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MARBURY VS.

MADISON

A IMPORTÂNCIA DO JULGADO: Em 1803 a Corte Norte-americana teve


diante de si um importante caso que teria repercussão direta sobre os rumos
do princípio da supremacia constitucional e, por conseqüência, do controle
da constitucionalidade das leis pelos tribunais.
O fato em questão foi julgado pelo Chief Justice Marshall e envolvia
a questão da possibilidade da Corte Suprema opor-se a um estatuto
emanado do Congresso Nacional quando este se opusesse ao texto
constitucional. A questão ainda revelava um pano de fundo político, pois o
próprio Congresso e o Executivo estavam sob o controle republicano de
Jefferson e as Cortes tinham maioria federalista, portanto a decisão do caso
refletiria numa demonstração de força dessas Cortes com o Legislativo,
enquanto Poderes constituídos do Estado.
O caso era que o ex-presidente John Adams tinha nomeado Marbury
como juiz de paz, pelo que se requeria ao Judiciário expedir mandado para
compelir o secretário de Estado, Madison, a dar-lhe nomeação. A
legislação norte-americana permitia à época que o Judiciário expedisse tais
mandados para corrigir situação ilegal, mas era omissa a respeito do
Congresso subordinar-se a tanto.
Marshall para evitar um conflito aberto entre o Judiciário e o
Legislativo recorreu a um argumento estritamente jurídico, pelo qual
resolveria o problema do conflito da lei com a Constituição, o que instituiu
um sistema de revisão judicial dos atos do Congresso baseado o texto
maior.

A DECISÃO: começa Marshall na sentença a determinar qual a posição que


a Constituição deve exercer na estrutura normativa do país, para tanto ele
diz ser apenas necessário que se reconheça princípios estabelecidos há
muito. Ou seja, é preciso se verificar quais foram os princípios adotados
pelo povo para organizar um futuro Governo que, provavelmente, melhor
os conduziriam à felicidade. Assim, “os princípios são considerados
fundamentais; e como autoridade da qual promanam é suprema e
raramente pode agir, são designados para serem permanentes”. Ora, a
proposição inicial de Marshall era de que a Constituição determina os
pontos fundamentais sob o qual devem se regrar o Governo, e sendo a
autoridade de onde se origina essa supremacia – o povo -, eles devem ser
permanentes e respeitados.
Essa mesma vontade constitucional é que determina as diversas
esferas de poder determinando-lhes quais são seus limites que não podem
ser transgredidos sob falência da primeira conclusão acima. Assim, o juiz
pergunta retoricamente: “Qual o propósito de serem os poderes limitados e
aqueles limites consignados por escrito, se puderem, a qualquer tempo, ser

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ultrapassados por limites considerados como restritos?” Se as leis que
permitem e as que obrigam tiverem o mesmo peso de nada adianta a
imposição de limites, o que é inconveniente pois um governo sem limites
deve ser abolido pela concentração de poderes e a tirania que dele provêm.
Por conseguinte ou a Constituição controla qualquer ato legislativo
em choque consigo ou o Legislativo pode alterar a Constituição por meio
de lei ordinária. Entre as alternativas não há meio termo! “A constituição é
um chefe superior, do Direito, imutável por meios ordinários, ou estará
num mesmo nível com as leis ordinárias e, como as outras, poderá ser
alterada quando o Legislativo quiser”.
Marshall alia-se, parar resolver o conflito, à Teoria da Supremacia da
Constituição, ao perceber que as Constituições escritas são textos
formadores do Direito fundamental e que governam em supremacia as
disposições normativas de um Estado. Não há alternativa para o julgador
em deixar de aplicar a Constituição quando a um caso particular ambas, lei
e Constituição, forem determinantes da solução concreta.
Subverter tal doutrina é destruir o próprio fundamento sob o qual as
constituições escritas se alicerçam. Ao optar pela validade de um ato
Legislativo em oposição à Constituição, o julgador “estaria dando ao
Legislativo uma onipotência prática e real, com o mesmo alento com que
professa a restrição de seus poderes dentro de limites escritos. É
prescrever limites e declara que aqueles limites podem ser ultrapassados
por prazer” .
Assim a própria Constituição norte-americana determina no artigo
III, seção 2: “The judicial Power shall extend to all Cases, in Law and Equity,
arising under this Constitution, the Laws of the United States, and Treaties
made, or which shall be made, under their Authority (…)”. Logo, “a
fraseologia particular da Constituição dos Estados Unidos confirma e
fortifica o princípio, considerado essencial a todas as Constituições
escritas, de que uma lei em choque com a Constituição é revogada e que os
tribunais, assim como outros departamentos, são ligados por aquele
Instrumento”.

CONCLUSÕES: O ponto de partida desenvolvido por Marshall para a


consecução do controle constitucional dos atos emanados do Executivo e
do Legislativo é o marco fundamental de um processo que se desenvolveu
no próprio EUA e derivou a outros países europeus e latinos. São pontos
principais da decisão histórica de Marshall:
 A Constituição determina os princípios formadores da
organização do Governo de um país e representa a opção de seu
povo pelo melhor caminho a seguir para o conduzir à felicidade.
 A Constituição é o fundamento principiológico do ordenamento
jurídico que deve ser unificado segundo seus desígnios.

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 A oposição entre lei e Constituição deve ser sempre resolvida em
favor da última.
 A revisão judicial dos atos do Legislativo ou Executivo pode ser
realizada sem prejuízo da relação entre os Poderes quando
baseados na supremacia do texto constitucional.

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