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A POLÍTICA ECONÔMICA DO GOVERNO DILMA E OS LIMITES DO

CRESCIMENTO

Wagner Cunha e Torres

Setembro de 2012

1
Ficha catalográfica

2012
Torres, Wagner.
A política econômica do governo Dilma e os limites do crescimento :
Wagner Cunha e Torres. – Maceíó – 2013.
(Livro)
1. FMI e a década perdida de 80 . 2. Plano Real e as armadilhas neoliberais. 3. Governo Dilma e os
limites estruturais ao crescimento .

2
A POLÍTICA ECONÔMICA DO GOVERNO DILMA E OS LIMITES DO
CRESCIMENTO

Wagner Cunha e Torres

3
Dedico esta obra a meus pais, minha
irmã e Stella, minha esposa, a ela
declarando meu amor mais profundo,
Dedico-a também Ana Laura e
karolline Gabriela meus amores
eternos.

4
Aos meus avós, meus tios , primos, sogros e sobrinhos Letícia e Gabriel pelo apoio
e incentivo aos estudos.

Ao amigo Marcos Gomes Rangel pelo apoio inestimável a este projeto.

Aos catedráticos professores de economia Dr. Cícero Péricles Carvalho e Dr Fábio


Guedes Gomes pelos ensinamentos e pelo incentivo aos estudos.

"AMARÁS O SENHOR, TEU DEUS, DE


TODO O TEU CORAÇÃO, DE TODA A
TUA ALMA E DE TODO O ENTENDIMENTO"
(Mt 22,37)

5
RESUMO

Este trabalho busca compreender as limitações do crescimento econômico do Go-


verno Dilma, no contexto da nova dinâmica do poder no século XXI e na atual
dimensão da acumulação financeira. Foi observada que, a partir da década de
1980, a decisão do FMI de impor um serviço de dívida significativo comprometeu
não só o crescimento econômico, como também em face da recessão e do processo
hiperinflacionário resultou na desorganização do setor público e na desintegração
social. Assim, a alusiva desestruturação resultou na adoção do Consenso de
Washington ,e, portanto foi implementada a política neoliberal com o Plano Real.
Neste contexto, o trabalho se preocupou em discutir as atuais limitações ao
crescimento econômico é resultado da correlação entre a abertura econômica
(comercial e financeira) e a gestão fiscal ineficiente do setor público, pois a geração
do superávit primário foi obtido via aumento de impostos com aumento de despesas
correntes. Além disso, avaliou o esgotamento do modelo de crescimento baseado no
consumo aliado também ao colapso do modelo de incremento da arrecadação em
percentual do PIB do setor público consolidado. Por outro lado, analisou também a
evolução da dívida pública bruta em percentual do PIB em decorrência do
incremento dos empréstimos ao BNDES em face da crise de 2008 comprometendo
o crescimento econômico atual e a equidade generacional. Foi avaliada a estratégia
de desenvolvimento do Japão e da Alemanha e principalmente analisou
detalhadamente a estratégia de crescimento da China da década de 80 a 2011.
Ressalta-se que a China se utilizou do modelo de economia socialista de mercado e
o que a possibilitou o emprego das políticas : a cambial, a monetária, a residencial ,
a de crédito. Portanto, com o dinamismo na obtenção das exportações a China
utilizou os dólares gerados para financiar a dívida americana, e esta estratégia foi
determinante para o crescimento econômico medido em dólares de 2011 a 2007 em
face da utilização da política de investimento via expansão de crédito para as
unidades subnacionais sob a ótica Keynesiana confrontada com a visão de Hayek.
Foi também avaliada a estratégia de afrouxamento quantitativo do Banco Central
americano e o impacto da valorização do real, refletindo no incremento do volume
das importações brasileiras
Com base em dados já consolidados, a ideia foi demonstrar, que a crise mundial de
2007 é reflexo das crises sistêmicas e cíclicas do processo de produção de capital e
que o atual volume de riqueza financeira é que foi responsável pela alusiva crise ,e,
portanto a política ortodoxa imposta pelo FMI é resultado da necessidade de
defender os interesses do capital especulativo. Portanto, as limitações do
crescimento econômico do Estado brasileiro é reflexo das armadilhas do plano Real
e do contexto da nova dinâmica do poder mundial. Além disso, a concentração do
foco exclusivo na inflação no período pós Real resultou não só no incremento da
dívida pública brasileira, bem como nos atuais limites do crescimento econômico,
refletindo na ausência de políticas públicas para reduzir de forma sustentável a
gigantesca dívida social.

6
SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO 12

II – A CONCEPÇÃO DO NEW DEAL ATÉ A DÉCADA DE 80 17


III – BRASIL DO FMI AO CAOS 23

IV – O CONSENSO DE WASHINGTON E OS FUNDAMENTOS


DA POLÍTICA NEOLIBERAL 30
V - DO PLANO REAL A CRISE DE 1998 33
VI – DO FMI A ELEIÇÃO DE LULA 41
VII – O GOVERNO LULA - 2002-2006 44
VIII - O GOVERNO LULA - 2006 - 2010 48
IX - OS LIMITES ESTRUTURAIS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
DO GOVERNO DILMA 51
• A inserção externa e vulnerabilidade brasileira 51
• A sustentabilidade da dívida líquida e o risco do incremento da
dívida bruta em percentual do PIB 60

• O modelo de esgotamento do modelo de ajuste fiscal 69


• O modelo de esgotamento do aumento do crédito 89
• A dinâmica do poder da década de 1970 a 2012 101
• Desindustrialização no Brasil 161
• Limitações do crescimento econômico no Brasil 184
X – CONCLUSÕES 196

7
Tabela 1 – Taxa de crescimento nominal do PIB Brasil, China e Mundo medido
em (US$) – 1960 – 2011 24

Gráfico I - Balanço em Conta Corrente – 1994 – 1998


(US$ bilhões) 40
Gráfico 2 – Resultado nominal e primário do setor público consolidado (%PIB) 44
Gráfico 3 – Exportação por fator agregado do Brasil – 1998 a 2011
(US$ Bilhões) 53
Gráfico 4 - Importação por fator agregado do Brasil – 1998 a 2011
(US$ Bilhões) 53
Gráfico 5 – Resultado da Balança Comercial do Brasil – 1998 a 2011
(US$ Bilhões) 54
Gráfico 6 – Brasil Saldo de Transações Correntes, Saldo da Balança Comercial
e Investimentos Diretos Estrangeiro - 1994 a 2002 (US$ bilhões) 54

Gráfico 7 – Brasil Saldo de Transações Correntes, Saldo da Balança Comercial,


Saldo do Serviço e Rendas e Investimentos Diretos Estrangeiro –
2003 a 2011 - (US$ bilhões) 56

Gráfico 8 – Brasil Saldo de Transações Correntes, Saldo da Balança Comercial,


Saldo do Serviço e Rendas e Investimentos Diretos Estrangeiro –
Janeiro de 2011 a Julho de 2012 - 2011 (US$ bilhões) 58

Gráfico 9 – Reservas Internacionais do Brasil - 1995 a 2011 –


US$ bilhões 59
Tabela 2 – DBGG e demais passivos do setor público – 2001 - 2010
Em % do PIB valorizado pelo IPCA) 65
Tabela 3 – Ativos internos e externos do setor público 2001 – 2010
(Em % do PIB valorizado pelo IPC-A) 66

Tabela 4 – Desembolsos do BNDES (Em bilhões de R$) 67


Gráfico 10 - Superávit Primário x Resultado Nominal – Governo Federal e
Banco Central – 1997 a 2011 - (%PIB) 70

Gráfico 11 – Resultado Fiscal do Governo Central - 1997 a 1999 -


(% do PIB) 71

Gráfico 12 – Resultado Primário Desagregado – 2006 a 2010 –


(% do PIB) 72

8
Gráfico 13 – Resultado Fiscal do Governo Central - 1997 a 2011 -
(% do PIB) 72

Gráfico 14 – Participação das Receitas do Governo Central - 1997 a 2011 –


(% do PIB) 73

Gráfico 15 – Receita Líquida Total x Despesa Total –


(% do PIB) 74

Gráfico 16 – Transferências a Estados e Municípios –


(% do PIB) 75

Gráfico 17 – Despesa Desagregada do Governo Federal –


2001 a 2011 (% do PIB) 76

Gráfico 18 – Despesa Custeio e Investimento do Governo Federal –


2001 a 2011 (% do PIB) 77

Gráfico I9 – Carga Tributária do Brasil - 1995 a 1999 –


(% do PIB) 78

Gráfico 20 – Carga Tributária do Brasil – 2000 a 2010 –


(% do PIB) 79

Gráfico 21 – Carga Tributária do Governo Central – 1995 a 1999 –


(% do PIB) 80

Gráfico 22 - Receitas da União – 2000 a 2010 –


(% do PIB) 81
Gráfico 23 – Orçamento Fiscal da União – 1995 a 1999 –
(% do PIB) 82

Gráfico 24 – Orçamento Fiscal da União – 2000 a 2010 –


(% do PIB) 83

Gráfico 25 – Carga Tributária dos Estados – 1995 a 1999 –


(% do PIB) 84

Gráfico 26 – Carga Tributária dos Estados –2000 a 2010 –


(% do PIB) 84

Gráfico 27– Total do Crédito do Setor Privado no Brasil 2005 – 2011


(% do PIB) 90

Gráfico 28 – Volume do crédito imobiliário no Brasil (R$ milhões) e Crédito


Imobiliário (% PIB) – 2007 - 2011 97

9
Tabela 5: Crédito Imobiliário 2011 - (% PIB)
98
Gráfico 29 – Volume do crédito do setor privado (R$ milhões) e Taxa de
crescimento do credito 2011 - 2012 (%) 98

Gráfico 30 - Taxa de inadimplência – janeiro de 2011 a


julho de 2012 (%) 99

Gráfico 31 - Volume de crédito Imobiliário no Brasil – dezembro de 2011


a maio de 2012 (R$ bilhões) 100

Gráfico 32 – Balança Comercial do Japão (2008 – 2011) - US$ bilhões


118
Gráfico 33 – China - Produto Interno Bruto Nominal (US$) e Taxa de Crescimento
do PIB nominal (%) – 1979 a 2012 - US$ bilhões
120

Gráfico 34 – China - Taxa de Inflação (IGP-DI) x Taxa de Crescimento do PIB real


(%) 124

Tabela 6 : Evolução das exportações e importações – mundo, Estados


Unidos e China, 1980-2010 (Em US$ bilhões correntes)
127

Tabela 7 - Participação nas exportações e importações globais –


em US$ correntes – Estados Unidos e China, 1980-2010 (Em %)
128

Gráfico 35 – Evolução da corrente de comércio – mundo, Estados Unidos


e China, 2000-2011 (Em US$ bilhões correntes)
129

Gráfico 36 – Evolução das exportações – Estados Unidos e China, 2000-2011


(Em US$ bilhões correntes)
130
Gráfico 37 – Evolução das importações – Estados Unidos e China, 2000-2011
(Em US$ bilhões correntes)
131

Gráfico 38 - Exportações, importações e saldo comercial dos


Estados Unidos para a China continental – 2000-2010 (Em US$ bilhões)
132

10
Gráfico 39 - Evolução do saldo comercial – mundo, Estados Unidos e China, 2000-
2010
(Em US$ bilhões)
133
Tabela 8 - Evolução das importações chinesas originárias dos Estados Unidos por
intensidade
tecnológica – valor acumulado para períodos – 1990-2009
(Em US$ bilhões correntes)
134

Tabela 9- Evolução das exportações chinesas originárias dos Estados Unidos por
intensidade
tecnológica, valor acumulado para períodos – 1990-2009
(Em US$ bilhões correntes)
135

Tabela 10 - Balanço de pagamentos e reservas internacionais – China, 2000-2009


(Em US$ bilhões)
136

Tabela 11 - Decomposição da mudança na posição das reservas – valor acumulado


para
os períodos selecionados – China, 2000-2009 - (Em US$ bilhões)
137

Gráfico 40: PIB da China – Taxas reais efetivas e potenciais (filtro HP) e variação
dos preços ao consumidor (em%)
139

Gráfico 41: Contribuições ao crescimento do PIB – %


140
Gráfico 42 – PIB em valores nominais dos Estados Unidos e
China 1990 a 2011 - ( Em US$ bilhões) –
141

Gráfico 43 – Estados Unidos – PIB em valores nominais e valores reais –


1995 – 2011 (Em US$ trilhões)
142

Gráfico 44 – Dívida dos governos locais chineses – 1998 - 2010 (% do PIB)


152

Tabela 12 - Taxas média de crescimento nominal do PIB da China, Japão,

11
Estados Unidos e Alemanha com base no US$ – 1971-2011 - (Em %)
153

Tabela 13 : Riqueza fictícia e riqueza real – 1980 a 2010 (Em US$ trilhões)
154

Gráfico 45: Brasil - Participação da Indústria de Transformação no PIB – Em %


164

Gráfico 46: Brasil - Taxa de crescimento do PIB e da Indústria de Transformação (%)


e Taxa Real Efetiva de Câmbio (1996-2008)
165

Gráfico 47 – Brasil - Composição do crescimento do PIB, em pontos percentuais –


1995 a 2011
166

Tabela 14 - Brasil – Arrecadação por segmento de Atividade – (R$ bilhões)


172

Gráfico 48- Carga Tributária e Participação da Indústria de Transformação (% do


PIB) -
1995 a 2011
178

Gráfico 49 : Brasil - Efeito do câmbio no PIB e na Indústria de Transformação –


2003 a 2011
179

Gráfico 50: Brasil - Análise desagregada do Valor Adicionado do PIB – 1995 a 2011
180

Gráfico 51 - Países da OCDE - PIB per capita (preços constantes de 2000, US$) e
valor adicionado manufatureiro (% do PIB), 1981-2010
181

Gráfico 52 – Brasil - PIB per capita (US$) x Valor adicionado da manufatura (% do


PIB) – 182
1995 a 2011

Gráfico 53 – Exportação Brasileira dos Setores Industriais por Intensidade


Tecnológica –
1996 a 2011 - US$ milhões FOB
182

Gráfico 54 – Importação Brasileira dos Setores Industriais por Intensidade


Tecnológica –

12
1996 a 2011 - US$ milhões FOB
183

Gráfico 55 - Países de destino das exportações brasileiras (%) – 1990 a 2011


183

Gráfico 56 – PIB Brasil (dólar Banco Central ) x PIB (dólar R$ 2,00) –


1995 a 2011 (US$)
188

Gráfico 57 – Cenário da economia brasileira no diagrama adaptado de Trevor Swan


com curvas de valores médios
190

Gráfico 58 – Cenário da economia brasileira no diagrama adaptado de Trevor Swan


com curvas de valores médios e teóricos de equilíbrios interno e externo
191

13
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo aborda a dinâmica macroeconômica da economia
brasileira de 1994 a 2012, não apenas a luz das políticas econômicas as quais foram
implementadas, tendo por objetivo responder as seguintes questões :
1. Por que o atual modelo de política neoliberal baseada no tripé (geração
de superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante) não proporciona a
retomada do crescimento sustentável ?
2. Por que não houve mudança estrutural na competitividade do País, mas
mesmo assim possibilita a geração de superávits comerciais ?
3. A política de câmbio flutuante é condição suficiente para acomodar os
impactos das crises cambiais, possibilitando o gerenciamento adequado e a
autonomia relativa necessária à política monetária ?
4. Há possibilidade da redução da dívida pública bruta a partir da geração de
superávits fiscais primários ?
5. Qual o impacto dos Estados e Municípios na sustentabilidade da política
macroeconômica ?
6. Por que o atual modelo baseado no incremento do consumo não
possibilitará o crescimento econômico sustentável ?
Em resumo, com a adoção da estratégia da atual política neoliberal, há
possibilidade real de se reduzir, estruturalmente, a vulnerabilidade externa do País e
a fragilidade financeira do setor público, substituindo-se o predomínio da lógica
rentista pela lógica produtiva ?
A compreensão mais geral aqui adotada, acerca do processo em curso
desde a década de 80 e os reais efeitos em 2013, pode ser resumida nos seguintes
pontos:
A crise fiscal e social do Brasil de 2013 é reflexo do imperialismo norte
americano e tendo como braço forte a instituição do Fundo Monetário Internacional
(FMI) ao impor um serviço da dívida (juros e amortização da dívida) no montante de
US$ 285,5 bilhões de dólares de 1980 a 1993, refletindo em um período de semi-
estagnação e desintegração social e econômica. Salienta-se, ainda, que a despesa
com juros no alusivo período totalizou US$ 136 bilhões e a despesa com
amortização US$ 149,5 bilhões. Além disso, é necessário ressaltar que em 1980 a
dívida externa brasileira era de US$ 80 bilhões e em função da política monetária

14
altamente contracionista do Banco Central americano se evidenciou esta alusiva
dinâmica de crescimento da dívida externa brasileira em face do volume de
empréstimos, os quais foram contraídos a taxas de juros flutuantes na década de 70.
Neste contexto, produziu não só a desarticulação produtiva como a
desintegração da capacidade do Estado em face da impossibilidade de realizar uma
política fiscal tendo como instrumento as empresas estatais no sentido de realizar
investimentos. Além disso, o significativo serviço da dívida resultou na estagnação
econômica e a geração das hiperinflações, refletindo no aprofundamento da pobreza
e da miséria.
A estagnação econômica aliada a um cenário de hiperinflação foi analisado
pelos arquitetos do Plano Real como reflexo da ação ineficiente do Estado brasileiro,
e, portanto foi apresentada a fórmula “milagrosa” a modernização baseada no
modelo de economia de mercado preconizado pelo Consenso de Washington.
Entretanto, ao adotar essa política neoliberal constituiu, na realidade, uma receita de
regressão a um padrão econômico pré-industrial em face de que a não presença do
Estado no setor produtivo inviabiliza a política de investimento, e, portanto a geração
de emprego e renda (BATISTA,1994).
A combinação da política imperialista do FMI e a adoção do Consenso de
Washington foram fundamentais para que o Brasil não obtenha o mesmo dinamismo
no crescimento econômico como a China pós década de 90.
Ressalta-se que a não implantação de um ajuste fiscal e a renegociação da
dívida com as unidades subnacionais quando da implantação do Plano Real tiveram
reflexos significativos para instabilidade macroeconômica de 1994 a 1998 no que se
refere à vulnerabilidade do balanço de pagamentos, resultados pífios de crescimento
no governo FHC e impacto nas finanças públicas.
Salienta-se que a estabilidade de curto prazo do Plano Real foi assegurada
por duas âncoras : monetária e cambial refletindo no incremento da dívida pública.
Assim, a manutenção das taxas de juros elevadas foi a condição necessária para a
manutenção da política cambial. Logo, neste cenário, na ausência de uma
sustentabilidade fiscal foi somente a âncora monetária que sustentou a âncora
cambial.

15
Neste contexto, a política monetária baseada em altas taxas de juros evitou a
reduzir a demanda agregada, como também facilitou a entrada de capitais externos,
compensando em parte os déficits em transações correntes.
A manutenção da política monetária pelo Banco Central para sustentar esta
inconsistência da implantação do Plano Real até 2000 (adoção da Lei de
Responsabilidade Fiscal) na tentativa de controlar de forma simultânea juros e
câmbio não só não demonstrou ser insustentável ao longo do tempo como o seu
efeito foi o crescimento da dívida. A título de comparação em 1994 a dívida externa
correspondia a US$ 145,7 bilhões e passou para US$ 236,2 bilhões em 2000 e a
dívida líquida do setor público de 28,1% do PIB para 49,5%, sendo que se não
houvesse a privatização 57,6% do PIB em 2000.1
A geração de déficits gêmeos (fiscal e externo) foi determinante para que de
um período de relativa estabilidade e pífios resultados de crescimento o Brasil
entrasse na rota do capital especulativo rentista tanto nacional como internacional.
Assim, esta herança maldita foi transmitida ao governo Lula, a qual
aprisionado a este modelo de política neoliberal não mais definido pelo Fundo
Monetário Internacional (FMI), mas aprisionado ao capital rentista nacional e
internacional e pelas instituições econômicas multilaterais resultaram não só em
resultados pífios de crescimento, como também aumentou a dívida pública interna
bruta em relação ao PIB, ampliando ainda mais a vulnerabilidade externa no que se
refere ao incremento substancial do volume de importação de produtos
industrializados e a necessidade de financiamento externo, a qual foi obtida
mediante taxas de juros internas maiores que as internacionais.
Além disso, em face da crise mundial de 2008 adotou o modelo de
crescimento baseado no consumo e que em 2010 apresentou um alto crescimento
de 7,5% do PIB, entretanto que comparando ao período de 2009 a 2010 foi de
apenas de 3,35% conforme o PIB potencial em função dos atuais limites do
crescimento.
Adicionalmente, o atual modelo do crescimento baseado no consumo
encontra-se em vias de esgotamento, adicionado ao custo Brasil (infraestrutura,
crédito, nível educacional) e a manutenção da política neoliberal baseada no tripé
(metas de inflação, geração de superávit primário e câmbio flutuante) são os
1
Dívida Pública. Apresentação Fabio de Oliveira Barbosa, Secretário do Tesouro Nacional, à Comissão Mista de
Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional em 17/04/2001.
16
obstáculos não só a sustentabilidade do crescimento econômico como
principalmente a reduzir a gigantesca dívida social.
A análise desenvolvida apoia-se nos indicadores macroeconômicos
referentes à inflação, ao balanço de pagamentos, a balança comercial, ao
desemprego, ao PIB, as contas públicas União, Estados e Municípios, crédito e
indicadores da indústria. As fontes são, principalmente, o Banco Central, o IBGE, a
FGV, Diese, Ministério do Trabalho, Ministério da Previdência e Secretaria de
Tesouro Nacional. Além disso, no que se refere a dinâmica do poder mundial se
baseia nos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial.
Portanto, este artigo, além desta introdução está subdividido em mais nove
seções incluindo as Considerações Finais. Na primeira seção, analisa a importância
do New Deal e do Acordo de Bretton Woods para o período de recuperação
econômica e o fim alusivo Acordo resultou na crise mundial de 2008. Na segunda
seção, resgata o contexto da década de 80 em face das implicações no
desenvolvimento econômico e social do Brasil através da imposição de US$ 285,5
bilhões de dólares como serviço da dívida externa. Na terceira seção, resgata-se a
concepção do Consenso de Washington e os fundamentos da política neoliberal. Na
quarta, a implantação do modelo do Plano Real, refletindo nas vulnerabilidades
fiscais e externas, as quais tornaram o País refém do capitalismo internacional,
resultando na necessidade de buscar socorro junto ao Fundo Monetário
Internacional (FMI) e os reflexos da privatização. Na quinta, aborda o contexto da
imposição do FMI no que se refere ao modelo baseado (metas de inflação,
superávits primário e câmbio flutuante e adoção do ajuste fiscal posteriormente ao
desequilíbrio das contas públicas e internas. No sexto e sétimo tópicos serão
abordados a política econômica do Governo Lula e o incremento das fragilidades
macroeconômicas, as quais refletiram nos resultados pífios do crescimento
econômico de 2002 a 2010.
Na oitava seção, foca os limites estruturais do crescimento econômico da
política de governo Dilma tendo como importante aspecto a atual dinâmica do poder
mundial em face da relação simbiótica de dependência estrutural em relação à
China no que tange à exportação de commodities. Por fim, na nona seção, procura-
se alinhavar algumas ideias a título de conclusão.
II – A CONCEPÇÃO DO NEW DEAL ATÉ A DÉCADA DE 80

17
A retomada da acumulação, no pós crise de 1929, deve ser identificada
como ponto de partida do longo boom pós Segunda Guerra, pois foi fundamentada
em um programa de investimentos maciços em obras públicas, a qual o presidente
Roosevelt concebeu e executou com grande sucesso para retirar a economia norte-
americana da Grande Depressão, ou seja, a presença forte e decisiva do Estado
como ente planejador e produtor e articulada à nova forma de controle social
(Welfare State) especialmente nos países centrais.
Assim, segundo (PINTO ; BALANCO, 2009, p.36) a acentuada inflexão
relacionada às atribuições socioeconômicas designadas ao Estado capitalista foi
baseada em dois elementos fulcrais.
Essa, acentuada inflexão relacionada às atribuições socioeconômicas de-
signadas ao Estado capitalista baseou-se em dois elementos fulcrais : (i) um
inquestionável aparato de regulação com o propósito principal de enquadra-
mento do capital financeiro e seu direcionamento para o financiamento da
produção por meio de planejamento, considerado necessário à própria di-
nâmica do capital nesse momento histórico; e (ii) uma acomodação das
contradições entre capital e trabalho por meio de certas concessões, pelo
capital, aos trabalhadores dos países centrais (compromisso
keynesianismo / fordista ou estratégia de harmonização) e de forte
coerção, pelas ditaduras militares, dos frágeis movimentos operários dos
países periféricos.

Aliado a este fato (BELLUZO,1999, GUTTMANN,1998; MEYER,2000 e


BALANCO ; PINTO, 2004 apud PINTO ; BALANCO, 2009, p.37) aborda a integração
de diversos fatores como decisivo para o crescimento significativo mundial.
A adoção da estratégia de recuperação sócio-econômica, foi assentada, por
um lado, no princípio da economia da demanda efetiva, configurada no
programa New Deal e consolidada com o acordo de Bretton Woods e
com o Plano Marshall e,por outro lado, na busca de harmonização entre as
classes capitalistas e trabalhadoras. Tal estratégia somente se
consubstanciou em virtude de determinados fenômenos, a saber : (i)
redução da influência dos condicionantes externos – cooperação antagô-
nica – sobre as políticas macroeconômicas domésticas dos países
capitalistas, notadamente após o começo da Guerra Fria em 1947; (ii)
repressão financeira, ou seja, “regulação”, pelas autoridades monetárias
estatais, da moeda de crédito, capital a juros, mediante o processo de
monetização da dívida pública; (iii) “mediação” Estatal entre o
empresariado e os trabalhadores, por intermédio de suas representações
sindicais, objetivando articular o aumento dos salários reais aos ganhos
de produtividade e dos preços e integrar o trabalho no
âmbito dos processos decisórios da produção. Quando a mediação não fun-
cionava, o Estado utilizava seu poder coercitivo, notadamente nos primeiros
anos após o final da Segunda Guerra; (iv) incorporação de investimentos di-
retos e das transferências de seguridade social como componentes basila-
res da demanda e do controle social.

18
O sistema de Bretton Woods (padrão dólar-ouro) foi um dos elementos
estruturais na estratégia de recuperação da economia mundial segundo (PINTO ;
BALANCO, 2009, p.37).
1) taxas fixas de câmbio, mais ajustáveis, em virtude de desequilíbrios fun-
damentais associado aos balanços de pagamentos; 2) a aceitação do con-
trole de fluxos de capitais internacionais; e 3) a criação do FMI para monito-
rar as políticas nacionais e oferecer financiamentos para equilibrar os ba-
lanços de pagamentos com desequilíbrios.

Assim, o sistema Bretton Woods foi fundamental para a extraordinária


recuperação do Japão em apenas duas décadas tornando-se uma grande potência,
pois além da presença do Estado, foi estabelecido um pacto social entre o Estado,
trabalhadores, sistema financeiro e o sistema produtivo. Assim, quando na crise do
sistema Bretton Woods o Japão era o grande financiador da dívida pública
americana reflexos dos altos superávits comerciais em face da alta competitividade
da indústria japonesa em relação à economia americana.
O controle de capitais afrouxou os vínculos entre as políticas econômicas
domésticas e externas – redução dos condicionantes externos, possibilitando aos
governos espaços a adoção de políticas macroeconômicas voltadas ao pleno
emprego, o qual possibilitou aos Estados Unidos ser o maior beneficiado em função
de sua política fiscal expansionista aumentando cada vez mais o seu poder
econômico. Por outro lado, o Japão era o maior financiador da dívida americana e
como esta era monumental quebraria não só o Japão como o sistema financeiro
internacional entre 1971 e 1973.
E além disso, segundo (BRENNER,1999,2003 apud PINTO ; BALANCO,
2009 p. 54) ainda havia o problema da perspectiva crítica da acumulação atrelada a
queda das taxas de acumulação de capital.
[.....] a crise seria proveniente da queda secular da lucratividade, oriunda do
excesso de capacidade e produção do setor manufatureiro mundial. Tal
compressão dos lucros desse setor teria origem no acirramento da
competição internacional, pois à medida que os produtores da Europa
Ocidental e do Japão começam a suprir frações cada vez maiores do
mercado mundial, com bens similares aos que já eram produzidos nos
EUA, surge redundância e excesso de capacidade de produção.

O problema tendeu a se agravar com a crise monetária internacional e com o


colapso da ordem de Bretton Woods entre 1971 e 1973 (BRENNER, 1999,2003
apud PINTO ; BALANCO, p. 54).
[....] o problema tendeu a se agravar com a crise monetária internacional e
com o colapso da ordem de Bretton Woods entre 1971 e 1973.Tanto
o Japão quanto a Alemanha foram obrigados a enfrentar custos maiores
19
em virtude das elevadas valorizações de suas moedas ante o dólar ,e, por
conseguinte viram suas taxas de lucro reduzir-se, aprofundando ainda
mais a contração dos lucros do setor manufatureiro internacional. À medida
que se consubstanciava a redução das taxas de acumulação de capital,
materializava-se a queda dos níveis de investimento e, consequentemen-
te, do emprego. Isso provocou queda na demanda, o que, por sua vez
agravou o problema da realização, ampliando o problema do excesso de
capacidade de produção. Ainda na perspectiva de Brenner, a explicação
da crise acaba por recair no problema de insuficiência da demanda
atrelada à redução da taxa de lucro.

Salienta-se o compromisso Keynesiano pós Segunda Guerra refletiu na


eliminação da crise estrutural de 1929 em face da utilização do modelo de
acumulação baseado na demanda efetiva (PINTO ; BALANCO, 2009, p. 59).
A construção do arranjo institucional do compromisso Keynesiano/ fordista
do pós Segunda Guerra permitiu a eliminação da crise estrutural de 1929
em sua totalidade, já que criou um ambiente de harmonização da luta de
classe e engendrou um novo modelo de acumulação assentado na deman-
da efetiva. Tal saída interna à crise do capital de 1929 levou a um novo
período de elevada taxa de acumulação capitalista.

A dinâmica da acumulação financeira depois dos anos 1970 resultou em um


estímulo para as empresas aplicarem seus capitais em investimentos financeiros ao
invés de investimentos produtivos (PINTO ; BALANCO,2004 apud PINTO ;
BALANCO,2009, p. 70).
Nesse contexto, a superestrutura financeira envereda por uma trajetória
de deslocamento atrofiado relativamente à esfera produtiva, destacando-
se as alternativas de realização do lucro financeiro, primeiro na forma de
capitais de empréstimos e, depois, como capitais voláteis especulativos,
configurando-se a partir desse momento uma dinâmica de acumulação pre-
dominantemente financeira.

O fim do regime de Bretton Woods resultou de uma reação do império norte-


americano em virtude de perda de reservas em ouro (PINTO ; BALANCO,2009, p.
70).
A economia norte-americana, ao final dos anos 1960, enfrentava déficits
astronômicos e persistentes no balanço de pagamentos, em virtude dos in-
vestimentos externos crescentes, associados ao Plano Marshall e aos gas-
tos militares no exterior com a Guerra do Vietnã. Esses dois elementos, e
mais a ingente elevação da quantidade de petrodólares no mercado
financeiro europeu, produziram forte aumento na liquidez do dólar nos mer-
cados internacionais, provocando a “crise do dólar” na década de 1970.
Na verdade, desde o início dos anos de 1960, o padrão cambial do dólar-
ouro, firmado em Bretton Woods começava a dar sinais de precari-
edade.

A ruptura do sistema de Bretton Woods consolidou a hegemonia americana


em função do um grau de liberdade quase ilimitado na gestão das suas políticas
cambial, monetária e fiscal (CINTRA; PRATES , 2011, p. 20).

20
No sistema monetário internacional que emergiu após a ruptura do sistema
de Bretton Woods (1944-1971) e que se consolidou com a retomada da
hegemonia americana, a hierarquia de moedas revelou-se ainda mais
assimétrica, em função do caráter fiduciário da moeda-chave, garantindo
aos Estados Unidos um grau de liberdade quase ilimitado na gestão das
suas políticas cambial, monetária e fiscal.
As demais características desse sistema – cambio flexível e livre mobilidade
de capitais – reforçaram essa autonomia e, ao mesmo tempo, imprimiram
ao sistema uma instabilidade intrínseca, que atingiu de forma perversa os
países emissores de divisas inconversíveis.

Por outro lado, a assimetria no sistema monetário internacional reflete na


dinâmica de poder mundial bem como na fragilidade financeira dos países em
desenvolvimento (CINTRA; PRATES , 2011, p.19 - 20).
Além da posição superior da divisa-chave, existe uma assimetria no sistema
monetário internacional entre as divisas conversíveis dos países
desenvolvidos, que ocupam uma posição intermediaria na hierarquia – pois
desempenham de forma secundaria as funções da moeda em âmbito
internacional – e aquelas dos países em desenvolvimento que se inseriram
na globalização financeira, convertendo-se em países emergentes. As
moedas emitidas por esses países são, de forma geral, incapazes de
desempenhar essas funções, constituindo, assim, divisas inconversíveis,
que se situam no piso da hierarquia.

O movimento de fluxos de capitais implicou em pressão muito forte sobre o


mercado de moedas conversíveis, refletindo no surgimento do mercado de
eurodólares (MONTEIRO NETO, 2005,p.25).
Este novo movimento de fluxos de capitais implicou em pressão muito for-
te sobre o mercado de moedas conversíveis. A resultante destas pressões
foi o surgimento do mercado de eurodólares. Empresas americanas passa-
ram a aplicar seus lucros nas filiais de bancos americanos na praça de Lon-
dres de maneira a escapar dos controles à saída de capitais da rígida, à
época, legislação financeira/bancária americana.

O significativo déficit de conta corrente americano criou um excedente de


dólares incompatível com a quantidade de ouro disponível no Fort Knox, o qual
deveria servir de lastro para o dólar. Diante disso, em agosto de 1971, incapaz de
conter a especulação no mercado cambial, o governo Nixon teria sido obrigado
pelos mercados a abolir o acordo, o qual previa a conversibilidade do dólar em ouro
em face das perdas significativas em ouro.
Salienta-se, ainda, na medida em que o fortalecimento dos países aliados se
consolidava, surgiam questionamentos quanto à liderança dos EUA. A partir de
fevereiro 1965, a França passou a questionar fortemente o papel do dólar como
meio de pagamento internacional, a ponto do então presidente Charles De Gaulle
reclamar do “exorbitant privilège” que os EUA alcançaram no sistema monetário
21
internacional. Assim, a França decidiu que não estava mais obrigada a aceitar a
moeda norte-americana e passou a trocar seus dólares excedentes pelo ouro dos
EUA.
Assim, no início dos anos 1970, o governo norte-americano enfrentava o
seguinte problema: precisava recuperar a competitividade de sua economia, mas
não podia desvalorizar o dólar sem quebrar a disciplina da regra de Bretton Woods.
Primeiramente, buscou-se convencer os demais países a valorizarem suas moedas
de forma coordenada; assim, o dólar seria desvalorizado sem que o preço oficial do
ouro em dólar variasse. Os aliados, em especial Alemanha e Japão, não aceitaram e
por outro lado, os EUA impediram uma proposta de reforma monetária que
restringisse o papel do dólar no sistema monetário internacional.
No dia 15 agosto de 1971, diante das pressões protecionistas por parte do
Congresso norte-americano, do declínio relativo da competitividade da economia
americana em face aos déficits comerciais com o Japão e Alemanha o presidente
Nixon optou pela ruptura unilateral da conversibilidade em ouro do dólar. A decisão
unilateral do Nixon em 1971 foi ratificada em 1973 pelas principais potências
capitalistas. Desde então o sistema financeiro internacional passou a conviver com
taxas de câmbio flutuantes, sempre conservando a hegemonia do dólar.
A ruína do sistema monetário de Bretton Woods resultou no incremento da
dinâmica do incremento do crescimento do PIB norte americano em face da
combinação de políticas monetárias e Keynesianas (BRENNER,2003,p. 69 apud
PINTO; BALANCO,2009, p. 71)
Em face disso, tornou-se inevitável a ruína do sistema monetário de Bretton
Woods, de relativa rigidez das taxas de câmbio e de taxas de juros fixadas
em patamares reduzidos. Tal resultado possibilitou ao governo norte-ame-
ricano praticar políticas monetárias expansionistas e Keynesianas de
déficits orçamentários “visando, de uma só vez, estimular o crescimento
doméstico, desvalorizar o dólar para ajudar na competitividade do setor
manufatureiro e depreciar as reservas de dólares mantidas no exterior por
governos e indivíduos estrangeiros.

As economias avançadas recorreram aos monumentais déficits


orçamentários, o que resultou na dinâmica do incremento da dívida pública,
refletindo no processo da estagflação (PINTO ; BALANCO,2009, p. 72).
As economias avançadas, sobretudo a dos Estados Unidos,em meados da
década de 1970, recorreram uma vez mais, agora excepcional, aos déficits
Keynesianos,em larga escala, que geraram intenso crescimento da dívida
pública, possibilitando a superação pelo menos da crise do petróleo, por
meio do subsídio à demanda. Contudo, o remédio Keynesiano não limpou o
caminho para novas expansões, pois perpetuou o excesso de capacidade
22
de produção combinada com elevação de preços, gerando estagflação.

O fortalecimento dos Estados Unidos como centro de poder econômico


apesar da crise do dólar foi resultado da política monetarista voltada ao aperto da
base monetária no governo de Carter (PINTO ; BALANCO,2009, p. 72).
A valorização do dólar, em 1979, implementada de forma unilateral pelo
governo dos EUA, a denominada política Volcker, teve como objetivo
estratégico enquadrar os sócios e os principais competidores econômicos
do mundo capitalista. Tal política foi centrada na elevação das taxas de
juros dos Estados Unidos que propiciou um direcionamento dos fluxos de
capitais da Europa, Japão e, especialmente dos países subdesenvolvidos,
no sentido dos Estados Unidos, já que outrora este era o principal
exportador de capitais. Esta ação permitiu o equilíbrio da balança de
pagamentos, posto que o fluxo de capital oriundo do exterior do exterior
mostrou-se suficiente para cobrir os déficits crescentes. Por essa razão, a
valorização do dólar em 1979, como um típico ato de força, acabou por
repercutir sobre os mais diversos espaços nacionais, atingindo diferentes
instâncias de regulação regional. A política Volcker, por exemplo,
praticamente decretou o default da maioria dos países latino-americanos
na década de 1980.

Salienta-se, ainda, a importância da análise feita por (PINTO ;


BALANCO,2009, p. 74) no que concerne a liquidez financeira no mercado
internacional e as relações entre os países centrais e os países atrasados sobretudo
na forma de aplicações especulativas.
Neste ambiente a continuidade do pagamento do serviço da dívida e, ao
mesmo tempo, a remuneração generosa do capital estrangeiro
especulativo, deixam os países periféricos numa posição funcional ímpar
no escopo da reprodução da crise econômica. Esta funcionalidade os
obriga a implementarem políticas de ajuste macroeconômico de forte
contensão ao nível interno de atividade. Paralelamente, o crescimento do
endividamento interno, mediante a oferta de títulos públicos a juros
generosos ao capital financeiro, se transformou em uma componente
cotidiana deste processo.

Por outro lado, a análise no que concerne ao avanço da acumulação


financeira e as consequências sobre o nível de atividade econômica mundial (PINTO
; BALANCO,2009, p. 74).
Com o avanço da acumulação financeira, verificou-se desaceleração do
nível de atividade da economia mundial, também nos capitalistas
avançados, como Japão e União Europeia, que enfrentaram taxas de
crescimento reduzidas durante as décadas de 1980 e 1990. A exceção fica
com os EUA, particularmente na segunda metade dos anos 1990, em razão
de seus ganhos de corretagem sobre o capital financeiro nacional e
internacional e das políticas keynesianas parciais configuradas em gastos
bélicos. O baixo crescimento da economia mundial, a partir dos anos 1970
até os dias atuais, revela que a predominância das finanças na dinâmica
da acumulação vem consubstanciando profundas transformações na
natureza dos ciclos econômicos, tornando-os cada vez mais curtos e
instáveis e, por conseguinte, gerando constantemente crises econômicas
em vários países.

23
Em suma, ao longo deste capitulo, avaliou-se a importância da política fiscal
Keynesiana e do Acordo de Bretton Woods como alicerces para a retomada do
crescimento econômico mundial. Por outro lado, a geração de déficits gêmeos de
conta corrente e fiscais dos Estados Unidos resultou no fim do alusivo Acordo,
refletindo na retomada da hegemonia americana em face da utilização da
combinação de políticas de estímulo ao crescimento econômico baseada na
combinação de políticas : monetária, de crédito, de juros e de construção
residencial, resultaram na dinâmica explosiva da dívida pública americana,
entretanto foi mantida a sustentabilidade da dívida pública em relação ao PIB.

24
III – BRASIL DO FMI AO CAOS
Neste tópico será analisada a correlação existente entre o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e os efeitos sobre o Brasil na década de 80, refletindo na
desestruturação do Estado e as suas consequências no que se refere à utilização da
política neoliberal na década de 90.,
O Brasil no período de 1974 a 1978 teve um crescimento econômico médio
anual de 6,7% e de 1979-1980 de 8,0%, entretanto as mudanças bruscas das taxas
de juros no mercado americano em face da alusiva política VolKer, resultou que ao
final de 1982 uma dívida externa de US$ 80 bilhões, a qual esta correspondia a 30%
do seu PIB tivesse uma dinâmica explosiva no seu crescimento e principalmente
uma sangria de recursos em termos de custo do serviço da dívida.
Assim, as consequências foram devastadoras no tocante ao desajuste das
finanças públicas, refletindo que a década de 80 se tornasse como a década perdida
no contexto de um período de recessão, hiperinflação, aumento da pobreza e da
miséria.
A Tabela 1 mostra que a taxa de crescimento do PIB do Brasil era bastante
superior a China e ao crescimento do PIB mundial na décadas de 1960 e 1970, e
que em face da imposição da política imperialista dos Estados Unidos utilizando o
FMI interrompeu a dinâmica de crescimento do PIB do Brasil na década de 80 e que
aliada a política neoliberal implementada nas décadas posteriores reduziram ainda
mais a taxa de incremento do PIB. No que se refere ao período de 2000 a 2008 a
entrada da China na dinâmica de poder resultou no incremento do volume das
exportações aliada a política de valorização do salário mínimo. Ressalta-se,
entretanto que este maior dinamismo no crescimento do PIB foi reflexo
principalmente da valorização do real em face que em 2000 a taxa de câmbio do
dólar era de R$ 3,9 e em 2008 passou para R$ 2,35, sendo esta determinante para
o incremento do PIB medido em valores de dólares.
No tocante ao período de 2000 a 2011, observou-se que o incremento do
PIB do Brasil aumentou consideravelmente em face das combinações da política de
estímulo ao crédito, de investimento do PAC e expansão do crédito em relação ao
PIB e da valorização do real após a irrigação de trilhões de dólares pós crise de
2008. Entretanto, o fator decisivo foi a taxa de câmbio do dólar foi de R$ 1,56,
refletindo que a taxa de incremento do PIB fosse superior a taxa de crescimento do

25
PIB Mundial. Ressalta-se, ainda, que a taxa de crescimento do PIB do Brasil na
década de 90 foi inferior a taxa de crescimento do PIB mundial.

Tabela 1 – Taxa de crescimento nominal do PIB Brasil, China e Mundo medido em (US$) – 1960 -
2011
1960 - 1970 1970 - 1980 1980 - 1990 1990-2000 2000 - 2008 2000 - 2011
Taxa de Crescimento do PIB Brasil 179,1% 455,3% 96,6% 39,6% 154,1% 284,2%
Taxa de Crescimento do PIB China 49,1% 107,0% 88,5% 235,8% 277,3% 508,9%
Taxa de Crescimento do PIB Mundial 112,9% 281,6% 99,4% 47,0% 90,5% 117,2%
Fonte : Banco Mundial

Essa contextualização da análise desses períodos é fundamental para se


evidenciar o baixo dinamismo do crescimento econômico no Brasil observado em
2011 e 2012, pois são reflexos da década de 80 e a implantação da política
neoliberal pós Real.
Ressalta-se a análise sobre a real responsabilidade do governo brasileiro no
contexto da crise da década de 80 (BATISTA,1994,p.12).
Mesmo sem discutir o valor das premissas neoliberais, é correto esquecer a
responsabilidade dos fatores externos na profunda crise que passou a
varrer a América Latina a partir dos anos 80? Como foi possível às
lideranças regionais assumir, sozinhas, o ônus político pela crise? É
necessário chegar a esse ponto de submissão intelectual para obter a
módica cooperação externa que nos tem sido efetivamente concedida? Em
que medida não acabamos por legitimar com essa atitude inutilmente servil
um processo em que, numa transfusão de sangue às avessas, acabamos
ajudando mais os países ricos do que estes a nós, seja financeira seja
comercialmente?

Neste contexto, é analisado o próprio esforço de desenvolvimento da


América Latina na década de 70 (BATISTA,1994,p.12).
Marginalizada nos programas de ajuda externa do tempo da guerra fria -
salvo o breve interregno da "Aliança para o Progresso" - e sem grandes
perspectivas de expansão de suas exportações em virtude do crescente
protecionismo dos países desenvolvidos e da persistência de termos
perversos de intercâmbio - sem aid nem trade, para usar o jargão da época,
a América Latina se veria compelida a financiar os seus desequilíbrios
comerciais e o próprio esforço de desenvolvimento através de apelo, a partir
dos anos 70, ao mercado privado de capitais, seja sob a forma de
operações de euromoney ou de eurobonds taxas flutuantes de juros.

A necessidade de realizar investimentos estruturantes e aliado a um cenário


positivo de fluxo de capital para a América Latina resultou em um incremento do
endividamento em dólares na década de 70, entretanto a um alto risco em face da
taxa de juros flutuante (BATISTA,1994,p.13).
Como os demais países da região, o Brasil apostou, sem maior reflexão, na
solidez da ordem econômica internacional prevalecente, baseada na
26
estabilidade do dólar e das taxas de juros e, para os importadores do
produto, no suprimento garantido de petróleo a baixo custo, através das
multinacionais que operavam no Oriente Médio sob a proteção política e
militar dos Estados Unidos. Apesar das perdas de reservas internacionais
resultantes da desvalorização da moeda norte-americana e do choque
traumático dos novos preços do petróleo sobre nossa balança comercial, a
América Latina perseverou na crença de que o sistema econômico
internacional em que se achava inserida continuava a oferecer segurança e
previsibilidade.

Os reflexos da ruptura do Acordo de Bretton Woods aliado aos interesses dos


Estados Unidos resultaram em uma crise social na América Latina
(BATISTA,1994,p.13)
O cálculo era temerário. Antes mesmo da primeira crise do petróleo, a
abrupta decisão norte-americana de desvincular o dólar do ouro e de deixar
flutuar sua moeda já denotava a tendência da superpotência responsável
pela estabilidade da ordem econômica vigente a tomar decisões
unilateralmente, sem levar em conta o impacto internacional de medidas de
grande envergadura. Ao derrubar, sem maior cerimônia, uma das colunas
básicas do sistema monetário construído em Bretton Woods, os Estados
Unidos afirmavam, sem rebuços, a prevalência dos interesses nacionais
sobre as responsabilidades mundiais do país. Tendência que se
evidenciaria, de modo dramático para a América Latina, com a decisão do
Federal Reserve System de elevar espetacularmente as taxas de juros
sobre o dólar para combater a inflação nos Estados Unidos. Coincidindo
com uma política fiscal frouxa do governo norte-americano, a decisão do
FED teve efeito especialmente perverso sobre as taxas internacionais de
juros e pegaria desprevenida a América Latina, imprudentemente
endividada a taxas de juros flutuantes.

A súbita elevação da taxa de juros americana resultou no incremento do


serviço da dívida externa, refletindo em severas restrições ao crescimento
econômico da América Latina (BATISTA,1994,p.13).
De um golpe, com a súbita elevação das taxas de juros - que mais do que
duplicaram em termos reais - os países latino-americanos se veriam na
impossibilidade de honrar o serviço de suas dívidas externas, serviço que
passou a requerer, em média, a utilização de mais de 80% de suas receitas
de exportação.
A insolvência dos devedores ameaçava diretamente a dos bancos privados
internacionais, aos quais havia sido confiada sem supervisão pelos
respectivos governos a missão de reciclar os petrodólares. Os países
desenvolvidos emprestadores se haviam deixado levar pela crença no
poder de auto-regulação do mercado internacional de moedas, que operava
com volumes muito superiores aos fluxos oficiais de crédito,
governamentais e multilaterais. O resultado foi um excessivo
comprometimento internacional do sistema privado de financiamento, em
particular dos bancos norte-americanos, com os países em
desenvolvimento. Os grandes money centers dos Estados Unidos
chegariam a emprestar, em média, mais de 60% do respectivo capital ao
Brasil, não obstante a existência de teto legal naquele país, para cada
banco, de 15% por país tomador.
Da extrema tolerância com as imprudentes políticas de empréstimo de seus
bancos compatível, porém, com a postura de laissez-faíre em relação ao
vertiginoso crescimento do mercado de euroomoney e de eurobonds, as
autoridades de supervisão bancária dos Estados Unidos passariam, com a
27
crise da dívida latino-americana, a uma atitude de inflexível cobrança do
respeito às normas de regulação da atividade bancária a fim de restabelecer
antes de tudo a solvência do sistema. Ainda que isso significasse, como
significou, severo ônus para os países devedores.

A exigência de pagamento de um serviço da dívida monstruoso se evidenciou


na postura rígida do governo americano de não negociar o reescalonamento da
dívida (BATISTA,1994,p.14).
Função em grande parte dessa rígida postura governamental norte-
americana, a estratégia inicial de tratamento da dívida cogitou,
fundamentalmente, de reescalonar o principal pelos mesmos prazos,
sempre com juros flutuantes mas com spreads mais elevados. Como
"dinheiro novo", unicamente “empréstimos-ponte" necessários para impedir
a insolvência dos bancos credores. O pagamento integral dos juros seria
viabilizado pela contração das importações dos devedores, mediante a
redução de demanda inerente aos programas de ajuste recessivo
recomendados e supervisionados pelo FMI e de medidas diretas de controle
das importações.
Não se considerou, como seria mais conveniente para os próprios credores
uma estratégia de aumento das exportações dos devedores, mediante
acordos de estabilização dos preços de produtos primários e/ou uma maior
abertura dos mercados dos credores às manufaturas dos devedores. Ou, no
campo financeiro, uma consolidação da dívida que incorporasse reduções
do estoque e amortização em prazos muito mais longos, com grandes
períodos de carência e juros fixos.

O FMI exigiu um pagamento do serviço da dívida, o qual não levou em


consideração a real dimensão da capacidade de pagamento, resultando na redução
do grau de abertura da economia brasileira em face do reescalonamento de uma
dívida contraída em reflexo da inserção internacional, bem como a perda da
formulação e execução da política macroeconômica (BATISTA,1994,p.14).
Ao ser instrumentada sob a supervisão do FMI, a estratégia da dívida
desejada pelos credores permitiria que o organismo encontrasse uma nova
missão, recuperando uma parcela do prestígio que havia perdido, primeiro,
em consequência da modéstia de seus recursos em face do crescimento do
comércio internacional e do surgimento do mercado de euromoeda; em
seguida, principalmente, pelo colapso do regime de paridades fixas de
câmbio.
Dessa estratégia inicial, resultaria um sensível fechamento dos mercados
latino-americanos, fazendo, no caso brasileiro, que juntamente com o
aumento da produção nacional de petróleo, o grau de abertura da economia
brasileira passasse de 10% a 5% do PIB. Tal fechamento seria, mais tarde,
estranhamente atribuído, de forma crítica, a propósitos autárquicos e de
estatização da economia brasileira, como se aquele fechamento não fosse
produto dos esquemas de reescalonamento de uma dívida contraída em
função da inserção internacional que o país havia aceito. Crítica que, além
disso, não levava em conta que o grau de abertura de uma economia se
deve calcular também em função da importância do investimento direto
estrangeiro, o qual atinge no Brasil 8,9% do PIB. Essa proporção é muito
superior aos 5,2% verificados na Coréia do Sul e aos 2,3% em Taiwan,
países constantemente louvados, no entanto, por sua abertura ao exterior.
Dentro dessa estratégia de refinanciamento da dívida, os países latino-
americanos, Brasil inclusive, perderiam considerável parcela de sua

28
autonomia de decisão na formulação e execução da política
macroeconômica. Esta passaria a ser concebida a partir da disponibilidade
de recursos proporcionados pela renegociação dos débitos externos e não o
inverso, como seria o correto. Repetir-se-ia, assim, a dramática experiência
do início dos anos 20, quando a cobrança das dívidas interaliadas e das
reparações de guerra se tornou inviável por não levar em conta, como
propusera avisadamente Keynes, a "capacidade de pagamento" dos
devedores.

A gravidade do problema do Brasil no que se refere à manutenção do


crescimento da economia em face da necessidade de gerar dólares para o
financiamento da dívida (FASSY,1984,p.24)
Para um país, que para manter o crescimento de sua economia a níveis
mínimos, não há sobra de dólares na balança comercial, fica a necessi-
dade atual de se obter cerca de 20 bilhões de dólares anualmente , junto a
comunidade financeira internacional.

Por outro lado, analisa alguns fatores estruturais na geração de crescimento


econômico na década de 80 (FASSY,1984,p.24 - 25).
Na verdade, as commodities que o Brasil exporta, estão atreladas no me-
canismo de monopólio das transnacionais que operam no comércio
destes produtos, quando os preços reais a longo prazo tendem sempre a
uma deterioração. É o caso típico do café, do açúcar, do cacau e do minério
do ferro.
Quanto à exportação de produtos manufaturados, o grosso das vendas são
realizadas por multinacionais já superadas tecnologicamente no mercado
internacional. E somente sobrevivem no Brasil por dois motivos; as vendas
marginais do país no comércio internacional (1% de todo o comércio mundi-
al) e os subsídios dados pelo governo brasileiro, através de créditos, prê-
mios, juros subsidiados, Befiex,Concex etc...
Por outro lado, para se manter o processo de urbanização atual, grande
consumidor de petróleo e um sofisticado fornecimento de produtos agríco-
las, que consomem toneladas de fertilizantes do exterior, é impossível re-
duzir as importações. Além do mais, por estar ainda em estágio de tecnolo-
gia comparável ao Japão do início da década de 50, o Brasil é grande im-
portador de bens de capital e patentes que consomem cerca de dois a três
bilhões de dólares anualmente.
[...] Qualquer reativação da economia brasileira, iria exigir acréscimos de
acréscimos de importações de pelo menos 5 bilhões de dólares, no primei-
ro. Isto porque, o processo de substituição de importação já chegou ao seu
limite. Assim, as importações brasileiras, exclusive petróleo, representam
apenas 4% do Produto Interno Bruto.
Já o petróleo vem pesando entre 30 a 50% das importações globais, desde
1974.

Além disso, analisa a dificuldade das exportações em face da redução do


crescimento econômico mundial em face do colapso do sistema de liquidez
internacional (FASSY,1984,p.25).
Assim, os países em desenvolvimento já devem 500 bilhões de dólares
junto à comunidade financeira internacional, sendo que o Brasil, sozinho
deve 16% deste total. Nesse contexto, o comércio internacional tende a
reduzir o seu ritmo de crescimento, mormente quando o sistema de
liquidez internacional começa a entrar em um colapso de grandes

29
proporções e de efeitos ainda imprevisíveis para a economia internacional,
a curto e médio prazos.

Não é por outra razão que o acréscimo das exportações brasileiras poderia ser
de 10% através do mecanismo de desvalorização do cruzeiro em relação ao valor do
dólar, resultando em efeitos inflacionários a curto prazo (FASSY,1984,p.25).
É de grande importância a análise feita por (FASSY,1984,p.28) no que
concernem as causas fundamentais para que as transnacionais comecem a ter
superávits na balança comercial.
1) o enfraquecimento da demanda interna a partir de 1974;
2) a manutenção de um importante esquema de promoção das exportações
3) os efeitos do programa de substituição de importações implementadas
com o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento; e
4) a política restritiva do governo, objetivando corrigir os desequilíbrios da
balança de pagamentos.

Além disso, evidencia-se as pressões da Volkswagen do Brasil e da Ford em


relação ao governo brasileiro no que se refere à necessidade da concessão de
subsídios e os efeitos nas finanças públicas com a extensão do referido benefício a
outros setores em dificuldades no mercado interno (FASSY,1984,p.29).
Todavia, tais políticas geram acréscimos de subsídios, que pressionam o
acréscimo de déficit público e o inchamento da dívida interna. Na primeira
hipótese a consequência é de pressão inflacionária e no segundo caso, a
elevação da taxa de juros, já que o Governo absorve maior volume de
poupança disponível no mercado de capitais.

O efeito da magnitude do incremento da dívida externa do Brasil. A título de


comparação em 1973 correspondia a 12,5 bilhões de dólares e fechará em 1982
em 87 bilhões de dólares. Outra importante análise realizada é a correlação
existente entre a geração de superávit e o efeito sobre o produto
(FASSY,1984,p.33).
Para um superávit de apenas 1,2 bilhão de dólares em 1981, a nação
reduziu o seu produto em 12,5 bilhões de dólares, e se houver o superávit
estimado de 500 milhões de dólares em 1982, o produto vai cair em cerca
de mais 4 a 5 bilhões de dólares.
É evidente que o coeficiente de importação é muito rígido no Brasil totali-
zando algo em torno de 8 por cento do produto.
Portanto, caso o Brasil queira este fabuloso superávit de 6 bilhões, o produ-
to teria que reduzir 300 bilhões para algo em torno de 260 bilhões de dóla-
res, ou uma recessão na faixa de 10 a 15 por cento do PIB.

Salienta-se, ainda, uso das estatais para controlar a inflação em face da


pressão da desvalorização cambial ou de beneficiar certos setores da economia.
Além disso, os congelamentos de preços foram os principais responsáveis por

30
prejuízos ou baixos lucros apresentados por algumas estatais que passaram a
acumular dívidas ao longo dos anos.
Assim, basicamente a política subordinada ao FMI resultou nas pressões
inflacionárias generalizadas e persistentes; o desemprego generalizado de fatores,
particularmente da mão-de-obra, a qual assumiu formas crônicas; o desequilíbrio
das finanças públicas ; a perda da capacidade de realização de investimentos
estruturantes. Além disso, o Brasil aumentou sua vulnerabilidade em relação às
contas externas em face do vazamento de renda reflexo do significativo serviço da
dívida de 1980 a 1993 impactando assim na taxa de crescimento da economia.

31
IV – O CONSENSO DE WASHINGTON E OS FUNDAMENTOS DA
POLÍTICA NEOLIBERAL
A crise da dívida externa na década de 1980 e o impacto estrutural das
finanças públicas do Estado brasileiro aliada ainda a deterioração da capacidade de
investimento das estatais e, portanto o sucateamento das mesmas, resultaram na
desestruturação das cadeias industriais (estatais e privadas), bem como na
desintegração social e econômica em face de uma década de estagflação. Assim, o
Consenso de Washington e os fundamentos da política neoliberal2 possibilitaria o
ingresso do país a modernização e ao crescimento econômico ?
As propostas do Consenso de Washington se convergiram para a drástica
redução do Estado e ao máximo de abertura à importação de bens e serviços
(BATISTA,1994,p.18)
As propostas do Consenso de Washington nas 10 áreas a que se dedicou
convergem para dois objetivos básicos: por um lado, a drástica redução do
Estado e a corrosão do conceito de Nação; por outro, o máximo de abertura
à importação de bens e serviços e à entrada de capitais de risco. Tudo em
nome de um grande princípio: o da soberania absoluta do mercado autore-
gulável nas relações econômicas tanto internas quanto externas.

De 1980 a 1989, o alto serviço da dívida imposto (FMI), possibilitou a


reintegração do Brasil a economia internacional em face do alto volume de
exportação de mercadorias. Após o Plano Brady o país ingressou definitivamente
em uma estratégia de abertura econômica e de reintegração passiva à economia
capitalista mundial (WILLIAMSON, 1990 ; 1992; 1994 apud GOMES,2007,p.37)
Durante a década de 1980, o país somente pôde se reintegrar à economia
internacional mediante a exportação de mercadorias que se fazia
necessária para o pagamento desses encargos financeiros. Após o Plano
3
Brady , de 1989, e a formulação daquilo que ficou conhecido como o
“pacote de reformas do Consenso de Washington”, o país ingressou,
definitivamente, em uma estratégia mais sistemática de abertura econômica
(comercial e financeira) e de reintegração passiva à economia capitalista
mundial.

