARP
– Troubled Asset
Relief Program) em reação à crescente evidência de que esse declínio era
mais grave que um ciclo econômico típico. De fato, logo depois da posse de
Obama, em janeiro de 2009, veio outro programa fiscal (ARRA – American
Recovery and Reinvestment Act), envolvendo gasto público e redução de
impostos no valor de 787 bilhões de dólares na tentativa de conter o
declínio”.
Essa medida está agora se esgotando. Muitos na esquerda que haja uma
suplementação imediata para reviver a economia fraca, enfatizando a
necessidade de maiores gastos diretos, que têm efeito multiplicador maior
que o corte nos impostos. Na direita, considera-se necessária outra coisa :
manter o corte de impostos de Bush indefinidamente no futuro, permitindo
que a demanda privada, e não a pública, funcione como a base da futura
expansão. O Presidente Obama lançou recentemente um novo programa de
gastos, junto com uma redução permanente de impostos para investimentos
e manutenção da redução de impostos para casais com renda inferior a
250.000 dólares ao ano. A eleição de novembro de 2010 determinará qual
das abordagens permitirá uma maioria no Congresso nos próximos dois
anos e o surgimento de alguma política coerente.”
22
GUANDALINI, Giuliano.O mundo pós crise como usar. Revista Veja, Editora Abril, São Paulo, nº
2.130, p.124, 16 de setembro de 2009.
97
A dimensão geográfica do problema é maior no presente que no passado.
Existe uma concentração geográfica maior da perda de residências por
inadimplência nos anos recentes, em comparação com os anos 1980.
[....] Finalmente, uma diferença significativa entre os dois ciclos residenciais
foi o papel do aumento de preços das residências na bolha recente,
comparado com a experiência anterior. Não houve ganhos reais até os anos
1980, e ai eles acabaram. No período recente, os proprietários de
residências obtiveram ganhos de capital importantes e contínuos, que se
traduziram em poupança pessoal reduzida e demanda crescente por bens
de consumo durável. Isso abriu a oportunidade para importação abundantes
e sancionou a reduzida atividade manufatureira doméstica. A redução de
impostos e as guerras no Iraque e no Afeganistão se traduziram em déficts
crescentes financiados pelo exterior.
23
MARINHO, Marcelita Marques. Análise de risco de crédito para financiamento imobiliário em países
emergentes. Revista Tecnologia do Crédito, Edição nº 38
98
23%, a segunda maior do mundo – só perdemos para a Índia. Mas talvez
a observação mais importante diga a respeito aos últimos seis meses. Fi-
ca claro que o ritmo louco de valorização parece estar perdendo fôlego.
Nesse período, a alta foi de 8,4%, número ainda robusto, mas bem menor
do que os de 13,5% do mesmo período um ano antes. A desaceleração fi-
ca evidente em seis das principais capitais brasileiras : São Paulo, Rio de
24
Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza.
24
NAPOLITANO, Giuliana ; MEYER, Carolina ; STEFANO, Fabiane. A hora é de comprar ou vender
?. Revista Exame, Editora Abril, São Paulo, Edição nº 1017, p.41-42, 30 de maio de 2012.
99
Tabela 5: Crédito Imobiliário 2011 - (% PIB)
País
Brasil 4,84%
Itália 22,90%
Alemanha 37,70%
França 39,80%
Área do Euro 40,20%
Espanha 61,20%
Holanda 66,10%
Estados Unidos 70,30%
Fonte : Banco Central do Brasil
A política de expansão do crédito foi muito benéfica para o crescimento
econômico do país, entretanto não produzirá mais resultados satisfatórios em face
dos limites estruturais já salientados. O volume de crédito do setor privado atingiu
em junho de 2013 o montante de R$ 2,397 trilhões, ou seja, um crescimento de
6,58% em relação a dezembro de 2012.
O crédito imobiliário atingiu em maio de 2012 o montante de R$ 229 bilhões,
entretanto diminuiu o ímpeto do consumidor de adquirir imóveis em face do atual
nível de endividamento e do crescimento da economia.
25
NAPOLITANO, Giuliana ; MEYER, Carolina ; STEFANO, Fabiane. A hora é de comprar ou vender
?. Revista Exame, Editora Abril, São Paulo, Edição nº 1017, p.41-42, 30 de maio de 2012. .
100
Ressalta-se, ainda, que desde 2006 o consumidor que tem um financiamento
imobiliário num banco imobiliário pode transferir a dívida para outra instituição se as
condições forem melhores, entretanto deve se avaliar se a economia a ser feita com
o pagamento dos juros compensa as taxas que bancos e cartórios cobram para
fazer a transação em face que o custo estimado é de 1%.
Salienta-se, ainda, a análise do professor Reinaldo Gonçalves no que se
refere ao risco da especulação no mercado imobiliário se transformar em bolha26.
Outro dado que merece atenção: o crédito imobiliário. Em 2003 a Caixa
Econômica Federal concedeu R$ 5 bilhões em crédito imobiliário em 250 mil
contratos. Em 2010 o volume de contratos foi cinco vezes maior, ótimo
resultado, aumentou o número de compradores de imóveis, mas totalizaram
R$ 78 bilhões. O valor médio do financiamento aumentou mais de 200%.
Muito acima do reajuste salarial e quatro vezes o índice acumulado de
inflação. O risco da especulação no mercado imobiliário se transformar em
bolha não é desprezível.
26
GONÇALVES, R, A herança lula: o passivo externo do Brasil, 2 de março de 2012. Acesso em 22 de agosto
de 2012. Disponível http://vermelhosnao.blogspot.com.br/2012/03/heranca-lula-o-passivo-externo-
do.html
27
Oliveira, Fabiana, Para IPEA modelo de crescimento baseado no consumo está esgotado
htpp://oglobo.oglobo.com/economia/para-ipea-modelo-de-crescimento-baseado-no-consumo-está-
esgotado acesso 20/07/2012.
101
preocupante, em face da combinação de baixo crescimento da renda aliada ao fato
de uma taxa de juros ser maior. Além disso, evidencia-se uma existência de uma
bolha imobiliária no Brasil em face da alta valorização dos preços dos imóveis de
2012 em relação a 2007 aliada ainda a um alto risco em função de que o valor
médio do financiamento foi bem superior ao reajuste salarial e a inflação do período.
• A dinâmica do poder da década de 1970 a 2012
102
A analogia adequada ao caso é a do relacionamento dos Estados Unidos
com a Europa ocidental nas décadas de 50 e 60. O domínio dos merca-
dos do Atlântico pelas multinacionais americanas e a imensa vantagem
política obtida na Europa estiveram indissoluvelmente ligados à ascensão
são dos Estados Unidos à supremacia mundial. Embora algumas das
nações europeias estivessem entre as mais fortes do mundo, os líderes
europeus – dos gaulistas aos socialistas – criticaram com frequência sua
exploração em mãos americanas.
28
EFE,Alemanha lembra 60 anos do marco, símbolo do milagre econômico. htpp: //economia.uol.com.
br/ultnot/2008/06/20/ acesso 20/07/2012
103
inflação galopante. A alusiva reforma monetária de 1948 possibilitou uma rápida
virada do crescimento e da estabilidade, pois a nova moeda foi acompanhada por
uma ampla reforma do sistema, a qual significou o retorno à economia de livre
mercado e teve como um dos alicerces fundamentais o Plano Marshall. Pois, se
consubstanciou como um dos pilares da estratégia dos Estados Unidos através do
financiamento da recuperação da Alemanha Ocidental sem uma contrapartida de
exigência de um volume significativo das reparações econômica, as quais
desestabilizariam a economia alemã.
Outro ponto a ser salientado, o qual possiblitou o aumento do PIB da
Alemanha Ocidental foi baseada na elevada taxa de investimento de capital, graças
ao baixo consumo e uma necessidade muito pequena de investimentos em
substituição de capital (devido ao estoque de capital ainda pequeno) dirigiu esta
recuperação durante a década de 1950 aliada a alta qualificação de mão de obra, a
qual resultou no incremento da produtividade, refletindo em grandes superávits
comerciais baseada em produtos de alta tecnologia.
No tocante a entrada do Japão na dinâmica do poder segundo os arquitetos
da economia japonesa do pós-guerra (BURSTEIN, 1988,p.139).
Dos escombros da Segunda Guerra Mundial, surgiram três alternativas
óbvias para a reconstrução. O Japão poderia apelar para o investimento di-
reto estrangeiro (isto é americano), poderia apelar tomar empréstimo no ex-
terior e endividar-se pesadamente, poderia estatizar o que tivesse restado
de sua estrutura industrial e adotar um modelo centralizado de capitalismo
de Estado. A maioria dos países da Europa ocidental recorreu a um desses
mecanismos ou a todos eles, contando ao mesmo tempo com o Plano
Marshall, criado pelos americanos para recuperar suas economias devasta-
das.
O Japão não optou por nenhuma dessas hipóteses. Em parte porque o capi-
tal estrangeiro não estava facilmente disponível para ele. Os americanos
lhe deram ajuda substancial na reconstrução, mas não havia Plano
Marshall para o Japão. Até o final da década de 60, os financistas america-
nos ainda tinham dúvidas sobre se o Japão merecia crédito. Nobuya Hagu-
ra, presidente do Banco Daí-Ichi Kangyo (atualmente o maior banco do
do, com ativos superiores a 250 bilhões de dólares), lembra-se bem do pe-
ríodo entre 1965 e 1968, quando foi transferido para Nova York. Naquela
ocasião, “minha principal função era conseguir empréstimos dos bancos do
do centro financeiro”, ele conta. “ Não era fácil. Eu passava o tempo todo
tentando convencê-los de que o Japão era bom investimento de risco.
Além disso, esta visão estratégica tinha como fundamento outro pilar a
geração excedente próprio de capital (BURSTEIN, 1988,p.140).
Em vez de recorrer ao capital estrangeiro, os planejadores do pós-guerra
optaram pela adoção de medidas que levassem o Japão a gerar excedentes
próprios de capital através da poupança e do comércio. O excedente, por
sua vez, seria aumentado à medida que a indústria japonesa subisse os de-
graus de especialização e da tecnologia, capacitando-se a concorrer com
os líderes industriais do mundo.
Por outro lado, avalia o diferencial do contrato social japonês como outro
diferencial em termos de competitividade (BURSTEIN, 1988,p.145-146).
105
É avaliada a vantagem de uma indústria em que o custo do capital é
comparativamente muito mais baixo do que os níveis praticados no resto do mundo
(BURSTEIN, 1988,p.146).
Quando a indústria pode tomar dinheiro a custo baixo para expandir-se, o
caminho para novos investimentos é facilitado. Os custos mais baixos dos
empréstimos é facilitado. Os custos mais baixos dos empréstimos redu-
zem o risco a que se submetem as companhias japonesas quando cons-
troem novas fábricas, investem em equipamentos de produção ou se lan-
çam em novos setores. Os americanos, presos na armadilha das projeções
“dos fluxos de caixa descontado”, deixam de fazer novos empréstimos
não porque não sejam potencialmente rentáveis, mas porque os
executivos financeiros não podem provar que serão rentáveis o suficiente
para justificar os altos custos de empréstimos. A indústria japonesa
sempre esteve em posição de vantagem por causa de capital. Só que,
agora, essa vantagem assumiu nova dimensão. Hoje, os japoneses podem
tomar empréstimos a juros baixos junto de seus banqueiros em Tóquio e
Osaka para expandir seus negócios dentro dos Estados Unidos. Uma das
explicações clássicas para a competitividade do Japão no pós-guerra diz
que, ao reconstruir uma economia bombardeada a partir de zero, os
japoneses conseguiram introduzir equipamentos modernos, enquanto as
fábricas americanas, que escaparam incólumes à destruição no período,
ficaram marcando passo com materiais obsoletos. Décadas mais tarde, po-
demos passar esse hiato de tecnologia por uma revisão – mas com as du-
as partes trabalhando dentro das fronteiras americanas. À medida que os
fabricantes de automóveis procuram manter sua participação no mercado
interno, concorrendo com a Toyota do Kentuchy, com a Nissan do Tenes-
see e com a Honda de Ohio, eles estarão lutando contra as empresas que
podem financiar, com evidente vantagem de custos, a instalação da próxi-
ma geração de tecnologia produtiva.
106
À medida que as instituições financeiras do Japão se expandem pelo plane-
ta, a vantagem do custo de capital mais do que compensa a falta de perícia
em novos setores de risco das finanças mundiais em que estão entrando
pela primeira vez. Tomando dinheiro barato em casa e emprestando alto no
exterior, as instituições financeiras podem comprar o tempo de que neces-
sitam para aprender a arte de negociar, pagando o preço da inexperiência
As corretoras de títulos japonesas já estão sendo acusadas de fazer dum-
ping nos serviços financeiros, envolvendo-se em negócios conhecidos co-
mo operações harakiri : dão lances em leilões de títulos que não apenas a-
pontam para rendimentos magros, mas podem até resultar em prejuízos –
subsidiados, naturalmente pela matriz. Esse é um meio excelente para atra-
ir alguns dos clientes mais importantes do mundo.
Manter baixos os custos de capital no Japão teria sido impossível sem con-
trole rígidos. Obviamente, se os bancos estrangeiros tivessem podido ope-
rar livremente no mercado de Tóquio ou se as companhias japonesas fos-
sem livres para investir suas poupanças à vontade no exterior, o Ministério
das Finanças e o Banco do Japão teriam perdido o poder de ditar as taxas
de juros. A interação do mundo financeiro japonês com as forças estrangei-
ras foi, por conseguinte, rigidamente proibida até pouco tempo atrás.
[.....] Foi no início da década de 80 que as seguradoras japonesas começa-
ram a investir no exterior. Após diversas rodadas de medidas liberalizantes,
elas ainda precisam manter 70% de seus ativos em casa, embora os 30%
que aplicam no exterior as tenham colocado entre os maiores investidores
em títulos do Tesouro americano e imóveis.
Por outro lado, a política fiscal expansionista a partir da década de 60, a qual
resultou em déficits orçamentários significativos,e, portanto para financiar o alusivo
desequilíbrio das finanças públicas o Banco Central Americano aumentou a emissão
de dólares, resultando na criação de problemas aos restantes países membros do
Acordo de Bretton Woods, porque os obrigava a emitir suas próprias moedas para
manterem o cambio “fixo”, criando pressões inflacionistas na sua economia, e por
outro, associado a uma degradação da conta corrente norte-americana, com as
importações crescendo mais rápido do que as exportações. Neste contexto, a
108
quantidade de dólares passou a exceder o estoque de ouro gerando uma crise de
confiança dos outros países de deter dólares.
A pressão foi aumentando no que se refere à perda de reservas em ouro e,
portanto, o então presidente Nixon pôs fim ao acordo de Bretton Woods e à
conversibilidade do dólar em relação ao ouro.
