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Rede de apoio

Diante do luto perinatal diversos sentimentos se fazem presentes na vida


da mulher que demanda tempo para ressignificar sua perda, e a partir disso
reestruturar sua vida. Daí surge a extrema importância de uma rede de apoio
para ajudar e acolher a mãe nesse processo (SANTOS, et al., 2022).

Prestar um melhor auxílio e acompanhamento, constitui em uma ação


preventiva quanto ao desenvolvimento de dificuldades emocionais posteriores.
No relato, observamos o reconhecimento e a oportunidade de falar sobre a
perda do bebê e o fato dos pais serem acolhidos e reconhecidos em sua dor:

“Me ajuda, doutora (refere-se à psicóloga), entender tudo isso, me ajuda” [...]
(mãe – família Lopes).

“Obrigado por acolherem a minha raiva (fala direcionada para a psicóloga),


estou para ter um infarto” [...] (pai – família Sinval).

(MUZA, Júlia Costa et al. Quando a morte visita a maternidade: atenção


psicológica durante a perda perinatal. 2013)

Quando ocorre essa perda é comum que o ciclo de pessoas ao redor da


mãe que está sofrendo, tenha dificuldades na compreensão da dor sentida,
pois ignoram o bebê como se ele nunca tivesse existido e é comum nesse
momento fazerem comentários como: “foi melhor assim”, “você é nova e vai
poder ter outros filhos”, “com o passar o tempo cura”, entre outras, fazendo
com que essa mãe se sinta incompreendida e tenha a sua dor silenciada o que
pode provocar um isolamento dessa mulher no processo de luto, o não
reconhecimento desse processo pelo meio social em que vive essa mulher
pode tornar esse luto complicado (SANTOS, et al., 2022).
Durante o processo de hospitalização onde houve a morte do bebê é
comum ocorrer da família, cônjuge e até mesmo a própria equipe de saúde
querer privar essa mulher que acaba de perder o filho de entender, sofrer e até
mesmo elaborar esse luto (SANTOS, et al., 2022).
Compreende-se assim que esse movimento da rede de apoio ao redor
dessa mulher busca uma fuga diante dessa perda, com a intenção não de
silenciar a dor dessa mãe, mas sim evitar que ela sofra, o que é extremamente
prejudicial dificultando a elaboração do luto pela perda desse filho ao qual a
mãe idealizou e imaginou um futuro repleto de expectativas, podendo assim
tornar esse luto patológico, afetando a saúde mental da mulher (SANTOS, et
al., 2022).

Os profissionais da equipe de saúde precisam saber manejar os


momentos iniciais de um luto, tanto no que se refere aos sentimentos dos
pacientes diante do fenômeno da morte como aos seus próprios sentimentos.
Percebe-se que normalmente é atribuída ao psicólogo a função e a capacidade
de facilitar o contato com a difícil realidade e de proporcionar um espaço de
expressão das emoções e dos sentimentos, favorecendo assim uma maior
possibilidade de elaboração do luto do filho perdido:

“Hoje eu posso dizer que, se não fosse vocês (refere-se à psicóloga), pegar (o
bebê) nos braços e tudo aquilo seria muito pior” (mãe – família Sinval).

“Obrigada por oportunizar que eu segure o meu filho nos braços [...] só tenho a
agradecer por esta despedida, mesmo sendo de uma forma que nós nunca
imaginávamos [...] a gente fica louca, nem sabe o que diz, eu queria sair
correndo, nem pensava em segurar [...] e Deus manda vocês” (mãe – família
Pereira).

“Não sei o que dizer, mas muito obrigado porque pude segurá-lo ainda que
morto” [...] (pai – família Lopes).

O atendimento imediato aos familiares influenciará na forma como vão


vivenciar o luto a partir de então. Ajudar os pais e familiares a se apropriar da
situação que estão vivendo promove um espaço de expressão da dor, de modo
que eles possam, aos poucos, assimilar a perda e, enfim, aceitá-la.
(MUZA, Júlia Costa et al. Quando a morte visita a maternidade: atenção
psicológica durante a perda perinatal. 2013)

Com isso a família é o principal grupo de apoio pra essa mãe, então é de
suma importância que seja estabelecido um bom vínculo e que haja um tripé
entre a mãe, família e equipe de saúde (SANTOS, et al., 2022).
A rede de apoio da mulher que geralmente é a família e o
acompanhamento da equipe de saúde multiprofissional que esta presente nos
cuidados prestados a essa mãe desde a notícia do falecimento do seu bebê
oferecendo um atendimento humanizado e que tenha presente o sentimento de
confiança, pode auxiliar no manejo do luto, colaborando assim para que essa
mãe enfrente o processo de luto de forma saudável (SANTOS, et al., 2022).
Dessa forma, é possível identificar a necessidade de uma rede social de
apoio no sentido de ajudar essas famílias a superar a experiência vivida com
tanto sofrimento. Iaconelli (2007, p. 622) afirma que grupo de pais pode ser um
tratamento muito eficaz para evitar um luto patológico, pois “compartilhar a dor
com outros pais enlutados tem sido uma forma de encontrar escuta do vivido e
construir representações que deem conta da perda”. Embora se trate de
cuidados de longo prazo, precisam ser incentivados nos atendimentos
imediatos ao óbito fetal. Alguns relatos sobre o reconhecimento da rede social:

(As avós abraçam o casal Sinval, que agradece a presença delas). “Vocês são
para a nós o nosso grande alicerce”! (pai – família Sinval).

“Sei que o meu sobrinho cumpriu a sua missão. Ele veio para nos mostrar o
quanto somos uma família unida, e, mais uma vez, reforça o que nos foi
passado por nossos pais que a família é o grande porto seguro. Por isso que
nós estamos aqui” (irmã – família Lopes).

Diante dessa realidade, ressalta-se, a importância de uma rede de apoio


para famílias que vivenciam esse problema, que pode e deve ser estimulada
pela atuação do psicólogo hospitalar que atua no tripé “paciente, família e
equipe de saúde”, podendo inclusive oferecer grupos de apoio pós-óbito.
(MUZA, Júlia Costa et al. Quando a morte visita a maternidade: atenção
psicológica durante a perda perinatal. 2013)

Desta maneira podemos concluir que o apoio e acolhimento da família e


da equipe de saúde multiprofissional são fatores determinantes de forma
psicológica e social que estão associados ao processo de elaboração do luto
materno de forma saudável (SANTOS, et al., 2022).

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