2
A avaliação objeto do Consenso de Washington abrangeu 10 áreas: 1. disciplina fiscal; 2.
priorização dos gastos públicos; 3. reforma tributária; 4. liberalização financeira; 5. regime cambial; 6.
liberalização comercial; 7. investimento direto estrangeiro; 8. privatização; 9. desregulação; e 10.
propriedade intelectual.
3
Este plano leva o nome do então Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Nicholas F. Brady,
que pretendia renovar a dívida externa de países em desenvolvimento, mediante a troca por
bônus novos. Estes bônus contemplavam o abatimento do encargo da dívida, através da redução
do seu principal ou pelo alívio nos juros. Além de emitir os bônus, os países deveriam promover
reformas liberais em seus mercados.
32
A inserção do Brasil na chamada globalização representou o ingresso em
uma nova etapa da história de expansão da economia capitalista
(GOMES,2007,p.38).
O contexto internacional, nas décadas de 1980 e 1990, entretanto, era bem
bem diferente dos anteriores e a economia capitalista mundial exigia, dos
mercados periféricos, medidas liberalizantes, sob a influência das altas
finanças consorciadas com as políticas de Estado, principalmente, o norte-
americano. Logo, a inserção, na chamada globalização representou, antes
de tudo, o ingresso em uma nova etapa da história de expansão da
economia capitalista que, a partir de seus centros de poder mundial, foram
constituindo novas relações de poder.

Neste contexto, as novas relações econômicas internacionais estabelecidas,


através dos organismos internacionais – FMI, Banco Mundial e Organização
Mundial do Comércio (OMC) – passaram a pressionar, com muito mais intensidade,
a periferia para que fossem adotadas estratégias alinhadas ao pensamento de
Washington (GOMES,2007,p.38).
Com as novas relações econômicas internacionais estabelecidas, os orga-
nismos internacionais – FMI, Banco Mundial e Organização Mundial do Co-
mércio (OMC) – passaram a pressionar, com muito mais intensidade, a
periferia para que fossem adotadas estratégias alinhadas ao pensamento
de Washington, que priorizava uma maior abertura econômica,
desregulamentações dos mercados e mudanças nos eixos de
funcionamento das estruturas estatais. A renegociação da dívida externa
dos países periféricos serviu de instrumento de pressão para a adoção do
novo modelo de integração internacional à ordem neoliberal e às estratégias
de reformas nacionais.

A dívida do ‘Terceiro Mundo’ foi uma alavanca poderosa que permitiu impor
políticas enérgicas de ajuste estrutural, austeridade fiscal, liberalização e
privatização” (CHESNAIS, 2005, p. 67 apud GOMES, 2007, p.38).
A adoção irrestrita do Consenso de Washington representou o fim da
estratégia de desenvolvimento e soberania na administração das políticas
econômicas (CANO, 2000 apud GOMES, 2007, p.39).
A adoção irrestrita das políticas neoliberais na América Latina anunciou o
fim das experiências de desenvolvimento econômico e a perda considerável
de graus de soberania no manejo das políticas econômicas e de autonomia
dos principais centros decisórios desses países.

Como vem apontando Santos (1998; SANTOS ET AL., 2001; 2004a; 2004b
apud GOMES, 2007, p.39 ), o que ficou conhecido como “crise fiscal” não passou de
um artifício para que o Brasil se inserisse em uma estratégia passiva no contexto
mundial.

33
o que ficou conhecido como “crise fiscal” não passou de um artifício ideoló-
gico para legitimar o processo de reestruturação das atividades e funções
públicas e estabelecer um novo padrão de intervenção estatal, adequado e
capaz de estabelecer as bases e condições da abertura econômica e da
integração às correntes do processo de acumulação, em escala
internacional.

Assim, o Consenso de Washington representou uma ideologia da


globalização capitalista baseada em um conjunto de políticas que viabilizaram a
reintegração da região no processo de acumulação de capital conduzido pelas altas
finanças, nacional e internacional (GOMES, 2007,213).
As políticas neoliberais vão representar, justamente, as condições normati-
vas e o novo conjunto de regras e procedimentos que garantiriam o sucesso
de reintegração da periferia no processo de expansão do sistema capitalista
em escala global, na transição dos séculos XX para o XXI. O Consenso de
Washington representou tanto uma ideologia da globalização capitalista
neoliberal para a América Latina, como um conjunto de políticas que
viabilizaram a reintegração da região no processo de acumulação de capital
conduzido pelas altas finanças, nacional e internacional.

Neste contexto, é que se configurou a armadilha do Plano Real, pois este foi
baseado não só em um nível baixo de carga tributária em percentual do PIB, bem
como neste período já se evidenciava uma alta vinculação da receita a despesa, a
qual não possibilitava uma gestão fiscal eficiente tanto no que se refere à geração
de superávit primário para manter a sustentabilidade da dívida pública como também
a atuação do Estado como ente dinamizador do crescimento econômico no que se
refere à realização de investimentos estruturantes como : educação e infra-estrutura.

34
V - DO PLANO REAL A CRISE DE 1998
O Plano Real foi fundamentado em uma política de estabilização monetária
alicerçada na sobrevalorização da nova moeda criada (o Real) e na abertura
comercial e financeira e sob duas âncoras a monetária e a cambial, entretanto sem
um sustentáculo fiscal. O impacto sobre as taxas de inflação foi de imediato em face
que estas reduziram sistematicamente durante os quatro anos do primeiro governo
FHC - considerando o IGP, IGP-DI, IPC-A (Tabela I).
A estabilidade dos preços propiciou um circulo virtuoso e crescimento do
consumo, da produção e emprego (FILGUEIRAS ; PINTO 2009, p.254).
A estabilidade dos preços no seu período inicial – notadamente de julho de
1994 a março de 1995 – propiciou um círculo virtuoso de aumento do con-
sumo e crescimento da produção e do emprego, impulsionado pelo fim do
imposto inflacionário e ampliação do crédito.

Salienta-se que, a partir de 1979, o Brasil teve uma significativa necessidade


de gerar superávits comerciais, e, portanto se utilizando de políticas altamente
contracionistas baseada na política fiscal e monetária no sentido de enfraquecimento
da demanda interna. Portando, o consumidor brasileiro caiu na armadilha do
consumo através do real valorizado, refletindo no incremento da importação de
produtos industrializados e do déficit de serviços em face do aumento dos gastos
com viagens internacionais. No que tange àquele foi reflexo da perda de
competitividade das empresas brasileiras e o resultado foi gigantescos déficits
comercias e estes foram financiados através do capital especulativo.
Além disso, segundo a análise feita por Gomes (2009, p. 206) o cenário
financeiro internacional estava bastante favorável no período de lançamento da
nova política econômica.
Principalmente por causa da desaceleração do ritmo do crescimento eco-
nômico dos países desenvolvidos, a economia internacional passou a a-
presentar novamente graus de liquidez. O Brasil, nesse contexto, soube
aproveitar largamente a possibilidade de atrair capitais estrangeiros tanto
para investimentos produtivos quanto financeiro.

Conforme (BELLUZO & ALMEIDA,2002, p.373 apud GOMES,2009,p.207),


não obstante a preocupação com a estabilidade monetária, havia uma concepção
muito audaciosa embutida nas estratégias do Plano Real,
Os pressupostos neoliberais tinham como objetivo uma estratégia de
inserção passiva na dinâmica mundial ( SALLUN JR, 2000, p.144 apud
GOMES,2009, p. 207).

35
Nesse sentido, os pressupostos neoliberais partiam da premissa de que os
países que realizassem uma liberalização financeira de seus respectivos
mercados, aumentando o grau de exposição às finanças internacionais
(liberalização financeira) por meio da abertura da conta de capital,
alcançariam melhores condições de financiamento para modernização da
capacidade produtiva. Segundo esses pressupostos, como os países da
periferia apresentam uma relativa escassez de capital, por isso
apresentando condições de financiamento menos favoráveis, a liberalização
permitiria ampliar o mercado de capitais e créditos, elevando a
concorrência. Com isso os agentes econômicos teriam possibilidades mais
abrangentes de alocar capital e em situações menos dispendiosas devido
às taxas de juros mais baixas.

Essa estratégia foi útil para condicionar o grau de abertura econômica do país,
refletindo na atual política de estabilização econômica, entretanto com impactos
significativos nos atuais resultados pífios de crescimento econômico obtido pelo
Brasil de 2002 a 2012. Assim, o reflexo desta estratégia se reflete no atual volume
de importação no segmento de industrialização ; na dinâmica do incremento da
dívida pública bruta no que se refere à elevada proporção em relação ao PIB,
mesmo com a manutenção da elevada geração de resultados primários (ver
tópico IX).
A avaliação feita por (CARVALHO, 2004 apud GOMES,2009,p.218) centra a
deterioração exclusivamente nas contas públicas da União antes do Plano Real.
Entre 1991 e 1993, a necessidade de financiamento do setor público, exigia
superávits na ordem de 2% a 5%. O equilíbrio fiscal e as condições mais
favoráveis da relação dívida/ PIB, estabeleceram a redução das despesas
com juros, dando lugar a déficits operacionais próximos de zero.

Observando o Plano Real quando da sua implantação não teve um alicerce


fiscal, portanto evidencia-se logo a sua fragilidade não só diante dos problemas
surgidos nas contas externas do país como também nas finanças públicas da
União e dos Estados.
A análise da deterioração do setor público consolidado de 1995 a 1998
(GIAMBIAGI, 2001, p. 161) .
A despesa de juros reais do setor público como um todo foi de 5,3%; 3,7%;
3,4% e 7,4% do PIB em 1995,1996,1997 e 1998, respectivamente. A dife-
rença com relação ao resultado nominal foi portanto de 2,2%;2,1%;1,7% e
0,2% do PIB nos mesmos anos. Essa diferença é resultante da inflação e
do tamanho da dívida. Como aquela foi cadente, mas a dívida subiu, a dis-
tância entre os juros nominais e reais até 1997, não caiu muito. Em 1998,
porém, com uma inflação de “primeiro mundo”, essa diferença foi muito
pouco significativa.
O desequilíbrio gerado por estados e municípios no período de 1994 a 1998
(GIAMBIAGI, 2001, p.161).

36
Quando se comparam os resultados médios de 1991/1994 e de
1995/1998, nota-se que o superávit primário do setor público
consolidado de 2,9% do primeiro período converteu-se em um déficit de
0,2% do PIB nos quatro anos seguintes.
[....] se observa a “fotografia” do déficit público a cada ano, o desequilíbrio
de Estados e municípios foi, durante, a maior parte do período
1994/1998, o responsável pelo pior resultado primário no conjunto das
três unidades de governo consideradas – governo central; estados e
municípios e empresas estatais. Entretanto, quando se analisa a tendência
verificada ao longo do período, cabe chamar a atenção para a nítida
deterioração da performance das contas do governo central.

Nesse contexto, não menos importante é avaliação no que tange ao


alinhamento que o Brasil fez ao chamado Consenso de Washington com suas
políticas de cunho neoliberal de austeridade fiscal, privatização e liberalização
econômica como proposta de modernização da periferia (STIGLITZ, 2002,2003;
SALLUN JR,2000 apud GOMES, 2009, p.207).
Além disso, é fundamental a avaliação feita no que se refere à política
monetária aplicada pelo Banco Central no período não só em face da
sustentabilidade da dívida pública como principalmente a exposição de alto risco do
setor privado quanto a captação de empréstimos no exterior no regime de cambio
fixo (GOMES, 2009, p.212).
O diferencial da taxa de juros interna que se situou praticamente acima dos
20% em média ao ano durante todo o Plano Real, permitiu que as grandes
empresas e bancos fossem forçados a captar empréstimos no exterior, au-
mentando a exposição financeira desses agentes econômicos com o endivi-
damento em moedas estrangeiras.

A avaliação da sustentabilidade da dívida pública tão preconizada pelo FMI


era impossível, no período de 1994 a 1998, em um cenário de política monetária
baseada em alta taxa de juros reais em face que como o superávit primário como
proporção do PIB, requerido para estabilizar a relação dívida/PIB, é uma função
direta da própria relação dívida/PIB e da taxa de juros e uma função inversa do
crescimento real da economia – para uma certa taxa de inflação e da senhoriagem.
h= d.[(i-y)/(1+y)- s sendo :
h = superávit primário (% do PIB) ; d = relação dívida / PIB ;
i = taxa de juros nominal y= crescimento real da economia ;
s = senhoriagem
Neste contexto, conforme já foi salientada a manutenção da alusiva taxa de
juros reais aplicada em níveis significativamente alto durante o período para atrair o
capital externo combinado a uma baixa taxa de crescimento econômico e que aliada

37
a impossibilidade do governo de se financiar via senhoriagem (emissão de moeda)
resultou na trajetória da insustentabilidade da dívida pública. Além disso, apesar de
ter ocorrido um incremento da carga tributária esta foi demasiadamente inferior a
real necessidade para gerar o superávit primário em % do PIB em face da gestão da
política econômica conduzida no período na era Malan no sentido de manter a
sustentabilidade da dívida pública conforme os preceitos do FMI.
Para corroborar esta análise evidencia-se o significativo crescimento da
arrecadação tributária de 1999 em relação as receitas de 1991-1993 (CARVALHO,
2004 apud GOMES, 2009,p.219)
“Pelo lado da arrecadação tributária, além do aumento dos impostos, houve
elevação muito maior das contribuições (Cofins, PIS/Pasep) que passaram
de 30% das receitas entre 1991-1993, em média, para 43% em 1999.”

“Apesar do crescimento da carga tributária e da eficiência em alcançar as


metas de superávits primários, aliado aos cortes de despesas correntes e
investimentos, a dívida pública, como vimos não cessou de crescer” (GOMES, 2009,
p.219).
Diversos fatores contribuíram para a dinâmica do crescimento da dívida
pública segundo (CARVALHO, 2004 apud GOMES, 2009, p.219).
[....] resume em quatro fatores a explicação desse problema i) juros altos;
4
a política de esterilização do efeito monetário da acumulação de reservas
externas externas; iii) o socorro aos agentes econômicos em crise, especi-
almente o sistema financeiro; e iv) o reconhecimento das dívidas passa-
sadas.

A combinação não só de geração de déficits gêmeos, bem como a tendência


ao incremento da deterioração das contas públicas em face da política de taxa de
juros real Selic que alcançou seu maior índice em novembro de 1998, entretanto não
se evidenciou maiores efeitos sobre à sustentação da política cambial, ao contrário
se observou uma massiva fuga de capitais nesse período, a qual reduziu o estoque
de reservas cambiais tornando insustentável o equilíbrio do balanço de pagamentos.
A gestão da política econômica durante o período baseada na dinâmica das
taxas de juros aliada a estratégia conservadora de restrição da base monetária e
dos meios de pagamento foram determinantes para o incremento do estoque da
dívida, resultando em um significativo volume de recursos públicos, os quais foram

4
A entrada de oferta de divisas estrangeiras força o Banco Central a emitir reais, mas o Banco
Central para evitar o aumento da inflação realiza operações de open market.

38
despendidos para atender a elite financeira nacional (CARVALHO, 2004 apud
GOMES, 2009, p.219).
Carvalho (2004) afirma existir uma certa dificuldade para se ponderar a
influência desses fatores sobre o aumento da dívida pública. Entretanto, por
hipótese, se levarmos em consideração a gestão da política econômica
durante o período, podemos constatar que a dinâmica das taxas de juros e
a estratégia conservadora de restringir a base monetária e os meios de
pagamento estão entre os fatores que mais influenciaram no aumento do
estoque da dívida do setor público.
[...] Não se deve, entretanto, minimizar a importância do volume de recursos
públicos que foram despendidos para atender a elite financeira nacional
(Proer), bem como a absorção das chamadas “moedas podres” no processo
de privatizações.

Ressalta-se que também neste período houve mudança na política cambial,


sendo que a política de “bandas cambiais” substituída pelo regime de livre flutuação,
removendo assim a principal âncora de preços vigente desde julho de 1994. Esta
mudança acentuou a responsabilidade da política fiscal – articulada com o regime de
metas inflacionárias no âmbito da política monetária – para a manutenção do
equilíbrio macroeconômico. Observa-se que em regimes de câmbio fixo, os impactos
são agravados pela ausência de mecanismos de ajustes automáticos na taxa de
câmbio, então, em face de ataques especulativos, há perdas imediatas de reservas
para se defender da cotação da moeda.
Neste contexto, as reservas brasileiras foram saqueadas em face da
desvalorização cambial ocorrida em 1999, refletindo na evasão de divisas
contribuindo para aumentar a vulnerabilidade externa do País (CHOSSUDOVSKY,
1999,pp. 299 – 300 apud GOMES,2009,p.214).
Observa-se que a política neoliberal do Consenso de Washington foi aplicada
integralmente sem um dos seus alicerces (a disciplina fiscal) em um país em
desenvolvimento e que, portanto combinada a outro fundamento desta alusiva
política no que se refere à política de privatização teve um efeito reduzido de 8,1%
do PIB no que se refere à redução da dívida pública em face da política monetária
altamente contracionista baseada em alta taxa de juros reais, a qual resultou em
uma trajetória explosiva da dívida pública. Segundo as informações do Secretario de
Tesouro Nacional, Fábio de Oliveira Barbosa, em apresentação a Comissão Mista
de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional em
17/04/2001 a relação dívida líquida do setor público sem a privatização seria de
57,6% do PIB em 2000 e com a privatização foi de 49,5%. Assim, o processo

39
acelerado de privatização não contribuiu significativamente para redução da relação
dívida líquida em face da política monetária conduzida na época.
O processo de privatização acelerado de 1997 a 1999 não contribuiu para
reduzir o estoque da dívida pública segundo (BELLUZO & ALMEIDA, 2002, p.391 ;
apud GOMES,2009, p. 214).
As receitas das vendas entre 1997 e 1998 alcançaram cerca de 3% do PIB.
As privatizações não teriam alcançado tal envergadura se por trás não
houvesse a estratégia central de atrair capitais externos para auxiliar no
ajustamento do balanço de pagamentos. Até o início da década de 1990 era
insignificante a presença dos investimentos externos diretos na economia
brasileira. De pouco mais de US$ 400 milhões em 1990, esses
investimentos alcançaram as cifras estratosféricas de US$ 30 bilhões em
1999 (Gráfico 6.3). De acordo com Belluzo & Almeida (2002,p.391) “ esses
números contrastam com os resultados da dívida pública e do desequilíbrio
fiscal, que prosseguiram como se uma privatização de tal envergadura não
tivesse em curso.

Salienta-se ,ainda, que o montante significativo de US$ 120,2 bilhões de 1997


a 2001 em investimentos diretos parte destes capitais foram destinados a aquisição
de ativos preexistentes (GONÇALVES, 1999 ; SANTOS, 2002 apud GOMES,
2009,p. 215).
É importante destacar que parte desses capitais foi destinada a aquisição
de ativos preexistentes, como empresas estatais e privadas, provocando o
processo de desnacionalização profunda da estrutura produtiva. Grande
parte desses investimentos estrangeiros teve pouca repercussão sobre o
aumento na formação bruta de capital. É mais correto afirmar, portanto, que
foram responsáveis pelo financiamento das fusões e aquisições entre
empresas, principalmente através da transferência de patrimônio estatal
para o setor privado nonopolista.

Assim, segundo Gomes (2009,p. 216) avaliou que a privatização seria um dos
fatores estruturais para os resultados pífios de crescimento no longo prazo.
No longo prazo, a consequência do processo de abertura econômica e da
privatização poderá vir sob a forma de maiores pressões sobre o balanço de
de pagamentos, tornando ainda mais estrutural o problema dos saldos ne-
gativos na conta de serviços. A evolução da remessa de lucros e
dividendos entre 1992 e 2003 é considerável. Elas passam de US$ 574
milhões para US$ 7 bilhões em 1998. Mesmo caindo nos anos posteriores
para uma média de US$ 4,5 bilhões, em 2003 voltou a subir alcançando
US$ 5 bilhões.
O fato é que muitas dessas empresas estrangeiras que remetem lucros e
dividendos não produzem mercadorias exportáveis. A maioria está concen-
trada nos setores de serviços de bens não-tradeables. Como não produ-
zem bens exportáveis, então não têm como garantirem a remessa de lucros
para o exterior. Ademais vários setores onde ocorreram as privatizações,
fusões e aquisições, como o aumento da participação de grupos estrangei
ros, apresentam a peculiaridade de serem intensivos no uso de tecnologi-
as avançadas, geralmente importadas (e.g, telecomunicações, setor finan-
ceiro), com isso contribuindo para uma certa rigidez do volume de
importações.

40
Salienta-se, ainda, que o reduzido volume de investimentos em ampliação na
melhora da infraestrutura do setor telecomunicações do período da privatização até
2012 reflete na baixa qualidade na prestação de serviços contribuindo para o alto
custo Brasil em face da deficiência tecnológica no que se refere a atual capacidade
da rede de Internet.
A conta de capital (empréstimos, financiamentos e investimentos externos
diretos) financiando o desequilíbrio externo, era necessária, conforme já salientado
anteriormente e o governo utilizou a esterilização para absorver o excedente de
dólares que entrava no país no sentido de evitar a expansão de liquidez interna e,
portanto, não provocar a inflação.
A esterilização do aumento da liquidez resultou na trajetória explosiva da
dívida interna no sentido de absorver a entrada de capitais externos, sobretudo o
volátil. Assim, em um cenário de combinação de uma política monetária baseada em
alta taxa de juros reais tornou difícil a manutenção do regime em câmbio fixo e
aliada ainda fluxos livres de capital conforme análise de Mankiv (2004, p.264) sobre
a trindade impossível, a qual foi administrada pelo Banco Central a serviço da
política neoliberal fundamentada pelo Consenso de Washington “[.....] é impossível
para uma nação ter fluxos livres de capital, uma taxa de câmbio fixa e política
monetária independente”.
Assim, a política neoliberal implantada pelo FHC sob o regime de trindade
impossível resultou em uma geração de déficits gêmeos e que aliada a referida
política monetária conduziu a uma trajetória de dívida explosiva e principalmente a
necessidade de recorrer ao FMI e a sua ortodoxia sob o regime do tripé (metas de
inflação, geração de superávits primários e câmbio flutuante), a qual nos mantém
refém dos capitalistas rentistas nacionais e internacionais), sendo hoje um dos
fatores estruturais para os resultados pífios do crescimento no que tange ao período
de 1998 a 2012.
Em resumo (TORRES, 2010,p.25) analisa que, no período de 1994 a 1998, a
gestão da política neoliberal nos conduziu a um financiamento configurado como
devedor Ponzi conforme se evidencia na insustentabilidade do déficit de conta
corrente e na geração de déficits comerciais (Gráfico 1), ou seja, segundo o
economista Mario Henrique Simonsen “se a inflação aleija o balanço de pagamentos
mata”.
O Plano Real teve como instrumentos a âncora cambial e a política extre-
41
mamente restritiva do Banco Central, por conseguinte a combinação de
ambas foi determinante para o aumento dos déficits em conta corrente de-
corrente da perda de competitividade das exportações. Além do mais, a
geração de resultados primários deficitários concomitantemente a política
monetária altamente restritiva do Banco Central em face à necessidade de
atrair os dólares para financiar os altos e crescentes déficits de conta cor-
rente refletiram em resultados nominais deficitários do setor público con-
solidado.

Gráfico I - Balanço em Conta Corrente – 1994 – 1998 (US$ bilhões)

15
10
5
0
-5
-1 0
-1 5
-2 0
-2 5
-3 0
-3 5
-4 0
1994 1995 1996 1997 1998
Re sultado C.C -1 ,8 -1 8 ,4 -2 3 ,5 -3 0 ,5 -3 3 ,4
Balanç a Come rc ial 1 0 ,5 -3 ,5 -5 ,6 -6 ,8 -6 ,6
SRT -1 2 ,3 -1 4 ,9 -1 7 ,9 -2 3 ,7 -2 6 ,8

Fonte: Banco Central


Obs: SRT – Serviços,rendas e transferências unilaterais

Salienta-se que apesar de ter sido evidenciado aumento da carga tributária


em percentual do PIB de 1994 a 1998, entretanto esta foi muito inferior no que se
refere à manutenção da sustentabilidade da dívida pública. Assim, se evidencia que
este incremento da carga tributária não ocorreu para não comprometer os objetivos
do FMI no tocante á implementação do atual modelo de dependência e submissão e
do FHC no que se refere ao seu projeto de reeleição.
Ressalta-se que a amortização integral dos empréstimos ao FMI no primeiro
governo Lula foi reflexo da entrada da China na dinâmica do poder, a qual
possibilitou altos superávits comerciais e, portanto, elevado volume de reservas
cambiais, entretanto foi mantida a alusiva dependência e submissão continua, pois a
gestão da política macroeconômica continua sendo fundamentada sob o regime de
metas de inflação, política de câmbio flutuante e geração de superávit primário sob
regime de livre entrada e saída de capital.
VI – DO FMI A ELEIÇÃO DE LULA
A alusiva geração de déficits gêmeos aliada a uma trajetória de
insustentabilidade da dívida resultou em um ataque especulativo contra o real em
42
1998,o qual determinou que o Banco Central aumentasse a taxa Selic de 34,2%
(set/1998) para 41,58% (out/1998), entretanto insuficiente para manter a disposição
do resto mundo a financiar um país em desenvolvimento, ou melhor, a pilhagem de
toneladas de ouro, a qual foi feita no período da colonização agora o saque foi
feito através de bilhões de dólares e determinando a necessidade de uma ajuda do
FMI, somando US$ 42 bilhões de dólares, a qual também foi insuficiente para
manter a trajetória de redução da taxa Selic.
Salienta-se destacar que esse primeiro acordo contemplava um importante
ajuste fiscal, com superávit primário passando de 0,0% do PIB em 1998 para 2,6%
do PIB em 1999, e 2,8% e 3,0% do PIB em 2000 e 2001, respectivamente. É
importante registrar que o acordo não contemplava mudanças na política cambial, a
qual seria mantida inalterada.
Destaca-se a avaliação feita pelo mercado no que se refere ao programa
fiscal em face da perda de credibilidade do mercado no tocante ao ajuste fiscal e o
reflexo foi a desvalorização (GIAMBIAGI, 2005,p.177)
O acordo, porém, enfrentou dois obstáculos que se revelaram insuperáveis.
O primeiro foi o ceticismo em que foi recebido pelo mercado, pouco disposto
a essa altura a considerar que o Brasil poderia escapar de uma desvalori-
zação. E o segundo foi a releição, pelo Congresso, de uma das mais impor-
tantes medidas do programa fiscal proposto em outubro de 1998 : a cobran-
ça de contribuição previdênciária dos servidores inativos.

Neste cenário o governo ficou sem opção de defender o regime de câmbio


fixo e a desvalorização cambial foi uma imposição do mercado financeiro conforme
(GIAMBIAGI, 2005, p.177).
Assim, este, que antes da desvalorização estava em torno de R$ 1,20, es-
calou rapidamente para mais de R$ 2,00 em menos de 45 dias, no que se
anunciava como a reedição do surto inflacionário vivido pelo México quatro
antes.

Assim, a nomeação de Armínio Fraga como presidente do Banco Central e


sendo profundo conhecedor do mercado financeiro internacional foi determinante
para acalmar o mercado em face da ampliação da rigidez da política monetária
(GIAMBIAGI, 2005, p.177-178).

[....] elevação da taxa de juros básica e o início de estudos para a adoção


do sistema de metas de inflação que há anos vinha sendo adotado em di-
versos países. Esta última foi entendida como uma espécie de troca de ân-
cora, face ao desaparecimento da âncora cambial.

43
Salienta-se, ainda, que FHC conseguiu apoio político para aprovar as
medidas de ajuste com as quais foram fundamentais para renegociar o acordo com
o FMI em um novo cenário (GIAMBIAGI, 2005, p.178).
Como este incluía uma dívida pública maior – devido ao efeito da desvalori-
zação sobre a parcela da dívida afetada pelo câmbio -, foi necessário am-
pliar a meta de superávit primário, que passou a ser de 3,10%; 3,25% e
3,35% do PIB para os anos de 1999 a 2002, implicando um forte aperto fis-
cal, em particular, nas condições do governo central.

Outra importante análise feita por Giambiagi (2005, p. 178 - 179) é que
apesar da significativa desvalorização do real não resultou em efeitos inflacionários
em face da importância dos seguintes fatos:
A desvalorização ocorreu em um momento de “vale” da produção industrial
no primeiro trimestre de 1999, estava 3% abaixo do primeiro trimestre de
1998 que, por sua vez, era 3% inferior ao primeiro trimestre de 1995, ge-
rando uma contração de demanda que diminuiu muito a chance de repasse
de câmbio aos preços.
Quase cinco anos de estabilidade e desmontagem dos mecanismos de
reajuste tinham de fato mudado a mentalidade indexatória dos agentes eco-
nômicos, que tinha prevalecido até o Plano Real.
A política monetária rígida – caracterizada por uma taxa de juros real de
15% em 1999 – cumpriu o papel esperado de conter o ritmo de
remarcações e de apreciar o Real,após o overshooting inicial.
O aumento de salário mínimo em maio de 1999, de menos de 5% nominais
quando muitos analistas ainda projetavam taxas de inflação da ordem de
20% teve um papel crucial nas negociações salariais da época, balizando
reajustes baixos.

Desta forma, mais uma vez foi a classe trabalhadora, a qual foi prejudicada,
ou seja, refletindo no incremento da participação do capital rentista em relação a
renda nacional.
O balanço do período de 1999 a 2002 resultou em um crescimento que
permaneceu baixo, pois continuou amargando taxas de juros reais elevadas a
reboque dos interesses do capitalismo internacional de outro houve melhora
sistemática da balança comercial e do resultado em conta corrente, apesar deste
continuar sendo deficitário.
Destaca-se a importância da análise feita por Giambiagi (2005, p.182) “[.....]
no que concerne ao ajuste fiscal feito pelo país no início do processo e que até os
mais otimistas julgavam que seria muito difícil de implementar: entre 1998 e 2002, a
melhora do resultado primário foi de quase 4% do PIB”.
Acrescenta-se, ainda, que o ajuste fiscal foi fundamental para os resultados
pífios do crescimento econômico, pois foi conseguido via aumento da carga tributária
e em face da anomalia do sistema de gestão fiscal do Brasil, o qual vincula à receita

44
a despesa e que em quase sua totalidade se direciona para expansão dos gastos
correntes e principalmente o incremento da despesa de pessoal em função da
vinculação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
A condução da política econômica a partir de 1999 baseada em uma política
de câmbio flutuante combinada as altas taxas de juros reais além de trazer os
resultados pífios de crescimento do PIB. Por conseguinte, do período de 1995 a
1997, as empresas nacionais foram forçadas a endividar-se em dólares, contribuindo
para financiar o déficit em conta corrente, pois a altíssima taxa de juros tornava
impossível investir para aumentar a capacidade produtiva e em novas tecnologias
visando incrementar a produtividade, refletindo assim na diminuição da participação
do setor público em relação ao total da dívida externa.
A partir do começo de 1999, o país iniciou um processo de retomada do
crescimento que só viria a ser abortado pela combinação de crises de 2001.
Primeira, a crise de energia em face da ausência de realização de investimentos
para cumprir as elevadas metas de resultado primário (% do PIB) impostas pelo FMI.
A segunda o “efeito tango” denominado contágio argentino, o qual resultou na
redução da entrada de capitais e que combinado aos ataques terroristas de 11 de
setembro, os quais resultaram na perda de bilhões de dólares em prejuízo com a
queda de ações (GIAMBIAGI, 2005, p.181)
Nesse contexto,o risco-país voltou a aumentar, refletindo uma menor dis-
ponibilidade de capitais para o país e afetando os juros domésticos. Isso
comprometeu o desempenho médio da economia no segundo governo
FHC.

O que comprometeu realmente o desempenho médio do segundo governo


FHC foi a sua política neoliberal do seu primeiro governo, em face da trajetória
explosiva da dívida interna, pois continuou sendo financiada a taxa de juros reais e
significativamente superiores ao reduzido crescimento econômico em (% do PIB)
mantendo a trajetória de insustentabilidade da dívida pública. E que combinada a
ampliação da geração do déficit de conta corrente no período de 1995-1998 para
1999-2002.

VII – O GOVERNO LULA - 2002-2006


Desde 1989, o Lula tentava eleição, mas o medo venceu a esperança de
conduzir um país com identidade e com justiça social. Em 2002, as pesquisas

45
demonstravam que Lula seria o candidato do povo sofrido por tanta imposição de
uma política imperialista americana utilizando o FMI como instrumento de
submissão.
Entretanto as elites brasileiras que usurparam o suor, o trabalho e
principalmente a esperança de ter uma vida digna e aliado ao capitalismo rentista
internacional desestabilizou mais uma vez o país não por que o Brasil deixou de
gerar superávit primário para manter a sustentabilidade da dívida pública, e sim
porque o sentido do capitalismo rentista nacional e internacional é obter o mais alto
retorno possível em um curto espaço de tempo.
Gráfico 2 – Resultado nominal e primário do setor público consolidado (%PIB)

Fontes : Secretaria de Tesouro Nacional e Banco Central


A análise da herança maldita no que se refere à piora das contas externas de
FHC (PAULANI, 2008, p. 22).
A piora estrutural das contas externas do Brasil é certamente uma das mais
perversas heranças legadas pelo governo FHC. A abertura externa estaba-
nada, além de elevar a dependência do país em setores estratégicos como
os de insumos básicos e bens de capital, produziu um substantivo estoque
de capital privado nacional e bom barato que foi parar nas mãos de capital
estrangeiro. O processo de privatização das estatais produtoras dos servi-
ços industriais de utilidade pública impôs a elas o mesmo destino. Como
resultado, a balança de serviços é hoje muito mais pesada, por conta do
aumento do déficit na balança de rendas, resultado inescapável da duplica-
ção do passivo externo líquido do país. Além disso, agora muito mais do
que antes, o crescimento do produto depende das importações.

Os reflexos sobre a balança de rendas e os reflexos estruturais no que


concerne ao incremento da vulnerabilidade macroeconômica do Brasil ao longo dos
anos 1980 e 1990 (PAULANI, 2008, p. 23).
O déficit da balança de rendas (lucros, dividendos e juros) que girou em
torno de US$ 11 bilhões ao longo dos anos 1980 e 1990, até 1996 salta
para a esfera dos US$ 15 bilhões em 1997 e para US$ 19 bilhões a partir
de então. Esse estrago estrutural teve um componente adicional de
natureza conjuntural e de enorme peso, com os quatro anos e meio de
46
moeda nacional artificialmente valorizada. Daí, os megadéficits em
transações correntes que passaram a ser produzidos. O componente
conjuntural foi resolvido com a desvalorização do câmbio em janeiro de
1999. O estrutural permanece e só com mudanças estruturais (redução da
dependência, diminuição do passivo externo) pode ser minorado.
Evidentemente, dada a piora estrutural das contas externas, nossa vulnera-
bilidade também cresceu e, na presença de componentes conjunturais tam-
bém adversos, pode de fato produzir crises que coloquem o país a beira do
precipício.

A comparação dos déficits gerados nas transações correntes entre o período


de 1984 a 1993 em relação a 1994 a 2003 contribuiu para o incremento da
vulnerabilidade externa (PAULANI, 2008,p.23).
Se tomarmos a somatória do saldo em transações correntes do Brasil no
período de 1984 – 1993, chegaremos um déficit total de US$ 1,3 bilhão do
período. Se fizermos o mesmo período para a década seguinte, ou seja,
para o período 1994 – 2003 o mesmo déficit verificado em 2002 (US$ 7,7
bilhões),o resultado é um déficit total de US$ 196 bilhões, isto é, um
resultado 150,8 vezes pior do que nos dez anos anteriores.

Assim, neste alusivo cenário assume Lula5, e que em virtude da crise gerada
pela elite rentista nacional e internacional produziu uma valorização da moeda
brasileira de R$ 2,20 para R$ 3,96 a ponto de o Brasil estar a beira do precipício
reflexo de uma crise fabricada pelo mercado (PAULANI, 2008,p.24).
As reservas começam o ano em cerca de US$ 36 bilhões (a média de 2001
foi de US$ 36,3 bilhões), oscilam para US$ 33 bilhões em abril e maio, al-
cançam a faixa dos US$ 40 bilhões em junho e julho, ficam na esfera dos
US$ 38 bilhões em agosto e setembro e dos US$ 36 bilhões no bimestre
seguinte, fechando o ano com US$ 37,8 bilhões.
[....] Em dezembro de 2002, portanto do ponto de vista das condições ne-
cessárias para honrar os compromissos externos, a situação estava equa-
cionada. Além disso, e este talvez seja um elemento ainda mais importante,
a balança comercial vinha apresentando resultados absolutamente surpre-
endentes, superando em cerca de 50% as previsões feitas pelo próprio go-
verno. Assim, do ponto de vista da performance futura das contas exter-
nas, em dezembro de 2002 as expectativas eram muito melhores do que
as existentes, por exemplo, um ano antes, quando se esperava um resul-
tado positivo nessa área, porém não na magnitude do efetivamente obtido.

Por outro lado avalia o alto impacto da depreciação câmbio no crescimento


econômico de 2002 (PAULANI,2008,p.24).
[....] com o acerto do câmbio, as contas do comércio exterior começavam
a caminhar na direção certa. É bem verdade que a redução no ritmo do
crescimento econômico em 2002 deu uma mãozinha para a obtenção de re-
sultados tão favoráveis, visto que reduziu o dispêndio previsto com as im-
portações. Porém, analisando os dados detalhadamente, percebe-se que o

5
Vítima do imperialismo norte americano e de uma elite agrária, pois nasceu miserável, passou fome conduziu
a sua trajetória de história política baseada na relação de exploração capital e trabalho, mas quando assumiu
com sonho de mudar o destino do Brasil e com um apoio massivo das urnas foi incapaz de modificar em face
que ao assumir o governo não era mais a relação de capital e trabalho que teria de enfrentar, e sim a mais
perversa a relação capital volátil aliada a herança maldita versus a vontade de reduzir a gigantesca dívida social.
47
resultado mais expressivo para a obtenção desses superávits vem mesmo
do lado das exportações.

Ressalta-se, ainda, a crítica feita no que concerne ao início da gestão


Lula com a utilização das políticas monetárias e fiscais restritivas para reverter o
problema da inflação e não comprometer a viabilidade da gestão, segundo
(PAULANI, 2008,p.25) “assim, a manutenção dos juros básicos em níveis reais
substancialmente elevados teria se imposto como necessidade, bem como a
elevação do compulsório dos bancos implementada em fevereiro”
Neste contexto, a alta elevação de preços que o país experimentava era
decorrente não da elevação de demanda e, sim do processo de turbulência eleitoral
a partir de junho de 2002, a qual fez o dólar atingir quase R$ 4,00 em setembro.
Portanto, segundo (PAULANI, 2008,p.25) “a utilização da política monetária
altamente contracionista em 2003 não fazia sentido pois o processo inflacionário não
estava fora de controle, refletindo no impacto no crescimento econômico, bem como
aumentou a dívida pública e comprometeu a geração de empregos”.
O processo de desestabilização econômica criada pela elite rentista nacional
e internacional forçou Lula lançar a Carta ao povo brasileiro e estabeleceu a garantia
da manutenção das diretrizes da política econômica (CARCANHOLO, 2010,p.113).
A sinalização dada pela Carta ao “povo brasileiro” não poderia ser mais cla-
ra : o governo Lula acatou o acordo, e tudo o que está implícito nele, co-
mo a manutenção do regime de metas inflacionárias, a política de megas-
superávits fiscais primários para pagar o crescente serviço da dívida públi-
ca, a manutenção do grau e da profundidade das reformas neoliberais reali-
zadas até então, assim como a implementação de novas reformas ainda in-
conclusas, como a da previdência, a trabalhista.

Segundo (CARCANHOLO, 2010, p.113) o governo Lula não só manteve


alusiva política macroeconômica baseada no tripé como aprofundou ainda mais a
vulnerabilidade externa do Brasil.
No que se refere à liberalização financeira, por exemplo, em março de 2005
foram aprovadas a unificação do mercado cambial (flutuante e livre), a ex-
tinção da Conta de Não-residentes (CC-5), o que facilita a remessa de lu-
cros para o exterior, e a dilatação dos prazos para a cobertura cambial das
exportações. A unificação do mercado cambial é uma das etapas defendi-
das pelo argumento da sequência ótima de abertura, conforme proposto pe-
lo Consenso de Washington. Segundo este, a unificação permitiria a não
discriminação entre exportadores e importadores. A extinção das contas
CC5, por sua vez, eliminou os limites para que as pessoas físicas e jurídi-
cas (inclusive residentes) convertessem reais em dólares, facilitando a sa-
ída de recursos, aprofundando a liberalização cambial. Já a dilatação dos
prazos para a cobertura cambial das exportações significou que os expor-
tadores puderam manter suas receitas em dólares (30% do total) no exte-
rior, apontando para o fim da obrigação de converter as receitas em dóla-
res para a moeda nacional, ao mesmo tempo em que lhes permite atuar no
48
mercado especulativo de câmbio no ínterim entre o recebimento dos dóla-
res e sua eventual transformação em reais.

A manutenção das políticas conservadoras monetária e fiscal de 2003 a


2006, sendo aquela baseada em alta taxa de juro real e esta na ampliação do
superávit primário através da gestão fiscal6 resultou na ampliação da dívida bruta do
Governo Central e Banco Central em % do PIB, entretanto se observou a redução
da dívida líquida em % do PIB.
A análise feita por (FILGUEIRAS ; GONÇALVES, 2007,p.36) avalia o
impacto do crescimento econômico mundial em relação à taxa de crescimento do
PIB do Brasil no período de 2003 a 2006 e ainda faz um contraponto com a taxa de
crescimento real da renda mundial de 1890 a 2006.
A taxa secular de crescimento real da renda mundial – taxa média do pe-
ríodo 1890 – 2006 – é de 3,2%, e no mesmo período a mediana das taxas
de crescimento anual é de 3,8%. Durante o governo Lula (2003-2006) a ta-
xa média de crescimento real da renda mundial foi de 4,9%. Portanto, na
esfera produtivo-real, a economia mundial tem tido, no período, 2003-2006,
um desempenho muito superior à sua média e mediana desde 1890. Ou
seja, o contexto internacional tem sido muito favorável: no periodo 2003 –
2006, a taxa de crescimento econômico real foi de 50% maior do que a
média histórica. Com a taxa secular, a economia mundial duplicava a renda
mundial em 22 anos, enquanto com a taxa media do período de 2003-2006
a duplicação ocorre em 14 anos.

A manutenção da política neoliberal consubstanciada no tripé geração de


superávits primários, metas de inflação e taxa de câmbio flutuante e aliado aos
limites estruturais do crescimento econômico (infra-estrutura precária, alta carga tri-
butária, gestão fiscal ineficiente), refletiu na perda da oportunidade para o Brasil de
aproveitar o cenário internacional para manter o crescimento sustentável em 4,0%.

VIII - O GOVERNO LULA - 2006 - 2010

6
A elevação da carga tributária do setor público, associada a um sistema tributário complexo e
intrincado, gera custos e desincentivos não apenas à atividade produtiva, mas ao consumo,
impactando negativamente o crescimento econômico. Aliada ainda a alta vinculação da receita a
despesa, a qual compromete uma gestão fiscal eficiente no que se refere a ampliação dos
investimentos.
49
O segundo governo Lula pode ser analisado como apenas pragmático no
sentido da manutenção da política neoliberal e tendo como foco exclusivo o controle
da inflação, a qual refletiu no incremento da vulnerabilidade macroeconômica
(crescimento econômico, inflação, finanças públicas e contas externas). No que
concerne à área financeira esta envolve a análise das seguintes variáveis : ingresso
líquido de capital externo; o descompasso (entre ativos e passivos correlatos) em
montantes, prazos e moedas ; a ampliação do volume de crédito em percentual do
PIB ; nível de endividamento externo ; valor líquido das reservas internacionais e
desalinhamento da taxa de câmbio.
A gestão fiscal do setor público consolidado ineficiente no que concerne à
manutenção da sustentabilidade da dívida agrava ainda mais a alusiva
vulnerabilidade macroeconômica. Entretanto, diferentemente do governo FHC, o
qual agravou a miséria e, portanto, a instabilidade social o segundo governo Lula
reduziu a miséria em face da política do incremento da valorização do salário
mínimo e do Programa da Bolsa Família. Ressalta-se que estes foram importantes
para a manutenção dos pífios resultados de crescimento econômico e os reflexos no
aumento da arrecadação do ICMS, entretanto contribuiu para a deterioração das
contas da Previdência da União.
A utilização da política monetária contracionista pelo Banco Central em
nome da credibilidade do mercado, apesar de ter reduzido significativamente as
taxas de juros reais impactou na taxa de crescimento da economia, e manteve a
sustentabilidade da pública bruta7 em percentual do PIB.
O crescimento econômico do Brasil ,no período de 2006 – 2010, apresentou
resultados pífios, sendo que evidenciamos um ponto de inflexão em 2008 em face
da crise econômica mundial, a qual forçou o governo a utilização da política de
estímulo de crédito, refletindo no incremento do PIB. Neste contexto, evidencia-se
um incremento do volume de crédito em percentual do PIB, bem como do crédito
imobiliário em % do PIB e estes tiveram impacto em relação crescimento real do
PIB. A título de comparação em 2008, 2009 e 2010 foi de 5,2%, -0,3%, 7,5%.
Entretanto, considerando os exercícios de 2009 e 2010 evidencia-se que o

7
O aumento da dívida pública foi reflexo do incremento do volume de recursos do Tesouro ao BNDES, Caixa
Econômica Feral e aliada a manutenção de uma taxa de juro real muito superior a taxa de crescimento da
economia exigindo a manutenção de um alto superávit primário em percentual do PIB para manter a
sustentabilidade da dívida pública.
50
crescimento do PIB foi de 3,6% conforme a projeção do PIB potencial para não
aumentar ainda mais o desequilíbrio da conta corrente e impactar no crescimento da
inflação.
A necessidade de aumentar o investimento em infraestrutura da União fez o
governo lançar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o período de
2007 a 2010 e segundo a análise de (FILGUEIRAS ; GONÇALVES,2007,p.199) o
impacto do PAC é pouco significativo.
Os dados indicam que os investimentos da União são relativamente baixos.
A taxa média anual de investimento da economia brasileira foi de
aproximadamente 16% no período 2003 – 2006. Essa taxa esteve
associada à taxa média anual de crescimento do PIB de 3,3%. Para que o
país possa atingir taxa de crescimento de longo prazo da ordem de 5%
como previsto no PAC, a taxa de investimento terá que subir para
patamares superiores a 20%. É pouco provável que o multiplicador de renda
gerado pelos investimentos da União, da ordem de 0,6% do PIB, seja
significativo.

Ressalta-se que os exercícios de simulação mostram que as taxas de


crescimento previstas no PAC só têm consistência macroeconômica se a taxa média
de investimento for de 24,6% no período 2007 – 2010 (LICHA ; SANTICHIO,
2007.p.4 apud FILGUEIRAS ; GONÇALVES,2007,p.199).
Assim, o reduzido impacto no PAC está correlacionado em face de não existir
mudanças significativas nos eixos estruturantes da política macroeconômica
(FILGUEIRAS ; GONÇALVES,2007,p.199).
Ou seja, o PAC supõe que a taxa média de investimento cresça 50%
entre 2003 – 2006 e 2007 – 2010. Esse crescimento é pouco provável
se considerarmos que não estão previstos mudanças significativas
nos eixos estruturantes da política macroeconômica. Como vimos no
capítulo 3, esses eixos são : metas de inflação e juros altos ; mega-
superávit fiscal primário ; câmbio flutuante e apreciação cambial e
liberalização externa.

A combinação da política fiscal baseada na geração de superávits primários


do setor púbico consolidado (via aumento da carga tributária), aliada a manutenção
de uma política monetária com taxa de juro real para atrair o capital especulativo
atraído pelo diferencial da taxa de juros para manter o financiamento do déficit de
conta corrente do Brasil não só produziu volatilidade no valor do dólar; deterioração
das finanças públicas via aumento do déficit nominal e incremento da dívida pública
e perda de competitividade da indústria.
A política monetária do Banco Central iniciou um ciclo de valorização do real
frente ao dólar e, portanto de 24/11/2008 a 30/12/2010 correspondeu a 29,11%.

51
Assim, a manutenção desta política monetária em face da necessidade de poupança
externa para financiar o investimento além de agravar a perda de competitividade da
indústria resultou no incremento das despesas de viagens internacionais e
principalmente a elevação do déficit comercial no segmento de produto
industrializado.
Neste contexto, assim como o Plano Real foi executado sem o alicerce fiscal
e foi mantido a ferro e fogo para que o FHC fosse reeleito o Lula em 2010 manteve a
alusiva política monetária para transmitir a ilusão aos brasileiros que estavam ricos
no que se refere a Paridade do Poder de Compra em dólar ,e, portanto contribuiu
favoravelmente para a eleição da presidente Dilma. Salienta-se, ainda, o efeito
tsunami de dólares e de euro, os quais contribuíram para a valorização do real em
relação as duas moedas em face da livre entrada de capital no alusivo período de
2009 e 2010.
Destarte, o governo Lula resultou em um agravamento da herança maldita
para o Governo Dilma no que se refere à deterioração das finanças públicas em face
do aumento da dívida pública, o incremento da vulnerabilidade externa no que se
refere não só ao déficit de conta corrente, bem como ao aumento do volume de
importação de produtos industrializados e o aumento da carga tributária do setor
público consolidado.

IX - OS LIMITES ESTRUTURAIS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO


DO GOVERNO DILMA
52
Neste tópico abordaremos a correlação entre as heranças malditas dos
governos FHC e Lula e os limites estruturais do crescimento econômico do governo
Dilma.
As heranças malditas do governo FHC e do presidente Lula aliada a
manutenção da crise econômica mundial e combinado aos modelos de esgotamento
do incremento da arrecadação tributária em percentual do PIB e do crédito em
percentual do PIB resultaram em um crescimento econômico abaixo do PIB
potencial8 de 3,5% a.a em 2011.
Assim, analisa que o crescimento do PIB do Brasil está de acordo com o PIB
potencial (SCHAWRTSMAN,20129).
O Brasil não tem condições de crescer mais que 3,5% ao ano sem gerar
inflação. A avaliação é do ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco
Central (BC) e sócio da Schwartsman & Associados, Alexandre
Schwartsman, que estima entre 3% e 3,5% ao ano o PIB potencial do país,
medida que aponta a capacidade da economia de se expandir sem produzir
pressões sobre os preços.

• A inserção externa e vulnerabilidade brasileira


A armadilha relacionada ao processo de abertura externa (comercial e
financeira), a qual caracterizou o projeto neoliberal na década de 90, resultou em
uma enorme dependência dos fluxos de capitais externos para o financiamento do
balanço de pagamentos exigindo do Banco Central do Brasil a manutenção de uma
alta taxa de juros real para atrair o capital. Além disso, não se evidenciou uma maior
fragilidade financeira das contas externas do Brasil em face da entrada da China
como nova força dinâmica do poder, pois resultou no aumento dos preços das
commodities ,e. portanto contribuiu para um maior crescimento econômico.
Por outro lado a privatização, a valorização do real e a competitividade da
economia chinesa promoveu o incremento da vulnerabilidade externa da economia
brasileira via incremento do volume de importação de manufaturados, no sentido de
reduzir a capacidade da mesma para resistir/combater os choques externos que
ocorram, dentro do contexto não só de fragilidade financeira como também
8
A existência de um teto de crescimento que a economia de um país tem, a cada momento na sua
história em face de seus limites estruturais.
9
SCHWARTSMAN,Alexandre. Jornal Valor Econômico, São Paulo, 31 de agosto de 2012
http://www.valor.com.br/brasil/2813352/pib-potencial-do-brasil-nao-passa-de-35-ao-ano-diz-
schwartsman acesso em 31 de agosto de 2012. Entrevista concedida a LORENZO, Francine De.

53
impactando no crescimento econômico e como dependência estrutural em relação a
China.
Assim, os efeitos do processo de abertura comercial refletiram no aumento
estrutural da necessidade de financiamento externo (CARCANHOLO, 2010,p.118).
A abertura comercial, de um lado, promove dois efeitos. O primeiro, em as-
sociação com uma conjuntural valorização cambial, é a construção de ele-
vados déficits comerciais que precisam ser financiados. O segundo, de
uma forma mais estrutural, promoveria uma espécie de processo de substi-
tuição de importações às avessas, isto é, o fato dos produtos importados fi-
carem mais baratos que os de produção nacional por um determinado tem-
po leva à quebra das empresas nacionais que produziam esses produtos.
[.....] Tanto um efeito como o outro mostram como a abertura comercial le-
va ao aumento estrutural da necessidade de financiamento externo, em
função do maior crescimento estrutural das importações.

Não se pode perder de vista outra importante avaliação no que se refere à


elevação da vulnerabilidade externa estrutural da economia brasileira
(CARCANHOLO, 2010,p.114)
A manutenção do grau de abertura comercial e, portanto, da reestruturação
produtiva que lhe é consequente, promoveram, ao longo do governo Lula, a
elevação da dependência do mercado externo como centro dinâmico da
economia brasileira (exportações como forma de escoamento da
produção, isto é, realização do valor produzido e importações como a
única maneira de garantir boa parte dos suprimentos e bens de capital
necessários para a produção interna.

O Gráfico 3 mostra os efeitos da entrada na elevação das exportações dos


produtos básicos em face que em 1998 era de US$ 12,9 bilhões e passou para
US$ 113,5 bilhões em 2012 em função da melhora dos termos de troca das
commodities. O segmento de produto industrializado em 1998 correspondia a
US$ 37,6 bilhões e passou para US$ 123,7 bilhões em 2012. Assim, o total das
exportações era de US$ 50,5 bilhões em 1998 e passou para US$ 237,2 bilhões em
2012. Salienta-se que conforme será evidenciado no tópico desindustrialização o
déficit comercial foi incrementado significativamente na indústria de média e alta
complexidade tecnológica.

Gráfico 3 – Exportação por fator agregado do Brasil – 1998 a 2012 (US$ Bilhões)

54
140.000

120.000

100.000

80.000
Produtos básicos
60.000 Industrilaizados

40.000

20.000

-
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Fonte : SECEX
Nota : O total do segmento industrializado é a soma dos produtos manufaturados e semi-
manufaturados.

O Gráfico 4 mostra os efeitos da política neoliberal baseada na privatização


e da política macroeconômica. A título de comparação em 1998 o total das
importações no segmento dos produtos industrializados foi de US$ 50,4 bilhões e
aumentou para US$ 193,9 bilhões em 2012. Assim, o total das importações no
tocante ao segmento de produtos básicos e industrializados era de US$ 57,7 bilhões
em 1998 e passou para US$ 223,2 bilhões em 2012. A representatividade dos
produtos industrializados em relação ao total das importações era de 87,32% em
1998 e reduziu para 86,88% em 2012, ou seja, demonstra a rigidez no volume de
importações, refletindo nos resultados pífios do crescimento econômico
principalmente de 2013.
Gráfico 4 - Importação por fator agregado do Brasil – 1998 a 2012 (US$ Bilhões)

250.000

200.000

150.000
Produtos básicos

100.000 Industrilaizados

50.000

-
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Fonte : SECEX
Nota : O total do segmento industrializado é a soma dos produtos manufaturados e semi-
manufaturados.
Os resultados da balança comercial do Brasil demonstram a dependência
estrutural em relação à China em face que de um déficit comercial de US$ 6,6
55
bilhões em 1998 passou para um superávit US$ 14 bilhões em 2012. Entretanto em
relação a este se evidencia um ponto de inflexão em 2006, pois a partir deste
período o superávit comercial vem sendo reduzido sistematicamente em função da
perda da competitividade da indústria brasileira em face da combinação da
valorização do real em relação ao dólar aliada ao custo Brasil (corrupção
administrativa pública elevada ; déficit público elevado ; manutenção de taxas de
juros reais elevadas; carga tributária alta ; altos custos trabalhistas ; legislação fiscal
complexa e ineficiente ; infraestrutura precária (sistema de portos, aeroportos,
estradas e ferrovias e baixa qualidade educacional e falta de mão de obra
qualificada), os quais refletem na perda de competitividade , principalmente a partir
de 2008 com as medidas de afrouxamento quantitativo correlacionada ao diferencial
da taxa de juros no Brasil em relação ao resto do mundo principalmente em face da
livre entrada de capital.
Gráfico 5 – Resultado da Balança Comercial do Brasil – 1998 a 2012 (US$ Bilhões)

300.000

250.000

200.000

150.000 Exportações
Importações
100.000 Déficit Comercial

50.000

-
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
(50.000)

Fonte : SECEX

Assim, pode se perceber o efeito da abertura comercial pós 1994 aliada a


política macroeconômica conduzida no governo Lula resultou em uma maior neces-
sidade de financiamento externo em função do maior crescimento das importações e
que sem a dinâmica do crescimento do PIB da China teria agravado o desequilíbrio
estrutural das contas externas.
Em 1998, o Brasil exportou para China o montante de US$ 16,5 bilhões e
passou para US$ 41,2 bilhões em 2012.
Outro ponto avaliado é a magnitude da vulnerabilidade da economia brasileira
pela avaliação feita no que tange a abertura financeira (CARCANHOLO,
2010,p.118).
56
Por outro lado, a abertura financeira promoveu o crescimento dos emprés-
timos diretos (para o setor privado e público) e a entrada de capital externo.
Se, do ponto de vista do curto prazo, isto pode ser positivo, pois financia as
contas negativas das transações correntes, implica a elevação do passivo
externo líquido e, portanto, o crescimento do serviço desse passivo em mo-
mentos posteriores, o que significa também o aumento da necessidade
do financiamento externo para o futuro.

Neste contexto, correlaciona a restrição externa estrutural para o


crescimento como sendo a primeira armadilha que a inserção externa passiva
produz (CARCANHOLO, 2010,p.119).
A vulnerabilidade externa, representada no caráter estrutural do crescimen-
to da necessidade do financiamento externo, coloca a obrigatoriedade de
uma taxa de juros interna muito maior do que as internacionais como forma
de garantir o fluxo de capitais que possibilitem o fechamento das contas.
Este piso para a taxa de juros interna é um limite estrutural para o cresci-
mento da economia.

Destarte, (CARCANHOLO, 2010,p.119) avalia o incremento do déficit em


transações correntes como a segunda armadilha financeira das contas externas.
O crescimento do déficit em transações correntes, colocado estruturalmen-
te pelo processo de abertura externa, leva ao aumento do passivo externo
em virtude da maior entrada de recursos para financiar aquele déficit. En-
tretanto, isso implica o maior pagamento do serviço deste passivo, o que
volta a elevar o déficit da balança de serviços, gerando um círculo vicioso
de endividamento externo.

A terceira armadilha analisada é a necessidade das altas taxas de juros para


o financiamento do déficit das contas externas (CARCANHOLO,2010,p.119).
Por outro lado, as altas taxas de juros, necessárias para o fechamento das
contas externas, implicam o aumento do serviço da dívida pública, que ne-
cessita ser refinanciado.Esse refinanciamento foi – e continua sendo – reali-
zado, em maiores proporções, via novo endividamento, ou seja, por inter-
médio de lançamento de novos papéis da dívida pública. A conclusão é que
se produz uma armadilha fiscal, definida pelo aumento tanto do estoque da
dívida pública como do seu serviço.

Por fim, a quarta armadilha no que se refere ao processo de stop and go, a
qual caracteriza a economia brasileira a partir dos anos 90, refletindo nas oscilações
conjunturais da atividade econômica (CARCANHOLO,2010,p.119).
Se, por alguma eventualidade, esse nível de atividade crescesse, isso impli-
caria um aumento da renda que, por sua vez, levaria à elevação da
demanda por importações e, portanto, do déficit das transações correntes. A
necessidade de financiar este déficit com capital externo obriga o aumento
das taxas internas de juros, o que aborta aquele ensaio inicial de
crescimento econômico.

O Gráfico 6 evidencia o problema estrutural da economia brasileira de 1994 a


2002 e evidenciamos que os resultados muitos desfavoráveis na balança comercial

57
resultou em um déficit de transações correntes de US$ 188 bilhões. A conta de
transações correntes é a soma da balança comercial e da balança de serviços e
rendas, e esta foi desfavorável e de dimensão muito grande (US$ 208,9 bilhões),
sendo que a conta de renda de investimentos contribuiu significativamente para este
resultado com o montante de US$ 139,5 bilhões. Além disso, o déficit de transações
correntes foi financiado por investimentos diretos no montante de US$ 156,2 bilhões.