O processo de valorização do iene em face do fim do Acordo de Bretton
Woods não causou problemas a economia em face da visão estratégica dos
arquitetos da economia japonesa. (BURSTEIN, 1988,p.179-180).
O “choque Nixon” acabara de ocorrer, desligando o dólar americano do
lastro em ouro e engatilhando uma enorme desvalorização do dinheiro
americano frente a outras moedas de circulação mundial. O iene era cota-
do, então a 360 por dólar. Sob intensa pressão dos Estados Unidos, os
negociadores japoneses aceitaram relutantemente uma alta de quase 17%
do iene, que passou a valer 308 por dólar.
[....] Mas era a lógica americana que sugeria tal conclusão,não é a lógica
japonesa. Os americanos tendiam a ver o assunto de modo absolutamente
rígido – ou dólar fraco ou o iene forte. Os japoneses tendiam a observar as
sutilezas entre uma coisa e outra, mais preocupados com a velocidade da
mudança do que com a mudança em si. Se os Estados Unidos insistiam
em forçar o iene para cima e o dólar para baixo, poucos especialistas japo-
neses acreditavam que a tendência pudesse ser brecada.
Contudo, podia ser administrada. “ Não temos medo de um determinado
nível abstrato das taxas”, observou Yoshio Suzuki, um economista do
Banco de Tóquio, depois que o dólar já tinha escorregado para menos de
140 ienes. O que tememos é não ter tempo para fazer os ajustes”
111
[...] Em algum ponto, a eleite pensante japonesa começou a amadurecer a
idéia de que a maneira mais efetiva de fazer o governo Reagam recuar era
boicotar o leilão de títulos do Tesouro que ocorreria em maio. Seria uma for-
ma silenciosa de retaliação, já que, em tese, a decisão de compra desses
títulos é tomada pelos investidores do setor privado, e não pelo governo já-
ponês. Seria um ato de represália encoberto e difícil de provar, pois o gover-
no dos Estados Unidos, em seu trágico apego a ordem mundial já extinta,
não mantém nenhuma estaística sobre compradores e detentores de títulos
de sua emissão.
Deixar de lado os títulos do Tesouro também seria uma medida inteiramente
justificável em termos microeconômicos. A queda do dólar tinha varrido cer-
ca de 13 bilhões de dólares das carteiras de títulos americanos, consideran-
do-se apenas as que estavam em poder das seguradoras japonesas.
[....] Entre final de abril e começo de maio, o mercado de títulos oscilou em
função das notícias a respeito do que os japoneses fariam no próximo
leitão.
Wall Street não deu muita atenção às informações sobre uma “greve” dos
investidores japoneses, preferindo acreditar que a América ainda estava a
cavaleiro da situação. Os japoneses não têm outro lugar onde aplicar
seu dinheiro” era a explicação mais difundida. “ Não há outro mercado no
mundo que possa absorver tanto dinheiro. Além disso, os títulos do Tesouro
americano rendem 5% a mais do que os títulos do governo japonês.
Nenhum investidor profissional perderia um diferencial desses”.
Essa pode ter sido a maneira mais tranquilizadora de negar o real papel do
Japão na economia americana, mas foi também uma linha de raciocínio
dolorosamente equivocada, errada ponto por ponto. É fato que o mercado
de títulos dos Estados Unidos representa 57% do total mundial, mas isso
ainda deixa 43% disponíveis – o bastante para abrigar títulos fluxos de
capital japonês pelo menos a curto prazo e sem que precise recorrer aos
mercados de ações e a outros nichos para colocação de excedente de
caixa.
[....] A história da Bolsa de Valores de Tóquio é toda feita de investimentos
voltados para a consolidação de relacionamentos comerciais e para a am-
pliação do entrelaçamento das redes negociais,e não de investimentos de
retorno rápido. A história de mercado de títulos governamentais de Tóquio
foi construída à base de instituições financeiras que se dispõem a empres-
tar dinheiro ao governo a juros baixos em troca de benévola proteção que
dele recebem. [.....] Principalmente quando os economistas japoneses esta-
vam prevendo quedas no valor do dólar, o que afetaria o diferencial de ren-
dimento existente entre os títulos do governo americano e japoneses.
[....] O agravamento dos problemas de relacionamento entre Estados Uni-
dos e Japão levanta novas dúvidas sobre a possibilidade de serem manti-
dos os fluxos de capital japonês para este país”, observou o principal eco-
nomista da Nomura de Nova York.
Os mercados sensíveis à variação dos juros não esperaram para ver se
os boatos iriam confirmar-se. Por pequena que fosse, uma redução nos
aportes de capital japonês teria um impacto formidável. A taxa de juros
hipotecários, que vinha caindo quase ininterruptamente nos últimos dois
anos, sofreu uma parada súbita deu meia-volta e saltou quase 2 pontos
percentuais antes que terminasse o mês de abril.
112
seu comitê de planejamento político. Eles apoiaram sua ideia de preceder
a uma elevação das taxas de juros de curto prazo, com o objetivo de firmar
o dólar e tomar os títulos americanos mais atraentes para os japoneses
que estavam em debandada. “Agora, a política do Federal Reserve é cada
vez mais influenciada e até ditada pelas necessidades de nossos credores
estrangeiros”, comentou o principal economista do Mellon Bank”.
Geralmente, os leilões do Tesouro são realizadas em três dias. Os dois
primeiros são dedicados às notas e aos títulos de curto prazo, ficando o úl-
timo dia reservado para o espetáculo dos títulos longos de trinta anos. Na
ocasião, os investidores japoneses passaram os dois primeiros dias fazen-
do tudo para derrubar as cotações. “ O Japão praticamente não demonstra
interesse”, relatou o The Wall Street Journal aos seus leitores. Uma lúgu-
bre reportagem do The New York Times mereceu a seguinte manchete :
TÍTULOS CAEM COM RETRAÇÃO DOS JAPONESES : A TENSÃO AU-
MENTA.
[....] O perigo crescia à medida que o dia do leilão de títulos avançava.
Quanto mais baixa a demanda do Japão, mais alto tinha de ser o rendimen-
to para tornar os títulos vendáveis. Cada ponto percentual que o rendimen-
to subisse custaria ao Tesouro dos Estados Unidos cerca de 3 bilhões de
dólares pelos próximos trinta anos. O salto de um único percentual também
custaria aos consumidores e às empresas incontáveis bilhões por causa
das taxas de juros mais altas. Os japoneses estavam a ponto de dar uma
lição bem dispendiosa aos americanos”.
114
também está começando a arrefecer o entusiasmo pelos ativos em dólar
e a levantar dúvidas entre os banqueiros internacionais sobre se o dólar po-
de ou deve continuar a ser usado como principal moeda do mundo.
Na melhor das circunstâncias, o crescimento econômico americano será li-
mitado até o final do século em razão da alta parcela do PNB que precisa
sair do país para pagar a dívida aos estrangeiros. Mas a história não aca-
ba aí. Economistas que procuram defender o recorde estabelecido por
Reagan apontam, corretamente, aliás, que os Estados Unidos registraram
déficits proporcionalmente maiores em relação ao PNB em vários períodos
de sua história. O mesmo aconteceu com outros países em outras ocasi-
ões, incluindo o Japão.
Em última análise, mais importante do que o tamanho do déficit é o
uso que dele é feito. Fazer dívida para criar um crescimento real no
futuro pode ser justificado pelo fato de que, à medida que a economia
se expande, o pagamento do empréstimo será mais fácil. No caso
da política econômica de Reagan, porém, não havia programa
específico do desenvolvimento da Economia. Isso era algo que
ficaria a carga do setor privado. Os cortes de impostos, que ajudaram
a criar o vertiginoso abismo entre receitas e despesas do governo,
não desencadearam novos investimentos internos, como havia sido
prometido. Na verdade, na década de 80, a economia americana man-
teve uma das taxas de investimento mais baixas do mundo em implan-
tacão de novas fábricas e em renovação de equipamentos.
Washington também se afastou de seu tradicional papel de principal
investidor do país em infra-estrutura, cortando tanto os gastos em
hardware (estradas, pontes, transportes e similares) quanto em
software (educação e treinamento). (grifo nossos)
115
A exemplificação da vantagem competitiva de um iene forte (BURSTEIN,
1988,p.156 - 158).
Parte do dinheiro está sendo aplicado pelas empresas na expansão de sua
capacidade produtiva dentro dos Estados Unidos e em outros mercados
desenvolvidos. Isso representa uma política preventiva para o dia em que
os muros do protecionismo venham a ser erguidos contra o fluxo de produ-
tos para os portos de importação, mas também torna as empresas japone-
sas supercompetitivas em virtude de capacitá-las a movimentar rapida-
mente sua produção através do Pacífico em função de custos, moedas e
outros fatores.
Uma parte maior dos excedentes está sendo usada por bancos, companhi-
as de seguros, corretoras de valores e magnatas japoneses do ramo imo-
biliário para comprar posição nos setores mais promissores e seletivos do
patrimônio mundial em ações e em imóveis.
[....] continua fluindo para reciclar o sistema de mercado de títulos dos Es-
tados Unidos. Mantendo a provisão de capital de giro para a deficitária eco-
nomia americana, o Japão parece estar fazendo um grande favor ao país.
Na realidade, o papel do Japão como financiador primário encoraja
Washington a evitar uma solução para o problema do orçamento. Essa o-
missão, por sua vez, continua a aumentar a riqueza dos japoneses e a so-
lapar a energia americana. Além dos altos rendimentos que os investido-
res recebem sobre os títulos americanos, o relacionamento de dependên-
cia financeira, que agora está sendo forçado, dá ao Japão a perspectiva
de um poder de pressão real, concreto e altamente manipulável no futuro.
29
CANUTO, Otaviano. A armadilha pela liquidez na versão do Banco do Japão. Jornal Valor
Econômico, São Paulo, 15 de agosto de 2000. Disponível em
<http://www.eco.unicamp.br/artigos/artigo127.htm>. Acesso em: 29 de julho de 2012.
30
Designação originalmente dada por John Maynard Keynes a situações em que uma política
monetária expansiva é incapaz para acabar com uma depressão.
116
tagnacionista.
As explicações para o descompasso estrutural ora se reportam ao enve-
lhecimento e aos hábitos da população, ora à exaustão das oportunidades
de investimento, exploradas nas décadas anteriores, às quais correspon-
deram ao fantástico upgrading japonês nos marcos da "velha economia".
Isto configuraria uma "armadilha pela liquidez", dada a tendência à defla-
ção e o fato de que as taxas nominais de juros não podem cair abaixo de
zero, na interpretação de Paul Krugman.
117
Neste contexto, a análise do aprofundamento da crise capitalista no Japão
representou a constatação de esgotamento do alusivo modelo, o qual conduziu o
país a se tornar a segunda potência mundial. A manutenção do iene ao redor de 128
dólares refletiu na perda de competitividade da indústria japonesa em relação à
China, aliada aos problemas do sistema bancário japonês bem como o incremento
da dívida bruta do governo japonês em face da monetização da dívida pública em
larga escala. A título de comparação a dívida pública bruta correspondia a 188% do
PIB em 2007 e passou para 238% em 2011. No que se refere ao déficit público em
2010 era de 9,2% do PIB, reduzindo o percentual em relação a 2009. Mas em 2011
o déficit voltou a subir para 10,3% em face da necessidade das sequelas do tsunami
e do desastre nuclear, os quais resultaram na necessidade de investimento de
US$ 300 bilhões na reconstrução. Assim, em um contexto de baixo crescimento do
PIB e incremento do déficit público segundo as projeções do FMI apontam para uma
relação dívida e PIB de 253% até 2016.
Salienta-se que apesar do incremento significativo da relação dívida/PIB as
taxas de juros de longo prazo têm se mantida com projeção de baixa em face da alta
credibilidade dos títulos japoneses e da significativa parcela da dívida ser financiada
pelos japoneses. Ressalta-se por outro lado a geração de déficits comerciais.
Atualmente, o custo de financiamento da dívida está em 0,30%.
O Gráfico 32 evidencia-se a real dimensão da capacidade de geração dos
significativos superávits comerciais de 2008 a 2010 e um pequeno déficit comercial
em 2011.
118
9 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
8 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
7 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
6 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
5 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
4 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
3 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
2 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
1 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
0 ,0 0 0
2008 2009 2010 2011
Ex p o r ta ç ã o 7 8 2 .0 4 8 ,6 1 0 5 8 0 .7 1 9 ,2 3 3 7 6 9 .7 7 2 ,7 7 7 8 2 2 .5 6 4 ,1 5 5
Im p o r ta ç ã o 7 6 2 .6 3 1 ,1 7 1 5 5 0 .5 3 0 ,1 8 1 6 9 2 .4 2 6 ,3 7 7 8 5 4 .0 7 2 ,8 0 1
Fonte: FMI
119
Democrático) e o Novo Komeito acordaram em aumentar o imposto sobre o
consumo de 5% para 8% em abril de 2014 e 10% em outubro de 2015. Em um
contexto de projeção do incremento da relação dívida e o PIB reflete em uma
pressão do FMI em relação ao governo para aumentar anda mais o imposto sobre o
consumo para 15%31.
Assim, evidenciou-se uma significativa alusiva relação simbiótica da dinâmica
de poder no período de 1970 a 1990 entre Estados Unidos (maior dívida mundial) e
o Japão (como maior financiador da dívida americana) , ou seja, não houve
interesse do Japão em pressionar o governo dos Estados Unidos no que se refere a
gerar uma crise de confiança sobre a sustentabilidade da dívida americana apesar
dos crescentes déficits público e de conta corrente, pois o Japão seria o maior
prejudicado se os Estados Unidos deixasse de ser a locomotiva do mundo para
realizar o ajuste fiscal necessário em face dos reflexos na geração dos superávits
comerciais obtidos e o impacto no crescimento do PIB japonês.
Por outro lado, o governo dos Estados Unidos definiu como estratégia
incentivar as empresas americanas a investirem na China em face que estas não
tinham competitividade para enfrentar as empresas japonesas. A partir da década de
90, a como forma de diminuir a significativa dependência do financiamento da dívida
em relação ao Japão, uma vez que a alusiva retaliação dos japoneses já retratada
neste tópico resultou no aumento da taxa de juros, refletindo no incremento da
dívida americana de longo prazo.
A dinâmica de poder mundial se alterou radicalmente na década de 90 com
a entrada da China, pois o Japão estagnou diante dos problemas de competitividade
já salientados, bem como uma relação dívida pública significativa e os problemas
dos sistemas bancários. Por outro lado, a China que adotava o comunismo, o qual
resultou em um longo período de semi-estagnação conforme o Gráfico 33.
