Você está na página 1de 22

Criança não é manga, não

amadurece:
Conceito de maturação na Teoria
Histórico-Cultural
Prof. Dr. Eduardo Costa
Prof. Me. Fernanda Bortolotti
Departamento de Pedagogia (DEPED)
UNICENTRO
Objetivos
• Criticar a ideia de maturação do
desenvolvimento presente em
certas práticas pedagógicas.
• Demonstrar que a concepção
biológica de maturação
fundamenta as explicações sobre
o fracasso escolar.
Objetivos
• Apresentar a Teoria
Histórico-Cultural (THC).
• Explicitar que para a THC não
cabe à escola esperar que a
criança amadureça, mas criar
as condições.
Introdução: por que manga?
• Uma professora comparava a classe
como uma mangueira. Algumas
mangas já estavam maduras (prontas
para aprender), mas outras estavam
verdes (precisavam ser regadas até
ficarem prontas para a aprender).
• Para ela, esperar seria a estratégia
pedagógica mais adequada.
• Concepção biológica de maturação.
Concepção biológica de maturação
• É comum escutarmos que o aluno não aprende pois não
tem maturidade. Ou seja, a maturação como causa das
dificuldades.
• As crianças supostamente não aprendem pois ainda não
desenvolveram certos aspectos psicológicos.
• Hipóteses para o fracasso escolar: “idade mental inferior à
cronológica, limítrofe, infantil, imaturo, bobinho”.
Desenvolvimento e aprendizagem
Teorias:
1. Concepção inatista;
2. Concepção empirista/ambientalista;
3. Concepção dualista.
1. Teoria inatista
• Ligada às questões biológicas.
• “O desenvolvimento caracteriza-se pelo seu potencial
hereditário, com pouca ou nenhuma influência do meio”.
• Não existe diferença entre o desenvolvimento humano e o
desenvolvimento animal.
• Crença no desenvolvimento natural e na existência de uma
força intrínseca à criança, na qual não deveríamos
interferir.
2. Teoria empirista/ambientalista
• Total deslocamento da explicação para o meio.
• Educação vista como mero processo de transmissão de
conteúdos, do professor para os alunos.
• Neste caso,, atividades de cópia de textos seriam
proveitosas.
• Ou seja, o meio determinaria inteiramente o homem e os
seres humanos seriam uma cópia das condições externas.
3. Teoria dualista
• Considera que a maturação depende do desenvolvimento
neurológico e começa a dar mais espaço para a aprendizagem no
desenvolvimento.
• Porém, o desenvolvimento continua como um âmbito mais amplo
do que a aprendizagem.

Aprendizagem
Desenvolvimento
Teoria Histórico-Cultural do
desenvolvimento (Vigotski)
Desenvolvimento
• O desenvolvimento não ocorre sem o ensino (ou
a aprendizagem), seja ele intencional ou não.
• A criança não é um adulto em miniatura. A
diferença é qualitativa e não quantitativa.
Desenvolvimento não linear
• O desenvolvimento não é causado por acumulações
sucessivas.
• Há metamorfoses, revoluções radicais que irão garantir a
passagem de ser biológico para ser cultural.
• Essas mudanças não são produzidas naturalmente, mas
pela inserção da criança no mundo histórico-cultural.
Desenvolvimento: biológico e cultural
• O biológico é o ponto de partida do desenvolvimento, mas
altera-se no processo de apropriação da cultura.
Coexistência de duas linhas de desenvolvimento
• Linha biológica: relação direta do homem com o mundo
(comportamentos espontâneos que ele não tem consciência
e não pode controlar).
• Linha cultural: formas de comportamento (mediados) que
são fruto das conquistas culturais que o homem foi
alcançando.
Desenvolvimento: o eu e o todo
• “No processo de desenvolvimento histórico, o
homem social modifica os modos e os
procedimentos de sua conduta, transforma suas
inclinações naturais e funções, elabora e cria novas
formas de comportamento, especificamente
culturais”.
(VIGOTSKI, 1995, p. 34)
Seres humanos X Animais: Instrumentos
• Para os animais, sua atividade confunde-se com o seu
motivo biológico, e os instrumentos encerram, em si,
uma possibilidade natural de realizar seu instinto.

• Para o homem, o instrumento possibilita a apropriação


de novas formas de sua atividade no mundo, com os
outros e consigo mesmo.
Ser humano e os animais: Imitação
• Nos animais, não cria um comportamento realmente novo.
• Não aprender algo não faz um macaco ser menos macaco.
• É apenas uma forma diferente de realizar o seu
comportamento de espécie, um processo de adaptação.
• No ser humano, a imitação está nos processos de educação e
de aprendizagem, de objetivação e de apropriação da cultura.
• Permite o desenvolvimento do sujeito como indivíduo
pertencente ao gênero humano.
• Produz indivíduos cada vez mais ricos em necessidades
humanas.
O desenvolvimento é cultural
• Portanto, nossas capacidades humanas não surgem porque
as capacidades orgânicas se aprimoram.
• Mas surgem da relação entre produção/apropriação de
objetos culturais que o homem desenvolveu ao longo da
história para o domínio da sua conduta e dos demais.
O desenvolvimento é cultural
• Os instrumentos culturais necessários para o
desenvolvimento humano não são simplesmente postos na
realidade, nem a criança se apropria deles naturalmente.
• As crianças devem entrar em relação com os fenômenos do
mundo circundante através dos outros homens.
• É nessa relação que a criança aprende a atividade, ou seja,
assim temos um processo de educação.
Educação e o desenvolvimento
• A escola é central no desenvolvimento de seus estudantes.
• Deve criar condições para que se apropriem, através de
mediações culturais planejadas, dos conhecimentos
acumulados pela humanidade.
• Os conteúdos escolares devem ser organizados de maneira
a formar na criança aquilo que ainda não está formado,
elevando-a a níveis superiores.
THC: Resumo
• É contrária à visão puramente biológica do desenvolvimento.
• O desenvolvimento é o resultado da apropriação cultural dos
instrumentos simbólicos.
• Essa apropriação se dá somente com o contato com outros
humanos.
• Ao considerar que as funções psicológicas superiores
desenvolvem-se a partir de mediações, desloca-se o foco da
patologização do indivíduo para repensar o entorno.
THC: Resumo
• Não cabe à escola esperar que a criança
amadureça, ao contrário, é seu dever
criar condições.
• Os interesses da criança devem ser
acolhidos em suas peculiaridades.
Trata-se da criação de condições ótimas
de aprendizagem.
• Ainda, é papel do educador criar
necessidades e motivos de
aprendizagem, caso não estejam
presentes.
Referências
• ASBAHR, F. S.; NASCIMENTO, C. P. Criança não é manga, não
amadurece: conceito de maturação na teoria histórico-cultural.
Psicologia e Profissão, 2013, 33 (2), 414-427.
https://drive.google.com/file/d/1viq1dpATvjwXkdYmzPCfwAwTiL72
OsFN/view?usp=sharing

Você também pode gostar