Gráfico 6 – Brasil Saldo de Transações Correntes, Saldo da Balança Comercial e Investimentos


Diretos Estrangeiro - 1994 a 2002 (US$ bilhões)

40 .0 0 0
30 .0 0 0
20 .0 0 0
10 .0 0 0
0
19 9 4 1995 1996 1 99 7 19 9 8 1999 2000 2 0 01 2 00 2
-10 .0 0 0
-20 .0 0 0
-30 .0 0 0
-40 .0 0 0

Transaçõe s Corre nte s Balança c ome rc ial (FO B)


Se rviço e Re ndas Inve stime nto Dire to

Fonte : Banco Central do Brasil

Realizando uma análise do período de 2003 a 2012 evidencia-se um déficit


de transações correntes de US$ 161,4 bilhões, sendo que o superávit na balança
comercial foi de US$ 309,1 bilhões e um déficit de serviços e rendas de US$ 504,9
bilhões, e, portanto o alusivo déficit de transações correntes do período foi
financiado por investimentos diretos de US$ 282,3 bilhões (Gráfico 7). Realizando
uma análise desagregada em dois períodos, sendo o primeiro considerado de 2003
a 2007 o superávit de transações correntes foi de US$ 45 bilhões, sendo que um
superávit da balança comercial de US$ 189,6 bilhões e um déficit no serviço de
rendas de US$ 162,6 bilhões e os investimentos diretos estrangeiros correspon-
deram a US$ 48,9 bilhões.
Considerando os efeitos da crise mundial ,no período de 2008 a 2012, o
déficit da conta corrente foi de US$ 206,6 bilhões, sendo que o saldo da balança
comercial foi de US$ 119,5 bilhões e o serviço de rendas de US$ 342,3 bilhões,e,
portanto o déficit da conta corrente foi financiado por investimentos diretos no
58
montante de US$ 233,3 bilhões. Assim, correlacionando o período de 2003 – 2007 a
2007 a 2011 evidencia-se que o alusivo déficit estrutural de transações correntes foi
reflexo da armadilha do incremento do serviço de rendas que aumentou 110,5% de
2008 - 2012 em relação a 2003 - 2007. Fazendo uma comparação entre 2003 a
2012 em relação a 1994 – 2002, evidencia-se que o déficit de transações correntes
teve um crescimento de 16,4%, entretanto o serviço de rendas teve um crescimento
de 241,5% e o investimento direto de 80,8% , ou seja, o modelo de política
neoliberal além de impactar nos resultados do crescimento econômico de 1994 a
2012 aumentou em muito a vulnerabilidade macroeconômica, e portanto em um
cenário de baixo crescimento das exportações de commodities impactará no
financiamento do déficit de conta corrente.
Gráfico 7 – Brasil Saldo de Transações Correntes, Saldo da Balança Comercial, Saldo do Serviço e
Rendas e Investimentos Diretos Estrangeiro - 2003 a 2012 (US$ bilhões)

150.000
100.000
50.000
-
-50.000
-100.000
-150.000
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Conta Capital e Financeira 5.111 -7.523 -9.464 16.299 89.086 29.352 71.301 99.912 112.380 72.762
Investimento Direto 9.894 8.339 12.550 -9.380 27.518 24.601 36.033 36.919 67.689 68.093
Serviço e Rendas -23.483 -25.198 -34.276 -37.120 -42.510 -57.252 -52.930 -70.322 -85.251 -76.523
Balança comercial (FOB) 24.794 33.641 44.703 46.457 40.032 24.836 25.290 20.147 29.794 19.431
Transações Correntes 4.177 11.679 13.985 13.643 1.551 -28.192 -24.302 -47.273 -52.473 -54.246

Fonte : Banco Central do Brasil

O aumento do superávit da balança comercial foi possível em face dos


melhores preços das commodities com a dinâmica do crescimento da China de 2006
a 2011, refletindo na política de aquisição de reservas estrangeiras para evitar a
apreciação ainda maior do real de 2009 a 2011, resultou em uma perda de custo de
oportunidade no que se refere à restrição ao aumento do bem estar da sociedade
(sacrifício ao consumo presente).
Observa-se que a taxa de câmbio nominal apresenta tendência de depre-
ciação partindo da menor taxa em 1995 (R$ 0,9176), para as taxas mais elevadas
em 2004 (R$ 3,0783). A partir de 2004, nota-se uma tendência de apreciação da
moeda nacional em face da política monetária do Bacen, e este passa atuar
59
comprando divisas, incrementando as reservas internacionais, resultando no
financiamento da dívida dos Estados Unidos.
A evolução das reservas internacionais, mostrada no Gráfico 8, apresentou
viés levemente positivo de 2000 a 2005. O dinamismo do preço das commodities
refletiu em um maior volume de estoque de reservas internacionais. A título de
comparação era de US$ 53,8 bilhões em 2005 e passou para US$ 373,2 bilhões em
2012.
Gráfico 8 – Reservas Internacionais do Brasil - 1995 a 2011 – US$ bilhões

4 0 0 .0 0 0

3 5 0 .0 0 0

3 0 0 .0 0 0

2 5 0 .0 0 0

2 0 0 .0 0 0

1 5 0 .0 0 0

1 0 0 .0 0 0

5 0 .0 0 0

Fonte : Banco Central do Brasil

O Gráfico 9 e o Gráfico 10 demonstram que a forte valorização nas cotações


das commodities teve início no ano 2000 em face da entrada da China e seu
impacto no incremento da demanda mundial aliada a desvalorização do dólar frente
a maioria das moedas resultou em uma alta nos preços internacionais do petróleo,
minérios, ouro e principalmente dos produtos agropecuários. Com a crise mundial
praticamente todos os países tiveram suas moedas valorizadas frente ao dólar
norte-americano, em uma tentativa extrema do Governo estadunidense em
reaquecer sua economia através da desvalorização cambial via o instrumento
empregado pelo Fed no tocante ao quantitative easing 10 no sentido de manter o
nível de produção aquecido via aumento das exportações em face de os efeitos da
crise imobiliária - que foi reflexo de sérios problemas para as companhias ligadas à
construção civil e as instituições de crédito e que se aprofundavam ao longo do
período de 2007 a 2011.
10
caracterizava pela compra de ativos de menor liquidez e maior risco de crédito com o objetivo de
retirar os ativos “podres” dos balanços dos bancos.
60
Aliada aos problemas nos Estados Unidos, a mudança verificada na
estrutura produtiva do mundo, a qual teve a China como principal artífice,
determinou um crescimento exponencial na demanda de diversos produtos,
pressionando os preços no mercado internacional. Para manter o nível de
crescimento acima de 10% ao ano, ao longo de praticamente uma década, o país
consumiu aço para a construção civil a produtos agrícolas destinados à alimentação
humana e animal. Além da China, com seus mais de 1,3 bilhão de habitantes, o
mundo também verificou o crescimento econômico de diversos países considerados
periféricos economicamente (Gráfico 9). Entre eles destacaram-se a Índia, país
populoso e pólo da terceirização de serviços, e a Rússia, maior produtora mundial
de petróleo e responsável pela manutenção da energia na Europa. Fiz até aqui
Gráfico 9 : Variação (%) do PIB entre 2001 e 2006: China, Índia, Rússia e mundo

Gráfico 10 - Preços Médios de Exportação – US$ / TON

61
PRODUTOS PREÇOS MÉDIOS DE EXPORTAÇÃO – US$ / TON
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Café cru 1.613 964 770 951 1.240 1.861 1.984 2.270 2.637 2.294 2.893 4.466
Soja grão 190 177 190 216 280 238 227 283 447 400 380 495
Farelo Soja 176 183 176 191 226 199 196 237 355 375 345 397
Fumo folha 2.380 2.116 2.103 2.258 2.383 2.693 2.993 3.160 3.958 4.521 5.490 53.895
Açúcar brut 175 198 146 162 158 206 307 251 268 333 444 573
Açúcar ref. 203 215 172 173 182 234 368 285 313 376 489 652
Suco laranj 832 666 867 750 668 625 829 1.090 972 783 897 1.184
Carne frang 889 1.034 834 889 1.029 1.203 1.130 1.402 1.781 1.475 1.673 1.979
Carne bov 2.668 2.006 1.804 1.862 2.122 2.228 2.558 2.711 3.917 3.264 4.059 5.083
Carne suín 1.403 1.400 1.045 1.150 1.580 1.938 2.045 2.104 2.918 2.102 2.645 2.949
Celulose 532 374 337 382 345 367 397 458 542 385 540 561
Couros 3.891 4.180 4.162 4.157 4.080 4.266 4.600 5.647 6.474 3.766 5.074 5.851
Minério 19 19 18 20 22 33 37 39 59 50 93 126
Alumínio 1.536 1.446 1.322 1.376 1.633 1.816 2.435 2.608 2.590 1.561 2.113 2.395
Petróleo 164 126 139 168 210 291 359 405 606 342 495 691
Fonte : AEB

As quatro armadilhas analisadas produzidas pela estratégia neoliberal de


desenvolvimento no processo de abertura externa não só refletiram o quadro
medíocre do desempenho da economia brasileira até 2002, bem como continuaram
sendo fatores estruturais para os resultados pífios do PIB de 2002 a 2012 ,e, logo o
processo de globalização aliada a política macroeconômica pós FHC caracterizou
um processo de dominação do Estado brasileiro caracterizando uma dependência
no que se refere à interconexão produtiva global e pela alta mobilidade do capital
especulativo, os quais não só interferem no lado real da economia, mas
principalmente obtendo altos retornos dos investimentos em termos de royalties e do
volume de importação.
Assim, a mobilidade internacional dos capitais especulativos resultou na
vulnerabilidade da economia brasileira impactando em uma nova dependência, a
qual se justapõe à antiga no que tange ao governo brasileiro ter perdido a
capacidade de governabilidade para ajustar as regras de câmbio, juros e de
monitoramento da economia as demandas do mercado especulativo.
Ressalta-se ,ainda, que esta dependência não foi ainda mais agravada em
face da nova dependência estrutural da economia brasileira em relação à China e a
sua força como locomotiva mundial, pois foi capaz de possibilitar ao Brasil ampliação
considerável de suas exportações de commodities de 2007 a 2012. Mas em face
dos problemas relacionados ao agravamento da crise mundial aliada a necessidade
da China em reduzir a estratégia de crescimento econômico em 2013 reflete na
redução das exportações brasileiras e ,principalmente, o preço das commodities
diminuindo sensivelmente a previsão de superávit da balança comercial e o que

62
poderá agravar o financiamento do déficit de conta corrente não só em 2013 como
os exercícios posteriores.

• A sustentabilidade da dívida líquida e o risco do incremento da dívida bruta em


percentual do PIB

A dinâmica da dívida pública é uma dos principais indicadores das condições


de solvência fiscal e é analisada levando em consideração o estoque inicial de
dívida e a sustentabilidade intertemporal do setor público, sendo esta expressa pela
relação dívida/PIB, a qual esta é o reflexo da função da taxa de juros real, do
crescimento real do produto e do superávit primário.
A questão da sustentabilidade intertemporal no Brasil enseja sete questões
fundamentais para a gestão da política fiscal: a) dadas as condições
macroeconômicas, o estoque e a composição inicial da dívida, b) qual é o superávit
primário mínimo requerido para assegurar sua sustentabilidade? c) o superávit
primário requerido é compatível com as condições objetivas para gestão da política
fiscal, notadamente no que diz respeito à estrutura das receitas e despesas públicas
d) a presença forte e decisiva do Estado como ente planejador e produtor e) o
arcabouço institucional para definição e execução da política fiscal? f) os efeitos da
política monetária do Banco Central no que tange aos efeitos da elevação da dívida
bruta g) o estoque inicial da dívida reflete adequadamente as obrigações efetivas do
setor público ou existem passivos contingentes e dívidas não registradas que
poderão alterar a trajetória de endividamento associada ao estoque de dívida
conhecido?
O objetivo deste tópico é o de avaliar as condições de sustentabilidade da
dívida pública brasileira a partir destas condicionantes e principalmente a partir da
evolução da dívida bruta com os financiamentos do Tesouro ao BNDES.
Com a privatização o Estado deixou de ter uma presença forte e decisiva
como ente planejador e produtor, e, portanto poderia ter sido reduzida a necessida-
de da relação superávit primário/PIB , ou seja, estratégia adotada pela China para
que o excesso de volume de reservas financeiras em dólares não gerasse inflação
ainda maior optou pela estratégia de crescimento econômico (ver tópico A dinâmica
mundial de 1970 a 2012).
Além disso, conforme já foi analisado o superávit primário foi obtido após
2000 via elevação da carga tributária em face do arcabouço constitucional brasileiro,
63
o qual estimula os gastos contribuindo ainda mais para reduzir a dinâmica do
crescimento aliada a uma política monetária, a qual retroalimentou a dívida bruta.
Por outro lado, os reflexos da crise mundial e a estratégia reativa do governo
Lula a partir de 2009 de retomar o crescimento via empréstimos do Tesouro ao
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico resultou no incremento da relação
dívida bruta/ PIB perdendo efeito a análise da relação Dívida Líquida / PIB.
A expansão significativa das emissões de títulos públicos para fins de
capitalização dos bancos públicos em 2009 e 2010 tem suscitado um debate sobre a
validade da análise da sustentabilidade da dívida pública bruta, em face do
diferencial da taxa de juros o que é recebido através do BNDES e o custo da
remuneração da dívida pública. Ressalta-se que a dívida pública bruta como
proporção do PIB é elevada, refletindo no elevado prêmio de risco sobre os títulos
da dívida, entretanto em face do alto volume de reservas internacionais a dívida
líquida do setor público mantém uma trajetória de risco.
Neste contexto, (GOBETTI ; SCHETTINI, 2010,p.7) avalia que a relação
existente entre a diminuição da dívida líquida do setor público brasileiro e o
incremento da dívida bruta.
Em particular, nota-se que a dívida líquida do setor público brasileiro caiu
sensivelmente nos últimos anos apesar de os passivos (ou a dívida bruta)
terem crescido – situação esta explicada pelo aumento concomitante que
houve nos ativos. Nessas circunstâncias, qual dos dois indicadores seria
mais adequado para analisar a sustentabilidade fiscal: a dívida líquida ou
a dívida bruta?

É de fundamental importância analisar o conceito de dívida líquida do setor


público (DLSP)11 e a correlação da estabilização do endividamento com crescimento
de passivos e ativos simultaneamente em face da expansão da dívida bruta
(GOBETTI ; SCHETTINI, 2010,p.7) .
[....] é importante observar que a expansão do estoque de títulos públicos
em proporção do produto interno bruto (PIB) não se explica apenas, nem
principalmente, pelos empréstimos da Secretaria do Tesouro Nacional
(STN) ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e às demais estatais, como enfatizado em algumas análises re-
centes na imprensa. As emissões de títulos são largamente utilizadas pelo
Bacen com a finalidade de enxugar a liquidez da economia e controlar
a base monetária, bem como adquirir reservas internacionais – o que se
tornou particularmente relevante na conjuntura recente.

11
DLSP corresponde à diferença entre passivos e ativos acumulados pelas três esferas do governo,
incluindo o Bacen, e pelas empresas estatais
64
Destarte, a análise da inter-relação entre o incremento das reservas
internacionais e o aumento simultâneo de um passivo e um ativo para o setor
público (GOBETTI ; SCHETTINI, 2010, p.7).
Da mesma forma que as emissões do Tesouro Nacional (TN) destinadas a
captar recursos para emprestar ao BNDES, as operações compromissadas
do Bacen que lastreiam a compra de dólares para as reservas também ge-
ram simultaneamente um passivo e um ativo para o setor público. Entre de-
zembro de 2001 e junho de 2010, os créditos com as instituições financei-
ras oficiais cresceram de 0,3% para 6,8% do PIB, enquanto os créditos ex-
ternos vinculados às reservas internacionais cresceram de 4,5% para
13,1% do PIB.

Para se compreender a importância da análise dos passivos para o


incremento da dívida bruta interna em percentual do PIB (GOBETTI ; SCHETTINI,
2010,p.8)
Se olharmos para os passivos, também verificaremos que tanto as opera-
ções compromissadas do Bacen quanto a dívida mobiliária do Tesouro
cresceram significativamente no período, fazendo a dívida bruta interna
do governo geral passar de 46,7% para 55,4% do PIB. Já a dívida
externa foi reduzida de 13,4% para 3,3% do PIB.

O resultado na ampla mudança na estrutura de ativos e passivos do governo


de 2002 a 2009 foi reflexo do impacto da política fiscal sobre o endividamento
(GOBETTI ; SCHETTINI, 2010, p. 8)
[...] a uma ampla mudança na estrutura de ativos e passivos do governo
e, simultaneamente, a uma redução 10 pontos percentuais (p.p.) do PIB na
dívida líquida ao longo de um período marcado por duas crises financeiras –
2002-2003 e 2008-2009. Em termos estáticos, não há qualquer diferença
para o endividamento líquido se os passivos e ativos se expandem simultâ-
neamente e não há dúvida de que o conceito líquido, no contexto de tão a-
centuada reestruturação patrimonial, serve melhor para analisar o impacto
da política fiscal sobre o endividamento.

A trajetória do incremento do endividamento bruto em percentual do PIB foi


reflexo das armadilhas salientadas por Carcanholo (2010) aliada ao efeito do poder
econômico da China, pois resultou nos ganhos dos termos de troca das commoditi-
es, e, portanto para impedir a valorização ainda maior do real frente ao dólar o
Banco Central aumentou as reservas internacionais (ativos), gerando a necessidade
de expansão de vendas de títulos (passivos).
O aumento do preço das commodites resultou em uma pressão inflacionária,
a qual determinou ao Banco Central do Brasil a adoção de uma política monetária
com viés restritivo, refletindo na apreciação cambial sendo estes os mecanismos
utilizados para lograr o cumprimento das metas de inflação gerando distorções

65
macroeconômicas (deterioração das transações correntes e agravando os
problemas fiscais).
A trajetória de incremento do endividamento da dívida bruta foi resultado do
impacto do diferencial de juros sobre a estrutura de ativos e passivos e das políticas
monetária, cambial e fiscal (GOBETTI ; SCHETTINI, 2010, p.8).
Observado o significativo diferencial de juros entre nossa dívida mobiliária,
por mobiliária, por um lado, e nossos créditos externos e internos, por outro,
toda política (cambial, monetária ou creditícia) que implique ampliação si-
multânea de passivos e ativos possui um custo em médio e longo prazo,
embora estatisticamente não altere o endividamento líquido.

Outra avaliação feita por (CARCANHOLO, 2010,p.114) agravou ainda mais a


trajetória da dinâmica da dívida interna em percentual do PIB.
Em fevereiro de 2006, o governo ainda sancionou uma medida provisória
(MP 281) que concedia incentivos fiscais aos investidores estrangeiros pa-
ra a aquisição de títulos da dívida pública interna. Sob o pretexto de melho-
rar a rolagem da dívida pública interna, essa medida acabou por aprofun-
dar a conexão entre a dinâmica da entrada de recursos externos e a do
crescimento da dívida pública.

A evolução da dinâmica da dívida interna tem um outro ponto de vista e que


as análises realizadas por (GOBETTI ; SCHETTINI, 2010, p. 9) são de vital impor-
tância no que se refere a estimar e comparar os custos fiscais associados às
políticas macroeconômicas em função da composição patrimonial e dos diferenciais
de juros.
Por exemplo, a acumulação de 1,5% do PIB em reservas internacionais ao
ano (a.a.) equivale aproximadamente, em termos de trajetória de longo pra-
zo do endividamento – 20 anos –, a uma redução do superávit primário de
de 0,5 p.p. do PIB. Da mesma forma, a esterilização de 30% do superávit
primário para fins de política monetária –enxugamento da base monetária –
custa, também em termos de trajetória de endividamento, cerca de 1% do
PIB de esforço fiscal adicional.

A atual composição de ativos e passivos aliada as atuais taxas de juros e as


políticas monetárias, cambial e creditícia resultariam em uma trajetória de
insustentabilidade da dívida pública ou uma mudança no que tange um ajuste fiscal
adicional no horizonte nos próximos 20 anos (GOBETTI ; SCHETTINI, 2010, p.9).
Dada a atual composição de ativos e passivos, as atuais taxas de juros e
as políticas monetária, cambial e creditícia, a análise comparativa de cenári-
os indica que a taxa implícita da dívida líquida do setor público tende a au-
mentar significativamente nos próximos 20 anos, implicando ou uma trajetó-
ria insustentável para a dívida ou um ajuste fiscal adicional no horizonte. Em
outras palavras, a manutenção da atual política de aquisição de reservas
internacionais e a ampliação do crédito subsidiado só se mantêm no longo
prazo sem sacrifícios fiscais adicionais se construírem condições econômi-
cas e institucionais para uma queda acentuada da taxa básica de juros, Sis-
tema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), e para as demais taxas
66
que remuneram os títulos da dívida pública.

O risco da avaliação das diferentes metodologias de cálculo da Dívida Bruta


do Governo Geral (DBGG) apesar de violar a convenção internacional é importante
como ajuste metodológico no sentido de permitir as comparações temporais da
dívida bruta no próprio Brasil, uma vez que até 2000, com o advento da LRF12, o
próprio Bacen era responsável por emitir os títulos utilizados na administração da
base monetária (GOBETTI ; SCHETTINI, 2010, p.11).
Existem atualmente duas séries de dívida bruta do governo geral (DBGG)
divulgadas pelo Banco Central do Brasil, seguindo duas diferentes método-
logias. A primeira e mais antiga segue exatamente os padrões internaciona-
is, de modo a considerar na DBGG todos os títulos emitidos pelo Tesouro,
inclusive aqueles que ficam parados na carteira do Bacen, sem ser utiliza-
dos na administração da política monetária. A segunda e mais recente,
introduzida em 2008, considera no cálculo apenas os títulos do Tesouro que
efetivamente lastreiam operações compromissadas.

Destarte, o incremento do endividamento bruto após 2002 em uma


perspectiva econômica e não contábil formal (GOBETTI ; SCHETTINI, 2010, p.11).
Embora tal procedimento seja correto conceitualmente e metodologicamen-
te, no contexto da mudança institucional-estrutural proporcionada pela LRF
ele induz interpretações equivocadas sobre o aumento do endividamento
bruto verificado a partir de então. Dito de outra forma, em uma perspectiva
econômica e não contábil formal, a migração dos títulos utilizados para a
política monetária da carteira do Bacen para a do TN não pode ser vista
como aumento do endividamento público, embora a DBGG pela velha meto-
dologia mostre isso.
Além disso, nem toda a carteira do TN no Bacen é utilizada para operaçõ-
es compromissadas e, dessa forma, não tem sentido ser tratada como dívi-
da, embora formalmente gere custo para o Tesouro na forma de remunera-
ção ao banco que, ao fim do exercício, é revertida de volta à conta única
do próprio Tesouro por determinação da LRF.
Ou seja, o custo inicial dos títulos parados na carteira do Bacen é anulado
pela posterior transferência que o Tesouro recebe, tendo efeito nulo sobre
o endividamento líquido.

A nova metodologia de cálculo DBGG é a mais adequada para mensurar o


efetivo endividamento do governo geral (GOBETTI ; SCHETTINI, 2010, p.12).
Dessa forma, a nova metodologia de cálculo da DBGG parece mais ade-
quada para mensurar o efetivo endividamento do governo geral, mesmo que
ele também incorpore o componente relacionado à política monetária – an-
tes computado na conta do Bacen. O problema é que o ajuste metodoló-
gico feito pelo banco retroagiu a dezembro de 2006 apenas, ou seja, sem

12
A LRF cassou o direito de o Bacen emitir títulos públicos, estipulando prazo de transição de dois
anos – a partir de maio de 2000 – para que a nova sistemática de financiamento da política
monetária fosse gradualmente implementada. Quando os títulos do Bacen começaram a ser
resgatados e o próprio Tesouro passou a emitir títulos e transferi-los para a autoridade monetária
utilizá-los em operações compromissadas (OC), então os novos títulos passaram a integrar a DBGG
– enquanto os antigos títulos não.

67
abranger o período crítico de transição da carteira deste para o Tesouro,
impossibilitando, portanto, comparações temporais.

Destarte, (GOBETTI ; SCHETTINI, 2010, p.17) analisaram que a dívida


líquida do setor público caiu não porque os passivos foram reduzidos, e sim pela
evolução dos ativos.
Os dados mostram, em primeiro lugar, que – apesar da trajetória de queda
da dívida líquida – tanto a DBGG (pela nova metodologia) quanto o total de
passivos do setor público se encontram atualmente em patamares pratica-
mente idênticos aos de 2001, no início da série – 59% e 71% do PIB, res-
pectivamente. Ou seja, a dívida líquida tem caído não porque os passivos
têm sido reduzidos, mas porque os ativos estão se ampliando, como deta-
lharemos a seguir. É interessante notar que, entre 2003 e 2004, a dívida
bruta chegou a cair sensivelmente, estabilizando-se em seguida em torno
de 55% e 56% do PIB até 2009, quando retorna ao patamar de 61%.
O que mais chama atenção, entretanto, não é nem a estabilidade dos pas-
sivos frente à queda da dívida líquida, mas a magnitude do crescimento
das dívidas mobiliárias do Tesouro e do Banco Central do Brasil, compen-
sado pela redução de outros passivos do setor público. A dívida interna do
governo geral, formada principalmente pelos títulos emitidos pelo TN e pe-
lo Bacen, cresceu de 46,72% do PIB em 2001 para 57,99% em 2009, en-
quanto a dívida externa caiu de 13,40% para 3,47%”.

Tabela 2 – DBGG e demais passivos do setor público – 2001 - 2010


(Em % do PIB valorizado pelo IPCA)

Fonte : Elaboração Sérgio Wulf Gobetti e Bernardo Patta Schettinni com base em dados do Bacen
Nota : Posição em junho

Em suma, foi o reflexo de diversos fatores, os quais resultaram no aumento


trajetória da dívida bruta apesar da obtenção dos altos superávits fiscais primários
realizados pelo setor público (GOBETTI ; SCHETTINI, 2010, p.19).

O primeiro e mais importante fator foi a decisão do governo de acumular

68
significativos montantes de reservas internacionais, tanto para criar um
colchão de proteção diante das crises cambiais quanto, mais recentemente,
para tentar conter a volatilidade e a apreciação do real diante do dólar. A
acumulação de ativos externos exigiu a emissão adicional de títulos
públicos para que o Bacen utilizasse em operações compromissadas. O
segundo fator, mais recente, tem a ver com a política governamental de
indução do crescimento por meio da expansão do crédito público e do
investimento das empresas estatais, materializada em operações de
capitalização financiadas por emissões do Tesouro. Por fim, é preciso
elencar um terceiro fator que restringe a possibilidade de reduzir o esto-
que de títulos públicos em mercado e que está relacionado à operaciona-
lização da política monetária e ao relacionamento entre Tesouro e Bacen.

A evolução da dinâmica da dívida bruta em face do incremento dos ativos


internos e externos do setor público de 2010 em relação a 2001 (GOBETTI ;
SCHETTINI, 2010, p.20).
Os ativos do setor público, principalmente do governo geral e do Bacen,
cresceram significativamente nos últimos anos, tanto pelo componente ex-
terno quanto interno. Do lado externo, a expansão dos ativos é explicada
pela aquisição de reservas internacionais, que cresceram de 4,81% do PIB
em 2001 para 12,55% em 2010 e tiveram como contrapartida a expansão
da dívida mobiliária interna”.
[...] Do lado interno, a expansão dos ativos é menos expressiva no soma-
tório total (de 13,21% para 16,59% do PIB), mas há uma mudança de port-
fólio, com redução dos créditos do governo e do Bacen remunerados pe-
la taxa Selic e aumento significativo dos créditos corrigidos por taxas meno-
como os acumulados frente às instituições financeiras oficiais, notadamen-
te o BNDES (de 0,31% para 6,64% do PIB).
Tanto em um caso quanto no outro, há um custo fiscal significativo associa-
do o diferencial de juros entre esses ativos e os passivos que lhe servem de
contrapartida.

Tabela 3 – Ativos internos e externos do setor público 2001 – 2010


(Em % do PIB valorizado pelo IPC-A)

Fonte : Elaboração Sérgio Wulf Gobetti e Bernardo Patta Schettinni com base em dados do Bacen
1
Nota : Posição em junho
2
: Fundo de Amparo ao Trabalhador

69
Avalia-se através da Tabela 3 a evolução dos gastos fiscais e parafiscais
(como os empréstimos do BNDES) do governo como estratégia em face dos efeitos
significativos da crise mundial, a qual proporcionou um maior crescimento por outro
lado resultou em uma maior deterioração das finanças públicas (PEREIRA ; SIMÕES
(2010) apud GOBETTI & SCHETTINI, 2010, p.22)
Pereira e Simões (2010) estimaram, por exemplo, que o custo direto da
primeira parte do empréstimo de R$ 180 bilhões do Tesouro ao BNDES
para financiar projetos de endividamento gire em torno de 29% do valor de
face em 30 anos – o que é calculado pela diferença entre as taxas de juros
sobre as emissões do Tesouro (pós e pre-fixadas) e as taxas pelas quais
o BNDES vai remunerar o Tesouro (TJLP mais 0,63% a.a. em media).

Tabela 4 – Desembolsos do BNDES (Em bilhões de R$)

Fonte : BNDES

Destaca-se, ainda, avaliação feita no que se refere a atuação do BNDES ao


diminuir os recursos para o setor industrial em contraste ao aumento de recursos
para agropecuária voltada para exportação, infraestrutura e serviços (Monteiro
Neto,2005, p.212).
É que ao invés de orientar-se eminentemente para a ampliação da capaci-
dade produtiva, a estratégia do Banco, na última década, pautou-se por
uma agenda composta por um mix diferente quanto aos setores eleitos para
os créditos da instituição – o setor industrial passou a ter menor atenção e
mais recursos foram alocados para a agropecuária voltada para
exportação, infra-estrutura e serviços (principalmente shopping centers e
13
turismo) – e também para o financiamento da transferência de ativos
produtivos estatais ao setor empresarial privado.

A dinâmica da dívida pública sendo um dos principais indicadores das


condições de solvência fiscal , e, que após 2009 perde-se o sentido de analisar a
relação da sustentabilidade da dívida pública líquida em relação ao PIB14.

13
Para uma resenha das fases de expansão dos recursos do BNDES bem como da atuação do
banco como braço da política econômica ver Ana Cláudia Além (1998), “O Desempenho do BNDES
no Período Recente e as Metas da Política Econômica” . Revista do BNDES, V.5. N9, p. 51-76.
14
VILLAVERDE, João. Para analistas, aparente tranquilidade fiscal da dívida brasileira exige atenção.
Jornal Valor Econômico, São Paulo 18/07/2011. Disponível em
http://jccavalcanti.wordpress.com/2011/07/18/governo-fala-em-divida-publica-liquida-mas-a-bruta-e-a-
que-importa/. Acesso em 05 de agosto de 2012.
70
Schwartsman & Associados e ex-diretor do Banco Central, a dívida líquida
passou a perder o sentido a partir de 2009, quando o governo emitiu títulos
do Tesouro com volume total de R$ 100 bilhões para financiar um
empréstimo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES). No ano seguinte, outros R$ 80 bilhões foram repassados da
mesma forma, e neste primeiro semestre de 2011, mais R$ 30 bilhões foram
transferidos do Tesouro ao BNDES.
Nessas operações, o Tesouro se endivida, ao lançar títulos públicos
remunerados pela Selic, para aumentar o capital do BNDES. Como as
operações do BNDES geram “lucro” ao governo, e, portanto, servem de
ativo ao setor público, são deduzidos da dívida total do governo. Assim, a
dívida líquida cai, mas, como há maior endividamento do governo, via novos
empréstimos do Tesouro ao mercado, esse passivo só é contabilizado na
dívida bruta. “É a dívida bruta que interessa ao mercado internacional, uma
vez que indica realmente qual é o tamanho da dívida real do setor público”,
afirma Schwartsman.

Na realidade, a acumulação de reservas pelo governo brasileiro em 2012


atingiu US$ 373 bilhões, refletindo em um crescimento de 334,71% em relação a
2006, exigindo um esforço adicional por parte do setor público e, em última
instância, da sociedade. Assim, a mudança da gestão da dívida pública, a qual
alterou o perfil externo para o interno não foi uma estratégia de blindagem
macroeconômica contra choques cambiais no que se refere a evitar que a dívida
pública sofresse um choque adverso, como em outras conjunturas, e sim em face
da entrada da China como nova força na dinâmica de poder mundial, pois permitiu
ao Brasil ser credor líquido em moeda estrangeira. Aliado a este fato, ressalta-se,
ainda, a miopia da política neoliberal conduzida por FHC e aprofundada por Lula,
pois se concentrou em apenas na estabilização da inflação.
Portanto, o país continua sendo refém da crise mundial de 2008, pois se em
2010 e 2011 evidenciou-se um processo de apreciação do real através da estratégia
do Tesouro e do Banco Central americano, a qual resultou em um tsunami de
dólares e em face da livre entrada de capital refletiu em um alto custo fiscal para o
Tesouro brasileiro em função da diferença em termos de rentabilidade. Em 2013,
observa-se uma depreciação do real de forma significativa apesar do alto volume
de reservas em moeda estrangeira em face da necessidade de financiar o alto déficit
de conta corrente e da percepção pelo mercado da deterioração do resultado
primário em % do PIB para manter a sustentabilidade da dívida pública em % do
PIB.
Neste contexto, as armadilhas do Plano Real produziram efeitos significativos
na evolução da dívida pública de 1995 a 2012, como também reflexos futuros em

71
função do atual patamar da dívida pública bruta, refletindo na exigência de um
aumento significativo da carga tributária em % do PIB, bem como a dificuldade na
realização de uma reforma tributária para aumentar a competitividade da economia
brasileira. Portanto, a atual dinâmica da dívida pública brasileira torna-se um
limitador estrutural no que concerne à sustentabilidade do crescimento econômico e
impacta no tocante à equidade intergeneracional.
• O modelo de esgotamento do modelo de ajuste fiscal

O presente tópico tem como pressuposto analisar o modelo de esgotamento


do ajuste fiscal do setor público consolidado após 1997, tendo como objetivo que o
aumento da carga tributária verificada entre 1995 a 2012 aliada a redução da
capacidade de realização dos investimentos públicos são reflexos da política de
gestão da dívida pública ; ao excessivo grau de vinculação de receitas aliado ainda
ao elevado nível de despesas constitucionais e legalmente obrigatórias, a qual
compromete uma gestão fiscal eficiente. E, além disso, impacta no crescimento
econômico, refletindo na perda da competitividade da economia brasileira no que se
refere à valorização do real em face do estímulo ao incremento da despesa corrente
aliada ao fato ainda de desestimular o apetite dos empresários por novos
investimentos, resultando no baixo crescimento do produto potencial da economia
ao longo do alusivo período.
A política fiscal envolve operações relacionadas aos dispêndios do Estado
e aos recursos necessários para o seu financiamento, e, principalmente, pela influ-
ência que tais gastos e receitas exercem sobre a contração ou expansão da
atividade econômica. Dessa forma, a política fiscal pode ser utilizada tanto para
promover a atividade econômica em períodos de desaquecimento, reduzindo tribu-
tos e/ou aumentando gastos públicos, como para conter excessos e reduzir desi-
gualdades nos períodos de expansão econômica. Assim, é fundamental a análise da
flexibilidade alocativa dos recursos orçamentários no tocante à avaliação da
capacidade do Estado de intervir na economia.
Neste sentido, a ausência de flexibilidade no que tange aos orçamentos do
Governos Federal, Estaduais e Municipais é afetada por dois tipos de restrições:
pelo excessivo grau de vinculação de receitas e pelo elevado nível de despesas
constitucional e legalmente obrigatórias. Portanto, de 1995 a 2012 às metas de
superávit fiscal, que, num contexto intertemporal, tornaram a dívida solvente e
72
sustentável foi obtido via aumento da carga tributária já que as alusivas restrições
diminuíram a efetividade do controle das despesas correntes.
O Gráfico 10 evidencia as metas de superávit primário como proporção do
PIB do Governo Federal, entretanto em face de os efeitos da política monetária do
Banco Central aliada ao fato da ampliação do financiamento do BNDES resultou no
incremento da dívida pública bruta (% do PIB). Observa-se também que no
exercício de 2004 marca o ponto de inflexão no tocante a redução do superávit
primário do Governo Federal e Banco Central e principalmente o efeito da crise
mundial em 2009 em face de se constatar o menor índice da série histórica 1999 a
2011 (1,31% do PIB).
Nos exercícios de 2010 , 2011 e 2012 houve melhora considerável do
resultado primário em face que foi obtido 2,09% do PIB, 2,25% do PIB e 2,0% do
PIB, respectivamente. Salienta-se assim que a decisão tomada pelo Banco Central
de aumentar a taxa Selic de 7,25% para 9,0% em agosto de 2013 para conter a
inflação resultará na deterioração das contas públicas.
Gráfico 10 - Superávit Primário – Governo Federal e Banco Central – 1997 a 2011 - (%PIB)

3,00%

2,50%

2,00%

1,50%

1,00%

0,50%

0,00%
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
-0,50%

Fonte; Secretaria de Tesouro Nacional

O Plano Real foi elaborado para que o Brasil se transformasse em uma


plataforma de valorização do capital internacional em face de que sem um alicerce
fiscal e aliado a um déficit significativo da conta corrente em função do câmbio
valorizado no período aumentou significativamente o risco de financiamento, e por
isso com geração insignificante de resultados primários o Brasil caiu mais uma vez
na armadilha do FMI, desta vez por se concentrar exclusivamente em um programa

73
de estabilização da inflação a ferro e a fogo, a qual ampliou consideravelmente a
dívida pública bruta (% do PIB).
Em 1997, a Receita Total (RT) era de 16,23% do PIB e o superávit primário
de -0,25% do PIB e em 1999, a RT foi de 19,66% e o resultado primário de 2,13%
do PIB. Realizando uma análise desagregada entre RT e a Receita Líquida Total
(RLT) evidencia a fragilidade do modelo de ajuste fiscal em face das vinculações
constitucionais. A título de comparação a RT entre 1997 e 1999 houve um
incremento de 2,73% do PIB e a RLT de 2,11% do PIB.
Gráfico 11 – Resultado Fiscal do Governo Central - 1997 a 1999 - (% do PIB)
2 5 ,0 0 %
2 0 ,0 0 %
1 5 ,0 0 %
1 0 ,0 0 %
5 ,0 0 %
0 ,0 0 %
- 5 ,0 0 %
- 1 0 ,0 0 %
R e s u lta d o R e s u lta d o
R e c e ita L íq u id a
R e c e ita T o ta l P r im á r io d o N o m in a l d o
T o ta l
G o v e r n o C e n tr a l G o v e r n o C e n tr a l
1997 1 6 ,9 3 % 1 4 ,2 7 % - 0 ,2 5 % - 2 ,2 7 %
1998 1 8 ,7 4 % 1 5 ,8 3 % 0 ,5 1 % - 4 ,6 1 %
1999 1 9 ,6 6 % 1 6 ,3 8 % 2 ,1 3 % - 2 ,4 7 %

Fonte : Secretaria de Tesouro Nacional

Neste contexto de incremento da dívida líquida e a necessidade de recuperar


a credibilidade do mercado o Brasil buscou o socorro ao FMI e este impôs a política
macroeconômica baseada no tripé: geração de superávit primário, câmbio flutuante
e metas de inflação. O entendimento de (VELOSO,2007,p. 325) é que o modelo de
ajuste fiscal do Brasil desde 1999 não é sustentável no longo prazo.
O modelo de ajuste fiscal desde 1999 baseado em aumento da carga tribu-
tária e corte dos investimentos públicos, simultaneamente à expansão
dos gastos correntes, deprime o crescimento econômico e não é sustentá-
vel no longo prazo.

Destarte, analisa o risco do desequilíbrio macroeconômico em face de estar


próximo o esgotamento deste modelo de ajuste fiscal (VELOSO,2007,p. 325).
Está próximo o momento de esgotamento desse modelo, o que coloca no
horizonte o risco de uma crise fiscal que desestabilizaria o equilíbrio ma-
croeconômico, com riscos de retorno da inflação, desequilíbrio no balanço
de pagamentos, aumento de pobreza e baixa perspectiva de crescimento
econômico.

O Gráfico 12 evidencia uma queda substancial na geração dos superávits


primários (% do PIB) a partir de 2008 reflexo dos efeitos da crise mundial em face da

74
política de renúncia fiscal e do modelo de vinculação de receitas as despesas, a qual
impede uma gestão fiscal eficiente.
Gráfico 12 – Resultado Primário Desagregado – 2006 a 2010 (% do PIB)

4 ,5 0 %
4 ,0 0 %
3 ,5 0 %
3 ,0 0 %
2 ,5 0 %
2 ,0 0 %
1 ,5 0 %
1 ,0 0 %
0 ,5 0 %
0 ,0 0 %
2006 2007 2008 2009 2010
S u p e r á v it d o G o v e r n o
3 ,0 8 % 3 ,8 2 % 3 ,9 0 % 2 ,0 1 % 2 ,7 5 %
G e r al
S u p e r á v it d o G o v e r n o
2 ,0 6 % 2 ,1 9 % 2 ,3 7 % 1 ,2 4 % 2 ,1 0 %
Fe d e r al
S u p e r á v it d o s Esta d o s 0 ,8 4 % 1 ,2 5 % 1 ,1 9 % 0 ,5 2 % 0 ,4 0 %

Fonte : Secretaria de Tesouro Nacional

O Gráfico 13 evidencia o modelo de ajuste fiscal baseado em aumento de


superávit primário bem como o incremento da Receita Total. A título de comparação
em 1997 a Receita Total correspondia 16,93% do PIB e a geração de um déficit
primário de 0,25% do PIB e em 2012 correspondeu a 24,13% do PIB e a geração de
superávit primário de 2,00% do PIB. Salienta-se que ,em 2010, a Receita Total
correspondeu a 24,40% do PIB e um resultado primário de 2,09% do PIB. Assim,
evidencia cada vez mais o risco de uma crise fiscal em face do incremento das
despesas obrigatórias ao longo do período em função do excessivo grau de
vinculação de receitas as despesas e do reflexo da semi estagnação da economia
brasileira (Gráfico 13).
Gráfico 13 – Resultado Fiscal do Governo Central - 1997 a 2012 (% do PIB)
30,00%
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
-5,00%
-10,00%
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Receita Total 16,93% 18,74% 19,66% 19,93% 20,77% 21,66% 20,98% 21,61% 22,74% 22,94% 23,25% 23,63% 22,82% 24,40% 23,91% 24,13%
Resultado Primário do Governo Central -0,25% 0,51% 2,13% 1,73% 1,69% 2,16% 2,28% 2,70% 2,60% 2,17% 2,23% 2,35% 1,31% 2,09% 2,25% 2,00%
Resultado Nominal do Governo Central -2,27% -4,61% -2,47% -2,12% -1,94% -0,68% -3,66% -1,39% -3,41% -3,14% -2,24% -0,82% -3,31% -1,21% -2,11% -1,39%

Fonte : Secretaria de Tesouro Nacional

75
Realizando uma análise desagregada entre a Receita do Tesouro e da
Previdência evidencia-se um incremento daquela de 5,6% do PIB e desta de 1,6%
do PIB entre 1997 a 2012. Salienta-se que em face da crise mundial aliado aos
alusivos limites estruturais do crescimento econômico (CARCANHOLO,2011) em
2008 e aliada a política de renúncia fiscal evidenciou-se uma redução de 18,18% do
PIB para 17,13%. Evidencia-se o modelo de esgotamento do incremento das
Receitas do Tesouro em % do PIB, bem como observou-se o ápice em 2008. No
tocante as Receitas da Previdência Social verificou-se um incremento em % do PIB.
Considerando o comportamento de ambas receitas analisa-se o risco de
financiamento para manter a sustentabilidade da dívida pública.
Gráfico 14 – Participação das Receitas do Governo Central - 1997 a 2012 - (% do PIB)

20,0%
18,0%
16,0%
14,0%
12,0%
10,0%
8,0%
6,0%
4,0%
2,0%
0,0%
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Receitas do Tesouro 12,2% 14,0% 15,0% 15,2% 15,9% 16,8% 16,2% 16,7% 17,6% 17,7% 17,9% 18,2% 17,1% 18,7% 17,9% 17,8%
Receitas da Prev. Social 4,7% 4,7% 4,6% 4,7% 4,8% 4,8% 4,7% 4,8% 5,0% 5,2% 5,3% 5,4% 5,6% 5,6% 5,9% 6,3%

Fonte : Secretaria de Tesouro Nacional

Realizando um confronto entre a Receita Líquida Total (RLT) e a Despesa


Total evidencia que aliado à vinculação de receitas, existe um outro fator, o qual
compromete a gestão fiscal eficiente, no que se refere ao aumento contínuo do
montante das despesas de execução obrigatória, sendo esta uma magnitude da
restrição ao crescimento do PIB em face da ausência de flexibilidade para alocar em
investimentos. Como será analisado posteriormente verificou-se um crescimento
contínuo das despesas de execução constitucional e/ou legalmente obrigatórias.

76
Gráfico 15 – Receita Líquida Total x Despesa Total – 1997 a 2012 (% do PIB)

25,0%

20,0%

15,0%

10,0%

5,0%

0,0%
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Receita Líquida Total 14,3% 15,8% 16,4% 16,5% 17,2% 17,9% 17,4% 18,1% 18,8% 19,0% 19,3% 19,2% 18,9% 20,7% 19,7% 20,0%
Despesa Total 14,0% 15,0% 14,5% 14,7% 15,6% 15,7% 15,1% 15,6% 16,4% 17,0% 17,1% 16,4% 17,7% 18,6% 17,5% 18,3%

Fonte : Secretaria de Tesouro Nacional

O modelo de ajuste fiscal sob á ótica das vinculações constitucionais e legais


dos Municípios mostra a sua ineficiência no que se refere à gestão fiscal. A título de
comparação ,em 1997, o total das transferências a Estados e Municípios
correspondiam a 2,66% do PIB e as demais correspondiam a 0,16% do PIB e em
2008 foi de 4,39% do PIB e as demais de 0,80% do PIB, sendo que estas atingiram
esse nível em função da política de renúncia fiscal de IPI, bem como forma de
recompensar esta perda o Governo Central disponibilizou recursos aos Municípios e
aumentou o volume de recursos das transferências correntes e de capital. A partir de
2008, marca um ponto de inflexão destaca-se o exercício de 2010 quando as
transferências a Estados e Municípios atingiram o menor nível comparando os
exercícios de 2005 a 2011.
Ressalta-se que mais de 95% do volume de recursos referentes ás
transferências a Estados e Municípios são destinadas as despesas correntes,
contribuindo para o baixo dinamismo do crescimento do PIB.
Gráfico 16 – Transferências a Estados e Municípios – 1997 a 2012 - (% do PIB)

4,50%
4,00%
3,50%
3,00%
2,50%
2,00%
1,50%
1,00%
0,50%
0,00%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Transferências a Estados e Municípios 2,80% 3,02% 2,72% 2,63% 2,97% 2,98% 3,09% 3,36% 3,01% 2,80% 3,14% 4,09%
Transferências Constitucionais (IPI, IR
2,80% 3,02% 2,72% 2,63% 2,97% 2,98% 3,09% 3,36% 3,01% 2,80% 3,14% 3,04%
e outras)
Lei Complementar 87/ Lei
0,28% 0,27% 0,23% 0,22% 0,22% 0,18% 0,15% 0,17% 0,12% 0,10% 0,09% 0,09%
Complementar 1153 (3)
Demais 0,46% 0,51% 0,59% 0,57% 0,64% 0,68% 0,66% 0,80% 0,78% 0,78% 0,88% 0,96%

Fonte : Secretaria de Tesouro Nacional


77
O Gráfico 17 evidencia-se a fragilidade fiscal do Governo Central em face do
incremento das despesas obrigatórias (pessoal, benefícios previdenciários. A
despesa de pessoal correspondia 4,81% do PIB em 2002 e verificou-se uma
redução ao longo de 2003 a 2007 até alcançar a recuperação em 2008 atingindo
4,68% do PIB, entretanto a partir deste ponto se verificou um ponto de inflexão no
que se refere à redução da despesa em % do PIB. Ressalta-se o incremento da
despesa de pessoal dos Poderes (VELOSO, 2007, p. 333).
Nessa perspectiva de despesa rígida e perpetuadora de desequilíbrios, ca-
be chamar atenção, em primeiro lugar, para o aumento de participação,
nessa despesa dos Poderes e órgãos com autonomia orçamentária (Legis-
lativo, Judiciário,Ministério Público e Tribunal de Contas).

No tocante as despesas com benefícios previdenciários evidencia-se no


Gráfico 17 a política de valorização do salário mínimo teve um impacto significativo
nas contas públicas. Destaca-se que ,em 2012, as despesas com benefícios
previdenciários atingiu 7,19% do PIB, refletindo em um incremento 1,41% do PIB
ante ao exercício de 2001 em face da implantação da política de valorização do
salário mínimo15 em 2007. Assim, mostra o abismo fiscal das contas públicas no
Brasil no que tange ao comprometimento das contas públicas em face da dificuldade
de geração de resultados primários após a crise de 2008.
Outro ponto a ser ressaltado é a ausência de flexibilidade da alocação de
recursos, a qual diminui a capacidade de realização de investimentos do Governo
Central.
Gráfico 17 – Despesa Desagregada do Governo Federal – 2001 a 2012 (% do PIB)

8,00%
7,00%
6,00%
5,00%
4,00%
3,00%
2,00%
1,00%
0,00%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Pessoal e Encargos Sociais 4,80% 4,81% 4,46% 4,31% 4,30% 4,45% 4,37% 4,31% 4,68% 4,42% 4,33% 4,23%
Benefícios Previdenciários 5,78% 5,96% 6,30% 6,48% 6,80% 6,99% 6,96% 6,58% 6,94% 6,76% 6,79% 7,19%
Custeio e Capital 4,90% 4,87% 4,27% 4,69% 5,18% 5,42% 5,69% 5,41% 5,91% 7,29% 6,22% 6,73%

Fonte ; Secretaria de Tesouro Nacional

15
A Política Permanente de Valorização do Salário Mínimo, acordada em 2007, pretende se estender
até 2023 e tem como critério repassar no reajuste anual salarial a inflação do período, o aumento real
pela variação do PIB e a antecipação da data-base de revisão.
78
O Gráfico 18 demonstra a fragilidade do modelo de ajuste fiscal no Brasil,
pois concentra volume significativo de recursos em custeio (% do PIB) e para
cumprir as metas de superávit primário (% do PIB). Ressalta-se que este foi gerado
via aumento significativamente da carga tributária aliada a contingência dos
recursos destinados a investimentos. De 2002 a 2009, observa-se a baixa
capacidade de investimento do Governo Central em % do PIB na média de 0,70%.
Em 2012, foi o maior montante de recursos destinado pelo Governo Federal a
investimentos (1,35% do PIB) com Receita Total de 24,13% do PIB, entretanto bem
próximo a 2001 (1,10%) com Receita Total de 20,77% do PIB.
Salienta-se que o expressivo volume de investimentos em 2010, o qual
correspondeu a 2,33% do PIB foi reflexo da capitalização da Petrobrás de 1,14% do
PIB. Assim, evidencia-se que em face do modelo de vinculação da receita a despesa
a baixa efetividade da política fiscal anti-cíclica pós crise mundial.
Gráfico 18 – Despesa Custeio e Investimento do Governo Federal – 2001 a 2012 (% do PIB)

8 ,0 0 %
7 ,0 0 %

6 ,0 0 %
5 ,0 0 %
4 ,0 0 %
3 ,0 0 %
2 ,0 0 %

1 ,0 0 %
0 ,0 0 %
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
C u ste io e In v e stim e n to 4 ,9 0 % 4 ,8 7 % 4 ,2 7 % 4 ,6 9 % 5 ,1 8 % 5 ,4 2 % 5 ,6 9 % 5 ,4 1 % 5 ,9 1 % 7 ,2 9 % 6 ,2 2 % 6 ,7 3 %
In v e stim e n to 1 ,1 0 % 0 ,7 0 % 0 ,4 0 % 0 ,5 0 % 0 ,5 0 % 0 ,7 0 % 0 ,8 2 % 0 ,9 3 % 1 ,0 5 % 2 ,3 3 % 1 ,2 7 % 1 ,3 5 %

Fonte ; Secretaria de Tesouro Nacional


Analisando sob a ótica da Secretaria da Receita Federal no que se refere à
contabilização da evolução da carga tributária bruta do Governo Geral de 2000 a
2008 observa-se o exagerado tamanho do Estado brasileiro, o qual contribuiu para
que não houvesse um maior incremento do crescimento econômico (DELFIN NETO,
2009, p.30).
A melhoria da taxa de crescimento econômico nos últimos seis anos (4,1%
entre 2003 – 2008, contra 2% em 1997-2002) foi resultado de um novo Es-
tado indutor, fortemente ajudado pela melhoria que a economia mundial
produziu na situação externa. Teria sido muito maior se fossem as melho-
res as condições objetivas em que se deu (excesso de carga tributária, ex-
cesso de intervenção, excesso de gasto de custeio e política de juros ina-
dequada). Teriam sobrado mais recursos para as políticas públicas que
buscam a igualdade de oportunidades e para os investimentos em infra-
estrutura que elevam a produtividade do setor privado.

79
É fundamental a análise de (DELFIN NETO, 2009, p. 30) no que se refere à
armadilha que o Brasil entrou ao se concentrar esforços exclusivamente em uma
agenda fiscal.
A agenda do Estado-indutor é muito mais ampla do que a agenda fiscal.
Esta não deve começar (como parece ser a sugestão atual), mas sim
terminar na reforma tributária. O projeto em discussão no Congresso
assume, implicitamente como “definitiva” e “insuperável”, a absurda carga
tributária atual. Apenas marginalmente melhorará a alocação dos fatores e a
produtividade do setor privado.

A implantação do Plano Real sem o alicerce fiscal tornou o país refém dos
rentistas nacionais e do capital especulativo internacional, o qual resultou no
aumento da dívida líquida do setor público. A título de comparação esta era em 1995
correspondia a 29,9% do PIB e aumentou para 49,4% em 1999 em face da política
macroeconômica conduzida pelo Banco Central, resultando no incremento da carga
tributária16 do setor público consolidado em face que em 1995 era de 27,24% do PIB
e passou para 29,05%.
Gráfico I9 – Carga Tributária do Brasil - 1995 a 1999 – (% do PIB)

3 5 ,0 0 %
3 0 ,0 0 %
2 5 ,0 0 %
2 0 ,0 0 %
1 5 ,0 0 %
1 0 ,0 0 %
5 ,0 0 %
0 ,0 0 %
1995 1996 1997 1998 1999
M u n ic íp io s 1 ,2 7 % 1 ,2 9 % 1 ,2 3 % 1 ,4 5 % 1 ,4 1 %
U n iã o 1 8 ,3 3 % 1 7 ,8 6 % 1 8 ,2 2 % 1 9 ,0 5 % 2 0 ,2 7 %
Es ta d o s 7 ,6 4 % 7 ,5 7 % 7 ,3 2 % 7 ,2 6 % 7 ,3 7 %
To ta l 2 7 ,2 4 % 2 6 ,7 3 % 2 6 ,7 7 % 2 7 ,7 6 % 2 9 ,0 5 %

Fontes: Coordenação de Estudos Tributários (Secretaria da Receita Federal);


IBGE

O Gráfico 20 mostra a evolução da carga tributária em face da


sustentabilidade da dívida pública e pela ausência de mecanismos de controle da
despesa conforme já foi salientado. Na crise de 1998, a carga tributária do setor
público consolidado era de 27,76% do PIB e chegou ao recorde de 34,1% do PIB em

16
A Carga Tributária Bruta é definida como a razão entre a arrecadação de tributos e o PIB a preços
de mercado, ambos considerados em termos nominais
80
2008 e em face da crise mundial marca o ponto de inflexão no que tange a redução
da carga tributária em % do PIB. Além disso, evidencia o impacto significativo tanto
na receita da União como dos Estados contrastando com as receitas dos Municípios,
as quais apresentaram o melhor índice da série histórica em face do aumento do
crédito imobiliário, o qual impactou na receita do IPTU e ITBI.
Gráfico 20 – Carga Tributária do Brasil – 2000 a 2010 - (% do PIB)

4 0 ,0 0 %
3 5 ,0 0 %
3 0 ,0 0 %
2 5 ,0 0 %
2 0 ,0 0 %
1 5 ,0 0 %
1 0 ,0 0 %
5 ,0 0 %
0 ,0 0 %
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
U n iã o 2 0 ,9 8 % 2 1 ,6 0 % 2 2 ,7 0 % 2 1 ,6 1 % 2 2 ,2 6 % 2 3 ,4 4 % 2 3 ,3 4 % 2 3 ,9 4 % 2 3 ,9 1 % 2 2 ,7 5 % 2 2 ,8 7 %
Esta d o s 7 ,9 9 % 8 ,3 0 % 8 ,3 7 % 8 ,4 0 % 8 ,6 0 % 8 ,6 8 % 8 ,5 9 % 8 ,4 5 % 8 ,6 7 % 8 ,3 4 % 8 ,2 5 %
M u n ic íp io s 1 ,3 6 % 1 ,4 1 % 1 ,3 7 % 1 ,4 0 % 1 ,3 9 % 1 ,2 7 % 1 ,4 3 % 1 ,5 5 % 1 ,5 2 % 1 ,4 9 % 1 ,5 9 %
G o v e r n o G e r al 3 0 ,3 2 % 3 1 ,3 1 % 3 2 ,4 4 % 3 1 ,4 1 % 3 2 ,2 4 % 3 3 ,3 8 % 3 3 ,3 6 % 3 3 ,9 5 % 3 4 ,1 0 % 3 2 ,5 8 % 3 2 ,7 2 %

Fonte : Coordenação de Estudos Tributários (Secretaria da Receita Federal)


IBGE

Ressalta-se na análise de (TANZI,2012) no que concerne ao limite de


insustentabilidade dos gastos públicos é de 35% do PIB.17
Neste começo do século, parece ser uma moléstia mundial a insistência dos
governos em não reduzir seu volume de gastos. Acima de um determinado
limite, os gastos públicos se tornam insustentáveis. Como quase sempre
existem também enormes déficits públicos, os impostos não podem ser
reduzidos. Mas os gastos públicos podem e devem ser cortados. O limite da
insustentabilidade varia de país para país, mas do ponto de vista puramente
empírico, percebo que, quando um governo gasta mais do que 35% do
produto interno bruto (PIB), ele está pondo em risco a estabilidade da
economia e o bem estar da população. Eu diria que 35% do PIB é o limite
de gastos públicos acima do qual um país, seja ele qual for, começa o risco
de falir.

A armadilha fiscal que o Brasil vivencia atualmente é reflexo do atual


modelo de gestão fiscal ineficiente e que será analisado de forma mais detalhada a
seguir
De 1995 a 1999, evidencia no Gráfico 21 que a carga tributária da União teve
um crescimento de 1,95% do PIB e o Orçamento de Seguridade de 1,37%.

17
TANZI, Vito. É melhor de mãos dadas. São Paulo Revista Veja, edição 2.278, 18 de julho de 2012.
Entrevista concedida a PETRY, André.
81
Gráfico 21 – Carga Tributária do Governo Central – 1995 a 1999 - (% do PIB)

4 5 ,0 0 %
4 0 ,0 0 %
3 5 ,0 0 %
3 0 ,0 0 %
2 5 ,0 0 %
2 0 ,0 0 %
1 5 ,0 0 %
1 0 ,0 0 %
5 ,0 0 %
0 ,0 0 %
1995 1996 1997 1998 1999
P ar a fisc a is 2 ,1 3 % 2 ,0 7 % 2 ,0 5 % 2 ,3 1 % 2 ,2 8 %
O r ç am e n to d e
8 ,6 6 % 8 ,7 8 % 9 ,2 7 % 9 ,1 3 % 1 0 ,0 3 %
S e gu r id a d e
O r ç am e n to F isc al 7 ,5 5 % 7 ,0 1 % 6 ,8 9 % 7 ,6 1 % 7 ,9 6 %
U n iã o 1 8 ,3 3 % 1 7 ,8 6 % 1 8 ,2 2 % 1 9 ,0 5 % 2 0 ,2 7 %

Fonte : Secretaria da Receita Federal


Realizando uma análise desagregada da carga tributária da União de 2000 a
2011 evidencia não só a redução da poupança do setor privado, bem como a perda
de competitividade da economia brasileira em face da imposição de impostos em
cascata. O orçamento fiscal é composto (Imposto de Renda (IR), Imposto sobre
Produto Industrializado (IPI), Imposto s/ Operações Financeiras (IOF), Imposto s/
Comércio Exterior, Outros Impostos e Taxas). Em 2000, o alusivo orçamento
correspondeu a 7,68% do PIB da Carga Tributária da União e em 2008 atingiu o
recorde da série histórica atingindo 9,14% do período de 1995 a 2010. Em 2009 foi
de 8,16% do PIB e passou para 8,83% em 2011.
O orçamento da seguridade fiscal que é composto de (Contribuição da
Previdência Social, Finsocial/Cofins,CPMF, Contribuição sobre o Lucro
Líquido,PIS/PASEP, Contribuição Seguridade do Servidor Público,Outras
Contribuições). Em 2000, o referido orçamento representou 11,17% do PIB e em
2007 alcançou 13,28% do PIB e a partir deste exercício marcou o ponto de inflexão
no tocante a redução da carga tributária. Em 2008 foi de 12,37% do PIB e passou
para 13,12% do PIB em 2011.
O orçamento parafiscal compreende as seguintes receitas (FGTS,Cide,
Outras Contribuições Econômicas, Salário Educação e Sistema S. Em 2000, o
orçamento fiscal correspondia a 2,13% do PIB e em 2002 atingiu o maior nível da
série histórica 2,59% do PIB.