O modelo economia socialista de mercado resultou em um forte crescimento
da economia da China em valores nominais em US$ de 1979 a 2011 com taxa
média de crescimento de 12,89% e foi reflexo do modelo baseado em alto
31
Japão aprova 1ª alta do imposto sobre consumo em 15 anos, Revista Exame, São Paulo, 10 de
agosto de 2012, seção Mundo. disponível http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/japao-aprova-1a-
alta-do-imposto-sobre-consumo-em-15-anos acesso em 1 de setembro de 2012
120
investimentos do setor privado combinado ao setor público aliada a alto volume de
poupança. Além disso, ressalta-se o extraordinário aumento da competitividade das
exportações de produtos manufaturados chineses, deslocando rapidamente
produtores tradicionais como Japão e Estados Unidos. A título de comparação o PIB
chinês correspondia US$ 176,6 bilhões em 1979 e em 2012 a projeção do Banco
Mundial é que alcance US$ 7,298 trilhões.
Gráfico 33 – China - Produto Interno Bruto Nominal (US$) e Taxa de Crescimento do
PIB nominal (%) – 1979 a 2012 - US$ bilhões
8.000.000.000.000 35,00%
7.000.000.000.000 30,00%
25,00%
6.000.000.000.000
20,00%
5.000.000.000.000 15,00%
4.000.000.000.000 10,00% PIB
3.000.000.000.000 5,00% Tx de Crescimento
0,00%
2.000.000.000.000
-5,00%
1.000.000.000.000 -10,00%
- -15,00%
121
Essa alteração provocou uma grande elevação na produtividade rural, com
grandes reflexos sobre a renda e o emprego. A existência de um grande
contingente de mão-de-obra com produtividade marginal muito baixa
possibilitou seu deslocamento para as cidades, mantendo baixos os
salários mesmo com crescimento elevado.
122
Essa forma de agrupamento regional das indústrias, especialmente
daquelas mais intensivas em conhecimento, teve papel relevante no
desenvolvimento tecnológico chinês e na alteração da pauta de
exportações ao longo dos últimos 20 anos, ainda que o esforço doméstico
de geração de tecnologia permaneça relativamente baixo.
123
Ressalta-se a estratégia da China de alavancar o desenvolvimento econômico
através do processo ilegal de conhecimento, sendo que método foi utilizado por
outros países (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 84).
Entretanto, esses mecanismos permitiram uma transferência de conheci-
mento a custos muito baixos e viabilizaram o desenvolvimento de diversos
setores industriais, o que, de outra forma, talvez não tivesse sido possível.
Deve-se reconhecer que a China não inaugurou o processo de transferên-
cia ilegal de conhecimento e que, ao longo da história, diversos outros pai-
ses adotaram práticas semelhantes, sendo o Japão do pós-guerra o mais
recente exemplo.
124
tarifa média sobre as importações; diminuição da dispersão tarifária), impactando na
taxa de crescimento do PIB.
Ressalta-se a análise do intenso processo de liberalização de preços e o
afrouxamento da política monetária e os reflexos nos ciclos inflacionários dos últimos
30 anos (NONNENBERG,2010,p. 207).
Normalmente, os ciclos inflacionários dos últimos 30 anos na China são as-
sociados a dois fatores básicos. De um lado, o intenso processo de libera-
lização de preços, de outro, períodos de afrouxamento da política monetá-
ria, que permitiram expansão dos investimentos das empresas estatais.
Gráfico 34 – China - Taxa de Inflação (IGP-DI) x Taxa de Crescimento do PIB real (%)
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
-5,00%
125
No que concerne à elevada taxa de poupança da China é reflexo de
ausência de um estado de bem-estar social, a qual resulta na viabilização da
realização de investimento sem pressionar a poupança externa (LEVY,
NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 86)
A China, sistematicamente, tem apresentado elevadas taxas de poupança,
de 35% a 37% do PIB nos anos recentes. As empresas não-financeiras
(públicas e privadas) e as famílias são responsáveis por cerca de 80% do
total, cabendo ao governo o restante da poupança doméstica. Essas taxas
são altas até mesmo para os padrões asiáticos. Refletem, pelo lado das
famílias, a ausência de um estado de bem-estar social, obrigando-as a
poupar de forma a assegurar recursos para despesas de saúde, educação
e previdência. Pelo lado das firmas, contribuem as altas de margens de lu-
cro e a ausência de política de distribuição de dividendos, mesmo por
parte das estatais. Finalmente, como parcela expressiva dos gastos do
governo são investimentos, a diferença entre receitas e despesas de
consumo é elevada.
Essas altas taxas de poupança doméstica viabilizam a realização de
investimentos da mesma magnitude sem pressionar a poupança externa.
Ao contrário, a poupança externa, há mais de 15 anos, é negativa.
129
De 2011 em relação a 2008 observou-se uma redução da corrente de
comércio mundial de US$ 213 bilhões enquanto a China teve um incremento de
US$ 1,036 trilhão e os Estados Unidos de US$ 294 bilhões.
Gráfico 35 – Evolução da corrente de comércio – mundo, Estados Unidos e China, 2000-2011
(Em US$ bilhões correntes)
18.000
16.000
14.000
12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
-
2000 2002 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011
CHINA 474 621 851 1.154 1.760 2.176 2.564 2.208 2.973 3.600
ESTADOS UNIDOS 2.041 1.893 2.027 2.341 2.944 3.168 3.456 2.661 3.247 3.750
MUNDO 6.724 6.741 7.861 9.567 12.435 14.297 16.513 12.862 15.402 16.300
Fonte: OMC
Elaboração: AEB
Nota : Para o exercício de 2011 é previsão
130
2.000
1.800
1.600
1.400
1.200
1.000
800
600
400
200
-
2000 2002 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011
CHINA 249 326 438 593 969 1.220 1.431 1.202 1.578 1.880
ESTADOS UNIDOS 782 693 724 815 1.026 1.148 1.287 1.056 1.278 1.550
Fonte: OMC
Elaboração: AEB
Nota : Para o exercício de 2011 é previsão
131
2 .5 0 0
2 .0 0 0
1 .5 0 0
1 .0 0 0
500
0
2000 2002 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011
C H IN A 225 295 413 561 791 956 1 .1 3 3 1 .0 0 6 1 .3 9 5 1 .7 2 0
ES TA D O S U N ID O S 1 .2 5 9 1 .2 0 0 1 .3 0 3 1 .5 2 6 1 .9 1 8 2 .0 2 0 2 .1 6 9 1 .6 0 5 1 .9 6 9 2 .2 0 0
Fonte: OMC
Elaboração: AEB
Nota : Para o exercício de 2011 é previsão
Gráfico 38 - Exportações, importações e saldo comercial dos Estados Unidos para a China
continental – 2000-2010 (Em US$ bilhões)
132
Fonte : Direção de Estatísticas Comerciais/FMI
Elaboração : Eduardo Costa Pinto
Nota : Acumulado dos três trimestres do ano
133
Fonte : Direção de Estatísticas Comerciais/FMI
Elaboração : Eduardo Costa Pinto
Nota : Acumulado dos três trimestres do ano
Tabela 8 - Evolução das importações chinesas originárias dos Estados Unidos por intensidade
tecnológica – valor acumulado para períodos – 1990-2009
134
(Em US$ bilhões correntes)
Fonte: Comtrade/ONU.
Elaboração de Eduardo Costa Pinto.
Nota: ¹ Classificação extraída de OCDE (2003).
Observa-se que o outro fator estrutural na análise da dinâmica do poder da
China em relação aos Estados se reflete no grau de competitividade da evolução da
participação de produtos de maior valor agregado (PINTO,2011,p. 41 e 42)
O quarto elemento representativo da relação sino-americana, no plano co-
mercial, foi o aumento explosivo da participação de produtos de maior
valor agregado nas exportações chinesas para os Estados Unidos. A análi-
se da evolução das exportações por intensidade tecnológica, entre 1990 e
2009, evidencia o aumento significativo do volume e da participação das
exportações industriais com maior valor agregado. As exportações de
produtos industriais de alta e média intensidade tecnológica foram as que
mais cresceram em valor (de US$ 56,9 bilhões, no acumulado entre 1990
entre 1990 e 1994, para US$ 700 bilhões, no acumulado entre 2005 e 2009)
e em participação (de 28,8% em 1990-1994 para 53,9% em 2005-2009).
Ao passo que produtos industriais exportados intensivos em trabalho e re-
cursos naturais tiveram forte redução na participação total (de 57,7%, em
1990-1994, para 31,3%, em 2005-2009), mesmo com aumento em seu valor
(de US$ 114,1 bilhões no acumulado entre 1990 e 1994, para US$ 407,2 bi-
lhões, no acumulado entre 2005 e 2009) Tabela 9). É preciso destacar que
esta tendência de aumento do conteúdo tecnológico das exportações chine-
sas para os Estados Unidos também é verificada para as exportações chi-
nesas ao resto do mundo – a participação das exportações chinesas para o
mundo de produtos industriais de alta e média intensidade tecnológica au-
mentou de 32,6% em 1990-1994 para 58,6% em 2005-2009”.
Tabela 9- Evolução das exportações chinesas originárias dos Estados Unidos por intensidade
tecnológica, valor acumulado para períodos – 1990-2009 (Em US$ bilhões correntes)
135
Fonte: Comtrade/ONU.
Elaboração de Eduardo Costa Pinto.
Nota: ¹ Classificação extraída de OCDE (2003).
Assim, se observa que as pressões dos EUA para que a China valorize a sua
moeda (yuan) são insuficientes em face do poder que esta tem em relação à aquele
em face do financiamento da dívida pública americana.
A dinâmica da geração de superávits comerciais da China resultou no poder
sobre os EUA no que concerne ao financiamento da dívida concomitantemente a
posição devedora da China em face dos altos IDEs americanos (FIORI, 2008;
TAVARES; BELUZZO, 2004 apud PINTO, 2011,p.53).
A inclusão da China ao mercado de bens e de capitais dos Estados Unidos
significou, no plano financeiro, a maior e mais rápida expansão do território
econômico supranacional americano, pois potencializou significativamente
o poder do dólar e dos títulos da dívida pública do governo americano, o
que, por sua vez, elevou a capacidade de multiplicação do capital
financeiro dos Estados Unidos. Nesse contexto, a China é, ao mesmo
tempo, devedora dos Estados Unidos – devido aos altos IDEs americanos
no território chinês – e credora do Estado americano – em virtude do
enorme acúmulo de reservas soberanas na forma de títulos do Tesouro.
138
Ressalta-se a significativa análise sobre a China no tocante a acumulação de
reservas internacionais mantendo a taxa de câmbio fixa e sem gerar pressões
inflacionárias (NONNENBERG,2010, p. 212)
Como foi possível à China acumular reservas internacionais em valores
tão elevados, mantendo a taxa de câmbio fixa sem, ao mesmo tempo, ge-
rar pressões inflacionárias? A contrapartida da elevação das reservas é o
aumento da dívida pública. Quanto maior a dívida, maiores os encargos
financeiros e maior o déficit fiscal. Entretanto, à diferença da maior parte
dos demais países, tanto o déficit fiscal da China quanto o valor inicial da
dívida pública eram relativamente pequenos. A dívida bruta do governo
32
central passou de aproximadamente 6,5% do PIB em 1990 para 15,7%
33
em 2008 .
32
De acordo com o Banco Mundial.
33
Segundo o CIA World Factbook
139
Gráfico 40: PIB – Taxas reais efetivas e potenciais (filtro HP) e variação dos
preços ao consumidor (em%)
140
Gráfico 41: Contribuições ao crescimento do PIB – %
141
A título de comparação o PIB americano representava US$ 2 trilhões de
dólares em 1990 e passou para US$ 15 trilhões em 2011 (Gráfico 42). Ressalta-se
que com a crise mundial deflagrada pela crise do subprime o PIB americano era em
valores nominais US$ 14,219 trilhões em 2008 e reduziu para US$ 13,864 trilhões
em 2009 e com as alusivas medidas de afrouxamento quantitativo passou para
US$ 15,119 trilhões em 2011. No tocante a China o PIB chinês que era de
US$ 4,521 trilhões em 2008 e passou para US$ 4,991 trilhões em 2009 ,e, por
conseguinte em face do seu alusivo poder também utilizou a hegemonia das
políticas fiscal, a monetária, a cambial e de creditícia e ainda aliada a uma política
de estimulo ao investimento sob a ótica Keynesiana em 2011 sem levar em
consideração a visão de Hayek, bem como as dificuldades do sistema financeiro
chinês no que se refere à geração de créditos podres (MACÁRIOS,2011). Neste
contexto, o PIB chinês alcançou US$ 7,298 trilhões em 2011.
Gráfico 42 – PIB em valores nominais dos Estados Unidos e China – 1990 a 2011 - (Em US$ trilhões)
16.000.000.000.000 35,00%
14.000.000.000.000 30,00%
12.000.000.000.000
25,00%
10.000.000.000.000
20,00%
8.000.000.000.000
15,00%
6.000.000.000.000
10,00%
4.000.000.000.000
2.000.000.000.000 5,00%
0 0,00%
1990 1991 19921993 1994 19951996 1997 19981999 2000 20012002 2003 20042005 2006 20072008 2009 20102011
China Estados Unidos Taxa Crescimento nominal do PIB Chinês Taxa Crescimento do PIB nominal Estados Unidos
142
A valorização do real impactou em um crescimento significativo do déficit
comercial do segmento de produto industrializado no Brasil ,e, portanto impactou no
crescimento do PIB.
No que se refere ao exercício de 2012 o governo Dilma decidiu como
estratégia para recuperar a competitividade da indústria a depreciação do real em
relação ao dólar a taxa de R$ 2,00, entretanto não resultou no aumento da produção
industrial (ver no tópico desindustrialização).
No tocante a alusiva política monetária de expansão quantitativa do Banco
Central americano teve resultados distintos diminuiu o problema de financiamento da
dívida sem que os Estados Unidos necessitassem realizar o ajuste fiscal, entretanto
não produziu impacto no PIB dos Estados Unidos em face que em 2008,2009, 2010
e 2011 foi verificado uma redução real do PIB de 7,94%,8,77%,9,60% e 10,76%,
respectivamente. Assim, a China percebeu essa dinâmica do poder e obteve um
extraordinário crescimento nominal do PIB em dólar de 2011 em relação a 2008.
Gráfico 43 – Estados Unidos – PIB em valores nominais e valores reais – 1995 – 2011 (US$ trilhões)
1 6 .0 0 0 .0 0 0
1 4 .0 0 0 .0 0 0
1 2 .0 0 0 .0 0 0
1 0 .0 0 0 .0 0 0
8 .0 0 0 .0 0 0
6 .0 0 0 .0 0 0
4 .0 0 0 .0 0 0
2 .0 0 0 .0 0 0
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
E s ta d o s U n id o s ( P IB R E A L ) E s ta d o s U n id o s (P IB N O M IN A L )
143
financiamento da dívida possibilita ao governo americano a não ser forçado a
implementar um ajuste fiscal no tocante ao aumento das receitas ou redução dos
gastos, os quais impactariam ainda mais na taxa de crescimento do PIB.
