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Notas sobre Burnout

#1 • O valor do ofício
Publicado em 16 de novembro de 2021 por Mariana C

• Relato #1 de uma investigação em andamento •

Em 1974, o psicanalista teuto-americano, Herbet J. Freudenberger, usou a expressão


“burnt out“ (em português: desgastar-se, queimar por completo) como metáfora para
explicar os sintomas que vivenciou em seu corpo. Naquele período de sua vida seu trabalho
ocupava quase 22h do seu dia, o isolava de sua família e amigos, seu único foco era seu
trabalho de dar assistência a pessoas em situações de risco na cidade de Nova Iorque.

Os relatos e ensaios iniciais de Freudenberger são a primeira literatura documentada sobre a


síndrome de Burnout. Na época o termo era uma gíria, usada para se referir ao que acontecia
com o cérebro de pessoas que abusavam do uso de substâncias químicas, dizia-se que elas
“pifavam”.
A palavra “síndrome” vem do grego syndromé e significa “reunião”, “conjunto de sintomas e
sinais”, “o que anda junto”. Os sinais que compõe a síndrome do Burnout são múltiplos,
havendo mais de 130 registrados, variam de acordo com três fatores: ambiente, tempo e
corpo. É um resultado da ação do estresse continuo no corpo e esse estresse está associado ao
trabalho.

Para entender a síndrome que pode ser considerada um fenômeno, quando analisada sua
história e o que representa, e epidemia, ao observar o aqui-agora que vivemos, é necessário
entender qual significado a civilização atribuiu ao longo do tempo ao trabalho, labor e
ofício. Além dos conceitos que o sistema vigente estabelece simbolicamente sobre sucesso e
valor.

Trabalho

A palavra “trabalho” vem do latim tripalium, um instrumento de tortura formado por três
paus. Desse modo, originalmente, “trabalhar” está atrelado as torturas que servos e escravos
sofriam durante os anos do Império Romano, ligando a palavra as ações exercidas em
servidão. Só em 1600, na França, que se tem o primeiro registro do uso da palavra associada
a uma atividade profissional cotidiana.
Labor

Do latim labororis, significa esforço, trabalho, cuidado, sofrimento. Ligada a essa palavra
também está a palavra “lavoura”. No dicionário está associada a labuta, trabalho árduo,
geralmente manual. Está conectado com a relação do ser humano com a terra.

Ofício

Se origina do latim oficcium, obrigação, dever, está ligado aquilo que se aprendia em oficinas
(escolas), àquilo que se faz por compromisso com suas habilidades. Na Idade Média ofícios
eram aprendidos através do sistema de ensino das Guildas, em um período conturbado,
pós-queda do Império Romano, onde pessoas que compartilhavam saberes e fazeres comuns
(especialmente Artistas) precisaram se organizar para proteger seus conhecimentos. Nesse
período o valor do ofício estava associado a qualidade do que era feito, pois a história e
tradição dos Mestres, que escolhiam seus Aprendizes cuidadosamente, estava em jogo, a
reputação de um trabalho bem feito valia mais pois as relações de negócio se baseavam em
trocas.

No entanto, acontece uma mudança violenta de valores durante a transição do sistema feudal
para o capitalismo, onde um modo de viver, fazer e pensar foi massacrado para dar espaço a
uma nova ordem, a ordem da “contrarrevolução”, que precisava vencer os embates feudais
entre campesinato e os senhores e impor a expropriação, demarcação e o uso das terras, dos
corpos e de tudo que era comum entre as pessoas.

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