82
Ressalta-se que o crescimento das receitas do Orçamento da Seguridade
Fiscal, as quais não fazem parte do cálculo do Fundo de Participação dos Estados e
Municípios em contraste a diminuição das receitas do Tesouro e que ,portanto
aprofundou ainda mais a crise das finanças públicas dos Estados e Municípios em
face da crise mundial. Salienta-se, ainda, o impacto nas perdas das receitas do
orçamento fiscal em particular a política de desoneração do IPI em 2009.
Gráfico 22 - Receitas da União – 2000 a 2011 – (% do PIB)
30,00%

25,00%

20,00%

15,00%

10,00%

5,00%

0,00%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
União 20,98% 21,60% 22,70% 21,61% 22,26% 23,44% 23,34% 23,94% 23,91% 22,75% 22,87% 24,73%
Orçamento Fiscal 7,68% 7,91% 8,35% 7,24% 7,13% 7,87% 7,85% 8,23% 9,14% 8,16% 8,21% 8,83%
Orçamento de Seguridade 11,17% 11,50% 11,76% 11,85% 12,67% 13,19% 13,05% 13,28% 12,37% 12,15% 12,22% 13,12%
Parafiscais 2,13% 2,19% 2,59% 2,51% 2,46% 2,38% 2,44% 2,43% 2,39% 2,45% 2,44% 2,78%

Fonte : Secretaria da Receita Federal


O Gráfico 23 evidencia no baixo nível de receita em 1995 para implantar o
equilíbrio das finanças públicas (BATISTA,1994, p.19).
A proposta neoliberal identifica corretamente o equilíbrio das finanças públi-
cas como indispensável ao combate à inflação. A âncora fiscal é sem dúvi-
da, fundamental para restabelecer a confiança na capacidade governa-
mental de gerir a moeda. No entanto, na proposta neoliberal, por razões
talvez mais ideológicas do que econômicas, não se faz a necessária
distinção entre despesas correntes e de investimentos. Estas, pela sua
própria natureza, podem e devem ser financiadas por empréstimos, de
preferência internos a externos. De acordo com a boa doutrina, o
equilíbrio que se exige é entre dispêndios correntes e receitas tributárias.
O que não se deve é, em nome de um falso conceito de responsabilidade
fiscal, buscar equilíbrio em nível tão baixo de receitas e despesas que
inviabilize o desempenho pelo Estado de funções essenciais de incentivador
o desenvolvimento, de promotor do pleno emprego e da justiça social.

A alusiva armadilha fiscal pode ser evidenciada em face que em 1995, o


orçamento fiscal correspondia a 7,55% do PIB, sendo que o Imposto de Renda
Pessoa Física (IRPF) era 3,13% do PIB e o Imposto de Renda Pessoa Jurídica
(IRPJ) a 1,28%. Em 1998 com crescimento real de 0% e 1999 com PIB real de 0,3%
correlacionamos os reflexos no tocante ao orçamento fiscal de 1999 que atingiu a
7,96% do PIB, sendo que o IRPF a 3,99% do PIB e o IRPJ a 1,21% do PIB.

83
Gráfico 23 – Orçamento Fiscal da União – 1995 a 1999 – (% do PIB)

9 ,0 0 %
8 ,0 0 %
7 ,0 0 %
6 ,0 0 %
5 ,0 0 %
4 ,0 0 %
3 ,0 0 %
2 ,0 0 %
1 ,0 0 %
0 ,0 0 %
1995 1996 1997 1998 1999

O r ç a m e n to F is c a l Im p o s t o d e R e n d a
P e s s o a s F ís ic a s P e s s o a s Ju r íd ic a s
Im p o s t o s / P r o d . In d u s tr ia liz a d o

Fonte : Secretaria da Receita Federal

O Gráfico 24 demonstra duas vertentes de análises, a primeira no que se


refere ao arrocho fiscal e a segunda ao risco de crise estrutural do equilíbrio das
finanças públicas. No tocante ao arrocho fiscal é evidenciado em face que de 2000 a
2010 o Orçamento Fiscal em 2008 correspondia a 9,1% do PIB, sendo que o IRPF
representava 3,6% do PIB , o IRPJ de 2,6% e o IPI 1,2% do PIB. A partir deste ano
marca o ponto de inflexão no tocante a redução da carga tributária do Orçamento
Fiscal em face que nos exercícios de 2009 e 2010 correspondeu a 8,2% do PIB. A
defasagem da tabela do IR 18 combinada ao baixo crescimento do PIB em 2011
resultou no incremento do Orçamento Fiscal para 8,83% do PIB, sendo que IRPF de
3,87% do PIB, o IRPJ de 2,29% e IPI de 0,99% do PIB.
Esta alusiva crise fiscal é reflexo da política de desoneração do IPI, a qual
apenas contribuiu para privilegiar setores estratégicos como automobilístico,
refletindo em problemas estruturais para os Estados e Municípios no tocante a perda
de FPE e FPM. Assim, em 2000 o IPI representou 1,6% do PIB e em 2009 e 2010 foi
de 0,9% e 1,0%. No tocante a 2009 foi reflexo da política de desoneração para
buscar da retomada do crescimento e em 2010 reflexo do processo de
desindustrialização.

18
A defasagem da tabela do IR vem afetando nosso bolso. Nos últimos 15 anos, até 2010, já há uma
perda acumulada de 44,35%, segundo levantamento da Ernst & Young Terco. No período, a inflação
registrada foi de 97,85%, enquanto o reajuste da tabela do IR foi de apenas 53,50%.
CAMPOS, Elisa.Uma fome de leão – a defasagem da tabela do IR. Revista Época Negócios , São
Paulo : Editora Globo Disponível em <
htpp://colunas.revistaepocanegócios.globo.com/financasdebolso/2011/03/14/uma fome de leão a
defasagem da tabela do IR >. Acesso 18/07/2012.
84
Gráfico 24 – Orçamento Fiscal da União – 2000 a 2010 – (% do PIB)

10,0%
9,0%
8,0%
7,0%
6,0%
5,0%
4,0%
3,0%
2,0%
1,0%
0,0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Orçamento Fiscal 7,7% 7,9% 8,3% 7,2% 7,1% 7,9% 7,8% 8,2% 9,1% 8,2% 8,2% 8,8%
Imposto de Renda 5,1% 5,4% 6,1% 5,4% 5,2% 5,8% 5,7% 6,0% 6,4% 5,9% 5,7% 6,2%
Pessoas Físicas 3,7% 4,1% 4,0% 3,6% 3,3% 3,5% 3,5% 3,3% 3,6% 3,4% 3,3% 3,9%
Pessoas Jurídicas 1,4% 1,2% 2,2% 1,8% 1,9% 2,2% 2,2% 2,5% 2,6% 2,4% 2,2% 2,3%
Imposto s/ Prod. Industrializado 1,6% 1,5% 1,3% 1,1% 1,1% 1,1% 1,1% 1,2% 1,2% 0,9% 1,0% 1,1%

Fonte : Secretaria da Receita Federal

No tocante a carga tributária dos Estados observa-se que em 1995 era de


7,6% do PIB, sendo que o ICMS era de 6,7% e em 1999 a arrecadação dos Estados
foi de 7,4% do PIB e o ICMS de 6,4% reflexo do baixo crescimento econômico.
Gráfico 25 – Carga Tributária dos Estados – 1995 a 1999 – (% do PIB)

9 ,0 %
8 ,0 %
7 ,0 %
6 ,0 %
5 ,0 %
4 ,0 %
3 ,0 %
2 ,0 %
1 ,0 %
0 ,0 %
1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0
E s ta d o s 7 ,6 % 7 ,6 % 7 ,3 % 7 ,3 % 7 ,4 % 8 ,0 0 %
IC M S 6 ,7 % 6 ,6 % 6 ,3 % 6 ,2 % 6 ,4 % 7 ,0 %

Fonte : Secretaria da Receita Federal

O Gráfico 26 mostra os reflexos das negociações das dívidas estaduais com a


União se por um lado houve redução significativa da relação dívida/PIB dos Estados
(TORRES,2010) por outro lado em face das anomalias já salientadas das
vinculações das receitas as despesas evidenciou-se um aumento da carga tributária
para gerar os superávits primários necessários para manter a sustentabilidade da
dívida pública. Em 2005 e 2008, observa-se que a carga tributária dos Estados
atingiu o seu ponto máximo de 8,7% do PIB. Destaca-se que em 2008 o ICMS foi
maior do que em 2005, entretanto correspondeu a mesmo a carga tributária do
ICMS em 2002.
Os exercícios de 2009 e 2010 evidenciam o risco de sustentabilidade
macroeconômica fiscal, pois o ICMS tem uma grande importância no equilíbrio
85
estrutural de suas finanças públicas para os estados da região Sul e Sudeste
(TORRES,2010). Além disso, o ICMS para o Estado de São Paulo representa 90%
do total da Receita Bruta conforme o Programa de Ajuste Fiscal e está sendo o
Estado mais afetado com a perda da arrecadação do ICMS em face do processo de
desindustrialização. Destaca-se o risco de sustentabilidade fiscal para o Estado de
São Paulo, uma vez que em 2009 o setor Industrial representou 37,4% do total da
arrecadação do ICMS. Além disso, ressalta-se o modelo de esgotamento do
aumento do crédito em consumo, e, portanto impactou também na perda da
arrecadação do ICMS dos Estados em % do PIB em 2009 e 2010.

Gráfico 26 – Carga Tributária dos Estados –2000 a 2010 – (% do PIB)

1 0 ,0 %
9 ,0 %
8 ,0 %
7 ,0 %
6 ,0 %
5 ,0 %
4 ,0 %
3 ,0 %
2 ,0 %
1 ,0 %
0 ,0 %
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
E s ta d o s 8 ,3 % 8 ,4 % 8 ,4 % 8 ,6 % 8 ,7 % 8 ,6 % 8 ,4 % 8 ,7 % 8 ,3 % 8 ,2 % 8 ,6 %
IC M S 7 ,2 % 7 ,1 % 7 ,1 % 7 ,1 % 7 ,1 % 7 ,1 % 6 ,9 % 7 ,2 % 6 ,9 % 6 ,8 % 7 ,2 %

Fonte : Secretaria da Receita Federal

No tocante ao equilíbrio fiscal o Brasil caiu na armadilha fiscal do FMI em face


que o Plano Real foi elaborado no sentido de se opor a elevação da carga tributária
em % do PIB (BATISTA,1994, p.19).
A proposta da "burocracia washingtoniana" é declaradamente conserva-
dora no terreno tributário. Posiciona-se contra a utilização da política tri-
butária como instrumento de política econômica ou social e se opõe à
elevação da carga tributária como forma de equilibrar as contas públicas.
Sem se preocupar com o fenômeno da evasão, recomenda que a carga tri-
butária seja distribuída sobre uma base mais ampla e que, para isso, seja
menos progressivo o imposto de renda e maior a contribuição dos impos-
tos indiretos. A função do imposto se circunscreve a cobrir as despesas
sas mínimas de um Estado reduzido a sua expressão mais simples.
Trata-se de proposta que acentua ainda mais o grande peso que já tinham
na América Latina os impostos indiretos e que tende a contribuir para o
agrava mento da perversa estrutura da distribuição da renda na região.
Mas, sem dúvida, atraente para os setores empresariais, concorrendo para
a popularidade das reformas neoliberais entre as elites latino-americanas”

86
Para contrastar a realidade da importância da privatização para os resultados
dos ajustes fiscais na Nova Zelândia diferente do que ocorreu no Brasil conforme já
foi analisado em tópico anterior (CYSNE ; SOBREIRA,2007,p.153).
A Lei de Responsabilidade de 1994 almejava a transparência nos relatórios
de finanças públicas no tocante às intenções do governo na área fiscal e
também encorajar os governos a levar em conta as consequências de lon-
go prazo das decisões de política. Mas, os princípios estabelecidos em
1994 podem ser também vistos como resposta à situação fiscal de então,
exemplificada no elevado e crescente nível de endividamento do setor pú-
blico, que de menos de 10% do PIB na década de 1970, no caso da dívida
líquida, cresceu fortemente ao longo dos anos de 1980, para situar-se na
vizinhança dos 50% do PIB na primeira metade dos anos 1990. A partir daí,
a dívida como proporção do PIB iniciou uma fase de expressiva queda”.
A dívida líquida caiu de 44% do PIB em 1993/94 para 11% em 2002/2003.
Os pagamentos da dívida foram financiados com os superávits operaciona-
is e, até 2000 com vendas de ativos.

Outra análise feita por (CYSNE ; SOBREIRA,2007,p.155 - 156) é de funda-


mental importância da política macroeconômica para contrapor a diferença no ajuste
fiscal realizado pela Nova Zelândia e o Brasil.
De 1998 a 2003, uma nova rodada de elevação da superávit primário, que
chegou a 6% do PIB. Dessa vez o ajuste foi obtido com redução de 3 pon-
tos percentuais do PIB nas despesas e aumento da mesma magnitude nas
receitas. Em 2004 e 2005, observou-se alguma piora no superávit primário,
apesar da continuidade do aumento da carga tributária: as despesas cres-
ceram ainda mais.
È de se notar que houve um processo de redução das despesas primárias
ao longo de mais de uma década, ao todo da ordem de 10% do PIB, ten-
dência que se reverteu somente em 2005.
Um aspecto interessante, notado no gráfico 4.4, é que as despesas com
juros caíram continuamente ao longo desse processo, fazendo com que,
enquanto o ajuste primário tenha sido de ordem de 6% pontos percentuais
do PIB, o ajuste no resultado nominal tenha sido de cerca de 10 pontos”.

No entendimento de (CYSNE ; SOBREIRA,2007, p.156) o ajuste fiscal da


Nova Zelândia e as consequências macroeconômicas.
Após um longo período de déficits fiscais, a Nova Zelândia atingiu um su-
perávit operacional em 1993/94 e manteve o resultado superavitário desde
então. A melhoria inicial refletiu o crescimento da economia, receitas tribu-
tárias crescentes e um firme controle de despesas. Num período seguinte
o resultado piorou devido a duas rodadas de reduções de impostos, menor
crescimento em 1997/98 e mudanças contábeis. O resultado operacional
voltou a melhorar a partir de 2000, refletindo a intenção de se criarem su-
perávits estruturais para incluírem despesas com prévia de fundos para
fazer frente a futuras pressões demográficas sobre a previdência. As des-
pesas operacionais da Coroa foram reduzidas, como percentual do PIB, de
mais de 40% em 1992/93 para 32,4% em 2002/03.
Os retornos macroeconômicos das reformas foram significativos. Cresci-
mento maior e mais sustentável, expectativas inflacionárias muito meno-
res e queda forte da taxa de desemprego na última década, ficando entre
as mais baixas do mundo atualmente. Na área fiscal, persistentes déficits
foram substituídos por persistentes superávits. De um déficit de 5,1% do
PIB em 1992, passou-se a um superávit de 5,9% do PIB em 2005. Tam-
bém houve melhoria no endividamento público, com a posição líquida re-
87
centemente tendo se tornado positiva (isto é credora). A clareza de obje-
tivos de desempenho foi uma parte importante no alcance desses resul-
tados.

Diferentemente da política macroeconômica da Nova Zelândia a conduzida


pelo Banco Central do Brasil aliada a uma gestão fiscal ineficiente produziu
incrementos dos déficits nominais conforme o Gráfico 10. Além disso, foi um dos
fatores para o incremento da dívida bruta. E a piora do cenário de crise fiscal é
reflexo do modelo de esgotamento do aumento da arrecadação tributária em % do
PIB aliado ao cenário de incremento das despesas obrigatórias em % do PIB.
Para corroborar a análise do que significa uma gestão fiscal eficiente a
avaliação feita por (JONAS ; SANCAK,2011,p.30) 19 contextualizada em face que
eles avaliam ao diferenças nos resultados obtidos pelos Estados Unidos e o
Canadá. Enquanto a política fiscal dos Estados Unidos não produziu resultados
consistentes o ajuste fiscal implementado pelo Canadá resultou em mudanças
estruturais da economia.
Ambos paises lograron mejorar el saldo fiscal y revertir el crecimiento de la
relacion deuda/PIB. En Canada, el saldo global mejoro 5% del PIB en los
en los ejercicios 1995‒97, y alcanzo um superávit en el ejercicio 1998, que
se mantuvo hasta el comienzo de la recesion mundial de 2007/08. En Esta-
dos Unidos, el saldo global tambien mejoro de manera constante, en un
5% del PIB, durante 1993/98, e incluso alcanzo el superávit em 1998 -2001.
Sin embargo, los superávits estadounidenses no duraron, y para 2003 el
déficit presupuestario nuevamente superaba 3% del PIB”.

Assim, a análise feita por (JONAS ; SANCAK,2011;p.30) no que se refere à


diferença nos resultados dos ajustes fiscais contextualizando a implementação da
gestão fiscal eficiente do Canadá para manter a sustentabilidade da dívida pública.
A que se debe la diferencia de los resultados fiscales en la decada de
2000 a pesar del êxito inicial de ambos paises? La explicacion radica en
los distintos enfoques empleados para contener el deficit. En Estados Uni-
dos, la mejora se debio en parte a reformas del gasto y los impuestos, pe-
ro tambien fue consecuencia de una actividad economica vigorosa y de un
crecimiento significativo de las ganancias de capital, que generaron ingres-
esos tributarios insostenibles, pero que llevaron al pais a descuidar la situa-
cion fiscal. Canada, entre tanto, puso en marcha profundas reformas
estructurales de la política de gasto y tributacion que tuvieron un impacto
mas duradero,

É fundamental a avaliação feita por (JONAS ; SANCAK,2011,p.31) no que


se refere que tanto os Estados Unidos como o Canadá tinham situações econômi-
cas e orçamentárias parecidas na década de 1990 e em função dos fatores

19
Jiri Jonas y Cemile Sancak, Vecinos Fiscales.Finanzas & Desarrollo septiembre de 2011
88
cíclicos aliada a implementação de políticas de crescimento resultaram no aumento
da relação dívida/PIB.
Antes de emprender el ajuste de mediados de la década de 1990, ambos
países tenian situaciones economicas y presupuestarias parecidas. Los
saldos primarios (es decir, antes del pago de intereses) eran casi identicos
(grafico 1, panel superior), aunque el saldo global canadiense era peor al
tener en cuenta el pago de intereses (grafico 1, panel inferior). Los coefici-
cientes de deuda estaban en rapido ascenso en ambos paises (grafico 2) y
las tasas de crecimiento economico eran parecidas durante los dos episo-
dios de ajuste coincidentes (grafico 3). Hubo factores ciclicos, como la
recesion mundial y el aumento de las tasas de interes, que empujaron al
alza los coeficientes de endeudamiento, y lo propio ocurrio con factores es-
tructurales como la indexacion de vários programas de gasto en Canada.
La relacion deuda/PIB tambien aumento como consecuencia de politicas
de estimulo encaminadas a promover el crecimiento economico, como re-
cortes de los impuestos y aumentos de los gastos. .

No entendimento de (JONAS ; SANCAK,2011,p.31) o incremento da dívida


pública representava uma ameaça a prosperidade econômica dos dois países por
diferentes razões.
Para ambos países, la creciente deuda publica representaba una amenaza
para la prosperidad economica, aunque por razones algo diferentes. El
gobierno canadiense hacia hincapie en las implicaciones negativas de los
elevados pagos de intereses para el crecimiento, la importância de la equi-
dad intergeneracional (es decir, que los ciudadanos de manana no tengan
que pagar las cuentas de los ciudadanos de hoy) y la necesidad de mante-
ner la capacidad de gasto en programas publicos valiosos como la atencion
de la salud y la seguridad em la vejez, sin poner en peligro la estabilidad
fiscal a largo plazo. El gobierno estadounidense ponia enfasis en los efec-
tos perniciosos en la inversion privada de las altas tasas de interes y, a-
través desse canal, en el crecimiento econômico.

Na observação feita por (JONAS ; SANCAK,2011,p.31) evidenciou a visão es-


tratégica do governo do Canadá no que tange a implementação de um ajuste fiscal
para aumentar o grau de competitividade em relação aos Estados Unidos.
Los planes de ajuste tambien eran diferentes. En Canada, el Plan 1995
puso en marcha un importante recorte del gasto y medidas estructurales
profundas basadas en una evaluacion exhaustiva del gasto, una reforma del
seguro de desempleo, amplios cambios al sistema de transferências del
ingreso federal a las provincias, y uma reforma de las pensiones. Las
autoridades optaron por ajustar las finanzas publicas principalmente a
traves de la reduccion del gasto, dado que la carga tributaria ya era mayor
que en Estados Unidos, su principal socio comercial. En Estados Unidos,
la OBRA-93 incluia tanto controles del gasto como medidas destinadas a
incrementar el ingreso tributário.

Mas a essência da eficiência do ajuste fiscal foi o apoio popular as medidas


estruturais de controle dos gastos públicos (JONAS ; SANCAK,2011,p.32).
Estas reformas se sustentaron gracias a um decidido respaldo público, que
el gobierno contribuyo a forjar a traves de una estratégia de comunicacion
intensiva, incluidas conferencias nacionales y regionales organizadas por el
ministro de Hacienda y extensos debates publicos a lo largo y a lo ancho del
89
pais. Los canadienses tomaron cada vez mas conciencia de las implicacio-
nes de los elevados niveles de deuda para el crecimiento y la equidad inter-
generacional, asi como de la manera en que los altos costos del servicio de
la deuda, que consumia 35% del ingreso del gobierno a comienzos de la
de la decada de 1990, desviaban recursos que podian aprovecharse para
un gasto mas productivo.
Ademas, el gobierno adopto supuestos fiscales y macroeconomicos pru-
dentes, que ayudaron a lograr un resultado general constantemente mejor
de lo previsto, lo cual reforzo la confianza del publico en el Plan 1995.

Assim, ao contrário do Canadá, o Brasil evidenciou-se o incremento da


carga tributária do setor público consolidado, a qual não resultou na melhora no
provimento de bens e serviços como por exemplo educação, saúde e seguridade
social, bem como baixa capacidade de realização dos investimentos. Ou seja, a
ineficiência da política macro econômica conduzida pelo Banco Central de 1995 a
2011 aliada a uma gestão fiscal ineficiente em face das anomalias das vinculações
constitucionais e legais da receita a despesa implicitamente definiu um nível mais
elevado de pressão fiscal para a atual geração como também os níveis elevados da
relação dívida bruta/PIB em 2012, a qual resultará em implicações para o
crescimento e a equidade intergeneracional.
Neste contexto, a armadilha da concepção do Plano Real sem o alicerce
fiscal sustentável e com foco exclusivo na estabilização da inflação refletiu no
aumento da dívida pública bruta possibilitando a integração do Brasil na economia
internacional como espaços importantes de acumulação financeira e de exportação
de capital em sua forma líquida. Esta situação permite que a nova ordem global
tenha suporte porque não só a principal economia mundial, os Estados Unidos,
necessita, cada vez mais, da riqueza do resto do mundo para manter as bases de
financiamento de seu poderio imperial, bem como a existência de uma riqueza
baseada na acumulação financeira que segundo projeção do Instituto McKinsey
Global e do FMI em 2010 a relação entre Ativos Financeiros e o PIB Mundial seria
de 3,4 vezes (PAULANI,2009), ou seja, os especuladores se alimentam justamente
de países que têm uma gestão de política macroeconômica ineficiente como do
Brasil.

90
• O modelo de esgotamento do aumento do crédito
Em face da crise mundial e da ausência de mecanismos de estimular o
crescimento via investimento em função da já salientada ineficiência da gestão de
política macroeconômica aliada a ineficaz gestão fiscal também já salientada o
Governo Lula concentrou a sua atenção na expansão do crédito para alimentar o
consumo a partir da crise de 2007. Assim, a retração do crescimento econômico do
PIB de -0,3% em 2009 provocada pelos efeitos da crise mundial aliado aos fatores
estruturais que serão salientados neste tópico.
O crescimento real do Brasil em 2010 é reflexo das combinações das
políticas de investimento (PAC) ; do estímulo ao crédito ; o aumento do salário
mínimo ; das renúncias fiscais do IPI do setor automobilístico e da redução da taxa
Selic, os quais resultaram em um crescimento econômico de 7,5% a.a
Em 2011, o Governo utilizou a combinação de políticas de crédito, a política
de valorização do salário mínimo , a política monetária e o efeito do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), os quais resultaram em um incremento real pífio
do PIB de 2,7% em face dos reflexos das políticas dos Estados Unidos e da China,
refletindo em um aumento significativamente do déficit estrutural do segmento de
produtos industrializados da economia brasileira.
Ressalta-se que os Estados Unidos ao implementar a política de
afrouxamento quantitativo de trilhões de dólares despejados e que estes ficaram
entesourados nos bancos americanos ou foram direcionados ao Brasil em face do
aumento da taxa Selic, pois o Banco Central foi forçado a aumentá-la pela pressão
da inflação, a qual estava bem acima da meta, refletindo na alta da valorização do
real impactando na redução da competitividade da economia brasileira.
No tocante a China em virtude da queda das exportações da Zona do Euro e
em face da alta competitividade da sua economia aumentou consideravelmente o
volume de importações de produtos industrializados pelo Brasil.
Neste contexto, o pífio resultado do Produto Interno Bruto (PIB) nacional – de
0,87%, registrado em 2012 – evidenciou que o modelo de crescimento brasileiro
está esgotado em face de que os alicerces no consumo e do crédito aliada a política
de valorização do salário mínimo e os programas de bolsa família não são mais
capazes de sustentar o crescimento do PIB principalmente pelo atual nível de
endividamento, a qual refletiu no índice de inadimplência.

91
O Gráfico 27 mostra que o crédito do setor privado em % do PIB em face
2005 representava R$ 586,5 bilhões (28,1% do PIB) e alcançou em 2012 R$ 2,249
trilhões (53,8% do PIB). O modelo de incremento do consumo além de evidenciar
esgotamento não produziu resultados satisfatórios do ponto de vista do crescimento
econômico em 2011 e 2012 em face da política neoliberal (privatização, política
macroeconômica) conduzida pelo Governo Central pós Plano Real, refletida na
correlação entre o aumento do consumo e as importações (ver tópico crescimento).
Gráfico 27– Total do Crédito do Setor Privado no Brasil 2005 - 2012 (% do PIB)

60,0% 8,0%
7,0%
50,0%
6,0%
40,0% 5,0%
4,0%
30,0%
3,0%
20,0% 2,0%
1,0%
10,0%
0,0%
0,0% -1,0%
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Volume Crédito / PIB 28,1% 30,7% 33,4% 40,5% 44,4% 46,7% 47,0% 53,80%
Crescimento real do PIB 3,2% 4,0% 6,1% 5,2% -0,3% 7,5% 2,7% 0,89%

Fontes : Banco Central do Brasil, IBGE

Realizando uma análise desagregada do total do crédito do setor privado no


que se refere a avaliar o crédito imobiliário evidencia a importância para o
crescimento econômico do PIB em 2010. Salienta-se, ainda, que ao final de
dezembro de 2007 o crédito imobiliário correspondia a R$ 50 bilhões de reais
(1,72% do PIB) e em 2011 alcançou R$ 298,3 bilhões (6,78% do PIB). Apesar da
pouca representatividade do alusivo crédito imobiliário (% do PIB ) no Brasil quando
comparado com os Estados Unidos existe um grande risco não só relativo a bolha
imobiliária, como também o risco da desindustrialização associado ao significativo
passivo externo líquido, pois resulta na restrição ao crescimento impactando nos
mecanismos de geração de emprego e renda.

92
Evidencia-se uma bolha imobiliária em face do rápido aumento dos preços
ao longo do preço normal histórico ou crítico e em curto espaço de tempo. Dados do
Banco Central mostram que a alta média de 2003 para cá foi 108% superior ao
aumento da renda da população.
Ressalta-se ainda o nível de endividamento no que se refere à relação dívida
e renda das famílias (GUTIERREZ,2012)20.
A relação dívida e renda das famílias, conhecida como endividamento, está
próxima de 43%, mas ao excluir a parcela do crédito habitacional, a
proporção cai para 30%. A declaração foi dada por Carlos Hamilton Araújo,
diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), que acrescentou que
a tendência observada nos últimos meses é de queda”.
[...] O diretor lembra que há 10 anos o crédito correspondia a 20% de
participação no Produto Interno Bruto (PIB) e que hoje passa de 50%.

No que se refere ao risco da inadimplência não é percebida como


preocupante pelo economista da Serasa Experian, entretanto ele avalia a diferença
entre o nível de endividamento nos Estados Unidos e Canadá em relação ao Brasil
(GUTIERREZ,2012).
Para Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian, o topo
da inadimplência do consumidor já ficou para trás. Até o final do ano deve
ficar perto da média histórica. Fechou o último mês (junho, segundo BC) em
7,8% e vai ficar ao redor de 7% no ano. Já está de bom tamanho”.
Ao ser questionado sobre o endividamento – percentual de dívidas na renda
– Almeida lembra que não é preocupante e baixo para os padrões
internacionais. “No Canadá,Reino Unido e Estados Unidos passa de 100%
da renda, mas a diferença é que lá os prazos são mais longos e as taxas de
juros mais baixas”

No que tange ao nível de endividamento do Estado de São Paulo teve um


incremento em relação ao mês anterior de acordo com a Pesquisa de
Endividamento e Inadimplência (PEI) da Fecomércio (GUTIERREZ,2012).
De acordo com os dados da PEI, o nível de endividamento no Estado de
São Paulo ficou em 50,9%, sendo que no mês anterior estava em 48,7% e
janeiro em 42,4%. “ Em São Paulo há uma concentração muito grande do
potencial do consumo e mostra o perfil do endividamento [Brasil]. É um
retrato do nicho.

É necessário fazer uma análise sobre a correlação entre a prosperidade


econômica dos Estados Unidos de 1991 a 1999 e a crise imobiliária nos Estados de
2007 no sentido de diferenciar o risco desta alusiva crise no Brasil em 2012.

20
GUTIERREZ,Marcelle.Endividamento do consumidor está em 43%. Diário Comércio Indústria &
Serviços. São Paulo, 11,12,13 ago. 2012. Caderno Finanças & Mercados.
93
No tocante alusiva prosperidade foi obtida mediante um volume crescente de
empréstimos para a construção de imóveis residenciais, refletindo no impacto sobre
o crescimento no PIB americano (FISLOW,2011,p.8).

Conforme Robert Shiller,” a bolha dos imóveis residenciais foi uma causa
muito importante, se não a causa,da crise do crédito subprime e da crise
econômica mais geral...”Os preços dos imóveis residenciais, subiram em
proporções recordes e de modo contínuo desde o fim dos anos 1990 até
2006, permitindo aos donos de imóveis consumir e tomar empréstimos sem
cessar, impulsionado a economia após o colapso dos preços das ações no
Nasdaq em 2000-2001 e o ataque de Al Qaeda ás Torres Gêmeas em
2001. A construção civil – e o emprego nela – tornou-se líder da economia.
Essas condições persistiram até o início de 2006, quando o investimento
residencial começou a desacelerar. Nos três anos anteriores, esse
investimento – que alcançou 6% do produto total – fora a fonte de 15% do
crescimento do PIB. Em novembro de 2006, quando as licenças de
construção para novas casas tinham caído em 26% comparado ao ano
anterior, havia se tornado mais claro, ao menos para algumas pessoas que
estava se gerando um grande problema.

Em 2001, após os atentados terroristas de 11 de setembro, os americanos


reduziram drasticamente o consumo, sendo que este representava 70% do PIB do
país e, portanto, o Federal Reserve, banco central norte-americano, baixou
significativamente a taxa básica de juros. Além disso, a desregulamentação do
mercado bancário americano possibilitou assim aos bancos uma grande abertura
nas linhas de crédito imobiliário, inclusive às pessoas que se enquadravam no
subprime, ou seja, clientes que não tinham uma renda comprovada e aliada a um
histórico de inadimplência, entretanto apesar do alto risco de crédito oferecia um alto
risco de retorno de capital.
Em um contexto de alto risco envolvido nessa transação imobiliária, os
bancos venderam títulos no mercado com o intuito de adiantar vencimentos, tais
títulos foram bem aceitos justamente por conta da alta taxa de juros envolvida.
Assim, as corretoras de investimento compraram os títulos, gerando um outro capital
a ser emprestado pela financeira, e repassavam os papéis como proposta de
investimento a seus investidores espalhados por todo o mundo. Essa cadeia gerou
uma liquidez incerta e aumentou ainda mais o risco em face do efeito cascata, isto é,
se o cliente subprime não cumprisse com sua obrigação de pagamento do
empréstimo, resultaria em um efeito de perda para todos os demais setores
envolvidos.

94
Assim, a desregulamentação financeira resultou na securitização hipotecária
tornando uma fonte importante de expansão do setor financeiro (FISLOW,2011,p.8).
Por outro lado, a securitização de dívida hipotecária tornou-se uma fonte
importante de expansão do setor financeiro. Um número crescente de
bancos hipotecários vendeu a dívida hipotecária para outros bancos e
instituições financeiras que, por sua vez, com base nela, criaram novos
pacotes e passaram para outros investidores. Bancos comerciais e de
investimento usaram operações com companhias financeiras do chamado
“setor bancário oculto”, os SIVs (structural investment vehicles), não
incluídos em seus balanços, para aumentar a lucratividade pelo aumento de
sua alavancagem. Foram criados instrumentos financeiros cada vez mais
complexos, as CDOs (collateral debt obligations), títulos garantidos por
dívidas, e, ativos financeiros novos, se afastaram cada vez mais de suas
contrapartes físicas, sendo rapidamente vendidos a outros investidores. As
hipotecas prontamente se tornaram de alto risco, exigindo pouca evidência
de que os devedores tinham capacidade para pagar o serviço da dívida.
Derivativos, não regulados, passaram a ser amplamete usados como forma
de aumentar a alavancagem financeira. Os credit default swaps (CDS), um
tipo de seguro contra perdas garantindo os valores dos ativos em caso de
calote, proliferam.

Após a retomada do crescimento norte-americano o Federal Reserve


aumentou a taxa de juros de 4,75% para 5%, em 10 de maio de 2006 em face de
conter o aumento da inflação em função do comportamento da elevação do preço da
energia (ESTEVES, 2006,p.1)
Segundo o Presidente do Fed, Ben Bernanke, o aumento do preço da
energia comprometeria o atual ritmo sólido de crescimento estaduni-
dense. Em 2006, o preço da energia acumulou alta de 30,8%, em
comparação com os 17,1% registrados em todo o ano de 2005.

A política monetária contracionista do FED resultou na queda no valor dos


imóveis em face de comprometer a capacidade de grande parte dos compradores
potenciais de adquirir residências, o que, em consequência, refletiu na ausência de
demanda, deprimindo os preços ainda mais, agravando a recessão iniciada pelo
aperto monetário.
Neste contexto, as pessoas que tinham adquirido seus imóveis, e, portanto
possuíam compromissos hipotecários tiveram suas dívidas aumentadas sem o
correspondente incremento da renda, resultando no aumento significativo no índice
de inadimplência, o que gerou a chamada "bolha imobiliária", a qual veio a explodir
em meados de 2007. Essa bolha criada pela inadimplência, resultou em perdas
significativas para as instituições financeiras e corretoras de investimentos ao redor
do mundo. Com a deflagração da crise, refletiu em saques de seus investidores,
resultando na quebra do Lehman Brothers.

95
Nesta manhã, a Lehman Brothers, uma das mais prestigiosas instituições
de Wall Street, entrou com um pedido de proteção por falência depois que
as tentativas para salvá-la feitas durante o fim de semana fracassaram".
Nos meses seguintes, os desdobramentos da falência do Lehman Brothers
desencadeariam uma torrente de destruição da riqueza de pessoas,
empresas e países. Alguns meses depois, tinham sido reduzidos a cinzas
em todos os continentes cerca de 50 trilhões de dólares, o equivalente a
todo o PIB mundial, ou toda a riqueza produzida por todos os 6,5 bilhões de
terráqueos durante um ano. Só nos Estados Unidos, as famílias perderam
14 trilhões de dólares. Dados do Censo americano, divulgados na semana
passada, evidenciaram os efeitos da recessão no bem-estar da população:
a renda média dos americanos caiu 3,6% em 2008, a maior retração em
quatro décadas, e o porcentual dos que vivem na pobreza subiu para
13,2%, o maior desde 1997. Além disso, a taxa de desemprego está perto
de 10%, mais que o dobro da registrada nos tempos de bonança” (O mundo
21
pós crise como usar, 2009, p.124) .

Por outro lado, em setembro de 2007 o súbito aumento das taxas de juros
interbancárias resultou ao fim de 2008 a redução das taxas de juros a quase a zero
e uma significativa intervenção fiscal do Tesouro Americano agravando ainda mais o
déficit fiscal (FISLOW,2011,p.8).
Em setembro de 2007, em resposta ao súbito aumento das taxas de juros
interbancárias à medida que os bancos hesitavam em depositar seus
excessos de reservas em outros bancos, o FED reagiu a desaceleração do
crescimento reduzindo a taxa de juros de 5,25% para 4,75%. Esse foi
apenas o início atrasado de um processo que, até o fim de 2008, tinha se
acelerado a ponto de levar a taxa de juros do FED para próximo zero.
Entrementes ocorreu o maciço colapso financeiro de setembro de 2008, e
houve uma intervenção fiscal do governo de 700 bilhões de dólares (TARP
– Troubled Asset
Relief Program) em reação à crescente evidência de que esse declínio era
mais grave que um ciclo econômico típico. De fato, logo depois da posse de
Obama, em janeiro de 2009, veio outro programa fiscal (ARRA – American
Recovery and Reinvestment Act), envolvendo gasto público e redução de
impostos no valor de 787 bilhões de dólares na tentativa de conter o
declínio”.
Essa medida está agora se esgotando. Muitos na esquerda que haja uma
suplementação imediata para reviver a economia fraca, enfatizando a
necessidade de maiores gastos diretos, que têm efeito multiplicador maior
que o corte nos impostos. Na direita, considera-se necessária outra coisa :
manter o corte de impostos de Bush indefinidamente no futuro, permitindo
que a demanda privada, e não a pública, funcione como a base da futura
expansão. O Presidente Obama lançou recentemente um novo programa de
gastos, junto com uma redução permanente de impostos para investimentos
e manutenção da redução de impostos para casais com renda inferior a
250.000 dólares ao ano. A eleição de novembro de 2010 determinará qual
das abordagens permitirá uma maioria no Congresso nos próximos dois
anos e o surgimento de alguma política coerente.”

Assim, uma vulnerabilidade que estava baseada no risco do mercado


subprime acabou se dissipando para mercado imobiliário como todo em face que
com o não pagamento das hipotecas resultou em uma queda do preço das casas, e,
21
GUANDALINI, Giuliano. O mundo pós crise como usar. Revista Veja , Editora Abril , São Paulo, nº
2.130, p.124, 16 de setembro de 2009.
96
portanto não se justificava o pagamento das hipotecas, pois o financiamento estava
bem acima do valor atual dos imóveis.
Salienta-se a análise do Secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner,
no tocante as vulnerabilidades do consumo e o endividamento excessivo nos países
ricos principalmente os Estados Unidos e a segunda falha a de regulação do sistema
financeiro.
Nosso desafio central será fazer com que as vulnerabilidades em nosso
sistema que originaram essa recessão não causem uma nova crise". As
"vulnerabilidades" a que Geithner se refere podem ser resumidas a du-
as. A primeira abrange o consumo e o endividamento excessivos nos
paises ricos, principalmente naqueles que cresceram acima de suas pos-
sibilidades nos últimos anos, sendo os Estados Unidos o caso mais notório.
A segunda falha foi a de regulação do sistema financeiro. Os bancos se
valeram de brechas legais para erigir um sistema financeiro paralelo,
baseado em garantias frágeis e impulsionado pela disseminação de contra-
tos derivativos, multiplicando a concessão de financiamentos,
inflando bolhas e aprofundando ainda mais o endividamento (O mundo
22
pós crise como usar, 2009, p.124) .

Por outro lado, a análise sobre a probabilidade sobre o duplo mergulho é de


fundamental importância para entender o contexto da atual dimensão da crise
mundial em relação aos anos 80 (FISLOW,2011,p.11-12).
Parece haver apenas uma dimensão em que faz sentido a comparação
entre os anos 1980 e o presente. Trata-se do investimento residencial como
elemento dominante do declínio em ambos os casos, bem como a
recuperação temporária em 1980. Antes nos anos 1980, haviam ocorrido fa-
lências de bancos e dificuldades com intermediários de poupança e
empréstimos, mas a dimensão do problema foi limitada.
[...] Pode-se ver claramente a breve melhoria em 1980, seguida do reinício
da queda em 1981, levando ao segundo , e ,mais grave, declínio. Mas este
chegou ao fim no início de 1983, levando à recuperação que ocorreu então.
Não aconteceu uma reversão semelhante no segundo caso, até ocorrer
uma melhora ínfima em 2009. Uma razão dessa melhoria foi o desconto
especial de impostos federais para encorajar os proprietários de
residências. Esse desconto terminou, e estão sendo pensados novos
esforços para lidar com o problema. Alguns não preveem o nível mais baixo
antes de 2013 e, depois disso, apenas lenta melhoria.
Os números para o início de novas construções residenciais estão no
momento no menor nível desde que há registro, uma fração do que já
foram, apesar do aumento da população. Esse declínio tem duplo efeito.
Por um lado, o nível de investimento caiu tanto que qualquer queda que
ainda possa ocorrer terá efeito mínimo sobre a atividade econômica
subsequente. Por outro lado, dado o grande número de imóveis
desocupados, e a continuação da tomada das residências de inadimplentes,
não se pode esperar que venha logo uma recuperação imobiliária que sirva
de base para uma grande expansão econômica subsequente, como
frequentemente aconteceu no passado com o investimento imobiliário
residencial.

22
GUANDALINI, Giuliano.O mundo pós crise como usar. Revista Veja, Editora Abril, São Paulo, nº
2.130, p.124, 16 de setembro de 2009.
97
A dimensão geográfica do problema é maior no presente que no passado.
Existe uma concentração geográfica maior da perda de residências por
inadimplência nos anos recentes, em comparação com os anos 1980.
[....] Finalmente, uma diferença significativa entre os dois ciclos residenciais
foi o papel do aumento de preços das residências na bolha recente,
comparado com a experiência anterior. Não houve ganhos reais até os anos
1980, e ai eles acabaram. No período recente, os proprietários de
residências obtiveram ganhos de capital importantes e contínuos, que se
traduziram em poupança pessoal reduzida e demanda crescente por bens
de consumo durável. Isso abriu a oportunidade para importação abundantes
e sancionou a reduzida atividade manufatureira doméstica. A redução de
impostos e as guerras no Iraque e no Afeganistão se traduziram em déficts
crescentes financiados pelo exterior.

O risco de uma deflagração de uma crise imobiliária no Brasil não será


iniciada através do risco de crédito, pois a Caixa Econômica Federal, sendo a maior
financiadora de crédito imobiliário no Brasil, “utiliza a metodologia credit score para
avaliar os clientes promitentes de crédito habitacional para objetivar a concessão do
crédito no sentido de criar uma carteira de financiamento equilibrada entre risco e
23
rentabilidade” segundo (Marinho,2003) Portanto, diferentemente da crise
imobiliária nos Estados Unidos,a qual se iniciou no mercado subprime.
E então de onde poderá deflagrar a crise imobiliária no Brasil ? Através da
alta no valor dos imóveis após 2009, pois dificulta a aquisição de novos
empreendimentos em face de que consumidores cuja renda e capacidade de
endividamento não aumentaram na mesma velocidade.
Nos últimos seis anos, com o destravamento do crédito imobiliário, cerca
de 1 milhão de famílias brasileiras conseguiram realizar esse sonho. Como
as incorporadoras passaram a lançar prédios e loteamentos cada vez mais
luxuosos e confortáveis, intensificou-se o costume de medir o status social
de uma pessoa com base no número de metros quadrados e na localização
do imóvel em que mora. À medida que o tempo foi passando, o aumento
da demanda começou a elevar os preços num ritmo alucinante. Em 2009, a
alta no valor dos imóveis no país foi de 22%, a terceira maior do mundo.
Na época, não faltaram previsões de que não havia espaço para mais au-
mentos. Veio 2010, a valorização chegou a 25% e o Brasil com o primeiro
lugar no ranking das maiores altas. Nesse processo, o mercado imobiliário
brasileiro se tornou o mais caro da América Latina. Quem comprou sua ca-
sa antes do boom viu seu patrimônio dar um salto. E milhões se sentiram
deixados para trás - gente cuja renda e capacidade de endividamento
não aumentaram na mesma velocidade dos preços ou, ainda mais frus-
tante pessoas que pensaram demais e acabaram atropeladas pela avalan-
che.
[...] Nos 12 meses encerrados em março, a alta media dos imóveis foi de

23
MARINHO, Marcelita Marques. Análise de risco de crédito para financiamento imobiliário em países
emergentes. Revista Tecnologia do Crédito, Edição nº 38

98
23%, a segunda maior do mundo – só perdemos para a Índia. Mas talvez
a observação mais importante diga a respeito aos últimos seis meses. Fi-
ca claro que o ritmo louco de valorização parece estar perdendo fôlego.
Nesse período, a alta foi de 8,4%, número ainda robusto, mas bem menor
do que os de 13,5% do mesmo período um ano antes. A desaceleração fi-
ca evidente em seis das principais capitais brasileiras : São Paulo, Rio de
24
Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza.

Ressalta-se que além dessa bolha há um risco considerável no que se refere


ao processo de desindustrialização ,e, portanto na perda de geração de empregos ,
impactando no crescimento econômico. Neste contexto, a perda de emprego
resultaria na inadimplência do financiamento imobiliário, e, portanto a retomada dos
imóveis pelas instituições financeiras, refletindo na maior oferta e queda dos preços
imóveis, o que resultaria em uma crise no crédito imobiliário em face do incremento
da inadimplência.

Gráfico 28 – Volume do crédito imobiliário no Brasil (R$ milhões) e


Crédito Imobiliário (% PIB) – 2007 - 2012

350 000 8,00%

300 000 7,00%


6,00%
250 000
5,00%
200 000
4,00%
150 000
3,00%
100 000
2,00%
50 000 1,00%
0 0,00%
2007 2008 2009 2010 2011 2012
Crédito Imobiliário 45 852 63 268 91 862 138 778 200 494 298 314
Crédito Imobiliário/PIB 1,72% 2,09% 2,84% 3,68% 4,84% 6,78%

Fonte : Banco Central do Brasil

A tabela 5 demonstra a baixa representatividade do crédito imobiliário em


percentual do PIB quando comparado principalmente com os Estados Unidos.

24
NAPOLITANO, Giuliana ; MEYER, Carolina ; STEFANO, Fabiane. A hora é de comprar ou vender
?. Revista Exame, Editora Abril, São Paulo, Edição nº 1017, p.41-42, 30 de maio de 2012.
99
Tabela 5: Crédito Imobiliário 2011 - (% PIB)

País
Brasil 4,84%
Itália 22,90%
Alemanha 37,70%
França 39,80%
Área do Euro 40,20%
Espanha 61,20%
Holanda 66,10%
Estados Unidos 70,30%
Fonte : Banco Central do Brasil
A política de expansão do crédito foi muito benéfica para o crescimento
econômico do país, entretanto não produzirá mais resultados satisfatórios em face
dos limites estruturais já salientados. O volume de crédito do setor privado atingiu
em junho de 2013 o montante de R$ 2,397 trilhões, ou seja, um crescimento de
6,58% em relação a dezembro de 2012.
O crédito imobiliário atingiu em maio de 2012 o montante de R$ 229 bilhões,
entretanto diminuiu o ímpeto do consumidor de adquirir imóveis em face do atual
nível de endividamento e do crescimento da economia.

O ritmo mais modesto da economia (o produto interno bruto cresceu 2,7%


no ano passado e a estimativa é de um número não muito diferente neste
ano) tem impacto diferente no mercado imobiliário. De maneira geral, os
preços aumentaram bem mais que a massa salarial. Nem a queda dos ju-
ros dos empréstimos imobiliários – que, em média, passaram de 14%, em
2006, para 9%, neste ano – conseguiu compensar. Em São Paulo e no
Rio de Janeiro, os imóveis valorizaram, em média, entre 80% e 110% nos
últimos quatro anos. Há casos em que os valores mais que triplicaram.
Nesse mesmo período, o rendimento da população cresceu menos de
30%. E o endividamento do brasileiro pulou de 27% da renda anual em
2007 para os atuais 44%.
Diante de consumidores já não tão dispostos a pagar qualquer preço por
um imóvel, as construtoras voltaram às pranchetas e reviram seus pla-
nos para 2012. As 11 construtoras de capital aberto do país devem lançar
empreendimentos que equivalem a 41 bilhões de reais em vendas. Embo-
ra o montante seja superior ao do ano passado, há uma nítida brecada no
ritmo. Desde 2009, os lançamentos vinham crescendo 20% ao ano. A al-
ta agora foi de 2,5%. O motivo de desaceleração nos lançamentos é o es-
toque anual de imóveis não vendidos, estimados em 30 bilhões de reais,
o mais alto da história do país. Em função disso, a expectativa é que nos
próximos meses a maior parte das incorporadoras centre esforços para
liquidar os imóveis. Empresas como Gafisa, Even e Trisul têm oferecido
25
descontos de até 30% em alguns empreendimentos.

25
NAPOLITANO, Giuliana ; MEYER, Carolina ; STEFANO, Fabiane. A hora é de comprar ou vender
?. Revista Exame, Editora Abril, São Paulo, Edição nº 1017, p.41-42, 30 de maio de 2012. .
100
Ressalta-se, ainda, que desde 2006 o consumidor que tem um financiamento
imobiliário num banco imobiliário pode transferir a dívida para outra instituição se as
condições forem melhores, entretanto deve se avaliar se a economia a ser feita com
o pagamento dos juros compensa as taxas que bancos e cartórios cobram para
fazer a transação em face que o custo estimado é de 1%.
Salienta-se, ainda, a análise do professor Reinaldo Gonçalves no que se
refere ao risco da especulação no mercado imobiliário se transformar em bolha26.
Outro dado que merece atenção: o crédito imobiliário. Em 2003 a Caixa
Econômica Federal concedeu R$ 5 bilhões em crédito imobiliário em 250 mil
contratos. Em 2010 o volume de contratos foi cinco vezes maior, ótimo
resultado, aumentou o número de compradores de imóveis, mas totalizaram
R$ 78 bilhões. O valor médio do financiamento aumentou mais de 200%.
Muito acima do reajuste salarial e quatro vezes o índice acumulado de
inflação. O risco da especulação no mercado imobiliário se transformar em
bolha não é desprezível.

Outro problema a ser salientado no setor imobiliário resultou no incremento


significativo de demanda por imóveis de 2008 a 2012, refletindo em uma série de
gargalos, mão de obra escassa e alta nos preços de matéria primas.
O modelo de crescimento baseado no consumo é um limitador estrutural ao
crescimento econômico em face das outras limitações estruturais já salientadas,
refletindo no baixo crescimento econômico do PIB ,e, portanto na elevação da
inadimplência e de endividamento.
O consumo perde o fôlego ainda porque as famílias estão com elevados
nível de endividamento e inadimplência. Dados do Ipea apontam que o
comprometimento de renda mensal das famílias com o serviço das dívidas
(com ajuste sazonal) também apresenta tendência de alta no último ano.
Em abril do ano passado, o serviço das dívidas representava 19,8% da
renda mensal e passou para mais de 22,1% da renda mensal em abril de
27
2012.

A questão central neste tópico foi que a política de expansão do crédito


contribuiu para o incremento do crescimento econômico, entretanto evidencia-se o
modelo de esgotamento em face das limitações estruturais do crescimento
econômico aliado ao alto nível de comprometimento de renda do consumidor
brasileiro. Por outro lado, abordou que apesar do crédito imobiliário no Brasil ter um
baixo percentual do PIB quando comparado aos Estados Unidos é muito

26
GONÇALVES, R, A herança lula: o passivo externo do Brasil, 2 de março de 2012. Acesso em 22 de agosto
de 2012. Disponível http://vermelhosnao.blogspot.com.br/2012/03/heranca-lula-o-passivo-externo-
do.html
27
Oliveira, Fabiana, Para IPEA modelo de crescimento baseado no consumo está esgotado
htpp://oglobo.oglobo.com/economia/para-ipea-modelo-de-crescimento-baseado-no-consumo-está-
esgotado acesso 20/07/2012.
101
preocupante, em face da combinação de baixo crescimento da renda aliada ao fato
de uma taxa de juros ser maior. Além disso, evidencia-se uma existência de uma
bolha imobiliária no Brasil em face da alta valorização dos preços dos imóveis de
2012 em relação a 2007 aliada ainda a um alto risco em função de que o valor
médio do financiamento foi bem superior ao reajuste salarial e a inflação do período.
• A dinâmica do poder da década de 1970 a 2012

Este tópico será fundamental para diferenciar a limitação estrutural do Brasil


da década de 80 com relação ao período de 2006 a 2012. Além disso, avalia a
dinâmica do poder do Plano Marshall ao século XXI e as suas consequências.
Em primeiro lugar, a natureza hierárquica e assimétrica do poder interna-
nacional é reflexo do Acordo de Bretton Woods e posteriormente a sua ruptura
aumentou ainda mais o poder dos Estados Unidos no tocante a hegemonia de
políticas : a cambial, a monetária, a fiscal, a expansão do crédito e de residencial.
O Acordo de Bretton Woods após a segunda guerra mundial possibilitou
aos Estados Unidos ampliar a hegemonia no pós-guerra em face de oficial-
mente o dólar ter se transformado em reserva internacional, ou seja, o dólar ficou
vinculado ao ouro. Assim, as demais moedas deveriam se alinhar ao dólar,
tornando-se convertíveis as taxas de cambio relativamente fixas. Mas, na
realidade, o Plano Marshall e o Acordo de Bretton Woods foram utilizados para
ampliar e fortalecer o capitalismo e o poder dos Estados Unidos.
O Plano Marshall surge da necessidade de os Estados Unidos através do
então Secretário de Estado George Marshall de elaborar um plano econômico cujo
objetivo era possibilitar a reconstrução dos países capitalistas, sendo que o maior
volume de empréstimos foram concedidos ao Reino Unido, França e Alemanha
Ocidental. Quais as reais objetivos dos Estados Unidos ? Primeiro, que o Plano
Marshall foi exitoso e possibilitou, nas décadas de 1950 e 1960, a recuperação
econômica dos alusivos países refletindo no aumento das exportações norte-
americanas para a Europa Ocidental, além de expandir a influência política dos EUA
sobre a região. E segundo, também muito importante fazer frente ao socialismo
durante a Guerra Fria.
Segundo a análise de (BURSTEIN, 1988,p.63) os Estados Unidos exerceram
o poder através de suas multinacionais aproveitaram com eficácia a relação com a
Europa ocidental nas décadas de 50 e 60.

102
A analogia adequada ao caso é a do relacionamento dos Estados Unidos
com a Europa ocidental nas décadas de 50 e 60. O domínio dos merca-
dos do Atlântico pelas multinacionais americanas e a imensa vantagem
política obtida na Europa estiveram indissoluvelmente ligados à ascensão
são dos Estados Unidos à supremacia mundial. Embora algumas das
nações europeias estivessem entre as mais fortes do mundo, os líderes
europeus – dos gaulistas aos socialistas – criticaram com frequência sua
exploração em mãos americanas.

É fundamental para evidenciar a estratégia americana de poder em relação à


Alemanha Ocidental (BATISTA,1994,p.15).
Em 1946, os Estados Unidos reagiriam ainda mais prontamente que ao fi-
nal da I Guerra Mundial. Das dívidas contraídas pela Inglaterra e pela Uni-
ão Soviética sob o Programa "Lend-lease" cobrariam apenas 5% e 10% do
seu valor, ou seja, perdoariam US$ 20,5 bilhões no primeiro caso e US$ 10
bilhões no segundo. Somadas, tais cifras equivaliam a cerca de 15% do
PIB norte-americano na ocasião, ou seja, corresponderiam, em valores a-
tuais, à impressionante cifra de US$ 750 bilhões.
Em 1953, os Estados Unidos acabariam mais uma vez por não reivindicar
reparações da Alemanha novamente derrotada. Interessados na recupera-
ção da República Federal, no contexto da guerra fria, Washington reduziria
em 2/3 a dívida alemã de pré-guerra e concederia mais 35 anos de prazo
para amortização, a juros favorecidos, do saldo remanescente de 1/3. Isso
não obstante tratar-se de dívida que havia sido objeto de moratória unilate-
ral, ao ter a Alemanha suspendido seu pagamento vinte anos antes.

As razões fundamentais para a rápida recuperação econômica da Alemanha


Ocidental podem ser encontradas no modelo de crescimento exógeno. A Alemanha
Ocidental tinha uma força de trabalho qualificada e um elevado nível tecnológico em
1946, mas o seu capital produtivo (indústrias) fora amplamente destruído durante a
guerra.
Para avaliar a dimensão dos obstáculos da Alemanha Ocidental no que se
refere ao pequeno estoque de capital, bem como a conversão de problemas
monetários e a necessidade de regulamentação para voltar a se inserir no mercado
internacional com poder econômico.
Após a guerra, a produção industrial da Alemanha ficou restrita a 30% do
volume alcançado antes de 1939, as dívidas pressionavam e havia um ex-
cesso de dinheiro em circulação, o que acabou minando a autoridade da
28
moeda como indicador de poder aquisitivo.

A arquitetura da rápida recuperação econômica foi feita pelo economista


Wilhelm Hankel, a qual se fundamentou inicialmente com a reforma monetária de
1948, a qual substituiu o reischsmark pelo marco alemão como moeda, impedindo a

28
EFE,Alemanha lembra 60 anos do marco, símbolo do milagre econômico. htpp: //economia.uol.com.
br/ultnot/2008/06/20/ acesso 20/07/2012
103
inflação galopante. A alusiva reforma monetária de 1948 possibilitou uma rápida
virada do crescimento e da estabilidade, pois a nova moeda foi acompanhada por
uma ampla reforma do sistema, a qual significou o retorno à economia de livre
mercado e teve como um dos alicerces fundamentais o Plano Marshall. Pois, se
consubstanciou como um dos pilares da estratégia dos Estados Unidos através do
financiamento da recuperação da Alemanha Ocidental sem uma contrapartida de
exigência de um volume significativo das reparações econômica, as quais
desestabilizariam a economia alemã.
Outro ponto a ser salientado, o qual possiblitou o aumento do PIB da
Alemanha Ocidental foi baseada na elevada taxa de investimento de capital, graças
ao baixo consumo e uma necessidade muito pequena de investimentos em
substituição de capital (devido ao estoque de capital ainda pequeno) dirigiu esta
recuperação durante a década de 1950 aliada a alta qualificação de mão de obra, a
qual resultou no incremento da produtividade, refletindo em grandes superávits
comerciais baseada em produtos de alta tecnologia.
No tocante a entrada do Japão na dinâmica do poder segundo os arquitetos
da economia japonesa do pós-guerra (BURSTEIN, 1988,p.139).
Dos escombros da Segunda Guerra Mundial, surgiram três alternativas
óbvias para a reconstrução. O Japão poderia apelar para o investimento di-
reto estrangeiro (isto é americano), poderia apelar tomar empréstimo no ex-
terior e endividar-se pesadamente, poderia estatizar o que tivesse restado
de sua estrutura industrial e adotar um modelo centralizado de capitalismo
de Estado. A maioria dos países da Europa ocidental recorreu a um desses
mecanismos ou a todos eles, contando ao mesmo tempo com o Plano
Marshall, criado pelos americanos para recuperar suas economias devasta-
das.

Além disso, evidenciou-se uma dificuldade do Japão de obter empréstimo


através do Plano Marshall. (BURSTEIN, 1988,p.140)

O Japão não optou por nenhuma dessas hipóteses. Em parte porque o capi-
tal estrangeiro não estava facilmente disponível para ele. Os americanos
lhe deram ajuda substancial na reconstrução, mas não havia Plano
Marshall para o Japão. Até o final da década de 60, os financistas america-
nos ainda tinham dúvidas sobre se o Japão merecia crédito. Nobuya Hagu-
ra, presidente do Banco Daí-Ichi Kangyo (atualmente o maior banco do
do, com ativos superiores a 250 bilhões de dólares), lembra-se bem do pe-
ríodo entre 1965 e 1968, quando foi transferido para Nova York. Naquela
ocasião, “minha principal função era conseguir empréstimos dos bancos do
do centro financeiro”, ele conta. “ Não era fácil. Eu passava o tempo todo
tentando convencê-los de que o Japão era bom investimento de risco.

Ressalta-se ainda a avaliação feita por (BURSTEIN, 1988,p.140) no que


tange a estratégia do Japão para alcançar o degrau de nação com poder econômico.
104
Mesmo que o capital estrangeiro tivesse sido mais abundante, não se
pode estar certo de que o Japão teria optado por depender dele. Os
japoneses não queriam que os estrangeiros conquistassem uma
influência indevida sobre sua economia ; também não estavam
particularmente dispostos a dividir a futura riqueza, pois tinham certeza de
que ia chegar o dia em que seriam prósperos novamente. Até década de
80, o Japão tinha um dos climas mais inóspitos para o capital externo,
obrigando as companhias estrangeiras a fazer associações com empresas
locais, sujeitando-as a uma vasta gama de controles e proibindo-as de
remeter lucros à matriz. Sob tais circunstâncias, mesmo as companhias
americanas que tinham desempenhado papel proeminente no Japão antes
da guerra – como a Ford e a General Motors, as líderes do mercado
automobilístico japonês na década de 30 – jamais conseguiram
reconquistar sua posição.

Além disso, esta visão estratégica tinha como fundamento outro pilar a
geração excedente próprio de capital (BURSTEIN, 1988,p.140).
Em vez de recorrer ao capital estrangeiro, os planejadores do pós-guerra
optaram pela adoção de medidas que levassem o Japão a gerar excedentes
próprios de capital através da poupança e do comércio. O excedente, por
sua vez, seria aumentado à medida que a indústria japonesa subisse os de-
graus de especialização e da tecnologia, capacitando-se a concorrer com
os líderes industriais do mundo.