A crise de 2008 resultou em um impacto significativo no tocante ao
incremento da dívida pública34.
Obama herdou os efeitos da monumental crise de 2008. Atacou-os com
brutal aumento de liquidez, por meio da injeção de 3 trilhões de dólares na
economia e de taxa de juros beirando zero. A dívida pública dobrou em
quatro anos, indo de 5 trilhões de dólares para 10 trilhões de dólares.
144
americano tem como objetivo a monetização da dívida, ou seja, exportando inflação
para o resto do mundo e valorização das moedas como o Real.
Logo, a China se beneficiou dessa estratégia dos Estados Unidos quando se
observou o seu excepcional crescimento do seu PIB em valores nominais em
dólares de 2011 em relação a 2008 (Gráfico 33).
Entretanto, se considerarmos o problema do financiamento da dívida pública
a França e Alemanha estão também sendo beneficiadas em face da redução do
custo da dívida diferentemente da Espanha e Itália, pois na ausência da dinâmica do
crescimento do consumo os poupadores direcionaram os seus recursos
principalmente para Alemanha, refletindo que o custo de financiamento da dívida
atualmente seja negativo.
Diante da magnitude do problema do sistema bancário e da necessidade da
retomada do crescimento o Federal Reserve utilizou o instrumento do afrouxamento
quantitativo. Esta ferramenta é uma peculiaridade da política monetária, entretanto
só pode ser realizada se o banco central controla a moeda utilizada. Assim, os
bancos centrais dos países da zona euro, por exemplo, não pode unilateralmente
expandir sua oferta de moeda e, portanto, não pode empregar a flexibilização
quantitativa em face que a definição da política monetária está na competência do
Banco Central Europeu (BCE).
No tocante ao uso deste instrumento Quantitative Easing pelo BCE foi menor
do que os programas dos bancos centrais dos Estados Unidos e Inglaterra
(OLIVEIRA,2010,p,26).
A perspectiva do Banco Central Europeu era diferente desses outros
bancos centrais, já que o crédito do sistema financeiro europeu é
primordialmente originado pelos bancos. No sistema europeu, o aumento da
liquidez no setor bancário foi o principal objetivo do programa que, na
verdade, foi chamado de credit enhanced program.
O programa anunciado pelo BCE teve como principal medida o aumento do
conjunto de ativos como colateral para a tomada de empréstimos junto á
autoridade monetária. Esses empréstimos colaterizados já constituíam
operações que o BCE realizava no período anterior à crise, e, por isso, a
sua implementação foi relativamente fácil e direta. Foram adotados
extensões da classe de ativos que seriam aceitos como colateral. Além
disso, a maturidade dos empréstimos também foi aumentada, chegando, no
auge da crise, a alcançar 1 ano.
A taxa dessas operações também foi fixada em 1%, e o volume de
emprésimos foi estipulado como ilimitado. Muitas dessas operações estão
sendo ou já foram lentamente revertidas,de acordo com a menor demanda
dos bancos por empréstimos do BCE, devido ao retorno da liquidez no
mercado interbancário.
O programa de compras de ativos privados (covered bands) foi limitado a 60
bilhões de euros e não foi o principal canal de afrouxamento da política
145
monetária. O Quantitative Easing realizada pelo BCE, na forma mais
tradicional, apenas veio a ocorrer em 2010,devido à aguda crise das dívidas
soberanas de alguns países europeus. Diante do questionamento sobre a
capacidade de pagamento dos países periféricos e o possível contágio da
crise para países maiores como Espanha e Itália, o BCE iniciou um
programa de compra de títulos públicos de países com alta volatilidade para
evitar movimentos abruptos nos spreads. Essa compra de títulos públicos
de alguns países da Zona do Euro foi bastante criticada, inclusive por
menbros do próprio BCE.
36
http://www.ft.com/cms/s/0/69e8c92c-e758-11df-880d-00144feab49a.html
146
de longo prazo era limitada. Além da intervenção no setor imobiliário, o FED
também anunciou compras no total de US$ 300 bilhões em títulos de longo
prazo do Tesouro americano, priorizando maturidades de 2 a 10 anos.
37
Censky, Annalyn (3 Nov 2010). "QE2: Fed pulls the trigger". CNNmoney.com. Retrieved 10 Aug
2011.
38
AMADEO, Kinberley. What Is Quantitative Easing? Disponível em <
http://useconomy.about.com/od/glossary/g/Quantitative-Easing.htm. Acesso em 28 de agosto de
2012.
39
KLYUEV, Vladimir ; IMUS, Phil de ; and SRINIVASAN, Krishna. Unconventional Choices for
Unconventional Times: Credit and Quantitative Easing in Advanced Economies. International
Monetary Fund. November 4, 2009.
147
O economista Martin Feldstein argumenta que QE2 levou a um aumento do
mercado de ações no segundo semestre de 2010, contribuindo para o aumento do
40
consumo e do forte desempenho da economia dos EUA no final de 2010. Em
novembro de 2010, o presidente do Banco Central americano, Ben Bernanke,
questionado sobre a eficácia do programa do Fed QE ele respondeu que suas ações
refletem o ambiente econômico de alto desemprego e baixa inflação.41 Entretanto,
este instrumento de política monetária é a forma que o Banco Central americano
utilizou para reduzir os impactos sobre a economia americana no que tange a evitar
ao incremento do desemprego, bem como a redução da taxa de juros do
financiamento da dívida pública.
Salienta-se que a flexibilização quantitativa pode causar uma inflação mais
elevada do que a desejada, conforme foi evidenciado que o incremento do PIB
nominal americano de 2011 em relação a 2007 foi muito significativo com relação ao
PIB real, ou seja, refletindo em uma monetização da dívida pública americana.
Para Harvey (2012, p.14), o geógrafo e antropólogo, a decisão do Federal
Reserve de implentar a política de afrouxamento quantitativo criando do nada 1
trilhão de dólares gera um problema no sistema capitalista.
Há uma constante pressão da acumulação de capital contra seus limites.
Periodicamente esses limites se mostram muito difíceis de superação. É
quando se tormam difíceis de superação. E quando se tornam difíceis de
superação nós temos uma situação de congelamento do sistema. Surge
então a pergunta de como é possível para o capitalismo acumular sem
limites. Marx tem uma resposta muito interessante para isso, que a única
coisa que pode ser acumulada sem limite é dinheiro. Você pode criar
dinheiro porque dinheiro é só número. [....] Isso é o que nós vemos quando
o Federal Reserve pratica o afrouxamento quantitativo criando do nada um
trilhão de dólares. E Keynes mostra que isso, por si, gera um novo proble-
ma : onde investir esses recursos ?
40
Feldstein, Martin (2011-02-24). "Quantitative Easing and America's Economic Rebound". project-
syndicate.org. Project Syndicate. Retrieved 2011-04-04.
41
BERNANKE, Ben "Open letter to Ben Bernanke". The Wall Street Journal. 15 Nov 2010. Retrieved
12 Aug 2012.
148
Globalmente, há um movimento de “tomada de terras” (land grabing) de
investimento em ativos naturais. Essa dinâmica, evidentemente,tem limites,
que só podem ser transcedidos na esfera monetária. Nós criamos liquidez
como mecanismo de enfrentamento da crise, mas não sabemos para onde
vai essa liquidez, onde colocá-la e como usá-la. Outra coisa que acontece é
que, ao criar dinheiro, você cria desvalorização, seja a própria
desvalorização do dinheiro ou a desvalorização dos ativos, como vimos
acontecer no mercado imobiliário americano. Daí, os valores das
propriedades colapsam.
42
McTeer, Bob (26 August 2010). Forbes. Available in <
http://blogs.forbes.com/beltway/2010/08/26/quantitative-easing-is-a-toxic-phrase-for-a-
routine-policy/>. Retrieved in 26 August 2012
43
http://dallasfed.org/news/speeches/fisher/2010/fs101108.cfm
150
moeda internacional, garantindo dessa forma um grande fluxo de capital estrangeiro,
contribuindo para o excesso de liquidez e para a redução da taxa de juros conforme
foi evidenciada em 2010, 2011 e também em 2012 em face do custo de
financiamento da dívida americana ter se reduzido apesar da continuação da
geração de déficits gêmeos. Entretanto, o entendimento de que os Estados Unidos
têm dificuldade de fazer política monetária não condiz com a realidade conforme foi
analisado os reflexos no tocante ao afrouxamento quantitativo.
De acordo com David Harvey (2012,p.16) a dimensão da crise mundial refletiu
em uma perda de 30 milhões de empregos na China entre 2008 e 2009 no
segmento da indústira exportadora, entretanto esta reverteu com uma solução
“sinokeynesiana”, refletindo em uma perda líquida de 3 milhões de empregos em
face dos altos investimentos em infraestrutura.
Há um modo de pensar a superação da crise a partir da teoria Keynesiana,
através do aumento dos gastos sociais, socializando os custos da
reprodução social, uma linha oposta à neoliberal, de privatização de tais
custos em termos de previdência, de educação. A socialização de tais
custos me parece um bom caminho inicial. A outra peça da teoria
Keynesiana é o investimento em infraestrutura. Os chineses perderam 30
milhões de empregos entre 2008 e 2009, por conta do colapso das
indústrias de exportação. Em 2009, eles tiveram uma perda líquida de só
três milhões de empregos, o que significa dizer que eles criaram 27 milhões
de empregos em cerca de nove meses. Isto foi resultado de uma opção pela
construção de novos edifícios, novas cidades, novas estradas, represas,
todo o desenvolvimento de infraestrutura, liberando uma vasta quantidade
de dinheiro para os municípios, para que suportassem o desenvolvimento.
Essa é uma clássica solução e me parece que uma coisa semelhante
aconteceu no Brasil através do Bolsa Famíia e de programas de
investimento estatal em infraestrutura.
151
perdas dos bancos , e, portanto prejudicando a sua capacidade de financiamento
(COX,2012,p.76)
Something similar may be required in 2012 if America's stagnation and
Europe's debt crisis once again threaten the global economy. But the new
leadership of Xi Jinping and Li Keqiang (expected to take over towards the
end of the year) is unlikely to embrace Keynes as wholeheartedly as their
predecessors. Indeed, they may find themselves slave to the scribblings of
a different dead economist, Keynes's intellectual foe, Friedrich Hayek.
Whereas Keynes worried about inadequate investment—too little entre-
preneurial spending to keep everyone gainfully employed—Hayek worried
about bad investment. If credit were too easy, he argued, entrepreneurs
would embark on overambitious projects that take too long to reach fruition
and make insupportable claims on society's resources.
It is not hard to find overambitious projects in China: think of the country's
“ghost cities”, such as Ordos in Inner Mongolia, which is being built by go-
vernment fiat long before people are ready to live in it. But although China
invests at a formidable pace, it also saves at a prodigious rate. In such a
thrifty economy, interest rates should be low, credit should be readily
available and investment should be high.
Yet in 2009 and 2010 things went too far. Spurred on by the government,
China's banks increased their lending by almost 9.6 trillion yuan ($1,5 tri-
llion) in 2009. That is roughly twice the size of the Indian banking system,
as Bank Credit Analyst, a research company, has pointed out. In other
words, China's lenders added two Indias to their loanbooks in the space of
44
a year”.
44
COX, Simon. Keynes vs Hayek na China. The Economist , The World in 2012, January and
February. Disponível em <. http://www.economist.com/node/21537010>. Acesso em: 04 de agosto de
2012.
152
Gráfico 44 – Dívida dos governos locais chineses – 1998 - 2010 (% do PIB)
153
Tabela 12 - Taxas média de crescimento nominal do PIB da China, Japão, Estados Unidos e
Alemanha com base no US$ – 1971-2011 - (Em %)
154
Tabela 13 : Riqueza fictícia e riqueza real – 1980 a 2010 - (Em US$ trilhões)
Estoque mundial de
ativos financeiros* PNB mundial Relação estoque
( US$ trilhões ) ( US$ trilhões ) ativos / PNB
1980 12 11,8 1,02
1993 53 24,9 2,13
1996 69 30,3 2,28
1999 96 31,1 3,09
2003 118 37,1 3,18
2006 167 48,8 3,42
2007 200** 54,8 3,65
2010*** 209 55,9 3,74
Fontes: McKinseys Global Institute (Ativos) e FMI (PNB); elaboração Leda Maria Paulani.
* Inclui ações e debêntures, títulos de dívida privados e públicos e aplicações bancárias;
não inclui derivativos.
** Estimativa.
*** Projeções.
155
Neste contexto, observa-se as primeiras crises do capitalismo decorrente da
desregulamentação financeira e abertura de capital (PAULANI,2009,p.31)
Os países latino-americanos, desejosos de dar continuidade a seus
planos de crescimento, mas obstaculizados pelo choque do petróleo,
constituíram, na década de 1970, a demanda por crédito que esses capitais
buscavam. A mudança brusca da política monetária americana em 1979,
com brutal elevação dos juros visando recuperar a então ameaçada
hegemonia mundial da moeda americana, produziu a primeira crise do
capitalismo financeirizado, iniciada com a quebra do México em 1982.
Além disso, já na primeira metade dos anos 1980, quebras bancárias
ocorrem nos Estados Unidos. A crescente fragilidade dos países
devedores da América Latina direciona parte dessa riqueza, agora num
ambiente muito mais desregulado, para as bolsas americanas, culminando
no crash de Wall Street de 1987,seguido de uma crise imobiliária em 1990.
Apesar de essas crises irem destruindo parte da riqueza financeira que as
causou, o estoque mundial de ativos financeiros, como demonstram os
dados anteriormente apresentados, não parou de crescer.
A essas alturas, com o crescimento do poder dos fundos de hedge e dos
investidores institucionais de modo geral, crises são “produzidas” muitas
vezes intencionalmente, como ocorreu com o colapso da libra inglesa
em 1992, por obra do fundo de hedge do famoso investidor George Soros.
Por outro lado, o BCE fez uma oferta de financiamento de três anos no
montante de 529,5 bilhões de euros a 800 bancos do continente com o objetivo de
fortalecer o crédito bancário, reduzir o risco de calote dos países em crise e conter a
recessão em 29 de fevereiro de 2012,. O objetivo desta decisão foi aumentar o
crédito para empresas e governos, os custos dos empréstimos vão diminuir ainda
mais. Segundo Luca Cazzulani, do UniCredit essa injeção de recursos do BCE au-
mentará muito o nível de excesso de liquidez, que finalmente está positivo ou muito
positivo para operações de risco", disse. "Os títulos italianos e espanhóis devem se
beneficiar disso assim como os mercados de ações." 46.