No entendimento de (BURSTEIN,1988,p.142-143) o grande diferencial estra-


tégico da economia japonesa se fundamentava em uma excepcional capacidade
de geração de poupança.
Inspirada em Confúcio, a vocação cultural da frugalidade proporcionou
uma base sólida para os arquitetos da economia montarem as estruturas da
política que promovia a poupança. Mas tanto comparando a taxa de
poupança da unidade domiciliar japonesa, que deu em média mais de
15% da renda pessoal na década de 80, com a sofrível média americana de
6% no mesmo período quando considerando a poupança nacional bruta do
Japão (reunião de todos os tipos de poupança – pessoal, empresarial e
governamental), que é de 30% e, portanto, o dobro da americana, percebe-
se que a grande diferença entre os dois países não pode ser atribuída
apenas ao fator cultural japonês. Antes da Segunda Guerra Mundial, as
taxas de poupança americanas e japonesas eram mais ou menos
equivalentes.

Por outro lado, avalia o diferencial do contrato social japonês como outro
diferencial em termos de competitividade (BURSTEIN, 1988,p.145-146).

Por outra cláusula singular do contrato social japonês, o cidadão não


apenas é convocado a poupar a mais alta porcentagem mundial sobre
os seus ganhos: também se espera dele que aceite em troca os
rendimentos mais microscópicos do mundo. Pagando aos depositantes
taxas tão baixas, as instituições bancárias podem dar-se o luxo de
emprestar dinheiro às empresas e ao governo a preços de liquidação.

105
É avaliada a vantagem de uma indústria em que o custo do capital é
comparativamente muito mais baixo do que os níveis praticados no resto do mundo
(BURSTEIN, 1988,p.146).
Quando a indústria pode tomar dinheiro a custo baixo para expandir-se, o
caminho para novos investimentos é facilitado. Os custos mais baixos dos
empréstimos é facilitado. Os custos mais baixos dos empréstimos redu-
zem o risco a que se submetem as companhias japonesas quando cons-
troem novas fábricas, investem em equipamentos de produção ou se lan-
çam em novos setores. Os americanos, presos na armadilha das projeções
“dos fluxos de caixa descontado”, deixam de fazer novos empréstimos
não porque não sejam potencialmente rentáveis, mas porque os
executivos financeiros não podem provar que serão rentáveis o suficiente
para justificar os altos custos de empréstimos. A indústria japonesa
sempre esteve em posição de vantagem por causa de capital. Só que,
agora, essa vantagem assumiu nova dimensão. Hoje, os japoneses podem
tomar empréstimos a juros baixos junto de seus banqueiros em Tóquio e
Osaka para expandir seus negócios dentro dos Estados Unidos. Uma das
explicações clássicas para a competitividade do Japão no pós-guerra diz
que, ao reconstruir uma economia bombardeada a partir de zero, os
japoneses conseguiram introduzir equipamentos modernos, enquanto as
fábricas americanas, que escaparam incólumes à destruição no período,
ficaram marcando passo com materiais obsoletos. Décadas mais tarde, po-
demos passar esse hiato de tecnologia por uma revisão – mas com as du-
as partes trabalhando dentro das fronteiras americanas. À medida que os
fabricantes de automóveis procuram manter sua participação no mercado
interno, concorrendo com a Toyota do Kentuchy, com a Nissan do Tenes-
see e com a Honda de Ohio, eles estarão lutando contra as empresas que
podem financiar, com evidente vantagem de custos, a instalação da próxi-
ma geração de tecnologia produtiva.

Da mesma forma é avaliada a vantagem do governo japonês ao se financiar


com taxa de juros comparativamente muito mais baixa do que os níveis praticados
no resto do mundo (BURSTEIN, 1988,p.147).
Assim como a indústria, também o governo japonês pode conseguir fundos
mediante empréstimos mais baratos do que os oferecidos a quaisquer ou-
tros governos. Embora o endividamento de Tóquio seja compatível ao de
Washington em termos de porcentagem do PNB, o déficit japonês não pro-
voca nenhuma crise – em parte, porque o serviço da dívida é muito mais
baixo. O Ministério das Finanças financia o déficit de Tóquio com títulos de
longo prazo que rendem 5%, enquanto o Tesouro dos Estados Unidos pre-
cisa oferecer 9% de modo a atrair investidores para seus títulos longos. As
implicações desse diferencial são particularmente sombrias quando se e-
xaminam os desafios futuros em pesquisa científica e infraestrutura, en-
volvendo projetos caros e que só podem ser viabilizados se endossados
por governos nacionais. O equilíbrio no setor de alta tecnologia será radi-
calmente alterado se o Japão investir em ônibius espaciais, em comercia-
lização de supercondutores, em mapeamento genético e biotecnologia com
dinheiro a 5%, enquanto os Estados Unidos pagam o dobro pelos emprésti-
mos que tomam.

Posteriormente, é analisada a vantagem das instituições financeiras japone-


sas em face do menor custo do dinheiro (BURSTEIN, 1988,p.147).

106
À medida que as instituições financeiras do Japão se expandem pelo plane-
ta, a vantagem do custo de capital mais do que compensa a falta de perícia
em novos setores de risco das finanças mundiais em que estão entrando
pela primeira vez. Tomando dinheiro barato em casa e emprestando alto no
exterior, as instituições financeiras podem comprar o tempo de que neces-
sitam para aprender a arte de negociar, pagando o preço da inexperiência
As corretoras de títulos japonesas já estão sendo acusadas de fazer dum-
ping nos serviços financeiros, envolvendo-se em negócios conhecidos co-
mo operações harakiri : dão lances em leilões de títulos que não apenas a-
pontam para rendimentos magros, mas podem até resultar em prejuízos –
subsidiados, naturalmente pela matriz. Esse é um meio excelente para atra-
ir alguns dos clientes mais importantes do mundo.
Manter baixos os custos de capital no Japão teria sido impossível sem con-
trole rígidos. Obviamente, se os bancos estrangeiros tivessem podido ope-
rar livremente no mercado de Tóquio ou se as companhias japonesas fos-
sem livres para investir suas poupanças à vontade no exterior, o Ministério
das Finanças e o Banco do Japão teriam perdido o poder de ditar as taxas
de juros. A interação do mundo financeiro japonês com as forças estrangei-
ras foi, por conseguinte, rigidamente proibida até pouco tempo atrás.
[.....] Foi no início da década de 80 que as seguradoras japonesas começa-
ram a investir no exterior. Após diversas rodadas de medidas liberalizantes,
elas ainda precisam manter 70% de seus ativos em casa, embora os 30%
que aplicam no exterior as tenham colocado entre os maiores investidores
em títulos do Tesouro americano e imóveis.

Outro componente da estratégia japonesa além do controle da taxa de juros


sob controle governamental foi uma rígida segmentação das instituições financeiras,
a qual possibilitou ao longo da história sustentar o fluxo de capital do país em
constante equilíbrio (BURSTEIN, 1988,p.148 - 151).
Como parte do processo de reconstrução do sistema financeiro japonês de-
pois da guerra, o artigo 65 copiou a Lei Glass-Steagall dos americanos, er-
guendo um muro para separar bancos e corretoras de valores. Mas os ja-
poneses foram ainda mais longe. Os bancos foram limitados a áreas espe-
cíficas de operação, o que os manteve bem afastado uns dos outros. Essas
categorias incluem os gigantescos bancos de varejo (city banks), que lide-
ram a lista dos maiores do mundo, como o Daí-Ichi Kangyo, o Fuji, o Sumi-
tono, o Mitsubishi, o Mitsui e assim por diante : os bancos de crédito de
longo prazo; os trust Banks, que administram fortunas e bens sob curatela;
os regionais. Os bancos de varejo podiam fazer empréstimos, mas apenas
os de curto prazo; os bancos de crédito de longo prazo podiam financiar a
expansão das empresas, mas não podiam aceitar depósitos públicos, como
era permitido aos bancos de varejo. Apenas o Banco de Tóquio tinha licen-
ça de operar em moeda estrangeira: os trust banks eram os únicos a admi-
nistrar fundos de pensão e assim por diante, numa lista enorme de catego-
rias cujas fronteiras foram cuidadosamente delimitadas – hoje quase todas
elas estão passando por alguma forma de liberalização.
[....] Com a segmentação hierarquizada e os rígidos controles do mundo fi-
nanceiro japonês, o investidor foi privado de taxas de juros competitivas, a
maioria das empresas foi levada a depender de um único “banco primário” e
a diversificação do mercado foi retardada. Mas a estrutura serviu ao propó-
sito da estabilidade: a falência de bancos é algo quase desconhecido no Ja-
pão, embora o capital exigido e a proporção de empréstimos sejam conside-
rados de alto risco pelos padrões ocidentais. A oferta interna de capital pôde
crescer sem temer um dos piores problemas dos países em desenvolvimen-
to – a “fuga” do dinheiro para mercados de retorno mais elevado.
[....] No entanto, passados quatro anos desde que Tóquio deu início à aber-
tura e apesar das enormes transferências de fundos para os setores de ma-
107
ior rendimento, a taxa de desconto no Japão era a mais baixa de sua histó-
ria e a mais baixa do mundo.

Outro fator estrutural foi a formação dos excedentes de capital advindos da


balança comercial (BURSTEIN, 1988,p.151-152).
Ao lado das altas taxas de poupança e dos controles sobre o ambiente fi-
nanceiro, a força mais determinante a contribuir para a formação dos exce-
dentes de capital japonês nos últimos anos tem sido o vertiginoso superá-
vit da balança comercial do Japão em relação aos Estados Unidos e ao res-
to do mundo.
Desde o exato momento em que foi iniciado o processo de crescimento do
Japão no pós-guerra, seus planejadores objetivaram uma economia que se-
ria “antiimportação” e pró-exportação. [...] Nós sabíamos que o caminho ia
ser longo até podernos criar um excedente comercial, pois tínhamos de im-
portar toda a nossa matéria prima. Mas também sabíamos que, se impor-
tássemos apenas as coisas absolutamente indispensáveis e tratássemos
de obter tudo o mais por nossos próprios meios, acabaríamos criando uma
indústria local que poderia concorrer no mercado internacional. Com o tem-
po, tivemos a certeza de que conseguiríamos criar um excedente. Ele po-
deria, então, ser reinvestido para gerar um excedente maior”.

A visão estratégica aliada aos fatores estruturais já comentados e o


investimento em qualidade através do programa Deming permitiu ao Japão reverter
à relação de déficit comercial para um superávit estrutural comercial permanente a
partir de 1964 (BURSTEIN, 1988,p.152).
Por incrível que isso possa parecer hoje, o Japão apresentou déficit comer-
cial em relação aos Estados Unidos todos os anos desde 1955 a 1964. Em
1957, a Comissão de Meios do Congresso chegou até produzir relatórios
sobre a “crise” comercial nipo-americana – com essa expressão, os mem-
bros do comitê referiam-se ao pesado déficit comercial do Japão diante dos
Estados Unidos. Mas 1964 foi o divisor de águas. A tocha olímpica ardeu
marcando a volta do país ao rol das economias avançadas. Em 1965, o Ja-
pão lançou um pequeno excedente comercial em sua contabilidade. Em
1972, quando o país registrou um excedente comercial global de 5 bilhões
de dólares, em sua conta total de comércio pós-guerra saiu do vermelho.
Agora, o volume de dinheiro que havia entrado como resultado das vendas
de exportação era maior do que o que havia saído com a compra de impor-
tado desde 1955.

Por outro lado, a política fiscal expansionista a partir da década de 60, a qual
resultou em déficits orçamentários significativos,e, portanto para financiar o alusivo
desequilíbrio das finanças públicas o Banco Central Americano aumentou a emissão
de dólares, resultando na criação de problemas aos restantes países membros do
Acordo de Bretton Woods, porque os obrigava a emitir suas próprias moedas para
manterem o cambio “fixo”, criando pressões inflacionistas na sua economia, e por
outro, associado a uma degradação da conta corrente norte-americana, com as
importações crescendo mais rápido do que as exportações. Neste contexto, a

108
quantidade de dólares passou a exceder o estoque de ouro gerando uma crise de
confiança dos outros países de deter dólares.
A pressão foi aumentando no que se refere à perda de reservas em ouro e,
portanto, o então presidente Nixon pôs fim ao acordo de Bretton Woods e à
conversibilidade do dólar em relação ao ouro.
O processo de valorização do iene em face do fim do Acordo de Bretton
Woods não causou problemas a economia em face da visão estratégica dos
arquitetos da economia japonesa. (BURSTEIN, 1988,p.179-180).
O “choque Nixon” acabara de ocorrer, desligando o dólar americano do
lastro em ouro e engatilhando uma enorme desvalorização do dinheiro
americano frente a outras moedas de circulação mundial. O iene era cota-
do, então a 360 por dólar. Sob intensa pressão dos Estados Unidos, os
negociadores japoneses aceitaram relutantemente uma alta de quase 17%
do iene, que passou a valer 308 por dólar.
[....] Mas era a lógica americana que sugeria tal conclusão,não é a lógica
japonesa. Os americanos tendiam a ver o assunto de modo absolutamente
rígido – ou dólar fraco ou o iene forte. Os japoneses tendiam a observar as
sutilezas entre uma coisa e outra, mais preocupados com a velocidade da
mudança do que com a mudança em si. Se os Estados Unidos insistiam
em forçar o iene para cima e o dólar para baixo, poucos especialistas japo-
neses acreditavam que a tendência pudesse ser brecada.
Contudo, podia ser administrada. “ Não temos medo de um determinado
nível abstrato das taxas”, observou Yoshio Suzuki, um economista do
Banco de Tóquio, depois que o dólar já tinha escorregado para menos de
140 ienes. O que tememos é não ter tempo para fazer os ajustes”

Além da valorização do iene a economia japonesa sofreu os efeitos dos


primeiro e segundo choque do petróleo de 1979, entretanto o Japão se ajustou
rapidamente (BURSTEIN, 1988,p.152-154).
De novo, o Japão ajustou-se rapidamente, com o mesmo tipo de medidas
de emergência que já havia adotado. Apesar de um déficit comercial recor-
de quase 11 bilhões de dólares em 1980, ele recuperou excedentes em
1981.
Os ajustamentos feitos na economia em consequência dos dois choques
de petróleo prepararam o terreno para a partida e a decolagem do que de-
pois seria conhecido como o milagre financeiro japonês. A indústria japo-
nesa agora estava pronta para disparar como a força mais competitiva do
comércio mundial não só nos setores da indústria tradicional, mas também
em uma enorme gama de atividades que incluía setores de alta tecnologia.
[....] Com o desdobramento de uma série de eventos internacionais, foi
possível aos japoneses tirar o máximo partido da posição conquistada -
uma vantagem maior do que a imaginada em seus sonhos mais utópicos e
que deixou o resto do mundo pasmo.
A primeira benção foi a política econômica de Reagan. Se ela não tivesse
evitado, os japoneses teriam adotado inventá-la. Isso, porém, era algo que
eles provavelmente não teriam ousado fazer, por temor de que fossem ob-
vios, demais o favorecimento ao Japão e o prejuízo para os Estados Uni-
dos. As políticas iniciais do governo Reagan tiveram o efeito de estimular
a demanda interna nos Estados Unidos, mediante cortes fiscais incidentes
no setor da oferta e rápido crescimento dos gastos governamentais. Tal
demanda não podia ser totalmente atendida pela indústria dos Estados
109
Unidos, que há anos vinha encolhendo, desinvestindo e “esvaziando” de
de diversas maneiras sua capacidade de produção.
Os economistas japoneses acharam profundamente estranho que um pre-
sidente americano comprometido com princípios conservadores executas-
se o que era obviamente uma política “sem precedentes de estímulo á de-
manda, à moda Keynesiana”, conforme definida pelo economista Jiro To-
Kujama. Mais estranho ainda era o fato de os Estados Unidos lançarem
tal estímulo – que levou o mundo todo na onda – quando suas próprias in-
dústrias estavam mal preparadas para aproveitar a oportunidade. O Japão,
por outro lado, estava bem posicionado para fornecer tudo o que necessi-
tasse uma economia americana superaquecida : máquinas-ferramentas
para ajudar a indústria americana a se levantar e fazer a sua parte na ex-
pansão, automóveis aos montes para aliviar a tremenda demanda de no-
vos veículos, equipamentos domésticos para milhões de novos proprie-
tários de casa própria, chips de computador para novos sistemas de defe-
as do Pentágono, peças eletrônicas para a florescente revolução da infor-
mática e a parafernália audiovisual para a crescente população de
yuppies.

Os investimentos educacionais pelo Japão para consolidar o desenvolvimento


Fiz até aqui econômico obtido são comparados aos resultados do sistema
educacional americano (BURSTEIN, 1988,p.93).
[.....] Sob muitos aspectos, o sistema educacional japonês realmente fun-
ciona melhor do que o americano. O analfabetismo entre os adultos, nos
Estados Unidos, é estimado em 8%, ao passo que a cifra é de apenas 1%
no Japão – a mais baixa do mundo. Cerca de 70% dos americanos chegam
ao fim do segundo grau, contra 95% dos japoneses. No último ano do se-
gundo grau,os estudantes americanos classificam-se em décimo segundo
lugar em capacidade matemática, ao passo que os japoneses são os se-
gundos do mundo.

Nesse contexto, é que se estabelece a relação simbiótica de poder entre


Estados Unidos e Japão. A política americana do pós-guerra baseada na política
fiscal expansionista baseada nos investimentos na indústria de defesa, aliada a uma
política baseada no incremento do consumo gerou um significativo aumento do PIB
nominal. A título de comparação o PIB dos Estados Unidos em 1970 era de US$ 1
trilhão, representava 35,4% do PIB mundial e em 1980 passou para US 2,767
trilhões (25,1% do PIB mundial). Por outro lado os superávits comerciais gerados
pelo Japão foram utilizados para financiar os déficits orçamentários americanos e a
valorização do iene para adquirir empresas americanas (BURSTEIN, 1988,p.44-45).
Em 1986, o Japão tomou o lugar dos Estados Unidos na qualidade de maior
credor mundial. O alcance das injeções de capital japonês nos últimos tem-
pos tem sido comparado ao que se registgrou nas décadas de 50 e 60,
quando os Estados Unidos compraram grande númerro de indústrias na Eu-
ropa ocidental. Entretanto, a verdade é que as aquisições feitas pelos japo-
neses nos últimos anos ultrapassaram em muito expansão americana da-
quele período. Efetivamente, os ativos líquidos do Japão no exterior já su-
peraram em 20% o recorde americano, estabelecido ao longo de 37 anos.
[....] A ascensão do Japão a liderança mundial na coluna positiva do livro-
razão espelha, em contrapartida, o mergulho dos Estados Unidos na colu-
110
na dos débitos. País credor desde 1914, os Estados Unidos passaram a
à posição de devedotr pela primeira vez na década de 80”.
[....] Os Estados Unidos chegaram a depender dos investidores japoneses
para o financiamento direto de até 30% do déficit orçamentário do governo.
De 1985 a 1987, as principais corretoras de valores japonesas estiveram
quase sempre entre as maiores compradoras nos leilões de títulos de lon-
go prazo do Tesouro dos Estados Unidos.

A dimensão do poder do Japão como o maior detentor de títulos públicos


americanos impede que os Estados Unidos imponha retaliações as empresas
japonesas (BURSTEIN, 1988,p.99-100).
[...] Em um leilão de 1986, os investidores japoneses compraram 80% da
emisão. Em termos econômicos, o Japão havia se tornado o principal ban-
queiro da administração Reagan e o maior financiador do déficit orçamentá-
rio dos Estados Unidos, que estava em crescimento explosivo. Para usar
a gíria das ruas, Washington tinha caído no vício do capital estrangeiro. Os
Estados Unidos dependiam desesperadamente dessa droga e o Japão era
o seu fornecedor.
A Casa Branca parecia estar perfeitamente à vontade nessa situação. Dada
a pronta disponibilidade dos japoneses para comprar títulos dos Estados
Unidos, as taxas de juros puderam continuar baixas durante 1985 e 1986.
Taxas de juros mais baixas, por sua vez, possibilitaram que milhões de
americanos concretizassem o desejo antes reprimido de comprar a casa
própria e deram ao comércio e à indústria a oportunidade de se expandir
sem recorrer a empréstimos com custos de dois dígitos – o que havia para-
lisado a economia na década precedente,
A disposição do Japão de devolver os excedentes de sua balança comercial
aos Estados Unidos em formas de empréstimos (em lugar de investir em
casa em outros países) foi um ingrediente crítico que permitiu a Ronald
Reagan expandir os gastos militares, aumentar o déficit orçamentário e es-
timular a econmia – tudo isso ao mesmo tempo que reduzia impostos.
O truque que a maioria dos americanos não percebeu enquanto Reagan fa-
zia seu passe de mágica foi que, a cada três meses, quando a dívida do
Tesouro tinha de ser refinanciada, eram os estrangeiros que pagavam a
conta. Se os investidores japoneses não tivessem comprado 90 bilhões de
dólares em títulos da dívida pública americana em 1986, o déficit orçamen-
tário do país teria se intrometido dolorosamente na vida da população sob
diversas formas – desde juros hipotecários e impostos sensivelmente mais
altos até cortes em programas de governo, que seriam mais profundos e
com efeitos sociais mais graves.

A exemplificação do verdadeiro poder do Japão sobre a economia americana


em um contexto dos Estados Unidos na disposição de impor tarifas aos
semicondutores japoneses, refletindo em um impacto significativo sobre o Tesouro
americano (BURSTEIN, 1988,p.114-116).
Clayton Yeutter, chefe da missão de comércio bilateral dos Estados Unidos,
estava iludido ao declarar, no dia em que as tarifas entraram em vigo, que o
Japão tem coisas demais a perder para acalentar seriamente ideias de reta-
liação.
Na verdade, ao contrário do que insinuaram algumas autoridades, o Japão
não denunciou o acordo sobre semicondutores em consequência da imposi-
cão das tarifas. Também não criou novas tarifas para os produtos america-
nos nem adotou abertamente outras medidas retaliatórias que poderiam le-
var a uma escalada na guerra comercial.

111
[...] Em algum ponto, a eleite pensante japonesa começou a amadurecer a
idéia de que a maneira mais efetiva de fazer o governo Reagam recuar era
boicotar o leilão de títulos do Tesouro que ocorreria em maio. Seria uma for-
ma silenciosa de retaliação, já que, em tese, a decisão de compra desses
títulos é tomada pelos investidores do setor privado, e não pelo governo já-
ponês. Seria um ato de represália encoberto e difícil de provar, pois o gover-
no dos Estados Unidos, em seu trágico apego a ordem mundial já extinta,
não mantém nenhuma estaística sobre compradores e detentores de títulos
de sua emissão.
Deixar de lado os títulos do Tesouro também seria uma medida inteiramente
justificável em termos microeconômicos. A queda do dólar tinha varrido cer-
ca de 13 bilhões de dólares das carteiras de títulos americanos, consideran-
do-se apenas as que estavam em poder das seguradoras japonesas.
[....] Entre final de abril e começo de maio, o mercado de títulos oscilou em
função das notícias a respeito do que os japoneses fariam no próximo
leitão.
Wall Street não deu muita atenção às informações sobre uma “greve” dos
investidores japoneses, preferindo acreditar que a América ainda estava a
cavaleiro da situação. Os japoneses não têm outro lugar onde aplicar
seu dinheiro” era a explicação mais difundida. “ Não há outro mercado no
mundo que possa absorver tanto dinheiro. Além disso, os títulos do Tesouro
americano rendem 5% a mais do que os títulos do governo japonês.
Nenhum investidor profissional perderia um diferencial desses”.
Essa pode ter sido a maneira mais tranquilizadora de negar o real papel do
Japão na economia americana, mas foi também uma linha de raciocínio
dolorosamente equivocada, errada ponto por ponto. É fato que o mercado
de títulos dos Estados Unidos representa 57% do total mundial, mas isso
ainda deixa 43% disponíveis – o bastante para abrigar títulos fluxos de
capital japonês pelo menos a curto prazo e sem que precise recorrer aos
mercados de ações e a outros nichos para colocação de excedente de
caixa.
[....] A história da Bolsa de Valores de Tóquio é toda feita de investimentos
voltados para a consolidação de relacionamentos comerciais e para a am-
pliação do entrelaçamento das redes negociais,e não de investimentos de
retorno rápido. A história de mercado de títulos governamentais de Tóquio
foi construída à base de instituições financeiras que se dispõem a empres-
tar dinheiro ao governo a juros baixos em troca de benévola proteção que
dele recebem. [.....] Principalmente quando os economistas japoneses esta-
vam prevendo quedas no valor do dólar, o que afetaria o diferencial de ren-
dimento existente entre os títulos do governo americano e japoneses.
[....] O agravamento dos problemas de relacionamento entre Estados Uni-
dos e Japão levanta novas dúvidas sobre a possibilidade de serem manti-
dos os fluxos de capital japonês para este país”, observou o principal eco-
nomista da Nomura de Nova York.
Os mercados sensíveis à variação dos juros não esperaram para ver se
os boatos iriam confirmar-se. Por pequena que fosse, uma redução nos
aportes de capital japonês teria um impacto formidável. A taxa de juros
hipotecários, que vinha caindo quase ininterruptamente nos últimos dois
anos, sofreu uma parada súbita deu meia-volta e saltou quase 2 pontos
percentuais antes que terminasse o mês de abril.

Ressalta-se a observação de (BURSTEIN, 1988,p.117) no que tange a


dimensão do poder do Japão na capacidade de desestabilizar a economia
americana em face do financiamento da dívida.
Preocupado com as consequências da fuga dos japoneses do mercado
americano, Paul Volcker, diretor do Federal Reserve Bank, utilizou um pool
de telefones para uma reunião secreta de emergência com os membros de

112
seu comitê de planejamento político. Eles apoiaram sua ideia de preceder
a uma elevação das taxas de juros de curto prazo, com o objetivo de firmar
o dólar e tomar os títulos americanos mais atraentes para os japoneses
que estavam em debandada. “Agora, a política do Federal Reserve é cada
vez mais influenciada e até ditada pelas necessidades de nossos credores
estrangeiros”, comentou o principal economista do Mellon Bank”.
Geralmente, os leilões do Tesouro são realizadas em três dias. Os dois
primeiros são dedicados às notas e aos títulos de curto prazo, ficando o úl-
timo dia reservado para o espetáculo dos títulos longos de trinta anos. Na
ocasião, os investidores japoneses passaram os dois primeiros dias fazen-
do tudo para derrubar as cotações. “ O Japão praticamente não demonstra
interesse”, relatou o The Wall Street Journal aos seus leitores. Uma lúgu-
bre reportagem do The New York Times mereceu a seguinte manchete :
TÍTULOS CAEM COM RETRAÇÃO DOS JAPONESES : A TENSÃO AU-
MENTA.
[....] O perigo crescia à medida que o dia do leilão de títulos avançava.
Quanto mais baixa a demanda do Japão, mais alto tinha de ser o rendimen-
to para tornar os títulos vendáveis. Cada ponto percentual que o rendimen-
to subisse custaria ao Tesouro dos Estados Unidos cerca de 3 bilhões de
dólares pelos próximos trinta anos. O salto de um único percentual também
custaria aos consumidores e às empresas incontáveis bilhões por causa
das taxas de juros mais altas. Os japoneses estavam a ponto de dar uma
lição bem dispendiosa aos americanos”.

A relação simbiótica de dependência e poder entre Estados Unidos e Japão


no que concerne a uma derrocada da economia americana representaria bilhões de
dólares de prejuízo para a economia japonesa em face da perda de demanda da
maior locomotiva do mundo e para os Estados Unidos aumentaria o custo da dívida
(BURSTEIN, 1988,p.118).
A mudança do rumo da posição foi tão radical que só podia ser consequên-
cia do trabalho do ministro das Finanças, Kiichi Miyazawa, um economista
brilhante e um dos políticos de mentalidade mais cosmopolita do Japão. Mi-
yazawa acreditava que a economia do mundo estava em equilíbrio dema-
siadamente precário para resistir às manobras do mercado de títulos.
Aqueles “antiamericanos” da facção Tanaka talvez desconhecessem a
extensão de sua força. Na realidade, uma retirada japonesa em massa
do mercado de títulos dos Estados Unidos poderia provocar uma
recessão na economia americana e graves repercussões
internacionais, fazendo cair a demanda mundial de produtos
japoneses e, em última análise, solapando a economia interna do
Japão. (grifos nossos)
[...] Conforme ficou demonstrado, a ameaça de retaliação do Japão tem ma-
is impacto sobre os Estados Unidos, pelo medo que provoca, do que as me-
didas reais dos Estados Unidos sobre o Japão. Tudo muito zen.
[....] No final do dia, a Nomura tinha comprado cerca de 1 bilhão de dólares
em títulos – a menor intervenção da empresa em um leilão do Tesouro em
mais de um ano, mas, ainda assim, uma participação considerável por qual-
quer padrão. Exatamente do outro lado de Manhatan, na parte baixa da ilha,
a Daiwa havia abocanhado igual parcela no leilão – também menor do que
a usual. [....] 21 anos de experiência no departamento de títulos da Salo-
mon, examinou o resultado do leilão : rendimento médio de 8,75%. Isso sig-
nificava mais de 1 ponto percentual acima do que fora registrado no último
leilão, há três meses, e representava uma mudança de direção súbita e pe-
rigosa das taxas de juros. Por si só, o salto não seria necessariamente o
fim da expansão da economia americana, mas certamente lançaria uma
sombra sobre ela.
113
“O problema não são os japoneses” disse Brachfeld, cansado do tumulto
daquele longo dia. [.....] “O problema é que somos um maldito país devedor
e, sendo um maldito país devedor, ficamos à mercê dos malditos credores”.
- Quando tudo acabou, as estimativas sobre a participação do investidor
japonês variavam de um quarto a um terço da emissão – não era bem a
maior demonstração de entusiasmo dos japoneses pelo mercado de títulos
americanos; mas não estava ruim dadas as circunstâncias. O Japão não
havia provocado o prejuízo que se esperava caso o boicote fosse total.
Desta vez, tinha apenas aplicado uma multa ao governo dos Estados
Unidos, na forma de uma alta violenta nas altas taxas de juros. Taxas mais
elevadas serviram aos japoneses como proteção para o valor dos títulos,
quando o dólar descesse um pouco mais a ladeira. Isso, porém, era apenas
um subproduto de duas vitórias muito mais importantes no campo de
batalha que foi o mercado de títulos no dia 7 de maio.
primeira foi que o Japão obteve uma trégua tácita na guerra comercial que
então fermentava: depois disso, Washington não tomou nenhuma medida
significativa contra os japoneses – apesar de o déficit comercial dos Esta-
dos Unidos ter atingido o recorde de 18 bilhões de dólares no mês de ju-
lho e outro no mês de outubro. [...] Até o final de 1987, o governo Reagan,
combalido não tomou mais nenhuma medida punitiva contra o Japão no
campo comercial. O único ato presidencial referente ao comércio foi a re-
vogação de mais algumas daquelas tarifas baixadas em abril.
A segunda e a mais importante consequência dos acontecimentos de maio
foi que aumentou enormente na população o sentimento de que os Estados
Unidos eram um país devedor, dependente do capital estrangeiro. Embora
as estatísticas indicassem que o país ainda continuaria crescer econômica-
mente nos próximos meses, a evolução da taxa de juros provocada pelo
leilão de maio representou, em certo sentido, o fim do movimento pendular
da economia americana em direção e o início de seu retorno em caminho
inverso. Mesmo os mais fervorosos adeptos da doutrina econômica de
Reagan começaram a perder o entusiasmo, sentindo que alguma coisa es-
tava profundamente errada em uma economia como a americana, que cor-
ria sobre o déficit comercial, sendo empurrada pelos investidores estran-
geiros. Para os que se deram o trabalho de pensar a respeito, os eventos
de maio demonstraram com exatidão o que os japoneses desejavam fazer
ver aos americanos : não empurrem demais o Japão; os japoneses podem
puxar seu tapete.
O medo que essa experiência quase mortal engendrou a economia ameri-
Cana, sufocada por meses de paralisia do governo Reagan, acabou por
encontrar sua catarse sob a forma da crise da Bolsa em outubro de 1987.
Segmentos influentes da comunidade empresarial americana, senão a pró-
pria liderança da Casqa Branca, começaram a reconhecer o pesadelo ine-
rente ao fato de a hipoteca da casa própria sonhada pela doutrina Reagan
estar em mãos de estrangeiros”.

A análise sobre o alto endividamento dos Estados Unidos e os reflexos sobre


a economia americana (BURSTEIN, 1988,p.-172).
As perigosas implicações que tal endividamento reserva para o futuro da e-
conomia dos Estados Unidos foram finalmente abertas à discussão pública.
Mas, à parte a generalizada ameaça ao bem-estar americano, o legado de
um déficit de mais de 1 trilhão de dólares acumulado na era Reagan reper-
cute de formas muito especificas no relacionamento nipo-americano.
O fato de ser tão grande a parte da dívida de Reagan financiada mediante
empréstimos tomados ao Japão significa que uma bomba-relógio foi arma-
da. A ameaça de uma retirada dos japoneses do mercado de títulos dos Es-
tados Unidos dá a Tóquio um trunfo significativo em negociações bilaterais
sobre comércio, defesa e outros assuntos – trunfo que o Japão já está co-
meçando a usar. O mal-estar quanto à capacidade creditícia da América

114
também está começando a arrefecer o entusiasmo pelos ativos em dólar
e a levantar dúvidas entre os banqueiros internacionais sobre se o dólar po-
de ou deve continuar a ser usado como principal moeda do mundo.
Na melhor das circunstâncias, o crescimento econômico americano será li-
mitado até o final do século em razão da alta parcela do PNB que precisa
sair do país para pagar a dívida aos estrangeiros. Mas a história não aca-
ba aí. Economistas que procuram defender o recorde estabelecido por
Reagan apontam, corretamente, aliás, que os Estados Unidos registraram
déficits proporcionalmente maiores em relação ao PNB em vários períodos
de sua história. O mesmo aconteceu com outros países em outras ocasi-
ões, incluindo o Japão.
Em última análise, mais importante do que o tamanho do déficit é o
uso que dele é feito. Fazer dívida para criar um crescimento real no
futuro pode ser justificado pelo fato de que, à medida que a economia
se expande, o pagamento do empréstimo será mais fácil. No caso
da política econômica de Reagan, porém, não havia programa
específico do desenvolvimento da Economia. Isso era algo que
ficaria a carga do setor privado. Os cortes de impostos, que ajudaram
a criar o vertiginoso abismo entre receitas e despesas do governo,
não desencadearam novos investimentos internos, como havia sido
prometido. Na verdade, na década de 80, a economia americana man-
teve uma das taxas de investimento mais baixas do mundo em implan-
tacão de novas fábricas e em renovação de equipamentos.
Washington também se afastou de seu tradicional papel de principal
investidor do país em infra-estrutura, cortando tanto os gastos em
hardware (estradas, pontes, transportes e similares) quanto em
software (educação e treinamento). (grifo nossos)

A perda da competitividade das empresas americanas em relação às


japonesas refletiu em déficits comerciais significativos dos Estados Unidos , aliada a
visão míope de Reagan no que se refere ao realizar o ataque ao dólar resultou em
um crescimento significativo da riqueza do Japão. A título de comparação o PIB
nominal do Japão em 1970 correspondia a US$ 236 bilhões e passou para US$
3,015 trilhões em 1987 (BURSTEIN, 1988,p.156).
O Japão já poderia ter ficado muito rico não só pela combinação de
suas taxas de poupança e extraordinariamente altas com os
fantásticos superávits de sua balança comercial. [.....] Ronald Reagan
ainda iria dar um último presente ao Japão: o ataque ao dólar entre
1985 e 1987, que teve o efeito de pegar cada iene acumulado pelo
Japão em quarenta anos de poupança e comércio e dobrar o seu
valor da noite para o dia. (grifo nosso)
[....] Nas mãos de um outro país, os excedentes comerciais de 300 bilhões
de dólares acumulados pelo Japão de 1981 e 1987 poderiam ter
disparado uma inflação montante e excessos no mercado interno. Mas as
autoridades do Ministério das Finanças e do Banco do Japão mostraram ter
pavor de inflação, considerando-se que a taxa de inflação às vezes mal
chegava a ultrapassar o 1%. Novas políticas garantiram que praticamente
todo o excedente comercial e todo o capital dele derivado seriam
encaminhados para fora do Japão. Dessa maneira, afastavam-se as
pressões indesejáveis sobre a economia interna e tirava-se partido das
vantagens estratégicas no estratégicas no exterior.

115
A exemplificação da vantagem competitiva de um iene forte (BURSTEIN,
1988,p.156 - 158).
Parte do dinheiro está sendo aplicado pelas empresas na expansão de sua
capacidade produtiva dentro dos Estados Unidos e em outros mercados
desenvolvidos. Isso representa uma política preventiva para o dia em que
os muros do protecionismo venham a ser erguidos contra o fluxo de produ-
tos para os portos de importação, mas também torna as empresas japone-
sas supercompetitivas em virtude de capacitá-las a movimentar rapida-
mente sua produção através do Pacífico em função de custos, moedas e
outros fatores.
Uma parte maior dos excedentes está sendo usada por bancos, companhi-
as de seguros, corretoras de valores e magnatas japoneses do ramo imo-
biliário para comprar posição nos setores mais promissores e seletivos do
patrimônio mundial em ações e em imóveis.
[....] continua fluindo para reciclar o sistema de mercado de títulos dos Es-
tados Unidos. Mantendo a provisão de capital de giro para a deficitária eco-
nomia americana, o Japão parece estar fazendo um grande favor ao país.
Na realidade, o papel do Japão como financiador primário encoraja
Washington a evitar uma solução para o problema do orçamento. Essa o-
missão, por sua vez, continua a aumentar a riqueza dos japoneses e a so-
lapar a energia americana. Além dos altos rendimentos que os investido-
res recebem sobre os títulos americanos, o relacionamento de dependên-
cia financeira, que agora está sendo forçado, dá ao Japão a perspectiva
de um poder de pressão real, concreto e altamente manipulável no futuro.

Entretanto, a valorização do iene e a entrada da China na dinâmica do poder


mundial a economia japonesa a partir da década de 90 perdeu o ímpeto de
dinamismo reflexo da década de 80 (CANUTO,2000)29

Sexta-feira passada, o Banco do Japão anunciou que vai empurrar a taxa


de juros interbancária para 0,25%, cumprindo a ameaça de encerrar a “po-
lítica de juros zero" adotada desde fevereiro de 1999. Trata-se da primeira
elevação de juros pelo banco central desde 1990. A despeito de enorme
pressão contrária, manifesta nas semanas anteriores, por parte do governo
japonês e do FMI.

Por outro lado é avaliado os problemas estruturais da economia japonesa


enfrentados pela economia japonesa desde o começo dos anos 90 aliado ao
choque financeiro e à acentuação das pressões deflacionárias a partir de 1997, as
quais resultaram na armadilha de liquidez30 (CANUTO,2000)
Segundo muitos analistas, o Japão passou a enfrentar, nos anos 80, uma
tendência estrutural à estagnação, por decorrência de um descompasso
entre o volume dos planos de poupança privada e as oportunidades de
investimento local com retorno positivo. Mesmo com os superávits comer-
ciais e a exportação de capital, além do endividamento do setor público,
as taxas reais de juros teriam de ser negativas para evitar a tendência es-

29
CANUTO, Otaviano. A armadilha pela liquidez na versão do Banco do Japão. Jornal Valor
Econômico, São Paulo, 15 de agosto de 2000. Disponível em
<http://www.eco.unicamp.br/artigos/artigo127.htm>. Acesso em: 29 de julho de 2012.
30
Designação originalmente dada por John Maynard Keynes a situações em que uma política
monetária expansiva é incapaz para acabar com uma depressão.

116
tagnacionista.
As explicações para o descompasso estrutural ora se reportam ao enve-
lhecimento e aos hábitos da população, ora à exaustão das oportunidades
de investimento, exploradas nas décadas anteriores, às quais correspon-
deram ao fantástico upgrading japonês nos marcos da "velha economia".
Isto configuraria uma "armadilha pela liquidez", dada a tendência à defla-
ção e o fato de que as taxas nominais de juros não podem cair abaixo de
zero, na interpretação de Paul Krugman.

No entendimento de (CANUTO,2000) as bolhas especulativas dos anos 80


são um dos fatores que contribuíram para a armadilha de liquidez enfrentada pelo
Japão na década de 90
As bolhas especulativas dos anos 80 teriam resultado do excedente estru-
tural de capacidade de financiamento, num quadro de frouxidão regulatória
sobre as instituições financeiras e de redução da dependência das grandes
empresas não-financeiras em relação ao financiamento bancário. O estouro
das bolhas deixou uma herança de ativos podres nas carteiras dos interme-
diários financeiros.

Na avaliação de (CANUTO,2000) o governo optou por não enfrentar a real


dimensão do problema do sistema financeiro japonês e o que resultou em baixo
crescimento do PIB.
O governo optou pela dissolução gradual do problema, permitindo a reci-
clagem paulatina das carteiras de ativos, com financiamento a juros do-
mésticos diminutos. O preço a pagar foram os anos com baixa criação de
créditos novos, reduzidos investimentos e sobrevivência de ativos com
retornos insignificantes. O crescimento só não foi menor por causa dos
gastos públicos, embora estes não conseguissem evitar a sequencia de
recessões seguidas de recuperações frágeis.

Posteriormente, a evolução gradual do problema do sistema financeiro aliada


ao choque financeiro contribuiu ainda mais para os pífios crescimento do PIB de
1997 a 2000 (CANUTO,2000).

O choque financeiro de 1997, a partir da crise no entorno asiático, abateu-


se sobre uma estrutura ainda frágil. Seguiram-se as falências de institui-
ções financeiras e o racionamento adicional de crédito. Acrescentou-se
uma nova “armadilha pela liquidez”, agora em decorrência da elevação su-
bstancial dos estoques de liquidez retidos por famílias e firmas como pre-
caução contra a crise. O jeito foi radicalizar o estímulo fiscal e adotar a po-
lítica de juros zero, diante de cinco trimestres consecutivos de queda no
PIB até o fim de 1998.
Desde então, reduziu-se a fragilidade do setor financeiro, após fusões e
algum reconhecimento de valor nulo de ativos. Em 1999, apesar da nova
queda do PIB na segunda metade do ano, o resultado financeiro das em-
presas não-financeiras passou de um déficit de 0,7% do PIB, no ano anteri-
or, para um saldo positivo de 8%. Embora com forte dispersão no de-
sempenho, muitas firmas aproveitaram os primeiros semestres de 1999 e
2000 para recompor margens e reestruturar balanços. Os bancos se
beneficiaram da quitação de dívidas e da revalorização de ativos.

117
Neste contexto, a análise do aprofundamento da crise capitalista no Japão
representou a constatação de esgotamento do alusivo modelo, o qual conduziu o
país a se tornar a segunda potência mundial. A manutenção do iene ao redor de 128
dólares refletiu na perda de competitividade da indústria japonesa em relação à
China, aliada aos problemas do sistema bancário japonês bem como o incremento
da dívida bruta do governo japonês em face da monetização da dívida pública em
larga escala. A título de comparação a dívida pública bruta correspondia a 188% do
PIB em 2007 e passou para 238% em 2011. No que se refere ao déficit público em
2010 era de 9,2% do PIB, reduzindo o percentual em relação a 2009. Mas em 2011
o déficit voltou a subir para 10,3% em face da necessidade das sequelas do tsunami
e do desastre nuclear, os quais resultaram na necessidade de investimento de
US$ 300 bilhões na reconstrução. Assim, em um contexto de baixo crescimento do
PIB e incremento do déficit público segundo as projeções do FMI apontam para uma
relação dívida e PIB de 253% até 2016.
Salienta-se que apesar do incremento significativo da relação dívida/PIB as
taxas de juros de longo prazo têm se mantida com projeção de baixa em face da alta
credibilidade dos títulos japoneses e da significativa parcela da dívida ser financiada
pelos japoneses. Ressalta-se por outro lado a geração de déficits comerciais.
Atualmente, o custo de financiamento da dívida está em 0,30%.
O Gráfico 32 evidencia-se a real dimensão da capacidade de geração dos
significativos superávits comerciais de 2008 a 2010 e um pequeno déficit comercial
em 2011.

Gráfico 32 – Balança Comercial do Japão (2008 – 2011) - US$ bilhões

118
9 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
8 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
7 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
6 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
5 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
4 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
3 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
2 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
1 0 0 .0 0 0 ,0 0 0
0 ,0 0 0
2008 2009 2010 2011
Ex p o r ta ç ã o 7 8 2 .0 4 8 ,6 1 0 5 8 0 .7 1 9 ,2 3 3 7 6 9 .7 7 2 ,7 7 7 8 2 2 .5 6 4 ,1 5 5
Im p o r ta ç ã o 7 6 2 .6 3 1 ,1 7 1 5 5 0 .5 3 0 ,1 8 1 6 9 2 .4 2 6 ,3 7 7 8 5 4 .0 7 2 ,8 0 1

Fonte: FMI

A dimensão do problema estrutural do Japão é evidenciada pela ausência da


capacidade do governo japonês de promover o crescimento apesar de uma injeção
de ¥ 5 trilhões (US$ 63 bilhões), em fevereiro de 2011, adicionais aos ¥ 70 trilhões
(US$ 882 bilhões) já injetados, desde outubro de 2010, destinados à compra de
ativos podres, entretanto contribuiu para aumentar ainda mais a relação do endivida-
mento público sobre o PIB. Desde 1997, o PIB japonês reduziu-se em 10% medido
em yenes, a arrecadação de impostos caiu 22% e a dívida pública mais do que
dobrou.
Ressalta-se, ainda, que o governo introduziu o imposto sobre o consumo em
1989, a uma taxa de 3%, coincidindo com o pico das bolhas das bolsas e imobiliária.
Em 1997, o imposto foi aumentado novamente para 5%, quando o Japão passava
por um relativo pico econômico, mas fora afetado pela crise das bolsas asiáticas. Os
governos que estiveram no poder, na época, sofreram forte desgaste político.
Posteriormente, o primeiro ministro Keizo Obuchi (1998 – 2000) promoveu a
injeção de ¥ 100 trilhões (em torno de US$ 1 trilhão), mas com efeitos pífios no
crescimento do PIB. Ressalta-se que impactou na disparada do endividamento.
Junichiro Koizumi (2001-2006) tentou implementar uma reforma fiscal, a qual
resultou no aumento dos impostos pelos governos locais, mas na redução da
arrecadação devido à recessão econômica.
Neste contexto o PDJ (Partido Democrático do Japão), do primeiro ministro
Yoshihiko Noda, e os principais partidos da oposição, o PLD (Partido Liberal

119
Democrático) e o Novo Komeito acordaram em aumentar o imposto sobre o
consumo de 5% para 8% em abril de 2014 e 10% em outubro de 2015. Em um
contexto de projeção do incremento da relação dívida e o PIB reflete em uma
pressão do FMI em relação ao governo para aumentar anda mais o imposto sobre o
consumo para 15%31.
Assim, evidenciou-se uma significativa alusiva relação simbiótica da dinâmica
de poder no período de 1970 a 1990 entre Estados Unidos (maior dívida mundial) e
o Japão (como maior financiador da dívida americana) , ou seja, não houve
interesse do Japão em pressionar o governo dos Estados Unidos no que se refere a
gerar uma crise de confiança sobre a sustentabilidade da dívida americana apesar
dos crescentes déficits público e de conta corrente, pois o Japão seria o maior
prejudicado se os Estados Unidos deixasse de ser a locomotiva do mundo para
realizar o ajuste fiscal necessário em face dos reflexos na geração dos superávits
comerciais obtidos e o impacto no crescimento do PIB japonês.
Por outro lado, o governo dos Estados Unidos definiu como estratégia
incentivar as empresas americanas a investirem na China em face que estas não
tinham competitividade para enfrentar as empresas japonesas. A partir da década de
90, a como forma de diminuir a significativa dependência do financiamento da dívida
em relação ao Japão, uma vez que a alusiva retaliação dos japoneses já retratada
neste tópico resultou no aumento da taxa de juros, refletindo no incremento da
dívida americana de longo prazo.
A dinâmica de poder mundial se alterou radicalmente na década de 90 com
a entrada da China, pois o Japão estagnou diante dos problemas de competitividade
já salientados, bem como uma relação dívida pública significativa e os problemas
dos sistemas bancários. Por outro lado, a China que adotava o comunismo, o qual
resultou em um longo período de semi-estagnação conforme o Gráfico 33.
O modelo economia socialista de mercado resultou em um forte crescimento
da economia da China em valores nominais em US$ de 1979 a 2011 com taxa
média de crescimento de 12,89% e foi reflexo do modelo baseado em alto

31
Japão aprova 1ª alta do imposto sobre consumo em 15 anos, Revista Exame, São Paulo, 10 de
agosto de 2012, seção Mundo. disponível http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/japao-aprova-1a-
alta-do-imposto-sobre-consumo-em-15-anos acesso em 1 de setembro de 2012

120
investimentos do setor privado combinado ao setor público aliada a alto volume de
poupança. Além disso, ressalta-se o extraordinário aumento da competitividade das
exportações de produtos manufaturados chineses, deslocando rapidamente
produtores tradicionais como Japão e Estados Unidos. A título de comparação o PIB
chinês correspondia US$ 176,6 bilhões em 1979 e em 2012 a projeção do Banco
Mundial é que alcance US$ 7,298 trilhões.
Gráfico 33 – China - Produto Interno Bruto Nominal (US$) e Taxa de Crescimento do
PIB nominal (%) – 1979 a 2012 - US$ bilhões

8.000.000.000.000 35,00%

7.000.000.000.000 30,00%
25,00%
6.000.000.000.000
20,00%
5.000.000.000.000 15,00%
4.000.000.000.000 10,00% PIB
3.000.000.000.000 5,00% Tx de Crescimento
0,00%
2.000.000.000.000
-5,00%
1.000.000.000.000 -10,00%
- -15,00%

Fonte : Banco Mundial

A combinação de diversas políticas que explicam o milagre do crescimento


econômico chinês. Primeiro, no que tange a importância dos investimentos externos
diretos (IDES) em sua maioria voltados para exportação, transferindo tecnologia e
incentivos fiscais. (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p.81) – Nota técnica IPEA.
As causas apontadas, destacam-se os investimentos diretos externos
(IDEs), em sua maioria voltados para exportação, transferindo tecnologia e
fornecendo capital para o país além do baixo custo da mão-de-obra
associado ao relativamente alto nível de qualificação. Enfatizam-se
também as medidas de política industrial, como os incentivos fiscais
concedidos a setores determinados, a obrigação de as empresas
multinacionais (EMNs) se associarem a um parceiro doméstico e a
proibição de investir em certos setores, bem como a manutenção de uma
taxa de câmbio fixa e desvalorizada estimulando as exportações. Todos
esses fatores certamente contribuíram para o espetacular crescimento
econômico chinês, mas estão longe de explicar adequadamente esse
processo. Afinal, algumas dessas características estiveram presentes em
diversos outros países e regiões sem que o efeito fosse nem ao menos
parecido.

Segundo, a reforma do sistema de preços dos produtos agropecuários


contribuiu significativamente para o crescimento econômico (LEVY, NONNENBERG,
NEGRI,2006, p. 82).

121
Essa alteração provocou uma grande elevação na produtividade rural, com
grandes reflexos sobre a renda e o emprego. A existência de um grande
contingente de mão-de-obra com produtividade marginal muito baixa
possibilitou seu deslocamento para as cidades, mantendo baixos os
salários mesmo com crescimento elevado.

Terceiro, componente a estratégia inicial de associar o desenvolvimento


industrial a Ásia e Estados Unidos (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 83)
A China ingressou no mercado internacional como uma espécie de
“intermediário” entre Ásia e Estados Unidos, importando partes, peças e
componentes dos primeiros, montando e vendendo os produtos finais para
o segundo.

O início do grande salto industrial chinês foi a constituição de Zonas


Econômicas Especiais (ZEES) na segunda metade da década de 70, constituindo a
principal fonte de abertura da economia chinesa, a qual teve como estratégia acabar
com a estagnação econômica. Assim, as ZEES são espaços territoriais localizados
no litoral, onde foram fornecidas facilidades para a fixação de capital estrangeiro
tendo como objetivo a expansão das exportações ,e, portanto se diferenciou do mo-
delo brasileiro em face de que houve transferência de tecnologias e aprendizagem
de novos métodos de administração, refletindo no atual nível de competitividade da
indústria chinesa como a de automóveis.
As ZEEs foi o ponto de inflexão no desenvolvimento econômico chinês
(LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p.84).
Inicialmente, as EMNs dirigiram-se quase que exclusivamente às ZEEs -
onde recebem diversos incentivos fiscais, terrenos e edificações;
localizam-se ao lado de fornecedores e de outras indústrias semelhantes,
além de centros de pesquisa, incubadoras de empresas, laboratórios de
ponta, infraestrutura de energia e transporte. Essa localização privilegiada
facilita o surgimento de transbordamentos tecnológicos: é o sonho de um
Sistema Local de Inovação tornado realidade”.

Por outro lado, ressalta a importância da contribuição da oferta de mão de


obra para o modelo de crescimento chinês. (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006,p.
83)
Segundo, uma oferta de mão-de-obra quase infinitamente elástica (e que
assim continuará pelos próximos anos) com algum grau, ainda que baixo,
de qualificação. Portanto, o aumento da demanda não provocou, nos
segmentos de baixa qualificação, elevações substanciais nos salários
(ainda que tenha se desenvolvido uma grande, em termos absolutos, classe
media com elevado poder aquisitivo).

Destaca-se que as ZEEs como papel relevante no desenvolvimento


tecnológico chinês (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 84).

122
Essa forma de agrupamento regional das indústrias, especialmente
daquelas mais intensivas em conhecimento, teve papel relevante no
desenvolvimento tecnológico chinês e na alteração da pauta de
exportações ao longo dos últimos 20 anos, ainda que o esforço doméstico
de geração de tecnologia permaneça relativamente baixo.

Na estratégia da China de se posicionar em um segmento como líder na


dinâmica de poder além da sua capacidade de atrair investimentos estrangeiros em
face dos incentivos e das vantagens aliou-se também a uma política de taxa de
câmbio desvalorizada (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 84).

A capacidade da China em atrair investimentos estrangeiros não se esgota,


no entanto, nos incentivos e vantagens desfrutados pelas EMNs nas ZEEs.
No curto prazo, o baixo custo da mão-de-obra e uma taxa de câmbio desva-
lorizada propiciam elevada rentabilidade ao capital externo, especialmente
àquele voltado às exportações. A produção dirigida ao mercado externo go-
za de isenção de impostos de importação para matérias-primas, peças e
componentes. Assim, as EMNs – especialmente as do setor de eletrônicos
e comunicações, que representam grande parte das exportações chinesas –
podem instalar, na China, as etapas finais da produção, aproveitando as
peças e componentes produzidos pelas filiais localizadas nos países vizi-
nhos. No longo prazo, o tamanho absoluto do mercado chinês e, especial-
mente, seu potencial de crescimento constituem um atrativo importante ao
investimento.

Outra fator estrutural o qual impactou no crescimento econômico chinês


(LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 84).
Ao mesmo tempo em que recebem esses poderosos estímulos, as EMNs
são obrigadas a conviver com um sistema que, até o momento, não garan-
te a proteção da propriedade intelectual. Para ingressar na China, até re-
centemente, as EMNs necessitavam de um sócio local. Há diversos relatos
de que esses sócios apropriam-se ilegalmente do conhecimento transferido
do exterior para produzir por conta própria, em outra empresa (doméstica),
produtos análogos por preços inferiores, mesmo que a qualidade também
não seja a mesma do bem original.
Outra forma conhecida de pirataria intelectual é a produção (e exportação)
de bens de consumo de marcas famosas, como confecções, artigos de
couro e perfumaria, sem pagamento dos royalties devidos.

Neste contexto, a alta rentabilidade dos investimentos estimulava o in-


gresso de IDEs compensando os prejuízos decorrentes da baixa proteção intelectual
(LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 84).
Obviamente, a baixa proteção à propriedade intelectual constitui um obstá-
culo ao ingresso de IDEs em qualquer país. Contudo, no caso específico
da China, os demais incentivos muito mais do que compensam os prejuí-
zos decorrentes dessas práticas. Por outro lado , as EMNs também de-
senvolvem estratégias de defesa. Uma das mais conhecidas é não produ-
zir na China, mas importar, partes e peças que contenham competências
críticas dessas empresas, dificultando, assim, o acesso ao conhecimento
mais recente e estratégico.

123
Ressalta-se a estratégia da China de alavancar o desenvolvimento econômico
através do processo ilegal de conhecimento, sendo que método foi utilizado por
outros países (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 84).
Entretanto, esses mecanismos permitiram uma transferência de conheci-
mento a custos muito baixos e viabilizaram o desenvolvimento de diversos
setores industriais, o que, de outra forma, talvez não tivesse sido possível.
Deve-se reconhecer que a China não inaugurou o processo de transferên-
cia ilegal de conhecimento e que, ao longo da história, diversos outros pai-
ses adotaram práticas semelhantes, sendo o Japão do pós-guerra o mais
recente exemplo.

Outro ponto, o qual contribuirá para alavancagem da estratégia competitiva


na dinâmica de poder da China a economia de escala, pois contribui para produzir
produtos a preços altamente competitivos (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p.
84)
Uma característica fundamental para explicar o crescimento chinês é a exis-
tência de economias de escala na maior parte das indústrias, com fortes im-
pactos sobre o custo de produção.
Alguns exemplos são ilustrativos do tamanho do mercado e da escala da
de produção. A China é atualmente o maior produtor mundial de televisores,
com uma produção anual de aproximadamente 75 milhões de unidades. A
produção anual de aço bruto é de cerca de 220 milhões de toneladas,
enquanto a do Brasil é de 32 milhões. A China produz atualmente cerca
de 1,1 milhão de caminhões por ano, quase dez vezes a produção
brasileira. Enquanto o Brasil produz cerca de 32 milhões de toneladas de
cimento por ano, a produção anual da China atinge aproximadamente 900
milhões de toneladas.

Salienta-se, ainda, que o significativo diferencial da China no que se refere ao


importante elemento para a atração dos investimentos externos tem sido a grande
estabilidade e previsibilidade das políticas macroeconômicas na China no período
em análise.
Os sucessivos governos chineses mantiveram políticas de estímulo ao
crescimento, os quais resultaram no incremento da taxa de inflação . A titulo de
exemplificação no período 1993-1995 a inflação anual, medida pelos preços ao
consumidor, ficou acima de 10% e com tendência a crescer até alcançou 20%, sem
arrefecer a taxa de crescimento do PIB (Gráfico 34). Desta forma, por não estar sob
os ditames do FMI o governo debelou o processo inflacionário sem nenhum
receituário da estratégia neoliberal no que concerne à mudança de política de
valorização da moeda ; redução da capacidade de investimento do Estado; processo
de abertura externa comercial (eliminação de barreiras não tarifárias; redução da

124
tarifa média sobre as importações; diminuição da dispersão tarifária), impactando na
taxa de crescimento do PIB.
Ressalta-se a análise do intenso processo de liberalização de preços e o
afrouxamento da política monetária e os reflexos nos ciclos inflacionários dos últimos
30 anos (NONNENBERG,2010,p. 207).
Normalmente, os ciclos inflacionários dos últimos 30 anos na China são as-
sociados a dois fatores básicos. De um lado, o intenso processo de libera-
lização de preços, de outro, períodos de afrouxamento da política monetá-
ria, que permitiram expansão dos investimentos das empresas estatais.

Gráfico 34 – China - Taxa de Inflação (IGP-DI) x Taxa de Crescimento do PIB real (%)

25,00%

20,00%

15,00%

10,00%

5,00%

0,00%

-5,00%

Taxa de Inflação Taxa de Crescimento do PIB real

Fonte : Banco Mundial

Outro fator diferencial no que tange a competitividade da indústria é avaliada


é a carga tributária correspondente a 20% do PIB tornando confortável também a
situação fiscal, corrente e futura e em face da dimensão do PIB, pois este alcançou
US$ 7,3 trilhões de dólares em 2011.
Por outro lado, o relativo controle das finanças públicas possibilita ao
governo chinês realizar altos níveis de investimentos e subsídios em face do baixo
nível de gastos com pensão e bem estar social (LEVY, NONNENBERG,
NEGRI,2006, p. 86).
Esse relativo controle das finanças públicas permite ao governo chinês
gastar parcelas expressivas da receita em investimentos e subsídios. Outro
elemento importante é que, à diferença da maioria dos países ocidentais,
seus gastos com educação e saúde não são elevados, e os dispêndios pre-
videnciários são bastante reduzidos. A título de ilustração, os gastos públi-
cos com pensões e bem-estar social representam menos de 0,5% do PIB e
2% do total dos gastos públicos chineses, e os gastos com educação e
e saúde não chegam a 20% do gasto público..

125
No que concerne à elevada taxa de poupança da China é reflexo de
ausência de um estado de bem-estar social, a qual resulta na viabilização da
realização de investimento sem pressionar a poupança externa (LEVY,
NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 86)
A China, sistematicamente, tem apresentado elevadas taxas de poupança,
de 35% a 37% do PIB nos anos recentes. As empresas não-financeiras
(públicas e privadas) e as famílias são responsáveis por cerca de 80% do
total, cabendo ao governo o restante da poupança doméstica. Essas taxas
são altas até mesmo para os padrões asiáticos. Refletem, pelo lado das
famílias, a ausência de um estado de bem-estar social, obrigando-as a
poupar de forma a assegurar recursos para despesas de saúde, educação
e previdência. Pelo lado das firmas, contribuem as altas de margens de lu-
cro e a ausência de política de distribuição de dividendos, mesmo por
parte das estatais. Finalmente, como parcela expressiva dos gastos do
governo são investimentos, a diferença entre receitas e despesas de
consumo é elevada.
Essas altas taxas de poupança doméstica viabilizam a realização de
investimentos da mesma magnitude sem pressionar a poupança externa.
Ao contrário, a poupança externa, há mais de 15 anos, é negativa.

Salienta-se que na dinâmica de acumulação de riqueza e poder no âmbito


mundial, ao longo da década de 1990, configurou uma relação simbiótica e de
complementaridade no âmbito econômico – comercial, produtivo e financeiro – entre
a economia americana e a chinesa, a qual refletiu na ausência total de interferência
do FMI no que concerne à elaboração da política macroeconômica da China e
principalmente um poder extraordinário na dinâmica do poder da China no que tange
a uma alta capacidade de geração de significativos superávits comerciais e estes
foram utilizados para financiar a dívida pública americana.
A exemplificação do poder da China se reflete na elaboração da política
cambial, a qual se refletiu na dinâmica do volume das exportações (LEVY,
NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 86)
Em relação ao câmbio, o renminbi foi desvalorizado em cerca de 400% em
termos nominais entre 1981 e 1995, permanecendo praticamente constan-
te desde então (até julho de 2005), apesar do forte aumento das reservas
internacionais. Evidentemente, a moeda subvalorizada contribuiu para ele-
var as exportações. Entretanto, essa influência deve ser relativizada quan-
do se observa que boa parte das exportações chinesas, em especial as
mais dinâmicas, possui um alto componente importado.

A simbiose dessa relação dinâmica de poder entre os Estados Unidos e a


China ao longo da década de 2000 resultou em um incremento significativo da
evolução da corrente de comércio e principalmente a elevação do déficit comercial
americano com a China (PINTO,2011,p.33).
No plano comercial, a relação sino-americana ao longo da década de 2000
foi marcada pelo i) aumento da corrente de comércio (exportações +
126
importações) – acima da corrente mundial; pela ii) elevação do déficit
comercial americano com a China; pelo iii) aumento das exportações de
produtos de baixo valor agregado dos Estados Unidos para a China,
especialmente as de produtos não industriais; e pela iv) expansão explosiva
da participação de produtos de maior valor agregado das exportações
chinesas para os Estados Unidos. Na verdade, essas mudanças foram o
reflexo do processo de ampliação da integração comercial nos anos 2000,
que conectou novos fluxos centrados no impressionante crescimento das
exportações e importações chinesa e americana.

A Tabela 6 evidencia o significativo crescimento das exportações chinesas


para o Mundo. A título de comparação a média das exportações para o mundo
correspondia a US$ 31 bilhões no período de 1980 a 1989 e passou para uma
média de US$ 678 bilhões de 2000 a 2009 correlacionando com uma média das
importações chinesas de US$ 35 bilhões e que passou para US$ 611 bilhões. Por
outro lado, observa-se que as exportações dos Estados Unidos para o mundo de
uma média de US$ 250 bilhões no período de 1980 -1989 passou para uma média
de US$ 863 bilhões de 2000 a 2009. Por outro lado, a média das importações da
China para o mundo correspondia a US$ 35 bilhões de 1980 a 1989 e passou para
US$ 1,004 trilhão de 2000 a 2009 enquanto a média das importações dos Estados
Unidos em relação ao Mundo correspondia a US$ 351 bilhões no período de 1980 a
1989 e passou para US$ 1,605 trilhão de 2000 a 2009.
Assim, correlacionando o resultado da balança comercial evidencia-se que
de uma média de déficit comercial da China era de US$ 4 bilhões no período de
1980 a 1989 e passou para uma média de superávit de US$ 67 bilhões de 2000 a
2009, enquanto os Estados Unidos de um superávit comercial de US$ 101 bilhões
no período de 1980 a 1989 passou para uma média de déficit comercial de US$ 702
bilhões de 2000 a 2009.

Tabela 6 : Evolução das exportações e importações – mundo, Estados


Unidos e China, 1980-2010 (Em US$ bilhões correntes).
127
Fonte : Direção de Estatísticas Comerciais/FMI
Elaboração : Eduardo Costa Pinto
Nota : Acumulado dos três trimestres do ano

Essa dinâmica das exportações e importações chinesas e americanas


provocou mudanças significativas em seus respectivos market-share. Neste sentido,
a China passou à condição de maior exportador e de segundo maior importador
mundial, portanto alcançou uma hegemonia na dinâmica de poder mundial. Os
dados na tabela 6 evidenciam a extraordinária mudança de posição chinesa em tão
pouco tempo em face da política macroeconômica aliada ao altíssimo grau de
competitividade da indústria chinesa em face do baixo custo de carga tributária e o
elevado nível de infraestrutura. Em 2000, 3,9% e 3,4% das exportações e
importações de bens, respectivamente, originavam-se da China, ao passo que em
2008 essa participação saltou para 8,9% e 6,9%. Cabe observar que após a crise
internacional de 2008 essa tendência se acelerou, pois a participação chinesa nas
exportações e importações mundiais saltou de 9,7% em 2009 para 10,4% em 2010 e
de 7,9% em 2009 para 9% em 2010, respectivamente. No tocante aos Estados
Unidos, verificou-se uma perda substancial de market-share das exportações (de
12,3% em 2000 para 8,7% em 2010) e das importações (de 19,1% em 2000 para
13% em 2010) mundiais.
No que tange ao crescimento das importações chinesas foi, em grande parte,
da rigidez da dependência de insumos de alta tecnologia e da necessidade de
128
aquisição de commodities, mesmo na presença de uma taxa de câmbio
subvalorizada.
Tabela 7 - Participação nas exportações e importações globais – em US$ correntes – Estados Unidos
e China, 1980-2010 (Em %)

Fonte : Direção de Estatísticas Comerciais/FMI


Elaboração : Eduardo Costa Pinto
Nota : Acumulado dos três trimestres do ano

A exemplificação do papel desempenhado pelo comércio internacional na


estratégia de crescimento chinês, refletiu na elevação das importações e das
exportações chinesas, ou seja, os fatores e as políticas já salientadas contribuíram
para a elevação da produtividade da economia. Entre 2000 e 2011, o comércio
mundial aumentou 2,4 vezes ; entre a China e o mundo foi de 7,6 vezes e entre os
Estados Unidos e o mundo, 1,7 vez (Gráfico 35). Essa evolução do comércio
internacional evidencia que a China foi a grande responsável pela mudança recente
dos fluxos comerciais mundiais, como também pela redução da inflação mundial em
face da capacidade da China de ofertar produtos industrializados com preços baixos.
Ressalta-se o impacto da crise mundial de 2008 e os reflexos no tocante a
diminuição da corrente de comércio mundial em US$ 3,6 trilhões de 2009 em
relação a 2008, sendo que para China foi de US$ 356 bilhões e dos Estados Unidos
de US$ 795 bilhões.

129
De 2011 em relação a 2008 observou-se uma redução da corrente de
comércio mundial de US$ 213 bilhões enquanto a China teve um incremento de
US$ 1,036 trilhão e os Estados Unidos de US$ 294 bilhões.
Gráfico 35 – Evolução da corrente de comércio – mundo, Estados Unidos e China, 2000-2011
(Em US$ bilhões correntes)

18.000
16.000
14.000
12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
-
2000 2002 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011
CHINA 474 621 851 1.154 1.760 2.176 2.564 2.208 2.973 3.600
ESTADOS UNIDOS 2.041 1.893 2.027 2.341 2.944 3.168 3.456 2.661 3.247 3.750
MUNDO 6.724 6.741 7.861 9.567 12.435 14.297 16.513 12.862 15.402 16.300

Fonte: OMC
Elaboração: AEB
Nota : Para o exercício de 2011 é previsão

A dinâmica da evolução das exportações chinesas foi muito significativa em


face que em 2000 era de US$ 249 bilhões e passou para US$ 1,8 trilhão em 2011,
representando um incremento de 7,6 vezes enquanto os Estados Unidos no mesmo
período era de US$ 782 bilhões e passou para US$ 1,5 trilhão, ou seja, 1,91 vez. A
crise mundial impactou as exportações chinesas no tocante uma perda de US$ 229
bilhões de 2009 em relação a 2008 enquanto os Estados Unidos de US$ 231
bilhões.
Salienta-se que as medidas tomadas pelos Estados Unidos e China
refletiram no dinamismo das exportações em face que de 2011 em relação a 2009
as exportações chinesas tiveram um incremento de US$ 678 bilhões e as
americanas de US$ 494 bilhões.

Gráfico 36 – Evolução das exportações – Estados Unidos e China, 2000-2011


(Em US$ bilhões correntes)

130
2.000
1.800
1.600
1.400
1.200
1.000
800
600
400
200
-
2000 2002 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011
CHINA 249 326 438 593 969 1.220 1.431 1.202 1.578 1.880
ESTADOS UNIDOS 782 693 724 815 1.026 1.148 1.287 1.056 1.278 1.550

Fonte: OMC
Elaboração: AEB
Nota : Para o exercício de 2011 é previsão

No que se refere às importações chinesas verificou-se um crescimento


excepcional em face que em 2000 correspondia a US$ 225 bilhões e em 2011
alcançou US$ 1,7 trilhão, representando um incremento de 7,6 vezes enquanto dos
Estados Unidos era de US$ 1,2 trilhão e passou para US$ 2,2 trilhões representou
um crescimento de 1,75 vez. No que tange analisar a correlação entre a crise
mundial e as importações chinesas e americanas foi muito significativa em face que
de 2009 para 2008 as importações chinesas diminuíram em US$ 127 bilhões e as
americanas em US$ 564 bilhões.
Salienta-se ,ainda, que de 2011 em relação a 2009 as importações chinesas
cresceram US$ 714 bilhões e as americanas em US$ 595 bilhões.

Gráfico 37 – Evolução das importações – Estados Unidos e China, 2000-2011


(Em US$ bilhões correntes)

131
2 .5 0 0

2 .0 0 0

1 .5 0 0

1 .0 0 0

500

0
2000 2002 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011
C H IN A 225 295 413 561 791 956 1 .1 3 3 1 .0 0 6 1 .3 9 5 1 .7 2 0
ES TA D O S U N ID O S 1 .2 5 9 1 .2 0 0 1 .3 0 3 1 .5 2 6 1 .9 1 8 2 .0 2 0 2 .1 6 9 1 .6 0 5 1 .9 6 9 2 .2 0 0

Fonte: OMC
Elaboração: AEB
Nota : Para o exercício de 2011 é previsão

O Gráfico 38 evidencia os reflexos da política macroeconômica da China e os


resultados na balança comercial, ao longo dos anos 2000, no tocante a elevação do
déficit comercial americano com a China (PINTO,2011,p.37)
Além do aumento da corrente de comércio entre China e Estados Unidos, o
segundo elemento significativo dessa relação comercial, ao longo dos anos
2000, foi a elevação do déficit comercial americano com a China. O déficit
da balança comercial bilateral, entre 2000 e 2008, elevou-se em 219% (de
US$ 84 bilhões para US$ 268 bilhões). Esse crescimento do déficit ocorreu
mesmo com a expansão das exportações americanas para a China (de
334%, passando de US$ 16 bilhões para US$ 71 bilhões), pois as
importações americanas, oriundas da China, também cresceram de forma
significativa (de 238%, passando de US$ 100 bilhões para US$ 339
bilhões). Após a crise internacional de 2008, verificou-se que as
exportações americanas para a China caíram em velocidade menor do
que as importações, gerando redução dos déficits comerciais entre os
países em 2009 (US$ 227 bilhões) e nos três primeiros trimestre de 2010
(US$ 201 bilhões).

Gráfico 38 - Exportações, importações e saldo comercial dos Estados Unidos para a China
continental – 2000-2010 (Em US$ bilhões)

132
Fonte : Direção de Estatísticas Comerciais/FMI
Elaboração : Eduardo Costa Pinto
Nota : Acumulado dos três trimestres do ano

Observa-se a evolução da geração de déficits comerciais dos Estados


Unidos com o resto do mundo incluindo China entre 2000 e 2008
(PINTO,2011,p.38)
Os Estados Unidos também apresentaram crescimento em seus déficits
comerciais com o resto do mundo – incluindo China –, entre 2000 e 2008
(de US$ 446 bilhões para US$ 567 bilhões: crescimento de 87%), os
quais, contudo, reduziram-se em ritmo acelerado após a crise
internacional (US$ 507 bilhões em 2009 e US$ 486 bilhões nos três
primeiros trimestres de 2010). Cabe destacar ainda que, entre 2000 e
2010, os déficits comerciais entre Estados Unidos e China contribuíram
cada vez mais para ampliar os déficits comerciais daquele país com o
mundo (de 18,8% do déficit comercial total em 2000 para 31,1% em 2008);
inclusive essa participação se acelerou após a crise (44,7% em 2009 e
41,4% nos três primeiros trimestres de 2010). Pelo lado chinês,
observaram-se também déficits comerciais com o resto do mundo –
excluindo os Estados Unidos – entre 2000 e 2005, que foram revertidos
para superávits em 2006, 2007, 2008 e 2009.

Gráfico 39 - Evolução do saldo comercial – mundo, Estados Unidos e China, 2000-2010


(Em US$ bilhões)

133
Fonte : Direção de Estatísticas Comerciais/FMI
Elaboração : Eduardo Costa Pinto
Nota : Acumulado dos três trimestres do ano

A perda da competitividade das exportações americanas para a China


(PINTO,2011,p.39 e 40)

No plano comercial, o terceiro elemento importante da relação sino-ameri-


cana foi a redução na participação das importações chinesas de maior va-
lor agregado oriundas dos Estados Unidos. Esta foi uma tendência contrá-
ria à observada nas importações industriais de alta intensidade tecnológi-
gicas chinesas originárias do mundo (de 27,7%, no acumulado entre 1990
e 1994, para 43,6% no acumulado entre 2005 e 2009). Entre 1990 e 2009,
verificou-se expansão significativa em valor das importações industriais
chinesas oriundas dos Estados Unidos (de US$ 61,2 bilhões, no acumula-
do entre 1990 e 1994, para US$ 267 bilhões, no acumulado entre 2005 e
2009) que não foi suficiente para aumentar a participação desse tipo de
importações. Pelo contrário, o que se observou foi a redução da participa-
ção das importações industriais (de 74,6%, em 1990-1994, para 66,6%, em
2005-2009), em especial as importações industriais de alta intensidade tec-
nológica (de 45,2%, em 1990-1994, para 41,9%, em 2005-2009). A contra-
contrapartida disto foi que as importações de produtos não industriais (co-
(mmodities primárias), no mesmo período, cresceram tanto em termos de
valor (de US$ 13,8 bilhões, no acumulado entre 1990 e 1994, para US$
107,9 bilhões, no acumulado entre 2005 e 2009) como em participação (de
16,8%, em 1990-1994, para 26,8%, em 2005-2009) (Tabela 7).

Tabela 8 - Evolução das importações chinesas originárias dos Estados Unidos por intensidade
tecnológica – valor acumulado para períodos – 1990-2009

134
(Em US$ bilhões correntes)

Fonte: Comtrade/ONU.
Elaboração de Eduardo Costa Pinto.
Nota: ¹ Classificação extraída de OCDE (2003).
Observa-se que o outro fator estrutural na análise da dinâmica do poder da
China em relação aos Estados se reflete no grau de competitividade da evolução da
participação de produtos de maior valor agregado (PINTO,2011,p. 41 e 42)
O quarto elemento representativo da relação sino-americana, no plano co-
mercial, foi o aumento explosivo da participação de produtos de maior
valor agregado nas exportações chinesas para os Estados Unidos. A análi-
se da evolução das exportações por intensidade tecnológica, entre 1990 e
2009, evidencia o aumento significativo do volume e da participação das
exportações industriais com maior valor agregado. As exportações de
produtos industriais de alta e média intensidade tecnológica foram as que
mais cresceram em valor (de US$ 56,9 bilhões, no acumulado entre 1990
entre 1990 e 1994, para US$ 700 bilhões, no acumulado entre 2005 e 2009)
e em participação (de 28,8% em 1990-1994 para 53,9% em 2005-2009).
Ao passo que produtos industriais exportados intensivos em trabalho e re-
cursos naturais tiveram forte redução na participação total (de 57,7%, em
1990-1994, para 31,3%, em 2005-2009), mesmo com aumento em seu valor
(de US$ 114,1 bilhões no acumulado entre 1990 e 1994, para US$ 407,2 bi-
lhões, no acumulado entre 2005 e 2009) Tabela 9). É preciso destacar que
esta tendência de aumento do conteúdo tecnológico das exportações chine-
sas para os Estados Unidos também é verificada para as exportações chi-
nesas ao resto do mundo – a participação das exportações chinesas para o
mundo de produtos industriais de alta e média intensidade tecnológica au-
mentou de 32,6% em 1990-1994 para 58,6% em 2005-2009”.

Tabela 9- Evolução das exportações chinesas originárias dos Estados Unidos por intensidade
tecnológica, valor acumulado para períodos – 1990-2009 (Em US$ bilhões correntes)
135
Fonte: Comtrade/ONU.
Elaboração de Eduardo Costa Pinto.
Nota: ¹ Classificação extraída de OCDE (2003).
Assim, se observa que as pressões dos EUA para que a China valorize a sua
moeda (yuan) são insuficientes em face do poder que esta tem em relação à aquele
em face do financiamento da dívida pública americana.
A dinâmica da geração de superávits comerciais da China resultou no poder
sobre os EUA no que concerne ao financiamento da dívida concomitantemente a
posição devedora da China em face dos altos IDEs americanos (FIORI, 2008;
TAVARES; BELUZZO, 2004 apud PINTO, 2011,p.53).
A inclusão da China ao mercado de bens e de capitais dos Estados Unidos
significou, no plano financeiro, a maior e mais rápida expansão do território
econômico supranacional americano, pois potencializou significativamente
o poder do dólar e dos títulos da dívida pública do governo americano, o
que, por sua vez, elevou a capacidade de multiplicação do capital
financeiro dos Estados Unidos. Nesse contexto, a China é, ao mesmo
tempo, devedora dos Estados Unidos – devido aos altos IDEs americanos
no território chinês – e credora do Estado americano – em virtude do
enorme acúmulo de reservas soberanas na forma de títulos do Tesouro.

Evidencia-se a dimensão do poder da China no tocante as reservas


estrangeiras para o financiamento da dívida pública americana (LEÃO, 2009;
PRASAD; SORKIN, 2009; PRASAD; GU, 2009 apud PINTO, 2011,p.53).

As reservas estrangeiras – exclusive ouro – da China vêm crescendo de


forma acelerada ao longo da década de 2000 (de US$ 168,3 bilhões em
136
2000 para US$ 2,416 trilhões em 2009) (tabela 11). O governo chinês não
divulga a composição de suas reservas, no entanto, existem estimativas
que avaliam que entre 70% e 75% delas são mantidas em ativos
denominados em dólares, sendo o restante composto por ativos
denominados em ienes e euros.

Tabela 10 - Balanço de pagamentos e reservas internacionais – China, 2000-2009


(Em US$ bilhões)

Fonte: International Financial Statistics (IFS)/FMI.


Elaboração de Eduardo Costa Pinto
Nota: ¹ Convertido pela taxa de câmbio – iuane/dólar – na média do período.
Obs.: BP = balanço de pagamento.
É interessante observar a análise da evolução da posição das reservas da
China e a contribuição desagregada da balança de transações correntes e a conta
capital e financeira (PINTO,2011,p. 54)
Os dados da decomposição da mudança na posição das reservas da Chi-
na (Tabela 11) acumuladas entre 2000 e 2009 (de US$ 2,337 trilhões) evi-
denciam que o saldo em transações correntes contribuiu com 73% do acu-
mulado das reservas no período, sendo que a balança comercial foi o item
que mais contribuiu nesta conta (cerca de 63,9%), ao passo que a conta
capital e financeira contribuiu com 23,2% das reservas acumuladas.
Como o ingresso líquido de IED foi superior ao resultado da conta capital e
financeira, ocorreu uma saída líquida de capitais de outros tipos da China.

Tabela 11 - Decomposição da mudança na posição das reservas – valor acumulado para


os períodos selecionados – China, 2000-2009 - (Em US$ bilhões)
137
2000 - 2009 2000 - 2004 2005 -2009
Mudança na posição da reserva (B.P) 2.337 460,7 1.876,3
1. Transações correntes 1.707 187,9 1.519,2
Participação do total acumulado (%) 73,0 40,8 81
Balança comercial 1.493 216,3 1.277,5
Participação do total acumulado (%) 63,9 47,0 68,1
2. Conta capital e financeira 514,2 232,4 308,8
Participação do total acumulado (%) 23,2 50,4 16,5
Resultado IDE 596,8 222 374,8
Participação do total acumulado (%) 25,5 48,2 20,0
3. Erros e omissões 88,8 40,4 48,4
Participação do total acumulado (%) 3,8 8,8 2,6
Fonte: International Financial Statistics (IFS)/FMI
Elaboração do Eduardo Costa Pinto
Nota: ¹ Convertido pela taxa de câmbio – iuane/dólar – na média do período.
Obs.: BP = balanço de pagamento.

Para corroborar a análise de que os resultados obtidos da balança comercial


foram fatores significativos para a constituição das reservas da China e foram
utilizados para o financiamento da dívida pública americana (PINTO,2011,p. 55)
É preciso ressaltar que existe significativa diferença da decomposição
das reservas acumuladas ao longo desse período, a saber: i) entre 2000 e
2004, as transações correntes contribuíram com 40,8% das reservas
acumuladas (de US$ 460,7 bilhões), sendo que a contribuição da balança
comercial (47,%) foi maior do que a das transações correntes, o que
evidencia que os outros componentes das transações correntes foram
deficitários. Pelo lado da conta capital e financeira, verificou-se a
contribuição de 50,4% do acúmulo de reservas, sendo que o ingresso
líquido de IDE contribuiu com 48,2%; ii) entre 2005 e 2009, o saldo nas
transações correntes contribuíram com 81% das reservas (de US$ 1,519
trilhão). Desta conta, o componente que mais gerou reservas foi a balança
comercial (68,1%). Quanto à conta capital e financeira observou-se que ela
proporcionou 16,5% das reservas que foi inferior ao resultado líquido do IED
(20%), evidenciando, por sua vez, a ocorrência de uma saída de outros
tipos de capitais (tabela 12).
Esse enorme aumento das reservas internacionais chinesas esteve asso-
ciado ao acúmulo de títulos do Tesouro americano pela China.
Entre dezembro de 2001 e dezembro de 2010, verificou-se crescimento
de 1.375% (de US$ 78,6 bilhões para US$ 1,160 trilhão) no estoque de títu-
os do Tesouro dos Estados Unidos em poder dos chineses. Essa evolução
gerou significativa elevação da participação do total de títulos americano em
poder do governo chinês (de 7,6% para 26,1%) (gráfico 5). Inclusive, a par-
tir de setembro de 2008 a China passou a ser o país com o maior esto-
que de títulos do Tesouro dos Estados Unidos, ultrapassando o Japão.
Vale ressaltar que, após a crise internacional de 2008, a China manteve o
ritmo das compras dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

138
Ressalta-se a significativa análise sobre a China no tocante a acumulação de
reservas internacionais mantendo a taxa de câmbio fixa e sem gerar pressões
inflacionárias (NONNENBERG,2010, p. 212)
Como foi possível à China acumular reservas internacionais em valores
tão elevados, mantendo a taxa de câmbio fixa sem, ao mesmo tempo, ge-
rar pressões inflacionárias? A contrapartida da elevação das reservas é o
aumento da dívida pública. Quanto maior a dívida, maiores os encargos
financeiros e maior o déficit fiscal. Entretanto, à diferença da maior parte
dos demais países, tanto o déficit fiscal da China quanto o valor inicial da
dívida pública eram relativamente pequenos. A dívida bruta do governo
32
central passou de aproximadamente 6,5% do PIB em 1990 para 15,7%
33
em 2008 .

Na realidade, a China como a nova força hegemônica na dinâmica de poder


percebeu que além de ter a capacidade de implementar uma política comercial que
gerasse excedentes significativos na balança comercial poderia aliar a uma política
fiscal e monetária altamente expansionistas no sentido de gerar um significativo
crescimento superior ao PIB potencial, mesmo que resultasse em ciclos
inflacionários.
Na análise entre inflação e PIB potencial verificou-se que o produto potencial
cresceu, em média, por quase 30 anos, à taxa de 10% ao ano
(NONNENBERG,2010, p. 209)

Pode-se também analisar a relação entre inflação e PIB potencial. Uma


estimativa simples, porém bastante utilizada para medir o PIB potencial, é
por meio do filtro Hodrick-Prescott (HP) para os dados de crescimento
real do produto efetivo.
No gráfico 41 são exibidas as taxas de variação real do PIB efetivo e as ta-
xas para o PIB potencial utilizando-se o filtro HP. Verifica-se também aqui
que períodos em que o crescimento do PIB efetivo foi maior do que o do
PIB potencial precederam elevações da inflação.
É razoável considerar, assim, que o período de relativa estabilidade de
preços na China entre 1997 e 2006 está fortemente associado ao fato de
o PIB efetivo ter crescido a um ritmo muito próximo do PIB potencial,
indicando hábil manejo da política de curto prazo. Por outro lado, não há
como deixar de se impressionar por um produto potencial crescendo, em
média, por quase 30 anos, à taxa de 10% ao ano.

32
De acordo com o Banco Mundial.
33
Segundo o CIA World Factbook
139
Gráfico 40: PIB – Taxas reais efetivas e potenciais (filtro HP) e variação dos
preços ao consumidor (em%)

Fonte: NBS : elaboração Marcelo José Braga Nonnenberg


O governo chinês para manter os altos níveis de crescimento desde a década
de 80 se fundamentou no consumo e investimento (NONNENBERG,2010, p. 206).
O Gráfico 42 apresenta a contribuição ao crescimento econômico do con-
sumo final, dos investimentos e das exportações líquidas de bens e servi-
ços. Apesar da importância das exportações para a dinâmica da economia
chinesa, verifica-se que, ex-post, a contribuição das exportações líquidas
é bastante pequena na maior parte do tempo, sendo mesmo negativa em
alguns anos, devido ao grande peso das importações. Assim, a quase tota-
lidade do crescimento é explicada pelo consumo e pelos investimentos —
embora seja claro que estes últimos foram em boa medida estimulados pela
perspectiva de atendimento da demanda externa.
Note-se que, nos últimos cinco anos da série, a contribuição dos investi-
mentos suplanta ou iguala a do consumo final, podendo estar havendo um
excesso de acumulação de capital. Ademais, na presença de taxas de ju-
muito baixas, o investimento pode apresentar taxas de retorno muito baixas.

140
Gráfico 41: Contribuições ao crescimento do PIB – %

Fonte: NBS : elaboração Marcelo José Braga Nonnenberg


Salienta-se ,ainda, análise no que tange a elevação do volume de crédito em
proporção do PIB apesar das limitações do sistema financeiro chinês (LEVY,
NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 86)
Embora o volume de crédito seja elevado como proporção do PIB, o
sistema financeiro chinês não é muito desenvolvido. As alternativas de
poupança são limitadas, as taxas de juros para empréstimos são contro-
ladas e há pouca margem para diferenciar riscos. Todo o sistema bancário
ainda é público, mas já existem associações com bancos privados estran-
geiros. Há grande preocupação com o volume de créditos podres no siste-
ma, especialmente porque a perspectiva de sobreinvestimento decorrente
do forte crescimento dos últimos anos prenuncia uma fase de “depuração”.

No que se refere ao dinamismo do PIB dos Estados Unidos de 1990 a 2007


foi reflexo da combinação das políticas monetária¸ de crédito, de juros e de
construção residencial (GONTIJO,2007). Por outro lado a análise de (CINTRA &
PRATES , 2011) evidencia que o crescimento do PIB americano de 1970 a 2011 “foi
resultado da ruptura do sistema de Bretton Woods, a qual consolidou a hegemonia
america em função do um grau de liberdade quase ilimitado na gestão das suas
políticas : a cambial, a monetária e a fiscal”. Esta dimensão do poder do Tesouro
dos Estados Unidos é de tal forma que se exemplifica através da política de
afrouxamento quantitativo, ou seja, para que o país não entrasse em uma grave
recessão em face da necessidade de realizar um ajuste fiscal no tocante o aumento
dos impostos ou redução dos gastos governamentais, os quais impactariam o
crescimento do PIB.

141
A título de comparação o PIB americano representava US$ 2 trilhões de
dólares em 1990 e passou para US$ 15 trilhões em 2011 (Gráfico 42). Ressalta-se
que com a crise mundial deflagrada pela crise do subprime o PIB americano era em
valores nominais US$ 14,219 trilhões em 2008 e reduziu para US$ 13,864 trilhões
em 2009 e com as alusivas medidas de afrouxamento quantitativo passou para
US$ 15,119 trilhões em 2011. No tocante a China o PIB chinês que era de
US$ 4,521 trilhões em 2008 e passou para US$ 4,991 trilhões em 2009 ,e, por
conseguinte em face do seu alusivo poder também utilizou a hegemonia das
políticas fiscal, a monetária, a cambial e de creditícia e ainda aliada a uma política
de estimulo ao investimento sob a ótica Keynesiana em 2011 sem levar em
consideração a visão de Hayek, bem como as dificuldades do sistema financeiro
chinês no que se refere à geração de créditos podres (MACÁRIOS,2011). Neste
contexto, o PIB chinês alcançou US$ 7,298 trilhões em 2011.
Gráfico 42 – PIB em valores nominais dos Estados Unidos e China – 1990 a 2011 - (Em US$ trilhões)

16.000.000.000.000 35,00%

14.000.000.000.000 30,00%
12.000.000.000.000
25,00%
10.000.000.000.000
20,00%
8.000.000.000.000
15,00%
6.000.000.000.000
10,00%
4.000.000.000.000
2.000.000.000.000 5,00%

0 0,00%
1990 1991 19921993 1994 19951996 1997 19981999 2000 20012002 2003 20042005 2006 20072008 2009 20102011

China Estados Unidos Taxa Crescimento nominal do PIB Chinês Taxa Crescimento do PIB nominal Estados Unidos

Fonte : Banco Mundial

A dimensão do poder dos Estados Unidos se reflete, na medida em que o


tsunami de trilhões de dólares resultou em uma valorização excessiva do real no
Brasil em face que uma parte desses dólares foi atraído pelo diferencial da taxa
Selic. Salienta-se que a taxa Selic foi aumentada pelo Banco Central em 2011 para
conter a inflação já que esta estava bem acima da meta. Ressalta-se ,ainda, a
contribuição efetiva para a alusiva valorização os empréstimos tomados pelos
bancos privados e os empréstimos da Petrobrás para realizar os altos investimentos
do Pré-Sal que também contribuíram para a valorização do real.

142
A valorização do real impactou em um crescimento significativo do déficit
comercial do segmento de produto industrializado no Brasil ,e, portanto impactou no
crescimento do PIB.
No que se refere ao exercício de 2012 o governo Dilma decidiu como
estratégia para recuperar a competitividade da indústria a depreciação do real em
relação ao dólar a taxa de R$ 2,00, entretanto não resultou no aumento da produção
industrial (ver no tópico desindustrialização).
No tocante a alusiva política monetária de expansão quantitativa do Banco
Central americano teve resultados distintos diminuiu o problema de financiamento da
dívida sem que os Estados Unidos necessitassem realizar o ajuste fiscal, entretanto
não produziu impacto no PIB dos Estados Unidos em face que em 2008,2009, 2010
e 2011 foi verificado uma redução real do PIB de 7,94%,8,77%,9,60% e 10,76%,
respectivamente. Assim, a China percebeu essa dinâmica do poder e obteve um
extraordinário crescimento nominal do PIB em dólar de 2011 em relação a 2008.
Gráfico 43 – Estados Unidos – PIB em valores nominais e valores reais – 1995 – 2011 (US$ trilhões)
1 6 .0 0 0 .0 0 0
1 4 .0 0 0 .0 0 0
1 2 .0 0 0 .0 0 0
1 0 .0 0 0 .0 0 0
8 .0 0 0 .0 0 0
6 .0 0 0 .0 0 0
4 .0 0 0 .0 0 0
2 .0 0 0 .0 0 0
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

E s ta d o s U n id o s ( P IB R E A L ) E s ta d o s U n id o s (P IB N O M IN A L )

Fonte : Banco Mundial


Em 1970, o PIB dos Estados Unidos representava 35,4% do PIB Mundial e
em 2011 reduziu para 21,6%. Em 2011, a magnitude dimensão do seu poder se
reflete não só na dimensão do seu PIB, como também na alta correlação com a sua
monumental dívida bruta, a qual inclui compromissos intragovernamentais,
predominantemente fundos de previdência social, ou somente os títulos da dívida
pública em poder do público. A primeira, hoje em 90% do PIB, contrastada com
menos de 60% da segunda (FISLOW,2011) resultou em uma redução real da taxa
de crescimento do PIB a partir da crise de 2007, entretanto não houve aumento da
taxa de juros apesar da manutenção de déficits gêmeos fiscais e conta-corrente
astronômicos em % do PIB. Salienta-se, ainda, que o prazo de 30 anos de

143
financiamento da dívida possibilita ao governo americano a não ser forçado a
implementar um ajuste fiscal no tocante ao aumento das receitas ou redução dos
gastos, os quais impactariam ainda mais na taxa de crescimento do PIB.
A crise de 2008 resultou em um impacto significativo no tocante ao
incremento da dívida pública34.
Obama herdou os efeitos da monumental crise de 2008. Atacou-os com
brutal aumento de liquidez, por meio da injeção de 3 trilhões de dólares na
economia e de taxa de juros beirando zero. A dívida pública dobrou em
quatro anos, indo de 5 trilhões de dólares para 10 trilhões de dólares.

Ressalta-se ainda a desregulamentação financeira resultou na securitização


hipotecária tornando uma fonte importante de expansão do setor financeiro
(FISLOW,2011) aliada as vulnerabilidade analisadas pelo Secretário do Tesouro
americano, Timothy Geithner, no tocante ao consumo e o endividamento
excessivos e a segunda falha foi a de regulação do sistema financeiro já
salientadas no tópico crédito imobiliário. Assim, estes fatores também impactaram
no alusivo crescimento real do PIB americano.
A crise do mercado subprime aprofundou o nível de endividamento total do
setor público e privado norte americano, refletindo na necessidade do aumento da
poupança pós crise, sendo um dos fatores para redução do consumo ,e, portanto
impactando na redução do PIB real.
Segundo dados de um artigo do economista André Lara Resende, a dívida
total dos Estados Unidos (setor público, empresas e famílias) alcançou
360% do PIB do país em 2008, nível superior ao de 1929 (300%), e mais
que o dobro da média entre 130% e 160% do PIB registrada entre as
35
décadas de 50 e 80.

O alto endividamento do setor público e americano impactou no PIB em face


que se verificou uma redução real do PIB de 2011 em relação a 2008. A título de
comparação em 2007 o PIB real era de US$ 13,238 trilhões correlacionando a um
PIB nominal de US$ 14,061 trilhões. Em 2011, o PIB real passou para US$ 13,526
trilhões enquanto o PIB nominal alcançou US$ 15,157 trilhões.
Assim, correlacionando o alto crescimento do PIB nominal dos Estados
Unidos de 2011 em relação a 2007 com o baixo crescimento do PIB real no mesmo
período significa que as decisões tomadas pelo Tesouro e o Banco Central
34
Da mão de ferro à mão invisível. Revista Veja, Editora Abril, São Paulo edição nº 2.278, p. 81, 18
de julho de 2012..
35
Ibidem. O mundo pós crise como usar. Revista Veja , Editora Abril, São Paulo, edição nº 2.130,
p.125, 16 de setembro de 2009.

144
americano tem como objetivo a monetização da dívida, ou seja, exportando inflação
para o resto do mundo e valorização das moedas como o Real.
Logo, a China se beneficiou dessa estratégia dos Estados Unidos quando se
observou o seu excepcional crescimento do seu PIB em valores nominais em
dólares de 2011 em relação a 2008 (Gráfico 33).
Entretanto, se considerarmos o problema do financiamento da dívida pública
a França e Alemanha estão também sendo beneficiadas em face da redução do
custo da dívida diferentemente da Espanha e Itália, pois na ausência da dinâmica do
crescimento do consumo os poupadores direcionaram os seus recursos
principalmente para Alemanha, refletindo que o custo de financiamento da dívida
atualmente seja negativo.
Diante da magnitude do problema do sistema bancário e da necessidade da
retomada do crescimento o Federal Reserve utilizou o instrumento do afrouxamento
quantitativo. Esta ferramenta é uma peculiaridade da política monetária, entretanto
só pode ser realizada se o banco central controla a moeda utilizada. Assim, os
bancos centrais dos países da zona euro, por exemplo, não pode unilateralmente
expandir sua oferta de moeda e, portanto, não pode empregar a flexibilização
quantitativa em face que a definição da política monetária está na competência do
Banco Central Europeu (BCE).
No tocante ao uso deste instrumento Quantitative Easing pelo BCE foi menor
do que os programas dos bancos centrais dos Estados Unidos e Inglaterra
(OLIVEIRA,2010,p,26).
A perspectiva do Banco Central Europeu era diferente desses outros
bancos centrais, já que o crédito do sistema financeiro europeu é
primordialmente originado pelos bancos. No sistema europeu, o aumento da
liquidez no setor bancário foi o principal objetivo do programa que, na
verdade, foi chamado de credit enhanced program.
O programa anunciado pelo BCE teve como principal medida o aumento do
conjunto de ativos como colateral para a tomada de empréstimos junto á
autoridade monetária. Esses empréstimos colaterizados já constituíam
operações que o BCE realizava no período anterior à crise, e, por isso, a
sua implementação foi relativamente fácil e direta. Foram adotados
extensões da classe de ativos que seriam aceitos como colateral. Além
disso, a maturidade dos empréstimos também foi aumentada, chegando, no
auge da crise, a alcançar 1 ano.
A taxa dessas operações também foi fixada em 1%, e o volume de
emprésimos foi estipulado como ilimitado. Muitas dessas operações estão
sendo ou já foram lentamente revertidas,de acordo com a menor demanda
dos bancos por empréstimos do BCE, devido ao retorno da liquidez no
mercado interbancário.
O programa de compras de ativos privados (covered bands) foi limitado a 60
bilhões de euros e não foi o principal canal de afrouxamento da política
145
monetária. O Quantitative Easing realizada pelo BCE, na forma mais
tradicional, apenas veio a ocorrer em 2010,devido à aguda crise das dívidas
soberanas de alguns países europeus. Diante do questionamento sobre a
capacidade de pagamento dos países periféricos e o possível contágio da
crise para países maiores como Espanha e Itália, o BCE iniciou um
programa de compra de títulos públicos de países com alta volatilidade para
evitar movimentos abruptos nos spreads. Essa compra de títulos públicos
de alguns países da Zona do Euro foi bastante criticada, inclusive por
menbros do próprio BCE.

O poder da Alemanha como a sustentabilidade fiscal da Zona do Euro


resultou que uso do QE fosse esterilizado em face de não provocar impactos
inflacionários.
Salientam-se as diferenças entre os programas do BCE, Banco da Inglaterra
(BOE) e os implementados pelo FED no tocante ao instrumento QE
(OLIVEIRA,2010,p.27).
A principal diferença entre o programa do BCE e os implementados pelo
FEDE e BOE é que o BCE não anunciou montantes específicos de compras
de títulos por país e nem divulgou quais seriam a duração do programa e o
total de títulos a serem absorvidos. Outra diferença é que as compras dos
outros bancos centrais não foram esterilizadas. Pelo contrário, a expansão
do balanço dos bancos centrais fazia parte do objetivo da política monetária.

Com a crise mundial a política de afrouxamento quantitativo foi muito utlizado


pelos Estados Unidos, o Reino Unido e da zona euro de 2007-2012 no sentido de
estimular a demanda doméstica.
Os EUA Reserva Federal realizou entre US$ 700 bilhões e US$ 800 bilhões
em títulos do Tesouro em seu balanço antes da recessão. No final de novembro de
2008, o Fed começou a comprar $ 600 bilhões em títulos lastreados em hipotecas
(MBS)36. A magnitude dos problemas das hipotecas o Fed direcionou um volume
significativo ao setor imobiliário em 2009 (OLIVEIRA, 2010,p.25).
Do total de US$ 1,7 trilhão de compras realizadas pelo FED, US$ 1,25
trilhão foi destinado à compra de MBS e US$ 175 bilhões à compra de
obrigações de dívidas das Governenment Sponsored Enterprise (GSE)
ligadas ao setor imobiliário.

O poder dos Estados Unidos possiblitou o financiamento das dívidas do setor


imobiliário no longo prazo (OLIVEIRA, 2010,p.25).
As compras de MBS foram concentradas em títulos de 30 anos, emitidos
por Fannie Mae e Freddie Mac. Já as compras dos ativos das GSE foram
concentradas em ativos de médio prazo, pois a oferta

36
http://www.ft.com/cms/s/0/69e8c92c-e758-11df-880d-00144feab49a.html

146
de longo prazo era limitada. Além da intervenção no setor imobiliário, o FED
também anunciou compras no total de US$ 300 bilhões em títulos de longo
prazo do Tesouro americano, priorizando maturidades de 2 a 10 anos.

O objetivo principal do FED era restaurar o mercado de títulos imobiliários,


entretanto foi de fato um relaxamento creditício (OLIVEIRA, 2010,p.25).
O objetivo principal do FED era restaurar o mercado de títulos imobiliários
que havia congelado durante a crise. O anúncio do programa não foi
diretamente vinculado ao impacto das compras sobre a atividade
econômica, mas sim ao impacto sobre a oferta e a normalização do setor
financeiro. Portanto, a primeira fase do programa de expansão monetária do
FED que se seguiu à paralisação dos mercados fianceiros em 2008 teve
como principal objetivo servir de contraparte para as operações vistas como
fundamentais para o funcionamento de diversos mercados. Isto é, a
primeira etapa do relaxamento monetário foi de fato um relaxamento
creditício.

Em junho de 2010, o Banco Central americano destinou o montante de


US$ 2,1 trilhões para a política de afrouxamento quantitativo, entretanto novas
aquisições foram interrompidas quando a economia começou a melhorar, mas
retomou em agosto de 2010, quando o Fed evidenciou que a economia não estava
crescendo de forma robusta.
Após a parada em junho de participações começou a cair naturalmente como
dívida vencida e foram projetados para cair para US $ 1,7 trilhão em 2012. A meta
revista do Fed tornou-se a manter participações no nível de US$ 2,054 trilhões. Para
manter esse nível, o Fed comprou US$ 30 bilhões em notas de 2-10 anos do
Tesouro de um mês. Em novembro de 2010, o Fed anunciou uma segunda rodada
de flexibilização quantitativa, ou "QE2", comprar $ 600 bilhões em títulos do Tesouro
37 38
até o final do segundo trimestre de 2011. [ ] [ ]
Segundo o FMI, as políticas de flexibilização quantitativa efectuadas pelos
bancos centrais dos principais países desenvolvidos desde o início da crise
financeira tarde da década de 2000 têm contribuído para a redução dos riscos
sistêmicos após a falência do Lehman Brothers. O FMI afirma que as políticas
também contribuíram para as melhorias na confiança do mercado e do fundo do
poço da recessão nas economias do G-7, no segundo semestre de 2009.39

37
Censky, Annalyn (3 Nov 2010). "QE2: Fed pulls the trigger". CNNmoney.com. Retrieved 10 Aug
2011.
38
AMADEO, Kinberley. What Is Quantitative Easing? Disponível em <
http://useconomy.about.com/od/glossary/g/Quantitative-Easing.htm. Acesso em 28 de agosto de
2012.
39
KLYUEV, Vladimir ; IMUS, Phil de ; and SRINIVASAN, Krishna. Unconventional Choices for
Unconventional Times: Credit and Quantitative Easing in Advanced Economies. International
Monetary Fund. November 4, 2009.
147
O economista Martin Feldstein argumenta que QE2 levou a um aumento do
mercado de ações no segundo semestre de 2010, contribuindo para o aumento do
40
consumo e do forte desempenho da economia dos EUA no final de 2010. Em
novembro de 2010, o presidente do Banco Central americano, Ben Bernanke,
questionado sobre a eficácia do programa do Fed QE ele respondeu que suas ações
refletem o ambiente econômico de alto desemprego e baixa inflação.41 Entretanto,
este instrumento de política monetária é a forma que o Banco Central americano
utilizou para reduzir os impactos sobre a economia americana no que tange a evitar
ao incremento do desemprego, bem como a redução da taxa de juros do
financiamento da dívida pública.
Salienta-se que a flexibilização quantitativa pode causar uma inflação mais
elevada do que a desejada, conforme foi evidenciado que o incremento do PIB
nominal americano de 2011 em relação a 2007 foi muito significativo com relação ao
PIB real, ou seja, refletindo em uma monetização da dívida pública americana.
Para Harvey (2012, p.14), o geógrafo e antropólogo, a decisão do Federal
Reserve de implentar a política de afrouxamento quantitativo criando do nada 1
trilhão de dólares gera um problema no sistema capitalista.
Há uma constante pressão da acumulação de capital contra seus limites.
Periodicamente esses limites se mostram muito difíceis de superação. É
quando se tormam difíceis de superação. E quando se tornam difíceis de
superação nós temos uma situação de congelamento do sistema. Surge
então a pergunta de como é possível para o capitalismo acumular sem
limites. Marx tem uma resposta muito interessante para isso, que a única
coisa que pode ser acumulada sem limite é dinheiro. Você pode criar
dinheiro porque dinheiro é só número. [....] Isso é o que nós vemos quando
o Federal Reserve pratica o afrouxamento quantitativo criando do nada um
trilhão de dólares. E Keynes mostra que isso, por si, gera um novo proble-
ma : onde investir esses recursos ?

Segundo Harvey (2012,p.14) não havendo limite monetário, mas existindo


limites de recursos naturais, de capacidade de produção e consumo, resultando em
um grande deslocamento de capitais em direção à terra e a propriedade imobiliária
contribuindo para o colapso das propriedades.
Sim. Marx dizia a mesma coisa. Não há limite monetário, mas há limites de
recursos naturuais, de capacidade de produção e de consumo. Isso traz a
tema do excedente (surplus) de capital, que tem levado a um grande
deslocamento de capitais em direção à terra e à propriedade imobilária.

40
Feldstein, Martin (2011-02-24). "Quantitative Easing and America's Economic Rebound". project-
syndicate.org. Project Syndicate. Retrieved 2011-04-04.
41
BERNANKE, Ben "Open letter to Ben Bernanke". The Wall Street Journal. 15 Nov 2010. Retrieved
12 Aug 2012.

148
Globalmente, há um movimento de “tomada de terras” (land grabing) de
investimento em ativos naturais. Essa dinâmica, evidentemente,tem limites,
que só podem ser transcedidos na esfera monetária. Nós criamos liquidez
como mecanismo de enfrentamento da crise, mas não sabemos para onde
vai essa liquidez, onde colocá-la e como usá-la. Outra coisa que acontece é
que, ao criar dinheiro, você cria desvalorização, seja a própria
desvalorização do dinheiro ou a desvalorização dos ativos, como vimos
acontecer no mercado imobiliário americano. Daí, os valores das
propriedades colapsam.

Para corroborar esta análise, se evidenciou que os bancos americanos e da


Zona do Euro continuam relutantes em emprestar dinheiro para as pequenas
empresas e as famílias, a fim de estimular a demanda uma vez que o nível de
endividamento é muito significativo tanto nos Estados Unidos e da Zona do Euro.
Ressalta-se que a flexibilização quantitativa pode efetivamente facilitar o processo
de desalavancagem em face de reduzir os rendimentos. Entretanto, no contexto de
uma economia global as taxas de juros mais baixas podem contribuir para a bolhas
de ativos em outras economias, bem como o tsunami de dólares e euros despejados
pelos alusivos Bancos Centrais refletiram na economia brasileira com a valorização
do real conforme já salientado que em face da política monetária do Banco Central
do Brasil, a qual este foi forçado a elevar a taxa de juros Selic em função do
incremento da inflação, a qual estava bem superior a meta aliada a livre entrada de
capital.
Salienta-se ,ainda, a assimetria no sistema monetário internacional, a qual
reflete na dinâmica de poder mundial, bem como na fragilidade financeira dos países
em desenvolvimento para que os efeitos sejam significativos no que concerne ao
instrumento de afrouxamento quantitativo como ocorreu no Brasil em 2011 em face
depois da década de 90 estar fadado a ser uma plataforma de valorização do capital
especulativo (PAULANI,2008).
Os bancos centrais dos países mais desenvolvidos (por exemplo, Reino
Unido, EUA, Japão e UE) estão proibidos por lei a comprar dívida pública
diretamente do governo e deve, em vez de comprá-lo no mercado secundário. Esta
duas etapas no processo, onde o governo vende títulos a entidades privadas que o
banco central compra então, tem sido chamado de "monetizar a dívida" por muitos
analistas. A característica distintiva entre QE e monetização da dívida é que, com
QE, o banco central é a criação de dinheiro para estimular a economia, não para
financiar gastos do governo. Entretanto, conforme já salientado o excepcional
crescimento do PIB nominal dos Estados Unidos de 2011 em relação a 2007 o
149
Banco Central americano demonstra que não tem uma meta de inflação, refletindo
que está monetizando a dívida para reduzir os problemas com a dívida de
financiamento.
Segundo Richard W. Fisher, presidente do Federal Reserve Bank de Dallas,
advertiu que um risco potencial de QE é, "o risco de ser visto como embarcar no
terreno escorregadio da monetização da dívida.42
Sabemos que uma vez um banco central é percebido como alvo os
rendimentos da dívida pública em um momento de persistentes déficits
orçamentários, a preocupação com monetização da dívida rapidamente se
levanta. " e mais tarde nos Estados mesmo discurso de que o Fed é
monetizar a dívida pública.

A dinâmica do poder dos Estados Unidos é prontamente transparente: A


Reserva Federal anunciou compras de US$ 300 bilhoes em títulos de longo prazo do
Tesouro, um montante que, anualizado, representa o déficit projetado de do governo
federal para o próximo ano, refletindo na monetização da dívida federal43.
O entendimento de (BERGSTEN, 2009 apud MACÁRIOS,2011, p. 15) sobre a
dificuldade dos americanos de fazer política monetária. Além disso, BERGSTEN
analisa que o déficit orçamentário americano resulta em um grande déficit em conta
corrente refletindo na obtenção de superávits comerciais e geração de empregos,
particularmente a China.
Os americanos também têm dificuldade de fazer política monetária. Todos
esses fatores, aliados à falta de supervisão do sistema financeiro, levaram
ao desencadeamento da crise financeira nos EUA. De acordo com o autor,
caso o mundo continue a financiar o déficit americano, as condições para a
ocorrência de uma nova crise estarão dadas.
O déficit orçamentário aumenta a demanda doméstica por produtos e capital
estrangeiros, porque eleva a demanda doméstica a um nível maior do que o
seu potencial, e promove grande déficit em conta corrente, pois parte da
demanda interna é financiada pelo capital estrangeiro. Outros países se
beneficiam com o correspondente superávit comercial e com a geração de
empregos, particularmente a China. Um maior controle sobre o déficit
comercial americano levaria a uma mudança na estratégia de crescimento
baseada na exportação, adotada por alguns países, que seriam obrigados a
expandir a demanda interna.

Neste contexto, a alusiva análise de BERGSTEN (2009) de que o papel de


moeda internacional do dólar facilita o financiamento do déficit comercial e de conta
corrente dos EUA com o resto do mundo em face do dólar deter a capacidade de

42
McTeer, Bob (26 August 2010). Forbes. Available in <
http://blogs.forbes.com/beltway/2010/08/26/quantitative-easing-is-a-toxic-phrase-for-a-
routine-policy/>. Retrieved in 26 August 2012
43
http://dallasfed.org/news/speeches/fisher/2010/fs101108.cfm

150
moeda internacional, garantindo dessa forma um grande fluxo de capital estrangeiro,
contribuindo para o excesso de liquidez e para a redução da taxa de juros conforme
foi evidenciada em 2010, 2011 e também em 2012 em face do custo de
financiamento da dívida americana ter se reduzido apesar da continuação da
geração de déficits gêmeos. Entretanto, o entendimento de que os Estados Unidos
têm dificuldade de fazer política monetária não condiz com a realidade conforme foi
analisado os reflexos no tocante ao afrouxamento quantitativo.
De acordo com David Harvey (2012,p.16) a dimensão da crise mundial refletiu
em uma perda de 30 milhões de empregos na China entre 2008 e 2009 no
segmento da indústira exportadora, entretanto esta reverteu com uma solução
“sinokeynesiana”, refletindo em uma perda líquida de 3 milhões de empregos em
face dos altos investimentos em infraestrutura.
Há um modo de pensar a superação da crise a partir da teoria Keynesiana,
através do aumento dos gastos sociais, socializando os custos da
reprodução social, uma linha oposta à neoliberal, de privatização de tais
custos em termos de previdência, de educação. A socialização de tais
custos me parece um bom caminho inicial. A outra peça da teoria
Keynesiana é o investimento em infraestrutura. Os chineses perderam 30
milhões de empregos entre 2008 e 2009, por conta do colapso das
indústrias de exportação. Em 2009, eles tiveram uma perda líquida de só
três milhões de empregos, o que significa dizer que eles criaram 27 milhões
de empregos em cerca de nove meses. Isto foi resultado de uma opção pela
construção de novos edifícios, novas cidades, novas estradas, represas,
todo o desenvolvimento de infraestrutura, liberando uma vasta quantidade
de dinheiro para os municípios, para que suportassem o desenvolvimento.
Essa é uma clássica solução e me parece que uma coisa semelhante
aconteceu no Brasil através do Bolsa Famíia e de programas de
investimento estatal em infraestrutura.

Assim, a China dispôs de um poder de hegemonia de política fiscal, a


cambial, a monetária, a creditícia, as quais resultaram em um significativo cresci-
mento econômico de dois dígitos após a década de 80. A evidência da dimensão
deste poder se refletiu na adoção da alusiva prescrição Keynesiana a apesar dos já
existentes expressivos problemas do sistema bancário. A título de comparação a
aprovação desse audacioso pacote desequilibrou as contas governamentais em face
de induzir os bancos do país a emprestarem US$ 1,5 trilhão em 2009 no que
concerne a financiar os investimentos sem se basear na ótica de Friedrich Hayek.
Ressalta-se que esta é baseada na análise na capacidade dos investimentos de
gerar receitas suficientes, ou seja, as perdas já analisadas somaram-se as futuras
perdas, as quais esses empréstimos podem resultar, refletindo no incremento das

151
perdas dos bancos , e, portanto prejudicando a sua capacidade de financiamento
(COX,2012,p.76)
Something similar may be required in 2012 if America's stagnation and
Europe's debt crisis once again threaten the global economy. But the new
leadership of Xi Jinping and Li Keqiang (expected to take over towards the
end of the year) is unlikely to embrace Keynes as wholeheartedly as their
predecessors. Indeed, they may find themselves slave to the scribblings of
a different dead economist, Keynes's intellectual foe, Friedrich Hayek.
Whereas Keynes worried about inadequate investment—too little entre-
preneurial spending to keep everyone gainfully employed—Hayek worried
about bad investment. If credit were too easy, he argued, entrepreneurs
would embark on overambitious projects that take too long to reach fruition
and make insupportable claims on society's resources.
It is not hard to find overambitious projects in China: think of the country's
“ghost cities”, such as Ordos in Inner Mongolia, which is being built by go-
vernment fiat long before people are ready to live in it. But although China
invests at a formidable pace, it also saves at a prodigious rate. In such a
thrifty economy, interest rates should be low, credit should be readily
available and investment should be high.
Yet in 2009 and 2010 things went too far. Spurred on by the government,
China's banks increased their lending by almost 9.6 trillion yuan ($1,5 tri-
llion) in 2009. That is roughly twice the size of the Indian banking system,
as Bank Credit Analyst, a research company, has pointed out. In other
words, China's lenders added two Indias to their loanbooks in the space of
44
a year”.

Salienta-se que um volume significativo dos empréstimos foi alocado para


companhias de investimento patrocinadas pelos governos locais, aumentando
consideravelmente a dívida dos governos locais. A título de comparação as dívidas
correspondiam a 15% do PIB em 2007 e passou para 35% do PIB em 2011 aliado,
ainda, ao risco de que muitos desses projetos não gerarão receitas suficientes para
pagar os credores (COX,2012,p.76).
Much of this lending flowed to some 10,000 investment companies spon-
sored by local governments, which cannot borrow directly in their own na-
me. These companies set about building roads, bridges, irrigation works
and some housing schemes of dubious merit. These loans added about 5
trillion yuan to the debt of local governments, which now amount to 10 tril-
lion-14 trillion yuan or 25-36% of GDP (see chart).
China's authorities now admit what was always obvious: many of these
projects will fail to raise enough revenue to repay their creditors. Defaults
have already surfaced in Yunnan province and elsewhere. Some of these
projects will be abandoned halfway. They are what Hayek would call
“malinvestments”, investments in capacity that no one is willing to pay for
or wait for.

44
COX, Simon. Keynes vs Hayek na China. The Economist , The World in 2012, January and
February. Disponível em <. http://www.economist.com/node/21537010>. Acesso em: 04 de agosto de
2012.
152
Gráfico 44 – Dívida dos governos locais chineses – 1998 - 2010 (% do PIB)

Fonte : Gavekal Dragonomics

O fim do Acordo de Bretton Woods demonstrou que a volatilidade do dólar foi


benéfica para o Japão e Alemanha no tocante a valorização das suas respectivas
moedas e aos Estados Unidos por meio da expansão quase mundial do modelo de
desregulamentação neoliberal e da ampliação da acumulação com o predomínio das
finanças no período de 1971 a 1990.
No período de 1991 a 2000, o Japão e Alemanha têm dificuldades de
manterem suas taxas médias de crescimento em face do excepcional grau de
competitividade da China em um segmento de baixo custo e de alta tecnologia com
a combinação de políticas macroeconômicas estáveis. No que se refere aos Estados
Unidos continuam mantendo taxas médias de crescimento superiores em face de se
utilizarem da política de expansão de crédito e principalmente do regime de
acumulação através dos ativos financeiros.
No período de 2001 – 2011, o Japão continua mantendo baixa taxa de
crescimento, entretanto a Alemanha se beneficia com a criação da zona do Euro
aumentando suas exportações em face do seu alto grau de competitividade. Por
outro lado, se evidencia que a China aumenta ainda mais a sua taxa de crescimento
em face da geração de altos superávits comerciais com a combinação da política
Keynesiana de estímulo ao investimento sem levar em consideração as observações
de Hayek por não sofrer interferência do FMI e dos Estados Unidos em face da
China ser o maior detentor de títulos públicos americanos.

153
Tabela 12 - Taxas média de crescimento nominal do PIB da China, Japão, Estados Unidos e
Alemanha com base no US$ – 1971-2011 - (Em %)

1971-1980 1981-1990 1991-2000 2001-2011


China 8,09% 6,87% 13,18% 18,03%
Japão 18,34% 12,28% 2,19% 3,32%
Estados Unidos 10,46% 7,61% 5,59% 3,94%
Alemanha 16,22% 7,69% 1,38% 6,27%
Fonte : Banco Mundial

É neste contexto que a consequência da desregulamentação financeira e das


políticas fiscais e monetárias dos países desenvolvidos é a dominância financeira no
processo de reprodução capitalista (PAULANI,2009,p.25).
Um dos elementos mais importantes a demonstrar o acerto das teses sobre
a dominância financeira no processo atual de reprodução capitalista é o
enorme crescimento do estoque mundial de ativos financeiros, numa
velocidade muito maior do que a apresentada pelo crescimento da renda
real (em princípio representado pela evolução do PNB), e, por
consequência, da riqueza real (instrumentos, máquinas, equipamentos,
instalações, edificações, obras civis, tecnologia e tudo o mais que permite a
produção futura de um fluxo aumentado de bens e serviços). O Quadro 1,
montado a partir de informações produzidas pelo McKinseys Global Institute
e pelo FMI, mostra a evolução dessa relação entre real e fictício desde
1980.
Considerando que o valor indicado para 2007 é uma estimativa, tomemos o
período 1980-2006. Como se percebe, ao longo desses 26 anos, o PIB
mundial cresceu 314%, ou 4,1 vezes, enquanto a riqueza financeira mundial
cresceu, no mesmo período, 1.292% , ou 13,9 vezes. Não se inclui no total
de ativos financeiros considerados o valor dos derivativos. A não inclusão
dificulta a percepção do impacto exercido pela riqueza financeira, mas sua
inclusão não é simples. Não há consenso sobre qual é o valor que deveria
integrar uma estimativa como essa. Certamente não faz sentido incluir aí o
valor nocional dos contratos, particularmente nos casos de futuros e op-
ções, pois eles são em geral liquidados por um valor muito menor. Mas en-
tão qual valor deve ser incluído?
Ninguém sabe a resposta. De qualquer forma, as estimativas existentes
sobre a riqueza financeira mundial indicam, para o total estimado em 2007
de cerca de US$ 200 trilhões em ativos financeiros não derivados (McKinse-
(ys Institute), um total estimado, em valores nocionais, de cerca de US$ 674
trilhões em derivativos, sendo US$ 595 trilhões em contratos de balcão e
US$ 79 trilhões em contratos registrados em bolsa (Bank of international
Settlements)”.