No entendimento de Ocké-Reis, a atuação do BCE tem como meta a
monetização das dívidas soberanas e o aumento da liquidez do sistema. Com isso,
a entidade espera que a Grécia cumpra seu plano de reestruturação e nações com
pouca liquidez, como a Itália, adotem políticas fiscais que acalmem os credores
externos47.
45
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Tecnocracias à moda da União Européia. Brasília Distrito
Federal. Revista Desafios do Desenvolvimento. Instituto de Pesquisa Economia Aplicada (IPEA) Ano
9 nº 71.
46
CARREL, Paul et al. Injeção do BCE no sistema bancário supera previsões. Reuters Brasil, 29 de
fevereiro de 2012 disponível em http://br.reuters.com/article/topNews/idBRSPE81S01K20120229
acesso em 05 de setembro de 2012.
47
GOMES,Marcel. Como o Brasil pode evitar a crise. Revista Desafios do Desenvolvimento, IPEA, Ano 9, nº 71.
158
A análise de Franlin Trein, professor do Instituto de Filosofia e Ciências
Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ, analisa a dimensão
da dívida da Itália e o financiamento em mãos estrangeiras principalmente da França
e a Alemanha.48
Não é bem assim, sugere Trein. “Monti está se antecipando à prescrição de
um remédio amargo que pode ser imposto também a Itália. Ainda que o PIB
italiano seja quase cinco vezes maior do que o da Grécia, e mesmo que sua
dívida pública de 1,4 trilhão de euros não esteja majoritariamente em mãos
estrangeiras – são 56% internos, contra 44% externos -, a França é credora
de 511 bilhões e a Alemanha de 119 bilhões de euros”. A dívida em mãos
da França representa algo em torno de 20% do seu PIB.
48
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Tecnocracias à moda da União Européia. Brasília Distrito
Federal. Revista Desafios do Desenvolvimento. Instituto de Pesquisa Economia Aplicada (IPEA) Ano
9 nº 71.
49
LATOEIRO, Pedro. Alemanha emite dívida a custo zero, 22 de agosto de 2012. Disponível em
http://economico.sapo.pt/noticias/alemanha-emite-divida-a-custo-zero_150510.html acesso em 23 de
agosto de 2012.
50
GUANDALINI, Giuliano. O euro brinda Frau Merkel. Revista Veja, São Paulo, Edição 2.287, 19 de
setembro de 2012, p. 76-77
159
No que tange ao Japão em face da sua alusiva relação simbiótica de poder
com os Estados Unidos foi o mais beneficiado em função da valorização do iene e a
geração de superávits comerciais de 1970 a 1980 e concomitantemente o maior
financiador da dívida pública americana.
Segundo (HARVEY,2012,p,20) a ausência de dinamismo da economia
japonesa é reflexo da entrada da China e a quebra do mercado de ações e em
propriedade imobiliária.
Bem, o Japão, depois de um período de grande crescimento, nos anos
1970-80, teve que se defrontar com uma questão: o que fazer com o seu
superávit? Eu me lembro de estar no Japão, em meados dos anos 1980,
pouco antes do colapso dos mercados locais. Muitas pessoas me diziam –
pessoas das mais diferentes posições políticas – que eles estavam muito
felizes por terem vivido naquela era, porque eles sabiam que ela tinha
chegado ao fim. E eu perguntava por que tinha chegado ao fim, e me diziam
“porque agora vai tudo para a China”. A grande vantagem japonesa, que era
a mão de obra, seria superada pela China e agora nós vemos que até as
grandes corporações japonesas se deslocaram para a China. A grande
questão interna do Japão era de alocação de capital, que foi respondida
pela inversão no mercado de ações e em propriedade imobiliária. Quando
esses dois mercados quebraram simultaneamente eles não foram capazes
de resolver os problemas.
161
no que tange a necessidade de realizar um ajuste fiscal para reduzir a dinâmica
explosiva da dívida bruta em relação ao PIB está sendo resolvida via a monetização
da dívida.
Neste contexto, as dificuldades econômicas no exterior fazem cair o
interesse por produtos feitos no Brasil, contendo as exportações agravada ainda
mais pela pressão cambial em face da total livre entrada de capital estrangeiro
resultou em uma dinâmica mais acentuada das importações de 2011 em relação a
2007. Assim, estes fatores contribuíram para um crescimento de apenas 2,7% do
PIB em 2011, ante uma previsão inicial de 4,5%, e em face da rigidez do volume de
importações em relação ao PIB em 2012 reflete em um PIB ainda menor do que em
2012.
• Desindustrialização no Brasil
O processo de desindustrialização no Brasil é reflexo da década de 80 em
face da necessidade de gerar excepcionais superávits comerciais para o pagamento
da dívida, e, portanto o país que crescia a um ritmo excepcional foi forçado a pagar
um serviço da dívida imposto pelo FMI, a qual gerou uma crise fiscal, refletindo em
um processo de hiperinflação e desarticulação das cadeias produtivas conforme
salientado no tópico Brasil do FMI ao caos , ou seja, em um cenário de hiperinflação
e em um baixo processo de geração de renda o segmento industrial sofre os
reflexos.
A miopia da Federação da Indústria no tocante a apoiar a mensagem
neoliberal do Consenso de Washington foi decisiva para o atual nível de
desindustrialização em 2012 (BATISTA,1994, p. 6 )
A mensagem neoliberal que o Consenso de Washington registraria vinha
sendo transmitida, vigorosamente, a partir do começo da Administração
Reagan nos Estados Unidos, com muita competência e fartos recursos,
humanos e financeiros, por meio de agências internacionais e do governo
norte-americano. Acabaria cabalmente absolvida por substancial parcela
das elites políticas, empresariais e intelectuais da região, como sinônimo de
modernidade, passando seu receituário a fazer parte do discurso e da ação
dessas elites, como se de sua iniciativa e de seu interesse fosse.
Exemplo desse processo de cooptação intelectual é o documento publicado
em agosto de 1990 pela Fiesp, sob o título "Livre para crescer - Proposta
para um Brasil moderno", hoje na sua 5ª edição, no qual a entidade sugere
a adoção de agenda de reformas virtualmente idêntica à consolidada em
Washington.
A proposta da Fiesp inclui, entretanto, algo que o Consenso de Washington
não explicita mas que está claro em documento do Banco Mundial de 1989,
intitulado "Trade Policy in Brazil: the Case for Reform". Aí se recomendava
que a inserção internacional de nosso país fosse feita pela revalorização da
agricultura de exportação. Vale dizer, o órgão máximo da indústria paulista
162
endossa, sem ressalvas, uma sugestão de volta ao passado, de inversão do
processo nacional de industrialização, como se a vocação do Brasil, às
vésperas do século XXI, pudesse voltar a ser a de exportador de produtos
primários, como o foi até 1950. Uma área em que os preços são cadentes -
são hoje, em termos reais, 40% em média inferiores aos de 1970 - em
virtude do notável volume de subsídios concedidos a seus produtores
agrícolas pelos países desenvolvidos, da ordem de US$ 150 bilhões de
dólares por ano, e da revolução no setor de materiais que vem reduzindo
substancialmente o uso de matérias-primas naturais por unidade de produto
obtido”.
163
Um outro estudo que aponta a ocorrência inequívoca de desindustrialização
no Brasil nas décadas de 1980 e 1990 é Bonelli (2005). Com base nas
informações fornecidas pelas contas nacionais do Brasil, a participação da
indústria no PIB a custo de fatores teria se reduzido de 42,3% em 1985 para
apenas 31,4% em 1995, ou seja, uma queda de cerca de 11 p.p. com
respeito ao PIB em apenas dez anos (Ibid., p. 10). Essa queda foi
basicamente o resultado da redução da participação da indústria de
transformação, cuja participação no PIB a custos de fatores se reduziu de
31,62% em 1985 para 20,60% em 1995. Esse processo de “perda do peso
relativo da indústria no PIB” foi causado pelas mudanças pelas quais
passou a economia brasileira no final da década de 1980 e início da década
de 1990, a saber: aumento da competição interna e externa, causado pela
abertura comercial e financeira, privatização em diversos segmentos
industriais, e sobre-valorização da taxa real de câmbio no período 1995-
1998 (Ibid., pp. 22-23).
164
Gráfico 45: Brasil - Participação da Indústria de Transformação no PIB – Em %
165
Gráfico 46: Brasil - Taxa de crescimento do PIB e da Indústria de Transformação (%)
e Taxa Real Efetiva de Câmbio (1996-2008)
51
A taxa de câmbio (medida pela média anual das taxas de câmbio R$/US$ de compra e venda)
variou de 2,00 para 1,76.
52
Contribui para este quadro a valorização do Real ocorrida entre 2010 e 2011. A taxa de câmbio
(medida pela média anual das taxas de câmbio R$/US$ de compra e venda) variou de 1,76 para 1,67.
166
Bruto (PIB) brasileiro, pois as exportações tiveram crescimento de 4,5%, e as
importações se expandiram 9,7%.
15,00%
10,00%
0,00% PIB %
19951996199719981999200020012002200320042005200620072008200920102011
-5,00%
-10,00%
53
http://www2.fiesp.com.br/noticias/importacao-cresce-298-em-11-anos-diz-consultor-da-
abimaq/ acesso em 13 de agosto de 2012.
167
Ressalta-se que analisando o PIB industrial global, o Brasil atravessou a
década na décima colocação entre os países mais industrializados. Os problemas
mais graves ocorreram nos últimos três anos em face de que com a crise na Europa
e nos Estados Unidos resultou em um excesso de capacidade de produção industrial
no mundo ,e, aliada a política de estimulo ao consumo sem que a indústria brasileira
tivesse condições de competir (SALOMÃO ; DALMAZO,2012)54
A indústria brasileira vive hoje no pior dos mundos”, diz o economista
Mansueto Almeida, do Instituto de Política Econômica Aplicada. “Não temos
a produtividade e a capacidade de inovação da indústria alemã nem os
baixos custos e a escala da chinesa.” Por isso, em um número crescente de
setores, a indústria brasileira não tem sido páreo para concorrentes mais
eficientes”.
54
SALOMÃO, Alexa ; DALMAZO, Luíza : A verdadeira ameaça a indústria. Revista Exame, São
Paulo 18/04/2012 http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1014/noticias/a-verdadeira-
ameaca-a-industria acesso em 25 de agosto de 2012.
168
O que mais preocupa é o enfraquecimento de setores nos quais o Brasil
tem vantagens notórias sobre os concorrentes.
Celulose e papel é um bom exemplo. As florestas plantadas no país rendem
a celulose mais barata do mundo — chega a custar a metade da dos
concorrentes. Mas o preço do papel começa a refletir os custos do Brasil.
Como depende de caminhões, o transporte entre uma fábrica no interior de
São Paulo e o porto de Santos representa 60% dos custos logísticos de
uma carga destinada à Ásia.
Se houvesse a opção de ferrovia, essa parte do trajeto corresponderia a
20% dos custos. Intensivo em energia elétrica, o setor incorporou os
aumentos da conta de luz criados pela tributação. Em 2000, cerca de 13%
da conta de energia eram encargos. Hoje eles são 45%.
A International Paper vinha exportando metade da produção: 25% para a
América Latina, 20% para a União Europeia e 5% para a Ásia. Agora vai
concentrar as vendas na região porque deixou de ser rentável ir a outros
continentes.
“Sabemos que dentro de alguns anos vamos ter de construir outra fábrica
para atender a América Latina”, diz Jean-Michel Ribieras, presidente da
International Paper. “O ideal é que ela fique no Brasil, mas, se não
conseguirmos exportar daqui, como vamos justificar um investimento de 5
bilhões de reais?
170
Analisando a vertente do aumento da demanda internacional por
commodities, a qual provocou elevação dos seu preços gerando superávit comercial
para o Brasil, refletindo maior influxo de capitais internacionais decorrentes das
receitas de exportações contribuiu para a valorização da taxa de câmbio, resultando
na perda de competitividade dos bens industrializados em face do interesse do
governo Lula transmitir ao brasileiro a sensação de riqueza ,e, portanto eleger a
presidente Dilma. O que nos leva afirmar essa hipótese se em 01/01/2009 o dólar
custava R$ 2,3290 e em 13/10/2010 reduziu para R$ 1,6546. E o que é mais
impressionante é que o dólar foi ladeira abaixo e atingiu R$ 1,5603 em 30/06/2011
sem que o governo não tomasse nenhuma medida como ex: limitar a entrada de
capital especulativo através da taxação do IOF.
Não foi portanto o influxo das receitas dos superávits comerciais advindas
das commodities, o qual gerou a valorização do real frente ao dólar e, sim a miopia
de governos pós Real que tiveram com foco exclusivo a estabilização da inflação a
ferro e fogo aliado ao câmbio flutuante com livre entrada de capital, os quais
resultaram na alta valorização do real em face do já salientado tsunami de dólares e
euros.
O entendimento do professor João Sicsú, professor do Instituto Instituto de
Economia da UFRJ e ex-diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea é
que as decisões tomadas pela presidente Dilma refletiu justamente os resultados
esperados.
[...] a queda “foi o resultado de uma decisão de governo. No início do ano
passado, temendo a inflação e outros gargalos, a presidenta, junto com
assessores mais próximos, tomou a decisão de desacelerar a economia
utilizando políticas monetárias, creditícias e fiscais restritivas. Ao câmbio
valorizado restou o papel de solidificar a situação em curso”. O economista
lembra ainda que a taxa de juros Selic foi elevada, de 10,5% ao ano para
12,5%, em cinco reuniões consecutivas do Banco Central (BC), de janeiro a
julho. “O BC adotou, também, medidas macroprudenciais para reduzir o
ritmo de ampliação do crédito. O Tesouro reduziu o valor dos aportes ao
BNDES em 2011. Em fevereiro, o governo anunciou um corte de R$ 50
bilhões em gastos previstos para o ano. Posteriormente, elevou a meta de
superávit primário em R$ 10 bilhões, que saiu de R$ 117,9 bilhões para R$
55
127,9 bilhões”. Segundo ele, o resultado esperado foi alcançado .
55
GOMES,Marcel. Como o Brasil pode evitar a crise. Revista Desafios do Desenvolvimento, IPEA,
Ano 9, nº 71.
171
impostos a setores como os de máquinas, automóveis e têxteis, entre outros
resultando em uma conta, a qual pode chegar a 60 bilhões de reais. O risco desse
pacote se evidencia em face que o segmento da Indústria de Transformação gerou
uma arrecadação de R$ 49,6 bilhões representando 21,4% do total arrecadado pela
Previdência em 2011. Considerando os segmentos que apresentaram tendência a
estagnação ou redução da participação da indústria (Produtos Têxteis,Fabricação de
Papel e Celulose, Produtos Químicos, Artigos de Borracha e Plástico, Fabricação de
Máquinas e Equipamentos, Fabricação de Máquinas e Aparelhos Elétricos,
Montagem de Veículos e Equipamentos de Transporte) representou 12,5% do total
arrecadado pela Previdência Social.