154
Tabela 13 : Riqueza fictícia e riqueza real – 1980 a 2010 - (Em US$ trilhões)

Estoque mundial de
ativos financeiros* PNB mundial Relação estoque
( US$ trilhões ) ( US$ trilhões ) ativos / PNB
1980 12 11,8 1,02
1993 53 24,9 2,13
1996 69 30,3 2,28
1999 96 31,1 3,09
2003 118 37,1 3,18
2006 167 48,8 3,42
2007 200** 54,8 3,65
2010*** 209 55,9 3,74
Fontes: McKinseys Global Institute (Ativos) e FMI (PNB); elaboração Leda Maria Paulani.
* Inclui ações e debêntures, títulos de dívida privados e públicos e aplicações bancárias;
não inclui derivativos.
** Estimativa.
*** Projeções.

Os fatores que determinaram a origem dominância da valorização financeira


(PAULANI,2009,p.31)
A história da mudança do regime de acumulação em direção a um regime
com dominância da valorização financeira começa em meados dos anos
1960.
Depois de 20 anos de crescimento mundial vigoroso produzido pelas políti-
cas de cunho keynesiano, com controle de demanda efetiva, Estado do
Bem-Estar Social, reconstrução da Europa e da Ásia e industrialização da
América Latina, a reversão cíclica tem lugar e o crescimento desacelera.
Esse processo é mais intenso nos países europeus, em razão do término do
processo de reconstrução do pós-guerra. As multinacionais americanas
espalhadas na Europa optam por não reinvestir a totalidade de seus lucros
na produção, pois as perspectivas de ganho já não eram tão boas, mas
tampouco enviam o excedente não reinvestido aos Estados Unidos, por
conta de uma legislação tributária, à época, considerada muito dura. Esses
recursos (eurodólares) começam então a “empoçar” na city londri- londrina,
o espaço off shore, também conhecido como euromarket, criado no início
dos anos 1950.
Apesar do caráter regulado dos fluxos internacionais de capital vigente à
época,
os crescentes déficits comerciais americanos também colaboraram para a
engorda desses recursos, graças à conversibilidade da conta corrente do
balanço de pagamentos que passa a vigorar, ainda no âmbito de Bretton
Woods, em meados dos anos 1950.Com o choque do petróleo e insumos
básicos do final de 1973 – graças à aceleração inflacionária e à reduzida
taxa de juros nos Estados Unidos, além da crescente capacidade de criar
crédito do próprio circuito off shore –,o mundo entra em recessão aberta.
Com a piora ainda maior das expectativas de lucro, os capitais afluem
mais intensamente ao circuito londrino, engordado, ademais, pelos
petrodólares.
É toda essa massa de riqueza à busca de valorização fora do circuito da
produção que está na base da grita geral por desregulamentação e abertura
financeira dos mercados, e que vai ter em Thatcher e Reagan seus
implementadores.

155
Neste contexto, observa-se as primeiras crises do capitalismo decorrente da
desregulamentação financeira e abertura de capital (PAULANI,2009,p.31)
Os países latino-americanos, desejosos de dar continuidade a seus
planos de crescimento, mas obstaculizados pelo choque do petróleo,
constituíram, na década de 1970, a demanda por crédito que esses capitais
buscavam. A mudança brusca da política monetária americana em 1979,
com brutal elevação dos juros visando recuperar a então ameaçada
hegemonia mundial da moeda americana, produziu a primeira crise do
capitalismo financeirizado, iniciada com a quebra do México em 1982.
Além disso, já na primeira metade dos anos 1980, quebras bancárias
ocorrem nos Estados Unidos. A crescente fragilidade dos países
devedores da América Latina direciona parte dessa riqueza, agora num
ambiente muito mais desregulado, para as bolsas americanas, culminando
no crash de Wall Street de 1987,seguido de uma crise imobiliária em 1990.
Apesar de essas crises irem destruindo parte da riqueza financeira que as
causou, o estoque mundial de ativos financeiros, como demonstram os
dados anteriormente apresentados, não parou de crescer.
A essas alturas, com o crescimento do poder dos fundos de hedge e dos
investidores institucionais de modo geral, crises são “produzidas” muitas
vezes intencionalmente, como ocorreu com o colapso da libra inglesa
em 1992, por obra do fundo de hedge do famoso investidor George Soros.

Posteriormente, as crises desencadeadas produzidas pelo capital


especulativo para usufruir lucros sem esforço (PAULANI,2009,p.32).
Apesar de ter sido localizada, a crise da libra foi o prenúncio das crises em
série de que viriam a ser vítimas as moedas asiáticas em meados dessa
mesma década e cujo impacto foi mundial. Depois da derrocada das ações
e dos imóveis no mercado americano, e, mais ainda, depois do colapso da
moeda mexicana em 1994, parte substantiva desses capitais voaram em di-
reção às emergentes economias do sudeste asiático (conhecidas como
“tigres asiáticos”). O aumento no afluxo de capitais levou a uma enorme ex-
pansão do crédito, viabilizando maior volume de investimentos, o que atraía
mais capitais e assim por diante. Quando o Japão consegue finalmente des-
valorizar sua moeda em 1995, graças ao chamado “acordo do Plaza inverti-
do”, isso se combina ao crescimento das importações na Tailândia, induzi-
das pelo forte crescimento, e com isso há uma rápida piora em suas con-
tas externas.
Com o crescimento da desconfiança em relação ao valor da moeda tailan-
desa, inicia-se o processo de reversão das bolhas de ativos financeiros, que
estavam em franca expansão na região desde 1994. A derrocada do baht
tailandês no início de julho de 1997 deflagra uma crise em cadeia que des-
valoriza uma a uma todas as moedas asiáticas, atingindo a própria Coréia
do Sul, considerada a economia mais poderosa da região, processo esse
auxiliado pela desvalorização do iene, que piorou as condições externas de
todos os “tigres”. Em todo esse processo, a atuação dos investidores insti-
tucionais, particularmente dos fundos de hedge, só fez aprofundar os mo-
vimentos, seja de valorização, seja de desvalorização.
Contrariamente ao mundo das finanças intermediadas (constituídas basica-
mente por empréstimos bancários), que estava por trás da crise das dívidas
latino-americanas pouco mais de uma década antes, o mundo das finanças
diretas já então dominante (operado pelos investidores institucionais e mar-
cado pela existência de mercados secundários e forte poder dos ativos de-
rivativos) agudizou as consequências do processo de formação e estouro
de bolhas, mundializando o impacto das crises. Na esteira da crise asiática,
também a Rússia (1998), o Brasil (1999) e, finalmente, a Argentina (2001)
passaram por fortes turbulências e acabaram por impor pesadas desvalori-
desvalorizações a suas moedas.
156
Ressalta-se que as crises desencadeadas não provocaram retração do PIB
mundial em face do surgimento da difusão da internet e, posteriormente das bolhas
imobiliárias, as quais resultaram no incremento do consumo e do endividamento.
Aliada a redução da taxa de juros pelo Banco Central americano, a qual contribuiu
para a formação das bolhas de ativos (PAULANI,2009,p.32 e 33).
A crise asiática, dado seu impacto em praticamente todos os mercados
financeiros do globo, pareceu à primeira vista que iria provocar um período alon-
gado de desaceleração econômica mundial. Contudo, as insondáveis perspectivas
abertas pela difusão do uso da internet, que então se afirmava, além do
crescimento excepcional do consumo, escorado no endividamento e no efeito
riqueza, tornaram a economia americana um refúgio seguro para os investidores
assustados com os acontecimentos na Ásia. Começava aí mais uma fenomenal
bolha de ativos, agora no mercado acionário, que culminaria na crise das bolsas
americanas de 2000/2001. A forma encontrada pelo governo americano para
evitar que o estouro da bolha tivesse conseqüências muito graves no que
concerne ao crescimento da economia foi, mais uma vez, apelar para o aumento
da liquidez. O Federal Reserve, sob o comando de Alan Greenspan, reduziu os
juros americanos, em apenas 12 meses (ao longo do ano de 2001), de 6% para
1,75% ao ano.
A estratégia foi bem-sucedida, pois a economia americana reagiu e, depois de ter
crescido apenas 0,8% em 2001, cresceu 1,6% em 2002, 2,4% em 2003 e 3,6%
em 2004. O preço a pagar foi a formação de bolha em outro tipo de ativo, agora
no mercado imobiliário. Dessa vez, porém, o impacto dessa formação foi muito
mais profundo, dada a importância crescente dois fundos de hedge, dos
derivativos financeiros e da invenção que ficou conhecida como “securitização”.
Esta última consistia na emissão de títulos lastreados em dívidas hipotecárias, o
que não só deu enorme liquidez a esse mercado, como também impediu que o
crescente nível de risco das operações ficasse visível, pois os CDO
(collateralized debt obligations) contavam com “cotas privilegiadas”, que teriam
preferência no recebimento, caso houvesse qualquer problema, sendo por isso
muitíssimo bem avaliados pelas agências de risco. Assim, mesmo os fundos de
pensão, que só investem nos papéis mais bem avaliados (classificados como
AAA), mostraram-se dispostos a carregar esses ativos.

O incremento do consumo desencadeado por esses dois alusivos fatores


resultou no acréscimo da inflação, refletindo na decisão do Federal Reserve em
aumentar a taxa de juros para conter o processo especulativo. A crise de 2007 é
reflexo da fragilidade do sistema bancário paralelo e resulta em sinais de
inadimplência (PAULANI,2009,p.32 e 33).
No início de 2005, o governo americano, incomodado com a inflação e
buscando conter um pouco a febre especulativa, resolve elevar os juros.
Apesar disso, o efeito-riqueza no consumo, a euforia das bolsas e o próprio
valor inflado dos ativos mantiveram o ritmo de crescimento americano. A
crise só matura em 2007 quando os primeiros sinais de inadimplência mos-
tram-se irreversíveis e põem a nu a fragilidade do sistema, particularmente
do chamado sistema bancário paralelo (shadow banking system), que agia
produzindo crédito e moeda ao desabrigo de qualquer tipo de regulação”.

Assim, a irresponsabilidade das políticas fiscais e monetárias aliada a


expansão significativa do crédito nos Estados Unidos produziu um regime de
157
acumulação com dominância da valorização financeira, a qual beneficiou
principalmente os Estados Unidos em face que do excepcional crescimento do PIB
de 1970 a 2011, entretanto na análise do economista Ladislau Dowbor, professor da
PUC – SP resultou também na brutal e crescente concentração de capital45.
O poder econômico se deslocou claramente, nas últimas décadas,
das mãos dos governos para as grandes corporações. Um balanço
recente do insuspeito ETH ( Instituto Federal Suiço de Tecnologia)
de Zurique concluiu que 80% do controle do mundo corporativo
planetário está nas mãos de 737 corporações, e que neste grupo
restrito 147 corporações densamente estruturadas (tighly nit)
controlam 40% do total. Dessas, três quartos são grupos de
intermediação financeira”. Nesse contexto, afirma Dowbor, não é
preciso recorrer a teorias conspiratórias para entender as raízes da
crise financeira mundial. Isso é demonstrado através da “facilidade
com que foi sendo demonstrado o marco jurídico que assegurava a
estabilidade, da generalização das reduções de impostos sobre as
grandes fortunas e, sobretudo, do movimento geral de transferência
do custo das irresponsabilidades para as populações. Em suas
palavras, “foram emitidos, em derivativos, 601 trilhões de dólares,
para um PIB mundial da ordem de 60 trilhões de dólares.

Por outro lado, o BCE fez uma oferta de financiamento de três anos no
montante de 529,5 bilhões de euros a 800 bancos do continente com o objetivo de
fortalecer o crédito bancário, reduzir o risco de calote dos países em crise e conter a
recessão em 29 de fevereiro de 2012,. O objetivo desta decisão foi aumentar o
crédito para empresas e governos, os custos dos empréstimos vão diminuir ainda
mais. Segundo Luca Cazzulani, do UniCredit essa injeção de recursos do BCE au-
mentará muito o nível de excesso de liquidez, que finalmente está positivo ou muito
positivo para operações de risco", disse. "Os títulos italianos e espanhóis devem se
beneficiar disso assim como os mercados de ações." 46.
No entendimento de Ocké-Reis, a atuação do BCE tem como meta a
monetização das dívidas soberanas e o aumento da liquidez do sistema. Com isso,
a entidade espera que a Grécia cumpra seu plano de reestruturação e nações com
pouca liquidez, como a Itália, adotem políticas fiscais que acalmem os credores
externos47.

45
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Tecnocracias à moda da União Européia. Brasília Distrito
Federal. Revista Desafios do Desenvolvimento. Instituto de Pesquisa Economia Aplicada (IPEA) Ano
9 nº 71.
46
CARREL, Paul et al. Injeção do BCE no sistema bancário supera previsões. Reuters Brasil, 29 de
fevereiro de 2012 disponível em http://br.reuters.com/article/topNews/idBRSPE81S01K20120229
acesso em 05 de setembro de 2012.
47
GOMES,Marcel. Como o Brasil pode evitar a crise. Revista Desafios do Desenvolvimento, IPEA, Ano 9, nº 71.
158
A análise de Franlin Trein, professor do Instituto de Filosofia e Ciências
Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ, analisa a dimensão
da dívida da Itália e o financiamento em mãos estrangeiras principalmente da França
e a Alemanha.48
Não é bem assim, sugere Trein. “Monti está se antecipando à prescrição de
um remédio amargo que pode ser imposto também a Itália. Ainda que o PIB
italiano seja quase cinco vezes maior do que o da Grécia, e mesmo que sua
dívida pública de 1,4 trilhão de euros não esteja majoritariamente em mãos
estrangeiras – são 56% internos, contra 44% externos -, a França é credora
de 511 bilhões e a Alemanha de 119 bilhões de euros”. A dívida em mãos
da França representa algo em torno de 20% do seu PIB.

Assim, as alusivas medidas tomadas pelo BCE não refletiram na redução do


custo das dívida da Espanha e da Itália e em agosto de 2012 e se situou ao redor de
8% impactando ainda mais as combalidas finanças dos respectivos Tesouro em face
do cenário recessivo, o qual deprime ainda mais as receitas. Entretanto, o custo de
financiamento da dívida da Alemanha reflete os crescentes receios sobre a
sustentabilidade do euro.49
Assim, a Alemanha se beneficia do seu estatuto de ativo de refúgio e dos
‘ratings' elevados no país, os investidores têm apostado em dívida alemã,
fazendo baixar os juros, em algumas maturidades até para valores
negativos, no mercado secundário, o que se reflete depois nas emissões
em mercado primário.

O veredicto favorável da corte constitucional alemã no tocante ao


Mecanismo Europeu de Estabilidade foi fundamental para que a Alemanha
mantenha seu ritmo de exportações em face que metade desta tem como destino a
Europa, bem como a derrocada da moeda única representaria perdas consideráveis
para o sistema financeiro alemão.50

Novos aportes de recursos, no entanto, deverão ser avalizados pelo


Parlamento. O mecanismo disporá de 700 bilhões de euros, dos quais 190
bilhões serão bancados pela Alemanha. Sem a contribuição de seu maior
patrocinador, o fundo não teria capital suficiente para aplacar a crise
financeira.

48
POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Tecnocracias à moda da União Européia. Brasília Distrito
Federal. Revista Desafios do Desenvolvimento. Instituto de Pesquisa Economia Aplicada (IPEA) Ano
9 nº 71.
49
LATOEIRO, Pedro. Alemanha emite dívida a custo zero, 22 de agosto de 2012. Disponível em
http://economico.sapo.pt/noticias/alemanha-emite-divida-a-custo-zero_150510.html acesso em 23 de
agosto de 2012.
50
GUANDALINI, Giuliano. O euro brinda Frau Merkel. Revista Veja, São Paulo, Edição 2.287, 19 de
setembro de 2012, p. 76-77
159
No que tange ao Japão em face da sua alusiva relação simbiótica de poder
com os Estados Unidos foi o mais beneficiado em função da valorização do iene e a
geração de superávits comerciais de 1970 a 1980 e concomitantemente o maior
financiador da dívida pública americana.
Segundo (HARVEY,2012,p,20) a ausência de dinamismo da economia
japonesa é reflexo da entrada da China e a quebra do mercado de ações e em
propriedade imobiliária.
Bem, o Japão, depois de um período de grande crescimento, nos anos
1970-80, teve que se defrontar com uma questão: o que fazer com o seu
superávit? Eu me lembro de estar no Japão, em meados dos anos 1980,
pouco antes do colapso dos mercados locais. Muitas pessoas me diziam –
pessoas das mais diferentes posições políticas – que eles estavam muito
felizes por terem vivido naquela era, porque eles sabiam que ela tinha
chegado ao fim. E eu perguntava por que tinha chegado ao fim, e me diziam
“porque agora vai tudo para a China”. A grande vantagem japonesa, que era
a mão de obra, seria superada pela China e agora nós vemos que até as
grandes corporações japonesas se deslocaram para a China. A grande
questão interna do Japão era de alocação de capital, que foi respondida
pela inversão no mercado de ações e em propriedade imobiliária. Quando
esses dois mercados quebraram simultaneamente eles não foram capazes
de resolver os problemas.

E segundo (HARVEY,2012,p.20) o Japão não tem condições de competir com


a China e ele ainda alerta sobre o risco de grande valorização da terra e dos imóveis
na China assim como ocorreu no Japão.
Muitas pessoas argumentam que eles poderiam ter se saído melhor caso
fizessem uma reforma bancária. De qualquer maneira, o Japão não teria
condição de competir com a China. Nos anos 1980 víamos duas
hegemonias, a alemã e a japonesa; nos anos 1990, o retorno da hegemonia
americana, com o Consenso de Washington. A grande questão do momento
é saber qual será a estratégia de desenvolvimento da China. Eles
conseguirão manter seu ritmo ou experimentarão sérias dificuldades? Da
mesma forma que o Japão, eles estão tendo uma grande valorização da
terra e dos imóveis, ainda que o governo chinês seja supersofisticado na
manutenção de controles.

A entrada da China e seu excepcional grau de competitividade deslocou o


Japão,e, portanto obteve significativos superávits comerciais e estes foram utilizados
como estratégia de poder, se refletindo na alta capacidade de financiamento da
dívida pública americana. Assim, a China percebeu que tinha poder para utilizar
todas as políticas ; a fiscal, a cambial e a creditícia no que se refere à Keynesiana ao
seu extremo, ou seja, investir mesmo em um contexto de alto risco de retorno sem a
capacidade de geração de receitas suficientes para os projetos de investimentos. A
dimensão do poder da China é significativa, pois não sofre interferência nem
do FMI e nem dos Estados Unidos [ grifo nosso ].
160
No que tange a Alemanha o seu significativo grau de competitividade na zona
do Euro resultou em volumosos superávits comerciais dentro do Bloco refletindo no
incremento do crescimento.
Em suma, ao longo dos últimos 30 anos, o poder dos Estados Unidos
associada a desregulamentação do mercado financeiro aumentou
consideravelmente a riqueza financeira e que estruturalmente teve reflexos na
dinâmica de poder com a China ultrapassando o Japão e que conforme o modelo
analisado da combinação de todos os tipos de políticas e mantendo um ritmo de
crescimento de 7% a.a de 2012 a 2025 ultrapassará os Estados Unidos como o
maior PIB mundial.
A projeção para os Estados Unidos é que manterá níveis baixo de
crescimento em face que de 2000 a 2008 os americanos tomaram emprestados de
outras nações 5 trilhões de dólares, ou seja a dívida externa financiou uma grande
expansão econômica, e, então um boom e que resultou em uma bolha, em particular
nos setores financeiro e imobiliário. A bolha estourou em 2008 e então o consumidor
americano perdeu trilhões de dólares com a desvalorização dos ativos ,e, aliada a
necessidade de incrementar a poupança para amortizar os débitos bem como a
manutenção da alta taxa de nível de desemprego diminuirão a propensão a
consumir.
Por outro lado, o setor público através do Congresso americano não está
disposto a realizar o ajuste fiscal através do aumento dos impostos para os ricos.
Neste cenário, a dívida pública continuará crescendo em proporção do PIB,
entretanto o financiamento da dívida pública americana continuará sendo a taxa de
juros baixa em face do nível da confiabilidade dos títulos públicos americanos.
No que se refere ao baixo custo de financiamento da dívida também se
enquadra a Alemanha, França, China, Suécia, Japão em face da confiança na
solidez da economia destes países. Assim, cenário totalmente diferente para a
Espanha, Itália e Grécia que em face do alto custo de financiamento da rolagem da
dívida agrava ainda mais as já combalidas finanças públicas.
As decisões tomadas pelos Estados Unidos e Alemanha no tocante a política
monetária de afrouxamento quantitativo refletem que eles estão exclusivamente
preocupados com seus próprios problemas internos: estagnação econômica, falta de
competitividade, desemprego e que a dificuldade principalmente dos Estados Unidos

161
no que tange a necessidade de realizar um ajuste fiscal para reduzir a dinâmica
explosiva da dívida bruta em relação ao PIB está sendo resolvida via a monetização
da dívida.
Neste contexto, as dificuldades econômicas no exterior fazem cair o
interesse por produtos feitos no Brasil, contendo as exportações agravada ainda
mais pela pressão cambial em face da total livre entrada de capital estrangeiro
resultou em uma dinâmica mais acentuada das importações de 2011 em relação a
2007. Assim, estes fatores contribuíram para um crescimento de apenas 2,7% do
PIB em 2011, ante uma previsão inicial de 4,5%, e em face da rigidez do volume de
importações em relação ao PIB em 2012 reflete em um PIB ainda menor do que em
2012.
• Desindustrialização no Brasil
O processo de desindustrialização no Brasil é reflexo da década de 80 em
face da necessidade de gerar excepcionais superávits comerciais para o pagamento
da dívida, e, portanto o país que crescia a um ritmo excepcional foi forçado a pagar
um serviço da dívida imposto pelo FMI, a qual gerou uma crise fiscal, refletindo em
um processo de hiperinflação e desarticulação das cadeias produtivas conforme
salientado no tópico Brasil do FMI ao caos , ou seja, em um cenário de hiperinflação
e em um baixo processo de geração de renda o segmento industrial sofre os
reflexos.
A miopia da Federação da Indústria no tocante a apoiar a mensagem
neoliberal do Consenso de Washington foi decisiva para o atual nível de
desindustrialização em 2012 (BATISTA,1994, p. 6 )
A mensagem neoliberal que o Consenso de Washington registraria vinha
sendo transmitida, vigorosamente, a partir do começo da Administração
Reagan nos Estados Unidos, com muita competência e fartos recursos,
humanos e financeiros, por meio de agências internacionais e do governo
norte-americano. Acabaria cabalmente absolvida por substancial parcela
das elites políticas, empresariais e intelectuais da região, como sinônimo de
modernidade, passando seu receituário a fazer parte do discurso e da ação
dessas elites, como se de sua iniciativa e de seu interesse fosse.
Exemplo desse processo de cooptação intelectual é o documento publicado
em agosto de 1990 pela Fiesp, sob o título "Livre para crescer - Proposta
para um Brasil moderno", hoje na sua 5ª edição, no qual a entidade sugere
a adoção de agenda de reformas virtualmente idêntica à consolidada em
Washington.
A proposta da Fiesp inclui, entretanto, algo que o Consenso de Washington
não explicita mas que está claro em documento do Banco Mundial de 1989,
intitulado "Trade Policy in Brazil: the Case for Reform". Aí se recomendava
que a inserção internacional de nosso país fosse feita pela revalorização da
agricultura de exportação. Vale dizer, o órgão máximo da indústria paulista

162
endossa, sem ressalvas, uma sugestão de volta ao passado, de inversão do
processo nacional de industrialização, como se a vocação do Brasil, às
vésperas do século XXI, pudesse voltar a ser a de exportador de produtos
primários, como o foi até 1950. Uma área em que os preços são cadentes -
são hoje, em termos reais, 40% em média inferiores aos de 1970 - em
virtude do notável volume de subsídios concedidos a seus produtores
agrícolas pelos países desenvolvidos, da ordem de US$ 150 bilhões de
dólares por ano, e da revolução no setor de materiais que vem reduzindo
substancialmente o uso de matérias-primas naturais por unidade de produto
obtido”.

O processo de desindustrialização na realidade se aprofundou com o Plano


Real conforme a análise dos “novo-desenvolvimentistas” que defendem a tese de
que a economia brasileira vem passando por um processo de desindustrialização
nos últimos 20 anos, causado pela combinação perversa entre abertura financeira,
valorização dos termos de troca e câmbio apreciado (Loures, Oreiro e Passos, 2006;
Bresser-Pereira e Marconi, 2009 apud Oreiro e Feijó,2010, p. 219).
Por outro lado, o entendimento dos “economistas ortodoxos” se baseia que
as transformações pelas quais a economia brasileira passou nas últimas décadas
não tiveram um efeito negativo sobre a indústria e que a apreciação do câmbio real
resultante dessas reformas favoreceram a indústria ao permitir a importação de
máquinas e equipamentos tecnologicamente mais avançados, o que permitiram a
modernização do parque industrial brasileiro e, consequentemente, a expansão da
própria produção industrial (Schwartsman, 2009 apud Oreiro e Feijó,2010, p. 219).
A industrialização representa o processo pelo qual a indústria aparece como
o setor dinâmico de uma economia, aquele que agrega mais valores ao produto total
e/ou cria maior número de empregos.
No Brasil, o conjunto de atividades reunidas sob a denominação de indústria
encerrou 2011 representando 27% do PIB — a mesma fatia que tinha em 1995. Ao
longo dos últimos dez anos, o setor acumulou crescimento de produção, faturamento
e emprego, entretanto em face da política macroeconômica implementada desde
FHC baseada na combinação perversa entre abertura financeira, valorização dos
termos de troca , câmbio apreciado, aumento da carga tributária e baixo investi-
mento em infraestrutura resultaram na perda da competitividade, refletindo no
incremento do volume de importação de produto industrializado.
Realizando uma análise desagregada sobre os fatores, os quais provocaram
o processo de desindustrialização nas décadas de 1980 e 1990 (OREIRO;
FEIJÓ,2010,p.225).

163
Um outro estudo que aponta a ocorrência inequívoca de desindustrialização
no Brasil nas décadas de 1980 e 1990 é Bonelli (2005). Com base nas
informações fornecidas pelas contas nacionais do Brasil, a participação da
indústria no PIB a custo de fatores teria se reduzido de 42,3% em 1985 para
apenas 31,4% em 1995, ou seja, uma queda de cerca de 11 p.p. com
respeito ao PIB em apenas dez anos (Ibid., p. 10). Essa queda foi
basicamente o resultado da redução da participação da indústria de
transformação, cuja participação no PIB a custos de fatores se reduziu de
31,62% em 1985 para 20,60% em 1995. Esse processo de “perda do peso
relativo da indústria no PIB” foi causado pelas mudanças pelas quais
passou a economia brasileira no final da década de 1980 e início da década
de 1990, a saber: aumento da competição interna e externa, causado pela
abertura comercial e financeira, privatização em diversos segmentos
industriais, e sobre-valorização da taxa real de câmbio no período 1995-
1998 (Ibid., pp. 22-23).

Outro estudo, o qual é apresentado evidências da desindustrialização


(OREIRO; FEIJÓ,2010,p.225).
Feijó, Carvalho e Almeida (2005) também apresentam evidências
contundentes de desindustrialização na economia brasileira durante as
décadas de 1980 e 1990. Segundo esses autores “o peso da indústria de
transformação cai de 32,1% do PIB em 1986 para 19,7% do PIB em 1998,
queda de 12 pontos percentuais, muito alta sob qualquer critério de
avaliação” (p. 1). O estudo em consideração, no entanto, questiona o
caráter negativo dessa desindustrialização, uma vez que os “resultados
mostram que a indústria brasileira preserva representatividade de todos os
segmentos básicos segundo a classificação tecnológica” (p. 20).

A mudança do regime cambial brasileiro a partir de 1999 até 2005 reverteu a


tendência em face da eliminação da sobrevalorização cambial ocorrida no período
1995 - 1998 (OREIRO; FEIJÓ,2010,p.225).
Na mesma linha dos trabalhos anteriores, Almeida (2006) mostra que a
participação da indústria de transformação no PIB apresentou uma nítida
tendência a queda no período compreendido entre 1985 e 1998 (Figura 1).
Essa tendência teria sido, no entanto, parcialmente revertida a partir de
1999, com a mudança do regime cambial brasileiro, o que possibilitou, pelo
menos até 2005, a redução ou eliminação da sobrevalorização cambial
ocorrida no período 1995- 1998.

164
Gráfico 45: Brasil - Participação da Indústria de Transformação no PIB – Em %

Fonte: Almeida (2006).

A inter-relação entre as taxas de crescimento da indústria , do PIB e a taxa


efetiva real de câmbio no período de 1996 a 2008 e os reflexos no processo de
desindustrialização (OREIRO; FEIJÓ,2010,p.225).
Conforme se observa no Gráfico 48, onde são apresentadas as taxas de
crescimento da indústria e do PIB, bem como a taxa real efetiva de câmbio,
no período 1996-2008, apenas em três anos a taxa de crescimento da
indústria superou a da economia, a saber: 2000, 2003 e 2004. Nos demais
anos, o PIB cresceu à frente do valor adicionado da indústria de
transformação, revelando assim continuidade da perda de dinamismo da
indústria no período posterior a 1995. Verificamos também que a forte
apreciação da taxa real efetiva de câmbio no período 2004-2008 foi
acompanhada pela perda de dinamismo da indústria de transformação com
respeito ao resto da economia brasileira. De fato, entre 2005 e 2008 a taxa
de crescimento do valor adicionado da indústria de transformação ficou
sistematicamente abaixo da taxa de crescimento do PIB. Esse movimento
foi acompanhado por uma forte apreciação do câmbio real.

165
Gráfico 46: Brasil - Taxa de crescimento do PIB e da Indústria de Transformação (%)
e Taxa Real Efetiva de Câmbio (1996-2008)

Fonte : IBGE, Contas Nacionais Trimestrais; IPEADATA


Elaboração : José Luis Oreiro e Carmem A. Feijó.

Sob a ótica da política cambial resultou na desarticulação da estrutura


produtiva (LACERDA; NOGUEIRA,2008,p.7)

O primeiro mito, presente em algumas análises, é o de que as empresas


acabam se “adaptando” ao câmbio valorizado. E elas de fato se adaptam,
sob a ótica microeconômica. Essa adaptação consiste em aproveitar o dólar
baixo para aumentar a importação de componentes e peças, o que as ajuda
a reduzir custos e manter competitividade.
Embora essa seja uma saída para a sobrevivência individual da empresa,
do ponto de vista da estrutura produtiva do País trata-se de um processo de
substituição da produção local por importações, desestimulando a geração
de valor agregado local.

A valorização cambial ocorrida entre 2009 e 201051 resultou nos seguintes


reflexos no âmbito do setor externo brasileiro, as exportações tiveram crescimento
de 11,5%, e as importações se expandiram 36,2%. Assim, o processo de
valorização cambial52 no decorrer de 2011 quando atinge em 30/06/2011 o dólar se
situava em R$ 1,5603 continuou destruindo parcela expressiva do Produto Interno

51
A taxa de câmbio (medida pela média anual das taxas de câmbio R$/US$ de compra e venda)
variou de 2,00 para 1,76.
52
Contribui para este quadro a valorização do Real ocorrida entre 2010 e 2011. A taxa de câmbio
(medida pela média anual das taxas de câmbio R$/US$ de compra e venda) variou de 1,76 para 1,67.
166
Bruto (PIB) brasileiro, pois as exportações tiveram crescimento de 4,5%, e as
importações se expandiram 9,7%.

Gráfico 47 – Brasil - Composição do crescimento do PIB, em pontos percentuais – 1995 a 2011

15,00%

10,00%

5,00% Demanda externa ( p.p )


Demanda interna (p. p )

0,00% PIB %
19951996199719981999200020012002200320042005200620072008200920102011

-5,00%

-10,00%

Fonte : IBGE ; Elaboração do autor

Os reflexos desta alusiva política cambial se refletiu na balança comercial da


indústria de transformação segundo o economista Mário Bernardini53, consultor da
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
O saldo negativo da balança comercial da indústria de transformação, de
US$ 42,87 bilhões em 2011, já ultrapassou o superávit do setor registrado
nos anos de 2004 e 2005.
O maior problema do setor, segundo Bernardini, é o aumento contínuo das
importações – de 13% ao ano, em média, desde 2000. “Essa perda de
competitividade, na realidade, começou nos anos 90. O problema é que
esse fenômeno se acentuou na segunda metade da década passada”,
explicou o economista da Abimaq durante reunião do Conselho Superior de
Economia (Cosec) da Fiesp, realizada segunda-feira (09/04), em São
Paulo.

Neste contexto, os impactos da valorização do real e o custo de produção


em relação à desaceleração do setor segundo Bernardini.
O principal motivo para a desaceleração do setor, afirmou Bernardini, é a
valorização do real frente ao dólar, ampliada em 2008 pela crise financeira
mundial. “Na perda de competitividade da indústria brasileira, eu diria que, o
câmbio, sozinho, responde por três quartos do problema. A partir de 2004, o
câmbio apreciou 60%. É, de longe, o vilão da história”.
Outro fator de influência no processo de desindustrialização, assinalou o
economista, é o custo de produção no Brasil. Hoje, em comparação com
2004, a soma dos principais custos representa um aumento de
aproximadamente 14 pontos percentuais na composição da Receita Líquida
das indústrias instaladas em território brasileiro.

53
http://www2.fiesp.com.br/noticias/importacao-cresce-298-em-11-anos-diz-consultor-da-
abimaq/ acesso em 13 de agosto de 2012.

167
Ressalta-se que analisando o PIB industrial global, o Brasil atravessou a
década na décima colocação entre os países mais industrializados. Os problemas
mais graves ocorreram nos últimos três anos em face de que com a crise na Europa
e nos Estados Unidos resultou em um excesso de capacidade de produção industrial
no mundo ,e, aliada a política de estimulo ao consumo sem que a indústria brasileira
tivesse condições de competir (SALOMÃO ; DALMAZO,2012)54
A indústria brasileira vive hoje no pior dos mundos”, diz o economista
Mansueto Almeida, do Instituto de Política Econômica Aplicada. “Não temos
a produtividade e a capacidade de inovação da indústria alemã nem os
baixos custos e a escala da chinesa.” Por isso, em um número crescente de
setores, a indústria brasileira não tem sido páreo para concorrentes mais
eficientes”.

Para observar o grau de perda da competitividade da indústria e evidenciar o


risco de cada vez maior do processo de desindustrialização no Brasil (SALOMÃO ;
DALMAZO,2012).
Um levantamento sobre o desempenho da indústria de transformação, rea-
lizado pela CNI a pedido de EXAME, mostra a debilidade do setor. Até
2008, ano da crise, pouco mais da metade dos setores crescia pelo menos
em linha com o produto interno bruto. Desde então, 70% passaram a
apresentar crescimento vegetativo, estagnação e até encolhimento”.

Realizando uma análise sobre o nível de competitividade de cada segmento


industrial se evidencia que as políticas do governo têm um peso significativo
(SALOMÃO ; DALMAZO,2012).
Observando o nível de competitividade de cada um deles, percebe-se que,
quanto menor a exposição à competição externa, melhor é o desempenho.
Os setores de equipamentos de transporte e de veículos estão entre os que
mais crescem e também entre os mais protegidos — têm preferência em
licitações, desoneração de impostos, elevação de tarifas para similares
importados e crédito a juros camaradas no BNDES.

No que se refere aos segmentos industrias que enfrentam a concorrência


externa evidencia-se uma perda de competitividade. “De 2009 a 2011 a importação
de vestuário mais que duplicou. Em contrapartida, no mesmo período, a produção
local caiu 2% ao ano” (SALOMÃO ; DALMAZO,2012).
A correlação entre os setores, os quais o Brasil tem notórias vantagens sobre
os concorrentes, entretanto o peso do custo Brasil se reflete em perdas de
investimentos (SALOMÃO ; DALMAZO,2012).

54
SALOMÃO, Alexa ; DALMAZO, Luíza : A verdadeira ameaça a indústria. Revista Exame, São
Paulo 18/04/2012 http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1014/noticias/a-verdadeira-
ameaca-a-industria acesso em 25 de agosto de 2012.
168
O que mais preocupa é o enfraquecimento de setores nos quais o Brasil
tem vantagens notórias sobre os concorrentes.
Celulose e papel é um bom exemplo. As florestas plantadas no país rendem
a celulose mais barata do mundo — chega a custar a metade da dos
concorrentes. Mas o preço do papel começa a refletir os custos do Brasil.
Como depende de caminhões, o transporte entre uma fábrica no interior de
São Paulo e o porto de Santos representa 60% dos custos logísticos de
uma carga destinada à Ásia.
Se houvesse a opção de ferrovia, essa parte do trajeto corresponderia a
20% dos custos. Intensivo em energia elétrica, o setor incorporou os
aumentos da conta de luz criados pela tributação. Em 2000, cerca de 13%
da conta de energia eram encargos. Hoje eles são 45%.
A International Paper vinha exportando metade da produção: 25% para a
América Latina, 20% para a União Europeia e 5% para a Ásia. Agora vai
concentrar as vendas na região porque deixou de ser rentável ir a outros
continentes.
“Sabemos que dentro de alguns anos vamos ter de construir outra fábrica
para atender a América Latina”, diz Jean-Michel Ribieras, presidente da
International Paper. “O ideal é que ela fique no Brasil, mas, se não
conseguirmos exportar daqui, como vamos justificar um investimento de 5
bilhões de reais?

A análise da competitividade da indústria brasileira em relação à chinesa


(SALOMÃO ; DALMAZO,2012).
Quase metade do preço de uma barra de aço fabricada no Brasil é imposto.
Na China, a tributação não chega a 20%. Resultado: o quilo de uma simples
válvula, peça de aço que vai dentro de tubulações, sai por 5 dólares na
China e por 23 no Brasil. Apesar de a indústria depender de profissionais
com conhecimento específico, só um terço dos trabalhadores frequentou
algum tipo de curso técnico, área desprestigiada no sistema público de
ensino.

Neste contexto, evidencia-se que o sistema anacrônico de tributação


brasileiro aliada a uma estrutura de vinculação da receita a despesa contribuiu para
reduzir o nível da competitividade da economia brasileira. Com relação a àquele se
evidencia uma estrutura tributária muito complexa, com muitos tributos incidentes
sobre a mesma base, sendo que o problema é essencialmente os tributos indiretos
sobre bens e serviços. Enquanto a maior parte dos países tem um ou dois tributos
indiretos, o Brasil tem seis, com grande diversidade de legislações, os quais estão
em permanente alteração.
No que se refere à vinculação da receita a despesa o problema se observa
em face de que para cumprir as metas de resultado primário para garantir a
sustentabilidade da dívida pública todos os entes União, Estados e Municípios
aumentaram a sua eficiência na arrecadação de tal forma que resultou na redução
da competitividade da indústria. Além disso, conforme já salientado esse sistema de
vinculação da receita a despesa estimula ainda mais os gastos correntes , ou seja,
evidenciou-se cada vez menos recursos alocados a investimentos e o pior em 2012
169
constata-se o modelo de esgotamento do aumento da receita em percentual do PIB
e com menor espaço fiscal para realizar investimentos de todos os entes federativos.
O modelo de estimulo ao consumo a partir de 2008 não foi aproveitado pela
indústria de transformação no Brasil, pois esta crescia, em média, 3,3% ao ano
desde 2001 e depois de 2008, a taxa caiu para 0,8% ao ano .
O risco de desindustrialização é avaliada pela redução da participação da
indústria de transformação no PIB, bem como a perda da competitividade da
indústria brasileira do segmento de calçados em relação a chinesa, refletindo na
perda de empregos e de investimento (SALOMÃO ; DALMAZO,2012).
A redução de sua participação no PIB, que vinha ocorrendo lentamente
desde 2004, foi acelerada e a fatia agora está no menor patamar da série
histórica: 14,6%. “Foi uma queda abrupta”, diz o economista Samuel
Pessoa, da consultoria Tendências. “Antes da crise eu afirmava que a
desindustrialização era um mito. Com esse dado novo, há fortes sinais de
que alguns setores estão sofrendo muito.”
É o caso, por exemplo, do calçadista. O setor encolheu entre 2001 e 2011.
A produção recuou 32%, e o número de empregados, 15%. Os salários, ao
contrário, cresceram 5% ao ano. O setor é um dos mais intensivos em mão
de obra, e o valor da mão de obra e dos encargos trabalhistas — que equi-
valem a 100% da folha — faz uma enorme diferença na composição dos
custos.
O presidente de uma tradicional empresa brasileira do setor, que prefere
não se identificar, diz que, enquanto um sapato feminino de padrão médio
produzido no Brasil chega por 20 dólares a um distribuidor nos Estados
Unidos, o mesmo tipo de calçado é oferecido pelos chineses por 10 dólares.
Não há mais condições de competir no mercado externo”, diz ele. A
estratégia de algumas empresas agora é transferir as fábricas para países
com custos de produção e de mão de obra mais baixos. A Vulcabras fechou
unidades no Rio Grande do Sul e na Bahia e investiu numa fábrica na Índia.
A Paquetá encerrou sua operação gaúcha e mudou as linhas destinadas à
exportação para a América Central.

Na realidade evidencia-se a ausência de uma estratégia de desenvolvimento


do Brasil pós Real no que se refere ao que foi delineada pelo Japão e China como
já foi avaliada em tópicos anteriores, pois o alusivo Plano Real é uma demonstração
daqueles que elaboraram e administraram o País no que concerne uma visão
extremamente míope em face de que ao concentrar exclusivamente o foco na
estabilização da inflação resultou em 2012 em uma indústria sem condições de
competir, impactando no crescimento econômico.
Assim, a depreciação do real em 2012 atingindo R$ 2,00 não refletiu em
incremento da produção industrial, pois o estrago já foi feito no que se refere à
necessidade de dependência de insumos, como também a estratégia da indústria de
adquirir o produto industrializado e apenas repassar para o consumidor.

170
Analisando a vertente do aumento da demanda internacional por
commodities, a qual provocou elevação dos seu preços gerando superávit comercial
para o Brasil, refletindo maior influxo de capitais internacionais decorrentes das
receitas de exportações contribuiu para a valorização da taxa de câmbio, resultando
na perda de competitividade dos bens industrializados em face do interesse do
governo Lula transmitir ao brasileiro a sensação de riqueza ,e, portanto eleger a
presidente Dilma. O que nos leva afirmar essa hipótese se em 01/01/2009 o dólar
custava R$ 2,3290 e em 13/10/2010 reduziu para R$ 1,6546. E o que é mais
impressionante é que o dólar foi ladeira abaixo e atingiu R$ 1,5603 em 30/06/2011
sem que o governo não tomasse nenhuma medida como ex: limitar a entrada de
capital especulativo através da taxação do IOF.
Não foi portanto o influxo das receitas dos superávits comerciais advindas
das commodities, o qual gerou a valorização do real frente ao dólar e, sim a miopia
de governos pós Real que tiveram com foco exclusivo a estabilização da inflação a
ferro e fogo aliado ao câmbio flutuante com livre entrada de capital, os quais
resultaram na alta valorização do real em face do já salientado tsunami de dólares e
euros.
O entendimento do professor João Sicsú, professor do Instituto Instituto de
Economia da UFRJ e ex-diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea é
que as decisões tomadas pela presidente Dilma refletiu justamente os resultados
esperados.
[...] a queda “foi o resultado de uma decisão de governo. No início do ano
passado, temendo a inflação e outros gargalos, a presidenta, junto com
assessores mais próximos, tomou a decisão de desacelerar a economia
utilizando políticas monetárias, creditícias e fiscais restritivas. Ao câmbio
valorizado restou o papel de solidificar a situação em curso”. O economista
lembra ainda que a taxa de juros Selic foi elevada, de 10,5% ao ano para
12,5%, em cinco reuniões consecutivas do Banco Central (BC), de janeiro a
julho. “O BC adotou, também, medidas macroprudenciais para reduzir o
ritmo de ampliação do crédito. O Tesouro reduziu o valor dos aportes ao
BNDES em 2011. Em fevereiro, o governo anunciou um corte de R$ 50
bilhões em gastos previstos para o ano. Posteriormente, elevou a meta de
superávit primário em R$ 10 bilhões, que saiu de R$ 117,9 bilhões para R$
55
127,9 bilhões”. Segundo ele, o resultado esperado foi alcançado .

Neste contexto, de perda de produtividade o governo Dilma sinalizou com um


pacote, o qual incluiu aumento do crédito subsidiado do BNDES e desonerações de

55
GOMES,Marcel. Como o Brasil pode evitar a crise. Revista Desafios do Desenvolvimento, IPEA,
Ano 9, nº 71.

171
impostos a setores como os de máquinas, automóveis e têxteis, entre outros
resultando em uma conta, a qual pode chegar a 60 bilhões de reais. O risco desse
pacote se evidencia em face que o segmento da Indústria de Transformação gerou
uma arrecadação de R$ 49,6 bilhões representando 21,4% do total arrecadado pela
Previdência em 2011. Considerando os segmentos que apresentaram tendência a
estagnação ou redução da participação da indústria (Produtos Têxteis,Fabricação de
Papel e Celulose, Produtos Químicos, Artigos de Borracha e Plástico, Fabricação de
Máquinas e Equipamentos, Fabricação de Máquinas e Aparelhos Elétricos,
Montagem de Veículos e Equipamentos de Transporte) representou 12,5% do total
arrecadado pela Previdência Social.
Tabela 14 - Brasil – Arrecadação por segmento de Atividade – (R$ bilhões)
TOTAL 231.440.100.293 100,0%
Agricultura
3.223.905.599 1,4%
Indústria 76.156.197.732 32,9%
Extrativa Mineral 2.926.676.379 1,3%
Construção 18.295.823.364 7,9%
Serviços Industriais de Util. Pública 5.336.832.780 2,3%
Transform ação 49.596.865.209 21,4%
Produtos Alimentares e Bebidas 8.220.901.348 3,6%
Produtos Têxteis 1.512.569.392 0,7%
Fabricação de Celulose e Papel 1.286.149.589 0,6%
Refino de Petróleo e Prod. de Álcool 3.077.479.141 1,3%
Produtos Químicos 5.080.464.528 2,2%
Artigos de Borracha e Plástico 2.583.247.184 1,1%
Produtos de Minerais Não Metálicos 1.646.587.092 0,7%
Metalurgia Básica 2.683.545.310 1,2%
Fabricação de Produtos de Metal 2.929.394.593 1,3%
Fabricação de Máquinas e Equip. 4.309.686.647 1,9%
Fabricação de Máq. e Ap. Elétricos 1.732.579.493 0,7%
Montagem Veículos e Eq. Transporte 6.765.833.554 2,9%
Outras Indústrias de Transf ormação 7.768.427.338 3,4%
Serviços 138.899.043.029 60,0%
Ignorado 13.160.953.933 5,7%
Fonte: Ministério da Previdência Social

Salienta-se que levando em consideração o impacto futuro do pré-sal na


economia e com uma produção em larga escala do petróleo, resultará numa
avalanche de dólares, valorizando ainda mais o real, aumentando ainda a mais o
risco do país padecer da doença holandesa em face do atual modelo neoliberal e
que combinado ao já salientado sistema de vinculação da receita a despesa, o qual
estimula o incremento dos gastos correntes e que em um cenário de baixa

172
competitividade a indústria pode minguar, e o que sobrar dela orbitará em torno do
petróleo, ou seja, menos geração de emprego e renda agravando ainda mais o
vazamento de renda no que se refere ao aumento da transferência líquida de capital
via aumento de importação de produto industrializado.
Em um conceito mais abrangente, a desindustrialização seria caracterizada
como uma situação, na qual tanto o emprego industrial como o valor adicionado da
indústria se reduzem como proporção do emprego total e do PIB, respectivamente.
O coeficiente de Importação e Exportação (CEI) divulgado em 13 de agosto
de 2012 pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) mostrou
que a participação de mercadorias importadas no consumo brasileiro alcançou 24%
no segundo trimestre do ano ,e, portanto comparando com o mesmo período de
2011 o aumento foi de 1,2 ponto percentual. Entretanto, comparado ao trimestre
imediatamente anterior o Coeficiente de Importação (CI) da Indústria geral
apresentou alta de 1,5 ponto percentual.
Neste contexto, o diretor do Departamento de Relações Internacionais e
Comercio Exterior (Derex) avalia a real dimensão da competição da indústria
brasileira com o dólar cotado a R$ 2,00 (BOMPAN,2012)56.
Segundo ele, porém, com o dólar cotado a R$ 2, a competição com a China
continua forte, possibilitando a importação dos produtos do país asiático. “
Um câmbio mais satisfatório estaria em torno de R$ 2,20 a R$ 2,30 para
elevar a competitividade dos produtos brasileiros’ avalia.

O embaixador Luiz Augusto de Castro Neves endossa a opinião do Derex no


que se refere à competição com a China (BOMPAN,2012)57.
Evidente que o câmbio favorece a quedas das importações, mas,
paralelamente, com a globalização da economia mundial, para até mesmo
gerar competitividade ao processo industrial, o dólar muito valorizado pode
encarecer o produto nacional”, diz ele ao se referir à necessidade de
aquisição de insumos pelos brasileiros para a produção de maior qualidade
e valor agregado.

Assim, de acordo com a FIESP, evidenciou-se alta do coeficiente de


importação em 21 dos 33 setores analisados (BOMPAN,2012)58.
Destaque para o setor de tratores, máquinas equipamentos para a
agricultura, cuja participação dos importados atingiu o terceiro maior nível

56
BOMPAN, F. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e
Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica.
57
Ibidem. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e
Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica.
58
Ibidem. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e
Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica.
173
da série histórica, crescendo de 46,1% no segundo trimestre de 2011 para
54% no mesmo período de 2012.
Dos 12 setores que mostraram retração peças e acessórios para veículos
automotores e outros equipamentos de transporte registraram as maiores
quedas ante ao mesmo período de 2011 (2,7 p.p. e 2,5 p.p.,
respectivamente.

No que tange as exportações, a participação das vendas externas na


produção total da indústria geral cresceu de 19,9% para 20,5%, na comparação
entre os primeiros meses de 2011 em relação ao mesmo período de 2012.
Entretanto, apesar da leve alta do coeficiente de exportação no segundo
trimestre houve queda de produtos brasileiros enviados no exterior
(BOMPAN,2012)59.

Gianetti explica que, com a queda mais intensa da produção física da


indústria, a quantidade exportada permaneceu a mesma, à medida que a
fatia enviada ao mercado internacional ficou proporcionalmente,maior em
relação ao total produzido.
[...] Por outro lado, a contração ainda mais forte da produção industrial no
período puxou o coeficiene para cima”, observa.

Neste contexto, José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de


Comércio Exterior do Brasil (AEB) analisa o cenário da balança comercial para o
Brasil em 2012 (BOMPAN,2012)60.
Com relação à tendência para as exportações, o vice-presidente da AEB
acredita que os preços devem reduzir 7% neste ano, por conta das quedas
já observadas em soja, algodão, café entre outros produtos. “ De qualquer
forma, o cenário [ da balança comercial] não é positivo para o Brasil.

A perda da importância da geração de empregos da indústria de


transformação no Brasil entre 2002 e 2011 (GIFFONI,2012)61.
A participação da indústria de transformação na geração de empregos caiu
quase pela metade entre 2002 e 2011, segundo o Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (Caged). Entre as mais de 760 mil vagas
criadas naquele ano, 21,1% foram para a indústria de transformação. No
ano passado, a fatia que cabe ao setor ficou em 11,2% - em um total de
1,56 milhão de empregos líquidos gerados no país. No mesmo período, o
peso do setor de serviços passou de 37,5% para 50,2% dos novos
empregos.

59
Ibidem. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e
Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica.
60
Ibidem. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e
Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica.
61
GIFFONI,Carlos. Setor industrial gera apenas 11% dos empregos no Brasil. Jornal Valor
Econômico http://www.unicamp.br/unicamp/clipping/2012/04/18/setor-industrial-gera-apenas-11-dos-
empregos-no-brasil acesso em 12 de agosto de 2012

174
A fatia da indústria de transformação frente ao saldo líquido de empregos do
Caged no ano passado está bem aquém do índice registrado no acumulado
dos últimos dez anos. De 2002 para cá, foram criados 13,2 milhões de
vagas líquidas, sendo que o setor respondeu por 18,7% desse total (2,47
milhões).

Na realidade, a perda do dinamismo na geração de empregos do segmento


da indústria de transformação foi reflexo de diversos fatores (GIFFONI,2012)
Esse movimento, dizem os economistas, ocorreu tanto por fatores próprios
do setor - como ganhos de produtividade e mudança na composição da
indústria com aumento da participação de setores menos intensivos em
mão de obra - como pela maior presença dos importados e pelo
crescimento mais expressivo de outros setores, especialmente serviços.

Apesar da redução na geração de empregos se evidenciou o incremento da


produtividade (GIFFONI,2012).
Essa perda de 1,5 ponto percentual de participação no estoque de emprego
sugere um processo de mudanças estruturais muito lento que está em curso
no Brasil", diz o economista David Kupfer, professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e assessor da presidência do BNDES.
Em contrapartida, a produtividade do trabalhador industrial (relação entre a
produção industrial e o número de horas pagas) cresceu 27,2% no
acumulado entre 2002 e o fim do ano passado. Ou seja, apesar de a fatia
de ocupados na indústria - especialmente na de transformação - ter sofrido
uma forte queda nos últimos anos, o trabalhador que se mantém no setor
aumentou a sua produtividade.
Kupfer explica que, por ter ganho de produtividade maior que os outros
setores, o emprego na indústria tende a crescer em ritmo menor que o
emprego em serviços, por exemplo. "Se a produção crescer de maneira
isonômica entre os setores, o emprego industrial perde participação no total
do país, já que a produtividade da indústria cresce mais que a de outros
setores. É uma trajetória normal para o desenvolvimento.

Segundo o entendimento o processo de industrialização deve ser analisado


sob uma ótica ampla (LACERDA; NOGUEIRA, 2008,p.3)
O processo de desindustrialização não significa apenas a substituição da
produção nacional já existente por similares importados.
Fundamentalmente, este processo restringe a expansão da capacidade
produtiva nacional, seja pela transferência de recursos para indústrias de
baixa intensidade tecnológica, seja pela diferença entre o efetivo
crescimento da demanda por manufaturados nos mercados interno e
externo, e o seu verdadeiro potencia.

No estudo desenvolvido pelo Departamento de Pesquisas e Estudos


Econômicos da Federação da indústria do Estado de São Paulo (FIESP) estimou o
impacto do coeficiente das importações na Indústria de Transformação se
mantivesse o patamar do 3º trim. de 2008 no que se refere à geração no valor da
produção e de empregos.
Caso o coeficiente de importações do 3º trim. de 2010 (21,2%) tivesse se
mantido no patamar do 3º trim. de 2008 (19,6%), o valor da produção pode-

175
ria ter sido de R$ 17,3 bilhões maior. Em 9 meses, a produção da Indústria
de Transformação aumentaria 1,62% e seria de R$ 1.072,2 bilhões,
enquanto as importações cairiam para R$ 215,1 bilhões.
Com isso, o emprego no setor aumentaria em 0,58%, equivalente a 46 mil
novas vagas.

Assim, os serviços passaram a gerar mais emprego e renda, apesar da


manutenção e até do crescimento da indústria. Houve, nesse caso, um claro
processo de desindustrialização, uma vez que o setor industrial perdeu, para os
serviços, a condição de atividade dinâmica da economia.
O Brasil entrou na dinâmica da crise mundial em face da perda de
competitividade da indústria de transformação e geração de déficits crescentes em
conta corrente.62
Para países como o Brasil, além de deixar de gerar empregos
qualificados, a diminuição do peso da indústria cria uma dependência
perigosa em face que o consumo de produtos industrializados cresce com o
crescimento da renda da população. A elasticidade-renda por produtos
industriais é superior à elasticidade por produtos primários. Uma nação, que
sem completar seu círculo industrial, vê a indústria de transformação perder
espaço para outros setores, principalmente os serviços, pode, em médio
prazo, enfrentar graves problemas no setor externo, com crescentes déficits
em conta corrente e conviver com reduções na geração e na qualidade dos
empregos.

Por outro lado, observa-se o risco do Brasil depender da produção de


commodities em face da geração de baixo valor agregado. 63
A produção de commodities agrícolas e minerais, por mais importante e
dinâmica que seja, não afasta o problema. A possibilidade de se agregar
valor a esses produtos é extremamente limitada e seus preços se formam
fora do mercado nacional, deixando poucas alternativas para a economia,
caso a demanda por eles diminua ou os preços caiam. Enquanto simples
exportador de produtos primários, o Brasil enfrentou, de forma sucessiva,
crises cambiais arrasadoras, fruto de conjunturas internacionais adversas,
que provocaram situações econômicas críticas e prejuízo para grande parte
da sociedade.

A valorização do real é reflexo das exportações de commodities e da política


monetária do Banco Central do Brasil diferentemente dos países centrais64.
Assim, a valorização do real deve-se: (i) à “doença holandesa”, pelo lado
das exportações de commodities e (ii) à alta taxa de juros interna, conside-
rada a maior do mundo, pelo lado da política econômica. A primeira razão é
meritória, pois se trata de vantagem competitiva que o Brasil soube muito
bem explorar e é grande parte responsável pela independência financeira
do país em relação ao resto do mundo. Já a segunda razão, as taxas de
juros, são motivo de muita discussão e questionamentos. A prática de
elevadas taxas provoca, também, volumosa entrada de divisas no país,

62
Nota Técnica da DIESE, p.5 ,Junho de 2011, Nº 100.
63
Nota Técnica da DIESE, p. 5, Junho de 2011, Nº 100.
64
Nota Técnica da DIESE, p. 6 , Junho de 2011, Nº 100
176
dinheiro que vem em busca de valorização rápida e segura, condição que o
Brasil oferece. Enquanto as taxas básicas de juros dos países centrais
giram em torno de 0% a.a. (zero por cento ao ano), o Brasil paga, com baixo
risco, 11,75% a.a. Há, portanto, grande afluxo de moeda estrangeira no
mercado financeiro, valorizando o real, encarecendo as exportações e
barateando as importações.

Assim, a referida Nota Técnica do DIESE não analisa o impacto da nova


dinâmica mundial com a entrada da China no que se refere à valorização dos preços
das commodities, refletindo na geração de superávits comerciais do Brasil, bem
como a política monetária de afrouxamento quantitativo do Tesouro e Banco Central
americano.
No que tange aos fatores que impactam na perda de competitividade da
indústria de transformação e os obstáculos para obtenção dos ganhos de
produtividade.65
Juros e commodities seriam, então, os primeiros responsáveis pela perda
de competitividade da indústria de transformação. Um caminho provável
para superar este problema seria por meio de ganhos de produtividade, em
outras palavras, o que se perde no câmbio deve ser compensado pelo
aumento de eficiência, a partir da redução dos custos de produção e
melhora de qualidade dos produtos fabricados. Para ambos são
necessários investimentos, capacidade empresarial, crédito e inovação. Não
obstante o esforço de grande parte das empresas brasileiras na busca de
competência técnica e empresarial, sabe-se que o número de registros de
patentes e os recursos destinados à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
nas corporações brasileiras são bem inferiores à média internacional.

No tocante aos investimentos além das restrições em face da oferta de


poupança interna alia-se a disputa reduzida pela oferta de recursos em função da
alta propensão da capacidade de emprestar recursos ao setor público.66
Os investimentos, por sua vez, sofrem algumas restrições: a oferta de
poupança interna, hoje em torno de 18% do PIB, é insuficiente para atender
ao setor privado e ao setor público. Essa escassez de poupança obriga o
país a se socorrer da poupança externa, prática que dificulta o fechamento
das contas externas e torna mais vulnerável esse setor da economia.
Na disputa pela reduzida oferta de recursos, o governo acaba levando
vantagem, pois os bancos comerciais preferem emprestar recursos ao setor
público (comprar títulos do governo), com risco praticamente nulo, que fazê-
lo para a iniciativa privada e, quando o fazem, cobram spreads muito altos.
Resta, então, ao BNDES, como banco estatal de fomento, fornecer a
maioria dos fundos para investimento, montante insuficiente para atender às
necessidades do mercado, sobretudo às das pequenas e micro empresas.

No que tange ao financiamento do BNDES resulta em uma ineficiência na


alocação de recursos segundo a alusiva Nota Técnica da DIESE.

65
Nota Técnica da DIESE, p. 7 , Junho de 2011, Nº 100.
66
Nota Técnica da DIESE, p. 7 , Junho de 2011, Nº 100.

177
Isso tudo gera ineficiência na alocação de recursos e, evidentemente,
custos para toda a economia, retirando dela parte da competitividade.
Agregue-se a essas dificuldades a carência de infraestrutura de transporte,
energia e telecomunicações, que prejudicam a circulação de bens dentro
das fronteiras do país e nas operações de exportação e importação, com os
portos e aeroportos operando no limite de suas capacidades físicas e
técnicas.
O Gráfico 61 mostra a participação da Indústria de Transformação na
formação do PIB do Brasil e a carga tributária (% do PIB) no período compreendido
entre 1995 e 2011, com projeção para 2010. De uma participação de 18,6% em
1995 se reduziu para 14,6% em 2011. No que tange, a participação da carga
tributária se observou o inverso de 27,2% em 1995 aumentou para 32,5% em 2011.