Tabela 14 - Brasil – Arrecadação por segmento de Atividade – (R$ bilhões)
TOTAL 231.440.100.293 100,0%
Agricultura
3.223.905.599 1,4%
Indústria 76.156.197.732 32,9%
Extrativa Mineral 2.926.676.379 1,3%
Construção 18.295.823.364 7,9%
Serviços Industriais de Util. Pública 5.336.832.780 2,3%
Transform ação 49.596.865.209 21,4%
Produtos Alimentares e Bebidas 8.220.901.348 3,6%
Produtos Têxteis 1.512.569.392 0,7%
Fabricação de Celulose e Papel 1.286.149.589 0,6%
Refino de Petróleo e Prod. de Álcool 3.077.479.141 1,3%
Produtos Químicos 5.080.464.528 2,2%
Artigos de Borracha e Plástico 2.583.247.184 1,1%
Produtos de Minerais Não Metálicos 1.646.587.092 0,7%
Metalurgia Básica 2.683.545.310 1,2%
Fabricação de Produtos de Metal 2.929.394.593 1,3%
Fabricação de Máquinas e Equip. 4.309.686.647 1,9%
Fabricação de Máq. e Ap. Elétricos 1.732.579.493 0,7%
Montagem Veículos e Eq. Transporte 6.765.833.554 2,9%
Outras Indústrias de Transf ormação 7.768.427.338 3,4%
Serviços 138.899.043.029 60,0%
Ignorado 13.160.953.933 5,7%
Fonte: Ministério da Previdência Social
172
competitividade a indústria pode minguar, e o que sobrar dela orbitará em torno do
petróleo, ou seja, menos geração de emprego e renda agravando ainda mais o
vazamento de renda no que se refere ao aumento da transferência líquida de capital
via aumento de importação de produto industrializado.
Em um conceito mais abrangente, a desindustrialização seria caracterizada
como uma situação, na qual tanto o emprego industrial como o valor adicionado da
indústria se reduzem como proporção do emprego total e do PIB, respectivamente.
O coeficiente de Importação e Exportação (CEI) divulgado em 13 de agosto
de 2012 pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) mostrou
que a participação de mercadorias importadas no consumo brasileiro alcançou 24%
no segundo trimestre do ano ,e, portanto comparando com o mesmo período de
2011 o aumento foi de 1,2 ponto percentual. Entretanto, comparado ao trimestre
imediatamente anterior o Coeficiente de Importação (CI) da Indústria geral
apresentou alta de 1,5 ponto percentual.
Neste contexto, o diretor do Departamento de Relações Internacionais e
Comercio Exterior (Derex) avalia a real dimensão da competição da indústria
brasileira com o dólar cotado a R$ 2,00 (BOMPAN,2012)56.
Segundo ele, porém, com o dólar cotado a R$ 2, a competição com a China
continua forte, possibilitando a importação dos produtos do país asiático. “
Um câmbio mais satisfatório estaria em torno de R$ 2,20 a R$ 2,30 para
elevar a competitividade dos produtos brasileiros’ avalia.
56
BOMPAN, F. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e
Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica.
57
Ibidem. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e
Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica.
58
Ibidem. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e
Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica.
173
da série histórica, crescendo de 46,1% no segundo trimestre de 2011 para
54% no mesmo período de 2012.
Dos 12 setores que mostraram retração peças e acessórios para veículos
automotores e outros equipamentos de transporte registraram as maiores
quedas ante ao mesmo período de 2011 (2,7 p.p. e 2,5 p.p.,
respectivamente.
59
Ibidem. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e
Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica.
60
Ibidem. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e
Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica.
61
GIFFONI,Carlos. Setor industrial gera apenas 11% dos empregos no Brasil. Jornal Valor
Econômico http://www.unicamp.br/unicamp/clipping/2012/04/18/setor-industrial-gera-apenas-11-dos-
empregos-no-brasil acesso em 12 de agosto de 2012
174
A fatia da indústria de transformação frente ao saldo líquido de empregos do
Caged no ano passado está bem aquém do índice registrado no acumulado
dos últimos dez anos. De 2002 para cá, foram criados 13,2 milhões de
vagas líquidas, sendo que o setor respondeu por 18,7% desse total (2,47
milhões).
175
ria ter sido de R$ 17,3 bilhões maior. Em 9 meses, a produção da Indústria
de Transformação aumentaria 1,62% e seria de R$ 1.072,2 bilhões,
enquanto as importações cairiam para R$ 215,1 bilhões.
Com isso, o emprego no setor aumentaria em 0,58%, equivalente a 46 mil
novas vagas.
62
Nota Técnica da DIESE, p.5 ,Junho de 2011, Nº 100.
63
Nota Técnica da DIESE, p. 5, Junho de 2011, Nº 100.
64
Nota Técnica da DIESE, p. 6 , Junho de 2011, Nº 100
176
dinheiro que vem em busca de valorização rápida e segura, condição que o
Brasil oferece. Enquanto as taxas básicas de juros dos países centrais
giram em torno de 0% a.a. (zero por cento ao ano), o Brasil paga, com baixo
risco, 11,75% a.a. Há, portanto, grande afluxo de moeda estrangeira no
mercado financeiro, valorizando o real, encarecendo as exportações e
barateando as importações.
65
Nota Técnica da DIESE, p. 7 , Junho de 2011, Nº 100.
66
Nota Técnica da DIESE, p. 7 , Junho de 2011, Nº 100.
177
Isso tudo gera ineficiência na alocação de recursos e, evidentemente,
custos para toda a economia, retirando dela parte da competitividade.
Agregue-se a essas dificuldades a carência de infraestrutura de transporte,
energia e telecomunicações, que prejudicam a circulação de bens dentro
das fronteiras do país e nas operações de exportação e importação, com os
portos e aeroportos operando no limite de suas capacidades físicas e
técnicas.
O Gráfico 61 mostra a participação da Indústria de Transformação na
formação do PIB do Brasil e a carga tributária (% do PIB) no período compreendido
entre 1995 e 2011, com projeção para 2010. De uma participação de 18,6% em
1995 se reduziu para 14,6% em 2011. No que tange, a participação da carga
tributária se observou o inverso de 27,2% em 1995 aumentou para 32,5% em 2011.
4 0 ,0 %
3 5 ,0 %
3 0 ,0 %
2 5 ,0 %
2 0 ,0 %
1 5 ,0 %
1 0 ,0 %
5 ,0 %
0 ,0 %
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 *2011
67
A política de afrouxamento quantitativo do Tesouro e Banco Central americano e do Banco da zona do euro.
178
face do expressivo crescimento do PIB da China a partir da década de 90. No que
se refere a política econômica acrescenta a ineficiência da gestão fiscal baseada na
vinculação da despesa a receita e incremento dos tributos aliada dinâmica dos juros
altos.
Ressalta-se ainda a perda da importância da indústria manufatureira em face
da produtividade e terceirização, custo de produção e elasticidade-renda aliado ao
custo Brasil68.
2 5 ,0 0 % 4
3 ,5
2 0 ,0 0 %
3
1 5 ,0 0 %
2 ,5
1 0 ,0 0 % 2
1 ,5
5 ,0 0 %
1
0 ,0 0 %
0 ,5
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
-5 ,0 0 % 0
Tax a d e c r e sc im e n to d o P IB (% )
In d ú str ia d e Tr an sfo r m a ç ão V alo r A d ic io n ad o
C âm b io
68
O Custo Brasil é um termo genérico, usado para descrever o conjunto de dificuldades estruturais,
burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no Brasil, dificultando o desenvolvimento
nacional, aumentando o desemprego, o trabalho informal, a sonegação de impostos e a evasão de
divisas. Por isso, é apontado como um conjunto de fatores que comprometem a competitividade e a
eficiência da indústria nacional. (Jornal do Estado de São Paulo, 08/03/2010.
69
DANTAS, Fernando Discussion Blog [Internet]. São Paulo: 18 de maio de 2012 – Disponível em
http://blogs.estadao.com.br/fernando-dantas/2012/05/18/industria-brasileira-ficou-para-tras/. Acesso
em 21 de agosto de 2012.
179
Posteriormente, é realizado um confronto de análise da performance industrial
do Brasil para os anos de 2007 a 2010 (DANTAS)70.
Stark indicou que isso foi verdadeiro para os anos de 2007 a 2010, quando
a performance da produção industrial no Brasil e no mundo foi de fato muito
parecida. Em 2007, por exemplo, houve crescimento global de 6,1% e de
6% no Brasil. Em 2008, de respectivamente 2,7% e 3,1%. Em 2009, ano da
grande crise global, a indústria caiu 7,7% no mundo e 7,4% no Brasil. E, em
2010, houve a forte recuperação de 9,6% globalmente e de 10,5% no caso
brasileiro”.
Fonte : IBGE
70
Ibidem Discussion Blog [Internet]. São Paulo: 18 de maio de 2012 – Disponível em
http://blogs.estadao.com.br/fernando-dantas/2012/05/18/industria-brasileira-ficou-para-tras/. Acesso
em 21 de agosto de 2012
180
neste estudo se utilizará o PIB per capita a preço constante de 2011 do dólar a
R$ 2,00. Evidencia-se que apesar do crescimento do PIB per capita em dólar que
em 1995 era de US$ 2.220 e que passou para US$ 10.626 em 2011 a perda do
dinamismo do incremento da indústria de transformação foi muito significativa
quando se compara com o desempenho dos países da Organização para
Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) (Gráfico 51).
Ressalta-se que apesar da taxa de câmbio no Brasil ser de 2012 o objetivo é
demonstrar que em face da miopia da política macroeconômica conduzida pelo
Banco Central pós Real o país não só comprometeu o crescimento econômico do
período como também a perspectiva futura do crescimento econômico.
Gráfico 51 - Países da OCDE - PIB per capita (preços constantes de 2000, US$) e valor adicionado
manufatureiro (% do PIB), 1981-2010.
Gráfico 52 – Brasil - PIB per capita (US$) x Valor adicionado da manufatura (% do PIB) – 1995 a 2011
181
1 2 .0 0 0 ,0 2 5 ,0 0 %
1 0 .0 0 0 ,0
2 0 ,0 0 %
8 .0 0 0 ,0
1 5 ,0 0 %
6 .0 0 0 ,0
1 0 ,0 0 %
4 .0 0 0 ,0
5 ,0 0 %
2 .0 0 0 ,0
0 ,0 0 ,0 0 %
Fonte : IBGE
Nota : Brasil - PIB per capita (preços constantes de 2012, US$ = R$ 2,00 ) e valor adicionado
manufatureiro (% do PIB), 1995-2011.
Gráfico 53 – Exportação Brasileira dos Setores Industriais por Intensidade Tecnológica – 1996 a 2011
US$ milhões FOB
70.000
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
-
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Fonte : SECEX/MDIC
182
No que tange aos reflexos da política neoliberal foram determinantes para o
incremento significativo das importações brasileiras fundamentadas nos setores de
indústria de alta tecnologia e de média-alta tecnologia em face que em 1996 o
montante era de US$ 31 bilhões e passou para US$ 134,6 bilhões em 2011. No que
se referem aos setores de Indústria de média-baixa tecnologia e de baixa tecnologia
o montante foi de US$ 14 bilhões em 1996 e aumentou para US$ 61,8 bilhões em
2011. Correlacionando as exportações com as importações dos setores de indústria
de alta tecnologia e de média-alta tecnologia evidenciou-se que o déficit comercial
foi de US$ 18,1 bilhões em 1996 e passou para US$ 82,3 bilhões em 2011. E
correlacionando com os setores de Indústria de média-baixa tecnologia e de baixa
tecnologia de um superávit comercial de US$ 12,9 bilhões em 1996 passou para
US$ 39 bilhões em 2011.
Gráfico 54 – Importação Brasileira dos Setores Industriais por Intensidade Tecnológica – 1996 a 2011
US$ milhões FOB
100.000
90.000
80.000
70.000
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
-
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Fonte : SECEX/MDIC
3 0 ,0 0 %
2 5 ,0 0 %
2 0 ,0 0 %
1 5 ,0 0 %
1 0 ,0 0 %
5 ,0 0 %
0 ,0 0 %
1990 2000 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
C H IN A EU A A R G E N T IN A
Fonte : SECEX/MDIC
Elaboração : AEB
A projeção feita pelo o FMI para 2011 era de 4,5% e de 2012 de 4,1%71.
Assim, o FMI reduziu a projeção para 2,5% 72 em 2012 e a projeção do Boletim
71
Portal Brasil, 25 de janeiro de 2011. Acesso em 22 de agosto de 2012.
http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/01/25/fmi-eleva-projecao-do-pib-do-brasil-para-4-5-em-
2011.
72
RIBEIRO, Alex, Jornal Valor Econômico, São Paulo 16 de julho de 2012. Acesso em 22 de agosto
de 2012 http://www.valor.com.br/internacional/2752778/fmi-reduz-projecao-de-alta-do-pib-do-brasil-
de-31-para-25-em-2012
184
Focus é de 1,75% 73 . Por que afinal o Brasil não deverá retomar o crescimento
sustentável de 4% em 2013 e para os próximos anos ?
O Brasil não cresce em face dos fatores estruturais que limitam o crescimento
(OLIVON,2012)74.
73
Boletim Focus de 17 de agosto de 2012.
74
OLIVON,Beatriz. 6 novas previsões para o PIB brasileiro em 2012. São Paulo, Exame.com, 22 de
agosto de 2012. Acesso 22 de agosto de 2012. Disponível http://exame.abril.com.br/economia/6-
noticias/6-novas-previsoes-para-o-pib-brasileiro-em-2012.
185
geração de superávit primário ,e, que em face da anomalia da gestão fiscal no Brasil
esta foi obtida via aumento da carga tributária em função do modelo de vinculação
da despesa à receita.
No tocante à política monetária conforme já foi analisada só teve foco
exclusivo para manter a estabilização da inflação pós Real, refletindo no incremento
da dívida pública e na valorização do Real.
A combinação das alusivas políticas monetárias e fiscais proporcionaram
pífios resultados de crescimento econômico, entretanto a revisão metodologia do
IBGE turbinou o PIB diminuindo o peso da dívida pública e carga tributária
(ALMEIDA, 2010)75.
Em termos de resultados efetivos, o governo Lula realizou, em seu primeiro
mandato, de 2003 a 2006, taxas respectivas de crescimento do PIB de
0,5%, 4,9%, 2,3% e 3%, numa conjuntura em que a economia mundial
crescia praticamente o dobro dessas taxas e os emergentes dinâmicos três
vezes mais. Registre-se, porém, que o governo operou uma revisão
metodológica nas contas nacionais, alterando o peso e a composição de
indicadores básicos da economia, o que redundou numa mudança para
cima de todas as taxas de crescimento da economia. Assim, os dados
revistos do PIB brasileiro permitiram exibir as seguintes taxas de
crescimento: 1,1% em 2003, 5,7% em 2004, 3,2% em 2005 e 4% em 2006,
com a consequente diminuição do peso da dívida pública e da carga
tributária em relação ao PIB, resultados oportunamente convenientes para
melhorar o desempenho geral da economia.
75
Paulo Roberto de Almeida, Balanço do governo Lula, 2003-2010: uma avaliação não complacente,
26 de outubro de 2010. Acesso 22 de agosto de 2012. Disponível
http://economia.ig.com.br/balancos+do+governo+lula+20032010+uma+avaliacao+nao+complacente
186
R$ 260,00 e passou para R$ 350,00 em abril de 2006 (DIESE, A política de
valorização do salário mínimo, p.1)76.
Destaca-se que a alusiva Nota Técnica nº 106 da DIESE evidencia a
importância da permanente política de valorização do salário mínimo, a qual foi
acordado, em 2007 até 2023.
Essa política tem como critérios o repasse da inflação do período entre as
correções, o aumento real pela variação do PIB, além da antecipação da
data-base de revisão - a cada ano - até ser fixada em janeiro, o que
aconteceu em 2010. A política prevê que, em janeiro de 2012, o reajuste
reponha a inflação segundo o INPC de 2011, mais a variação do PIB de
2010. Como o crescimento do Produto Interno Bruto em 2010 foi, em dado
ainda provisório, de 7,5%, a revisão do piso deverá incorporar esta variação
mais a inflação medida pelo INPC.
76
DIESE, Política de Valorização do Salário Mínimo, NOTA TÉCNICA nº 106,Janeiro de2012. Acesso em 22 de
agosto de 2012
187
fatores críticos estruturais já analisados, bem como o impacto significativo do
Passivo Externo em 2011 segundo a avaliação de Reinaldo Gonçalves77.
O Brasil deve em moeda estrangeira o dobro das reservas cambiais. No
final de 2011 o passivo externo do país atingiu US$ 746,000,000,000.00.
Isto mesmo setecentos e quarenta e seis bilhões de dólares. Este rombo
cresceu quase três vezes durante os governos petistas. Só o setor
financeiro, entre 2009 e 2011, dobrou o volume tomado no exterior para
emprestar aqui dentro. Pedala um bicicleta de mais de US$ 300 bilhões em
recursos captados lá fora.
77
GONÇALVES, Reinaldo. A herança lula: o passivo externo do Brasil, 2 de março de 2012. Acesso
em 22 de agosto de 2012. Disponível http://vermelhosnao.blogspot.com.br/2012/03/heranca-lula-o-
passivo-externo-do.html.
78
PADUAN,Roberta. Pré-sal, o maior desafio do Brasil. Revista Exame, São Paulo, Edição
1019,Editora Abril, 27 de junho de 2012. Disponível em http://exame.abril.com.br/revista-
exame/edicoes/1019/noticias/pre-sal-o-maior-desafio-do-brasil?.
188
preço do dólar constante de R$ 2,00 para o exercício de 2012 definido pelo Banco
Central para aumentar a competitividade da indústria brasileira.
Gráfico 56 – PIB Brasil (Banco Central ) x PIB (dólar R$ 2,00) – 1995 a 2011 (US$)
3 000 000
2 500 000
2 000 000
1 500 000
1 000 000
500 000
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Gráfico 57 – Cenário da economia brasileira no diagrama adaptado de Trevor Swan com curvas de
valores médios
Fontes : Elaboração Livio Andrade Wanderley, Henrique Tomé da Costa Mata e Paulo Antônio de
Freitas Balanco
Por outro lado, o Gráfico 58 demonstra que os PIBs da década de 1990 e de
2000 ficaram abaixo do pleno emprego (WANDERLEY;MATA; BALANCO;
2012;p.41).
190
Gráfico 58 – Cenário da economia brasileira no diagrama adaptado de Trevor Swan com curvas de
valores médios e teóricos de equilíbrios interno e externo
79
GOMES,Marcel. Como o Brasil pode evitar a crise. Revista Desafios do Desenvolvimento, IPEA,
Ano 9, nº 71, p. 28-29.
80
GOMES,Marcel, op. cit., p. 29.
192
oferta de serviços de infraestrutura. Mas o caminho será longo. O patamar
de investimentos públicos no Brasil tem sido muito baixo e, apesar de ter
crescido nos últimos anos (de 1,5% do PIB em 2003 para 2,5% em 2009),
terá que dobrar para alcançar padrões internacionais.
81
GOMES,Marcel, op. cit., p. 29.
82
GOMES,Marcel, op. cit., p. 29.
193
Neste contexto, para muitos observadores, porém, apenas a redução dos
juros não será suficiente para evitar a valorização do real e impulsionar o consumo
interno83.
Ocké-Reis, do Ipea, por exemplo, sugere como uma medida a ser avaliada
a tributação e o controle do capital especulativo, com o objetivo de
desvalorizar o real. Com essa iniciativa, a economia nacional seria
beneficiada porque as importações não seriam tão atrativas, ao contrário
das exportações. Ele também propõe um melhor aproveitamento fiscal do
Fundo Soberano.
83
GOMES,Marcel, op. cit., p. 31.
84
GOMES,Marcel, op. cit., p. 31.
194
que os recursos sobre “a economia blindada” e o suposto “desenvolvimento”
querem fazer crer.
CONCLUSÕES
A expectativa é que este trabalho tenha alcançado seu objetivo, o de
contribuir para o debate que busca elucidar que os atuais limites da política
econômica do Governo Dilma é consequência da política imperialista americana
baseada no seu braço forte o FMI em face de que ao impor um serviço da dívida
significativo ao Brasil e a América Latina na década de 80 refletiu na baixa
capacidade de realização de investimentos e em uma grande tensão social no que
se refere o alto nível de desemprego.
Assim, a estratégia de refinanciamento da dívida para impedir a insolvência
do sistema financeiro americano resultou na condição dos países latino-americanos
inclusive o Brasil de perder considerável parcela de sua autonomia de decisão na
195
formulação e execução da política macroeconômica e a América Latina se
transformaria, na década de 80, em exportadora líquida de recursos à média anual
de 5% do PIB, resultando em uma recessão no sentido de reescalonar suas dívidas,
com a agravante de uma distribuição particularmente iníqua do ônus decorrente do
ajuste, refletindo na redução do salário real, no aumento do desemprego, o qual
aprofundaria ainda mais a miséria.
Além disso, agravada pela impossibilidade de aumentar a receita tributária
num clima de recessão, foi buscar financiamento via processos inflacionários,
diretamente pela emissão de moeda ou indiretamente por endividamento interno a
curto prazo e taxas de juros altas.
Vimos, portanto que o rompimento do processo de crescimento da década
de 70 considerado como o período de milagre econômico foi reflexo da política
imperialista americana e que se utilizando do FMI impôs um serviço da dívida
externa significativo, o qual desestruturou a capacidade do Estado de estabelecer
política de investimento através da utilização das estatais Vale do Rio Doce,
Usiminas, sistema Telebrás, pois estas perderam a capacidade de realização de
investimentos em face de que os seus preços não eram reajustados apesar de uma
dinâmica explosiva do processo hiperinflacionário.
Além disso, foi demonstrada que a exigência descomunal do serviço da
dívida sem levar em consideração a real capacidade de pagamento foi responsável
pela denominada década de 80 como a década perdida em face que para gerar os
significativos superávits comerciais foi necessário impor uma política de
desvalorização contínua da moeda brasileira, a qual resultou em um período de
estagnação do crescimento econômico e na geração de um processo de
hiperinflação.
Neste contexto, o pagamento integral dos juros resultou na contração das
importações dos devedores, mediante a redução de demanda inerente aos
programas de ajuste recessivo recomendados e supervisionados pelo FMI e de
medidas diretas de controle das importações. Assim, foi demonstrada que a
gravidade do problema no que se refere à manutenção do crescimento da economia
e o seu reflexo da necessidade de gerar dólares para o financiamento da dívida
resultou em um círculo vicioso através de um processo de desintegração social,
refletindo no aumento da pobreza e da miséria.
196
Discutiu-se ,também, a deterioração dos resultados fiscais do Tesouro na
década de 80 em face da política de concessão de renúncias fiscais as montadoras,
uma vez que estas eram consideradas como setores estratégicos para dinamizar o
crescimento econômico. Além disso, foi avaliada que na década de 80 as
commodities brasileiras não geravam dólares suficientes em face do poder dos
Estados Unidos e da Europa os quais dificultaram a geração de superávits
comerciais para o pagamento da dívida externa.
Nas décadas de 1980 e 1990, a periferia do sistema e, mais notadamente, a
América Latina, perdeu o rumo das políticas de desenvolvimento econômico em face
do significativo pagamento do serviço da dívida externa na década de 80 e no que
tange a década de 90 em função de ter sido submetida as armadilhas das propostas
do Consenso de Washington, as quais convergiram para a drástica redução do
Estado e ao máximo de abertura à importação de bens e serviços tendo como a
disciplina fiscal no que se refere ao equilíbrio das finanças públicas como a condição
“sine qua non” para ao combate à inflação.
Assim, a adoção ao Consenso de Washington resultou na perda da
capacidade do Estado brasileiro de realizar investimentos públicos, característica
que marcou o significativo crescimento econômico dos Estados Unidos, Japão,
Alemanha e que foi muito bem utilizada pela China após a década de 80, a qual
refletiu no excepcional crescimento do seu PIB de 1980 a 2011.
Foi demonstrado que o Plano Real apoiou-se numa política de estabilização
monetária fundamentada na sobrevalorização da nova moeda criada (o Real) e na
abertura comercial e financeira da economia brasileira e sob duas âncoras a
monetária e a cambial, entretanto sem um alicerce fiscal, resultando na dinâmica
explosiva da dívida pública alimentando o processo de acumulação de capital
especulativo nacional e internacional.
Observou-se que o Plano Real quando da sua implantação não teve um
alicerce fiscal do setor público consolidado e que aliada a dinâmica do crescimento
da dívida pública de Estados e Municípios reforçou ainda mais a fragilidade do
alusivo plano e que aumentou ainda mais a crise de confiança do mercado diante
dos problemas surgidos nas contas externas do país ,ou seja, a geração de déficits
gêmeos resultou em uma instabilidade macroeconômica, a qual culminou a
submissão do país ao FMI.
197
Foi evidenciada a correlação entre à política monetária aplicada pelo Banco
Central no período que resultou na insustentabilidade da dívida pública bruta no que
se refere à elevada proporção em relação ao PIB, mesmo com a manutenção da
elevada geração de resultados primários em percentual do PIB.
Foi também avaliada que a sustentabilidade da dívida pública tão
preconizada pelo FMI era impossível, no período de 1994 a 1998, em um cenário de
política monetária baseada em alta taxa de juros reais em face que o superávit
primário como proporção do PIB, requerido para estabilizar a relação dívida/PIB, é
uma função direta da própria relação dívida/PIB e da taxa de juros e uma função
inversa do crescimento real da economia – para uma certa taxa de inflação e da
senhoriagem, reforçando assim que os idealizadores e os executores do Plano Real
defendiam não os interesses nacionais, mas sim os do capital especulativo nacional
e internacional.
Foi avaliado que no período em que houve mudança na política cambial no
tocante a política de “bandas cambiais”, sendo esta substituída pelo regime de livre
flutuação. Esta mudança acentuou a responsabilidade da política fiscal – articulada
com o regime de metas inflacionárias no âmbito da política monetária – para a
manutenção do equilíbrio macroeconômico. Entretanto, conforme foi analisado em
regimes de câmbio fixo, os impactos são agravados pela ausência de mecanismos
de ajustes automáticos na taxa de câmbio, então, em face de ataques especulativos,
há perdas imediatas de reservas para se defender da cotação da moeda, uma vez
que se torna inócua a política monetária para defender o regime de câmbio fixo.
Por outro lado, principalmente a exposição de alto risco do setor privado
quanto à captação de empréstimos no exterior no regime de cambio fixo, refletindo
em uma crise de confiança do mercado e que, portanto resultou em um processo de
desvalorização do Real e na dependência em relação a política macroeconômica do
FMI, a qual fundamentada no tripé (geração de superávit primário, metas de inflação
e câmbio flutuante) resultou nos atuais limites estruturais do crescimento econômico.
Foi demonstrado que o Plano Real foi um engodo, pois se baseou em uma
política macroeconômica sem consistência em face que a carga tributária do setor
público consolidado era muito inferior as reais necessidades de financiamento do
setor público consolidado mesmo com uma relação dívida/PIB de 30% quando do
198
surgimento do alusivo plano e que aliada a uma política monetária de alta taxas de
juros resultou em uma dinâmica da explosão da dívida bruta em percentual do PIB.
Avaliou-se também o alinhamento que o Brasil fez ao chamado Consenso de
Washington com suas políticas de cunho neoliberal de austeridade fiscal,
privatização e liberalização econômica como proposta de modernização da periferia,
pois foram determinantes para os resultados pífios de crescimento econômico ao
longo da década de 90 até 2011.
Os reflexos do Plano Real se evidenciam na desarticulação da estrutura
produtiva nacional em face do déficit crescente no segmento de industrialização no
tocante à indústria de alta e média complexidade, o qual se acentuou
significativamente após a alta valorização do real em relação ao dólar em 2010 e
2011 em face da política monetária de afrouxamento quantitativo do Tesouro e
Banco Central americano e do Banco Central Europeu.
Ressalta-se ,ainda, que o processo de crescimento da dívida pública
brasileira foi reflexo também da política de esterilização do efeito monetário da
acumulação de reservas externas ; do socorro aos agentes econômicos em crise,
especialmente, ao sistema financeiro e o reconhecimento das dívidas passadas.
Foi avaliada que a combinação não só de geração de déficits gêmeos, bem
como a tendência ao incremento da deterioração das contas públicas em face da
política de taxa de juros real Selic, a qual esta alcançou seu maior índice em
novembro de 1998, entretanto sem maiores efeitos sobre à sustentação da política
cambial, refletindo uma massiva fuga de capitais nesse período, a qual reduziu o
estoque de reservas cambiais tornando insustentável o equilíbrio do balanço de
pagamentos.
Observou-se que a política neoliberal do Consenso de Washington foi
aplicada integralmente sem um dos seus alicerces (a disciplina fiscal) em um país
em desenvolvimento e que, portanto combinada a outro fundamento desta alusiva
política no que se refere à política de privatização teve um efeito nulo no que se
refere à redução da dívida pública em face da política monetária altamente
contracionista baseada em alta taxa de juros reais, a qual resultou em uma trajetória
explosiva da dívida pública.