Gráfico 48 - Carga Tributária e Participação da Indústria de Transformação (% PIB) – 1995 a 2011

4 0 ,0 %
3 5 ,0 %

3 0 ,0 %
2 5 ,0 %
2 0 ,0 %

1 5 ,0 %
1 0 ,0 %
5 ,0 %

0 ,0 %
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 *2011

C ar ga Tib u tár ia (% P IB ) In d ú str ia d e Tr an sfo r m a ç ão (% P IB )

Fontes : IBGE, Secretaria da Receita Federal


Projeção segundo o autor para carga tributária de 2011

A indústria brasileira padece do impacto da política macroeconômica míope


desde 1995 em face de concentrar o total de esforços no sentido de manter a
estabilização da inflação, ou seja, ampliou-se consideravelmente a influência dos
importados em face da desnacionalização da produção e aliada a pressão de uma
conjuntura muito específica67, na qual o câmbio valorizado de 2010 e 2011 foi um
elemento importante para a atual rigidez no volume de importação de produto
industrializado.
Além disso, também considera como fator econômico o já analisado padrão
de crescimento global no que resultou na mudança do eixo dinâmico para a Ásia em

67
A política de afrouxamento quantitativo do Tesouro e Banco Central americano e do Banco da zona do euro.
178
face do expressivo crescimento do PIB da China a partir da década de 90. No que
se refere a política econômica acrescenta a ineficiência da gestão fiscal baseada na
vinculação da despesa a receita e incremento dos tributos aliada dinâmica dos juros
altos.
Ressalta-se ainda a perda da importância da indústria manufatureira em face
da produtividade e terceirização, custo de produção e elasticidade-renda aliado ao
custo Brasil68.

Gráfico 49 : Brasil - Efeito do câmbio no PIB e na Indústria de Transformação – 2003 a 2011

2 5 ,0 0 % 4
3 ,5
2 0 ,0 0 %
3
1 5 ,0 0 %
2 ,5
1 0 ,0 0 % 2
1 ,5
5 ,0 0 %
1
0 ,0 0 %
0 ,5
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
-5 ,0 0 % 0

Tax a d e c r e sc im e n to d o P IB (% )
In d ú str ia d e Tr an sfo r m a ç ão V alo r A d ic io n ad o
C âm b io

Fontes : IBGE, Banco Central do Brasil


Nota técnica : A taxa de câmbio foi calcula baseada na média do período de cada período.

A perda da participação da indústria de transformação no PIB do Brasil é


confrontada com a expansão da produção mundial em 2011 (DANTAS)69.
Paulo Stark, presidente e CEO da Siemens Brasil, mostrou que houve um
forte descompasso entre o desempenho da produção industrial brasileira e
global em 2011: enquanto a do Brasil ficou praticamente parada, com
crescimento de 0,3%, a do mundo teve expansão de 5,8%.

68
O Custo Brasil é um termo genérico, usado para descrever o conjunto de dificuldades estruturais,
burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no Brasil, dificultando o desenvolvimento
nacional, aumentando o desemprego, o trabalho informal, a sonegação de impostos e a evasão de
divisas. Por isso, é apontado como um conjunto de fatores que comprometem a competitividade e a
eficiência da indústria nacional. (Jornal do Estado de São Paulo, 08/03/2010.
69
DANTAS, Fernando Discussion Blog [Internet]. São Paulo: 18 de maio de 2012 – Disponível em
http://blogs.estadao.com.br/fernando-dantas/2012/05/18/industria-brasileira-ficou-para-tras/. Acesso
em 21 de agosto de 2012.
179
Posteriormente, é realizado um confronto de análise da performance industrial
do Brasil para os anos de 2007 a 2010 (DANTAS)70.
Stark indicou que isso foi verdadeiro para os anos de 2007 a 2010, quando
a performance da produção industrial no Brasil e no mundo foi de fato muito
parecida. Em 2007, por exemplo, houve crescimento global de 6,1% e de
6% no Brasil. Em 2008, de respectivamente 2,7% e 3,1%. Em 2009, ano da
grande crise global, a indústria caiu 7,7% no mundo e 7,4% no Brasil. E, em
2010, houve a forte recuperação de 9,6% globalmente e de 10,5% no caso
brasileiro”.

Observa-se, no Brasil, um crescente descompasso entre o crescimento do


comércio e a produção industrial. Em termos de quantidades, o comércio tem
crescido, a partir do início de 1995, a taxas superiores ao crescimento da indústria.
Esse gap entre o consumo e a produção domésticos é preenchido por produtos
importados. Tal fato mostra que a indústria de transformação não aproveitou a
oportunidade do modelo baseado no incremento do consumo em percentual do PIB
após 2008.
Gráfico 50: Brasil - Análise desagregada do Valor Adicionado do PIB – 1995 a 2011

Fonte : IBGE

O Gráfico 52 evidencia-se o efeito da desindustrialização no Brasil


correlacionando o PIB per capita (US$) e o valor adicionado da manufatura (% do
PIB). A atual determinação do governo Dilma em 2012 de manter a taxa de câmbio
do dólar em R$ 2,00 para reverter a tendência de desindustrialização ,e, portanto

70
Ibidem Discussion Blog [Internet]. São Paulo: 18 de maio de 2012 – Disponível em
http://blogs.estadao.com.br/fernando-dantas/2012/05/18/industria-brasileira-ficou-para-tras/. Acesso
em 21 de agosto de 2012

180
neste estudo se utilizará o PIB per capita a preço constante de 2011 do dólar a
R$ 2,00. Evidencia-se que apesar do crescimento do PIB per capita em dólar que
em 1995 era de US$ 2.220 e que passou para US$ 10.626 em 2011 a perda do
dinamismo do incremento da indústria de transformação foi muito significativa
quando se compara com o desempenho dos países da Organização para
Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) (Gráfico 51).
Ressalta-se que apesar da taxa de câmbio no Brasil ser de 2012 o objetivo é
demonstrar que em face da miopia da política macroeconômica conduzida pelo
Banco Central pós Real o país não só comprometeu o crescimento econômico do
período como também a perspectiva futura do crescimento econômico.

Gráfico 51 - Países da OCDE - PIB per capita (preços constantes de 2000, US$) e valor adicionado
manufatureiro (% do PIB), 1981-2010.

Fonte: World Development Indicators (WDI, 2011).

Gráfico 52 – Brasil - PIB per capita (US$) x Valor adicionado da manufatura (% do PIB) – 1995 a 2011

181
1 2 .0 0 0 ,0 2 5 ,0 0 %

1 0 .0 0 0 ,0
2 0 ,0 0 %

8 .0 0 0 ,0
1 5 ,0 0 %

6 .0 0 0 ,0

1 0 ,0 0 %
4 .0 0 0 ,0

5 ,0 0 %
2 .0 0 0 ,0

0 ,0 0 ,0 0 %

P IB p e r c ap ita (U S $ ) In d ú str ia d e Tr an sfo r m aç ão Valo r A d ic io n ad o

Fonte : IBGE
Nota : Brasil - PIB per capita (preços constantes de 2012, US$ = R$ 2,00 ) e valor adicionado
manufatureiro (% do PIB), 1995-2011.

O Gráfico 53 demonstra que a manutenção da competitividade das


exportações brasileiras foi baseada nos setores de Indústria de média-baixa
tecnologia e de baixa tecnologia em face que em 1996 foi gerado US$ 26,9 bilhões e
passou para US$ 100,8 bilhões em 2011. No tocante aos setores de indústria de alta
tecnologia e de média-alta tecnologia o montante era de US$ 12,9 bilhões em 1996
e aumentou para US$ 52,3 bilhões em 2011.

Gráfico 53 – Exportação Brasileira dos Setores Industriais por Intensidade Tecnológica – 1996 a 2011
US$ milhões FOB

70.000

60.000

50.000
40.000

30.000
20.000

10.000

-
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Indústria de alta tecnologia Indústria de média-alta tecnologia (II)


Indústria de média-baixa tecnologia (III) Indústria de baixa tecnologia (IV)

Fonte : SECEX/MDIC
182
No que tange aos reflexos da política neoliberal foram determinantes para o
incremento significativo das importações brasileiras fundamentadas nos setores de
indústria de alta tecnologia e de média-alta tecnologia em face que em 1996 o
montante era de US$ 31 bilhões e passou para US$ 134,6 bilhões em 2011. No que
se referem aos setores de Indústria de média-baixa tecnologia e de baixa tecnologia
o montante foi de US$ 14 bilhões em 1996 e aumentou para US$ 61,8 bilhões em
2011. Correlacionando as exportações com as importações dos setores de indústria
de alta tecnologia e de média-alta tecnologia evidenciou-se que o déficit comercial
foi de US$ 18,1 bilhões em 1996 e passou para US$ 82,3 bilhões em 2011. E
correlacionando com os setores de Indústria de média-baixa tecnologia e de baixa
tecnologia de um superávit comercial de US$ 12,9 bilhões em 1996 passou para
US$ 39 bilhões em 2011.

Gráfico 54 – Importação Brasileira dos Setores Industriais por Intensidade Tecnológica – 1996 a 2011
US$ milhões FOB

100.000
90.000
80.000
70.000
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
-
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Indústria de alta tecnologia (I) Indústria de média-alta tecnologia (II)


Indústria de média-baixa tecnologia (III) Indústria de baixa tecnologia (IV)

Fonte : SECEX/MDIC

O Gráfico 55 mostra a evolução da participação dos principais países de


destino das exportações brasileiras, computados os produtos básicos,
semimanufaturados e manufaturados. Assim, evidencia-se que a dinâmica do
crescimento do PIB chinês impulsionou as exportações brasileiras, refletindo em
uma dependência estrutural em relação à China, aumentando o risco do incremento
do financiamento do déficit de conta corrente em face do arrefecimento do
183
incremento do PIB da China em 2012. Por outro lado, observa-se que se reduziu
consideravelmente o volume de exportações para os Estados Unidos em face que
em 1990 correspondia a 24,2% e reduziu 10,1% em 2011. No tocante a Argentina
demonstra a sua importância no tocante à exportação.

Gráfico 55 - Países de destino das exportações brasileiras (%) – 1990 a 2011

3 0 ,0 0 %

2 5 ,0 0 %

2 0 ,0 0 %

1 5 ,0 0 %

1 0 ,0 0 %

5 ,0 0 %

0 ,0 0 %
1990 2000 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

C H IN A EU A A R G E N T IN A

Fonte : SECEX/MDIC
Elaboração : AEB

Em suma, a abertura desmedida aliada a crise mundial de 2008 e os efeitos no


tocante ao tsunami de dólares e euros e a estratégia da China de ampliar mercados
em face da perda no volume de exportações em função da crise da zona do euro
refletiram em um déficit comercial no segmento de produtos industrializados princi-
palmente no segmento da indústria de alta e média complexidade no Brasil
acentuando ainda mais o risco de desindustrialização e , portanto, impactando na
geração de emprego e renda e no crescimento econômico de 2011 e exercícios
posteriores.

• Limitações do crescimento econômico no Brasil

A projeção feita pelo o FMI para 2011 era de 4,5% e de 2012 de 4,1%71.
Assim, o FMI reduziu a projeção para 2,5% 72 em 2012 e a projeção do Boletim

71
Portal Brasil, 25 de janeiro de 2011. Acesso em 22 de agosto de 2012.
http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/01/25/fmi-eleva-projecao-do-pib-do-brasil-para-4-5-em-
2011.
72
RIBEIRO, Alex, Jornal Valor Econômico, São Paulo 16 de julho de 2012. Acesso em 22 de agosto
de 2012 http://www.valor.com.br/internacional/2752778/fmi-reduz-projecao-de-alta-do-pib-do-brasil-
de-31-para-25-em-2012
184
Focus é de 1,75% 73 . Por que afinal o Brasil não deverá retomar o crescimento
sustentável de 4% em 2013 e para os próximos anos ?

O Brasil não cresce em face dos fatores estruturais que limitam o crescimento
(OLIVON,2012)74.

Se o mundo cresce menos, de alguma forma você será afetado, mas o


Brasil estava crescendo menos que países equivalentes”, afirmou Carlos
Alberto Cinquetti, economista da Unesp. Para o professor, o Brasil estava
crescendo mais por causa da demanda de outros países e menos pela sua
competitividade.
Cinquetti lista três fatores que prejudicam o PIB brasileiro, além do cenário
externo: a mudança na composição da renda, para um agente que investe
pouco – o governo -, as restrições institucionais que dificultam a eficiência
das empresas e os atrasos na infraestrutura. “Uma lição de casa aqui é
resolver esse pontos para crescer mais adequadamente aos países na
mesma condição do Brasil, por volta de 5% e não 3%”, disse.

O alusivo professor analisa que o governo investe pouco, mas não


contextualiza que é devido ao alusivo modelo de vinculação da receita à despesa, o
qual dificulta que o setor público consolidado de direcionar recursos no que tange ao
investimento em infra-estrutura para melhorar a competitividade das empresas. Além
disso, também não analisa que é reflexo da política neoliberal pós Real, pois
desarticulou a capacidade do Estado de implementar políticas fiscais Keynesianas
através das empresas Vale do Rio Doce, Usiminas, Telebrás, bem como os recursos
advindos da geração de exportações pressionou o custo da dívida pública, uma vez
que forçou o Banco Central a comprar os dólares para evitar ainda mais a
valorização do real.
Salienta-se, ainda, que conforme já foi analisado o modelo chinês de
crescimento significativo do PIB chinês de 1980 a 2011 se baseou justamente na
combinação de diversas políticas Keynesianas sem a preocupação da ótica de
Hayek, a monetária, a expansão do crédito e de exportação enquanto o Brasil ficou
preso as armadilhas da década de 80 e principalmente da estabilização econômica
através do Plano Real.
Assim, diferentemente da China o Brasil abdicou da utilização das políticas
fiscais, monetárias e creditícia para gerar crescimento econômico pós Real em nome
da sustentabilidade da dívida pública, pois o foco exclusivo se direcionou para

73
Boletim Focus de 17 de agosto de 2012.
74
OLIVON,Beatriz. 6 novas previsões para o PIB brasileiro em 2012. São Paulo, Exame.com, 22 de
agosto de 2012. Acesso 22 de agosto de 2012. Disponível http://exame.abril.com.br/economia/6-
noticias/6-novas-previsoes-para-o-pib-brasileiro-em-2012.
185
geração de superávit primário ,e, que em face da anomalia da gestão fiscal no Brasil
esta foi obtida via aumento da carga tributária em função do modelo de vinculação
da despesa à receita.
No tocante à política monetária conforme já foi analisada só teve foco
exclusivo para manter a estabilização da inflação pós Real, refletindo no incremento
da dívida pública e na valorização do Real.
A combinação das alusivas políticas monetárias e fiscais proporcionaram
pífios resultados de crescimento econômico, entretanto a revisão metodologia do
IBGE turbinou o PIB diminuindo o peso da dívida pública e carga tributária
(ALMEIDA, 2010)75.
Em termos de resultados efetivos, o governo Lula realizou, em seu primeiro
mandato, de 2003 a 2006, taxas respectivas de crescimento do PIB de
0,5%, 4,9%, 2,3% e 3%, numa conjuntura em que a economia mundial
crescia praticamente o dobro dessas taxas e os emergentes dinâmicos três
vezes mais. Registre-se, porém, que o governo operou uma revisão
metodológica nas contas nacionais, alterando o peso e a composição de
indicadores básicos da economia, o que redundou numa mudança para
cima de todas as taxas de crescimento da economia. Assim, os dados
revistos do PIB brasileiro permitiram exibir as seguintes taxas de
crescimento: 1,1% em 2003, 5,7% em 2004, 3,2% em 2005 e 4% em 2006,
com a consequente diminuição do peso da dívida pública e da carga
tributária em relação ao PIB, resultados oportunamente convenientes para
melhorar o desempenho geral da economia.

Na realidade, o Brasil ampliou a taxa de crescimento do PIB no segundo


governo Lula em face de ser impulsionado pela demanda da China, bem como o
modelo de expansão do crédito para o consumidor e a elevação da dívida bruta via
empréstimo ao BNDES e a política de valorização do salário mínimo, que
permaneceu vigorosa e se alçou à condição de primeiro parceiro comercial do Brasil,
foi, respectivamente, de 6,1% em 2007, de 5,1% em 2008 e de -0,2% em 2009 e de
7,5% em 2010.

No que se refere à política de valorização do salário mínimo é fundamental a


participação das Centrais Sindicais com o objetivo de fortalecer a opinião dos
poderes Executivo e Legislativo acerca da importância social e econômica da
proposta de valorização do salário mínimo, em face que em maio de 2005 era de

75
Paulo Roberto de Almeida, Balanço do governo Lula, 2003-2010: uma avaliação não complacente,
26 de outubro de 2010. Acesso 22 de agosto de 2012. Disponível
http://economia.ig.com.br/balancos+do+governo+lula+20032010+uma+avaliacao+nao+complacente
186
R$ 260,00 e passou para R$ 350,00 em abril de 2006 (DIESE, A política de
valorização do salário mínimo, p.1)76.
Destaca-se que a alusiva Nota Técnica nº 106 da DIESE evidencia a
importância da permanente política de valorização do salário mínimo, a qual foi
acordado, em 2007 até 2023.
Essa política tem como critérios o repasse da inflação do período entre as
correções, o aumento real pela variação do PIB, além da antecipação da
data-base de revisão - a cada ano - até ser fixada em janeiro, o que
aconteceu em 2010. A política prevê que, em janeiro de 2012, o reajuste
reponha a inflação segundo o INPC de 2011, mais a variação do PIB de
2010. Como o crescimento do Produto Interno Bruto em 2010 foi, em dado
ainda provisório, de 7,5%, a revisão do piso deverá incorporar esta variação
mais a inflação medida pelo INPC.

Neste contexto, em abril de 2007, o salário mínimo era de R$ 380,00 e


passou para R$ 622,00 em 1º de janeiro de 2012, representando um ganho real de
65,95% deteriorando as contas públicas em face da vinculação do salário mínimo à
Previdência na visão míope dos especialistas em contas públicas, pois é necessário
analisar também o impacto via incremento da arrecadação e do PIB.
Assim, avalia-se à importância do incremento do salário mínimo atingindo
R$ 622,00 em janeiro de 2012, pois o rendimento referenciado no salário mínimo
atinge 48 milhões de pessoas, refletindo no incremento de renda na economia o
montante de R$ 47 bilhões e impactando no incremento na arrecadação tributária
sobre o consumo de R$ 22,9 bilhões (DIESE, Nota Técnica nº 106,p.7)
Salienta-se, ainda, a difusão do crédito para faixas da população antes dele
excluídas um fator que explica esse boom de crescimento é o surgimento de 30
milhões de brasileiros que ascenderam a classe C reflexo da política de valorização
do salário mínimo, a qual beneficia os contemplados pela seguridade social. Em
2011, 29 milhões foram beneficiados pela transferência do INSS no montante de
R$ 272,9 bilhões sendo que 19,162 milhões receberam 1 salário mínimo totalizando
R$ 123,6 bilhões.
Assim, a dificuldade do Brasil de não retomar o crescimento sustentável de
3,5% do PIB ou de 4,0% do PIB conforme o PIB potencial analisado pelos
economistas em 2012 e também para os próximos anos é decorrente de todos os

76
DIESE, Política de Valorização do Salário Mínimo, NOTA TÉCNICA nº 106,Janeiro de2012. Acesso em 22 de
agosto de 2012
187
fatores críticos estruturais já analisados, bem como o impacto significativo do
Passivo Externo em 2011 segundo a avaliação de Reinaldo Gonçalves77.
O Brasil deve em moeda estrangeira o dobro das reservas cambiais. No
final de 2011 o passivo externo do país atingiu US$ 746,000,000,000.00.
Isto mesmo setecentos e quarenta e seis bilhões de dólares. Este rombo
cresceu quase três vezes durante os governos petistas. Só o setor
financeiro, entre 2009 e 2011, dobrou o volume tomado no exterior para
emprestar aqui dentro. Pedala um bicicleta de mais de US$ 300 bilhões em
recursos captados lá fora.

Além disso, o eminente professor aprofundou sua análise no que se refere à


correlação entre investimento estrangeiro e a relação de confiabilidade externa na
solidez econômica brasileira aliada ao baixo impacto na economia real.
Pior. O investimento estrangeiro direto, sempre citado pelas autoridades do
governo como exemplo da confiança externa na solidez econômica
brasileira, esconde um problema. Quando mostram os números e dizem
que somos o segundo destino do dinheiro produtivo não estão dizendo toda
a verdade. Uma grande parcela do IED entra assim carimbado e vai para a
compra de títulos públicos ou outros papéis. Não acrescenta nada a
economia real. Visa o lucro fácil devido ao diferencial de juros.
Como explicar que para cada dólar acrescido às reservas brasileiras nos
últimos dez anos entraram dois via internalização de capital? Isto sem
considerar a soma dos superávits conseguidos graças apenas às
exportações das commodities minerais e agrícolas. A economia e o governo
movem-se devido a importação de capital especulativo. O déficit em conta
corrente do Brasil fechou 2011 em mais de US$ 52 bilhões. Estamos
cavando fundo um grande buraco. Enquanto a situação externa for
favorável a bolha continuará inflando. A moeda artificialmente valorizada
devido ao fluxo favorável de divisas possui um lado positivo, ao servir como
âncora para a inflação, porém prejudica a produção interna de bens de
consumo inundando o mercado local com produtos importados.

Ressalta-se que diante da magnitude dos investimentos necessários para o


pré-sal evidencia o alto risco de instabilidade do dólar em face da alta depreciação
do real de 2012 em relação a 2011.

São 270 bilhões de dólares de investimentos previstos até o fim da década.


O setor de óleo e gás, que já representa 10% do produto interno bruto do
país, deve passar a 20%. É, de longe, o mais pujante do país,
78
especialmente num momento de franca desaceleração econômica.
Neste contexto, evidencia-se que o Gráfico 56 mostra os impactos da política
neoliberal correlacionando o PIB medido em dólar do período correspondente ao

77
GONÇALVES, Reinaldo. A herança lula: o passivo externo do Brasil, 2 de março de 2012. Acesso
em 22 de agosto de 2012. Disponível http://vermelhosnao.blogspot.com.br/2012/03/heranca-lula-o-
passivo-externo-do.html.
78
PADUAN,Roberta. Pré-sal, o maior desafio do Brasil. Revista Exame, São Paulo, Edição
1019,Editora Abril, 27 de junho de 2012. Disponível em http://exame.abril.com.br/revista-
exame/edicoes/1019/noticias/pre-sal-o-maior-desafio-do-brasil?.

188
preço do dólar constante de R$ 2,00 para o exercício de 2012 definido pelo Banco
Central para aumentar a competitividade da indústria brasileira.

A miopia da política neoliberal resultou em um alto custo no que se refere ao


crescimento econômico, pois comparando com o dólar a R$ 2,00 o PIB do Brasil
de1995 era de US$ 770,4 bilhões e passou para US$ 2,072 trilhões ,ou seja, o PIB
aumentou no período apenas 3 vezes no relativo período e o pior com os limites
estruturais do crescimento econômico já salientado reduziu consideravelmente a
oportunidade de um crescimento mais robusto para os próximos anos.

Gráfico 56 – PIB Brasil (Banco Central ) x PIB (dólar R$ 2,00) – 1995 a 2011 (US$)

3 000 000

2 500 000

2 000 000

1 500 000

1 000 000

500 000

0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

PIB (Banco Central) PIB (Dólar R$ 2,00)

Fonte: Banco Central do Brasil

O Gráfico 57 corrobora essa análise de que a continuação da política neolibe-


ral pós FHC comprometeu o crescimento do PIB do Brasil (WANDERLEY;MATA;
BALANCO, 2012, p.38).

Nas décadas de 1980 e 1990, o Brasil posiciona--se no subquadrante


IV.A, com PIBs médios de, respectivamente, R$ 1.883.271,69 trilhões e
R$ 2.312.831,37 trilhões, inferiores à média do período, com R$
2.410.184,26 trilhões; com saldo de comércio externo de US$ 8.598,59
bilhões na década de 1980 e US$ 3.674,56 bilhões na década de 1990, com
valores inferiores à média do período de US$ 12.585,22 bilhões; e com
taxas de juros médias de 12,0% (década de 1980) e 13,9% (década de
1990) superiores à média do período de 8,7%. Em ambas as décadas, o
país situou--se à esquerda das curvas AA e BB, assim como acima da taxa
de juro de equilíbrio. Já na década de 2000, o Brasil localiza-se no
subquadrante II.A, situando-se à direita das curvas AA e BB, e abaixo da
taxa de juro de equilíbrio, com PIB médio de R$ 3.034.449,72 trilhões,
superior à média do período com R$ 2.410.184,26 trilhões; saldo externo de
comércio de US$ 25.482,52 bilhões, superior a US$ 12.585,22 bilhões
(média do período); e taxa de juro de 1,2% inferior à média do período de
8,7%.
Verifica-se, com base nas três variáveis analisadas – PIB, taxa de juro Selic
e Balança Comercial –, que a economia brasileira apresentou alguma
melhora ao longo das três décadas, dado que o movimento do
subquadrante IV.A para o subquadrante II.A indica, no que se refere a
189
valores médios das curvas AA e BB, as passagem do PIB e da balança
comercial para valores acima da média do período de 1980 a 2010. Em
relação à curva BB, observa-se um forte crescimento nos superávits do
saldo médio de comércio. Esclarece- -se que, na década de 2000, a
localização da balança comercial à direita de BB e ser superavitária devem-
se ao fato de a curva BB representar os saldos médios do período de 1980
a 2010.

Gráfico 57 – Cenário da economia brasileira no diagrama adaptado de Trevor Swan com curvas de
valores médios

Fontes : Elaboração Livio Andrade Wanderley, Henrique Tomé da Costa Mata e Paulo Antônio de
Freitas Balanco
Por outro lado, o Gráfico 58 demonstra que os PIBs da década de 1990 e de
2000 ficaram abaixo do pleno emprego (WANDERLEY;MATA; BALANCO;
2012;p.41).

No Gráfico 58, tem-se o diagrama teórico e o ponto F (felicidade


macroeconômica) localizado mais para a direita em relação ao ponto E do
diagrama de valores médios. Dessa forma, verifica-se que os valores
médios dos PIBs de cada década estão aquém do PIBPE de pleno
emprego, enfatizando-se que o PIB médio da década de 2000 é o que fica
mais próximo do PIBPE de pleno emprego.
A análise dos saldos de comércio externo e das taxas de inflação e de
desemprego permite constatar- se que a economia brasileira, nesse
diagrama com valores médios das curvas AA e BB, posiciona--se aquém
dos níveis de equilíbrio interno de pleno emprego e externo.

190
Gráfico 58 – Cenário da economia brasileira no diagrama adaptado de Trevor Swan com curvas de
valores médios e teóricos de equilíbrios interno e externo

Sintetizando: o processo de limitação do crescimento econômico do Brasil em


2012 e que afetará os próximos anos é decorrência da política imperialista dos
Estados Unidos utilizando o FMI em face desta instituição impor um serviço da
dívida, a qual não só comprometeu o crescimento econômico da década de 80 como
também desorganizou a estrutura produtiva ; comprometeu os investimentos das
estatais e gerou a desestabilização macroeconômica em face do período de
hiperinflações.
Por outro lado, a política neoliberal pós FHC gerou um passivo externo
significativo aliado ao volume crescente de importação de produtos industrializados,
o qual gera um vazamento de renda, bem como deprimiu o crescimento da
indústria. Além disso, a gestão fiscal baseada na geração de superávits primários
resultou no aumento da carga tributária e reduziu a capacidade de investimento em
infraestrutura em face da anomalia do modelo de vinculação de despesa á receita.
Salienta-se, ainda, que o modelo de crescimento do PIB via aumento de
consumo encontra-se em esgotamento. Primeiro, em face do aumento da carga
191
tributária; segundo, porque o nível de comprometimento da renda está muito alto;
terceiro, em face de que apesar da relação do crédito imobiliário em percentual do
PIB ser baixa deve se levar em consideração o risco da bolha. Além disso,a
evidência da desindustrialização, refletindo na perda de emprego e
consequentemente na desvalorização dos imóveis.
Diante de tamanha pressão sobre o país, o economista Ricardo Carneiro, do
Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), defende
que uma das variáveis-chave para a preservação do dinamismo da economia
brasileira é o investimento.79
Para isso, ele acredita que seja necessário um novo perfil de política
econômica, e que sua característica central seria a ampliação do papel do
setor público para assegurar níveis mais elevados de investimentos em
infraestrutura econômica e social.
“Isso exigirá tanto a ação direta do Estado na realização, por meio da
administração pública e empresas estatais, e financiamento destes
investimentos, quanto o suporte e indução do setor privado”, afirma
Carneiro, que tratou do assunto na publicação Desafios para o
desenvolvimento brasileiro, divulgada pelo Ipea em 2011. Transitando pela
teoria, o professor da Unicamp explica que será necessário ao país passar
de um modelo de crescimento baseado no “investimento induzido” para
outro, fundado no “investimento autônomo”. Investimento induzido é aquele
provocado pela variação do PIB ou pela melhoria das condições da
economia. Ele tende a se retrair quando a atividade econômica apresenta
queda e se concentra no aumento da capacidade instalada. Já o
investimento autônomo independe da atividade econômica. Ele é
centralmente o investimento em inovações tecnológicas, que podem
representar ganhos de produtividade, mudando a qualidade da produção.

Em suma a análise de Ricardo Carneiro sobre o desempenho do investimento


no Brasil é fundamental para evidenciar os obstáculos para a retomada do
crescimento sustentável ao redor de 4,5% a.a conforme a projeção do PIB
potencial.80
Segundo Carneiro, quando se analisa o desempenho do investimento no
ciclo recente, seu caráter foi induzido: num primeiro momento pelas
exportações, num segundo pelo consumo, e finalmente pelo próprio
investimento. Ou seja, ainda não se configurou no ciclo recente um padrão
comandado pelo investimento autônomo, como ocorreria com frequência na
era desenvolvimentista, marcada pela diferenciação da estrutura produtiva e
pela ampliação da infraestrutura.
Mas agora se abriu uma porta. “O desenvolvimento da economia brasileira
verificado nos últimos anos, no qual o investimento foi preponderantemente
induzido pela demanda doméstica, criou um conjunto de desafios cuja
superação acarretará a mudança de padrão em direção ao crescimento
comandado pelo investimento autônomo”, ressalta Carneiro, para quem
essa oportunidade decorre principalmente da necessidade de ampliar a

79
GOMES,Marcel. Como o Brasil pode evitar a crise. Revista Desafios do Desenvolvimento, IPEA,
Ano 9, nº 71, p. 28-29.
80
GOMES,Marcel, op. cit., p. 29.
192
oferta de serviços de infraestrutura. Mas o caminho será longo. O patamar
de investimentos públicos no Brasil tem sido muito baixo e, apesar de ter
crescido nos últimos anos (de 1,5% do PIB em 2003 para 2,5% em 2009),
terá que dobrar para alcançar padrões internacionais.

Além disso, de acordo com o coordenador de Análises e Previsões do IPEA,


Roberto Messemberg, o canal mais importante para o Brasil manter-se distante da
crise externa também é o investimento.81
Ele assinala, sobretudo, a importância do investimento privado, que se
movimenta segundo uma decisão “volátil e instável do empresariado”. “É
uma variável que depende do que se passará na economia. Se a
perspectiva é ruim, o empresário adota uma postura que racionalmente é
defensiva”, explica.
Para impulsionar o investimento privado, Messemberg defende um papel
mais ativo do governo federal. Assim como Carneiro, ele propõe mais
investimentos em infraestrutura, sobretudo nos setores de transporte e
energia. “São pontos de estrangulamento da economia que influenciam
muito as decisões sobre investimento privado”, diz ele. Para que isso seja
possível, porém, seria necessário repensar metas fiscais, como a do
superávit primário. Em janeiro de 2012, o governo fez economias de 3,3%
do PIB, acima da meta prevista de 3%.

Assim, segundo Mesemberg se evidencia a necessidade que as metas fiscais


sejam ajustadas pelo investimento.82
São metas fiscais que têm sido ajustadas pelo investimento, porque em
outras variáveis, como saúde e educação, constitucionalmente não se pode
mexer”, diz o coordenador do Ipea, para quem outro ponto fundamental é
desonerar os impostos do setor industrial e transferir a conta para o setor de
serviços. “É a indústria que faz os grandes investimentos no país. E se os
preços relativos são o problema, por causa do câmbio, precisamos atacar
os custos, justamente com menos impostos”, propõe.
Messemberg reconhece que os investimentos totais no país, somando
fontes públicas e privadas, cresceram em 2011 acima do consumo, o que é
uma boa notícia. Em 2012, a tendência deve continuar a mesma e a taxa
total pode passar de 20% do PIB. O economista ressalta, porém, que para
que ela chegue a 25%, um patamar considerado condizente com as
necessidades brasileiras, a velocidade de avanço teria de ser muito maior.
“Para isso ocorrer, só mesmo se o governo sinalizar um futuro positivo,
apesar das dificuldades com o cenário internacional”, afirma.

As medidas do Banco Central no sentido de reduzir a taxa Selic em 2012


produziu efeitos no tocante à redução das despesas públicas com juros, resultou
que o mercado de títulos públicos ficou menos atrativo para o especulador externo,
evitando a apreciação do real, entretanto não se observa o incremento do crédito no
mercado interno em face do alto endividamento das famílias.

81
GOMES,Marcel, op. cit., p. 29.
82
GOMES,Marcel, op. cit., p. 29.

193
Neste contexto, para muitos observadores, porém, apenas a redução dos
juros não será suficiente para evitar a valorização do real e impulsionar o consumo
interno83.
Ocké-Reis, do Ipea, por exemplo, sugere como uma medida a ser avaliada
a tributação e o controle do capital especulativo, com o objetivo de
desvalorizar o real. Com essa iniciativa, a economia nacional seria
beneficiada porque as importações não seriam tão atrativas, ao contrário
das exportações. Ele também propõe um melhor aproveitamento fiscal do
Fundo Soberano.

No tocante à importância da redução dos spreads bancários para a retomada


do crescimento econômico.84
Ocké-Reis sublinha ainda a importância de redução dos spreads bancários.
O mesmo faz Carneiro. “É uma anomalia, quando se consideram os
padrões internacionais”, afirma o professor da Unicamp. Segundo ele, até
meados da década de 2000 havia justificativa, do ponto de vista
macroeconômico, para as diferenças entre os juros cobrados e os recebidos
pelos bancos, associada à instabilidade e à volatilidade de taxas de câmbio
e juros. Essa combinação acentuava o risco da intermediação financeira.
Entretanto, desde então a redução desta instabilidade reduziu os riscos,
mas não os spreads. “Tal persistência se deve a fatores microeconômicos,
como o alto e crescente grau de oligopolização do sistema bancário
brasileiro e a insuficiente concorrência”, diz Carneiro.

No que concerne à China avalia-se à dependência estrutural em 2012,


refletindo na diminuição das exportações pressionando o déficit de conta corrente.
Segundo as políticas anti-indústria desde o Plano Real estão produzindo os
efeitos no que tange ao pífio resultado do PIB de 2,7% de 2011 e a projeção é que
seja menos de 2% em face das escolhas de política econômica ultrapassada
associada ao papel do Brasil a plataforma de valorização do capital internacional
que a economia brasileira ainda desempenha (PAULANI,2012,p.5).
As causas que primeiramente se levantam para explicar essa situação
estão sempre relacionadas ao agravamento da cena internacional, o que
tem lá sua razão de ser, já que a crise europeia está se mostrando mais
profunda do que se imaginava. Mas eles não podem de modo nenhum se
reduzir a isso. Com duas décadas de políticas anti-indústria, não é a toa que
a crise internacional superdeprime as expectativas e impeça o investimento
de decolar, por maiores que sejam os esforços do governo para estimular o
consumo e, por essa via, tentar reerguê-las. As escolhas de política
econômica efetuadas pelos últimos governos fizeram o país retroceder a
uma posição na divisão internacional do trabalho que já se julgava ter sido
ultrapassada. Se associarmos a isso seu papel de plataforma internacional
de valorização financeira que a economia brasileira ainda desempenha,
muito embora as taxas de juros tenham declinado substantivamente nos
últimos meses, teremos uma espécie de dependência redobrada, um
cenário, portanto, muito distante da imagem de autonomia e independência

83
GOMES,Marcel, op. cit., p. 31.
84
GOMES,Marcel, op. cit., p. 31.

194
que os recursos sobre “a economia blindada” e o suposto “desenvolvimento”
querem fazer crer.

Assim, conforme a magnífica análise da professora a escolha da política


econômica se refletiu em armadilhas as quais reduzem a expectativa de crescimento
econômico sustentável a uma taxa de 3,5% a.a em face do Brasil pós real é uma
oportunidade de ouro do capital especulativo internacional obter lucros significativos
em face da fragilidade macroeconômica do país. A dimensão desta perda de
dinamismo do PIB no ano passado se evidencia quando a expansão da economia
mundial foi de 3,8% em média, conforme estimativa do Fundo Monetário
Internacional (FMI). Além disso, os países em desenvolvimento cresceram 7,3% em
2010 e 6% em 2011, mais do que o dobro do registrado pelo Brasil.
Este tópico apresentou a dificuldade do governo Dilma de turbinar o
crescimento do PIB via aumento da dívida pública através de empréstimos ao
BNDES e Caixa Econômica Federal, em face de gerar uma crise de desconfiança
em relação à sustentabilidade da dívida pública em um cenário de deterioração da
geração de resultado primário em percentual do PIB aliado a um modelo de
esgotamento do incremento da arrecadação da carga tributária do setor público
consolidado. Salienta-se, ainda, a dependência estrutural do Brasil em relação à
China impactando no crescimento econômico e que por sua vez pressiona o déficit
de conta corrente em 2012. Além disso, avaliou a dificuldade a dificuldade de
ampliação do investimento e por fim os reflexos na perda da competitividade da
indústria de transformação.

CONCLUSÕES
A expectativa é que este trabalho tenha alcançado seu objetivo, o de
contribuir para o debate que busca elucidar que os atuais limites da política
econômica do Governo Dilma é consequência da política imperialista americana
baseada no seu braço forte o FMI em face de que ao impor um serviço da dívida
significativo ao Brasil e a América Latina na década de 80 refletiu na baixa
capacidade de realização de investimentos e em uma grande tensão social no que
se refere o alto nível de desemprego.
Assim, a estratégia de refinanciamento da dívida para impedir a insolvência
do sistema financeiro americano resultou na condição dos países latino-americanos
inclusive o Brasil de perder considerável parcela de sua autonomia de decisão na
195
formulação e execução da política macroeconômica e a América Latina se
transformaria, na década de 80, em exportadora líquida de recursos à média anual
de 5% do PIB, resultando em uma recessão no sentido de reescalonar suas dívidas,
com a agravante de uma distribuição particularmente iníqua do ônus decorrente do
ajuste, refletindo na redução do salário real, no aumento do desemprego, o qual
aprofundaria ainda mais a miséria.
Além disso, agravada pela impossibilidade de aumentar a receita tributária
num clima de recessão, foi buscar financiamento via processos inflacionários,
diretamente pela emissão de moeda ou indiretamente por endividamento interno a
curto prazo e taxas de juros altas.
Vimos, portanto que o rompimento do processo de crescimento da década
de 70 considerado como o período de milagre econômico foi reflexo da política
imperialista americana e que se utilizando do FMI impôs um serviço da dívida
externa significativo, o qual desestruturou a capacidade do Estado de estabelecer
política de investimento através da utilização das estatais Vale do Rio Doce,
Usiminas, sistema Telebrás, pois estas perderam a capacidade de realização de
investimentos em face de que os seus preços não eram reajustados apesar de uma
dinâmica explosiva do processo hiperinflacionário.
Além disso, foi demonstrada que a exigência descomunal do serviço da
dívida sem levar em consideração a real capacidade de pagamento foi responsável
pela denominada década de 80 como a década perdida em face que para gerar os
significativos superávits comerciais foi necessário impor uma política de
desvalorização contínua da moeda brasileira, a qual resultou em um período de
estagnação do crescimento econômico e na geração de um processo de
hiperinflação.
Neste contexto, o pagamento integral dos juros resultou na contração das
importações dos devedores, mediante a redução de demanda inerente aos
programas de ajuste recessivo recomendados e supervisionados pelo FMI e de
medidas diretas de controle das importações. Assim, foi demonstrada que a
gravidade do problema no que se refere à manutenção do crescimento da economia
e o seu reflexo da necessidade de gerar dólares para o financiamento da dívida
resultou em um círculo vicioso através de um processo de desintegração social,
refletindo no aumento da pobreza e da miséria.

196
Discutiu-se ,também, a deterioração dos resultados fiscais do Tesouro na
década de 80 em face da política de concessão de renúncias fiscais as montadoras,
uma vez que estas eram consideradas como setores estratégicos para dinamizar o
crescimento econômico. Além disso, foi avaliada que na década de 80 as
commodities brasileiras não geravam dólares suficientes em face do poder dos
Estados Unidos e da Europa os quais dificultaram a geração de superávits
comerciais para o pagamento da dívida externa.
Nas décadas de 1980 e 1990, a periferia do sistema e, mais notadamente, a
América Latina, perdeu o rumo das políticas de desenvolvimento econômico em face
do significativo pagamento do serviço da dívida externa na década de 80 e no que
tange a década de 90 em função de ter sido submetida as armadilhas das propostas
do Consenso de Washington, as quais convergiram para a drástica redução do
Estado e ao máximo de abertura à importação de bens e serviços tendo como a
disciplina fiscal no que se refere ao equilíbrio das finanças públicas como a condição
“sine qua non” para ao combate à inflação.
Assim, a adoção ao Consenso de Washington resultou na perda da
capacidade do Estado brasileiro de realizar investimentos públicos, característica
que marcou o significativo crescimento econômico dos Estados Unidos, Japão,
Alemanha e que foi muito bem utilizada pela China após a década de 80, a qual
refletiu no excepcional crescimento do seu PIB de 1980 a 2011.
Foi demonstrado que o Plano Real apoiou-se numa política de estabilização
monetária fundamentada na sobrevalorização da nova moeda criada (o Real) e na
abertura comercial e financeira da economia brasileira e sob duas âncoras a
monetária e a cambial, entretanto sem um alicerce fiscal, resultando na dinâmica
explosiva da dívida pública alimentando o processo de acumulação de capital
especulativo nacional e internacional.
Observou-se que o Plano Real quando da sua implantação não teve um
alicerce fiscal do setor público consolidado e que aliada a dinâmica do crescimento
da dívida pública de Estados e Municípios reforçou ainda mais a fragilidade do
alusivo plano e que aumentou ainda mais a crise de confiança do mercado diante
dos problemas surgidos nas contas externas do país ,ou seja, a geração de déficits
gêmeos resultou em uma instabilidade macroeconômica, a qual culminou a
submissão do país ao FMI.

197
Foi evidenciada a correlação entre à política monetária aplicada pelo Banco
Central no período que resultou na insustentabilidade da dívida pública bruta no que
se refere à elevada proporção em relação ao PIB, mesmo com a manutenção da
elevada geração de resultados primários em percentual do PIB.
Foi também avaliada que a sustentabilidade da dívida pública tão
preconizada pelo FMI era impossível, no período de 1994 a 1998, em um cenário de
política monetária baseada em alta taxa de juros reais em face que o superávit
primário como proporção do PIB, requerido para estabilizar a relação dívida/PIB, é
uma função direta da própria relação dívida/PIB e da taxa de juros e uma função
inversa do crescimento real da economia – para uma certa taxa de inflação e da
senhoriagem, reforçando assim que os idealizadores e os executores do Plano Real
defendiam não os interesses nacionais, mas sim os do capital especulativo nacional
e internacional.
Foi avaliado que no período em que houve mudança na política cambial no
tocante a política de “bandas cambiais”, sendo esta substituída pelo regime de livre
flutuação. Esta mudança acentuou a responsabilidade da política fiscal – articulada
com o regime de metas inflacionárias no âmbito da política monetária – para a
manutenção do equilíbrio macroeconômico. Entretanto, conforme foi analisado em
regimes de câmbio fixo, os impactos são agravados pela ausência de mecanismos
de ajustes automáticos na taxa de câmbio, então, em face de ataques especulativos,
há perdas imediatas de reservas para se defender da cotação da moeda, uma vez
que se torna inócua a política monetária para defender o regime de câmbio fixo.
Por outro lado, principalmente a exposição de alto risco do setor privado
quanto à captação de empréstimos no exterior no regime de cambio fixo, refletindo
em uma crise de confiança do mercado e que, portanto resultou em um processo de
desvalorização do Real e na dependência em relação a política macroeconômica do
FMI, a qual fundamentada no tripé (geração de superávit primário, metas de inflação
e câmbio flutuante) resultou nos atuais limites estruturais do crescimento econômico.
Foi demonstrado que o Plano Real foi um engodo, pois se baseou em uma
política macroeconômica sem consistência em face que a carga tributária do setor
público consolidado era muito inferior as reais necessidades de financiamento do
setor público consolidado mesmo com uma relação dívida/PIB de 30% quando do

198
surgimento do alusivo plano e que aliada a uma política monetária de alta taxas de
juros resultou em uma dinâmica da explosão da dívida bruta em percentual do PIB.
Avaliou-se também o alinhamento que o Brasil fez ao chamado Consenso de
Washington com suas políticas de cunho neoliberal de austeridade fiscal,
privatização e liberalização econômica como proposta de modernização da periferia,
pois foram determinantes para os resultados pífios de crescimento econômico ao
longo da década de 90 até 2011.
Os reflexos do Plano Real se evidenciam na desarticulação da estrutura
produtiva nacional em face do déficit crescente no segmento de industrialização no
tocante à indústria de alta e média complexidade, o qual se acentuou
significativamente após a alta valorização do real em relação ao dólar em 2010 e
2011 em face da política monetária de afrouxamento quantitativo do Tesouro e
Banco Central americano e do Banco Central Europeu.
Ressalta-se ,ainda, que o processo de crescimento da dívida pública
brasileira foi reflexo também da política de esterilização do efeito monetário da
acumulação de reservas externas ; do socorro aos agentes econômicos em crise,
especialmente, ao sistema financeiro e o reconhecimento das dívidas passadas.
Foi avaliada que a combinação não só de geração de déficits gêmeos, bem
como a tendência ao incremento da deterioração das contas públicas em face da
política de taxa de juros real Selic, a qual esta alcançou seu maior índice em
novembro de 1998, entretanto sem maiores efeitos sobre à sustentação da política
cambial, refletindo uma massiva fuga de capitais nesse período, a qual reduziu o
estoque de reservas cambiais tornando insustentável o equilíbrio do balanço de
pagamentos.
Observou-se que a política neoliberal do Consenso de Washington foi
aplicada integralmente sem um dos seus alicerces (a disciplina fiscal) em um país
em desenvolvimento e que, portanto combinada a outro fundamento desta alusiva
política no que se refere à política de privatização teve um efeito nulo no que se
refere à redução da dívida pública em face da política monetária altamente
contracionista baseada em alta taxa de juros reais, a qual resultou em uma trajetória
explosiva da dívida pública.
Vimos, ainda, que a gestão da política econômica, durante o período de 1994
a 1998, baseada na dinâmica das taxas de juros aliada a estratégia conservadora de

199
restrição da base monetária e dos meios de pagamento foram determinantes para o
incremento do estoque da dívida, resultando em um significativo volume de recursos
públicos, os quais foram despendidos para atender a elite financeira nacional
O segundo governo Lula pode ser analisado como apenas pragmático no
sentido da manutenção da política neoliberal tendo como foco exclusivo no controle
da inflação, refletindo no incremento da vulnerabilidade macroeconômica no que
tange ao crescimento econômico, inflação, finanças públicas , contas externas,
relação dívida bruta e PIB. A estratégia do crescimento baseada na ampliação do
volume de crédito em percentual do PIB e da política de valorização do salário
mínimo contribuíram para o dinamismo do crescimento econômico em 2010.
A utilização da política monetária contracionista pelo Banco Central em nome
da credibilidade do mercado, apesar de ter reduzido significativamente as taxas de
juros reais impactou na taxa de crescimento da economia, e manteve a
sustentabilidade da pública bruta em percentual do PIB ao redor de 60%. Ressalta-
se que a alusiva política monetária foi utilizada não para o controle da inflação, pois
o processo inflacionário encontrava-se relativamente sob controle em decorrência da
liberalização comercial, a qual refletiu na forte apreciação cambial e no fraco
dinamismo interno.
A política fiscal baseada na geração de superávits primários do setor púbico
consolidado (via aumento da carga tributária), aliada a manutenção de uma política
monetária com taxa de juro real para atrair o capital especulativo, sendo este atraído
pelo diferencial da taxa de juros para manter o financiamento do déficit de conta
corrente do Brasil não só produziu volatilidade no valor do dólar; deterioração das
finanças públicas via aumento do déficit nominal e incremento da dívida pública e
perda de competitividade da indústria.
Destarte, o governo Lula resultou em um agravamento da herança maldita
para o Governo Dilma no que se refere à deterioração das finanças públicas em face
do aumento da dívida pública, o incremento da vulnerabilidade externa no que se
refere não só ao déficit de conta corrente e do volume de importação de produtos
industrializados e o aumento da carga tributária do setor público consolidado.
A armadilha relacionada ao processo de abertura externa (comercial e
financeira), a qual caracterizou o projeto neoliberal na década de 90, resultou em
uma enorme dependência dos fluxos de capitais externos para o financiamento do

200
balanço de pagamentos exigindo do Banco Central do Brasil a manutenção de uma
alta taxa de juros real para atrair o capital especulativo. Além disso, não se
evidenciou uma maior fragilidade financeira das contas externas do Brasil em face
da entrada da China como nova força dinâmica do poder, pois resultou no aumento
dos preços das commodities ,e. portanto contribuiu para um maior crescimento
econômico do Brasil.
Por outro lado a privatização, a valorização do real e a competitividade da
economia chinesa promoveu o incremento da vulnerabilidade externa da economia
brasileira via incremento do volume de importação de manufaturados, no sentido de
reduzir a capacidade da mesma para resistir/combater os choques externos que
ocorram, dentro do contexto não só de fragilidade financeira como também
impactando no crescimento econômico e refletindo na alusiva dependência
estrutural em relação a China.
Além disso, foi demonstrada a arquitetura da política econômica da Alemanha
e do Japão, a qual resultou na dinâmica do desenvolvimento econômico. E,
também, avaliou a estratégia da China de combinar as políticas fiscal, de câmbio, de
crédito e a monetária aliada aos fatores estruturais, os quais resultaram de um
período de estagnação a um alto dinamismo de crescimento econômico de 1980 a
2011.
Foi também analisado o modelo de esgotamento do ajuste fiscal do setor
público consolidado após 1997, tendo como objetivo que o aumento da carga
tributária verificada entre 1995 a 2011, resultou no corte dos investimentos públicos,
sendo estes fatores reflexos da política de gestão da dívida pública no que se refere
à sustentabilidade fiscal e o excessivo grau de vinculação de receitas e pelo elevado
nível de despesas constitucional e legalmente obrigatórias, a qual compromete uma
gestão fiscal eficiente. E, além disso, impacta no crescimento econômico e na perda
da competitividade da economia brasileira no que se refere à valorização do real em
face do estímulo ao incremento da despesa corrente.
Neste sentido, a ausência de flexibilidade, no orçamento dos Governo Fe-
deral, Estadual e Municipal é afetada por dois tipos de restrições: pelo excessivo
grau de vinculação de receitas e pelo elevado nível de despesas constitucionais e
legalmente obrigatórias. Portanto, de 19999 a 2011 às metas de superávit fiscal,
que, num contexto intertemporal, tornaram a dívida solvente e sustentável sob a

201
análise do mercado foi obtido via aumento da carga tributária já que as alusivas
restrições diminuem a efetividade do controle das despesas correntes. Entretanto, a
política de renúncia fiscal pós crise de 2008 deteriorou o resultado superávit primário
em percentual do PIB e o que agrava ainda mais em 2012 em face de um
crescimento pífio do PIB, evidenciando assim o risco de financiamento para manter
a sustentabilidade da dívida pública. Outro ponto o qual foi ressaltado é que a
ausência de flexibilidade da alocação de recursos refletiu na deficiência da
capacidade de realização de investimentos do Governo Central, sendo portanto de
fundamental importância rever a significativa vinculação da despesa a receita.
Além disso, demonstrou que a fragilidade do modelo de ajuste fiscal no
Brasil, pois concentra significativo volume de recursos em custeio e para cumprir as
metas de superávit primário aumentou significativamente a carga tributária aliado a
contingência dos recursos destinados a investimentos.
Foi avaliado o ajuste fiscal da Nova Zelândia em face da adoção de uma
política econômica, a qual contribuiu para reduzir as vulnerabilidades
macroeconômicas. Assim como, analisou que a política fiscal dos Estados Unidos
não produziu resultados consistentes contrapondo ao ajuste fiscal implementado
pelo Canadá, o qual resultou em mudanças estruturais da economia e na
sustentabilidade da dívida pública.
Para fundamentar os atuais limites estruturais da política econômica do
Governo Dilma, bem como a atual crise econômica mundial. Ambos são reflexos da
atual dinâmica de poder mundial e do atual montante significativo de capital
especulativo ao redor de US$ 209 trilhões. Assim, para analisar esses fatores foi
necessário resgatar a concepção do New Deal em face que este foi decisivo para
retomada da acumulação pós crise 1929, pois se fundamentou em um programa de
investimentos maciços em obras públicas, a qual retirou a economia norte-
americana da Grande Depressão, ou seja, a presença forte e decisiva do Estado co-
mo ente planejador e produtor e articulada à nova forma de controle social (Welfare
State) especialmente nos países centrais.
O sistema de Bretton Woods (padrão dólar-ouro) foi um dos elementos
estruturais na estratégia de recuperação da economia mundial. Ressalta-se que a
importância do poder dos Estados Unidos diante do FMI resultou no afrouxamento
dos controles de capitais, refletindo em um vínculo entre as políticas econômicas

202
domésticas e externas – redução dos condicionantes externos, possibilitando aos
governos espaços para a adoção de políticas macroeconômicas voltadas ao pleno
emprego. Assim, os Estados Unidos foi o maior beneficiado em face de que uma
política fiscal expansionista aumentando cada vez mais o seu poder econômico
tendo o Japão como o maior financiador da dívida e como esta era monumental
quebraria não só o Japão como o sistema financeiro internacional entre 1971 e
1973.
Por outro lado, avaliou-se o problema da perspectiva crítica da acumulação
atrelada a queda das taxas de acumulação de capital em face da queda da
lucratividade, oriunda do excesso de capacidade e produção do setor manufatureiro
mundial em função do acirramento da competição internacional, pois à medida que
os produtores da Europa Ocidental e do Japão começam a suprir frações cada
vez maiores do mercado mundial, com bens similares aos que já eram produzi-
dos nos EUA, surge redundância e excesso de capacidade de produção. Além
disso a importância da análise no que concerne a liquidez financeira no mercado
internacional e as relações entre os países centrais e os países atrasados sobretudo
na forma de aplicações especulativas.
Foi considerado que o fim do Acordo de Bretton Woods foi reflexo da
economia norte-americana, ao final dos anos 1960, enfrentava déficits significa-
tivos e persistentes no balanço de pagamentos, em virtude dos investimentos
externos crescentes e aos gastos militares no exterior com a Guerra do Vietnã.
Esses dois elementos aliada a elevação da quantidade de petrodólares no mercado
financeiro europeu, produziram forte aumento na liquidez do dólar nos mercados
internacionais, provocando a “crise do dólar” na década de 1970. Na verdade,
desde o início dos anos de 1960, o padrão cambial do dólar-ouro, firmado em
Bretton Woods começava a dar sinais de precariedade e o que resultou na decisão
dos países de resgatarem dólares por ouro das reservas americanas em face da
percepção de que o dólar não representava mais o seu valor real frente ao ouro.
O fim do Acordo de Bretton Woods e a súbita elevação da taxa de juros do
Governo dos Estados Unidos como forma de defender os seus interesses
imperialistas resultaram no incremento do serviço da dívida externa brasileira,
refletindo em severas restrições ao crescimento econômico da América Latina.

203
Neste contexto, de uma década perdida a qual se configurou com baixo
crescimento do PIB e com o incremento da miséria o Consenso de Washington se
baseia em uma proposta neoliberal, a qual visava exclusivamente por o Brasil de
joelhos em relação ao capital estrangeiro ; não apenas uma dependência econômica
como configurava desde a sua colonização, mas uma servidão aos interesses dos
Estados Unidos e dos reflexos da sua política imperialista, a qual gerou a atual
dinâmica de crescimento do capital flutuante a partir da década de 80.
A ruptura do sistema de Bretton Woods consolidou a hegemonia americana
em função do um grau de liberdade quase ilimitado na gestão das suas políticas
cambial, a monetária e a fiscal. Além disso, correlacionou a assimetria no sistema
monetário internacional, a qual refletiu na dinâmica de poder mundial, bem como na
fragilidade financeira dos países em desenvolvimento em face de que estes são
emissores de divisas inconversíveis e que, portanto sofre os reflexos no tocante a
política monetária de afrouxamento quantitativo, a qual resultou na valorização
excessiva de suas moedas como aconteceu com o real em 2010 e 2011.
As quatro armadilhas analisadas produzidas pela estratégia neoliberal de
desenvolvimento no processo de abertura externa não só refletiram o quadro
medíocre do desempenho da economia brasileira até 2002, bem como estas foram
determinantes para os resultados pífios do PIB de 2002 a 2011. E, logo o processo
de globalização aliada a política macroeconômica pós FHC caracterizou um
processo de dominação do Estado brasileiro caracterizando uma dependência no
que se refere à interconexão produtiva global e pela alta mobilidade do capital
especulativo, os quais não só interferem no lado real da economia, mas
principalmente obtendo altos retornos dos investimentos em termos de royalties e do
volume de importação.
Ressalta-se ,ainda, que esta dependência não foi ainda mais agravada em
face da nova dependência estrutural da economia brasileira em relação à China e a
sua força como locomotiva mundial, pois possibilitou ao Brasil ampliação
considerável de suas exportações de commodities de 2007 a 2011. Mas em face
dos problemas relacionados ao agravamento da crise mundial em 2012, a qual
resulta na perda do dinamismo da economia chinesa impactando às exportações
brasileiras no que concerne ao preço das commodities. Assim, o superávit da
balança comercial do Brasil em 2012 no primeiro semestre apresentou uma redução

204
o que poderá agravar o financiamento do déficit de conta corrente não só em 2012
como nos exercícios posteriores.
Destarte, a análise da inter-relação entre o incremento das reservas
internacionais e os empréstimos do Tesouro ao BNDES e o reflexo no aumento da
dívida bruta em percentual do PIB. Foi demonstrada também que a atual
composição de ativos e passivos resulta em uma trajetória de insustentabilidade da
dívida pública ou uma mudança no que tange a rolagem da dívida pública.
O aumento do preço das commodites resultou em uma pressão inflacionária,
a qual determinou ao Banco Central do Brasil a adoção de uma política monetária
com viés restritivo e apreciação cambial foram os mecanismos utilizados para lograr
que o teto da meta de inflação não fosse ultrapassada em 2011 gerando distorções
macroeconômicas (deterioração das transações correntes e agravando os
problemas fiscais) e que foi agravado em face da decisão unilateral do Tesouro e
Banco Central americano no que tange a política monetária de afrouxamento
quantitativo. Esta possibilitou a monetização da dívida pública e que foi evidenciada
no crescimento nominal do PIB dos Estados Unidos quando comparado ao PIB real
de 2011 em relação a 2007.
Foi também correlacionada ao poder da China em face de sua hegemonia de
estabelecer políticas cambial, a fiscal , a monetária, a creditícia e a residencial e
principalmente no que tange ao incrementar significativamente a dívida dos
governos locais em 2011 apesar dos problemas creditícios do sistema bancário
chinês.
Assim, a mobilidade internacional dos capitais especulativos aliada a política
neoliberal pós Real resultou na vulnerabilidade da economia brasileira e uma nova
dependência, a qual se justapõe à antiga no que tange ao governo brasileiro ter
perdido a capacidade de governabilidade para ajustarem as suas regras de câmbio,
juros e de monitoramento da economia as demandas do mercado especulativo.
Em suma, se na década de 80 o Brasil foi ao caos em face da política
imperialista do FMI, a qual resultou na desintegração social e econômica e que
possibilitou também a adoção da política neoliberal do Consenso de Washington
após a implantação do Real
Neste contexto, não se evidencia um modelo de desenvolvimento, pois os
indicadores sociais e econômicos avançaram não de forma permanente e estrutural ,

205
ou seja, o Brasil do futuro caminha a passos largos para ser o mesmo Brasil do
passado um Brasil, o qual se constituiu da miséria e sofrimento de muitos. Além
disso, o retrato do Brasil é que a ausência de prioridade de investimento em
educação reflete em um país que se manterá eternamente como país em
desenvolvimento

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Wagner Cunha e Torres possui Bacharelado em Administração de Empresa pela
Universidade Católica do Salvador, pós graduação em Marketing ESPM,
especialização em Gestão Fazendária UFAL. Curso de Gestão Macroeconômica
pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Curso de Análise de Sustentabilidade da
Dívida Pública pelo Banco Mundial. É Técnico de Finanças da Secretaria de
Fazenda do Estado de Alagoas exercendo o cargo de Gestão Fiscal e Estatística.
WNALISAR A TRAJETÓRIA E O CUSTO

wwWWWWWWWWE O CUSTO
DO ENDIVIDAMENTO BRASILEIRO DÍVIDA LÍQUIDA E DÍVIDA BRUTA:
UMA ABORDAGEM INTEGRADA PARA
ANALISAR A TRAJETÓRIA E O CUSTO
DO ENDIVIDAMENTO BRASILEIRO

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