Vimos, ainda, que a gestão da política econômica, durante o período de 1994
a 1998, baseada na dinâmica das taxas de juros aliada a estratégia conservadora de
199
restrição da base monetária e dos meios de pagamento foram determinantes para o
incremento do estoque da dívida, resultando em um significativo volume de recursos
públicos, os quais foram despendidos para atender a elite financeira nacional
O segundo governo Lula pode ser analisado como apenas pragmático no
sentido da manutenção da política neoliberal tendo como foco exclusivo no controle
da inflação, refletindo no incremento da vulnerabilidade macroeconômica no que
tange ao crescimento econômico, inflação, finanças públicas , contas externas,
relação dívida bruta e PIB. A estratégia do crescimento baseada na ampliação do
volume de crédito em percentual do PIB e da política de valorização do salário
mínimo contribuíram para o dinamismo do crescimento econômico em 2010.
A utilização da política monetária contracionista pelo Banco Central em nome
da credibilidade do mercado, apesar de ter reduzido significativamente as taxas de
juros reais impactou na taxa de crescimento da economia, e manteve a
sustentabilidade da pública bruta em percentual do PIB ao redor de 60%. Ressalta-
se que a alusiva política monetária foi utilizada não para o controle da inflação, pois
o processo inflacionário encontrava-se relativamente sob controle em decorrência da
liberalização comercial, a qual refletiu na forte apreciação cambial e no fraco
dinamismo interno.
A política fiscal baseada na geração de superávits primários do setor púbico
consolidado (via aumento da carga tributária), aliada a manutenção de uma política
monetária com taxa de juro real para atrair o capital especulativo, sendo este atraído
pelo diferencial da taxa de juros para manter o financiamento do déficit de conta
corrente do Brasil não só produziu volatilidade no valor do dólar; deterioração das
finanças públicas via aumento do déficit nominal e incremento da dívida pública e
perda de competitividade da indústria.
Destarte, o governo Lula resultou em um agravamento da herança maldita
para o Governo Dilma no que se refere à deterioração das finanças públicas em face
do aumento da dívida pública, o incremento da vulnerabilidade externa no que se
refere não só ao déficit de conta corrente e do volume de importação de produtos
industrializados e o aumento da carga tributária do setor público consolidado.
A armadilha relacionada ao processo de abertura externa (comercial e
financeira), a qual caracterizou o projeto neoliberal na década de 90, resultou em
uma enorme dependência dos fluxos de capitais externos para o financiamento do
200
balanço de pagamentos exigindo do Banco Central do Brasil a manutenção de uma
alta taxa de juros real para atrair o capital especulativo. Além disso, não se
evidenciou uma maior fragilidade financeira das contas externas do Brasil em face
da entrada da China como nova força dinâmica do poder, pois resultou no aumento
dos preços das commodities ,e. portanto contribuiu para um maior crescimento
econômico do Brasil.
Por outro lado a privatização, a valorização do real e a competitividade da
economia chinesa promoveu o incremento da vulnerabilidade externa da economia
brasileira via incremento do volume de importação de manufaturados, no sentido de
reduzir a capacidade da mesma para resistir/combater os choques externos que
ocorram, dentro do contexto não só de fragilidade financeira como também
impactando no crescimento econômico e refletindo na alusiva dependência
estrutural em relação a China.
Além disso, foi demonstrada a arquitetura da política econômica da Alemanha
e do Japão, a qual resultou na dinâmica do desenvolvimento econômico. E,
também, avaliou a estratégia da China de combinar as políticas fiscal, de câmbio, de
crédito e a monetária aliada aos fatores estruturais, os quais resultaram de um
período de estagnação a um alto dinamismo de crescimento econômico de 1980 a
2011.
Foi também analisado o modelo de esgotamento do ajuste fiscal do setor
público consolidado após 1997, tendo como objetivo que o aumento da carga
tributária verificada entre 1995 a 2011, resultou no corte dos investimentos públicos,
sendo estes fatores reflexos da política de gestão da dívida pública no que se refere
à sustentabilidade fiscal e o excessivo grau de vinculação de receitas e pelo elevado
nível de despesas constitucional e legalmente obrigatórias, a qual compromete uma
gestão fiscal eficiente. E, além disso, impacta no crescimento econômico e na perda
da competitividade da economia brasileira no que se refere à valorização do real em
face do estímulo ao incremento da despesa corrente.
Neste sentido, a ausência de flexibilidade, no orçamento dos Governo Fe-
deral, Estadual e Municipal é afetada por dois tipos de restrições: pelo excessivo
grau de vinculação de receitas e pelo elevado nível de despesas constitucionais e
legalmente obrigatórias. Portanto, de 19999 a 2011 às metas de superávit fiscal,
que, num contexto intertemporal, tornaram a dívida solvente e sustentável sob a
201
análise do mercado foi obtido via aumento da carga tributária já que as alusivas
restrições diminuem a efetividade do controle das despesas correntes. Entretanto, a
política de renúncia fiscal pós crise de 2008 deteriorou o resultado superávit primário
em percentual do PIB e o que agrava ainda mais em 2012 em face de um
crescimento pífio do PIB, evidenciando assim o risco de financiamento para manter
a sustentabilidade da dívida pública. Outro ponto o qual foi ressaltado é que a
ausência de flexibilidade da alocação de recursos refletiu na deficiência da
capacidade de realização de investimentos do Governo Central, sendo portanto de
fundamental importância rever a significativa vinculação da despesa a receita.
Além disso, demonstrou que a fragilidade do modelo de ajuste fiscal no
Brasil, pois concentra significativo volume de recursos em custeio e para cumprir as
metas de superávit primário aumentou significativamente a carga tributária aliado a
contingência dos recursos destinados a investimentos.
Foi avaliado o ajuste fiscal da Nova Zelândia em face da adoção de uma
política econômica, a qual contribuiu para reduzir as vulnerabilidades
macroeconômicas. Assim como, analisou que a política fiscal dos Estados Unidos
não produziu resultados consistentes contrapondo ao ajuste fiscal implementado
pelo Canadá, o qual resultou em mudanças estruturais da economia e na
sustentabilidade da dívida pública.
Para fundamentar os atuais limites estruturais da política econômica do
Governo Dilma, bem como a atual crise econômica mundial. Ambos são reflexos da
atual dinâmica de poder mundial e do atual montante significativo de capital
especulativo ao redor de US$ 209 trilhões. Assim, para analisar esses fatores foi
necessário resgatar a concepção do New Deal em face que este foi decisivo para
retomada da acumulação pós crise 1929, pois se fundamentou em um programa de
investimentos maciços em obras públicas, a qual retirou a economia norte-
americana da Grande Depressão, ou seja, a presença forte e decisiva do Estado co-
mo ente planejador e produtor e articulada à nova forma de controle social (Welfare
State) especialmente nos países centrais.
O sistema de Bretton Woods (padrão dólar-ouro) foi um dos elementos
estruturais na estratégia de recuperação da economia mundial. Ressalta-se que a
importância do poder dos Estados Unidos diante do FMI resultou no afrouxamento
dos controles de capitais, refletindo em um vínculo entre as políticas econômicas
202
domésticas e externas – redução dos condicionantes externos, possibilitando aos
governos espaços para a adoção de políticas macroeconômicas voltadas ao pleno
emprego. Assim, os Estados Unidos foi o maior beneficiado em face de que uma
política fiscal expansionista aumentando cada vez mais o seu poder econômico
tendo o Japão como o maior financiador da dívida e como esta era monumental
quebraria não só o Japão como o sistema financeiro internacional entre 1971 e
1973.
Por outro lado, avaliou-se o problema da perspectiva crítica da acumulação
atrelada a queda das taxas de acumulação de capital em face da queda da
lucratividade, oriunda do excesso de capacidade e produção do setor manufatureiro
mundial em função do acirramento da competição internacional, pois à medida que
os produtores da Europa Ocidental e do Japão começam a suprir frações cada
vez maiores do mercado mundial, com bens similares aos que já eram produzi-
dos nos EUA, surge redundância e excesso de capacidade de produção. Além
disso a importância da análise no que concerne a liquidez financeira no mercado
internacional e as relações entre os países centrais e os países atrasados sobretudo
na forma de aplicações especulativas.
Foi considerado que o fim do Acordo de Bretton Woods foi reflexo da
economia norte-americana, ao final dos anos 1960, enfrentava déficits significa-
tivos e persistentes no balanço de pagamentos, em virtude dos investimentos
externos crescentes e aos gastos militares no exterior com a Guerra do Vietnã.
Esses dois elementos aliada a elevação da quantidade de petrodólares no mercado
financeiro europeu, produziram forte aumento na liquidez do dólar nos mercados
internacionais, provocando a “crise do dólar” na década de 1970. Na verdade,
desde o início dos anos de 1960, o padrão cambial do dólar-ouro, firmado em
Bretton Woods começava a dar sinais de precariedade e o que resultou na decisão
dos países de resgatarem dólares por ouro das reservas americanas em face da
percepção de que o dólar não representava mais o seu valor real frente ao ouro.
O fim do Acordo de Bretton Woods e a súbita elevação da taxa de juros do
Governo dos Estados Unidos como forma de defender os seus interesses
imperialistas resultaram no incremento do serviço da dívida externa brasileira,
refletindo em severas restrições ao crescimento econômico da América Latina.
203
Neste contexto, de uma década perdida a qual se configurou com baixo
crescimento do PIB e com o incremento da miséria o Consenso de Washington se
baseia em uma proposta neoliberal, a qual visava exclusivamente por o Brasil de
joelhos em relação ao capital estrangeiro ; não apenas uma dependência econômica
como configurava desde a sua colonização, mas uma servidão aos interesses dos
Estados Unidos e dos reflexos da sua política imperialista, a qual gerou a atual
dinâmica de crescimento do capital flutuante a partir da década de 80.
A ruptura do sistema de Bretton Woods consolidou a hegemonia americana
em função do um grau de liberdade quase ilimitado na gestão das suas políticas
cambial, a monetária e a fiscal. Além disso, correlacionou a assimetria no sistema
monetário internacional, a qual refletiu na dinâmica de poder mundial, bem como na
fragilidade financeira dos países em desenvolvimento em face de que estes são
emissores de divisas inconversíveis e que, portanto sofre os reflexos no tocante a
política monetária de afrouxamento quantitativo, a qual resultou na valorização
excessiva de suas moedas como aconteceu com o real em 2010 e 2011.
As quatro armadilhas analisadas produzidas pela estratégia neoliberal de
desenvolvimento no processo de abertura externa não só refletiram o quadro
medíocre do desempenho da economia brasileira até 2002, bem como estas foram
determinantes para os resultados pífios do PIB de 2002 a 2011. E, logo o processo
de globalização aliada a política macroeconômica pós FHC caracterizou um
processo de dominação do Estado brasileiro caracterizando uma dependência no
que se refere à interconexão produtiva global e pela alta mobilidade do capital
especulativo, os quais não só interferem no lado real da economia, mas
principalmente obtendo altos retornos dos investimentos em termos de royalties e do
volume de importação.
Ressalta-se ,ainda, que esta dependência não foi ainda mais agravada em
face da nova dependência estrutural da economia brasileira em relação à China e a
sua força como locomotiva mundial, pois possibilitou ao Brasil ampliação
considerável de suas exportações de commodities de 2007 a 2011. Mas em face
dos problemas relacionados ao agravamento da crise mundial em 2012, a qual
resulta na perda do dinamismo da economia chinesa impactando às exportações
brasileiras no que concerne ao preço das commodities. Assim, o superávit da
balança comercial do Brasil em 2012 no primeiro semestre apresentou uma redução
204
o que poderá agravar o financiamento do déficit de conta corrente não só em 2012
como nos exercícios posteriores.
Destarte, a análise da inter-relação entre o incremento das reservas
internacionais e os empréstimos do Tesouro ao BNDES e o reflexo no aumento da
dívida bruta em percentual do PIB. Foi demonstrada também que a atual
composição de ativos e passivos resulta em uma trajetória de insustentabilidade da
dívida pública ou uma mudança no que tange a rolagem da dívida pública.
O aumento do preço das commodites resultou em uma pressão inflacionária,
a qual determinou ao Banco Central do Brasil a adoção de uma política monetária
com viés restritivo e apreciação cambial foram os mecanismos utilizados para lograr
que o teto da meta de inflação não fosse ultrapassada em 2011 gerando distorções
macroeconômicas (deterioração das transações correntes e agravando os
problemas fiscais) e que foi agravado em face da decisão unilateral do Tesouro e
Banco Central americano no que tange a política monetária de afrouxamento
quantitativo. Esta possibilitou a monetização da dívida pública e que foi evidenciada
no crescimento nominal do PIB dos Estados Unidos quando comparado ao PIB real
de 2011 em relação a 2007.
Foi também correlacionada ao poder da China em face de sua hegemonia de
estabelecer políticas cambial, a fiscal , a monetária, a creditícia e a residencial e
principalmente no que tange ao incrementar significativamente a dívida dos
governos locais em 2011 apesar dos problemas creditícios do sistema bancário
chinês.
Assim, a mobilidade internacional dos capitais especulativos aliada a política
neoliberal pós Real resultou na vulnerabilidade da economia brasileira e uma nova
dependência, a qual se justapõe à antiga no que tange ao governo brasileiro ter
perdido a capacidade de governabilidade para ajustarem as suas regras de câmbio,
juros e de monitoramento da economia as demandas do mercado especulativo.
Em suma, se na década de 80 o Brasil foi ao caos em face da política
imperialista do FMI, a qual resultou na desintegração social e econômica e que
possibilitou também a adoção da política neoliberal do Consenso de Washington
após a implantação do Real
Neste contexto, não se evidencia um modelo de desenvolvimento, pois os
indicadores sociais e econômicos avançaram não de forma permanente e estrutural ,
205
ou seja, o Brasil do futuro caminha a passos largos para ser o mesmo Brasil do
passado um Brasil, o qual se constituiu da miséria e sofrimento de muitos. Além
disso, o retrato do Brasil é que a ausência de prioridade de investimento em
educação reflete em um país que se manterá eternamente como país em
desenvolvimento
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Wagner Cunha e Torres possui Bacharelado em Administração de Empresa pela
Universidade Católica do Salvador, pós graduação em Marketing ESPM,
especialização em Gestão Fazendária UFAL. Curso de Gestão Macroeconômica
pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Curso de Análise de Sustentabilidade da
Dívida Pública pelo Banco Mundial. É Técnico de Finanças da Secretaria de
Fazenda do Estado de Alagoas exercendo o cargo de Gestão Fiscal e Estatística.
WNALISAR A TRAJETÓRIA E O CUSTO
wwWWWWWWWWE O CUSTO
DO ENDIVIDAMENTO BRASILEIRO DÍVIDA LÍQUIDA E DÍVIDA BRUTA:
UMA ABORDAGEM INTEGRADA PARA
ANALISAR A TRAJETÓRIA E O CUSTO
DO ENDIVIDAMENTO BRASILEIRO
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